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Introdução a unidade de ensino Introdução Prezado aluno, nesta unidade iremos abordar a temática das provisões e suas características de estimação, que envolve o conceito de incerteza. Especificamente, focaremos as perdas estimadas em créditos de liquidação duvidosa (PECLD), abrangendo, no estudo, o conceito e avançando até a contabilização dessa provisão. No final desta unidade, você será capaz de: - quantificar o valor da perda estimada com provisão em créditos de liquidação duvidosa; - analisar os aspectos contábeis e fiscais da perda estimada com provisão em créditos de liquidação duvidosa; - contabilizar os fatos relacionados com a PECLD. Bons estudos! Explorando a temática Ao iniciar nosso estudo, é importante frisar que as provisões possuem como principal característica a estimativa, não podendo ser medidas com exatidão - ou seja, o seu valor é incerto. Portanto, precisamos lembrar que a constituição da provisão de um ativo ou de um passivo já possui o seu fato gerador contábil. Viceconti e Neves (2011) mencionam que as provisões podem ser retificadoras do ativo ou aumentativas do passivo. Iudícibus et al. (2010) esclarecem que o termo provisão utilizado nas contas retificadoras do ativo, em especial do ativo circulante da conta de clientes, é empregado inadequadamente, considerando o tratamento na atual Deliberação da CVM n. 594/2009. Assim, o manual de contabilidade societária passa a utilizar a seguinte expressão: Perdas Estimadas em Crédito de Liquidação Duvidosa (PECLD). Vale ressaltar que nem sempre o que na prática se denomina como provisão tem característica de incerteza. Diante disso, podemos tomar como exemplo o salário e as férias de funcionários, o 13.º salário, bem como os encargos sociais, os quais derivam do provisionamento de apropriação por competência. (FERREIRA, 2013). Simplificando e resumindo o exposto até aqui, que tal conferir dois dos 15 termos que, segundo o Jornal Contábil, todo professional relacionado à área contábil deveria conhecer? Termos contábeis para conhecer PECLD: trata-se das Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa, conta retificadora do ativo que mensura uma perda decorrente de clientes devedores. Perda: a perda é o consumo involuntário ou anormal, podendo converter-se em custo, caso esse consumo ocorra por características próprias da matéria-prima que está sendo trabalhada, ou despesa se for decorrente de um fator externo. (OS TERMOS..., 2017). Veja mais em: OS TERMOS contábeis que todo contador é obrigado a conhecer. Jornal Contábil, 2017. Disponível em: <https://www.jornalcontabil.com.br/os-termos-contabeis- que-todo-contador-e-obrigado-conhecer>. Acesso em: 21 fev. 2018. Vamos agora fixar o exposto na videoaula proposta, que tem por objetivo apresentar o conceito da PECLD. Videoaula: PECLD - Conceitos Contabilização Nesta seção, iremos focar a rotina contábil relacionada com a Perda Estimada em Crédito de Liquidação Duvidosa, analisando os seus aspectos contábeis e fiscais. Perda Estimada em Crédito de Liquidação Duvidosa: aspectos contábeis A perda por estimativa deve ser constituída por empresas que realizam vendas a prazo, observando que toda empresa que realiza vendas a prazo assume riscos de não recebimentos e esses não recebimentos podem se tornar perdas para uma organização. Portanto, no final de cada exercício social, a empresa deve verificar qual é o montante de clientes inadimplentes, o montante de créditos que foram protestados, o montante de créditos de clientes que estão em processo de recuperação judicial ou falência e fazer uma estimativa das perdas decorrentes dessas operações, pois, se existir a possibilidade de não receber essas vendas, estas se transformarão em Perda Estimada de Crédito de Liquidação Duvidosa (PECLD). Para que nós possamos compreender melhor o mecanismo da PECLD, segue um exemplo com a contabilização dos fatos. A Cia. Beta S.A. sabe que, ao final do exercício social, determinados créditos relacionados a alguns clientes, decorrentes de suas vendas operacionais, não serão honrados, porque alguns de seus clientes estão em concordata ou falência decretada ou passando por dificuldades financeiras. A perda é praticamente certa, embora seu valor não seja conhecido com precisão. Diante disso, a Cia. Beta pode fazer uma estimativa de perda dessas vendas e consistir uma provisão, que figurará no balanço patrimonial como conta redutora do ativo e sua contrapartida será uma despesa que transitará no demonstrativo de resultado da empresa. Essa provisão é denominada de Perda Estimada em Crédito de Liquidação Duvidosa (PECLD). Caso o saldo da conta de Duplicatas a Receber da Cia. Beta em 31 de dezembro de 2014 seja de R$ 250.000,00, dos quais 3% a companhia estima que não irá receber depois de esgotados todos os meios de cobrança, então deverá realizar a seguinte