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MARKETING VERDE E RESPONSABILIDADE SOCIAL AULA 2 Profª Cora Catalina CONVERSA INICIAL Como vimos na aula anterior, o pressuposto do marketing verde é atender necessidades, desejos e promover o engajamento do consumidor com a marca, num processo de troca, relacionamento e comunicação permanentes, inserido nas diretrizes da sustentabilidade. Assim, as práticas de Responsabilidade Social (RS) vêm sendo compreendidas como essenciais pelos gestores. A Responsabilidade Social se integra ao marketing porque há necessidade de uma nova ética de gestão nas organizações. A ética do conservar, cuidar da saúde do planeta e das pessoas. A ética de condutas transparentes nas relações com os funcionários, clientes, concorrentes, investidores, fornecedores, governo, ou seja, com os chamados stakeholders. Quando o profissional de marketing apresenta os benefícios que a Responsabilidade Social traz para o posicionamento da marca, para o aumento da credibilidade, respeito e confiança, é um caminho sem volta. TEMA 1 – RESPONSABILIDADE SOCIAL O termo responsabilidade social (RS) vem sendo utilizado de diversas maneiras nas organizações, por exemplo: responsabilidade social empresarial, responsabilidade social corporativa, responsabilidade nos negócios, responsabilidade socioambiental que, de certa forma, convergem. O Livro Verde da Comissão Europeia (2001) registra que a responsabilidade social é um conceito segundo o qual as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e um ambiente mais limpo. Outra definição afirma que Responsabilidade Social vem a ser o compromisso que as organizações assumem com diferentes segmentos da sociedade para minimizar impactos e consequências geradas pelo negócio, seja direta ou indiretamente. A origem está nas questões éticas que envolvem suas relações, práticas e atitudes com a sociedade (Borger, 2013). Até alguns anos atrás, a RS era confundida com filantropia ou assistencialismo, cujo fundamento é realizar ações de caridade, normalmente voltadas a “fazer o bem” sem estratégias para a emancipação, mas para as necessidades imediatas, sem uma visão de sustentabilidade. Isso não significa que as empresas não devam praticar filantropia, pois são importantes e devem 3 continuar. A questão é que não trouxeram efetivas transformações sociais e econômicas para o desenvolvimento das comunidades. Diferentemente da era industrial, em que as empresas tinham necessidade de ser autosuficientes e a única responsabilidade era gerar lucratividade financeira, os tempos atuais exigem dos gestores um enfoque para a integração horizontal e relacional entre organizações, passando a interagir com novos parceiros e alianças estratégicas (Tachizawa, 2008). Embora a RS não seja uma obrigatoriedade para as empresas, diferentemente das práticas ambientais, a visão transformadora precisa ser implementada desde já! É imperativo agir agora: o crescimento econômico não se sustenta sem uma equivalência social e ambiental; por sua vez, programas sociais ou ambientais corporativos não se sustentarão sem o equilíbrio econômico da empresa. TEMA 2 – A ÉTICA E O IMPACTO NOS NEGÓCIOS Nada tem sido mais impactante nestes últimos anos do que a falta de ética nas organizações. Notícias constantes revelam acontecimentos dos mais variados, demonstrando a crise de valores comportamentais e os impactos provocados pelo “vale tudo por dinheiro”. A competição global, a evolução dos mercados, expansão das telecomunicações, desenvolvimento tecnológico acelerado e outros fatores presentes possibilitam a percepção do cenário que gestores e lideranças enfrentam. Por outro lado, a sociedade pressiona para que esse modus operandi seja modificado para novas posturas e, desequilíbrios sociais e ambientais sejam minimizados. Marco Aurélio de França, em seu livro sobre o tema, apresenta sete motivações que influenciam os gestores para atitudes éticas. São elas: 1. Ideológica: a empresa é importante na sociedade e não pode deixar de observar o seu papel moral na melhoria das condições sociais; 2. Consequencialista: as empresas assumem o papel ineficaz dos governos em resolver questões sociais para evitar colapsos na sociedade; 3. Liderança: o papel do grande líder que deve observar questões sociais e éticas para inseri-las na gestão do negócio; 4. Marketing: contribui na melhoria do posicionamento da marca, desde que seja um trabalho coerente com todos os públicos envolvidos; 4 5. Imitação: linha segundo a qual as empresas imitam outras empresas a partir do momento que ocorre