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Hegemonia estadounidense

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CRISE HEGEMÔNICA ESTADUNIDENSE
Marta Jacinto de Oliveira
William Kelba
RESUMO: A proposta deste ensaio é refletir sobre as crises pelas quais o Estados Unidos da América passou e as fases que vivenciou até se tornar a hegemonia que é atualmente. Assim com o passar das décadas essa configuração começou a ser estudada no sentido da hegemonia mundial. Inúmeras teses e autores acerca deste assunto foram escritos e tem sido de grande relevância para um melhor entendimento do poder americano em questão. Neste sentido o propósito central deste trabalho é fazer uma revisão de alguns autores que elaboraram estudos acerca da hegemonia norte-americana.
PALAVRAS-CHAVE: Hegemonia; Estados Unidos; Crise; Poder.
ABSTRACT: The purpose of this essay is to reflect on the crises in which the United States of America has passed and the phases that it has experienced until it becomes the hegemony that it is today. Thus with the passage of the decades this configuration began to be studied in the sense of world hegemony. Numerous theses and authors on this subject have been written and have been of great relevance for a better understanding of the American power in question. In this sense the central purpose of this work is to review some authors who have elaborated studies on the North American hegemony.
KEYWORDS: Hegemony; U.S; Crisis; Power.
INTRODUÇÃO
O objetivo do presente ensaio é refletir sobre as crises pelas quais o Estados Unidos da América passou e as fases que vivenciou até se tornar a hegemonia que é atualmente. Passando pela Primeira Guerra mundial, a grande crise da década de 1970 e o surgimento de diferentes centros de poder econômico colocaram em dúvida a capacidade de ordem do Ocidente prosseguir com a mesma configuração de poder que apresentava até o momento. A década de 1980 foi um marco, pois mostrou a retomada do poder americano, aliado a potências menores, seguindo no centro da política mundial. 
Com o fim da União Soviética, o capitalismo foi vencedor da Guerra Fria, que a liderança americana teria vencido o embate. Com o menor esforço para se manter no centro, como apoio financeiro a aliados, a manutenção de alianças e a conquista da simpatia de antagônicos para o centro do sistema. As mudanças ocorridas ao longo do século XX e no início do século XXI são influencias do colapso do sistema liderado pelos EUA. 
O QUE É HEGEMONIA? 
Nas análises históricas feitas por Wallerstein (1979) e, principalmente, por Arrighi (1996), as hegemonias têm uma dimensão temporal restrita. Seu surgimento é tipicamente precedido por guerras mundiais, e seu declínio está geralmente associado ao aumento da luta de classes no seu interior, à difusão de suas vantagens técnicas e, por fim, ao aumento da rivalidade entre as potências nacionais centrais e a uma disputa pela hegemonia. Há, historicamente, um processo cíclico de transição de hegemonias.
É preciso entender o que esta dupla de autores entende como hegemonia. Em “O Longo Século XX”, Arrighi busca discernir hegemonia de “dominação”. Para ele, há uma distinção clara de um para o outro, embora os dois conceitos envolvam algo maior: o poder. Arrighi entende que o poder da hegemonia é associado, à dominação, mas acaba sendo ampliado pelo exercício da liderança intelectual e moral. Para Arrighi (1994, p. 27): 
O conceito de ‘hegemonia mundial’ [...] refere-se especificamente à capacidade de um Estado exercer funções de liderança e governo sobre um sistema de nações soberanas. Em princípio, esse poder pode implicar apenas a gestão corriqueira desse sistema, tal como instituído num dado momento. Historicamente, entretanto, o governo de um sistema de Estados soberanos sempre implicou algum tipo de ação transformadora, que alterou fundamentalmente o modo de funcionamento do sistema.
HEGEMONIA NORTE-AMERICANA
A construção da hegemonia americana mostra um Estado decidido a ser o centro do sistema, com bons aliados e importantes contribuições para o mundo, pela economia, política, aparelho militar e uma política externa voltada a conseguir desenvolvimento. Esta política se aprofundou durante a Guerra Fria, enquanto os acordos que legitimavam as Relações entre seus aliados se tornavam mais fortes e a presença americana se expandia no mundo, tanto pelo medo da expansão comunista, quanto pela vontade em criar um “império sem colônias”.
Segundo Wallerstein (2004), em quatro diferentes momentos: a Guerra do Vietnã, as revoluções de 1968, a queda do Muro de Berlim e, mais recentemente, os ataques de 11 de setembro de 2001. O caso do Vietnã foi bastante emblemático porque os Estados Unidos se empenharam 100% militarmente e, mesmo assim, perderam. Wallerstein observa que a derrota não foi apenas militar, mas também representou um forte golpe na economia norte-americana. Isso porque o país gastou grande parte das suas reservas de ouro e incorreu numa escalada crescente de custos para sustentar o conflito, justamente num momento em que o Japão e a Europa Ocidental vinham numa escalada de retomada econômica.
A Primeira Guerra Mundial perdurou entre os anos 1914 á 1918 foi uma guerra grandiosa e violenta, em escala mundial, que abrangeu 17 países de cinco continentes, o resultado dos atritos permanentes provocados pelo imperialismo das grandes potências europeias. Em 1917, os Estados Unidos, que se mantinha até então fora da guerra diretamente, apesar de emprestar capitais e vender armas aos países da Entente (França, Inglaterra e Rússia), entrou no conflito e declarou guerra à Alemanha. O EUA principalmente quando observamos o empréstimo de recursos financeiros para a guerra na Europa. Até esse momento, o conflito se transformava em um evento bastante lucrativo e benéfico para a economia norte-americana. No âmbito político, os Estados Unidos esperavam que a nação pudesse se fortalecer ainda mais ao possivelmente assumir a condição de intermediadora dos tratados de paz.
