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RESUMO CIVIL II AV1/AV2

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Direito das Obrigações é o ramo do Direito Civil destinado a regulamentar relações jurídicas que têm por objeto uma prestação (dar, fazer e não fazer) de natureza patrimonial que deve ser cumprida por um sujeito (devedor) a outro (credor). Esse dever de prestação pode decorrer da vontade dos sujeitos envolvidos (como em um contrato de compra e venda), da própria lei (como a obrigação de pagar alimentos) ou até mesmo de um ato ilícito (dever de reparar ou ressarcir os danos causados a outrem). O Direito das Obrigações abrange todo esse complexo de normas, que vai desde a proteção do negociante de boa-fé na fase pré-contratual, até o cumprimento voluntário ou forçado de uma prestação.
- A formação do contrato apresenta três fases: negociações preliminares (fase pré-contratual ou também chamada de puntuação), proposta e aceitação. 
- Embora na fase pré-contratual ainda não exista vínculo jurídico contratual, há deveres laterais que decorrem da cláusula geral da boa-fé objetiva (art. 422, CC) que impõem aos negociantes o dever de lealdade e confiança desde o início das negociações.
Os direitos patrimoniais dividem-se em: 
– Direitos reais: são aqueles que representam uma relação de sujeição de uma coisa a um bem. O direito real é aquele que afeta a coisa direta e imediatamente, sob todos ou sob certos respeitos, e a segue em poder de quem quer que a detenha1. O titular de um direito real pode, dependendo da espécie do direito, ter poderes de uso, gozo, disposição e reivindicação de um bem móvel ou imóvel. Por exemplo, o proprietário de um imóvel pode utilizá-lo pessoalmente, emprestar, alugar, ceder o uso e proteger o seu direito contra quem quer que o ameace. Os direitos reais são estudados pelo Direito das Coisas. 
– Direitos obrigacionais, pessoais ou de crédito: são aqueles que consistem no dever de prestar algo a alguém. Vinculam condutas humanas consistentes em um dar, fazer ou não fazer, de maneira que descumprido o dever de prestação, há consequências legais. Por exemplo, quando uma pessoa empresta a outra determinada quantia em dinheiro, surge para o credor (sujeito ativo da relação) o direito de exigir, no prazo e forma estipulados, a restituição do valor emprestado (prestação) ao devedor (sujeito passivo). É o campo de incidência do Direito das Obrigações.
Autonomia privada: poder de autorregulamentação dos próprios interesses. Consiste na liberdade que tem o sujeito de direito de criar, nos limites do ordenamento jurídico, normas próprias aplicáveis às suas relações jurídicas. Está diretamente relacionada à liberdade e à livre iniciativa.
A palavra obrigação pode assumir diferentes acepções: 
– Obrigação como dever social: é uma acepção bastante ampla que equipara obrigação a qualquer dever que o sujeito tem de se comportar de determinada forma, sob pena de sanção. O próprio conceito de sanção é amplo, eis que abrange também sanções sociais, não necessariamente jurídicas. Assim, os deveres de uma pessoa não mentir a um amigo (norma social) ou de confessar-se ao menos uma vez no ano (norma religiosa) podem ser considerados obrigações nessa concepção. 
– Obrigação como dever jurídico: também é uma acepção ampla, embora um pouco mais contida do que a obrigação como dever social. Aqui a obrigação é entendida como um dever imposto por norma jurídica, sob pena de sanção. Para melhor compreender essa acepção, vale lembrar os elementos estruturantes das relações jurídicas: o sujeito passivo é titular do dever jurídico, ao passo que o sujeito ativo é titular do direito subjetivo. Nesse caso, a obrigação confunde-se com o próprio dever jurídico titularizado pelo sujeito passivo. Por exemplo, aquele que causa dano a outra pessoa tem a obrigação (dever) de reparar os prejuízos. 
–Obrigação como vínculo jurídico: essa acepção recebeu apoio da doutrina por bastante tempo, tendo, inclusive, sido utilizada no art. 397 do Código Civil Português. Por essa concepção, obrigação é um vínculo constituído entre duas ou mais pessoas, pelo qual uma delas ou algumas delas deve realizar, em benefício da outra (ou das outras), uma prestação que é do interesse desta ou destas . Apesar de essa acepção ser mais técnica do que as anteriores, ela falha por resumir a obrigação a um de seus elementos (o vínculo jurídico). Como será visto adiante, a obrigação é uma relação jurídica e o vínculo é apenas um dos elementos estruturais. 
– Obrigação como relação jurídica: é a acepção estrita de obrigação, portanto, objeto do Direito das Obrigações. A obrigação é uma relação jurídica transitória em que o devedor (sujeito passivo/solvens) tem o dever de realizar uma prestação de natureza econômica, consistente em um dar, fazer ou não fazer (objeto) em favor do credor (sujeito ativo/accipiens), sob pena de o seu patrimônio responder pelo descumprimento (garantia). Traduzindo em exemplo, a relação jurídica entre locador e locatário de um imóvel é uma obrigação (ou relação jurídica obrigacional).
- A obrigação, enquanto relação jurídica complexa e dinâmica, desenvolve-se para atingir um fim, qual seja o interesse do credor.
Princípios norteadores das relações obrigacionais 
Autonomia privada: talvez seja um dos princípios mais importantes de todo o Direito Privado. Imagine que você vá a uma loja adquirir um plano de telefonia móvel. Você pode escolher, entre as várias operadoras, aquela que você contratará; você pode escolher se o plano será pré-pago ou pós-pago, a franquia de minutos, o pacote de serviços e a data do vencimento da fatura. Ainda que a liberdade de escolha seja limitada às opções da operadora, você pode escolher o que corresponder melhor ao seu interesse. 
- A liberdade que a pessoa tem para criar regras aplicáveis aos seus negócios consiste justamente na autonomia privada - daí porque ela é comumente conceituada como o poder de autorregulamentação dos próprios interesses.
- As pessoas podem celebrar negócios jurídicos, considerados fontes de relações obrigacionais, é assim com a compra e venda, empréstimo, títulos de crédito e tantos outros. É no âmbito dos negócios jurídicos, portanto, que a autonomia privada encontra ambiente para desenvolver-se.
