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1 Pós-graduação afirmativo CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRIMINOLOGIA 2 A ANTROPOLOGIA CRIMINAL A antropologia criminal, hoje também denominada biologia criminal, é ciência criminológica que deve seu aparecimento, como conjunto de princípios sistematizados, a Cezare Lombroso. Segundo o famoso médico italiano, há um tipo humano especial, devidamente caracterizado por uma série de traços somato-psíquicos, e que é o “delinqüente nato”. Existem, assim, certos homens naturalmente criminosos, perfeitamente identificáveis por características particulares, a maioria das quais externamente visível. Esse tipo criminoso, verdadeira species generis humani, que tem o nome de criminoso nato recorda o homem primitivo pois o delinqüente congênito é um ser atávico por força da degenerescência ou então, conforme ulterior concepção, por efeito de ação da epilepsia sobre os centros nervosos. Como ser atávico que representa uma regressão ao selvagem, o delinqüente nato apresenta estigmas morfológicos e traços psíquicos, muitos dos quais trazem grande analogia (ou mesmo identidade) com o homem primitivo. Como disse MEZGER, com muito acerto, a existência de um delinqüente nato não se comprovou empiricamente. Embora possam ser encontrados homens com inclinação para o delito, por sua constituição inata, não representam eles “um tipo criminal unitário, fechado em si, com determinadas características corporais (somáticas) e anímicas (psíquicas) como genuína species generis humani”. Poucos pesquisadores, diz DE GREEF, acreditam hoje que o criminoso represente um tipo biológico determinado de modo a nele se encontrarem característicos próprios, do ponto de vista anatômico e fisiológico. No entanto, conforme conclui esse grande criminólogo contemporâneo, talvez fosse preciso passar pela fase lombrosiana para chegar-se ao estado ciêntifico atual em que as pesquisas antropológicas têm conseguido conclusões de indiscutível valor. A antropologia criminal, como lembra GEMELLI, teve assim o mérito de haver iniciado o estudo do delinqüente e de ter demonstrado sua grande importância. Nascida sob o signo do naturalismo, a antropologia surgiu com todos os graves defeitos dessa concepção de vida, e por isso mesmo, parcial e unilateral. Ela amputou o estudo do homem criminoso, para nele encarar apenas a parte material e biológica, com abandono propositado do que é essencial à personalidade humana. A verdadeira antropologia criminal precisa, portanto, partir do estudo completo do homem, quer focalizando seu organismo, quer a sua vida psíquica. “La vita psichica non à qualcosa de aggiunto o di separabile dalla vita orgânica; l’uomo nom é un corpo più un’anima o qualcosa di simile; l’uomo à un tutto, un essere sui generis che há una vita organica e una vita psichica irrducibili l’una all’altra.” MEZGER, depois de reconhecer o grande mérito que teve Lombroso por ter sido quem primeiro promoveu o estudo do crime do ponto de vista científico-causal, diz também que o pensamento científico naturalista do século XIX falhou, pela suas generalizações e simplismo. 3 Hoje, a antropologia criminal (ou biologia criminal, como falam os alemães) é definida como a ciência que pesquisa “os fatores individuais do crime”, nele compreendendo os coeficientes “endógenos, somáticos e psíquicos, inerentes à vida do homem”. A psicologia criminal se insere, assim, nos domínios da biologia criminal, como parte integrante desta. Assim, a biologia criminal, compreendendo o estudo “morfo-psico- moral do delinqüente, absorve em si a anatomia, a psicologia e a psicopatologia do criminoso”. O Primeiro Congresso Internacional de Criminologia (Roma, 1938) adotou francamente essa orientação unitária a respeito da biologia, a não ser através de uma “psicologia livresca” de aparência científica, mas “inteiramente insuficiente”, ou pelas vulgarizações psicanalísticas. Pode-se, portanto, conceituar a antropologia ou biologia criminal como a ciência do estudo integral da personalidade do delinqüente, para desta forma dar-se-lhe como objeto científico, não a pesquisa unilateral e truncada da antropologia positivista, mas sim o delinqüente como pessoa humana, composta de corpo e alma, de matéria e forma. Nesse estudo, não só os fatores endógenos do delito, mas também os coeficientes sociais que condicionaram ou provocaram a ação criminosa devem ser focalizados e equacionados. Como ensina Marcelo Caetano, “o papel do ambiente familiar e social na gênese do delito é estudado pela psicologia na indagação complexiva da atividade do delinqüente”. SOCIOLOGIA CRIMINAL A sociologia criminal estuda o crime como fenômeno social. A disciplina em apreço remonta a Rousseau e Quetelet, mas o seu nome foi dado por Ferri, para quem a sociologia criminal seria a ciência enciclopédica do delito, da qual o Direito Penal não passaria de simples ramo ou subdivisão. Já demonstramos a inaceitabilidade desse entendimento, que nem mesmo entre positivistas é pacificamente aceito. Como o direito é um fenômeno social, a ciência dogmático-jurídica acabaria desaparecendo, se em outros setores do direito se propugnasse pelo mesmo critério. Amanhã, um civilista criaria uma sociologia da propriedade e uma sociologia da família, e o direito das coisas e o direito e família seriam colocados, respectivamente, em cada uma dessas divisões da ciência sociológica, na mesma situação subalterna em que Ferri situou o Direito Penal. Depois viria uma sociologia política para absorver o Direito Constitucional, e assim por diante. O nexo do Direito Penal com a sociologia criminal é o mesmo nexo do Direito com a sociologia jurídica. Se o crime, como fenômeno social, exige estudos apurados pela ação turbativa que provoca na vida societária, também outros fatos sociais, de que o Direito cuida normativamente, são relevantes para o bem comum. Desajustamentos sociais que nem sempre vão desembocar no crime criam situações contrárias aos interesses coletivos, e tudo em conseqüência de problemas também afetos à ordem jurídica. Não se pode, portanto, admitir o conceito de Ferri, que, além de subordinar indevidamente o Direito Penal a uma ciência sociológica, encara o fenômeno jurídico-penal sob um estreito critério naturalista. 4 A conceituação de Grispigni, que dentro da própria escola positiva combateu o exagero de Ferri, situa a sociologia criminal no campo estrito do fenômeno da criminalidade, critério esse também abraçado por Etienne De Greef. Para o jurista italiano os fatores exógenos do delito não passam, em última ratio, de fenômenos pertinentes ao indivíduo, pelo que devem ser estudados na antropologia criminal. Só a criminalidade, que é o crime como fato social, constitui o objeto da sociologia jurídica. Não é diferente o ensinamento do professor de Louvain, acima lembrado: “A criminalidade é um fenômeno social que se apresenta em dado momento, e esses caracteres gerais podem ser estudados e reduzidos a gráficos. Podem-se então, se isto aprover confrontar os dados assim recolhidos com outras atividades sociais. Pode-se indagar se existe, ou não, alguma correlação entre diversos desses dados e estabelecer desse modo uma ciência o crime como fenômeno social. Nasce assim uma sociologia criminal, que pode ser equiparada à qualquer outra sociologia... Durkhein pôde estudar o suicídio, sem cuidar da personalidadedos suicidas. Assim também pode-se estudar o crime sem cuidar-se do delinqüente”. Estamos com essa orientação. A ciência criminal como fenômeno coletivo é do âmbito da sociologia; o delito, como fato individual, cai no campo da biologia ou antropologia criminal. Nem é possível a separação, no estudo do delinqüente, dos fatores exógenos e individuais. A interpenetração de ambos, na gênese do delito, é incontestável, pois a dinâmica da ação do ambiente é incindível, como notou Gemelli, da dinâmica da personalidade por serem dois aspectos de um só dinamismo que necessitam ser ponderados por quem pretenda “compreender o significado de uma ação delituosa”. Objeto assim da sociologia criminal é a delinqüência como “fenômeno social (ou de massa)”, o que se consegue procurando “o número total das manifestações criminosas de um agrupamento humano e suas condições gerais”, com o intuito de “determinar as regularidades da produção do fenômeno, com o que se estuda a sociedade “no seu aspecto de morbidez jurídico-penal”. O método empregado, nesse labor científico, é o método estatístico. Não é a estatística uma ciência, mas sim o método apropriado para o estudo quantitativo dos fenômenos cometidos. Na pesquisa, enfim, da criminalidade, a sociologia criminal segue os métodos próprios de todas as ciências sociológicas. IDENTIFICAÇÃO DA ESPECIE HUMANA Existe em todo o planeta uma grande diversidade de seres vivos. Desde o passado, para uma melhor compreensão, os sábios agrupavam os organismos de acordo com critérios que incluíam a dimensão, anatomia, modo de locomoção, entre outros. Foram as primeiras tentativas de colocar uma ordem na confusão existente. Milhões de formas de vida diferentes tinham que ser organizadas de alguma forma lógica. Uma classificação que inclua organismos voadores, pode englobar seres tão diversos como insectos, aves e mamíferos (morcegos). Estas primeiras classificações eram em si próprias geradoras de confusão. 