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RESUMO: ALMEIDA, Ueberson Ribeiro; OLIVEIRA, Victor José Machado de; BRACHT, Valter. Educação física escolar e o trato didático pedagógico da saúde: desafios e perspectivas. IN: WACHS, Felipe; ALMEIDA, Ueberson Ribeiro; BRANDÃO, Fabiana F. de Freitas (org.). Educação Física e Saúde Coletiva: cenários, experiencias e artefatos culturais. Porto Alegre: rede UNIDA, 2016, 87 – 112. O texto inicia falando da relação histórica da Educação Física com a Saúde. [...] a vinculação histórica da Educação Física com a saúde foi construída e sustentada sob pilares do conceito de saúde do ponto de vista biológico estatístico da medicina positivista (p. 88). Ou seja, no que diz respeito ao conceito de saúde, será sob a formula “atividade física é saúde” que a Educação Física terá sua legitimidade social e pedagógica sustentada na modernidade, na escola e fora dela (p.89). [...] visão de saúde biologicista [...] será fortemente criticada pelo “Movimento Renovador [...] década de 80 (p.89-90). [...] critica ao modelo de educação como adestramento ou disciplinamento dos corpos. [...] Educação Física, a crítica teve como alvo a visão mecânica de corpo e de movimento que o trato com a saúde fomentava (p.90). A incorporação da saúde como tema transversal nos PCNs foi importante nos modos de se conceber o trato com a saúde no campo educacional. Visão mais ampla e transversal, não ficando somente aos cargos das disciplinas de biologia e educação física. Se os movimentos críticos do campo da EF disseram um “não-mais” para a ideia de saúde como ausência de doenças e de atividade física como sinônimo de saúde que outros modos de relação pedagógica com a saúde a EF poderia estabelecer para cumprir seus(s) papel(is) de componente curricular, de formação para saúde na escola? Como ampliar nossa intervenção no trato da saúde na escola sem nos diluirmos em um “tudo vale”, ou tudo cabe nas aulas de EF para a saúde? Que saberes podemos produzir e mobilizar que contribuam e marquem a importância da EF na formação para a saúde dos alunos? (p.91) Objetivo do texto: pensar as contribuições que a EF escolar pode dar (e vem dando por meio da intervenção pedagógica dos professores) para uma “formação para a saúde” na escola no momento em que o conceito de saúde se amplia e se complexifica, passando a ser entendido cada vez mais no meio acadêmico e nas instancias governamentais como uma dimensão da vida que ultrapassa o corpo orgânico e a doença, exigindo para sua analise olhares múltiplos, transversais e a consideração da saúde como uma questão, sobretudo politica (p.91-92). O texto traz alguns estudos que tem ampliado o conceito de saúde no contexto escolar, centrados a partir de ações de cuidado integral dos alunos. Ao refletir tal ampliação o texto evidencia a problemática de se refletir e transformar a saúde no trato pedagógico no campo conceitual e procedimental. [...] como colocar em operação um conceito(s) de saúde nas aulas de EF escolar que permita aos sujeitos da aprendizagem problematiza-lo, complexificando e ampliando a compreensão, a atenção, a experimentação (corporal) dos elementos da Cultura Corporal de Movimento na direção da promoção da saúde; de cuidado com a vida, de si e dos outros? (p.94). Estudos com ênfase no trato conceitual com poucos autores tentando conectar o tema as experiencias e vivencias de ordem corporal. [...] como os professores de EF tem materializado/operacionalizado o trato didático pedagógico da saúde na escola? Quais possibilidades e limites se colocam na intervenção pedagógica sob o conceito de saúde ampliada? (p.94). “formação para a saúde” (p.95). Apesar de o centro irradiador do tema saúde na escola estar se distanciando do “contrato de exclusividade da EF, essa disciplina ainda é convocada a intervir e dar sua contribuição à saúde da comunidade escolar (p.95). A partir desse exposto, o texto apresenta cinco projetos implementados em escolas, de Vitória – ES, através de uma pesquisa ação no qual exibem “tentativas de deslocamento de uma perspectiva meramente biologicista (aptidão físico-fisiológica) para uma concepção ampliada de saúde (p.96). Projetos desenvolvidos ATIVIDADES DE LAZER E A PROMOÇÃO DE SAUDE – 2º e 3º anos EF A observação dos conflitos durante o recreio levou a se pensar como a EF poderia contribuir na produção de atividades de lazer durante as aulas para que os alunos as desenvolvessem nos horários livres. “CUIDANDO DE NÓS” – 2º segmento da EJA (noturno) Trabalho conjunto entre a professora de EF e um professor de português que perspectivou a produção textual sobre o cotidiano dos alunos e suas experiencias de subir/descer a escadaria da comunidade. O desafio que se colocava seria a realização de praticas corporais que potencializassem práticas de cuidado. OS JOGOS EM JOGO: A INICIATIVA DA EMEF SOL POR UMA RELAÇÃO MAIS SAUDÁVEL – 1ª a 8ª series Foi realizado um festival (1ª – 4ª) e os jogos escolares (5ª-8ª). O centro do