- a autonomia privada não é irrestrita e tem limites impostos pelo próprio ordenamento jurídico por meio de normas cogentes. Por mais que os sujeitos tenham liberdade para estabelecer as regras próprias de seus negócios, não podem contrariar disposições normativas de imperatividade absoluta, sob pena de invalidade do ato praticado.
- Normas cogentes: Também chamadas de normas de ordem pública ou normas impositivas, são aquelas de imperatividade absoluta, ou seja, não podem ser derrogadas pela vontade das partes. 
- Retrovenda: Cláusula especial do contrato de compra e venda prevista no art. 505, CC, que permite ao vendedor de bem imóvel, no prazo decadencial de até 3 anos, recobrar o bem de volta mediante a restituição do valor do preço e reembolso das despesas que teve o comprador.
Boa-fé subjetiva e boa-fé objetiva: A boa-fé subjetiva, enquanto estado psicológico, emerge da teoria da aparência, quer dizer, agia de boa-fé aquele que acreditava que estava agindo conforme o Direito. 
- a boa-fé objetiva, que reflete a exigência de respeito, colaboração e fidelidade recíprocos.
- A boa-fé objetiva é considerada uma Cláusula Geral do direito civil. Pela cláusula geral da boa-fé objetiva, foi criado o padrão social do bom negociante, indivíduo no qual pode ser depositada confiança por apresentar conduta correta, leal e proba, cooperando sempre com a satisfação da obrigação. 
- Ainda há situações em que o exame da boa-fé subjetiva é fundamental, como na validade e eficácia do pagamento feito a credor putativo, tal qual estabelece o art. 309, CC (“O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor.”). 
- Credor putativo: É aquela pessoa que, pelas circunstâncias, parece ser o credor em uma relação obrigacional, mas não é. 
- O princípio da boa-fé objetiva foi positivado no art. 422, do Código Civil(“Oscontratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.”), sob a forma de cláusula geral irradiante: ainda que esteja na parte relativa à Teoria Geral dos Contratos, deve ser aplicada a todas as relações jurídicas obrigacionais, contratuais ou não, que tenham o Código Civil como fonte direta ou subsidiária, como acontece, por exemplo, nos contratos administrativos. 
- Sobre os destinatários da boa-fé objetiva:
 – ao devedor que cabe cumprir a obrigação, conforme o espírito com a qual foi criada; 
– o credor deve corresponder à confiança nele depositada e colaborar para a satisfação da obrigação; 
– todos os sujeitos envolvidos precisam cooperar para atingir à finalidade objetiva do negócio com respeito e lealdade recíprocos.
Funções da boa-fé objetiva 
- O art. 422, CC/2002, apesar de ser o dispositivo que trata explicitamente da vertente objetiva da boa-fé, não é o único a ser considerado no estudo global do princípio, que também se faz presente no art. 1137 , que trata da interpretação dos negócios jurídicos conforme a boa-fé, e no art. 1878 , que fixa a ilicitude do abuso de direito, determinado conforme a conduta excessiva do titular do direito conforme parâmetros estabelecidos pela boa-fé. 
- O Código Civil brasileiro confere à boa-fé objetiva uma tríplice função: 
– Função de cânone interpretativo (art. 113, CC). A interpretação das regras que regem a obrigação deve ser feita conforme a boa-fé objetiva.
Cânone: Preceito, regra geral, padrão, norma.
– Função de criação de deveres anexos (art. 422, CC). A boa-fé objetiva é fonte de deveres. Nesse sentido, a relação jurídica obrigacional, além dos deveres de prestação e contraprestação, apresenta deveres anexos, também chamados de laterais ou deveres de conduta, que surgem não da vontade das partes, mas do padrão de conduta estabelecido pela boa-fé. Em um contrato de compra e venda de um veículo usado, por exemplo, os deveres de prestação e contraprestação consistem na entrega do automóvel e no pagamento do preço, todavia há também, por exemplo, o dever anexo de o vendedor informar ao comprador se o bem já sofreu algum sinistro. Os deveres de proteção, lealdade e esclarecimento são deveres anexos na relação jurídica obrigacional.
– Função de controle do abuso de direito ou limitação do exercício de direitos subjetivos (art. 187, CC). O exercício dos direitos subjetivos decorrentes das relações jurídicas obrigacionais é limitado pela razoabilidade imposta pela boa-fé objetiva, considerando ilícito o excesso que prejudique terceiros, ainda que não intencionalmente. É assim por causa da tutela da confiança. Abuso de direito significa, na atualidade, quebra da confiança depositada. A confiança aparece como um dos eixos da autonomia privada, de modo que os sujeitos devem agir com lealdade e probidade para preservar a fidúcia mútua. Algumas figuras típicas do abuso de direito, tais como o venire contra factum proprium, supressio, surrectio e tu quoque já foram analisadas quando do estudo da parte geral do Código Civil.
Responsabilidade patrimonial: ( a obrigação é uma relação jurídica complexa cuja finalidade é a satisfação do credor, caso o devedor não cumpra o seu dever de prestação, sofrerá as consequências impostas pela legislação). No âmbito obrigacional, essas consequências têm caráter patrimonial: o patrimônio do devedor responderá pelos prejuízos sofridos pelo credor (art. 391, CC9 ), tanto de ordem patrimonial quanto extrapatrimonial. 
- Com exceção da prisão do devedor de alimentos, a prisão civil por dívida não é admitida no Direito brasileiro. 
- O princípio da responsabilidade patrimonial está previsto no art. 391, CC e no art. 78910 do CPC de 2015 (art. 59111 do CPC de 1973). Assim é que em um contrato de mútuo oneroso (empréstimo de bem fungível), se o devedor não pagar o valor devido no vencimento deverá arcar com juros, multa (se houver), podendo ter o seu patrimônio executado pelo credor pela via judicial. 