5 Quem pela primeira vez conseguiu organizar de uma forma coerente e sistemática esta diversidade foi o botânico sueco, Lineu (Carolus Linnaeus). Publicou uma obra, Systema Naturae, em 1758 que é ainda hoje a base de toda a Taxonomia (processo de denominar e classificar os seres vivos). O sistema de Lineu utiliza um conjunto de duas palavras para definir cada espécie (conjunto de seres vivos com características semelhantes, que quando se reproduzem originam descendentes férteis). A chamada nomenclatura binária, utiliza para cada espécie uma palavra inicial para o género, escrita com a letra inicial em maiúscula, e outra palavra que é o restritivo especifico. Assim, Homo sapiens define a espécie humana, onde a primeira palavra designa o género e a segunda identifica a espécie. A identificação da espécie utiliza uma língua morta o latim, como tal, quando se escreve o nome científico, de uma espécie, utiliza-se o itálico ou sublinha-se cada uma das palavras, como os seguintes exemplos: Correcto: Homo sapiens Homo sapiens Incorrecto: Homo Sapiens Homo Sapiens Homo sapiens Homo sapiens As espécies são agrupadas por afinidade em géneros. No seu conjunto é utilizado um sistema de categorias de acordo com divisões e subdivisões que reflectem o seu parentesco evolucionário. IDENTIFICAÇÃO PELOS DENTES Profª Lic. Maria de Lourdes Borborema Campos Não existem duas pessoas com a mesma dentadura. Esta é uma verdade que resulta das numerosíssimas variáveis individualizadoras que oferecem as peças dentárias e que tornam impossível o fato de que duas pessoas tenham dentaduras idênticas. Daí que exista uma tendência crescente, em Médicina Legal e Forense, de aplicar procedimentos odontológicos para auxiliar nos problemas de identificação. Atualmente, os dentes se erigem em elementos singulares na identificação odonto-legal. Talvez sua importância neste sentido seja decorrente da extraordinária resistência das peças dentárias às situações que, via de regra, produzem a destruição das partes moles, como a putrefação e as energias lesivas (agentes traumáticos, energias físicas, energias químicas, etc.). Uma das situações em que a identificação dos dentes oferece singular importância são os casos de grandes catástrofes ou desastres coletivos, infelizmente assaz freqüentes. Nestes eventos infortunísticos, os cadáveres sofrem ações destruidoras, quer pela fragmentação, quer pelo incêndio do local, o que impede que se ponham em prática os 6 procedimentos mais elementares de reconhecimento como os traços fisionômicos, a identificação papiloscópica ou outros análogos. Um dos casos mais momentosos, ocorrido no Brasil em 1985, em que a contribuição da odontologia legal foi decisiva, foi o da identificação dos restos mortais do médico alemão Josef Mengele, cognominado o "Anjo da Morte", responsável pela morte de milhares de pessoas, confinadas no campo de concentração de Auschwitz, durante a II Guerra Mundial. Em catástrofes aéreas, como as acontecidas com o grupo musical "Mamonas Assassinas", em 02.03.1996, ou entre os 99 passageiros do avião da TAM que caiu em São Paulo, em 31.10.1996, a identificação, em grau de certeza, somente foi possível com base nos dados oferecidos pelo exame odontológico em 75 dos casos, sendo que apenas nos casos restantes a identificação se procedeu pelo exame de DNA ou outros procedimentos. É que as informações que podem ser obtidas através do exame dos dentes, não se limitam a checar os achados no cadáver com os registros nas fichas odontológicas, verificando tratamentos dentários ou outras informações clínicas. Mesmo quando nada se tem, mesmo quando a vítima nunca realizou tratamentos dentários, mesmo quando sequer consultou com um profissional, as informações que se podem obter do exame dental dos restos encontrados, conquanto seja uma ossada ou fragmentos dos ossos do esplacnocrânio (viscerocrânio), podem até orientar sobre dados úteis na investigação policial. Além de identificar se se trata de ossos e dentes da espécie humana, o mesmo estudo pode fornecer informações a respeito da vítima que possibilitem a individualização, mormente quando há noticiados casos de desaparecimento. Nesta esteira os dentes podem oferecer dados sobre o cadáver, como: • espécie, • grupo racial, • sexo, • idade, • altura, • dados particulares, • determinadas profissões. ESPÉCIE É obvio que ninguém questionaria o diagnóstico da espécie à qual pertencem certas peças dentárias, quando as mesma se encontram fixadas nos respectivos alvéolos. Basta analisar superficialmente o crânio ou a mandíbula, para detectar que aquel ou esta é ou não é humano. De fato, o diagnóstico da especie só se constitui em problema quando apenas temos uma ou mais peças dentárias isoladas. O que interessa, nesses casos é saber se referidos dentes pertencem ou não à espécie humana. Caso não sejam humanos, de regra, falece o interesse do Odonto-Legista, a menos que existam razões supervenientes. A característica morfológica fundamental, privativa dos dentes humanos e que os torna diferentes de quaisquer outras espécies animais, é que nos dentes humanos a coroa e a 7 raíz se encontram em um mesmo plano, apresentando-se como segmentos de hastes retas. Contrariamente, nos animais, a raiz sempre descreve curvas, exibindo uma grande angulação. Apenas os macacos antropóides mostram uma certa semelhança, mormente nos incisivos e caninos. Nestes raros casos, tão somente, será necessário um exame mais minudente e, por vezes, será preciso recorrer à Zoologia (Anatomia Comparada). Em se tratando de fragmentos de peças dentárias, o exame microscópico pode realizar-se através de um corte sagital e observação por epi-iluminação,usando um microscópio igual ao utilizado em metalurgia. Com esta técnica os dentes humanos mostram características exclusivas, tais como: • os prismas do esmalte são ondulados, • referidos prismas são paralelos e perpendiculares à dentina, • estes prismas têm uma largura média de 5 � e um comprimento de 2 mm, • os prismas apresentam estrías escuras transversais a intervalos regulares em torno de 4 � , • a linha de união entre o esmalte e a dentina exibe um aspecto em guirlanda. GRUPO RACIAL As principais características raciais encontram-se presentes, especialmente, nos molares, através dos quais é possível diferenciar as raças ortognatas (brancos ou caucasóides), prognatas (negros, melanodermas e faiodermas) e as denominadas raças primitivas (aborígenes australianos, de Oceanía etc.) que em geral se caracterizam por apresentarem prognatismo maxilar variável mas expressivo. Nesta esteira, as raças ortognatas apresentam: • nos molares superiores, as cúspides palatino-distais muito pequenas, quando comparadas com as cúspides meso-palatinas. Não obstante, ambos grupos de cúspides encontram-se separados pelo sulco principal, constituído por uma depressão bem marcada. • o primeiro molar inferior conservando apenas uma marca leve da soldadura da cúspide posterior; • o segundo e terceiro molares inferiores não têm cúspides posteriores diferenciadas. As raças prognatas, por sua vez, têm: • nos seus molares superiores as cúspides palatino-distais de bom tamanho, e • nos molares inferiores, uma cúspide posterior diferenciada. As raças primitivas exibem molares inferiores semelhantes com os dos macacos chimpancés. O índice dentário se calcula utilizando-se fórmulas, sendo que uma das mais difundidas, é a de FLOWER: (Comprimento em reta entre borda mesial de 1º pm e borda distal do 3º m) x 100 8 Distância basion-nasion O índice de Flower é útil para estabelecer diferenças entre grupos humanos, segundo a distribuição a seguir: Tipo Índice dentário = ID Grupo étnico microdontes < 41,9 Caucásicos mesodontes 42,0 a 43,9 negróides, mongólicos megodontes > 44,0 australóides Não dispondo de todas as peças dentárias, de modo a poder fazer a medição proposta por Flower, pode utilizar-se esta outra fórmula para estabelecer o índice dentário: (Comprimento de um dos incisivos médios superiores (11 ou 21)] x 100 Distância basion-nasion Outra fórmula usada é a que considera a altura do indivíduo: Comprimento médio de todos os dentes Altura do indivíduo Os resultados obtidos pela aplicação de qualquer uma das fórmulas alternativas acima, devem ser confrontados com os índices da tabela acima. SEXO Com referência à morfologia dos dentes, verifica-se que os incisivos superiores são as peças dentárias que exibem maior dimorfismo sexual e, via de conseqüência, os dentes que podem oferecer dados relacionados com o sexo de um crânio ou de uma vítima. Isto, obviamente, é um fator limitante. Sabe-se que os incisivos centrais superiores são mais volumosos nos indivíduos de sexo masculino, que nos de sexo feminino. Todavia, as diferenças são milimétricas. Outra diferenciação morfológica, refere-se à relação entre o diâmetro meso-distal do incisivo central e aquele do incisivo lateral do maxilar superior. Este diâmetro é menor na mulher do que no homem. Isto uma vez que na mulher os dentes têm uma regularidade maior que no homem, isto é, são mais semelhantes entre si. Quanto à cronologia de erupção, verifica-se que no sexo feminino a erupção da dentição definitiva é mais precoce que no sexo masculino, sendo certo que a diferença entre ambos é da ordem de aproximadamente quatro (4) meses. ALTURA 9 Existe um método matemático que permite o cálculo da altura do indivíduo a partir das dimensões dos dentes. A fundamentação do método reside no fato de que existe proporcionalidade os diâmetros dos dentes e a altura do indivíduo. Este procedimento foi criado e aperfeiçoado pelo professor argentino CARREA. Mede-se, em milímetros o "arco" de circunferência, constituído pela somatória, no arco inferior, dos diâmetros meso-distais do incisivo central, do incisivo lateral e do canino inferiores (31-32-33 ou 41-42-43). A "corda" deste "arco", geometricamente falando, é medida traçando a linha reta entre os pontos inicial e final - (borda mesial do incisivo central até a borda distal do canino ipsilateral) - do "arco". CARREA deu a esta medida o nome de "raio-corda inferior". A altura humana deve encontrar-se entre estas duas medidas, que hão de ser consideradas proporcionais, uma máxima, à medida do arco, e outra mínima, proporcional à medida do "raio-corda inferior". As fórmulas para fazer a estimativa da altura em milímetros, são as seguintes: arco x 6 x 10 x 3,1416 1. Altura máxima (em mm) = � � � � � � � � � � 2 raio-corda x 6 x 10 X 3,1416 2. Altura mínima (em mm) = � � � � � � � � � � � � � � 2 Esquema do traçado do "arco" e da "corda" entre a face mesial do primeiro incisivo inferior e a face distal do canino inferior do mesmo lado, que possibilitará as medições necessárias para calcular a altura conforme a fórmula de CARREA. A altura masculina estará mais próxima da altura máxima calculada, ao passo que a altura mínima será mais próxima da altura mínima calculada. 