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Cilios e flagelos

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Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● CITOLOGIA 
1 
 
www.medresumos.com.br 
 
 
CÍLIOS E FLAGELOS 
 
Os centríolos são pequenos cilindros presentes em quase todas as 
células eucariotas, com exceção de alguns organismos unicelulares, grande 
parte dos fungos e das células das plantas com sementes, em uma região 
do citoplasma próxima ao núcleo - o centro celular ou centrossomo. Eles 
são encontrados geralmente aos pares, formando um ângulo reto entre si, e 
cada cilindro é formado por nove grupos de três microtúbulos. Eles 
colaboram na formação dos cílios e flagelos e na organização do fuso 
acromático (conjunto de fios) durante a divisão celular das células animais. 
Os cílios e flagelos são encontrados em algumas algas, certos 
protozoários, algumas células de vegetais sem sementes e determinadas 
células animais, como os espermatozoides e alguns epitélios. Tais 
estruturas realizam movimentos capazes de provocar correntes no ambiente 
líquido onde estão mergulhadas as células. As correntes podem ser usadas 
para locomoção e captura de alimentos. No caso das vias respiratórias 
humanas, elas atuam na expulsão de partículas estranhas ao corpo, já na 
tuba uterina participam da movimentação do zigoto e do embrião. 
Observando os cílios e flagelos ao microscópio eletrônico, vê-se 
que eles têm a mesma estrutura, basicamente. A única diferença é que os 
cílios são curtos e numerosos, enquanto os flagelos apresentam-se longos 
e em pequeno número. Ambos são formados por microtúbulos envolvidos 
por uma projeção da membrana plasmática. A arrumação é característica: 
há sempre nove pares de microtúbulos periféricos e um par central. 
Assim como as miofibrilas são máquinas de motilidade altamente especializadas e eficientes, construídas a partir 
de filamentos de actina e de miosina, os cílios e os flagelos são estruturas para o movimento, construídas a partir de 
microtúbulos, constituídos por tubulina, nexinas e dineínas. Tanto os cílios quanto os flagelos são apêndices celulares 
semelhantes a pelos que contêm um feixe de microtúbulos em seu interior. Por meio de um movimento ondulatório, as 
células dotadas de flagelos podem nadar em meio líquido. Os cílios, como relatado anteriormente, tendem a ser mais 
curtos do que os flagelos e estão organizados de modo similar a estes, no entanto, eles batem como um chicote, em um 
movimento que se assemelha ao de um nadador em nado de peito. Os ciclos de cílios adjacentes estão praticamente em 
sincronia, criando um padrão semelhante ao movimento de ondas, o qual pode ser observado em microscopia. O 
batimento dos cílios tanto pode propelir uma célula única através de um fluido (como o caso de locomoção do 
protozoário Paramecium caudatum e do Paramecium aurelia, por natação) quanto pode movimentar fluidos sobre a 
superfície de um grupo de células em um tecido. No corpo humano, uma grande quantidade de cílios (10
9
/cm
2
 ou mais) 
reveste o trato respiratório varrendo camadas de muco, partículas de poeira aderidas e bactérias até a boca, onde são 
deglutidas e, finalmente, eliminadas. Do mesmo modo, os cílios ao longo do oviduto auxiliam no percurso dos ovos em 
direção ao útero. 
As bactérias também podem mover-se em meios líquidos usando estruturas de superfície celular chamadas 
flagelos, mas estes não contém microtúbulos ou dineína e não ondulam ou batem. Em vez disso, os flagelos bacterianos 
são filamentos helicoidais rígidos, longos, feitos de subunidades repetitivas da proteína flagelina. Os flagelos giram como 
propulsores, guiados por um motor rotatório especial inserido na parede celular bacteriana. 
 As estruturas chamadas corpos basais enraízam firmemente os cílios e os flagelos eucarióticos à superfície 
celular. Os corpos basais apresentam a mesma forma dos centríolos que se encontram imersos na região central dos 
centrossomos animais, com nove grupos de tripletes de microtúbulos fusionados organizados em forma de roda de 
carreta. 
Nos humanos, os defeitos hereditários da dineína ciliar causam a Síndrome de Kartagener. Esta síndrome é 
caracterizada por esterilidade masculina devido à imotilidade dos espermatozoides, alta suscetibilidade a infecções 
pulmonares devido à paralisação dos cílios do trato respiratório e consequente incapacidade em eliminar impurezas e 
bactérias, e defeitos na determinação do eixo lateral do corpo, durante estágios iniciais do desenvolvimento embrionário. 
 