contabilização no final do exercício de 2014, pelo valor de R$ 7.500,00 = 3% dos 250.000,00 do saldo de Duplicatas a Receber): D - Despesas de PECLD R$ 7.500,00 C - (-) Provisão de PECLD R$ 7.500,00 E como representamos no Balanço Patrimonial essa conta? Representação no Balanço Patrimonial: Ativo Circulante R$ 242.500,00 - Duplicatas a Receber R$ 250.000,00 - (-) PECLD (R$ 7.500,00) É importante observarmos que isso não significa que a Cia. Beta irá perder definitivamente R$ 7.500,00. Então temos três possibilidades: 1ª) A Companhia Beta deixa efetivamente de receber exatamente os R$ 7.500,00 que estimou como perda. A contabilização dessa operação é a seguinte: D - (-) Provisão de PECLD R$ 7.500,00 C - Duplicatas a Receber R$ 7.500,00 2ª) A Companhia deixa efetivamente de receber um valor superior a R$ 7.500,00, por exemplo, R$ 9.000,00. D - (-) Provisão de PECLD R$ 7.500,00 D - Despesa de PECLD R$ 1.500,00 C - Duplicadas a Receber R$ 9.000,00 3ª) A Companhia deixa efetivamente de receber um valor inferior a R$ 7.500,00, por exemplo, R$ 3.500,00. D - (-) Provisão de PECLD R$ 7.500,00 C - Duplicatas a Receber R$ 3.500,00 C - Reversão da Provisão (DRE) R$ 4.000,00 Podemos observar que a reversão de provisão acaba gerando "outra receita" que transita pelo demonstrativo de resultado do exercício da empresa. De acordo com Iudícibus et al. (2010), as despesas oriundas dessa perda estimada em crédito de liquidação duvidosa não podem ser dedutíveis da base de cálculo do Imposto de Renda e da Contribuição Social. Diante disso, essas despesas devem ser adicionadas no Livro de Apuração do Lucro Real (Lalur) da empresa. Para definirmos o percentual a ser utilizado na constituição da PECLD, podemos utilizar a média do montante de clientes inadimplentes dos dois ou três últimos anos, relacionando a média de contas a receber. Notemos que o saldo da conta de duplicatas a receber e dos clientes inadimplentes do próprio ano não compõem a média (FERREIRA, 2013). Vamos exemplificar essa situação para que possamos ter uma melhor compreensão de como podemos definir o percentual de PECLD. Suponhamos que a Cia. Beta nos apresente o montante de contas a receber e o montante de clientes inadimplentes dos três últimos anos, conforme quadro a seguir: QUADRO 1 - Constituição do Percentual de PECLD Fonte: Elaborado pelo autor. Observemos que, em 2012, a Cia. Beta tinha um percentual de inadimplência de 9%. Já em 2013, 6% de inadimplência e, em 2014, 8%. A média ponderada é de 7,57%, e este é o percentual a ser utilizado para constituição da PECLD no final do ano de 2015. Uma curiosidade em relação às médias: provavelmente você já se perguntou como chegamos ao valor de 7,57%, pois, se somamos 9% + 6% + 8% e depois dividimos por três, o resultado é 7,67%, e não 7,57%. Pois bem, aconteceque, de fato, o cálculo pelo qual acabamos de chegar a 7,67% é denominado média aritmética simples, pois simplesmente somamos todos os elementos e dividimos pelo número de elementos (no caso, temos três elementos que são os percentuais). Já para o cálculo da PECLD, utilizamos uma média chamada de média ponderada, cálculo que leva em consideração o peso ponderado dos elementos. Vamos simplificar e explicar melhor. Necessitamos realizar um cálculo um pouco mais demorado. Primeiramente, vamos calcular o percentual de inadimplência de cada ano. Assim, para 2012, temos 9%, que era o total de clientes inadimplentes (R$ 9.000,00 dividido pelo total de contas a receber de 2012, que era de R$ 100.000,00, e multiplicado por 100, chegando-se a 9%). A mesma lógica usamos para os outros três anos, ou seja, sempre dividindo o valor total de clientes inadimplentes pelo valor total das contas a receber desse mesmo ano. Caso você tenha acompanhado esses cálculos, deve concordar que encontramos para os anos seguintes 6% e 8%. Como chegamos à média de 7,57%? Para isso, necessitamos dividir a média dos clientes inadimplentes pela média das contas a receber e multiplicar esse valor obtido por 100. Dessa forma, a média dos clientes inadimplentes é: (R$ 9.000,00 + R$ 8.400,00 + R$ 14.400,00) / 3 = R$ 10.600,00. Com a mesma lógica, encontramos a média das contas a receber. Assim, o percentual de inadimplência a ser utilizado é 7,57% (resultado de R$ 10.600,00 / R$ 140.000,00) x 100. Bem, neste momento podemos iniciar a nossa videoaula, que será útil para fixar o conteúdo já apresentado dos aspectos contábeis da PECLD e introduzir também o estudo dos seus aspectos fiscais. Videoaula: PECLD - Aspectos contábeis e fiscais Perda Estimada em Crédito de Liquidação Duvidosa: aspectos fiscais A PECLD relacionada aos aspectos contábeis independe dos aspectos da legislação fiscal. Diante disso temos as seguintes situações: 1) A constituição da perda estimada relacionada aos aspectos contábeis pode ser realizada de acordo com os riscos do não recebimento dos clientes no período em que os créditos foram originados, ou seja, pelo regime de competência. Por exemplo: A empresa Alfa S.A. solicita um empréstimo de R$ 100.000,00 ao Banco Segure Bem S.A. Diante dessa situação, o banco pede vários documentos da empresa Alfa, para avaliar os possíveis riscos do não recebimento dessa quantia. Após a avaliação de todas as informações apresentadas, o banco conclui que existe um risco de não recebimento de 4% em relação ao montante que será emprestado para a empresa e realiza uma provisão por estimativa de crédito de liquidação duvidosa. Notemos que o banco deva fazer uma atualização periódica desse risco. 