a institucionalização do tema no mercado; 6. Produtividade: apoia-se no pressuposto que as pessoas irão produzir e consumir mais e melhor, se confiarem nas atitudes e políticas corretas adotadas pela organização; 7. Certificação: normas de qualidade, certificações e premiações obtidas pelas boas normas de conduta são motivações maioritariamente externas e importantes para validar o grau de credibilidade. Na adoção de diretrizes de RS e Ética, as contribuições das organizações e das pessoas ao incorporar ações podem acontecer em quatro níveis integrados de realização, conforme quadro abaixo: Quadro 1 – Contribuições éticas individuais e empresariais nos níveis de realização Tipo de realização Contribuições éticas das pessoas Contribuições éticas das empresas Verbo que as define Material/física Dedicação, assiduidade, pontualidade, honestidade, cumprimento das obrigações normativas. Salários em dia, benefícios, cumprimentos trabalhistas, segurança. TER Produtiva Autodesenvolvimento, aprendizagem, excelência, inovação, criatividade. Processos de trabalho de qualidade, tecnologia e desenvolvimento profissional. FAZER Relacional Trabalho em equipe, empatia, proatividade, Cultura Organizacional, lideranças cooperativas INTERAGIR Existencial Condutas éticas, hábitos e costumes virtuosos Ética nos negócios SER Fonte: França, 2007. Práticas bem-sucedidas demonstram que colocar as pessoas para dialogar sobre os padrões éticos necessários e criar o Código de Ética da organização, por meio de grupos de trabalho com workshops ou seminários: analisando as contribuições que cada uma das partes poderá assumir; criando um próprio quadro, segundo a proposta acima, terá um impacto positivo para todos, sendo um dos melhores métodos de gestão. O Código de Ética é um importante instrumento para fortalecimento da marca e posicionamento da organização e a implementação pode ser orientada pelas áreas de gestão de pessoas, marketing interno (endomarketing) e comunicação. 5 TEMA 3 – INDICADORES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL (RS) Diretrizes norteadoras para aplicar ações de responsabilidade social são denominados indicadores. Os indicadores devem ser definidos, quantos e quais, de acordo com o negócio e o tamanho da organização. Não há um número mínimo obrigatório. Os indicadores facilitam o planejamento e o acompanhamento das metas. Também possibilitam identificar pontos fortes e aqueles que precisam ser desenvolvidos, evitando riscos ao negócio. O Instituto Ethos, pioneiro no Brasil, desde o ano 2000 mobiliza as empresas a incorporar a prática da responsabilidade social e disponibiliza a plataforma on line para autodiagnostico empresarial que segue o conceito ESG (Environmental, Social and Governance). Indicadores G4-GRI – da Global Reporting Initiative (GRI): É um instrumento internacionalmenterepresentativo e considerado uma estrutura confiável para a elaboração de Relatórios de Sustentabilidade. Vem sendo aplicado por organizações de todos os tamanhos, setores e localidades, principalmente, por ser passível de comparação como relatórios financeiros. (G4-GRI, 2015) Para o Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, quando as empresas implementam relatórios com base nos Padrões GRI demonstram, principalmente, compromisso com os impactos ambientais e sociais, transparência nas relações e capacidade de participação em mercados. Os indicadores GRI-G4 da categoria social possuem 4 subcategorias que, de acordo com as características da organização, orienta os indicadores de RS, que são os seguintes: 1. Práticas trabalhistas e trabalho decente: relacionado a emprego; relações trabalhistas; saúde e segurança no trabalho; 2. Direitos humanos: relacionado à não-discriminação; abolição do trabalho infantil; prevenção de trabalho forçado e escravo; direitos dos povos indígenas e tradicionais; 3. Sociedade: relacionado a programas e práticas com a comunidade; corrupção; políticas públicas: contribuições financeiras para partidos políticos ou instituições relacionadas; Concorrência desleal: práticas de truste e monopólio; avaliação de fornecedores que representam possíveis impactos negativos; 6 4. Responsabilidade pelo produto: relacionado à saúde e segurança do cliente; rotulagem de produtos e serviços; comunicações de marketing; privacidade do cliente. Saiba mais Entre no site da Global Resourcing e saiba mais sobre o assunto. Disponível em: <https://goo.gl/jgcnhr>. Acesso em: 7 jun. 2018. Depois de tomar conhecimento sobre as temáticas que envolvem as diretrizes da RS é possível