10 Este procedimento possibilita o cálculo da altura nos casos de fragmentação ou esquartejamento, acidental ou criminal, dos cadáveres ou em aqueles casos em que o Odontolegista dispõe de restos humanos nos que foram preservadas as peças dentárias. Este índice apenas avalia a altura mais provável do indivíduo e não guarda qualquer relação com a causa médica ou jurídica da morte. “Odontologia Legal: Aspectos históricos” João Alves dos Reis Júnior Juliana Oliveira Araújo Cunha Luís Carlos Cavalcante Galvão INTRODUÇÃO A identificação pessoal é de grande importância em Medicina Forense, tanto por razões legais como humanitárias, sendo muito frequentemente iniciada antes mesmo de se determinar a causa da morte (GRUBER; KAMEYAMA, 2001). Segundo Buchner (1985) & Evans e Knight (1986), métodos rotineiros de identificação incluem conhecimento visual de vestimentas, objetos pessoais, de impressões digitais, análise de DNA, bem como investigação médica, esquelética, sorológica, de cabelo e de dente. Nos casos em que é necessário realizar a identificação de corpos que se encontram queimados, decompostos, esqueletizados, mutilados ou fragmentados por qualquer outra razão, é extremamente comum a dentição estar intacta e ser a única fonte de informação para esta investigação. De acordo com Galvão (1996), em situações de identificação cadavérica, quando se dispõe da ficha odontológica do desaparecido, é perfeitamente possível sua identificação pela comparação do odontograma do cadáver com o fornecido pelo Dentista da pessoa desaparecida. Desta maneira, diante da gama de técnicas disponíveis, as utilizadas pela Odontologia Legal são de grande valor para este propósito. Assim, define-se que a Odontologia Legal constitui, a rigor, um dos ramos da Medicina Legal, com a qual colabora, fazendo ou complementando exames especializados relativos à arcada dentária e anexos; tratamentos executados; peças dentárias e/ou protéticas; vestígios da ação lesiva provocadas por dentes(mordeduras), etc (VANRELL, 2002). A partir desse conjunto de aplicações da Odontologia Legal, este artigo de revisão tem como objetivo mostrar, de forma resumida, a sua origem e as evoluções destas aplicações na sua linha histórica. 11 REVISÃO DA LITERATURA E DISCUSSÃO A Odontologia Legal emergiu da casualidade etornou-se evidente após alguns acidentes, que apontaram para a necessidade de técnicas de identificação das vítimas. Uma das alternativas utilizadas foi o reconhecimento dos corpos através dos dentes. O primeiro caso relatado pela literatura ocorreu em 04 de maio de 1897 em Paris, mais precisamente no Bazar da Caridade, local onde a burguesia estava reunida em torno de leilões beneméritos. Houveram quase 200 mortos, dos quais 40 restaram sem identificação, dentre eles a Duqueza de D’Aleman e a Condessa Villeneuve. Por sugestão do cônsul do Paraguai Dr. Albert Hans, os Dentistas daquelas personalidades foram chamados para identificar, através dos restos carbonizados, seus supostos pacientes, o que tornou possível a identificação das citadas pessoas dentre outras que também pereceram na tragédia (RADICCHI, 2005). O registro mais antigo, isto é, a primeira publicação oficial na qual a Odontologia Legal foi caracterizada como uma ciência capaz de auxiliar a Medicina Legal, data de 1898 e é da lavra de Oscar Amoedo, dentista, cubano de nascimento e radicado na Cidade Luz, e foi publicada em Paris, que, à época, era considerada como o “centro mundial do conhecimento científico”. Entretanto, o termo Odontologia Legal não tinha sido cunhado, apenas o foi em 1924 por Luiz Lustosa Silva, professor emérito paulista que criou esta denominação e publicou, neste mesmo ano, sua obra “Odontologia Legal” que refere à disciplina com esse título e estabelece os primeiros limites do seu campo de ação. Mais um fato histórico ocorreu em 1909, quando o Consulado da Legação Alemã do Chile foi consumido por um voraz incêndio de aspecto criminoso, que destruiu boa parte do prédio. Quando os bombeiros procediam ao rescaldo das ruínas, foram encontrados restos de um corpo que, após as primeiras tentativas de identificação, parecia pertencer a Willy Guillermo Becker, Secretário do Consulado, que estava desaparecido. Foi solicitado o auxílio do Cirurgião-Dentista Germán Basterrica, o qual, após percuciente exame provou cientificamente que os restos mortais não eram do funcionário do Consulado, antes do porteiro da Representação Diplomática, Ezequiel Tapia. A partir desse momento, começou a busca do Secretário desaparecido que acabou sendo capturado ao tentar atravessar a fronteira Chile-Argentina, usando disfarce de Padre. Os resultados obtidos impressionaram tão positivamente as autoridades que concederam ao Dr. Germán Basterrica, como recompensa, a aprovação do projeto de criação de uma Escola de Odontologia no Chile (VANRELL, 2002). A partir desses relevantes acontecimentos a Odontologia Legal foi tornando-se evidente até sua posterior inclusão, em 1932, como curriculum mínimo no curso de odontologia. 12 Em 1966, a lei 5.081 define as atribuições do Cirurgião-Dentista, inclusive na área pericial, e regula o exercício da odontologia no território nacional. A presente lei assim se expressa no seu artigo 6º: III- Atestar, no setor de sua atividade profissional, estados mórbidos e outros, inclusive para justificação de falta ao emprego. IV- Proceder à perícia odonto-legal em foro cível, criminal, trabalhista e em sede administrativa. IX- Utilizar, no exercício da função de Perito-Odontólogo, em casos de necropsia, as vias de acesso do pescoço e da cabeça (ARBENZ, 1988). Mantendo sua importância em ascensão, no dia 26 de abril de 1993, o Conselho Federal de Odontologia, na Seção IV, da Resolução nº 185, no artigo 54, define os objetivos da especialidade: Art.54. Odontologia Legal é a especialidade que tem como objetivo a pesquisa de fenômenos psíquicos, físicos, químicos e biológicos que podem atingir ou ter atingido o homem, vivo, morto ou ossada, e mesmo fragmentos ou vestígios, resultando lesões parciais ou totais reversíveis ou irreversíveis. Parágrafo único. A atuação da Odontologia Legal restringe-se a análise, perícia, e avaliação de eventos relacionados com a área de competência do Cirurgião-Dentista podendo, se as circunstâncias o exigirem, estender-se a outras áreas, se disso defender a busca da verdade, no estrito interesse da justiça e da administração. Nos casos de carbonização humana, usualmente há uma limitação do emprego dos remanescentes biológicos para estudo. Nestes casos, tem-se usado, por eleição, dentes para análises forenses, já que sua constituição anatômica proporciona proteção ao material genético. Quando impressões digitais, verificação de marcas de mordida, do sexo, exames antropométricos já estabelecidos são inviáveis para proceder-se à identificação humana; pode-se, então, utilizar-se a tipagem de um DNA para tal processo. A tipagem molecular de material genético foi utilizada, oficialmente, pela primeira vez, por Jeffereys, Brookfild, Semeor (1995), na Inglaterra, para a resolução de um problema de imigração. Um ano após, o mesmo autor empregou esta técnica para identificar o verdadeiro estuprador e assassino de duas vítimas; a partir deste caso, a Criminalística e a Odontologia Legal ganharam novo fôlego e têm empregado a técnica de tipagem molecular de DNA como potente arma no esclarecimento de diversos delitos e na identificação humana (MOURA NETO, 1998). Os estudos relacionando dentes e aspectos genéticos refletiam uma preocupação em relação à determinação do sexo, em virtude da possibilidade de marcação do cromossomo Y, contido em polpas dentárias (CAMERON, 1973; WHITTAKER; LLEWELYN; JONES, 1975). A polpa dental é um dos poucos materiais orgânicos disponíveis para análise do DNA, em alguns casos especiais, como acidentes aéreos e corpos carbonizados ou putrefatos (POTSCH et 13 al., 1992). Isto é possível devido a capacidade do dente em agir como uma cápsula protetora das células nucleadas da polpa dentária, de onde se extrai o material genético para esta análise. Historicamente, a aplicação da Radiologia em ciência forense foi introduzida em 1896, apenas um ano após a descoberta