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Fichamento- “Ciência e Tecnologia no Brasil: o processo decisório e a comunidade de pesquisa”

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Fichamento- “Ciência e Tecnologia no Brasil: o processo decisório e a comunidade de pesquisa”
O livro “Ciência e Tecnologia no Brasil: o processo decisório e a comunidade de pesquisa” foi publicado em 2007 pela editora UNICAMP. O autor, Renato Dagnino, atua como Professor Titular no Departamento de Política Científica e Tecnológica da UNICAMP e Professor Convidado em várias universidades latino-americana, publicou mais de 60 artigos em periódicos especializados, e quase 40 capítulos e livros nas áreas de Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia e de Política Científica e Tecnológica. 
No livro em questão, Dagnino busca, utilizando o método científico, analisar a Ciência e Tecnologia (C&T) como um problema social. A obra demonstra a politização da C&T, diferente da ideia geralmente disseminada de que a ciência e a tecnologia são isentas de valores sociais. É realizada uma análise crítica sobre os ambientes de C&T no Brasil e outros países da América Latina, realizando comparações com o Complexo Público de Ensino Superior e Pesquisa (CPESP) em países desenvolvidos.
No Brasil e em geral na América Latina, os professores pesquisadores no âmbito do CPESP possuem papel dominante na elaboração da Política Científica e Tecnológica (PCT). A PCT é responsável por compreender as relações que se estabelecem no interior das universidades e entender os obstáculos que se interpõem à plena utilização do conhecimento produzido em ambientes de pesquisa. Em sua obra, Dagnino destaca diversos autores latino-americanos, que desde 1960 buscam justamente entender tais obstáculos. 
A preocupação dos fundadores do Pensamento Latino-Americano sobre Ciência e Tecnologia (PLACTS) teve como foco os obstáculos estruturais que impedem a utilização do conhecimento, como a escassa demanda por conhecimento localmente produzido, devido à condição periférica, dependente, e culturalmente mimética da sociedade latino-americana. Isso pode ser exemplificado por um trecho de um artigo de Dagnino (2008):
“Seu argumento central [do PLACTS] nesse debate era de que o justo apoio que demandava a comunidade de pesquisa não poderia ocorrer sem que fosse adotado pelo país um "Projeto Nacional" que contivesse um desafio científico-tecnológico importante. Do contrário, uma vez que a condição periférica do país implicava uma escassa demanda social por conhecimento científico e tecnológico, a capacitação local tenderia a se tornar redundante, economicamente proibitiva e, até mesmo, socialmente inaceitável”.
Dagnino destaca em seu livro, que esses obstáculos estruturais são opostos aos denominados institucionais. O foco de sua obra é o modo como a comunidade de pesquisa compreende a C&T e como atua no processo decisório da PCT, que constituem obstáculos institucionais.
Pesquisadores contemporâneos que seguem linhas parecidas com as do PLACTS, mesmo ressaltando a importância de se considerar os obstáculos estruturais, não abordam tanto esses aspectos. No entanto, autores que fazem parte da maioria dos pesquisadores latino-americanos, procuram compreender nossa realidade a partir das mesmas tendências de transformação observadas no norte.
Em relação a tais transformações, o autor enfatiza a mudança de visões em relação à comunidade cientifica, do modo 1 para o 2. Essa transformação é definida por Gibbons et al. (1994) e Nowotny et al. (2001) da seguinte maneira: 
“[...] a forma como se apresenta a relação entre ciência e política no Modo 1 e no Modo 2 é muito distinta. Ao deixar de ser vista como orientada pela curiosidade e pelo desinteresse, e sim por necessidades estratégicas associadas ao desenvolvimento de redes, e com interesses bem definidos, a ciência adquire um valor político muito distinto. O método científico, entendido como “o” caminho para a busca da verdade, perde grande parte de sua importância. Várias metodologias são utilizadas na busca do conhecimento, e a escolha entre elas passa a ser realizada essencialmente em função de considerações estratégicas e de utilidade”.
