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Aula 01 Teoria Geral do Estado

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1 Noções da Teoria Geral do Estado
O que é o Estado e para que serve?
A noção de Estado apesar de recente, existe há muito tempo.
Na Antiguidade, o Estado representava a personificação do vínculo comunitário e a aderência à ordem política e de cidadania.
A despeito disso, não existia, na época, uma definição de Estado nos moldes hoje concebidos.
Foi Maquiavel, com sua célebre frase “Todos os Estados que existem e já existiram são e foram sempre repúblicas ou principados” (O Príncipe, 2003. p. 29), que difundiu a utilização da noção moderna de Estado.
Em alguma medida isso mostra que, na época, o uso do termo já estava difundido.
O grande mérito de Maquiavel foi a sensibilidade demonstrada para notar a substituição gradativa, mas demorada, dos termos tradicionais que, até então, eram utilizados para designar a máxima organização de um grupo de indivíduos sobre um território em poder de comando.
Mas afinal, o que é Estado?
Em termos simplificados, pode-se dizer que se trata de um grupamento humano organizado politicamente em torno de uma instituição central.
Burdeau (O Estado, 2005, p. X), por outro lado, define o Estado como uma Instituição marcada pela ambiguidade, posto que é a:
Base de um Poder desencarnado, mas ao mesmo tempo provedor do poder dos homens que governam em seu nome, o Estado é um Jano de quem uma face, a que é serena, reflete o reinado do direito e a outra, atormentada se não retorcida, é marcada por todas as paixões que animam a vida política.
Nesse contexto, de acordo com o proposto por Budeau, o nascimento do Estado se daria pela realização de um conjunto de fatores, considerado o grupamento de indivíduos como base, a saber:
TERRITÓRIO - como forma de uma “coletividade tomar consciência de si mesma” e, a seguir, seja utilizado como meio para “aprimorar as relações entre os indivíduos e seu contexto geográfico” ; 
 A NAÇÃO - originada “de um sentimento ligado às mais íntimas fibras de nosso ser” ; 
O SURGIMENTO DO PODER E AUTORIDADE como resultado “de uma reflexão sobre o próprio Poder” ; 
após, devem os indivíduos BUSCAR A SEGURANÇA contra a arbitrariedade do exercício do Poder ; 
a busca da LEGITIMIDADE como meio de “dissociar o Poder das personalidades que o exercem” ; 
a duração do Estado ; e, por fim, 
a afirmação da soberania .
Para fins da nossa disciplina, podemos dizer que, a partir da ideia Kelseniana de Estado enquanto ordenamento jurídico, Estado é “uma definição formal e instrumental”, na qual:
condição necessária e suficiente para que exista um Estado é que sobre um determinado território se tenha formado um poder em condição de tomar decisões e emanar os comandos correspondentes, vinculatórios para todos aqueles que vivem naquele território e efetivamente cumpridos pela grande maioria dos destinatários na maior parte dos casos em que a obediência é requisitada [Bobbio, Estado, Governo e Sociedade: para uma teoria geral da política, 2003, p. 95].
O que se verifica em tudo o que foi exposto, é que existe um conjunto de elementos que conformam a noção de Estado.
1.1 Elementos do Estado
O Estado é formado, em síntese, por três elementos: 
Território
População
Soberania.
A noção de Soberania, no entanto, tem sofrido alterações com a globalização.
A doutrina, de forma geral, apresenta o território como a base geográfica sobre a qual está fixada a população e exerce o Estado sua jurisdição, inexistindo grandes discrepâncias, neste ponto, entre os estudiosos do tema. 
Oportuno é trazer à colação a noção de Hans Kelsen de que “a unidade territorial do Estado é uma unidade jurídica, não geográfica ou natural, porque o território do Estado, na verdade, nada mais é que a esfera territorial de validade da ordem jurídica chamada Estado” (Teoria Geral do Direito e do Estado, 2000. p. 208). 
Conclui-se da observação de Kelsen que o território do Estado excede a simples noção geográfica do termo e adquire uma noção jurídica própria.
Apesar de apresentar a população como elemento essencial do Estado, a doutrina faz a distinção entre população, povo e nação.
Nesse contexto, enquanto população é conceito puramente demográfico e estatístico, que engloba todas as pessoas presentes no território do Estado, num determinado momento, inclusive estrangeiros e apátridas, os demais termos adquirem contornos diferenciados.
Povo é uma entidade jurídica; nação é uma entidade moral no sentido rigoroso da palavra.
Nação é muita coisa mais do que povo, é uma comunidade de consciências, unidas por um sentimento complexo, indefinível e poderosíssimo: o patriotismo.