- Esse princípio comporta exceções previstas em lei, entre as quais destacam-se:
a) os bens do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação reipersecutória (art. 790, I, CPC/1512) ; 
b) os bens do sócio, nos termos da lei (art. 790, II, CPC/15); 
c) os bens do devedor, quando em poder de terceiros (art. 790, III, CPC/15); 
d) os bens do cônjuge, nos casos em que os seus bens próprios, reservados ou se sua meação respondem pela dívida (art. 790, IV, CPC/15); 
e) os bens alienados ou gravados com ônus real em fraude à execução (art. 790, V, CPC/15); 
f) bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução (art. 833, I, CPC/1513) ; 
g) os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida (art. 833, II, CPC/15); 
h) os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor (art. 833, III, CPC/15); 
i) os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional14 (art. 833, IV, CPC/15); 
j) os livros, máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão (art. 833, V, CPC/15); 
k) o seguro de vida (art. 833, VI, CPC/15); 
l) os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas (art. 833, VII, CPC/15); 
m) a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família (art. 833, VIII, CPC/15); 
n) os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social (art. 833, IX, CPC/15); 
o) a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos (art. 833, X, CPC/15); 
p) os recursos públicos do fundo partidário recebidos por partido político, nos termos da lei (art. 833, XI, CPC/15); 
q) o bem de família, na forma da Lei n. 8.009/90.
- O CPC de 2015, porém, acrescentou ainda novas hipóteses de exceção à responsabilidade patrimonial: 
a) bens cuja alienação ou gravação com ônus real tenha sido anulada em razão do reconhecimento, em ação autônoma, de fraude contra credores (art. 790, VI, CPC); 
b) bens do responsável, nos casos de desconsideração da personalidade jurídica (art. 790, VII, NCPC); 
c) os créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime de incorporação imobiliária, vinculados à execução da obra (art. 833, XII, NCPC).
Relatividade das obrigações: Diz-se que a obrigação é relativa porque ela vincula somente os sujeitos envolvidos na relação. O credor de uma obrigação apenas pode exigir o dever de prestação de seu devedor. Isso ocorre, por exemplo, nas dívidas de pessoa falecida: em conformidade com o art. 1.997, CC15 , é o patrimônio do de cujus que responderá pelas dívidas até a partilha; uma vez realizada a partilha, o herdeiro responderá, porém nos limites das forças da herança. Como qualquer princípio, a relatividade das obrigações também apresenta temperanças, tanto advindas da própria lei (como, por exemplo, na estipulação em favor de terceiros - arts. 436-438, CC) quanto da boa-fé objetiva e da função social do contrato (art. 421, CC).
Relação Obrigacional
Quatro tipo de relações se destacam, são elas:
Obrigação como uma relação complexa: A ideia tradicional de obrigação a concebe como uma relação simples, em que de um lado o credor tem o direito de exigir uma prestação do devedor e, de outro, deve praticar uma conduta em proveito do credor. Há, portanto, um direito subjetivo de crédito correlato a um dever jurídico de prestação. Essa visão restringe bastante a dinâmica da relaçãoobrigacional. 
-Por exemplo, um contrato de locação de imóvel residencial. Pela concepção tradicional, a relação é composta dos deveres de prestação (tradição da posse do bem) e de contraprestação (pagamento do valor do aluguel). Tanto locador e locatário são titulares de direito de crédito e dever de prestação: o locatário tem o direito subjetivo de exigir a posse do imóvel e de não ser perturbado no exercício de sua posse, ao mesmo tempo que tem o dever de pagar o valor do aluguel; o locador tem o dever de entregar a posse do imóvel e o direito subjetivo de exigir o pagamento dos alugueres. Mas a relação não é assim tão simples. O locador pode denunciar o contrato na hipótese do art. 46, §2o, Lei n. 8.245/911 (direito potestativo). 
- A relação obrigacional, regida que é pela boa-fé objetiva, é permeada de deveres laterais de conduta. Assim, o locatário tem o dever lateral de informar o locador sobre todas as intercorrências que acontecerem no imóvel, mesmo que isso não esteja expresso no instrumento contratual (dever de informação). Tanto locador quanto locatário devem colaborar para que a relação atinja a sua finalidade social típica (dever de colaboração). 
- Entender a obrigação como uma relação complexa ou sistêmica significa admitir a existência de direitos e deveres que vão além do crédito e do débito propriamente ditos; é aceitar que cada posição subjetiva da relação obrigacional encerre um feixe de direitos (subjetivos e potestativos), deveres (de prestação e de conduta) e ônus que surgem durante o desenvolvimento da relação obrigacional, desde antes de sua formação até depois do seu cumprimento. 
- O conteúdo da obrigação consiste no conjunto dos direitos e deveres existente entre os sujeitos da relação jurídica. 
- O direito subjetivo típico na obrigação é o direito de crédito, e aqui é importante que o leitor se desprenda da ideia de que crédito está relacionado apenas a obrigações pecuniárias. A noção de crédito abarca também o direito de o credor exigir prestações de dar coisa diferente de dinheiro, de fazer, de não fazer. 
- Menezes Cordeiro define o direito de crédito como sendo um direito a uma prestação ou, decompondo os respectivos elementos, como a condição jurídico-privada de aproveitamento de uma conduta humana. 
- O crédito tem que ser exigido apenas daquele que se comprometeu ao dever de prestação. O dever jurídico típico da relação obrigacional é o débito ou dívida. Embora na linguagem usual débito e dívida sejam mais utilizados para conotar obrigações pecuniárias, no sentido técnico envolvem qualquer dever de prestação que o devedor tem de realizar para a satisfação do interesse do credor. 
- Nas obrigações negociais, o dever existe somente com relação àquele que anuiu com a criação da obrigação. Já nas obrigações decorrentes de ato ilícito ou de enriquecimento sem causa, o devedor encontra-se obrigado por fatores outros que independem de sua vontade de integrar a relação na qualidade de devedor. 
- Direitos potestativos são aqueles em que o titular pode, independentemente do comportamento da outra parte, modificar ou extinguir relação jurídica. A parte contrária, nesse caso, fica em situação de sujeição e deve aceitar o comportamento do titular do direito potestativo. 