 
ESTRUTURA E ULTRAESTRUTURA 
Os cílios e flagelos são projeções de membrana plasmática, constituídos por microtúbulos, que são responsáveis 
por uma variedade de movimentos das células eucarióticas. 
Arlindo Ugulino Netto. 
CITOLOGIA 2016 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● CITOLOGIA 
2 
 
www.medresumos.com.br 
Cílios e flagelos são estruturas muito semelhantes. Entretanto, os cílios estão presentes em grande quantidade 
nas células, tem cerca de 10Mm de comprimento e batem de forma bastante coordenada. Já os flagelos são únicos ou 
presentes em pequeno número, chegando a ultrapassar 200μm de comprimento. O seu padrão de movimento é 
ondulatório. 
A estrutura fundamental responsável pelos movimentos dos 
cílios e flagelos é o axonema. Este é formado por um feixe de 
microtúbulos, com suas extremidades (+) voltadas para a 
extremidade distal, e proteínas associadas. Na grande maioria dos 
cílios e flagelos de eucariotos, os microtúbulos são arranjados em 
um padrão característicos de “9 + 2”, na qual um par central de 
microtúbulos simples é circundado por nove duplas periféricas de 
microtúbulos. Os dois microtúbulos fusionados, de cada dupla 
externa, são distintos: um deles, denominado microtúbulo A, é 
constituído de 13 protofilamentos; o outro, microtúbulo B, é 
incompleto, contendo somente 10 ou 11 protofilamentos fusionados 
ao microtúbulo A. Os pares de microtúbulos externos são conectados 
ao par central por traves radicais interligadas por uma proteína 
denominada de nexina. 
As extremidades negativas dos microtúbulos dos cílios e flagelos estão ancoradas no corpo basal, que é uma 
estrutura similar ao centríolo. Os corpos basais desempenham claramente uma função na organização dos microtúbulos 
nos axonemas, servindo assim para iniciar o crescimento dos microtúbulos do axonema, assim como para ancorar os 
cílios e flagelos à superfície celular. 
O movimento dos cílios e dos flagelos resulta do deslizamento de um par de microtúbulos externo em relação 
aos outros pares, sendo este movimento potencializado pela atividade motora da dineína axonemal. 
Os corpos basais, no entanto, desempenham claramente uma função na organização dos microtúbulos nos 
axonemas. Isto é, cada microtúbulo do par exterior do axonema é formado pela projeção de dois microtúbulos presentes 
no triplete do corpo basal. Os corpos basais, assim, servem para iniciar o crescimento dos microtúbulos do axonema, 
assim como para ancorar os cílios e os flagelos à superfície celular, atuando como um centro organizador para o cílio. 
 
 
MECANISMO DE LOCOMOÇÃO CILIAR E FLAGELAR 
 A contração do músculo resulta do deslizamento dos filamentos de actina sobre os filamentos de miosina 
adjacentes. A força do deslizamento é gerada por pontes cruzadas semelhantes a alavancas que residem na cabeça da 
molécula de miosina. 
 Com o sistema muscular como modelo, foi proposto que o movimento ciliar poderia ser explicado pelo 
deslizamento de uma dupla microtubular adjacente em relação à outra. De acordo com essa proposta, os braços da 
dineína atuam como pontes cruzadas balançando que geram a força necessária para o movimento ciliar ou flagelar. Em 
ausência, os braços da dineína que se projetam a partir da parede de uma dupla ao longo da parede de uma dupla 
adjacente, induzindo as duas duplas a moverem-se uma em relação à outra. 
 