2) Realização da perda estimada pela absorção dos créditos não recebidos quando a administração os considera incobráveis. Por exemplo: A empresa Alfa S.A. efetuou vendas para vários clientes, entre eles clientes inadimplentes, os quais apresentam dificuldades financeiras. Mediante essa situação, a empresa Alfa realiza a possibilidade do não recebimento e constitui a perda estimada de créditos de liquidação duvidosa. 3) Revisão das perdas estimadas quando constituídas em excesso ao valor efetivamente perdido. Quando uma empresa realiza a PECLD de aspectos contábeis, estima um percentual de perdas, o qual não necessariamente será perdido. Por exemplo: A empresa Alfa S.A., ao encerrar o exercício de 2014, realizou uma PECLD de 4%, que correspondia ao montante de R$ 13.000,00. Contudo, no decorrer de 2015, a empresa obteve o recebimento de R$ 7.000,00 do montante constituído de PECLD no final de exercício de 2014. Isso significa que a empresa deve realizar uma reversão de R$ 7.000,00 para outras receitas no demonstrativo de resultado. 4) A baixa de crédito como perda efetiva do período quando a estimativa for constituída em valor inferior ao das perdas efetivamente ocorridas. Nessa situação, a empresa realizou a estimativa do percentual de uma PECLD inferior ao que ela efetivamente perdeu. Por exemplo: A empresa Alfa S.A., ao encerrar o exercício de 2014, realizou uma PECLD de 4%, que correspondia ao montante de R$ 13.000,00. Entretanto, no decorrer de 2015, a empresa obteve uma perda efetiva de 5%, que corresponde ao montante de R$ 14.500,00, ou seja, a empresa teve uma perda maior do que a estimativa. A finalidade da constituição de uma PECLD é ajustar as contas a receber de uma empresa, e isso impacta diretamente na atualização dos ativos desta. Quando se trata da PECLD dos aspectos fiscais, essas despesas são dedutíveis da base de cálculo do Imposto de Renda e da Contribuição Social, porém, para que haja as dedutibilidades desses créditos, deve-se atentar para o disposto na seguinte base legal: art. 340 do RIR/1999 e art. 71, caput, §§ 1º a 3º e 5º a 11 da IN RFB n. 1.700/2017. Para os contratos inadimplidos a partir de 08/10/2014, poderão ser registrados como perda os créditos: II - sem garantia, de valor: a) até R$ 15.000,00 (quinze mil reais) por operação, vencidos há mais de 6 (seis) meses, independentemente de iniciados os procedimentos judiciais para o seu recebimento; b) acima de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) até R$ 100.000,00 (cem mil reais) por operação, vencidos há mais de 1 (um) ano, independentemente de iniciados os procedimentos judiciais para o seu recebimento, mantida a cobrança administrativa; e c) superior a R$ 100.000,00 (cem mil reais) por operação, vencidos há mais de 1 (um) ano, desde que iniciados e mantidos os procedimentos judiciais para o seu recebimento; III - com garantia, vencidos há mais de 2 (dois) anos, de valor: a) até R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) por operação, independentemente de iniciados os procedimentos judiciais para o seu recebimento ou o arresto das garantias; e b) superior a R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) por operação, desde que iniciados e mantidos os procedimentos judiciais para o seu recebimento ou o arresto das garantias. Base legal: art. 340 do RIR/1999 e art. 71, caput, §§ 1º a 3º e 5º a 11 da IN RFB n. 1.700/2017. Devemos notar que a PECLD do aspecto fiscal é realizada por documento fiscal individualizadamente; já a PECLD do aspecto contábil é realizada em um aspecto global de inadimplência. O nosso objetivo deve ser sempre conseguir correlacionar tudo o que foi aprendido com os conceitos anteriores; por isso, é importantíssimo voltar novamente ao início da disciplina para conseguir enxergar a relação entre as unidades de estudo da contabilidade. Especificamente em relação à temática da Perda Estimada em Créditos de Liquidação Duvidosa, a importância está dada pelo fato de que essa conta afeta diretamente a quantificação do ativo no balanço patrimonial, afetando também o patrimônio da entidade, além dos seus reflexos na demonstração de resultados. Conclusão da unidade de ensino Videoaula de finalização: PECLD
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