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BIOÉTICA E FORMAÇÃO EM SAÚDE AULA 1 Prof. João Luiz Coelho Ribas CONVERSA INICIAL Em virtude do rápido desenvolvimento científico e tecnológico vivenciados nos dias de hoje, houve muitas implementações na qualidade de vida e na condição humana. No entanto, esse desenvolvimento que promoveu melhorias, provocou retrocessos, em virtude de utilização inadequada, o que fere os princípios de uma sociedade que ainda não apresentava estrutura para tais eventos. Diante disso, foi necessária uma discussão de diversos tópicos que, inevitavelmente, poderiam de alguma forma afetar a vida como um todo. Por essas razões, surge na década de 1970 o termo Bioética, que a partir de então, passou a ser utilizado por pesquisadores preocupados com o desenvolvimento das ciências na sua totalidade e com a dimensão que esse desenvolvimento viria a atingir. Esta aula tem então como objetivo mostrar a definição de bioética e contextualizar a sua importância no dia a dia do cliente e de sua saúde. TEMA 1 – MORAL, ÉTICA E LEI Pensar em nossa própria maneira de ser implica em refletir sobre o que somos, do que fazemos parte e especialmente em quais são as causas que influenciam as consequências sobre nossas situações na vida cotidiana. Pensar é refletir, consiste, portanto, em desenvolvermos a capacidade de análise, de julgarmos o que é bom e útil para nós, de tomar decisões e de especialmente agir. Ação esta que exprime verdadeiramente uma ação consciente. Assim, em virtude da maneira de pensar e agir de uma humanidade ao influenciar toda uma história de evolução, foram necessários, com o passar do tempo, estudos que buscavam uma melhor maneira de agir, especialmente quando tratamos de um grupo. Pois, uma coisa é o que eu penso a respeito de mim e que pode influenciar a minha história, outra é o que eu ou um grupo de pessoas pensamos que pode influenciar a história de outras pessoas e até mesmo de um grande grupo. Sendo assim, a ética se dedica a exatamente isso, a buscar a melhor maneira de agir frente a um comportamento ou situação, propondo que nossas ações sejam guiadas por princípios e, principalmente, por uma reflexão contínua (Ribas, 2017). A partir disso surgem os conceitos de moral, ética e lei, de acordo com Ferreira, 2004. Moral: do latim morale, “relativo a costumes”. Conceituado como conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para um grupo ou pessoa determinada. Ética: estuda fatos referentes à conduta humana, suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal a um determinado tempo e sociedade. Lei: regra de direito ditada por uma autoridade estatal (elaborada e votada pelo poder legislativo) e tornando-se obrigatória para manter a ordem e o desenvolvimento em uma determinada comunidade. TEMA 2 – CONCEITUANDO BIOÉTICA Para mostrar o conceito de Bioética, vale mostrar uma definição de acordo com Ribas (2017) A bioética é o estudo da moralidade da conduta humana, relacionando- se a tudo onde existe vida, compreendendo desde o momento de seu surgimento até a sua finalização. Ela alberga não somente os seres humanos, mas todo ambiente ou natureza que possua vida, seja ela humana ou não. Envolve leis, direitos e deveres nos atendimentos, pesquisas e serviços em saúde. É de fundamental importância destacarmos que a bioética inclui a chamada ética médica, sendo esta um capítulo da bioética. No entanto, a bioética não diz respeito tão somente às ciências médicas, mas a todas as profissões, especialmente, é claro, as que compõem o ramo da saúde. Também cabe lembrar que ela não é restrita a esses profissionais, mas sim é de interesse de toda população, pois ela quer olhar para a vida e para tudo, para todas as áreas de conhecimento que de alguma forma tenham implicação sobre a vida de todos nós, entre elas profissões como juristas, filósofos, sociólogos, psicólogos, teólogos, economistas, entre outros. Sendo assim, o verdadeiro enfoque da Bioética é a interdisciplinaridade, ou seja, o