REGULAÇÃO DA LOCOMOÇÃO CILIAR E FLAGELAR 
 Se considerarmos que os cílios batem 10 a 40 vezes por segundo, que cada batida tem uma forma precisa, e 
que cada impulso ciliar é frequentemente coordenado por 200 cíliosse movendo juntos, fica claro que essa atividade 
locomotora poderia ser altamente regulada. 
 A regulação da locomoção ciliar ou flagelar começa com a regulação da atividade do braço da dineína. Como 
notado acima, nem todos os braços da dineína são ativos ao mesmo tempo, se o fossem, as organelas poderiam 
permanecer em um estado congelado ou paralisado. O par central de microtúbulos e os raios radiais determinam quais 
braços da dineína são ativos a um dado instante. Em várias espécies estudadas, o par central gira quando os cílios e 
flagelos batem. De acordo com essa hipótese, quando ocorre a rotação, o par central periodicamente move-se através 
de cada raio radial, fazendo o raio enviar um sinal ao braço da dineína no túbulo A adjacente, que ativa o braço a sofrer 
o movimento de oscilação. Os estudos sugerem que a ativação ou inativação do braço da dineína é acompanhada pela 
remoção ou adição de grupos fosfato de um ou mais polipeptídios que compõem a enorme proteína motora. 
 O movimento dos cílios e dos flagelos resulta do deslizamento de um par de microtúbulos externo em relação 
aos outros pares, sendo este movimento potencializado pela atividade motora da dineína axonemal. As bases das 
dineínas ligam-se aos microtúbulos A, enquanto os grupamentos da cabeça ligam-se ao microtúbulo B do par adjacente. 
O movimento do grupamento da cabeça da dineína em relação à extremidade negativa provoca o deslocamento do 
microtúbulo A do par exterior em direção à porção basal do microtúbulo B adjacente. Como os microtúbulos dos pares 
no axonema estão conectados por ligações nexina, o deslizamento de uma dupla sobre a outra gera a curvatura, que é a 
base do movimento de batimento dos cílios e flagelos. Tendo em vista as múltiplas ligações quem mantém os pares de 
microtúbulos adjacentes unidos, aquilo que deveria ser um simples movimento de deslizamento paralelo entre 
microtúbulos livres é convertido no movimento e curvatura (ou flexão) do cílio. 
 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● CITOLOGIA 
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CORRELAÇÕES CLÍNICAS 
 
DOENÇAS PULMONARES RELACIONADAS COM A INATIVIDADE CILIAR 
 Antes de se iniciar a abordagem sobre as doenças pulmonares relacionadas com a inatividade ciliar, serão feitas 
algumas considerações sobre os mecanismos de defesa do sistema respiratório e mucociliares. 
 