- Já os ônus podem ser entendidos como um comportamento que o sujeito ativo tem de observar para receber uma vantagem ou evitar um prejuízo. Um exemplo de ônus no Direito das Obrigações é o dever que o credor tem de constituir o devedor em mora na hipótese do art. 397, parágrafo único, CC (não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial). Por derradeiro, os deveres de conduta, laterais, fiduciários ou anexos, são aqueles decorrentes da boa-fé objetiva e podem envolver, dentre outros, deveres de cuidado, cooperação, informação e lealdade.
Caráter transitório da obrigação: A obrigação é uma relação transitória que é extinta quando for satisfeito o interesse do credor. E não poderia ser diferente, ainda mais se considerarmos que, pelo princípio da responsabilidade patrimonial, todo o patrimônio do devedor responde pelo adimplemento da obrigação (art. 391, CC). Não apenas o adimplemento extingue a obrigação, outras situações podem dar causa à extinção como: a destruição ou inutilidade do bem aos fins a que se destina. 
- Mesmo as obrigações duradouras, cujo adimplemento se dá em prestações sucessivas, tendem a ser extintas pelo cumprimento. No tráfico jurídico atual, há relações contratuais de natureza permanente e interativa, como o plano de saúde, a previdência privada, o seguro, a educação privada, o cartão de crédito, que excepcionam a regra da transitoriedade. No entanto, é possível afirmar que mesmo nessas exceções a obrigação tende à extinção. Tanto no contrato de seguro quanto no de previdência privada, a morte do credor extingue a obrigação. O que se deve, portanto, ter em mente é que a obrigação não é perpétua. 
Patrimonialidade da prestação: é um tema sobre o qual não há consenso na doutrina. Para parte da doutrina, o objeto da prestação em uma relação obrigacional deve ter conteúdo patrimonial, apreciável economicamente direta ou indiretamente. 
- Orlando Gomes defende a patrimonialidade da prestação afirmando ser necessário distinguir duas características essenciais: a patrimonialidade e a correspondência a um interesse, também moral do credor. O interesse não precisa ser econômico, mas o objeto da prestação há de ter conteúdo patrimonial [...]. A patrimonialidade da prestação, objetivamente considerada, é imprescindível à sua caracterização, pois, do contrário, e segundo a ponderação de Colagrosso, não seria possível atuar a coação jurídica, predisposta na lei, para o caso de inadimplemento. 
- Rosa Nery e Nelson Nery Junior entendem que a patrimonialidade da obrigação, nesse sentido, não é uma característica de toda a obrigação, nem ao menos de toda a indenização, muito embora, na maioria dos casos, a patrimonialidade seja uma marca natural da prestação. Os autores explicam que as críticas sobre a patrimonialidade da prestação residem no fato de muitas vezes a obrigação recair sobre direitos extrapatrimoniais, no entanto preferem utilizar a expressão patrimônio como tudo aquilo que é suceptível de se tornar objeto de direito, considerando como bens tudo quanto possa ser cobiçado e desejado pelos homens, protegido e tutelado pelo direito, quer se tratem de coisas materiais, quer se tratem de bens imateriais, quer componham aquilo que em linguagem coloquial se usa explicitar como patrimônio moral de alguém5 . 
- Já Fernando Noronha insurge-se contra a patrimonialidade necessária da prestação, eis que há obrigações sem qualquer conteúdo patrimonial, como a outorga de procuração para inscrição em vestibular. Para o autor, é "indispensável apenas que o interesse seja socialmente sentido como digno de tutela jurídica6", independentemente de a prestação debitória ter ou não conteúdo patrimonial, desde que os interesses das partes na relação possam ser "socialmente valorados como sérios e úteis". E continua afirmando que "quando a prestação debitória não tenha conteúdo patrimonial apenas pode ficar mais difícil para o credor o ônus da prova de que a obrigação que o devedor assumiu foi verdadeiramente jurídica, e não uma mera obrigação de natureza social". Apesar dos argumentos consistentes contrários à patrimonialidade necessária da prestação, no Brasil ainda prevalece como majoritária a corrente que a defende.
Eficácia relativa: A relação obrigacional é um vínculo que une credor e devedor, não podendo ser oposto a outra pessoa estranha à relação. Apenas credor e devedor estão vinculados e, em regra, o credor pode exigir a prestação apenas do devedor. É nesse sentido que o direito de crédito deve ser tido como relativo, contrário a direitos que, embora também patrimoniais, são dotados de eficácia erga omnes, como ocorre com os direitos reais. 
Direitos pessoais x direitos reais: Os direitos patrimoniais podem ser classificados em direitos pessoaise direitos reais. 
- Direitos pessoais são os direitos subjetivos que decorrem da relação obrigacional (direitos de crédito). Caracterizam-se por serem dotados de eficácia relativa e por exigirem uma conduta, positiva ou negativa, do sujeito passivo, que pode ser determinado ou ao menos determinável. A satisfação de um direito pessoal, portanto, depende da ação de outro sujeito. Eles são transitórios e podem ser típicos ou atípicos, ou seja, as partes podem criar diferentes tipos de obrigação, independentemente de previsão legal, desde que respeitem normas cogentes.
- Já os direitos reais têm eficácia absoluta (oponibilidade erga omnes) e correspondem à sujeição de uma coisa ao poder do titular do direito. Por terem oponibilidade erga omnes, não apresentam um destinatário determinado: todas as pessoas têm o dever de não obstar o exercício do direito real pelo seu titular (o que a doutrina chama de sujeição passiva universal). Dessa maneira, o exercício de um direito real se opera independentemente da conduta de qualquer outro sujeito. Além disso, os direitos reais são perenes e típicos, e, por aderirem à coisa, podem recobrá-la das mãos de quem quer que seja (sequela). Integram o rol dos direitos reais a propriedade e seus desdobramentos (art. 1.225, CC).