dos raios X, por Roentgen, para demonstrar a presença de balas de chumbo na cabeça de uma vítima. Schuller (1921) propôs a possibilidade de se utilizar imagens radiológicas dos seios faciais para fins de identificação. Após esta publicação, muitas outras surgiram; finalmente, em 1927, Culbert; Law relataram a primeira identificação radiológica completa. Singleton (1951) empregou esta técnica em um trabalho de identificação de corpos de um desastre em massa. Desde então, cirurgiões-dentistas, com treinamento especial e experiência em Odontologia Forense, têm sido frequentemente requisitados para colaborar no processo de identificação de corpos individuais e de desastres em massa. Continuando os processos de identificação, como uma informação complementar na averiguação forense, a utilização de crânio e dentes tem se mostrado altamente viável para tal objetivo. Silva (1997) afirmou que o crânio feminino caracteriza-se por um menor desenvolvimento de suas estruturas, todas as protuberâncias ósseas, cristas e apófises são menores e mais lisas. O crânio masculino possui estes aspectos anatômicos mais pronunciados. Carvalho et al. (1992) relatam que há manifestações de caracteres secundários no crânio, sendo que a anatomia do crânio masculino é mais bem definida que a do feminino. Galvão, em 1994, após mensurar as distâncias cranianas entre o centro do canal auditivo ao meato acústico externo, e outros pontos craniométricos, encontrou um índice de acerto, através de uma fórmula por regressão logística, de 93,8%, confirmando o método como confiável para a determinação do sexo. É possível também realizar o diagnóstico do sexo através dos dentes. Um dos métodos baseia-se na quantidade de ácido necessário para neutralizar a dentina alcalinizada em pó, quantidade esta queé diferente em material feminino e masculino (ROSAS, 1979). Para a realização desta técnica, os dentes de maior utilidade são os caninos, tanto superiores quanto inferiores. Nos processos de identificação de esqueletos, em determinadas situações, é imprescindível a realização da estimativa da estatura. Esta é realizada através de uma metodologia osteométrica, que leva em consideração, principalmente, os ossos longos. Segundo Silva (1977), frequentemente, quando são encontradas ossadas, nem sempre estão presentes todos os ossos e, muitas vezes, apenas o crânio é encontrado. Dá-se aí a importância dos conhecimentos antropológicos do perito em Odontologia Legal para a realização da estimativa da altura a partir de informações de uma peça craniana. 14 A literatura mostra que o pioneiro na realização desta estimativa foi Carrea, em 1920, que realizou estudos visando proporcionar dados odontométricos (a partir de medidas mésio-distais dos incisivos centrais, laterais e caninos inferiores), que o possibilitasse fazer uma relação destes dados com a altura do indivíduo. A aplicabilidade do referido método foi comprovada na perícia realizada por peritos brasileiros, no caso Josef Mengele, onde, junto com outras estimativas, demonstrou-se eficaz. A análise das estruturas dentárias serve de embasamento para a identificação de diversas características, dentre estas a determinação do fenótipo “cor da pele”. Uma pesquisa realizada na Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS relatou a existência de aspectos relacionados aos dentes como relevantes na determinação da cor da pele, analisando-se o formato das cúspides do primeiro molar inferior. Favero (1991) relata a existência de cinco tipos étnicos fundamentais: caucasiano, negro, mongólico, indiano e australóide. Contudo, no Brasil, apenas concorrem os grupos de negros, brancos e vermelhos. Citando Carvalho (1982), em cerca de 100% da população européia a superfície lingual dos dentes incisivos é lisa, enquanto em cerca de 100% dos japoneses, e certos grupos mongolóides, essa superfície tem arestas. Na raça caucasiana o primeiro molar inferior é mais comprido e tem forma mais cônica do que o molar dos negros, o qual é mais retangular do que o dos mongolóides, que é mais redondo. No trabalho descrito por Alvarado (1986) e Galvão (2000), foi realizada a análise do formato das cúspides do primeiro molar inferior em leucodermas, faiodermas e melanodermas, observando índices de 83,3% de dentes com formato mamelonado, 50% com formato intermediário e 86,7% com formato estrelado, respectivamente. É possível também a pesquisa da identidade racial através da análise do crânio humano, que, segundo alguns autores, apresenta maior riqueza de detalhes para esta identificação do que outras estruturas ósseas. Segundo um estudo realizado por Krogman (1955), características como o tamanho do crânio, a altura do rosto, a abertura nasal, o formato do palato, dentre outras, permitem reconhecer o tipo racial. Tão importante quanto a identidade racial, é a estimativa da idade do indivíduo. Hoje, a avaliação da idade pode ser realizada a partir de vários aspectos físicos pessoais como: peso, estatura, presença de rugas, crescimento ósseo, desenvolvimento dentário, dentre outros. Mantendo o foco da Odontologia Legal, estudos têm demonstrado que os elementos dentários são as estruturas orgânicas que fornecem os melhores subsídios para estimativa da idade, porque, ao que tudo indica, sofrem menos interferência de fatores sistêmicos e de desnutrição, que afetam sobremaneira a maturidade orgânica e o desenvolvimento ósseo. Além disso, o estudo da evolução dentária possibilita a análise de um número considerável de dados, diminuindo, assim, a margem 15 de erros. O desenvolvimento dentário vai da vida fetal até por volta dos 21 anos de idade. Também os fenômenos involutivos poderão ser pesquisados, seja na dentição decídua, seja na permanente (SILVA, 1997). O problema da estimativa da idade em pessoas adultas foi estudado por Gustafson (1950), que analisou aspectos da involução dentária, elaborando uma classificação dos fenômenos a ela ligados (desgaste oclusal, periodontose, desenvolvimento de dentina secundária na cavidade pulpar, deposição de cemento na raiz, reabsorção da raiz e transparência do ápice radicular), a partir desse conjunto de informações foi construída uma formula que, após a sua resolução, permitia obter a idade fisiológica. Vale ainda lembrar, que a análise dentária dos indivíduos transcende o aspecto morfológico do dente, devendo o perito odontolegal estar atento a outros fatores como: - Nível sócio-econômico, pois é comprovado que crianças, oriundas de famílias pobres financeiramente, possuem erupção dentária mais demorada. - Biótipo, uma vez que foi comprovado que em pessoas magras a erupção dentária é antecipada, quando comparada com as obesas. Por fim, verifica-se que a erupção dentária é também de suma importância para a verificação da idade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Não é preciso muito esforço para perceber a grande evolução da Odontologia Legal em sua linha histórica. Atualmente, quase todas as técnicas apresentadas neste trabalho vêm sendo utilizadas a fim de maximizar a eficiência, tanto da identificação pós-morte quanto averiguação da arcada dentária de autores de crimes, servindo assim, de excelente suporte jurídico em casos de acidentes, incêndios, estupros com achados de marcas de mordidas, realização de perícia em tratamentos odontológicos, dentre outros. Referências Bibliográficas GRUBER, J. KAMEYAMA, M. M. O papel da Radiologia em Odontologia Legal. Pesqui Odontol Bras, v. 15, n. 3, p. 263-268, jul./set.2001. BUCHNER, A. The identification of human remains. Int Dent J, v. 35, n. 4, p. 307-311, Dec. 1985. EVANS, K. T.; KNIGHT, B. Forensic radiology. Br J Hosp Med, v. 36, n. 1, p. 14-20, July 1986. GALVÃO, LCC. Identificação Médico-Legal através da ficha dentária anterior. Estudos Médico- Legais. p.35 Edª Sagra-DC, 1996. VANRELL, J.P. Conceitos e Noções Históricas em Odontologia Legal. Odontologia Legal e Antropologia Forense. 1 ª ed. Editora Guanabara Koogan S.A. 2002. p.3. RADICCHI, R. A Odontologia Legal e os Institutos Médico Legais: uma parceria histórica. In. www.abo-ce.org.br acesso em 25 de maio de 2006. 16 VANRELL, J.P. Conceitos e Noções Históricas em Odontologia Legal. Odontologia Legal e Antropologia Forense. 1 ª ed. Editora Guanabara Koogan S.A. 2002. p.4. ARBENZ, G.O. Introdução à Odontologia Legal Compêndio de Medicina Legal p. 15. 2ª Ed. livraria Atheneu. Rio de janeiro- São Paulo, 1983. JEFFEREYS, A.J., BROOKFILD, J.F.Y., SEMEOR, F.R. Positive identification of an immigration teste-case using human DNA fingerprints. Nature 1985;31:818-9. MOURA NETO, R.S. Análise Forense. Rev Panorama Justiça 1998; 9:38. CAMERON, J.N. Forensic Dentistry. London. Churchill Livingstone. 