MECANISMOS DE DEFESA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO 
 É axiomático que uma partícula, micróbio ou gás tóxico deve primeiro ter acesso a uma região vulnerável do 
sistema respiratório antes de exercer seu efeito patológico. A configuração anatômica do sistema condutor (cavidade 
nasal, brônquios e bronquíolos terminais) tem um papel singular em prevenir ou reduzir a penetração de materiais 
nocivos para os pulmões, especialmente para a região alveolar, que é a porção mais vulnerável do sistema respiratório. 
 O arranjo espiralado das conchas nasais cria enormes turbulências de fluxo de ar e, como resultado, são criadas 
forças centrífugas que impelem forçadamente partículas maiores do que 10 μm contra a superfície da mucosa nasal. 
 Nas regiões transicionais (bronquiolar) e de troca (alveolar), partículas de 2 μm ou menores podem entrar em 
contato com a mucosa respiratória, através da sedimentação causada pela força gravitacional ou por difusão devido ao 
movimento browniano. Além do tamanho, outros fatores como a forma, o comprimento, as cargas elétricas e a umidade 
têm papel importante na deposição, na retenção e na patogenicidade de partículas inaladas. 
 Uma vez que as partículas de maior tamanho são aprisionadas na mucosa das vias aéreas condutoras, e 
pequenas partículas são depositadas na superfície da mucosa bronco-alveolar, é crucial que esse material exógeno seja 
removido, a fim de prevenir ou minimizar agressões ao sistema respiratório. Com esse objetivo, o sistema respiratório é 
equipado com um conjunto de mecanismos de defesa, todos eles fornecidos por células especializadas que operam de 
uma maneira notavelmente bem coordenada. 
 
MECANISMOS DE DEFESA MUCOCILIARES 
A limpeza mucociliar consiste na remoção física, do trato respiratório, de partículas depositadas ou gases 
dissolvidos, sendo realizada através do tapete mucociliar, sendo o principal mecanismo do sistema condutor. O muco é 
uma mistura complexa de água, glicoproteínas, imunoglobulinas, lipídios e sais produzidos pelas células caliciformes 
(mucosas), células serosas, glândulas submucosas e fluido do transporte transepitelial de íons e água. 
 O muco é, então, propulsionado pelos movimentos dos cílios. Cada célula ciliada no sistema condutor tem cerca 
de 250 cílios, vibrando espontaneamente a 1.000 batidas por minuto. O movimento rápido e poderoso dos cílios cria uma 
série de ondas que, de uma maneira contínua e harmoniosa propulsiona o muco e partículas nele aprisionadas para fora 
do sistema respiratório. 
 O tapete mucociliar da cavidade nasal, traqueia e brônquios também tem um papel importante na prevenção de 
lesões e remoção de gases tóxicos. Se um gás solúvel entrar em contato com o tapete mucociliar, mistura-se ao muco, 
reduzindo, dessa forma, a concentração do gás que atinge, mais profundamente, a região alveolar. 
 Além do transporte físico fornecido pelo elevador mucociliar, outras células, intimamente associadas ao epitélio 
ciliado, contribuem para o mecanismo de defesa do sistema condutor. Dentre as mais notáveis, estão as encontradas no 
linfoepitélio e no tecido linfoide associado aos brônquios (BALT) subjacente. Essas duas estruturas especializadas são 
estrategicamente localizadas nos entroncamentos das ramificações dicotômicas dos brônquios e bronquíolos, onde, 
frequentemente, as partículas inaladas se prendem devido às forças inerciais. Daqui, as partículas inaladas e os 
antígenos solúveis são fagocitados e transportados por macrófagos e células dendríticas especializadas para o BALT, 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● CITOLOGIA 
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fornecendo assim, uma oportunidade única para que os linfócitos entrem em contato com substâncias potencialmente 
patogênicas. 
 Doenças crônicas das vias aéreas, especialmente as de etiologia infecciosa, são frequentemente acompanhadas 
por hiperplasia acentuada do BALT. Linfócitos do BALT contribuem para as respostas imunológicas celulares (células T - 
citotóxicas, auxiliares e supressoras) e humorais. IgA e, em menor grau, IgG e IgM têm papeis importantes na imunidade 
local do sistema condutor, especialmente com respeito à prevenção da aderência de patógenos ao tapete mucociliar. 
 A limpeza mucociliar termina na faringe, onde o muco, propulsionado caudalmente da cavidade nasal e 
cranialmente da árvore traqueobronquial, é finalmente deglutido ou expectorado e, dessa forma, eliminado do sistema 
condutor do trato respiratório. 
 