Exemplo: O comprador tem o direito de exigir apenas do vendedor que entregue o bem mediante o pagamento do preço (eficácia relativa). Uma vez entregue o bem e pago o valor a ele correspondente (necessidade da ação de outro sujeito para a satisfação do direito), a relação é extinta, assim como os direitos de crédito (transitoriedade). Uma vez adquirida a propriedade na forma da lei (e desde já é preciso ter em mente que o contrato, por si, não é translativo da propriedade, como ocorre no sistema francês), o proprietário pode usar gozar e dispor da moto (sujeição da coisa ao titular), sem interferência de outras pessoas, que devem apenas respeitar a propriedade alheia (eficácia absoluta). O direito de propriedade sobre a moto é perene e apenas será extinto pela alienação, abandono, renúncia, destruição da coisa ou pela usucapião.
- Embora a relação obrigacional somente produza efeito entre as partes (eficácia relativa) e, consequentemente, o credor possa exigir a prestação apenas do devedor e o devedor deva prestá-la apenas ao credor, isso não significa que terceiros possam prejudicar o desenvolvimento da obrigação e frustrar o interesse do credor. Em outras palavras, a relatividade não impede que a obrigação possa produzir alguns efeitos em relação a terceiros. 
- Nesse contexto, insere-se a chamada tutela externa do crédito, que vem ganhando a atenção da doutrina e da jurisprudência nos últimos anos. A tutela externa do crédito mitiga a eficácia relativa das obrigações e questiona a dicotomia entre direitos pessoais e direitos reais na medida em que protege o crédito de intervenções externas, impedindo que terceiros acabem por frustrar o interesse do credor. 
Obrigações propter rem, ônus reais e obrigações com eficácia real: A par das obrigações de eficácia relativa (obrigações propter personam), existem obrigações que se situam em uma área de intersecção entre os direitos pessoais e os direitos reais: as chamadas obrigações propter rem. 
- Obrigações propter rem, também chamadas de ab rem, ambulatórias ou reipersecutórias, são obrigações híbridas e decorrem da posição jurídica de titular de algum direito real, independentemente da vontade do devedor. Acompanham a coisa, móvel ou imóvel, e o devedor, enquanto for titular do direito real, deverá cumprir a prestação debitória. São híbridas porque apresentam tanto características de direitos pessoais quanto de direitos reais. Essas obrigações, entretanto, diferenciam-se dos direitos reais porque estes são oponíveis erga omnes e aquelas contêm uma oponibilidade que se reflete apenas no titular do direito. As obrigações propter rem não interessam a terceiros. 
- São características das obrigações propter rem: 
– Vinculação a um direito real, ou seja, a determinada coisa de que o devedor é proprietário ou possuidor; 
– Possibilidade de exoneração do devedor pelo abandono do direito real, renunciando o direito sobre a coisa; 
– Transmissibilidade por meio de negócios jurídicos, caso em que a obrigação recairá sobre o adquirente. 
– Não é ela um direito real, pois este se desnatura pela obrigação de um facere que o acompanha, pois seu objeto não é uma coisa, mas a prestação do devedor. 
- Também não é um direito obrigacional pela autorização, concedida ao credor, de exigir a prestação de quem quer que se encontre em relação à coisa gravada mediante ação real e pelo fato de o direito pessoal não se extinguir pelo abandono, não se transmitir a sucessor a título singular e de exigir a anuência do credor na cessão de débito, o que não ocorre na obrigação propter rem. 
= Propter personam: Do latim, significa própria da pessoa.
= Propter rem: Do latim, significa própria da coisa. 
=Reipersecutório: Do latim rei + persecutoriu: o que persegue. É um termo utilizado para dar ideia de perseguição de uma coisa.
- É o que ocorre com a obrigação de pagar as taxas condominiais. O proprietário de imóvel em condomínio edilício tem o dever de pagar as taxas condominiais pelo simples fato de estar na posição de titular do direito real de propriedade. A vontade em nada influencia o surgimento do vínculo obrigacional. 
- Caso o imóvel seja vendido, o novo proprietário também terá a mesma obrigação de pagar as taxas, inclusive aquelas em atraso, que não tiverem sido pagas pelo proprietário anterior, conforme dispõe o art. 1.345, CC9 , justamente porque a obrigação propter rem acompanha a coisa, nas mãos de quem quer que ela esteja. 
- Podem também ser consideradas obrigações propter rem a obrigação de reparar o dano ambiental, as obrigações relativas ao direito de vizinhança, dentre outras. A jurisprudência do STJ entende que as obrigações relativas à água e energia elétrica, por serem serviços relacionados diretamente ao consumo pessoal do ocupante do imóvel, não são obrigações propter rem, mas sim obrigações propter personam, vinculando somente o fornecedor do serviço e aquele que efetivamente consumiu. 
Obrigação com eficácia real: é aquela que, embora constituída apenas entre credor e devedor, gera efeitos perante terceiros. Difere-se da obrigação propter rem porque nesta a obrigação decorre da qualidade de titular do direito real, enquanto a obrigação com eficácia real surge da vontade das partes. Um exemplo de obrigação com eficácia real é cláusula de vigência no contrato de locação: pelo art. 8o da Lei n. 8.245/91, o locatário que tiver averbado o contrato junto à matrícula do imóvel poderá permanecer durante todo o período da locação, mesmo se o bem for alienado a terceiros.
- Ônus reais são obrigações que restringem um dos poderes inerentes à propriedade (uso, gozo e disposição), têm oponibilidade erga omnes e acompanham a coisa sobre a qual recaem, como ocorre com a renda constituída sobre imóveis.
Elementos constitutivos da obrigação
Elementos subjetivos: Os elementos subjetivos da obrigação são as pessoas, naturais e/ou jurídicas, envolvidas na relação: credor (accipiens) e devedor (solvens). O credor titulariza o direito subjetivo de crédito e o devedor, o dever jurídico que, na obrigação, é chamado de débito ou dívida. 
- Em um contrato de comodato, o comodante é o devedor, pois é dele o dever de transferir a posse do bem dado em empréstimo. Já o credor é o comodatário, eis que ele é titular do direito subjetivo de exigir a transferência. O critério para identificar quem é o credor e quem é o devedor é a prestação: deve ser analisado quem deve prestar (devedor) e quem é o destinatário da conduta exigível (credor).