A “armação” que garantiu o sucesso da “hegemonia mundial” dos Estados Unidos foi manter Alemanha, Japão, Itália e posteriormente, Taiwan, Coréia do Sul e alguns “tigres” do sudeste asiático como “convidados econômicos” e “protetorados militares”. Estes Estados nacionais foram sendo permanentemente “desarmados” e serviram como “cinturão de segurança” em torno da União Soviética, onde foram instaladas as principais bases norte-americanas fora de seu território. (FIORI, 2004, p.89)
A primeira vitória estadunidense durante a Segunda Guerra Mundial aconteceu na Batalha de Midway em 1942, derrotando a marinha japonesa. Em 1945 as tropas norte-americanas finalizaram a guerra utilizando pela primeira vez na história uma arma nuclear, a bomba atômica. Os EUA bombardearam as cidades de Hiroxima e Nagasáqui, deixando uma vasta destruição humana e natural com a radioatividade nuclear, selando uma nova fase na história da humanidade. O único rival dos EUA no século XX foi a União Soviética que nunca produziu mais que cerca de metade da produção nacional total dos Estados Unidos. Seus aliados nominais na Europa Oriental eram países ocupados e inquietos, assim como muitas de suas repúblicas constituintes. A União Soviética tinha o poder de resistir à hegemonia americana, mas não de desalojá-la. Tinha a bomba e um impressionante programa espacial.
Em 1970 o pais sofreu uma grande crise, que colocou a liderança à prova. A mudança do preço do petróleo não foi uma medida arbitrária e isolada, mas o estopim de uma crise no sistema, que já se mostrava incapaz de lidar com as demandas do sistema. A corrida armamentista com a URSS levou, pela primeira vez desde a década de 1940, os Estados Unidos a registrarem saldo negativo na balança comercial. O mercado estava saturado, e mesmo com a expansão capitalista para outras partes do globo, não havia demanda o suficiente para manter o padrão de vida do centro. A social democracia custava muito aos cofres públicos e, junto a guerras onerosas e pouca proteção ao mercado interno, as economias sofreram com déficits e dificuldades de manutenção de poder.
A balança comercialnegativa começou a afetar crença que investidores estrangeiros tinham em empresas americanas. As instituições públicas, com verbas destinadas à saúde, educação em todo o centro tornam-se problemas para a administração pública. Com menos investimentos nos setores privados, ocorreu o fechamento de vários postos de trabalho, e as receitas fiscais diminuíram. No mesmo passo, estes trabalhadores, agora desempregados, têm, por lei, garantias como o auxílio-desemprego, gerando mais ônus para o Estado (AYERBE, 2002, p. 151).
O mercado começou a enfrentar uma fase de declínio de um ciclo, onde não havia mais segurança, por parte dos investidores, em reinvestir o capital resultante de suas transações no comércio. Os investimentos saem destas atividades para encontrar refúgio da liquidez no sistema financeiro. A retirada destes investimentos tirou parte do dinamismo da inovação tecnológica, prejudicou postos de trabalho e dificultou o comércio, porém, a venda de divisas, por outro lado, tornou um lucrativo negócio, o que marca o início da fase financeira do ciclo de acumulação. (ARRIGHI, 2006, p. 108).
Arrighi (2008), entende que o desenvolvimento desigual, é a característica definidora da atuação hegemônica dos Estados Unidos, não foi um processo meramente espontâneo nascido de baixo para cima por meio das ações dos acumuladores capitalistas. Para ele, o referido desenvolvimento desigual foi tocado de cima para baixo de maneira consciente, sendo ativamente encorajado pelo Estado da guerra e do bem-estar social globalizante norte-americano.
A grande máquina diplomática que é os Estados Unidos parou de trabalhar com tanta força, e os Estados não recebiam mais os grandes bônus e créditos para manter a política atrelada aos interesses de Washington. A força das Instituições internacionais no final do século XX e no começo do século XXI não são mais reflexo de um meticuloso cálculo americano para manter a dominância mundial, mas o resultado do trabalho de vários Estados centrais para não perder suas posições no mundo e tentarem, apesar da incapacidade americana para lidar com os novos desafios globais, manterem alguma dignidade aos seus Estados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O Estados Unidos tem uma longa história, de altos e baixos, a queda da hegemonia americana, para a maior parte dos especialistas, tem grandes chances de acontecer. Este término, porém, não dá margem para afirmarmos com certeza o que se seguirá. Durante a década de 1970, muitos acreditavam que a Alemanha tomaria o lugar dos Estados Unidos. Nos anos 1990, o Japão parecia o maior desafio ao domínio americano. No começo do século XXI, a Europa, como um bloco unido, parecia voltar a ser o centro do mundo. Atualmente, o crescimento e o aumento do interesse chinês em todo o mundo parecem configurar uma nova cultura mundial.
Mas nada disso é certo, tudo se torna especulação. O grande potencial que o pais tem, como emergir de uma crise e se reerguer com um poderio maior, está visível através de fatos históricos aqui apresentados.
REFERÊNCIAS
ARRIGHI, Giovanni. O Longo Século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso tempo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
AYERBE, Luís Fernando. Estados Unidos e América Latina: a construção da hegemonia. São Paulo: Unesp, 2002.
FIORI, José Luís. Formação, Expansão e Limites do Poder Global. In: FIORI, J.L. (Org.). O Poder Americano. Petrópolis: Vozes, 2004.
WALLERSTEIN, Immanuel. O declínio do poder americano. Rio de Janeiro: Contraponto,2004.

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