 Discinesia Ciliar 
 Discinesia ciliar é o nome genérico atribuído às doenças respiratórias nas quais ocorrem alterações estruturais 
e/ou disfunção ciliar, com consequente dano no transporte mucociliar, resultando em doenças oto-sinopulmonares. Estas 
alterações podem ser primárias (congênitas ou geneticamente determinadas) ou secundárias, decorrentes de agressões 
externas ao epitélio respiratório. 
 Como na atualidade as discinesias ciliares mais encontradas são as do tipo primária, sendo a do tipo secundária 
uma forma raríssima de manifestação, será discutida na presente pesquisa apenas as discinesias ciliares primárias 
(DCP). 
 
 1. Discinesia Ciliar Primária 
 
 Definição 
 A DCP, anteriormente conhecida como síndrome dos cílios imóveis (SCI), é uma doença de caráter autossômico 
recessivo caracterizada por anormalidades ultraestruturas ciliares que comprometem a atividade ciliar normal, com 
consequências diretas sobre o clearance mucociliar, predispondo a infecções respiratórias repetidas e resultando em 
doença obstrutiva crônica do trato respiratório, e apresenta como subtipo principal a Síndrome de Kartagener 
 Os primeiros casos de DCP foram relatadospor Siewert, em 1904, e por Gunther, em 1923, e foram descritos 
como bronquiectasias e situs inversus. Posteriormente, em 1933, Kartagener descreveu a tríade composta por 
dextrocardia, rinossinusopatia crônica e bronquiectasia como uma entidade clínico-patológica distinta. Kartagener deu 
ênfase ao caráter familiar e hereditário desta síndrome, a qual, atualmente, leva o seu nome, ou seja, síndrome de 
Kartagener (SK). 
 Segundo alguns autores, os primeiros a sugerirem a DCP como causa da SK foram Camner et al., os quais, 
descreveram dois pacientes com SK que apresentavam disfunção ciliar e espermatozoides imóveis. A seguir, Afzelius e 
Eliasson, ao estudarem as alterações ultraestruturas dos cílios decorrentes desta doença, observaram ausência dos 
braços da dineína no axonema tanto nos cílios respiratórios quanto na cauda dos espermatozoides humanos, o que 
torna estes últimos imóveis. 
 
 Prevalência 
Sua prevalência é de aproximadamente 1:20.000 casos e segue um padrão autossômico recessivo de 
transmissão. Acomete ambos os sexos e não apresenta predileção por grupos 
 