1973. WHITTAKER, D.K., LLEWELYN, D.R., JONES, R.W. Sex determination from necrotic pulpal tissue. Br Dent J 1975;139:403-5 PESQUISA ANTROPOMÉTRICA TRIDIMENSIONAL DA POPULAÇÃO BRASILEIRA - PATPB Maria Cristina Palmer Lima Zamberlan Flávia Cristine Hofstetter Pastura Joana Stallivieri Neves 1. INTRODUÇÃO Medidas antropométricas são dados de base, essenciais para a concepção de produtos adequados à população usuária, sejam eles bens de capital ou de consumo. Elas possibilitam o projeto e o desenvolvimento de produtos ergonomicamente adequados aos seus usuários. Antropometria é o ramo das ciências humanas que lida com as medidas corporais relacionadas ao tamanho, conformação e constituição física.A antropometria trata da medição das características que definem a geometria física, as propriedades de massa e capacidades em termos de força do corpo humano e da aplicação dos dados levantados nessa medição. O nome deriva de anthropos, que significa humano, e metrikos, que significa relacionado ou pertencente à medição. Os métodos antropométricos estão entre as ferramentas básicas de trabalho para a avaliação e o desenvolvimento de projeto, nos quais são consideradas as variações em tamanhos, proporções, mobilidade, forças e outros fatores que definem os seres humanos fisicamente. A sensibilidade e a capacidade de desempenho humano estão, em parte, relacionadas a essas características físicas; assim, questões antropométricas também influenciam aspectos relacionados à fisiologia e a psicologia do conforto e da percepção. A antropometria auxilia a: Avaliar posturas e distâncias para o alcance de dispositivos de controle e informação; 17 � Definir espaços livres em torno do corpo; � � Identificar objetos ou elementos que impeçam ou interfiram na movimentação. � Uma grande parte das aplicações da antropometria diz respeito à avaliação de equipamentos, veículos, vestimentas e postos de trabalho. A antropometria é uma ciência em desenvolvimento e certos aspectos do seu objeto de estudo a qualificam como uma ciência histórica. Pesquisas antropométricas, em grande ou pequena escala, são eventos históricos e nunca podem ser repetidas exatamente da mesma forma, com as mesmas pessoas, pois essas pessoas terão mudado ao longo do tempo. Essas mudanças são causadas pelas variações fisiológicas que ocorrem ao longo do dia ou por processos de envelhecimento. Além disso, é provável que alguns dos indivíduos medidos não estejam mais disponíveis para a medição. Essa é a razão pela qual nas pesquisas antropométricas as populações são freqüentemente identificadas por ano de medição e também por ocupação e por grupo étnico. Os registros das pesquisas antropométricas já realizadas podem ser comparados aos dados de novas pesquisas. Esses registros podem nos auxiliar a traçar e prever a micro- evolução de grupos humanos, fornecendo, desse modo, a base para previsões da evolução de determinada população, evolução essa que pode ser considerada no estabelecimento de critérios para projeto. 2. HISTÓRICO DO INT EM PESQUISA ANTROPOMÉTRICA Visando contribuir para a melhoria da qualidade do produto industrial brasileiro, bem como para a melhoria das condições de trabalho em nosso país, o Instituto Nacional de Tecnologia - INT, do Ministério da Ciência e Tecnologia, vem atuando na área de ergonomia desde meados da década de 70, com ênfase na área de antropometria. A primeira pesquisa antropométrica desenvolvida pelo INT, denominada Medidas do Homem Brasileiro, foi realizada em 1979, em conjunto com a COPPE / UFRJ, durante a XXII Feira de Utilidades Domésticas, no Rio de Janeiro, tendo sido levantadas 32 variáveis antropométricas em 1477 pessoas (816 homens e 661 mulheres). Em função da pouca precisão dos equipamentos utilizados na pesquisa, os dados tratados estatisticamente apresentaram inconsistências que comprometiam a sua qualidade, o que levou o INT à decisão de não publicar os resultados da pesquisa. Dada a falta de recursos para realizar uma pesquisa antropométrica em âmbito nacional e a inexistência de dados antropométricos confiáveis para o desenvolvimento de projetos de produtos, dentre eles máquinas, postos de trabalho e vestuário, realizamos entre 1985 e 1986 a Pesquisa Antropométrica e Biomecânica dos Operários da Indústria de Transformação do Rio de Janeiro, na qual foram levantadas 46 variáveis antropométricas para o projeto de postos de trabalho e 24 medidas antropométricas para o desenvolvimento de vestuário, tendo sido medidos 3100 homens em 26 empresas no Rio de Janeiro. Em 1988, por demanda do SERPRO, desenvolvemos a Pesquisa Antropométrica dos Digitadores do SERPRO, na qual foram levantadas 35 variáveis antropométricas para o projeto de novos postos de trabalho para os digitadores, tendo sido medidas 405 pessoas (202 mulheres e 203 homens). A demanda do SERPRO por dados antropométricos 18 confiáveis para o desenvolvimento de mobiliário ergonomicamente adequado, marca também o início do aumento significativo no Brasil dos Distúrbios Ósteomusculares Relacionados ao Trabalho – DORT, à época denominados Lesões por Esforços Repetitivos – LER, entre os trabalhadores que desenvolviam atividades repetitivas e de forma contínua em posturas inadequadas. Na medida em que se percebia, cada vez mais, a importância e a necessidade de uma pesquisa antropométrica em âmbito nacional foi elaborado, por meio de acordo de Cooperação Técnico-Científica entre o Ministério do Exército e o INT, o projeto Dados Antropométricos da População Brasileira. O acordo de cooperação para execução do projeto foi firmado em agosto de 1986, com apoio da FINEP, e tratava da realização, em conjunto, da Pesquisa Antropométrica da População Militar e da Pesquisa Antropométrica da População Civil Economicamente Ativa - PEA. Estimou-se a amostra da população civil – PEA, em 8640 pessoas, das quais 4320 homens e 4320 mulheres, distribuída em 44 municípios brasileiros, situados em todas as regiões sócio-econômicas brasileiras. A amostra da população militar seria constituída de 3456 militares, distribuída em 57 municípios, em todas as regiões militares brasileiras. Os objetivos desse projeto eram: a) levantar as medidas antropométricas da população brasileira - extratos militar e civil - tendo em vista a interação entre as pessoas e as máquinas, equipamentos e produtos; b) constituir uma base de dados antropométricos para consulta e utilização pelo sistema produtivo e por associações de defesa do consumidor; c) fornecer dados para montagem de um sistema computacional tridimensional para avaliação ergonômica de projetos de equipamentos, armamentos e automotivos militares, bem como para produtos de uso civil; d) subsidiar o estabelecimento de normas técnicas brasileiras. Ao início do 2º semestre de 1989, teve início a primeira fase do projeto, com a previsão de coleta de uma amostra de 1080 militares, representativa da população combatente do Comando Militar do Leste (RJ/MG) e uma amostra de 1440 civis – 720 homens e 720 mulheres - representativa da população ocupada no setor industrial, em estabelecimentos com 300 ou mais empregados, das regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Entretanto, por uma série de fatores de ordem econômica, ocasionados principalmente pela desvalorização dos recursos do projeto em um contexto inflacionário no Brasil da ordem de 80% ao mês, apenas a coleta de dados da população militar (1080 militares), prevista para a primeira fase do projeto, foi concluída em dezembro de 1989. Em função da inexistência de recursos para darmos continuidade ao projeto, os dados levantados foram tratados e o projeto foi encerrado. Em 1992, por demanda da companhia telefônica do Rio de Janeiro, à época a TELERJ, realizamos a Pesquisa Antropométrica das Telefonistas de Auxilio à Lista da TELERJ, na qual foram levantadas 38 variáveis antropométricas para o projeto de novos postos de trabalho, tendo sido medidas 64 mulheres ocupadas no setor de auxílio à lista da companhia. A demanda da TELERJ também se deveu à necessidade de melhorar as condições de trabalho das telefonistas em decorrência do aumento de afastamentos do trabalho, em função dos DORT que acometiam as telefonistas desse setor. Nos anos noventa, na medida em que os recursos públicos para a execução de pesquisas dessa natureza tornavam-se cada vez mais escassos, demos continuidade às pesquisas 19 teóricas em antropometria, buscandooutros métodos de pesquisa que viabilizassem técnica, econômica e operacionalmente o levantamento de dados antropométricos em âmbito nacional. A última pesquisa antropométrica realizada pelo INT, denominada Pesquisa Antropométrica dos Empregados Ocupados nos Setores de Produção e Montagem da EMBRAER, foi executada em 2001 sob demanda da Universidade Federal de São Carlos, no âmbito de um projeto de adequação ergonômica dos postos de trabalho realizado pela UFSCar para aquela empresa. Foram levantadas 51 variáveis antropométricas para o projeto de postos de trabalho e ferramentas em 338 pessoas (231 homens e 107 mulheres) ocupadas nos setores acima citados. 