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CC_CCJ00521 REDACAO JURIDICA

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TEORIA E PRÁTICA DA REDAÇÃO JURÍDICA - CCJ0052
Título
SEMANA 1
Descrição
O Direito caracteriza-se por ser um conjunto de regras que visam à organização da vida 
social e pacificação dos conflitos de interesse eventualmente existentes. Portanto, na área 
jurídica, fato social e norma são elementos indissociáveis.
É relevante que um advogado, ao produzir suas peças processuais, considere a 
necessidade de convencer seu auditório[1] da tese que pretende sustentar. Para tanto, esse 
profissional tem à sua disposição dois métodos por meio dos quais poderá desenvolver 
seu raciocínio e, assim, persuadir seu interlocutor. São eles o método dedutivo e o 
indutivo.
A dedução, própria do silogismo, é uma inferência que parte do universal para o 
particular. Considera-se que um raciocínio é dedutivo quando, a partir de determinadas 
afirmações (premissas) aceitas como verdadeiras, o advogado chega a uma conclusão 
lógica sobre uma dada questão discutida no processo.
Dito em outras palavras, a dedução parte de uma verdade geral (premissa maior), 
previamente aceita, para afirmações particulares (premissas menores). A aceitação da 
conclusão depende das premissas: se elas forem consideradas verdadeiras, a conclusão 
será também aceita. Por isso, toda informação da conclusão deve estar contida, pelo 
menos implicitamente, nas premissas.
Assim, considere o caso de uma mulher cujos dois filhos, gêmeos, recém-nascidos, 
morreram em uma maternidade, no Pará, por infecção hospitalar, onde, em apenas uma 
semana, mais 17 crianças faleceram pelo mesmo motivo. Qual o raciocínio que essa mãe 
ou o advogado que a representa - deveria seguir para chegar à conclusão de que faz jus à 
indenização por danos morais? 
Tabela 1:
PREMISSA MAIOR
(norma) 
PREMISSA MENOR
(fato)
CONCLUSÃO
(junção das premissas)
O Código de Defesa do Consumidor estabelece, em seu art. 14, que o fornecedor de 
serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos 
causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços?
Os dois filhos da autora e mais 17 crianças morreram em decorrência de infecção 
hospitalar.
 
A clínica tem o dever de indenizar a autora, mesmo que não tenha agido com culpa, 
porque houve defeito na prestação de seus serviços.
Você deve ter percebido que houve, no gráfico anterior, a subsunção do fato à norma, ou 
seja, buscaram-se os fatos que se "encaixassem" à norma "adequada" para defender a tese 
escolhida. Esse procedimento é dedutivo. Mas será que esse método é sempre o mais 
apropriado para redigir parágrafos argumentativos? Veremos que não.
Suponha que um advogado pretendesse sustentar, em juízo, no ano de 2002, que seu 
cliente - com 75 anos de idade e com grau de escolaridade elevado - foi ludibriado ao 
assinar um contrato de concessão de crédito em um banco que faz propagandas na 
televisão, oferecendo altas taxas de juros, com facilidade de crédito para os aposentados. 
O advogado pretende conseguir a anulação do contrato, sem o pagamento dos juros 
pactuados no momento de sua assinatura.
Por que deve o negócio jurídico ser desfeito? Que tipo de vício foi observado? A 
proposta argumentativa do advogado é sustentar que, em decorrência da idade do 
contratante, ele era mais vulnerável que outra pessoa mais jovem. Lembre que o Estatuto 
do idoso[2] somente foi sancionado pelo Presidente da República em outubro de 2003[3].
A argumentação seguiria o seguinte raciocínio:
Tabela 2:
O Estado protege de maneira peculiar as mulheres nas relações de trabalho[4] porque há 
situações específicas em que ela está em desvantagem em relação aos homens.
 O Estado protege, com maiores garantias, as crianças e os adolescentes[5] porque são 
mais fracos que os adultos.
Então...
É papel do Estado proteger os mais fracos, tal como é o caso dos idosos.
O Estado protege os consumidores[6]nas relações de consumo porque há situações 
específicas em que eles estão em desvantagem relativamente às empresas.