 Etiologia 
 Análises de rastreamento genético que foram feitas em afetados e em seus familiares referem vários loci 
potenciais de localização nos cromossomos 3p, 4q, 5p, 7p, 10p, 11q, 13q, 15q, 16p, 17q e 19q. Análises de familiares 
com deficiência específica de braços de dineína mostram alterações nos cromossomos 8q e 16p e, nos familiares com 
situs inversus, alterações nos cromossomas 8q e 19q. A doença é muito heterogênea; os 200 tipos de proteínas 
existentes nos cílios dificultam os estudos de localização dos defeitos genéticos, por isso alguns genes isolados 
representam pequena parcela da casuística de pacientes afetados. 
 As principais alterações ultraestruturais na DCP podem incluir: 
 Defeitos nos braços de dineína: ausência dos braços internos e/ou externos de dineína, redução dos 
braços de dineína pela metade, braços de dineína curtos e retos em vez de curvos; ausência de 
espículas estriadas e bainha central; 
 Microtúbulos centrais ausentes, substituídos por um microtúbulo externo; 
 Defeitos das ligações de nexina, causando desarranjo dos microtúbulos; 
 Microtúbulos centrais e bainha central ausente; 
 Corpos basais ausentes ou com redução do número de cílios; 
 Cílios de tamanho duplicado; 
 Cílios com estrutura normal, porém imóveis. 
 Desorientação ciliar; 
 Frequência de batimentos reduzida; 
 Aplasia ciliar completa. 
 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● CITOLOGIA 
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 Manifestações Clínicas 
 Nos primeiros anos de vida, o acometimento da via aérea superior e ouvido médio predomina, as manifestações 
variam desde rinorreia leve a sinusite e otite média de repetição, sendo os sintomas usualmente recorrentes. Com a 
progressão da doença, surgem sintomas de infecção de trato respiratório inferior e o desenvolvimento de complicações 
como bronquiectasias, hipocratismo digital e déficit de crescimento. 
 A tríade clássica de sinusopatia, bronquiectasia e situs inversus está presente em aproximadamente metade dos 
pacientes, constituindo a síndrome de Kartagener (ver figuras abaixo). 
 No indivíduo adulto, pode apresentar-se como tosse produtiva crônica, sinusopatia crônica e otite média de 
repetição, mesmo na ausência de situs inversus. Infertilidade masculina pode ser a queixa predominante na presença ou 
não de sintomas respiratórios, uma vez que o curso da doença é variável e alguns indivíduos podem atingir a vida adulta 
com poucos sintomas respiratórios. 
 As alterações radiológicas são pouco específicas. À radiografia de seios da face evidenciam-se alterações como 
pansinusite, pólipos nasais, opacificação e níveis hidroaéreos; e, à radiografia de tórax, pode-se visualizar aumento da 
trama broncovascular, espessamento brônquico, hiperinsuflação, consolidações e atelectasias. A tomografia 
computadorizada de alta resolução de tórax tem especial valor na avaliação de bronquiectasias, demonstrando a 
localização característica em lobo médio e lobos inferiores pulmonares. 
 Quanto ao tipo, as bronquiectasias cilíndricas são encontradas em maior número em relação às císticas e 
varicosas, porém não constituem um padrão característico da doença, uma vez que também podem ser encontradas em 
outras desordens. 
 
 Diagnóstico 
 A partir da suspeita clínica, alguns exames com valor presuntivo podem ser realizados, como: 1) medidas do 
clearance mucociliar pulmonar ou nasal; 2) análise das características do batimento ciliar em microscopia óptica ou com 
estroboscopia; 3) análise da ultraestrutura ciliar em biópsias da mucosa nasal ou traqueal através da microscopia 
eletrônica de transmissão. 
 Devido à complexidade e ao alto custo destes exames, eles são geralmente realizados em ambiente acadêmico, 
o que torna o diagnóstico eminentemente clínico e de exclusão, uma vez que as investigações para fibrose cística e para 
imunodeficiência sejam negativas. História familiar de consanguinidade, malformações e infecções de repetição reforçam 
a hipótese de DCP. 
 
 Tratamento 
 O objetivo é o tratamento precoce das infecções de vias aéreas superiores e ouvido médio e a prevenção do 
desenvolvimento de complicações como déficit auditivo e bronquiectasias. Medidas gerais incluem acompanhamento 
permanente, imunizações da infância (com imunização também para pneumococo e influenza), tratamento prolongado 
com antibióticos para infecções por pneumococo, H. influenza, S. aureus e, às vezes, P. aeruginosa, e fisioterapia 
respiratória através de drenagem postural. 
 O controle da função auditiva requer atenção especial ao tratamento adequado da otite media e também a 
realização de testes de audiometria, para avaliar a possibilidade de perda funcional. Podem ser necessários 
procedimentos como timpanostomia para inserção de tubos de ventilação; tonsilectomia; adenoidectomia; e ainda 
trepanação dos seios da face, o que melhoraria a drenagem, aeração e acesso às medicações. O tratamento cirúrgico, 
com a ressecção dos segmentos com bronquiectasias, pode ser uma alternativa para doença grave refratária ao 
tratamento clínico das infecções. 
 