projeto focou o cuidado de si, do outro e a promoção de encontros, ou seja, a potencialização da vida dos envolvidos. Procurou-se orientar uma disputa cooperativa – o jogar “contra” pelo jogar “com” o outro. VOCE BRINCA DE QUE? – 7ª série Foi proposto o resgate de jogos e brincadeiras populares com diálogos transversais com o tema da saúde, com ênfase nas questões da violência e do sedentarismo. SAUDE NAS RELAÇÕES SOCIAIS – 5º ano A proposta centrou-se na inclusão de alunos com deficiência a partir das relações sociais. Elegeram-se as questões do cuidado com o outro, solidariedade, cooperação e o incentivo de atitudes inclusivas que se transformassem em atitudes de vida. Limites da ampliação do conceito de saúde Como justificar esses temas/projetos como sendo contribuintes para a saúde? Se reiterarmos a ideia de que ampliar significa, também, complexifica, passamos a compreender que é do chão da escola que essas respostas (ampliação) devem emergir (p.98). [...] como poderíamos dizer que tal projeto estava articulado ao tema da saúde? (p.99) Consideramos ser a saúde a expressão da capacidade de um coletivo de criar e lutar por seus projetos de vida em direção ao tensionamento e a produção de normas que aumentem o poder de agir dos sujeitos para lidarem com as adversidades, desafios e riscos que o viver, inevitavelmente, nos impõem (p.99). Relato dos projetos 1 e 2, sendo o dois mais detalhado por ser um projeto interdisciplinar (português e EF). [...] o projeto contou com a participação efetiva dos alunos e, dentre muitas questões que emergiam o trabalho foi sendo construído com os problemas e demandas de saúde do cotidiano dos estudantes (p.103). Ao tomar contato com as discussões a respeito do conceito de saúde durante o curso de formação na pesquisa-ação, ela experimenta agora tratar didático-pedagogicamente o conteúdo a partir da inclusão dos sujeitos na decisão sobre os processos de saúde que dizem respeito, de modo singular, as suas vidas, ao seu cotidiano. Críticos da biomedicalização da saúde Canguilhem (2012) e Dejours (2005), ao apostarem na ampliação do conceito de saúde, afirmam que esta não pode ser analisada exclusivamente por meio do “silêncio dos órgãos”, muito menos em lâminas controladas em laboratórios que separam os indivíduos de seus meios de vida. Para estes autores a saúde é um conceito trivial, isso não quer dizer que seja simples, mas pelo contrário, exige analise caso a caso e por isso os sujeitos também são capazes e estão autorizados a falar e avaliar os problemas que lhes produzem saúde e sofrimento patológico (p.103). [...] eles (os alunos) passaram a perceber que a conquista de saúde não se atrelaa busca de um corpo perfeito e livre do risco das doenças (até porque isso é impossível de ser alcançado), mas que envolvem as práticas corporais (p.104). Se abrirmos mão do moralismo vinculado historicamente a ideia de saúde, talvez possamos tornar nossos ouvidos mais sensíveis as forças vitais que movem a produzem a vida das pessoas e das populações em diferentes contextos e , dai, partirmos para pensarmos como podemos também contribuir para ampliar os sentidos de saúde por meio dos diversos saberes que a área da EF dispõem a partir do contato com os diversos modos de existência (de sujeitos, grupos e populações) os quais parecem ter muito a nos ensinar sobre o viver, a saúde (p.105). Ampliar a saúde não significa apenas aumentar o escopo de elementos que possam ser arregimentados como contribuintes da saúde, mas pensar como a própria intervenção pedagógica da EF na escola não se reduza a exercitação corporal abstrata e naturalizada das praticas corporais. A EF, em nosso entendimento, possui uma contribuição especifica a formação para a saúde ligada ao seu papel de componente curricular de promover o acesso pedagogizados e critico as praticas da Cultura Corporal de Movimento na escola (p.106). Se pretendemos não abrir mão do fato de que a EF tem uma importante contribuição para a saúde (e porque não na promoção da saúde?) na escola, parece necessário que possamos superar o modelo biomédico de saúde, uma vez que este, além de possuir suas especificidades institucionais e sociais, já não é mais aceito como capaz de abarcar sozinho a complexidade que a análise da saúde exige. Assim, apostamos que a contribuição da EF escolar está em promover as práticas corporais como possibilidades do fortalecimento de uma “formação para a saúde”. Nesse sentido, o trabalho estaria em promover “bons encontros” nos quais os estudantes pudessem desenvolver gosto via aprendizagens na realização do movimentar-se que possibilitassem, principalmente, enfrentar e gerir os desafios (riscos, fracassos, sucessos) que as praticas corporais os colocam de modo individual, coletivo e social (p.107). A saúde, então, não se restringe somente nas aulas de uma disciplina, mas deve compor o próprio ambiente escolar tornando-se um tema do coletivo (p.108).
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