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RECURSO EXTRAORDINÁRIO

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UNIVERSIDADE FEEVALE
THAÍS CARINE MEYER
Novo Hamburgo, 23 de maio de 2018.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONALFEDERAL DA 1ª REGIÃO.
APELAÇÃO Nº_______________	
JOSÉ CARLOS MIRANDA, já qualificado nos autos da Apelação em epígrafe, vem, respeitosamente perante a Vossa Excelência, interporRECURSO EXTRAORDINÁRIOcom cabimento no artigo 102, inciso III, alínea “a”, da Constituição Federal de 1988, em face da Universidade de Brasília, representado por seu Reitor, ambos igualmente qualificados, pelos fatos e fundamentos expostos a seguir:
	I – DOS FATOS:
	
José Carlos Miranda prestou vestibular para ingresso nocurso de Direito da Universidade de Brasília, obtendo a aprovação.
De posse de todos os documentos exigidos, dirigiu-se até a instituição de ensino para realização da sua matrícula e fora surpreendido com a cobrança de taxa de matrícula, em razão da sua excelente condição financeira. Foi informadoaJosé que a taxa de matrícula seria destinada a um fundo de assistência aos alunos de baixa renda da referida universidade.
Em razão disso, José negou-se a pagar a taxa de matrícula e impetrou Mandado de Segurança perante a Seção Judiciária do Distrito Federal, com fulcro no artigo 206, inciso IV da Constituição Federal de 1988. Em sede liminar, obteve êxito em seu pleito, autorizando a sua matrícula com a isenção da referida taxa.
A liminar foi confirmada peloJuízo da 1ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal, que entendeu inconstitucional a cobrança da taxa de matrícula por afrontar o artigo 206, inciso IV da Constituição Federal de 1988.
A universidade interpôs recurso de Apelação, com fulcro nos arts. 205, 206, 208, 212 da Constituição Federal de 1988, o qual foi provido por unanimidade pela 6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que entendeu ser constitucional a cobrança de matrícula comfundamentação de que a gratuidade do ensinorestringe-se ao ensino fundamental.
	