- Importante que credor e devedor sejam determinados ou ao menos determináveis. O sujeito pode ainda ser substituído por outro ao longo do desenvolvimento da relação obrigacional, como ocorre na sub-rogação, novação, cessão de crédito, entre outros. 
- Os representantes(legais ou voluntários), os núncios e os auxiliares executivos figuram não como sujeitos da obrigação, mas como cooperadores, coadjuvantes na relação. 
- Comodato: Empréstimo gratuito de bens infungíveis (art. 579, CC).
- Núncio: Mensageiro da declaração de vontade. Não interfere na vontade, apenas a transmite, por ordem do declarante.
- A ideia de sujeitos da relação remete à noção de partes. Partes são as pessoas, naturais e/ou jurídicas, que ocupam cada um dos polos da relação. Em toda relação obrigacional existe uma parte credora e uma parte devedora; não raro há pluralidade tanto de credores quanto de devedores, o que será analisado em momento oportuno.
Elemento objetivo: O objeto da obrigação é a prestação, ou seja, a conduta humana exigível do devedor. Lembre que os direitos obrigacionais são direitos pessoais e, por isso, incidem sobre condutas humanas, não sobre os bens.
- Nos exemplos anteriormente citados, o objeto da obrigação de indenizar consiste na conduta do devedor de entregar o valor da indenização; já no contrato de compra e venda, o objeto da prestação é o ato de transferência, pelo vendedor, do bem, enquanto o objeto da contraprestação do comprador é o ato de pagar o preço. 
- A doutrina costuma classificar o objeto da obrigação em objeto imediato e mediato: 
– Objeto imediato ou direto: é a prestação, a conduta à qual está vinculado o devedor (dar, fazer ou não fazer). 
- Quando se pergunta: dar, fazer ou não fazer o que? A resposta a essa pergunta indicará o objeto mediato ou indireto: é o bem da vida objeto da prestação. O bem jurídico, portanto, também pode ser considerado objeto da obrigação (o aparelho celular no exemplo citado acima), porém objeto mediato. É possível ainda afirmar que o objeto mediato da obrigação é o objeto da prestação. A afirmação de que o objeto da obrigação é a prestação reforça ainda mais a noção de colaboração entre credor e devedor para que a relação atinja a sua finalidade.
- As prestações podem consistir em um dar, fazer ou não fazer. As prestações de dar correspondem à entrega de bem, móvel ou imóvel (obrigação de dar coisa certa ou incerta - entregar ou restituir -, obrigação pecuniária). As prestações de fazer dizem respeito à realização de uma atividade, um serviço pelo devedor, como, por exemplo, a pintura de uma casa. Já as prestações de não fazer caracterizam-se pelo dever de abstenção na prática de determinada conduta (e.g. o art. 1.301, CC, que proíbe o proprietário de abrir janelas, fazer eirado, terraço ou varanda a menos de um metro e meio do terreno vizinho). 
Elemento imaterial: O elemento imaterial, também chamado de virtual ou espiritual, é o vínculo jurídico, que consiste no liame que liga credor e devedor, sujeitando o devedor a realizar determinada conduta em benefício do credor, sob pena de responsabilidade daquele. 
- O vínculo, constituído pelo enlace dos poderes conferidos ao credor com os correlativos deveres impostos ao titular passivo da relação, forma o núcleo central da obrigação, o elemento substancial da economia da relação. 
- Sobre o vínculo obrigacional, a doutrina aponta a existência de duas teorias:
a) a teoria unitária ou monista 
b) a teoria dualista ou binária. 
- Para compreender ambas as teorias, primeiro é preciso ter noção dos conceitos de débito (ou dívida) e responsabilidade: o débito consiste no dever de prestar propriamente dito; ao passo que a responsabilidade corresponde à consequência patrimonial do descumprimento da prestação. Nesse sentido, a responsabilidade é um elemento coativo, um reforço ao vínculo obrigacional, para assegurar que a obrigação atinja a sua finalidade ou, nos casos em que a obrigação se resolver em perdas e danos, que o credor não tenha prejuízo. Assim é que se, em um contrato de mútuo de dinheiro, o débito é o dever de restituir o valor na forma estabelecida pelas partes; caso isso não ocorra, o credor poderá provocar o Judiciário para reaver a quantia, respondendo o devedor com todos os seus bens (responsabilidade).
- A diferença essencial entre a teoria monista e a teoria dualista é que, para a primeira, o vínculo jurídico é uno, de modo que débito e responsabilidade sejam indissociáveis; já para a teoria dualista, o vínculo jurídico é bipartido e, por isso, débito (schuld, em alemão, debitum em latim ou dever de prestar, na doutrina portuguesa) e responsabilidade (haftung, em alemão, obligatio, no latim ou dever de indenizar, na doutrina portuguesa) são autônomos, podendo haver obrigação com débito e sem responsabilidade, bem como obrigação sem débito e apenas com responsabilidade, ambas chamadas de obrigações imperfeitas.
- A Teoria Dualista é a que prevalece na doutrina brasileira.
- Por exemplo, o caso do mútuo celebrado com menor de idade: de acordo com o art. 588, CC, o empréstimo de bem fungível feito a pessoa menor, sem autorização daquele sob cuja guarda estiver, não será reavido nem do devedor, nem dos fiadores. Perceba que há débito sem responsabilidade, pois o patrimônio do menor mutuário não ficará vinculado à satisfação da obrigação. As obrigações desprovidas de responsabilidade são denominadas obrigações naturais. 
- Na obrigação, portanto, existe um dever primário, consistente no dever de prestar, na dívida propriamente dita. Descumprido o dever primário (originário), surge o dever secundário (derivado), a responsabilidade: o patrimônio do devedor passa a responder pela dívida, podendo o credor, inclusive, valer-se do Judiciário para compelir o devedor a realizar a prestação ou a reparar os prejuízos causados ao credor pelo descumprimento. 
- Por outro lado, pode haver obrigação com responsabilidade própria, porém débito alheio ou mesmo obrigação em que a responsabilidade é maior que o débito. É o que ocorre na relação de fiança, na responsabilidade civil por fato de terceiro (art. 932, CC4 ) ou mesmo nas obrigações solidárias. 