pensar diferente em um trabalho multidisciplinar, o de integração entre áreas e disciplinas. Devido a essa complexidade de aspectos que a compõe, a bioética não é um ramo simples de definição e, por isso, vários pesquisadores tentam conceituá-la das mais diversas formas, entre eles encontramos: Potter, Eu proponho o termo Bioética como forma de enfatizar os dois componentes mais importantes para se atingir uma nova sabedoria, que é tão desesperadamente necessária: conhecimento biológico e valores humanos. (Potter, 1971) Reich, Estudo sistemático da dimensão moral - incluindo a visão, decisão, conduta e normas morais - das ciências da vida e dos cuidados à saúde, empregando uma variedade de metodologias éticas em um contexto interdisciplinar. (Reich, 2004) Ramos, A bioética como parte da ética, ramo da filosofia que enfoca as questões referentes à vida humana e portanto, à saúde. Ambiciona contribuir para um desenvolvimento controlado das ciências da vida, garantindo o respeito da pessoa humana e dos valores democráticos essenciais. A bioética como objetivo de estudo, também trata da morte, que é inerente à vida. (Ramos, 2007) De qualquer forma, é importante mencionar que a definição do termo e a sua utilização suscita uma discussão, com base em Ribas (2017): até que ponto nós, seres humanos, temos o direito de manipular, em qualquer fase da vida, outros seres humanos, animas e plantas de forma muitas vezes grosseira, incrédula e desrespeitando seus direitos e escolhas. TEMA 3 – ÉTICA E A RESPONSABILIDADE A ética pode ser analisada sob três aspectos fundamentais: a responsabilidade individual, pública e coletiva. A ética da responsabilidade individual refere-se ao papel e compromisso que cada um de nós tem de nós mesmos e de nossos semelhantes, moldadas por ações individuais, coletivas, públicas ou privadas. A ética da responsabilidade pública diz respeito essencialmente ao papel e aos deveres do Estado não só em relação a temas como a cidadania e direitos humanos, mas em cumprimento a resoluções que versam diretamente e especialmente sobre saúde e vida. E por fim, mas não menos importante, a ética da responsabilidade planetária diz respeito à preservação dos ecossistemas e da natureza como um todo. Responsabilidade individual, do Estado enquanto política de governo e de todas as nações mundiais. Enfim, a essência que Garrafa, 2005 quer nos passar é da liberdade, porém com compromisso e responsabilidade em todas as instâncias, sendo individual ou coletiva, sem deixar de lado a importância da responsabilidade dos Estados e Nações que compõem todo o modelo de liberdade, compromisso e responsabilidade que conhecemos hoje. E, em meio a toda essa discussão de moral, ética e leis, e com o rápido desenvolvimento do método científico e consequentemente das ciências, e as tentativas de provar o que até então era empiricamente observado, fez surgir discussões mais acaloradas a respeito da vida e das consequências de quando a manipulamos por meio de experimentação. TEMA 4 – O MODELO DA BIOÉTICA: O MODELO DA COMPLEXIDADE O modelo atual da bioética é baseado em um modelo de complexidade que leva em consideração vários aspectos para a sua formação e tomada de decisão. Entre eles podemos citar: Aspectos culturais Aspectos políticos Aspectos psicológicos Aspectos educacionais Aspectos científicos Aspectos econômicos Aspectos espirituais Aspectos profissionais Aspectos assistenciais Aspectos biológicos Aspectos sociais Aspectos morais Aspectos legais TEMA 5 – OS DESAFIOS DA BIOÉTICA Os princípios da bioética são, ou pelo menos deveriam ser, aplicados rotineiramente em contextos específicos, caracterizadores do emprego de suas discussões. Eles têm sua função exercida, em última análise, na avaliação de parâmetros éticos em pesquisas e tecnologias originadas pelas Ciências da Saúde. Sobre esse tema, de acordo com Ribas (2017) é válido lembrar que outra grande função desses princípios consiste em auxiliar os profissionais da saúde na tomada de suas decisões