Ocorre que há sociedades que possuem um território, um governo e, no entanto, não são Estado. 
É que falta a tais Estados uma característica própria e especial, a SOBERANIA.
A discussão acerca do conceito de soberania apenas teve início em tempos recentes, uma vez que, na antiguidade clássica, não fazia sentido à organização da polis grega a constituição de um poder como o que ora se estuda
O conceito de soberania surge na Idade Média, a partir do declínio do sistema feudal de organização política e de produção e a centralização do poder nas mãos de monarcas, além das disputas então travadas com a Igreja e com o Sacro Império Romano-Germânico para definir de quem era o Poder Supremo.
Diversas teorias acerca da soberania foram, então, criadas para legitimar e explicar o poder dos reis. Em alguns pontos, inclusive, os monarcas foram chamados de soberano, o que demonstra a confusão entre tais noções.
Surgiram, nesse contexto, teóricos da soberania fundados na origem divina do poder real e teóricos da soberania popular e nacional. 
Outra corrente, que tem como expoentes Kelsen e Jellinek, é a da soberania do Estado.
Atualmente, a despeito da globalização, pode-se dizer que a Soberania é o poder do Estado de se fazer obedecido, impondo sua vontade própria em última instância.
1.2 Formas de Estado
Tratar das formas que um Estado pode assumir significa estudar os modelos de organização política. 
A partir disso, tem-se as formas simples, que são o Estado Unitário e o Estado Federal e as formas compostas, que é representada pela Confederação.
Aqui, daremos ênfase apenas ao Estado Federal, que é aquele que se mostra relevante para o estudo do Direito Constitucional brasileiro.
Assim, em breves linhas, o Estado Unitário é aquele que se mostra organizado a partir de um único centro de poder, ainda que não necessariamente as decisões sejam centralizadas. De fato, o que se tem é a concentração do poder em um único ente político.
O Estado Confederado, por sua vez, é uma forma de estado formada por estados soberanos, mas que se unem por meio de um Tratado para facilitar a adoção de providencias e tomada de decisão em certas áreas. 
Diferentemente do Estado Federal, o Confederado é dissolúvel, uma vez que não perdem a soberania os Estados que dele fazem parte.
1.2.1 Federalismo
Antecedentes históricos.
Modelo de confederação e Estados Unidos.
A confederação adotada pelos Estados Unidos era um modelo marcado pela autonomia e independência dos Estados membros.
O Poder central existente tinha pouquíssimas competências e atribuições, com Estados fortes e autônomos.
Cada Estado tinha sua própria organização administrativa e militar, sem um poder militar central.
Com a necessidade de uma expansão comercial, começa a surgir a necessidade de um poder central mais forte.
A partir disso, começam a surgir vozes no sentido de maior união entre os Estados.
Surge então o federalismo como modelo intermediário entre a confederação e o estado unitário.
A federação norte-americana surge como um pacto entre os Estados.
A partir da adoção da federação, surge também um território do Estado e um poder central com competências pré-definidas.
A despeito da centralização, ficam mantidas as instancias descentralizadas.
O poder político fica distribuído territorialmente, o que facilita a implementação de políticas públicas locais que atendam às necessidades específicas da localidade.Nesse modelo inicial, os Estados cederam parcelas de seu poder e competências para o poder central, mas, ainda assim, mantiveram grande parcela de soberania.
Aquilo que não tem previsão em lei federal, continua de competência plena dos Estados.
Adoção do Legislativo bicameral, com representantes do povo e dos Estados.
A descentralização permite uma fiscalização e controle mútuos, evitando abusos.
É que os diferentes ramos do poder precisam ser dotados de força suficiente para resistir a ameaça uns dos outros, garantindo que cada um se mantenha dentro dos limites fixados constitucionalmente.
Na federação, existem vários Poderes, inicialmente soberanos e independentes, que se unem para a formação de uma federação. O movimento é de fora para dentro.
A esse tipo de federação, se dá o nome de FEDERALISMO POR AGREGAÇÃO.
No caso brasileiro, o Poder central cedeu parcelas de seu poder a estados que não tinham parcela de autonomia, o que indica um modelo de dentro para fora. Esse tipo de federação à brasileira é chamada de FEDERAÇÃO POR DESAGREGAÇÃO.
O federalismo, tipicamente, tem dois níveis: 
União e Estados, mas podem, como no caso brasileiro, ter mais membros.
1.2.1.1 O modelo de Estado Federal brasileiro
Em síntese, o Estado Federal apresenta-se como uma organização baseada na repartição de competências entre o governo central, União, e os governos estaduais e municipais.