3. ERGOKIT – BANCO DE DADOS ANTROPOMÉTRICOS As quatro pesquisas antropométricas e biomecânicas realizadas entre 1985 e 1992 foram consolidadas em 1994 em um banco de dados denominado ERGOKIT, que tem como objetivo oferecer ao setor produtivo dados dimensionais da população brasileira confiáveis e fidedignos. As proposições básicas do ERGOKIT são coletar, armazenar, tratar, divulgar e orientar a aplicação de dados antropométricos e biomecânicos da nossa população, que possam ser utilizados pelos profissionais de projeto dos diversos setores produtivos para a aplicação no desenvolvimento de produtos, postos e ambientes de trabalho, no caso da população adulta e em produtos como brinquedos e mobiliário doméstico e escolar, no caso da população infanto-juvenil. Nosso objetivo é, a cada nova pesquisa antropométrica realizada, agregar dados ao ERGOKIT. Esse kit é composto por quatro manequins antropométricos articulados em escala 1:5, representando a população adulta do Brasil, feminina e masculina nos percentis 5 e 95 para uso em projetos; placas com manequins antropométricos nas escalas 1:10 e 1:20 para auxiliar no projeto de postos de trabalho; CD-ROM contendo o banco de dados das quatro pesquisas tratadas estatisticamente; o manual de aplicação dos dados antropométricos e o manual de utilização do banco de dados. Estão consolidadas no ERGOKIT: - - 53 medidas antropométricas do corpo em geral para o dimensionamento de postos de trabalho - - 27 medidas antropométricas do corpo em geral para confecção de vestuário - - 28 medidas antropométricas da cabeça - - 48 medidas antropométricas dos pés - - 17 medidas antropométricas da mão - - 3 medidas de força para análise biomecânica. Por meio da aplicação dos dados antropométricos espera-se obter produtos industriais mais adequados, tanto às características da população brasileira, no caso de produtos para o mercado interno, quanto às especificidades que devem ser consideradas no caso de produtos destinados à exportação visando, assim, aumentar sua competitividade nos mercados para os quais se destinam. É importante salientar a relevância do Banco de Dados ERGOKIT: o ERGOKIT é ainda hoje a única base de dados que permite acesso às informações dimensionais básicas da população do Brasil, consolidando dados antropométricos de 4649 brasileiros adultos. Devemos ressaltar também que não possuímos no país pesquisas antropométricas infanto-juvenis representativas da variabilidade dessa população, pesquisas essas 20 essenciais para o correto dimensionamento de produtos, principalmente os de certificação compulsória no país, como os móveis escolares. 4. NECESSIDADE DE MODELOS TRIDIMENSIONAIS PARA PROJETOS EM CAD Embora consideremos crucial a manutenção e a expansão do banco de dados antropométricos da nossa população, podemos afirmar que, em função das transformações ocorridas na última década no processo de projeto de produtos para o setor produtivo, não basta tabular os dados e oferecê-los sob a forma de banco de dados. O setor produtivo demanda mais, demanda ferramentas que facilitem e disseminem o uso dos dados antropométricos da nossa população em projetos de produtos, postos e ambientes de trabalho. O processo de projeto de produtos, postos e ambientes de trabalho vem utilizando ferramentas CAD, e o fato de não disponibilizarmos os dados antropométricos configurados em manequins antropométricos virtuais, compatíveis com os sistemas CAD mais comumente utilizados em projeto, vem inibindo ou dificultando a disseminação e a utilização dos dados antropométricos em projetos para o setor produtivo. De modo a atender a nossa própria demanda para a prestação de serviços nas áreas de design e ergonomia, desenvolvemos em 1998 manequins antropométricos virtuais bidimensionais utilizando os dados antropométricos contidos no ERGOKIT. Essa versão virtual dos manequins antropométricos bidimensionais vem sendo utilizada em projetos de produtos, postos e ambientes de trabalho realizados para empresas como a PETROBRAS, Aracruz Celulose, Eletronuclear, Compahia Vale do Rio Doce, Busscar, Coca-Cola, Johnson Wax Professional, Banco do Brasil, CEF, Multibrás e SIEMENS, bem como para micro e pequenas empresas por meio do programa SEBRAE – PATME, dentre outras. Embora tenhamos conseguido, com sucesso, desenvolver manequins virtuais bidimensionais, encontramos inúmeras dificuldades na construção de manequins antropométricos virtuais tridimensionais, mais detalhados que os manequins bidimensionais e fundamentais para projetos mais complexos. Isso decorre do fato de que o INT vem utilizando equipamentos tradicionais em antropometria, a partir dos quais é possível levantar apenas variáveis lineares, que não possibilitam a correta construção de manequins tridimensionais. A correta construção de manequins antropométricos virtuais tridimensionais requer tecnologia de ponta para o levantamento das medidas da superfície corporal: o escaneamento tridimensional do corpo humano por meio de scanner 3D. Aumenta, cada vez mais, a demanda por dados e modelos mais específicos para cada área, pontuando a importância de modelos que possibilitem a análise de, por exemplo, pressões das superfícies externas sobre o tecido corporal, efeitos ambientais e modelagem de vestimentas. A evolução de novas técnicas de modelagem por computador tem sido acompanhada por um desenvolvimento paralelo de novas tecnologias de medição utilizando por exemplo, sistemas de raio laser (scanner 3D), vídeo-estero, imagem por ressonância magnética (MRI), tomografia assistida por computador (CAT), métodos que utilizam raio X, visualização por ultrasom, digitalização por som e métodos de medição do movimento. Muitos desses novos métodos reúnem computadores e sensores para fornecer dados 21 digitalizados e pontos localizados num espaço tridimensional. Esses dados fornecem informações bastante diferentes das anteriores, unidimensionais ou bidimensionais. A tecnologia de escaneamento do corpo traz importantes vantagens para vários setores, que vão do setor do vestuário ao setor de cuidados com a saúde e a segurança. A indústria do vestuário é hoje, provavelmente, a que mais avançou no uso dessa tecnologia. A utilização da tecnologia de escaneamento do corpo para a individualização, para o design e para o desenvolvimento do vestuário se tornou uma meta e faz parte dos objetivos dessa indústria para um futuro próximo O levantamento mais apurado de medidas antropométricas, facilitado por essas novas técnicas, possibilita, por exemplo, a aquisição de peças de vestuário mais adequadas a cada indivíduo, descrições de detalhes mais finos das características da superfície do corpo como as pontas dos dedos, cílios, narinas, lábios, orelhas, etc, possibilitando a investigação em maior profundidade dos corpos humanos e o projeto mais adequado dos equipamentos de proteção individual, dentre outros produtos com os quais as pessoas interagirão. 5. OBJETIVOS DO PROJETO PATPB O projeto Pesquisa Antropométrica Tridimensional da PopulaçãoBrasileira - PATPB, tem como instituições parceiras o Instituto Nacional de Tecnologia – INT/MCT, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção - ABIT, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT e o Centro São Paulo Design – CSPD. Temos como meta também agregar novos parceiros de outras cadeias produtivas além da cadeia têxtil, uma vez que os resultados obtidos beneficiarão diversos outros setores produtivos, da indústria de brinquedos à indústria do petróleo & gás no nosso país. O projeto PATPB tem como objetivos gerais: 1. 1. Realizar pesquisa antropométrica da população brasileira utilizando tecnologia de escaneamento tridimensional de modo a representar em três dimensões a variabilidade antropométrica da população adulta e infanto-juvenil brasileira. 2. 2. Constituir uma base de dados antropométricos tridimensionais da população brasileira para consulta pelo sistema produtivo, órgãos normativos, órgãos certificadores e associações de defesa do consumidor, buscando a qualidade de uso dos produtos, principalmente os de certificação compulsória no país. 3. 3. Gerar dados antropométricos tridimensionais da população brasileira para aplicação pela indústria de produção de bens de capital e de consumo nos setores de máquinas e ferramentas, automotivos, mobiliário doméstico, escolar e de escritório, equipamentos de uso doméstico, vestuário, calçados, equipamentos de proteção individual, brinquedos, dentre outros. 4. 4. Com base nos dados pesquisados e tratados, gerar manequins tridimensionais virtuais representativos da população brasileira, disponibilizando a sua aplicação em projetos que utilizam sistemas de modelagem virtual de produtos (CAD) para o setor produtivo. 5. 5. A partir da repetição periódica desse tipo de pesquisa, possibilitar o estudo da evolução do crescimento da população brasileira. 6. 6. Associar o perfil antropométrico ao perfil sócio-econômico da população amostrada; 7. 7. Conhecer os padrões dimensionais da população das diferentes regiões do Brasil, o que possibilita a construção de cenários de planejamento que permitam modificar o perfil antropométrico existente em determinadas regiões do país; 8. Fornecer aos Governos Estaduais e Federais dados antropométricos que orientem políticas de saúde e programas nutricionais dirigidos a categorias sócio-econômicas específicas em diferentes regiões do país. 22 6. ASPECTOS METODOLÓGICOS O projeto PATPB tomará como base o projeto CAESAR - Civilian American and European Surface Antropometry Resource (Projeto de Pesquisa Antropométrica de Superfície da População Civil Americana e Européia), finalizado em janeiro de 2002, que teve com objetivo representar, em três dimensões, a variabilidade antropométrica da população civil da Europa e da América do Norte. O projeto CAESAR consistiu em uma pesquisa antropométrica com 4431 pessoas, com idades entre 18 e 65 anos, em três países: os Estados Unidos, a Holanda e a Itália, envolvendo a colaboração de diversos parceiros de vários países e várias empresas industriais e de serviços. Foi empregada tecnologia de ponta em medição tridimensional, sendo a primeira pesquisa antropométrica da superfície tridimensional do corpo, de grande porte, realizada no mundo. Os EUA, a Itália e a Holanda finalizaram a coleta de dados antropométricos tridimensionais em janeiro de 2002 e paises como o Japão e a Coréia deverão utilizar a mesma tecnologia para a coleta de dados antropométricos a partir do próximo ano. Utilizaremos no projeto a tecnologia de scanner tridimensional laser, que possibilitará a medição detalhada da superfície externa do corpo humano, por meio do levantamento de milhares de pontos, em três dimensões, com precisão e rapidez. Essa tecnologia naturalmente oferece muitas vantagens em relação aos métodos tradicionais de medição, utilizando fitas métricas, antropômetros e outros equipamentos. Esse método possibilita: 1. 