 Prognóstico 
 O prognóstico é geralmente bom e a grande maioria dos pacientes tem expectativa de vida normal. No entanto, 
podem ocorrer óbitos em neonatos, em indivíduos com diagnóstico tardio ou que não seguem manejo clínico adequado. 
Portanto, o prognóstico é dependente do diagnóstico precoce e do seguimento clínico adequado. 
 
DOENÇAS RELACIONADAS À FECUNDAÇÃO E IMPLANTAÇÃO 
 Infertilidade Masculina 
A infertilidade masculina pode se dar por inúmeros fatores. Os que serão abordados neste trabalho são os 
decorrentes dos espermatozoides que apresentam problemas morfológicos. 
Os espermatozoides com problemas morfológicos podem ser originados pela exposição maciça e continuada 
aos raios X, reações alérgicas intensas, certos agentes antiespermatogênicos e também por fatores genéticos. 
O flagelo permite ao espermatozoide mover-se com velocidade característica necessária a perpetuação da 
espécie e sobrevivência. Como visto anteriormente, a tubulina organiza-se em microtúbulos, que por sua vez se 
organizam em pares, os quais se dispõem num círculo e, entre cada par, uma outra proteína chamada dineína estende 
braços que lhes permite deslocar ordenadamente uns em relação aos outros. Quando os braços da dineína não estão 
presentes, os flagelos dos espermatozoides não se movimentam, ou seja, ficam imóveis, o que consiste em um 
dos fatores da esterilidade masculina. A dineína também possui propriedades enzimáticas que garantem a 
transformação da energia química disponível em energia mecânica para o movimento. 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● CITOLOGIA 
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Existem indivíduos acometidos pela síndrome de Kartagener. Esta síndrome como já explicado é caracterizada 
por associação de três defeitos: sinusopatia, bronquiectasia e situs inversus. Ainda existe a associaçãocom 
espermatozoides imóveis. 
Quanto à mobilidade espermática, pelo menos 50% dos espermatozoides produzidos devem ser móveis, e 25% 
devem movimentar-se rapidamente, isto é, devem possuir uma estrutura e forma adequadas à locomoção. Se a 
percentagem dos espermatozoides alterados for menor do que 10%, a anormalidade não influenciará na fertilidade, pois 
os espermatozoides com anormalidades morfológicas são incapazes de fecundar a célula reprodutora feminina. 
 