QUESTÃO
Agora que você já compreendeu o que caracteriza a dedução e a indução, leia o caso 
concreto que se segue e produza um texto argumentativo por indução, de cerca de 
quinze linhas, que se posicione sobre se houve ou não publicidade enganosa.
caso concreto
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro ajuizou ação civil pública em face de 
Bebidas S/A, com objetivo de impedir a comercialização dos seguintes produtos, sem a 
adequação das informações em seus rótulos:
1) Cerveja com a mensagem "Sem Álcool", já que contém álcool em sua composição, o 
que viola a informação adequada;
2) Bebida energética denominada Sorte com a mensagem "Beba Sorte e pratique 
Esportes!", por se tratar de propaganda abusiva.
3) Caipirinha em lata, destinada ao mercado exterior, com a mensagem "A Melhor do 
Brasil", por se tratar de propaganda enganosa.
Citada, a ré oferece contestação alegando, preliminarmente, que o MP não possui 
legitimidade para o pleito, por se tratar de direitos disponíveis, e que, caso os 
consumidores se sintam lesados, devem ajuizar ações individuais. No mérito, argumenta, 
em síntese, que:
1) a legislação vigente (art. 1.º e 2.º da Lei n.º 8.918/94 e 38, III, "a", do Decreto n.º 
6.871/2009), diz expressamente que não é obrigatória a declaração, no rótulo, do 
conteúdo alcoólico para definir a cerveja em que o conteúdo de álcool se apresente em 
patamar igual ou inferior a 0,5% do volume e, portanto, não a impede de fazer constar do 
rótulo da cerveja a expressão "sem álcool", mesmo porque esta é a expressão empregada 
pela legislação de regência, sendo que a cerveja comercializada possui 0,30 g/100g e 
0,37g/100g de álcool em sua composição;
2) o nome e slogan da bebida energética é uma estratégia de propaganda para difundir sua 
ideologia de que a bebida energética melhora o desempenho nos esportes e, 
consequentemente, captar clientes;
3) sua caipirinha industrializada foi considerada a melhor por pesquisa de satisfação feita 
pela própria ré em diversos Estados do Brasil. Além disso, a ré considera seu produto o 
melhor do Brasil, sendo inegável que gosto não se discute.
Se você fosse o juiz da causa, como decidiria?
Para facilitar sua compreensão sobre a discussão, leia as fontes a seguir:
"Não se confundem publicidade e propaganda, embora, no dia-a-dia do mercado, os dois 
termos sejam utilizados um pelo outro. A publicidade tem um objetivo comercial, 
enquanto a propaganda visa um fim ideológico, religioso, filosófico, político econômico 
ou social. Fora isso, a publicidade, além de paga, identifica seu patrocinador, o que nem 
sempre ocorre com a propaganda." (BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcelos. 
Código de Defesa do Consumidor Comentado pelos autores do Anteprojeto. 7. ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 2001, p. 270).
Art. 6º do CDC: São direitos básicos do consumidor:
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com 
especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem 
como sobre os riscos que apresentem;
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos 
ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento 
de produtos e serviços;
Art. 30 do CDC: Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por 
qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou 
apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o 
contrato que vier a ser celebrado.
[1] Sobre esse assunto, leia FETZNER, Néli Luiza Cavalieri; TAVARES Jr., Nelson 
Carlos; VALVERDE, Alda da Graça Marques. Lições de argumentação jurídica: da 
teoria à prática. Rio de Janeiro: Forense, 2012.
[2] Estudo interdisciplinar: após sete anos tramitando no Congresso, o Estatuto doIdoso foi aprovado em setembro de 2003 e sancionado pelo presidente da República no 
mês seguinte, ampliando os direitos dos cidadãos com idade acima de 60 anos. Mais 
abrangente que a Política Nacional do Idoso, lei de 1994 que dava garantias à terceira 
idade, o estatuto impõe penas severas para quem desrespeitar ou abandonar cidadãos da 
terceira idade. Disponível em: <http://www.serasa.com.br/guiaidoso/20.htm> Acesso em: 
03 fev. 2008.
[3] Estudo interdisciplinar: leia sobre a questão da aplicação da lei no tempo.
[4] Estudo interdisciplinar: leia, a esse respeito, o artigo 7º da Constituição e seus 
incisos; a CLT também reúne dispositivos no mesmo sentido.
[5] Estudo interdisciplinar: a melhor fonte para verificar essa afirmação é o Estatuto da 
Criança e do Adolescente (ECA).
[6] Estudo interdisciplinar: o Código de Defesa de Consumidor brasileiro ainda é visto 
por muitos como a legislação mais completa e bem produzida, no mundo, para tutelar os 
interesses do consumidor e evitar os abusos dos prestadores de serviços e fornecedores de 
produtos.
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