No Estado Federal, cada esfera da organização possui autonomia constitucional e de organização e, a partir disso, pode propor leis próprias. Ainda que a União represente o governo central, ela não impõe sua vontade aos demais entes federados.
Assim, o sistema federal é caracterizado pela existência simultânea de governos em cada uma das esferas da federação, que estabelecem normas, respeitada sua competência territorial, sobre as mesmas pessoas e mesmos espaços, simultaneamente. 
Além disso, são previstos mecanismos estabelecidos com o objetivo de garantir a manutenção da união dos estados.
Existem dois grandes modelos de estado federal. 
No federalismo norte-americano, houve a união dos Estados em um único país e a cessão de parcelas das competências para o ente recém-criado, a União. Esse é o federalismo clássico. 
No entanto, no Brasil, o movimento foi inverso. 
Os Estados já estavam organizados no âmbito de um mesmo país e o Poder Central, com o objetivo de descentralizar o exercício do Poder, cedeu partes de suas competências para os entes federados.
Enquanto no Estado Federal norte-americano a competência residual foi outorgada à União pelos Estados-membro, no Brasil, a União cedeu parte de sua competência para Estados e municípios e estabeleceu que a competência residual seria dos municípios. 
O Estado Federal brasileiro é atípico.
Ainda que o seja, outras características do Estado Federal estão presentes. 
O Bicameralismo do Poder Legislativo, que será objeto de análise a seguir, baseia-se justamente, na necessidade de um Legislativo que represente, de um lado, os interesses da população, Câmara dos Deputados, e, de outro, os interesses dos Estados-membro, Senado Federal.
Ocorre, no entanto, que uma das características do federalismo está justamente na autonomia constitucional dos entes federados, o que não pode ser observado nos municípios.
Por tal motivo, diversos autores entendem que o Estado Federal brasileiro é de apenas dois níveis, formado por União e Estados.
Outros autores, no entanto, entendem que os municípios, apesar da falta de autonomia constitucional, possuem autonomia na sua organização, o que garantiria a existência de um Estado Federal de três níveis.
Para provas em geral, sugere-se adotar essa segunda posição.
1.3 Formas de Governo
É nas tipologias de governo que se incluem as distinções entre o governo de um, o governo de poucos e o governo de muitos.
Pode-se afirmar que, na Antiguidade, o Estado grego, era essencialmente monárquico e patriarcal com cada uma das cidades constituídas por um Rei, um Conselho de Anciãos e uma Assembleia Geral dos Cidadãos que, muito raramente e apenas nos casos mais importantes, era convocada.
A democracia ateniense era apenas uma exceção naquele todo. Especificamente sobre a democracia ateniense, o que se tem é que, no auge, quando a polis contava com cerca de quinhentos mil habitantes, menos de dez por cento eram efetivamente cidadãos, mais de sessenta por cento eram, por sua vez, escravos.
Ocorre que existiam, ainda, Cidades-Estados fundadas no militarismo, como Esparta, e Estados lacedemônicos.
A característica mais marcante do Estado grego é a onipotência, ou seja, o papel sempre presente e decisivo na vida dos cidadãos.
Isso se explica, em parte, pelo fato de ser a polis uma entidade política e religiosa ao mesmo tempo.
Roma, em seus primórdios seguia o modelo grego de organização, apenas com o tempo é que passou a adotar características próprias.
Digno de nota é o período em que Roma viveu sobre uma ditadura, usualmente considerado um governo autoritário e antidemocrático, no entanto, em sua origem, aparece como um instituto da democracia, pelo qual se faz uma pausa no exercício do Poder democrático e assunção ao Poder de um magistrado com poderes extraordinários com a finalidade de solucionar o problema ou dificuldade que deu causa ao exercício deste instituto.
Os grandes teóricos desse momento histórico eram Platão, Aristóteles e Políbio.
Para Platão, existiam seis formas de governo, duas ideiais e quatro corruptas. 
As formas ideias seriam a Monarquia e a Aristocracia.
As formas corruptas a Timocracia (marcada pela busca pelas honrarias), a Oligarquia (marcada pela busca pelas riquezas), a Democracia (que com o excesso de liberdade permite o surgimento da próxima forma de governo) e a Tirania (em que um domina todos).
Aristóteles também considera existir seis formas de governo, no entanto, destas formas, três são positivas e três negativas. 
As positivas são aquelas em que quem governa, governa considerado o interesse coletivo e as negativas são as que o que se tem em conta são os interesses particulares.
As formas positivas para Aristóteles são: Monarquia ou Realeza, Aristocracia e República. 
As formas negativas são: Tirania, Oligarquia e Demagogia.