	II – DOS FUNDAMENTOS:
O presente recurso extraordinário insurge-se contra a decisão da6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região,que entendeu ser constitucional a cobrança de matrícula com fundamentação deque a gratuidade do ensino restringe-se ao ensino fundamental.
A decisão em questão utiliza como argumento que a gratuidade do ensino restringe-se ao ensino fundamental, afrontando a Constituição Federal que proclama o princípio da gratuidade do ensino público em seu artigo 206, inciso IV.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e osaber;
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos,na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII - garantia de padrão de qualidade.
VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
	A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em seu artigo 3º, inciso VI, reproduz exatamente o que diz no texto constitucional:
LDBE - Lei nº 9.394 de 20 de Dezembro de 1996
Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar,pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
VII - valorização do profissional da educação escolar;
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino;
	Assim sendo, dentre os princípios elencados no art.206 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação destaca-se, o princípio da gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais, sendo vedada a cobrança de quaisquer taxas para que seja preservado o direito de ensino ao acadêmico.
Resta cristalino, observando o artigo 206, inciso IV da Constituição Federal que a decisão, aqui contestada afrontou a Constituição Federal quando entendeu ser constitucional a cobrança da taxa de matrícula na Universidade de Brasília. Ademais, oportuno também citar o artigo 208 da Constituição Federal1Art. 208, CF/88
O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita paratodos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela Emenda Constitucionalnº 14, de 1996)
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todasas etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
, que confere ao Estado o dever de conferir aos cidadãoso acesso ao ensino superior, da pré- escola até a universidade de forma gratuita pelos estabelecimentos de ensino públicos. Desta forma, com fundamento no princípio da gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais, não é conveniente e tampoucoadmissível a criação de obstáculos de natureza financeira pelas universidades públicas, como forma de preservar alunos carentes, pois a própria Constituição Federal, assegura às universidades públicas os recursos necessários para o desenvolvimento de suasatividades.Logo, cumpre lembrar que a garantia ao ensino não se limita ao ensino fundamental obrigatório, e sim deve atingir todos os níveis de ensino.
Desta forma, a cobrança de taxas de matrícula, mensalidades ou pela prestação de serviços vinculados ao ensino é flagrantemente inconstitucional, por violar o artigo 206, inciso IV da CF/88 e ilegal por afrontar o que diz o artigo 3, inciso VI da Lei nº 9.394/96.
Não é outro o entendimento da jurisprudência pátria, leia:
Ementa: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL. COBRANÇA DE MENSALIDADE EM CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU POR INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO. CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO. POSSIBILIDADE. OFENSA AO PRINCÍPIO DA GRATUIDADE DO ENSINO EM ESTABALECIMENTOS OFICIAIS. INOCORRÊNCIA.1. A garantia constitucional da gratuidade de ensino não obsta a cobrança, por universidades públicas, de mensalidade em curso de especialização. 2. Recurso extraordinário a que se dáprovimento.
(RE 597854, Relator(a):  Min. EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 26/04/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-214 DIVULG 20-09-2017 PUBLIC 21-09-2017)
EMENTA: ADMINISTRATIVO. ENSINO SUPERIOR. ESTABELECIMENTO OFICIAL. COBRANÇA DE TAXA DE MATRÍCULA. INADMISSIBILIDADE. EXAÇÃO JULGADA INCONSTITUCIONAL.I- A cobrança de matrícula como requisito para que o estudante possa cursar universidade federal viola o art. 206, IV, da Constituição.II - Embora configure ato burocrático, a matrícula constitui formalidade essencial paraque o aluno tenha acesso à educação superior. III - As disposições normativas que integram a Seção I, do Capítulo III, do Título VIII, da Carta Magna devem ser interpretadas à dos princípios explicitados no art. 205, que configuram o núcleo axiológico quenorteia o sistema de ensino brasileiro.
(RE 500171, Relator(a):  Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 13/08/2008, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-202 DIVULG 23-10-2008 PUBLIC 24-10-2008 EMENT VOL-02338-05 PP-01014 LEXSTF v. 30, n. 360, 2008, p. 174-198)
Ainda, cabe ressaltar que, a aprovação da súmula vinculante nº 122A cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas viola o disposto no art. 206, IV, da Constituição Federal.
pelo Supremo Tribunal Federal (STF) impede que osjuízes de instâncias inferiores decidam de maneira diferente do STF. No caso concreto além de violar dispositivo constitucional o magistrado ainda desobedeceu a súmula vinculante nº12.
A doutrina tem o mesmo entendimento da Carta Magna e das jurisprudências, vejamos:
A subdivisão em níveis da espécie de conhecimento a ser transmitido consta, respectivamente, nos incisos I, II, IV e V do art. 208, da Constituição Federal de 1988, qual seja: ensino fundamental, ensino médio, ensino pré-escolar, e ensino de nível mais elevado. Por sua vez, a Lei nº 9.394/96, intitulada Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, unificou o ensino pré-escolar - por ela denominado infantil -, o fundamental e o médio no ensino básico, e denominou o de nível mais elevado como ensino superior (art. 21). O ensino superior subdivide-se em sequencial por área de saber, graduação, pós-graduação e extensão, sendo que a pós-graduação compreende os cursos de especialização, aperfeiçoamento, mestrado e doutorado (art. 44)3SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à constituição. 6. ed. atual. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 793-794.
.
Registradas as considerações gerais sobre o tema, podemos perceber quea regra estabelecida pela Constituição Federal de 1988, pela Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional e súmula vinculante nº 12 é de que o direito à educação se estende a todos, indistintamente, assim como o serviço público de saúde, de forma gratuita, de acordo com a capacidade de cada aluno, em estabelecimentos públicos oficiais, emtodosos níveis de ensino, sendo ainda dever de o Estado arcar com as custas oriundas da educação.
	II. a) DA REPERCUSSÃO GERAL:
	Preliminarmente, atendendo aos preceitos daLei nº 11.418, de 19 de dezembro de2006,o ora Recorrente vem demonstrar que a questão discutida nos autos possui repercussão geral apta aensejar a admissibilidade do apelo extraordinário por este colendo Supremo Tribunal Federal.A própria lei define “repercussão geral” afirmando ser “questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa” (§ 1º do mencionado art. 543-A4O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso extraordinário, quando a questão constitucional nele versada não oferecer repercussão geral, nos termos deste artigo.
do Código de Processo Civil).
Com relação ao caso sub judice, aplica-se o § 3° da mencionada norma do CPC, que assim dispõe: “Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar decisão contrária àsúmula ou jurisprudência dominante do Tribunal” – grifo meu.
O acórdão recorrido contrariou entendimento consagrado pelo Pleno deste Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento do Recurso Extraordinário nº500171 que deu origem à súmula vinculante nº 12, o que por certo possui relevância jurídica que transcende aos interesses meramente subjetivos do Recorrente.
Assim, especialmente por ter contrariado precedente do Pleno deste Supremo Tribunal Federal, está demonstrada a existência derepercussão geral, nos termos do art. 543-A, especialmente seu § 3°, do Código de Processo Civil.
	III – DAS RAZÕES DO PEDIDO:
À luz dos dispositivos acima mencionados, verifica-se que o direito à educação, erigido pela Constituição como direitofundamental, deve ser concebido da maneira mais ampla possível, devendo abranger não apenas o ensino em sentido estrito.
Ficou evidente, tendo em vista toda a argumentação já levantada, a extrema necessidade da desconstituição da decisão apelada.Isto porque, à luz do art. 206, IV da Constituição Federal, é cabível o presente RECURSO EXTRAORDINÁRIO como meio de alcançar o fim desejado, qual seja, a reforma da decisão recorrida para que sejadeclarada a inconstitucionalidade da cobrança de taxa de matrícula em instituições de ensino público, nos termos do artigo 206, inciso IV da Constituição Federal de 1988.
	IV – DOS PEDIDOS:
Diante do exposto, requer:
a) A juntada do comprovante de pagamento da guia de custas recursais comprovando opreparo;
b) A intimação do recorrido, para querendo, apresentar contrarrazões ao presente recurso;
c) A remessa dos autos ao Supremo Tribunal de Federal para julgamento do presente recurso;
d) Seja declarada a inconstitucionalidade da cobrança de taxa de matrícula eminstituições de ensino público, nos termos do artigo 206, inciso IV da Constituição Federal de 1988.
e) A condenação da Universidade de Brasília para que não realize a cobrança de taxa de matrícula, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00.
f) A condenaçãoda Universidade Federal de Brasília ao ressarcimento dos valores cobrados para taxa de matrícula para o aluno José Carlos Miranda;
Nesses termos, pede deferimento.
Local, data.
XXXXXXXXXX
OAB/XX nº XXX

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