distinguir a diferença entre realizar um projeto de filantropia e/ou assistencialismo. Responsabilidade social é muito mais ampla. Ou seja, não basta realizar uma ação com a comunidade no entorno da empresa e afirmar que, por isso, a empresa é socialmente responsável. São diferentes estratégias de gestão, relacionamento e comunicação. TEMA 4 – STAKEHOLDERS NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES Em 1984, Robert Edward Freeman definiu o termo stakeholder como sendo: “qualquer grupo ou indivíduo que afeta ou é afetado pelo alcance dos objetivos da empresa”, definição que vem sendo aplicada e atualizada, principalmente, em relatórios de sustentabilidade. O Relatório de Sustentabilidade da Coca-Cola (2016) declara a importância dos stakeholders: “O envolvimento de nossos diversos interessados no diálogo a longo prazo fornece um contributo importante que informa nossa tomada de decisão e nos ajuda a melhorar continuamente e a progredir em direção aos nossos objetivos de sustentabilidade de 2020”. Saiba mais Acesse o Relatório de Sustentabilidade da Coca-Cola de 2016 e aprenda mais sobre o assunto. Disponível em: <http://www.coca- colacompany.com/stories/stakeholder-engagement>. Acesso em: 7 jun. 2018. Identificar e classificar os públicos-chave com os quais a empresa se relaciona possibilita mapear as principais características e seu perfil. Os públicos relacionados pelas empresas, segundo pesquisa realizada pela USP/ECA (2015) são: 7 1. Funcionários; 2. Cadeia produtiva: fornecedores e envolvidos no processo de produção e comercialização; 3. Mercado: dimensão econômica de negócios da sociedade; 4. Concorrência; 5. Consumidor/clientes; 6. Governo/agências reguladoras, o que inclui as instâncias de controle do governo sobre produtos/serviços das empresas; 7. Imprensa/mídia; 8. Sociedade civil, foco nas organizações do terceiro setor; 9. Acionistas; 10. Entidades de classe, patronais e de empregados. Um importante instrumento de gestão no marketing verde é o painel de stakeholders. O painel consiste em formar um grupo de trabalho “das partes interessadas” reunidas a convite da empresa para examinar aspectos relacionados às suas políticas, ações, governança e desempenho e dar contribuições sobre os compromissos e posicionamentos assumidos pela empresa: O Painel é uma ferramenta importante para que as organizações desenhem melhores estratégias corporativas, considerem novos elementos de análise e gestão de riscos, construam novas parcerias e identifiquem novas maneiras de atuar junto à sua cadeia de fornecedores, na gestão dos impactos socioambientais e econômicos, no posicionamento de produtos e serviços e na comunicação. (Albuquerque, C. 2013) Quadro 2 – Etapas de estruturação do painel de stakeholders 1. Planejar: como resultado obter o Perfil do Painel, definindo o foco do relatório em Sustentabilidade validado pela alta administração. 2. Definir regras: como resultado descrever o Termo de Referência do Painel. 3. Definir equipe: analisando pontos de atração, retenção, evasão dos membros. 4. Fluxos de informação: o quê informar, quem informa e quais canais utilizar. 5. Monitorar e avaliar: resultados obtidos e necessidade de mudanças. O painel de stakeholders contribui para o fortalecimento dos processos de relacionamento na governança das empresas e facilita os planos de comunicação e de marketing das empresas. Os líderes das empresas devem ser os principais responsáveis pelo relacionamento com stakeholders. 8 TEMA 5 – O MARKETING E A RESPONSABILIDADE SOCIAL A personalidade é a razão de ser da marca, seu motivo autêntico para existir. Quando o núcleo da marca permanece fiel às suas raízes, as imagens podem ser flexíveis. Pense nisso nestes termos: com inúmeras adaptações do logotipo – o que o Google chama de doodles – MTV e Google permanecem marcas sólidas, porém flexíveis. (Kotler, 2017). O profissional de marketing precisa integrar todos os processos que mantêm interface com os clientes, de modo a que estes vejam sempre o “núcleo”, ou seja, a personalidade da empresa. Plafatorma global – a Organização das Nações Unidas (ONU) promove a mobilização no planeta para que gestores governamentais, empresas, universidades, escolas e a sociedade coordenem esforços em suas áreas de atuação local (cidade) e regional (Estado), com o objetivo de erradicar a pobreza e promover vida digna para todos, dentro dos limites do planeta. No Brasil, a publicação do Decreto Presidencial n. 8.892, firmado em outubro de 2016, estabeleceu a Comissão Nacional dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de