éticas, desde situações comuns a essa profissão, como diante de situações nas quais a análise criteriosa desses princípios é fundamental para uma decisão acertada. Em relação a essas situações e à postura do profissional de bioética, vale citar: Relação profissional de saúde-paciente. Experiências e pesquisas envolvendo seres humanos. Análises éticas envolvendo fertilização. Clonagem. Análises éticas envolvendo a morte tranquila ou eutanásia. Análises éticas envolvendo técnicas de prolongamento da vida (distanásia) por meios artificiais. Transplantes de órgãos e tecidos. Doação de órgãos. O transexualismo. O aborto. Intervenção sobre o patrimônio genético. Engenharia genética. Repercussão do emprego de manipulação da personalidade. Intervenções sobre o cérebro. Bioterrorismo. Avaliação ética das técnicas genéticas e sua repercussão no mundo animal e vegetal. Análise de normas de biossegurança utilizadas atualmente. Pesquisas relacionadas à vida. Integração interdisciplinar nas avaliações éticas que afetam toda uma sociedade. NA PRÁTICA Um grande desafio da bioética é a relação profissional com o paciente usuário do sistema de saúde. Sendo assim e aplicando os preceitos da bioética, imagine a seguinte situação: você está de plantão em uma das noites mais agitadas em um hospital público de sua região. Várias pessoas estão à espera de atendimento, por falta de estrutura para atender altas demandas, por falta de profissionais. Todos que estão de plantão estão fazendo o possível para conseguir atender a todos, no entanto, quanto mais vocês atendem, mais pessoas chegam em diferentes estágios de gravidade. Contudo, entre esses inúmeros pacientes em situação de emergência, chegou um com uma forte dor de estômago, de gravidade relativamente baixa, todavia, ele é seu irmão e, apesar de você saber que a gravidade era baixa, ele pediu que você desse a ele preferência de atendimento (o passasse na frente) diante de todos aqueles pacientes que esperavam há horas para ser atendidos. Muitos deles com problemas de gravidade superiores ao que ele apresentava. Você, ciente dos princípios da bioética, tomaria qual decisão? FINALIZANDO As discussões a respeito da bioética e de sua temática na sociedade resumidamente enfocam duas questões essenciais: 1. O que é necessário evitar? 2. O que é necessário promover e apoiar? E a partir do momento em que conseguimos associar as nossas respostas a essas perguntas, à multidisciplinaridade, teremos uma bioética real, que represente de um lado todos os anseios de uma sociedade e do outro todas as expectativas dos profissionais envolvidos com tais questões. REFERÊNCIAS BEAUCHAMP, T. L.; CHILDRESS, J. F. Princípios de ética biomédica. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2002. COHEN, C.; FERRAZ, F. C. Direito humano ou ética das relações? In: Bioética. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2002. CONEP. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Disponível em <http://conselho.saúde.gov.br>. Acesso em: 28 nov. 2017. FERREIRA, A. B. H. Dicionário Eletrônico. Curitiba: Positivo, 2004 GARRAFA, V. Introdução à Bioética. Revista do Hospital Universitário UFMA, São Luís, v. 6, n. 2, p. 9-13, 2005. GUILHEM, D.; DINIZ, D. A ética na pesquisa no Brasil. In: DINIZ, D.; GUILHEM, D.; SCHUKLENK, U. Ética na pesquisa. Brasília: Letras Livres/UNB, 2005. LIMA, W. M. Bioética e comitês de ética. CONEP, 2004. REICH, S. T. Introduction. Encyclopedia of Bioethics. 3. ed. 2004. POTTER, V. R. Bioethics: Bridge to the future. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1971. RAMOS, D, L, P.; CRIVELLO Jr., O. Fundamento da odontologia: Bioética e ética profissional. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. RIBAS, J. L. Bioética. Disponível em: <https://pt.scribd.com/document/132283380/Aula-1-Bioetica-Prof-Joao-Luiz- Ribas>. Acesso em: 28 nov. 2017. SIQUEIRA, J. E.; ZOBOLI, E.; KIPPER, D. J. Bioética clínica. São Paulo: Gaia, 2008.
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