Ao analisar como foi realizada a constituição da comunidade de pesquisa e a situação vigente da CPESP, Castro (1989) aponta que a disponibilidade de fundos para pesquisas nos anos 70 gerou a definição da comunidade de pesquisa brasileira de acordo com interesses individuais, influenciados por agendas internacionais. Consequentemente, as linhas de pesquisa que deveriam ser implantadas de acordo com a demanda do país não foram. Isso pode ser exemplificado pelo fato de que o processo de conformação do ethos científico de outros países demorou décadas, enquanto no Brasil, durou poucos anos, o que gerou uma hipertrofia dos aspectos de diferenciação em relação ao exterior.
Um ponto interessante de reflexão levantado ao se comparar pesquisadores em universidades públicas de países avançados e da América Latina, é de que nos países avançados (e em alguns asiáticos) existe uma ampla participação desses profissionais no setor privado de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Além disso, nos países avançados, há uma tendência de enfraquecimento do papel da comunidade de pesquisa na elaboração da política universitária, devido à crescente influência do estado, da burocracia e do mercado. 
O autor caracteriza a comunidade de pesquisa latino americana, como um local onde há pouca relevância das pesquisas de instituições privadas e onde a universidade se encontra no interior da CPESP, o que faz com que a pesquisa universitária seja um vetor essencial na orientação da PCT. Como a trajetória dessa política não constituiu no interior do aparelho do Estado um corpo burocrático estável, a cultura institucional dos institutos públicos é direta e profundamente influenciada pelo ethos universitário. Essas características justificam, segundo Dagnino, um enfoque na Análise de Políticas.
A Análise de Políticas é como um campo tributário de várias ciências sociais aplicadas, a partir de metodologias de pesquisas avançadas, realizam questionamentos políticos de forma a gerar, avaliar e comunicar conhecimentos imprescindíveis para elaboração de políticas. Resumidamente, a Análise de Políticas consiste em três momentos, que serão explicados mais adiante: formulação (que pode ocorrer com ou sem manipulações de pessoas com maior poder), implementação (tipo Bottom up ou Top-down) e avaliação (resultados que podem ser avaliados a partir de produtos e metas).
Sobre o momento de formulação, o autor afirma que o estilo de tomada de decisão em praticamente todas as instâncias da universidade está sendo realizado de forma incremental, e, além disso, os resultados não estão sendo avaliados devidamente, portanto tendem a ser aprovados a partir de critérios vagos de satisfação de interesses de outros.
Sobre a implementação da PCT, o papel da comunidade de pesquisa é determinante, pois a mesma coordena esse momento sem interferências externas, fazendo uso de decisões que apenas teoricamente foram tomadas no momento da formulação. Segundo Dagnino:
“O próprio pesquisador possui como profissional (...), um elevado poder discricionário para determinar as características de implementação”
O momento de implementação, portanto, não é um modelo top down (no qual uma cadeia burocrática de instituições e funcionários executa decisões previamente definidas sem a consulta de cientistas) e sim um modelo bottom up (no qual o controle é exercido pelos pesquisadores).
O autor pontua um assunto interessante, de que a reputação e perspectiva de ascensão profissional do pesquisador atual dependem exclusivamente de seu desempenho em termos de publicação, e não de êxito projetos realizados com empresas, consultorias e outras atividades. Na avaliação, realizada mediante o processo de avaliação por pares, o foco são os resultados das pesquisas da própria comunidade científica, ou seja, esse processo também é centralizado na mesma.
Outro ponto interessante que o autor destaca, é o modo como a distribuição de poder ocorre nas universidades. Segundo Elmore (1978), essa distribuição nunca é estável, pois dependede habilidades transitórias de indivíduos ou unidades, para mobilizar recursos e manejar os procedimentos dos outros, portanto, a posição formal de hierarquia é apenas um fator que determina a distribuição do poder. Um exemplo frequente e presente em nosso cotidiano na UNESP-Assis é o fato do responsável por uma linha de pesquisa ou laboratório conseguir recursos externos através de contatos de prestação de serviços. Isso é apontado pelo autor como fator mais importante na estrutura de poder em instituições do CPESP.