 Gravidez Ectópica 
 As tubas uterinas ou ovidutos consistem de duas tubas com 
aproximadamente 10cm de comprimento, que saem do útero e acabam em 
projeções semelhantes a dedos, chamadas fímbrias. Durante a ovulação, a 
extremidade com fímbrias da tuba uterina recebe o ovo maduro que é 
liberado do ovário. 
 O meio ambiente interior da tuba uterina é bioquimicamente 
complexo. O ovo permanece na tuba uterina por uns poucos dias. Se a 
fertilização ocorre, o embrião resultante é mantido na tuba uterina até que se 
desenvolva em uma pequena massa celular (blastocisto). Ele é, então, 
propelido ao longo da tuba uterina por uma combinação de contrações 
rítmicas das paredes musculares da tuba (similar às contrações musculares 
peristálticas do intestino) e da ação de projeções delicadas semelhantes a 
cabelos, chamadas cílios. 
 O embrião é arrastado rumo ao útero, onde a gravidez pode 
estabelecer-se através da implantação, uma vez que útero tem espaço 
suficiente para o ovo se dividir e crescer normalamente, originando um novo 
ser. 
Existem diversas condições em que o ovo implanta-se em locais extrauterinos causando uma gravidez ectópica 
que pode ser definida como a implantação do ovo fecundado (blastocisto) fora da superfície endometrial da cavidade 
uterina. 
Níveis suprafisiológicos de estrógeno ou progesterona podem imobilizar os cílios e a musculatura tubária lisa, 
alterando o tempo preciso de retenção do ovo e seu desprendimento em direção ao istmo para iniciar a sua migração. 
Independente do mecanismo, ocorre a nidação em sítio extrauterino, o trofoblasto prolifera normalmente e rapidamente 
invadindo os espaços subepiteliais.A secreção de hCG e progesterona é semelhante à uma gravidez normal e a 
paciente é assintomática. Quando o trofoblasto começa a invadir as arteríolas submucosas, ocorre a formação de 
hematoma, distendendo a serosa tubária provocando dor pélvica. A produção de hCG e progesterona começa a falhar 
,há pouco suporte lúteo e a paciente apresenta sangramento uterino anormal, o que caracteriza uma gravidez ectópica. 
Muitos outros fatores influenciam este tipo de gravidez: 
 Doença inflamatória pélvica: infecções causadas principalmente por Chlamydia trachomatis e Neisseria 
gonorrhoeae geram importantes alterações nas tubas. Com grande frequência, causam obstrução tubária, 
diminuição no número e movimentação dos cílios, estreitamento da luz tubária pela aglutinação das dobras de 
mucosa e destruição das fímbrias. 
 Cirurgia tubária prévia: pacientes submetidas a cirurgias tubárias como salpingostomia, reanastomose, 
fimbrioplastia e lise de aderências também teriam maior incidência de GE. O problema é que o tratamento para a 
gravidez ectópica é utilizar cirurgia tubal, que por sua vez aumenta a probabilidade de futuras ocorrências. 
 Procedimentos relacionados à reprodução assistida: gestações decorrentes de reprodução assistida apresentam 
risco de GE entre 2 e 10%.O aumento dos níveis de estrógenos causado pelo efeito das drogas indutoras de 
ovulação, interfeririam no mecanismo de transporte tubário por alterar a motilidade das tubas facilitando a 
retenção do ovo no seu trajeto até a cavidade uterina. 
 Antecedente de gravidez ectópica: mulheres com episódios prévios de GE têm risco 6 a 8 vezes maior de 
apresentarem novo episódio de GE. Existem inúmeras variáveis envolvidas como estado da tuba contralateral, o 
tipo de tratamento, presença de esterilidade anterior ao evento. 
 
 Os sintomas da gravidez ectópica tipicamente são, dores lombares, abdominais e na zona pélvica. A dor tende a 
aumentar e por vezes ocorre sangramento vaginal. 
 O diagnóstico clínico envolve os dados obtidos na anamnese, exame clínico, achados ultrassonográficos 
trasvaginais e dosagem sérica de beta-hCG plasmático. 
Após a obtenção de um diagnóstico diferencial, o tratamento neste caso é de suma importância para tentar 
preservar a tuba uterina. O tratamento pode se cirúrgico com ou sem adição de hemotransfusão ou não cirúrgico, 
dependendo do caso. Caso o diagnóstico seja precoce e a tuba uterina ainda encontrar- se íntegra pode-se realizar a 
salpingostomia ou salpingotomia (é feita uma incisão longitudinal na tuba com remossão dos sacos gestacionais 
localizados no 1/3 distal da tuba íntegra, o corte não é suturado e cicatriza por segunda intenção) sendo uma abordagem 
laparoscópica para evitar aderências e novas gravidezes tubárias. 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● CITOLOGIA 
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No caso de instabilidade hemodinâmica, é feita uma laparotomia, onde é feita a retirada completa da tuba 
(salpingectomia), esta técnica também é utilizada quando houver uma prole completa, gravidez ectópica recorrente, 
sangramento incontrolável e dano tubário extenso. Outro tratamento usado nesta condição é medicamentoso 
(metotraxato intramuscular em dose única de 50mg/ml). Este medicamento destroi o ovo, com ou sem embrião, e 
possibilita a absorção do produto conceptual pelo organismo. Porém a utilização desta droga deve seguir alguns critérios 
incluindo a idade gestacional inferior a seis semanas, saco gestacional menor ou igual a 3 cm, ou feto morto.

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