- A obrigação é uma relação jurídica complexa e há, em ambas as posições jurídicas ativa e passiva, um feixe de direitos e deveres que vão além do direito de crédito e do dever de prestação. Por isso, a noção de schuld e haftung abarca também os deveres anexos decorrentes da boa-fé objetiva.
Fontes das obrigações: Tradicionalmente, a doutrina dividia as obrigações como as advindas da lei (ex lege) e as que se originam da vontade das partes (ex voluntate). Nesse sentido, Álvaro Villaça Azevedo classifica a fonte das obrigações como sendo: 
a) vontade do Estado (lei), como, por exemplo, as obrigações propter rem.
b) vontade individual, podendo esta ser lícita (contrato, ato unilateral e quase contrato) ou ilícita (seja por ato culposo ou doloso) . 
- No entanto, se pararmos para refletir toda obrigação tem por fonte a lei, já que mesmo as obrigações voluntárias devem ser moldadas conforme as normas existentes no ordenamento jurídico. A lei, portanto, por ser elemento comum a todas as obrigações, não pode servir de critério de classificação das fontes. Elementos de Teoria Geral do Direito servirão para melhor classificar as fontes. 
- Se a obrigação é uma relação jurídica e esta surge de um fato jurídico, na relação obrigacional não será diferente. É dizer, a fonte da obrigação será sempre um fato jurídico em sentido amplo, entendido este como o fato capaz de criar, modificar ou extinguir relações jurídicas, por isso, não há unanimidade entre os autores na forma de apresentar a classificação das fontes obrigacionais.
- Os fatos jurídicos em sentido amplo, para fim de classificação das fontes das obrigações, podem ser: 
– Atos negociais: os negócios jurídicos, bilaterais (o contrato), unilaterais (testamento e títulos de crédito) ou plurilaterais, são fontes das obrigações. Aliás, o negócio jurídico é uma das fontes mais relevantes do Direito Obrigacional, por estar diretamente relacionado à circulação de bens e serviços. 
– Atos ilícitos: o ato ilícito gera obrigação de reparação de danos, sejam estes patrimoniais ou extrapatrimoniais. É o campo de estudo da responsabilidade civil; 
– Fatos jurídicosem sentido estrito: os fatos jurídicos em sentido estrito também podem ser fontes de obrigações. Com efeito, no campo da responsabilidade objetiva, mesmo se o evento danoso decorrer de caso fortuito ou força maior, poderá haver dever de indenizar; 
– Atos jurídicos em sentido estrito: também podem ser fontes de obrigações, como ocorre com o pagamento indevido (art. 876 e seguintes, CC) e as demais figuras tipificadas no Código Civil como atos unilaterais, que serão objeto de estudo específico neste livro.
Classificação das obrigações
Quanto ao vínculo obrigacional: Quanto ao vínculo, as obrigações podem ser: 
– Perfeitas: são as que o vínculo obrigacional apresenta tanto débito quanto responsabilidade. É dizer, o credor tem o direito de exigir determinada prestação do devedor, sob pena de este responder com todo o seu patrimônio. 
Exemplo: a obrigação do Estado em garantir a saúde de seus cidadãos. 
– Imperfeitas: são aquelas em que falta ao vínculo jurídico o débito ou a responsabilidade. Por exemplo, as obrigações naturais que são imperfeitas porque, embora a dívida exista, o credor não pode exigir o comportamento do devedor, muito menos executar seu patrimônio. 
- Existe, ainda quanto ao vínculo, outra classificação que divide as obrigações em: 
– Morais: atinentes a regras de convivência, trato social, religiosas e outras que não correspondem a comportamentos selecionados pelo ordenamento jurídico. Essas obrigações não integram o objeto de estudo do direito obrigacional. 
Exemplo: obrigação de dar presente de aniversário a parentes e amigos. 
– Naturais: aquelas em que o direito de crédito, embora existente, não é dotado de exigibilidade. A dívida prescrita, por exemplo, é obrigação natural. 
– Civis: são as obrigações em que o credor pode exigir a prestação do devedor, sob pena de responsabilidade patrimonial deste. 
Exemplo: obrigação de reparar os danos decorrentes de um ato ilícito. 
Quanto à natureza da prestação: 
– Obrigação de dar: a prestação consiste na entrega, pelo devedor, de um bem móvel ou imóvel, determinado ou determinável, ao credor. 
Exemplo: obrigação de restituir um imóvel emprestado (comodato). 
– Obrigação de fazer: a prestação corresponde à realização de uma atividade, um serviço pelo devedor ao credor. 
Exemplo: obrigação do médico de realizar uma cirurgia em um paciente. 
– Obrigação de não fazer: aquela em que o devedor se abstém da prática de um ato em favor do credor. 
Exemplo: obrigação assumida por proprietário de imóvel de não levantar edificação acima de três andares.
- Ainda com relação à natureza da prestação, as obrigações podem ser classificadas em: 
– Obrigações positivas: a prestação é uma conduta comissiva do devedor. São obrigações positivas as obrigações de dar e de fazer. 
Exemplo: obrigação de pagar determinada quantia em dinheiro. 
– Obrigações negativas: a prestação é uma conduta omissiva. Estão inseridas nessa categoria as obrigações de não fazer. 
Exemplo: obrigação do locatário de não sublocar o imóvel a outrem.
Quanto ao objeto:
– Obrigações simples: há apenas uma prestação a ser realizada pelo devedor. 
Exemplo: obrigação de restituir bem emprestado. 
– Obrigações alternativas: são aquelas em que existem duas ou mais prestações, desobrigando-se o devedor de cumprir apenas uma delas. 
Exemplo: podemos citar a obrigação, muito comum nas condenações judiciais atualmente, de o Estado fornecer ao cidadão medicamento de determinada marca ou genérico de propriedades semelhantes. 
– Obrigações cumulativas: há pluralidade de prestações e, para se desonerar, o devedor precisa cumprir todas elas. 
Exemplo: para recuperar a saúde um cidadão, o Estado deve realizar cirurgia, garantir o tratamento fisioterápico de recuperação e fornecer os medicamentos necessários.