Diante do exposto, pode-se considerar que o foco da obra é justamente o papel dominante da comunidade de pesquisa na elaboração da PCT. Segundo Dagnino:
“(...) ela [comunidade de pesquisa] e em particular os professores-pesquisadores com desempenho profissional no âmbito do CPESP são praticamente os únicos responsáveis não apenas pela definição da agenda de pesquisa e pela formulação da política de pesquisa, mas pelas atividades de avaliação que delas decorrem (...)”.
Isso ocorre, pois os professores-pesquisadores influenciam desde o momento da formulação, através das opiniões relativas a projetos e aspectos organizacionais, participação em comitês e alocação de recursos, por exemplo. O autor aponta esse fato decorrente da cultura institucional internalizada pela comunidade, no qual o prestígio que os professores alcançam academicamente é “transduzido” em capacidade de influenciar a política.
No entanto, apesar da comunidade de pesquisa possuir papel dominante na PCT, ela não se beneficia economicamente com essa situação. Pelo contrário, existe uma queda da remuneração de deterioração das condições de trabalho, já que os recursos alocados a essa área de política pública diminuíram.
Um conceito de Marx e Engels (1980) pode ser relacionado ao envolvimento da comunidade científica na PCT: 
“Toda classe que aspira ao domínio procurará conquistar o poder político para conseguir apresentar o seu interesse como sendo o interesse universal e, assim, legitimar e aumentar o seu poder”. 
Entretanto, de acordo com Dagnino, não importa a postura política e nem mesmo se esta for da esquerda de extração marxista, todos acreditam na visão de ciência neutra e do determinismo tecnológico e por isso, aceitam que a comunidade de pesquisa deva ter papel dominante na definição da PCT. Essa afirmação, particularmente, me pareceu condizer muito com o cenário atual, ao relacionar os conceitos vistos no livro e a situação política do país e de diversas universidades, inclusive da UNESP Assis.
Em minha opinião, Dagnino conseguiu de forma eficiente apontar as necessidades de se analisar questões que envolvem a ciência e tecnologia no país. Após a leitura do livro, acredito que tenha desenvolvido um olhar crítico em relação ao processo de estabelecimento da PCT, visto que não tinha um conhecimento embasado, apenas suposições feitas de acordo com a minha percepção da universidade. Diante do exposto, concluo que o debate sobre a PCT brasileira deva ser incluído na sociedade, de modo que temas como esse sejam amplamente discutidos e maneiras para assegurar uma política eficiente sejam abordadas.
Referências
CASTRO, Claudio de Moura. What is happening in Brazilian education. Social change in Brazil, v. 1985, p. 263-309, 1989.
DAGNINO, Renato et al. A comunidade de pesquisa dos países avançados e a elaboração da política de ciência e tecnologia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 2006.
DAGNINO, Renato. As trajetórias dos estudos sobre ciência, tecnologia e sociedade e da política científica e tecnológica na Ibero-América. Alexandria: Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v. 1, n. 2, p. 03-36, 2008.
DAGNINO, Renato; THOMAS, Hernán; DAVYT, Amílcar. El pensamiento en ciencia, tecnología y sociedad en Latinoamérica: una interpretación política de su trayectoria. Redes, v. 3, n. 7, p. 13-51, 1996. 
Disponível em: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4788907P2> Acesso em: 10 jun. 2018.
Disponível em: <https://www.travessa.com.br/ciencia-e-tecnologia-no-brasil-o-processo-decisorio-e-a-comunidade-de-pesquisa/artigo/b1969929-c345-4f6f-acb8-d54307fb8c75> Acesso em: 10 jun. 2018.
Disponível: http://www.iea.usp.br/pessoas/pasta-pessoar/renato-dagnino Acesso em: 10 jun. 2018.
ELMORE, Richard F. Organizational models of social program implementation. Public policy, v. 26, n. 2, p. 185, 1978.
GIBBONS, Michael et al. The new production of knowledge: The dynamics of science and research in contemporary societies. Sage, 1994. 
MARX, Karl; ENGELS, Frederick. Marx & Engels Collected Works Vol 13: Marx and Engels: 1854-1855. Lawrence & Wishart, 1980.
NOWOTNY, Helga et al. Re-thinking science: Knowledge and the public in an age of uncertainty. Cambridge: Polity, 2001.

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