Mas a forma ideal de governo para Aristóteles é a Politéia, que reúne características das três formas positivas, dando início à noção de forma mista de governo.
Políbio, por sua vez, como herdeiro de Aristóteles, altera pouco o que proposto por ele, mas sua grande inovação é a noção de ciclo, pela qual as seis formas de governo e à forma pelas quais uma sucede a outra. Ao invés de uma forma boa dar lugar a outra forma boa, as formas boas e más se alternam num ciclo, até retornar ao estado inicial.
Com a queda do Império Romano do Ocidente, causado, de um lado, pelo declínio e corrupção do Estado e, por outro lado, pelas invasões dos povos bárbaros – povos de origem germânica de diversas ordens, como francos, gôdos, lombardos e vândalos – tem-se o início da Idade Média e de um sistema econômico-social denominado feudalismo.
Após a dominação dos vastos territórios da Europa ocidental, os reis dos povos bárbaros passaram a distribuir as terras conquistadas entre membros da nobreza e outras pessoas próximas aos reis. Em troca das terras, comprometiam-se a servir ao lado do rei nas guerras.
A relação que se firmava entre os senhores feudais e o poder central era de origem contratual e, nesse contexto, os senhores feudais subdividiam as terras que lhes haviam sido confiadas a homens livres e ex-escravos, que passaram a ser denominados vassalos, através de institutos romanos como a commendatio e a precarium, que não garantiam ao vassalo qualquer direito contra o proprietário. Havia, nesse contexto, uma confusão entre direito público e privado.
Dessa forma, as diferenças entre os antigos escravos, colonos e camponeses livres deixou de existir e passaram a existir apenas duas classes, a dos senhores feudais e a dos servos de gleba
A IdadeMédia pode ser dividida em dois períodos, o primeiro marcado pelo feudalismo e o segundo pela reunião do poder em entes centrais, com o surgimento do Absolutismo.
Nesse novo modelo de Estado centralizado e absolutista, os teóricos renascentistas, a partir das construções gregas e romanas do Estado, consagraram um regime que concedia aos reis e imperadores o imperium absoluto dos césares romanos e, apesar de manter as mesmas bases da economia servil, esse novo regime permitiu – considerada a uniformização da legislação e das moedas - a ascensão dos comerciantes. 
Os grandes teóricos do absolutismo monárquico foram Maquiavel, Bodin e Hobbes.
Para Maquiavel, existiam apenas duas formas de governo: Repúblicas e Principados, dedicando sua obra a estes últimos.
Para Bodin, a distinção entre formas boas e más de governo não possui fundamento, pois, para empreender tal distinção, considerando-se as qualidades e defeitos que as constituições apresentam, necessária seria a criação de inúmeras classificações, o que impossibilitaria uma ordenação. 
A despeito de tais considerações acerca da inexistência de distinção entre as formas boas e más de governo, Bodin introduz uma diferenciação baseada na maneira com que o soberano exerce o poder, podendo cada uma das três formas de governo, monarquia, aristocracia e democracia, assumirem outras três formas. 
Dessa forma, a monarquia pode ser real, despótica e tirânica, enquanto a aristocracia pode ser legítima, despótica e facciosa e a democracia legítima, despótica e tirânica. 
Por outro lado, Bodin reputa inexistente uma sétima forma de governo que os antigos e, até, alguns de seus contemporâneos chamavam de governo misto. É que, para o autor, se nenhuma das ordens sociais possui o poder exclusivo de legislar, então o governo não pode ser chamado de misto, mas democrático. 
Ocorre, dessa forma, que um Estado, iniciando a distinção entre forma de Estado e de governo que mais tarde seria retomada por Rousseau, pode ser composto, sem que isso signifique que o governo é misto. É que, para Bodin, o exercício do poder soberano pode ser delegado para que outra instância o exerça, o que não acarreta a transformação de uma forma de governo em um governo misto. 
As grandes inovações trazidas por Jean Bodin foram, portanto, a distinção entre formas de Estado e formas de governo e entre origem e exercício do poder soberano.
Para Hobbes, tal qual para Bodin, apenas podem existir três formas de governo e sua diferenciação reside no número de pessoas que possuem o poder de dirigir as demais da comunidade, a saber: monarquia, aristocracia e democracia. 
Enquanto a monarquia é o governo de um, a aristocracia é o governo de uma parte e a democracia de todos.
Nesse mesmo sentido, os governos mistos não seriam possíveis, uma vez que a soberania é una e indivisível, não sendo possível a existência de dois soberanos, como seria o caso de o monarca dividir tal poder soberano com uma assembleia, o que, para Hobbes, resultaria, inevitavelmente, numa guerra interna.