1. Eliminar as principais restrições das pesquisas antropométricas: o tempo e a reprodutibilidade. Uma vez criado, o arquivo da imagem escaneada pode ser utilizado inúmeras vezes para extrair informações, de modo confiável; 2. 2. Arquivar o registro do escaneamento do corpo em 3D, o que permite levantar uma quantidade quase infinita de variáveis antropométricas, independente da presença física do indivíduo; 3. 3. Reduzir a necessidade de aproximações estatísticas para determinação das variáveis, o que facilita o uso dos dados em sistemas CAD e em sistemas de prototipagem rápida; 4. 4. Utilizar os dados obtidos para calcular áreas de superfície, formas dos segmentos corporais, contornos do corpo e outras medidas que não podem ser obtidas por meio dos métodos tradicionais em antropometria. Essas medições possibilitarão, também, o detalhamento de modelos humanos e suas formas físicas, fundamentais para a indústria, dentre elas a do vestuário. 5. 5. Eliminar as diferenças que ocorrem entre medidores nos métodos tradicionais de medição, tornando os dados coletados comparáveis entre si de modo mais preciso, na medida que esse sistema independe do contato entre o equipamento e a pessoa a ser medida. Por meio do projeto PATPB será possível também: - - Capacitar técnicos brasileiros para o uso da tecnologia de scanner 3D; - - capacitar técnicos brasileiros para o uso de manequins antropométricos 3D para o desenvolvimento de novos produtos adequados à população usuária; - - disseminar informações sobre o uso dos manequins antropométricos 3D junto aos setores industriais e de serviços, de modo a agilizar o desenvolvimento de novos produtos – inovação; - - gerar dados para o sistema normativo, organismos certificadores, buscando a qualidade de uso, principalmente dos produtos de certificação compulsória no país; 23 - melhorar a qualidade e a competitividade do produto nacional; 8. O PROJETO PATPB E A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL A partir do projeto CAESAR foram estabelecidos métodos de coleta de dados padronizados a fim de que o banco de dados gerado na pesquisa possa ser expandido e atualizado. No projeto PATPB, a adoção dos mesmos métodos e da mesma tecnologia utilizadas no projeto CAESAR possibilita que os bancos de dados gerados nos dois projetos possam ser intercambiados. A troca de bancos de dados antropométricos entre EUA, Europa e Brasil e o uso dos dados antropométricos das populações européia e americana na elaboração de projetos de produtos pelas empresas brasileiras traz vantagens competitivas para as nossas empresas no que se refere a produtos para exportação. O uso dos dados antropométricos no design de produtos para exportação agrega valor aos produtos fabricados no país e aumenta a sua competitividade no mercado externo. De modo a ampliar o escopo da troca de dados em âmbito internacional, foi consolidado o grupo WEAR - World Engineering Anthropometry Resource, formado por pesquisadores representantes de países dos cinco continentes que tem como objetivos: a) Padronizar as metodologias de pesquisas antropométricas, de forma a possibilitar a comparação e o intercâmbio das bases de dados das diferentes populações; b) Disponibilizar as bases de dados antropométricos existentes; c) Criar uma base mundial de dados antropométricos. Pela sua competência e experiência na área de antropometria o Instituto Nacional de Tecnologia - MCT foi convidado pela coordenação do grupo WEAR para participar como instituição representante da América Latina. Já fazem parte desse grupo em expansão os Estados Unidos, a África do Sul, o Japão, a França, a Holanda e a Coréia do Sul. A primeira reunião técnica do grupo WEAR ocorrerá em agosto de 2003, durante o XV Congresso Trienal da Associação Internacional de Ergonomia (IEA), com oobjetivo de discutir a tecnologia a ser utilizada, os protocolos de medição e formas de cooperação internacional que viabilizem a realização das pesquisas nos vários países. 9. RESULTADOS ESPERADOS DA PESQUISA O conhecimento das dimensões da população usuária possibilitará a padronização das dimensões dos produtos para todos os fabricantes, tanto para o mercado interno quanto para exportação. Por meio dessa tecnologia de ponta será possível obter a melhoria da qualidade e a agregação de valor aos produtos, a redução de perdas em matéria prima, a otimização das vendas e da estocagem, bem como a redução significativa do custo do design e da manufatura dos produtos. A melhoria das vendas e a redução dos custos final do produto possibilitarão também a geração de mais empregos no setor industrial. A Pesquisa Antropométrica Tridimensional da População Brasileira fornecerá dados digitais confiáveis e de uso imediato para o projeto de quase tudo o que vestimos ou operamos. Por meio dessa tecnologia será possível diminuir os custos de projeto e produção para todos os setores produtivos no país. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 24 [1] INSTITUTO NACIONAL DE TECNOLOGIA (INT). ERGOKIT - banco de dados antropométricos e biomecânicos da população brasileira. Rio de Janeiro, INT, 1995. [2] PAQUETTE, Steven. BRANTLEY, J. David. CORNER, Brian D. LI, Peng. Oliver, Thomas. Automated extraction of Anthropometric data from 3D images. In: Proceedings of the XIVth Triennial Congress of the International Ergonomics Association and 44th Annual Meeting of the Human Factors and Ergonomics Society, San Diego, 2000, p. 727-730. [3] PASTURA, Flávia Hofstetter. Avaliação do uso do banco de dados antropométricos e biomecânicos ERGOKIT – DOS, no desenvolvimento de produtos/postos de trabalho, Rio de Janeiro, COPPE/UFRJ, 2000. Sistema de identificação Facial assistido por computador Documento apresentado na 9ª Bienal Meeting of the International Association for Craniofacial Identification, FBI, Washington, DC, July 24, 2000 Mineo Yoshino Chefe de Seção Hideaki Matsuda, Satoshi Kubota, and Kazuhiko Imaizumi Biologo Sachio Miyasaka Cientista Senior First Medico-Legal Section National Research Institute of Police Science Chiba, Japan Introdução A identificação facial obtida por meio de imagens gravadas nas mais diversas mídias, está se tornando um tema importante na Antropologia Forense, uma vez que é cada vez mais comum o uso de câmeras de segurança, elas são usadas como uma testemunha silenciosa em cenas de crime, podem ser encontradas em lojas de conveniência, bancos, e garagens do estacionamento. A identificação facial de imagens de segurança podem ser obtidas de três maneiras: comparação morfológica de características faciais, da análise antropométrica e superposição da face. A fim de avaliar duas imagens faciais, a técnica do superposição foi aplicada à comparação facial da imagem (Kubota et al. 1997; Bordos e Austin 1992; Vanezis e Brierley 1996; Yoshino et al. 1996). Bordo e Austin (1992) relataram a técnica da 25 superposição de imagens de vídeo, em casos onde é possível aos técnicos do laboratório à fotografia do suspeito.. Vanezis e Brierley (1996) aplicaram a técnica de superposição de vídeo para identificar a imagem facial de suspeitos em 46 casos criminais. Da experiência pode-se observar que as comparações diretas poderiam ser feitas em 36 casos. A comparação de imagens faciais feitas a partir de cãmeras de segurança patrimoniais e fotos de suspeitos são frequentemente uma tarefa difícil uma vez que esses dispositivos geralmente oferecem imagens obliquas normalmente uma visão panorâmica, enquanto que as fotografia oferecem imagens frontais ou laterais. Para resolver este problema, Vanezis e Brierley (1996) desenvolveram um sistema de superposição de video face-to-face associado a uma análise 3D physiognomic. Este sistema se configura em uma ferramenta útil para a identificação facial da imagem uma vez que a superposição de video de duas imagens faciais podem ser executadas sob a mesma orientação facial, com este método temos uma importante solução na identificação dos criminosos (Kubota et al. 1997; Linney e Coombes 1998; Proesmans e Camionete Gool 1998; Yoshino et al. 1996). Apesar das vantagens, diversos problemas tais como o tempo da operação e a análise antropometrica apontaram alguns problemas. Com estes problemas em mente, os autores (2000) construíram um sistema de identificação facial assistido por computador inédito usando um método denominado finder physiognomic em escala 3D. O novo sistema permitiu a comparação morfológica, buscando uma análise antropometrica, pontos recíprocos que combinam com as imagens do suspeito quando sobrepostas sob o método face-to-face. Este artigo focaliza a confiabilidade da comparação facial da imagem com o sistema assistido por computador. Equipamentos e Métodos de Operação 26 O sistema consite na sobreposição fisionômica obtida de imagens em escala 3d obtidas no computador (Figura 1). O finder em escala 3D é composto de um detetor para medir a superfície facial e um controle computadorizado. O detetor tem dois dispositivos grating senoidal da projeção com o deslocamento de fase e as duas câmeras acopladas ao dispositivo (CCD) posicionados nos lados esquerdos e direito do instrumento. A unidade facial computer-assisted da superposiçao da imagem consiste em um computador host incluindo