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Aula: O QUE É ARTE –Jorge Coli

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O que é Arte
Por que a necessidade da arte?
“Porque o homem não se basta”. 
Ferreira Gullar 
 Por que milhões de pessoas leem livros, ouvem música, vão ao teatro e ao cinema?
Por que reagimos em face dessas “irrealidades” como se ela fossem a realidade intensificada?
Que estranho, misterioso divertimento é esse?
 Um dos males da sociedade atual é que a própria angústia da condição humana só pode ser sentida por uns poucos. Esse tipo de angústia é hoje em dia um privilégio dos que dispõem de ócio. 
E, se alguém nos responde que almejamos escapar de uma existência insatisfatória para uma existência mais rica através de uma experiência sem riscos, então uma nova pergunta se apresenta: Por que nossa própria existência não nos basta?
Por que esse desejo de completar a nossa vida incompleta através de outras figuras e outras formas?
Por que, da penumbra do auditório, fixamos o nosso olhar admirado em um palco iluminado, onde acontece algo que é fictício e que tão completamente absorve a nossa atenção?
Fischer, Ernst. A Necessidade da Arte. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1987, p. 12. 
O Que é Arte 
Dizer o que é Arte é coisa difícil
A nossa ideia diante da “arte” é de admiração: sabemos, diante deles, predispomo-nos a tirar o chapéu. 
Arte são certas manifestações da atividade humana diante das quais nosso sentimento é admirativo, isto é: nossa cultura possui uma noção que denomina solidamente algumas de suas atividades e as privilegia. 
Mona Lisa
Davi
Guernica - Pablo Picasso, 1937
Ao expor, em 1917, um vaso sanitário como se fosse obra de arte, Marcel Duchamp o assinou com o pseudônimo R. Mutt seguido da data de “concepção da peça” – 1917. É possível que até hoje cultores e críticos da invasão das galerias pela materialidade do trato fecal, não se tenham dado conta de que Mut é a palavra alemã para vira-lata.
A arte é noção sólida e privilegiada, ela possui limites imprecisos?
Para decidir o que é ou não arte, nossa cultura possui instrumentos específicos. Um deles, essencial, é o discurso sobre o objeto artístico, ao qual reconhecemos competência e autoridade.
O discurso do critico, do historiador da arte, o perito, conservador de museu – São eles que conferem o estatuto de arte a um objeto?
Nossa cultura também prevê locais específicos onde pode manifestar-se, locais que dão estatuto de arte a um objeto? 
Os Modos dos Discursos
O que cria uma hierarquia dos objetos artísticos?
Por que Charles Chaplin é considerado gênio e o cearense Chico Anísio não é? 
Os objetos são mais “arte” que outros e os “artistas” melhores que outros?
A critica,tem o poder não só de atribuir o estatuto de arte a um objeto, mas de classificar numa ordem de excelências, segundo critérios próprios. 
Existe um conceito de obra-prima?
A obra-prima, no passado, era julgada a partir de critérios precisos de fabricação, por artesãos que dominavam perfeitamente as técnicas necessárias.
Cézanne é tido hoje em dia como um dos maiores nomes da pintura de todos os tempos. Porém, não podemos esquecer que o reconhecimento do seu valor foi tardio: enquanto viveu, o consenso geral recusou-se a julgá-lo positivamente, e esse também foi o caso de Van Gogh. 
II A Busca do Rigor
Os discursos que determinam o estatuto e o objeto das artes não são unânimes nem constantes. Sua segurança enquanto critério de julgamento já pode ser, num primeiro tempo, questionada: eles podem ser contraditórios tanto na atribuição do estatuto da arte quanto na determinação da hierarquia. P.25
O instrumento primeiro e mais frequente desse desejo de rigor é o das categorias de classificações estilísticas. P.25
Os estilos
Falando de arte, referimo-nos a impressionismo, surrealismo, romantismo, rococó, a um estilo cretense, helenístico ou egípcio. P. 31 
Que estilo é tal pintor?
Essa atitude pode ser pacificadora, mas não é satisfatória. Pois as obras são complexas, e é de sua natureza escapar às classificações; pois as classificações são complexas e nunca se reduzem a uma definição formal e lógica; pois a relação entre as obras e os conceitos classificatórios é, sobretudo, complexa. P. 31
 Wölfflin, Princípios Fundamentais da História da Arte, 1915.
 Cinco categorias duplas, em oposição, que permitiram caracterizar o classicismo e o barroco. São as seguintes:
O classicismo é linear, o barroco, pictural;
O classicismo utiliza planos, o barroco, a profundidade;
O classicismo possui uma forma fechada, o barroco, aberta;
O classicismo é plural, o barroco, unitário;
O classicismo possui uma luz absoluta, o barroco, relativa. 
 Michelangelo na primeira década do século XVI, Sagrada Família com João Batista e Rubens em 1630 representa a Sagrada Família acrescentada Sant’Ana. 
 
Michelangelo Buonarroti, A Sagrada Família
Peter Paul Rubens, A Sagrada Família
Diferenças consideráveis:
O aspecto plástico, tátil, que no quadro de Michelangelo atraía nossas mãos, diminui muito: ao caráter palpável dos volumes substituiu-se sua aparência puramente visual. 
Os limites lineares deixaram de ser preciosos, as carnes e os tecidos não refletem mais a luz e passaram a ser o suporte de uma vibração luminosa introduzindo um modelo muito menos definido. 
Os objetos não se encontram mais isolados entre si, mas se ligam, através de passagens suaves, uns aos outros.
Rafael, A Escola de Atenas
Peter Paul Rubens, O Rapto das Sabinas
Jacques-Louis David, As Sabinas
III Arte para Nós
História da arte, critica, museu, teatro, cinema de arte, salas de concerto, revistas especializadas: instrumentos da instauração da arte em nosso mundo. Eles selecionam o objeto artí, apresentam-no ou tentam compreendê-lo – por meio deles a arte existe. 
(...) as obras possuem com que uma “essência” artística, um valor “em si”, intrínseco e imanente, que lhes garantia o “ser” obra de arte, ser perene (...). P.65-66
A noção de arte que hoje possuímos – leiga, enciclopédica – não teria sentido para a artesão – artista que esculpia os portais românticos ou fabricava os vitrais góticos.
Desse modo, o “em si” da obra de arte, ao qual nos referimos, não é uma imanência, é uma projeção. Somos nós que enunciamos o “em si” da arte, aquilo que nos objetos é, para nós, arte. 
(...) É difícil delimitar a linha que separa os objetos artísticos dos não artísticos: isso vem em parte do fato de que essa vocação enciclopédica do “para nós” é onívora.

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