governança nacional para o processo de implantação da plataforma coletiva, denominada Agenda 2030, um instrumento de gestão para a mediação na formulação de políticas para o período de 2017-2019. Saiba mais Acesse a Plataforma Agenda 2030 e leia mais sobre o assunto. Disponível em: <www.agenda2030.org.br>. Acesso em: 7 jun. 2018. Profissionais de marketing podem engajar sua empresa/organização na Agenda 2013, definindo os ODS que se adequam aos indicadores de responsabilidade social selecionados pelo grupo de trabalho painel de stakeholders às diretrizes de RS. Isto fortalecerá o posicionamento da empresa. NA PRÁTICA Para atender a nova política de sustentabilidade que será implementada na organização, você precisa apresentar – na próxima reunião de Diretoria - uma proposta de marketing verde, focada na diretriz de Responsabilidade Social para a empresa na qual você trabalha ou, dê continuidade ao exercício 9 anterior e utilize a mesma empresa/instituição fictícia que criou na aula anterior. Protocolo de resolução com quatro passos 1. Definição do conceito de responsabilidade social; 2. Elaboração de proposta para criação do painel de stakeholders: área dos membros e atribuiçõesdo grupo; 3. Identificação dos indicadores de RS; 4. Descreva a justificativa da proposta. Síntese de uma resolução 1. É importante diferenciar filantropia de RS e indicar as dimensões da sustentabilidade; 2. Descreva breve o que é painel de stakeholder, citando um ou mais benefícios de sua criação; especifique quais áreas estratégicas da empresa/organização precisam integrar o painel e mencione quais serão as atividades iniciais do trabalho em grupo; 3. Para fazer a seleção dos indicadores de RS, o grupo precisa analisar qual é o negócio da empresa/organização e diretrizes de governança (valor, missão, princípios); 4. Ao preparar a justificativa, aplique conhecimentos adquiridos durante a aula e pesquisas extra aula. FINALIZANDO Os valores ambientais e direitos humanos funcionam como princípios éticos para influenciar atitudes e comportamentos do consumidor. Nesta segunda aula abordamos o conceito de Responsabilidade Social, quais são os indicadores e exemplos de aplicabilidade na gestão da sustentabilidade, como o Global Reporting Initiative (GRI). Vimos também como consolidar um painel de stakeholders, uma estratégia eficiente é definir em equipe os parâmetros para elaboração do código de ética e/ou dos indicadores de RS. Abordamos o papel do marketing na RS e conhecemos a Agenda 2030 criada pelas Nações Unidas (ONU), uma plataforma coletiva e gratuita que propõe 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para ser aplicado por instituições privadas, governos locais, estaduais e federais e entidades da sociedade civil 10 organizada. O principal objetivo foi apresentar estratégias e ferramentas para que o profissional de marketing possa aplicar as diretrizes de RS na sua área de atuação, de acordo a realidade de sua empresa, construindo novos caminhos e potencializando os negócios, cada vez mais. 11 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, A. Painel de stakeholders: uma abordagem de engajamento versátil e estruturada. Instituto Ethos, 8 abr. 2013. Disponível em: <https://www3.ethos.org.br/cedoc/painel-de-stakeholders-uma-abordagem-de- engajamento-versatil-e-estruturada/#.WmCZMpO7-qA>. Acesso em: 6 jun. 2018. ALVES, E. et al. Marketing de relacionamento: como construir e manter relacionamentos lucrativos? Curitiba: InterSaberes, 2014. BORGER, F. Responsabilidade social empresarial e sustentabilidade para a gestão empresarial. Instituto Ethos, 19 jun. 2013. Disponível em: <https://www3.ethos.org.br/cedoc/responsabilidade-social-empresarial-e- sustentabilidade-para-a-gestao-empresarial/#.wlydfzo7-qb>. Acesso em: 6 jun. 2018. FRANÇA, M. Além do lucro: o desafio da competição responsável. São Paulo: Saraiva, 2007. G4: GRI. Princípios para relato e conteúdos padrão. Reporting Framework, nov. 2015. Disponível em: <www.globalreporting.org>. Acesso em: 6 jun. 2018. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Inmetro. Cartilha compreendendo a responsabilidade social – ISO 26000 e ABNT NBR 16001. Disponível em: <www.inmetro.gov.br/qualidade/responsabilidade_social/cartilha.asp>. Acesso em: 6 jun. 2018. OTTMAN, J. A. As novas regras do marketing verde: estratégias, ferramentas e inspiração para o branding sustentável. São Paulo: M. Books do Brasil, 2012. TACHIZAWA, T. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
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