software proprietário, uma exposição de cor de superfície lisa, e um varredor da imagem coloridas para inputting imagens faciais 2D do criminoso. Os detalhes da especificação de cada instrumento foram descritos em outra parte (Yoshino et a morfologia do al. 2000). As faces 3d são obtidos usando o finder da escala baseado na projeção grating sinusoidal com o método do deslocamento de fase em 2.5 segundos, com exatidão da ordem de 0.16 milímetros. Os dados faciais da imagem 3D são armazenados no disco (MO) magneto-óptico (6 MB por pessoa aproximadamente) ou transferidos diretamente à unidade facial de superposiçao da imagem através da rede. Para fazer a comparação entre a imagem 3D facial de um suspeito e a 2D imagem facial feita na cena de um crime, a imagem 3D facial é reproduzida primeiramente na exposição do computador host do disco do MO. Então a imagem facial 2D é feita com o varredor da imagem da cor e armazenada dentro do computador (figura 2, A e B). O scaling da imagem facial é executado convertendo os dados originais da medida 3D no número dos pixels na exposição. Neste sistema, a distorção da perspectiva da imagem facial 3D é corrigida eletronicamente fazendo exame no cliente da distância entre a face e a câmera na cena de crime. Para a superposição 3D e 2D das imagens faciaisl, a imagem 3D facial é ajustada exatamente para combinar a orientação e o tamanho da imagem 2D. Após a determinação da orientação e do tamanho de ambas as imagens, um modelo fino da Figura 1. Facial image identification system. A = 3D physiognomic range finder B = control computer C = host computer for superimposition D = flat surface color display E = color image scanner Figure 2. Comparison between the 3D and 2D facial images. A = frontal fine texture image reproduced from the 3D physiognomic data B = 2D facial image taken with the color image scanner C = 3D facial image adjusted to the orientation and size of B 27 estrutura da imagem facial 3D é convertida à imagem da textura (figura 2C). A forma e os relacionamentos posicionais de componentes faciais entre as imagens 3D e 2D são examinados pelo desvanecimentoou limpam o modelo da imagem (figura 3). Neste sistema, 18 pontos foram traçados as imagens 3D e 2D para avaliar os dados antropometricos, nos pontos recíprocos que combinam entre ambas as imagens (figura 4, A e B). A distância entre os dois pontos selecionados e o ângulo entre os três pontos selecionados nas imagens 3D e 2D automaticamente são medidas e mostradas em uma coluna no lado direito da exposição (tabela 1). Figure 3. Face-to-face superimposition of the 3D and 2D facial images. A = vertical wipe image B = horizontal wipe image Figure 4. Plotting the anthropometrical points on the 3D (A) and 2D (B) facial images. Eleven points are closely consistent with each other. C = superimposition image of A and B 28 Os pontos selecionados nas imagens 3D e nas 2D são sobrepostos na base de um ponto padrão, e o ponto recíproco para apontar diferenças entre ambas as imagens é comparado (figura 4C). A distância entre os dois pontos antropométricos correspondentes em ambas as imagens é calculada dos valores coordenados. O estudo experimental os dados 3D facial de 25 examinandos masculinos japoneses foi obtido usando o finder physiognomic da escala 3D. As faciais obliquas 2D esqjerda dos examinandos foram feitas com uma câmera imóvel digital (Nikon, DS-505A, 50mm, f-1.4) em uma distância de 1.5 m a 2.5 m. Para avaliar imagens faciais 3D e 2D da mesma pessoa, a imagem facial 3D facial de cada examinando foi comparada à imagem facial 2D dez vezes, rendendo 250 superposições. No exemplo da pessoa diferente, imagens faciais 3D examinando cada um foram comparadas às imagens 2D de outros 24 examinandos, rendendo 600 superposições. Como mostrado em figura 5, 16 pontos foram selecionados de 18 pontos neste estudo. Os pontos selecionados foram traçados em imagens faciais 3D e nas 2D e sobrepostos então na base subnasal (figura 6). A tabela 2 mostra o ponto recíproco à diferença do ponto em 16 pontos em figura 6. A distância média obtida de 16 pontos recíprocos às diferenças do ponto entre ambas as imagens foi usada como um critério combinando, e seu ponto inicial foi determinado. Para avaliar a propriedade do ponto inicial para o positivo verdadeiro, um caso modelo em que a 2D imagem facial de um examinando é identificada das imagens faciais 3D dos examinandos foi investigado experimental. Uma imagem facial obliqua do examinando 2, que foi feito exame com a câmera imóvel digital de 5 medidores, foi usada como a pessoa do alvo (figura 7). A qualidade da imagem facial 2D era a mesma classe que as imagens que foram submetidas em casos reais. A imagem facial 2D imagem facial da pessoa do alvo foi comparada com a cada uma das imagens faciais 3D de 25 examinandos. Resultados Os statistics descritivos são mostrados na tabela 3, including a distância média dos pontos recíprocos entre o 3D e as 2D imagens facial das mesmas Figure 5. Anthropometrical points on the 3D facial image. Sixteen anthropometrical points are used in this experimental study. 1 = right entocanthion (r- en) 2 = left entocanthion (l- en) 3 = right ectocanthion (r- ex) 4 = left ectocanthion (l- ex) 5 = right alare (r- al) 6 = left alare (l-al) 7 = subnasale (sn) 8 = stomion (sto) 9 = right cheilion (r-ch) 10 = left cheilion (l-ch) 11 = right zygion (r- zy) 13 = right gonion (r-go) 15 = gnathion 29 pessoas em 25 examinandos. Os dados mostram que o sistema de medição para o ponto recíproco às diferenças do ponto including a determinação de pontos anthropometrical era reproducible e de confiança. (gn) 16 = left superaurale (l-sa) 17 = left subaurale (l-sba) 18 = left tragion (l-t) A tabela 4 mostra detalhes estatísticos para a distância média na superposição entre a imagem de pessoas diferentes. A distância média na superposição da mesma pessoa variou de 1.4 a 3.3. Entrementes, a escala da distância média no superimposition da pessoa diferente era 2.6 a 7.0. O valor médio da distância média era 2.3 para a mesma pessoa e 4.7 para a pessoa diferente, respectivamente. A diferença dos meios entre ambos os casos era significativa no 0.001 nível da confiança (t = 37.8, positivo df = 848).The falso (os lotes do negativo de FP)/false (FN) para o 3D e a 2D identificação facial da imagem baseados na distância média são mostrados em figura 8. O erro médio da distância e da porcentagem no ponto do cruzamento de FP/FN era 3.1 e 4.2 por cento. A fim eliminar identificações positivas falsas, o ponto inicial da distância média para o positivo verdadeiro deve ser reduzido a 2.5. A tabela 5 mostra a distância média na imagem do superimposition de 25 examinandos no caso modelo. Embora os examinandos 2, 5, e 19 fossem incluídos sob o ponto do cruzamento de FP/FN, o examinando 2 mostrou a distância média sob o ponto inicial para o positivo verdadeiro (figura 9). Conseqüentemente, a 2D imagem facial da pessoa do alvo foi identificada como o examinando 2 com certeza científica. A identificação da imagem de DiscussionFacial é realizada para Figure 6. Superimposition of the selected anthropometrical points on the 3D and 2D facial images. A = 3D facial image B = 2D facial image C = Superimposition image of A and B Figure 7. FP/FN plots for facial image identification. The average distance and percentage error at the FP/FN crossover point are 3.1 percent and 4.2 percent. FP = false positive FN = false negative 30 determinar se uma imagem facial na cena de um crime é aquela de um suspeito. Embora a comparação morphological de componentes facial esteja usada principalmente identificando a imagem facial caso que os trabalhos, a orientação da imagem facial da cena de crime são diferentes daquele de um suspect's em a maioria de casos. Conseqüentemente, o examinador deve considerar toda a discrepância no angulation ao decidir-se se o dissimilarity entre componentes facial é real ou por causa das diferenças na orientação. Nesse caso, os índices baseados em medidas facial não podem ser usados como o indicador comparando ambas as imagens. O sistema facial computer-assisted da identificação da imagem que usa o finder physiognomic da escala 3D foi desenvolvido para resolver os problemas descritos previamente (Yoshino et al. 2000). Neste sistema, a projeção grating sinusoidal com o método do deslocamento de fase foi introduzida à medida da morfologia 3D da cara, de modo que o momento da operação para obter os dados 3D physiognomic fosse reduzido por um fourth comparado com o aquele do sistema velho (Yoshino et al. 1996). Figure 8. The 2D facial image of the target person (Examinee 2). Figure 9. Superimposition of the 2D facial image of the target person and the 3D facial images of examinees. The average distance is shown in the lower right corner of each facial image. A = Examinee 2 C = Examinee 9 E = Examinee 17 G = Examinee 22 B = Examine e 5 D = Examine e 12 F = Examine e 19 H = Examine e 25 Assim, sugeriu-se que o finder physiognomic da escala 3D poderia ser aplicado ao 31 câmeras e um projetor, produzindo a análise anthropometrical. Como mostrado na tabela 1, a medida anthropological do 3D e as 2D imagens facial poderiam rapidamente ser feitas na exposição e seus dados compararam. Catterick (1992) aplicou o sistema image-processing para reconhecer fotografias facial por dois índices calculados de três medidas do facial do midline. Explicou que os
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