A grande diferença entre as três formas de governo para Hobbesobbers reside na “conveniência ou aptidão para garantir a paz e a segurança do povo, atendendo ao fim para o qual foram criadas, e não na diferença de poder”.
Assim, Hobbes faz a comparação entre as três formas de governo a partir daquela que considera mais apta a realizar o objetivo do Estado, qual seja, a monarquia. Nesse contexto, Hobbes observa seis aspectos presentes na monarquia que a favoreceriam em relação às demais, a saber:
i) os homens tendem a favorecer a realização de seus interesses pessoais, logo, na monarquia, em que os interesses públicos se confundem com os particulares, os interesses públicos serão mais beneficiados que nas demais formas de governo. 
ii) o monarca pode ser aconselhado com antecedência por quem ele quiser, independentemente da categoria ou qualidade da pessoa, e, se for o caso, ser aconselhado em sigilo. As assembleias, no entanto, não podem se reunir em sigilo, uma vez que composta por várias pessoas, somente podem ser aconselhadas por aqueles que possuíssem aquela qualidade com antecedência e suas decisões são tomadas à chama das paixões e, portanto, não se apresenta de forma racional. 
iii) o monarca não tem suas decisões submetidas ao crivo de outros, enquanto as assembleias possuem suas decisões submetidas à maioria de seus membros, cuja ausência de membros em uma determinada deliberação pode fazer com que uma decisão recentemente adotada seja em seguida modificada. 
iv) o monarca não é capaz de discordar de si mesmo, enquanto uma decisão da assembleia pode ser capaz de provocar uma guerra civil. 
v) apesar de o exercício do poder soberano estar sujeito à possibilidade de um indivíduo ser privado do que possui para favorecer a outro indivíduo, isso não se restringe à monarquia. A despeito disso, na monarquia, existem poucos a serem favorecidos, enquanto nas assembleias, cada um de seus membros, possui aqueles que deseja favorecer. 
vi) por último, afirma Hobbes, que na monarquia existe o inconveniente de o poder soberano, por vezes, estar nas mãos de uma criança, que não possui capacidade para discernir os bons dos maus conselhos. Em tais casos, pode-se optar por nomear um tutor ou uma assembleia para governar. Esse problema, no entanto, Hobbes também observa nas assembleias que, para resolver as questões urgentes que surgiram, nomeiam um ditador para preservar o Estado. Entretanto, a história mostra ser mais comum um ditador usurpar o poder, do que um tutor ou uma assembleia formada para exercer o governo até que o monarca tenha capacidade para tal. 
Por fim, Hobbes observa que é na monarquia que surgem os problemas de sucessão, pois, em uma aristocracia ou democracia, não é possível que faltem todos os governantes, enquanto na monarquia pode surgir uma situação de inexistência de sucessor a um monarca falecido.
O Estado moderno, surgido pós-absolutismo, é resultado da centralização do poder ocorrida durante o absolutismo monárquico e do afastamento do poder temporal da Igreja. 
Outros dois aspectos marcaram a passagem do Estado absolutista para o Moderno, quais sejam, a consolidação de uma nova teoria da soberania, em que ela é deslocada do rei para a nação, e pela autolimitação do Estado. 
Esse modelo de Estado passou a ser denominado de Estado Constitucional, Estado de Direito e Estado Liberal e foi forjado na Inglaterra desde a Idade Média, quando, em 1215, foi elaborada a Magna Carta, que inaugurou um regime de autolimitação do Estado que culminaria com um regime monárquico constitucional. 
A esse movimento deu-se o nome de constitucionalismo e se refere à limitação dos poderes do Estado através da positivação de uma Constituição, que será estudado no capítulo a seguir em conjunto com seu conteúdo e principais características, bem como a opção política adotada no Brasil pelos legisladores de 1988.
Outro aspecto dos sistemas contemporâneos refere-se à dualidade sistema representativo/participativo.
1.4 Sistemas de Governo
O tema sistemas de governo vai ser estudado durante todo o curso em pequenos apontamentos. Aqui, para essa disciplina, basta saber que Sistema de Governo é a forma de organização do governo a partir do formato de exercício do Poder e sua relação com os demais poderes;
Os sistemas de governo são:
Parlamentarismo, Presidencialismo e Monarquia. 
No Parlamentarismo, o Executivo é exercido por um representante escolhido pelo parlamento. 
No Presidencialismo, o Executivo é exercido por um representante escolhido pelo povo. 
Na Monarquia, o Executivo é exercido por um monarca escolhido de acordo com as regras de sucessão aplicáveis na espécie.

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