– Obrigações facultativas: existe uma prestação principal e uma subsidiária, podendo o devedor substituir a prestação principal pela subsidiária. 
Exemplo: contrato estimatório (O contrato estimatório é também conhecido como venda em consignação. É comum, por exemplo, em galerias de arte: o artista deixa as obras por um certo tempo na galeria; ultrapassado o prazo estabelecido entre as partes, a galeria deve entregar ao artista o valor em dinheiro acordado ou, subsidiariamente, restituir a obra. O art. 534, CC, define o contrato estimatório como sendo aquele em que o consignante entrega bens móveis ao consignatário, que fica autorizado a vendê -los, pagando àquele o preço ajustado, salvo se preferir, no prazo estabelecido, restituir-lhe a coisa emprestada.)
– Obrigações líquidas: são aquelas em que há certeza quanto à existência e determinação do objeto. 
Exemplo: o devedor compromete-se a transferir ao credor o total de 40 sacas de açúcar. 
– Obrigações ilíquidas: o objeto é incerto e depende de apuração. 
Exemplo: o devedor vende ao credor toda a sua safra futura de tomates, sem saber ao certo o quanto isso corresponderá. 
– Obrigações divisíveis: o objeto da prestação pode ser fracionado sem que disso resulte perda do valor econômico, destruição do bem ou perda do interesse do credor. 
Exemplo: se A e B são devedores de C na quantia de 1000 reais, A pode pagar 600 e B pode pagar 400 que a obrigação restará adimplida 
– Obrigações indivisíveis: o objeto da prestação não é suscetível de fracionamento. 
Exemplo: A e B devem entregar um imóvel a C; neste caso, dada a indivisibilidade natural do bem, o devedor A não tem como transferir apenas parte do imóvel a C. 
Quanto à estrutura:
 – Obrigações simples: há apenas um único credor, um único devedor e uma única prestação. Exemplo: compra e venda de um automóvel em uma concessionária. 
– Obrigações complexas: existe pluralidade subjetiva (credores e/ou devedores) e/ou objetiva (mais de uma prestação). As obrigações solidárias (pluralidade subjetiva) e as obrigações alternativas (pluralidade objetiva), por exemplo, são consideradas obrigações complexas. Exemplo: a obrigação de o Estado, o Município e a União de empregar todos os meios disponíveis para garantir a saúde do indivíduo (obrigação solidária). A obrigação de o devedor transferir ao credor uma casa ou um apartamento no valor ajustado entre as partes.
Quanto aos sujeitos:
 – Obrigações fracionárias: embora haja pluralidade de credores e/ou devedores, cada credor apenas pode exigir a sua parte do crédito e cada devedor responde apenas pela sua parte na dívida. 
Exemplo: uma obrigação em que foi estipulado que A e B devem pagar 500 reais a C, sendo que C somente pode cobrar 250 reais de cada devedor. 
– Obrigações conjuntas, unitárias ou de mão comum: são obrigações unitárias em que, existindo mais de um credor ou mais de um devedor, a prestação somente pode ser realizada em sua integralidade. Inexiste, nas obrigações conjuntas, divisão de responsabilidade. Exemplo: se duas ou mais pessoas se obrigarem a dar, conjuntamente, 10 (dez) toneladas de tomate a um determinado credor, a obrigação somente será cumprida se todos os devedores entregarem a prestação devida, não podendo o credor exigir a obrigação individualmente de qualquer devedor. 
– Obrigações disjuntivas: há mais de um devedor, mas o credor pode escolher de qual devedor cobrará a prestação, exonerando os demais. 
Exemplo: A e B comprometem-se a entregar um cavalo de raça a C, sendo que C pode escolher de qual devedor cobrará a entrega do animal. 
– Obrigações solidárias: há mais de um credor ou mais de um devedor, cada um com direito ou obrigado à dívida toda. 
Exemplo: Caio e Tício comprometem-se solidariamente a transferir a César 90 sacas de café; ainda que a obrigação seja naturalmente divisível, César pode exigir as 90 sacas tanto de Caio quanto de Tício. 
– Obrigações conexas: não se trata propriamente de obrigações subjetivamente complexas. Há várias obrigações que, por possuírem uma causa comum, os devedores têm que cumprir prestações distintas ao mesmo credor. 
Exemplo: se contrato pintor e pedreiro para reformar minha casa, só poderei exigir a prestação do pintor depoisde exigir a do pedreiro. Uma está vinculada à outra, apesar de serem individuadas.
Quanto ao modo de execução:
 – Obrigações instantâneas: o pagamento é feito de maneira integral, imediatamente após o surgimento da obrigação. 
Exemplo: se você compra um lanche na cantina da faculdade, deve imediatamente pagar o preço e a cantina imediatamente deve entregar-lhe o lanche.
 – Obrigações periódicas (execução continuada ou trato sucessivo): o pagamento é feito em prestações periódicas ao longo de um período determinado de tempo. 
Exemplo: o sujeito celebra contrato de promessa de compra e venda do imóvel cujas prestações são parceladas em 10 (dez) vezes. 
– Obrigações diferidas: o pagamento é feito integralmente em um único ato, porém postergado no tempo. 
Exemplo: num contrato de comodato, o devedor é obrigado a restituir o bem após quatro meses. 
Quanto ao conteúdo:
 – Obrigações de meio: o devedor obriga-se a utilizar todos os meios disponíveis ao cumprimento da obrigação, sempre com diligência, prudência e perícia, sem, contudo, assegurar um resultado específico. 
Exemplo: cirurgia plástica reparadora. 
– Obrigações de resultado: o devedor assegura ao credor o atingimento de um resultado específico e apenas se desonera da obrigação se atingi-lo. 
Exemplo: cirurgia plástica estética. 
Quanto aos elementos acidentais:
 – Obrigações condicionais: sujeitas à condição suspensiva ou resolutiva. 
Exemplo: um pai compromete-se a dar um carro à filha desde que esta conclua sua graduação. – Obrigações a termo: sujeitas a evento futuro e certo, ainda que o tempo seja indeterminado. Exemplo: obrigações cujo pagamento ficou ajustado para 30 (trinta dias após a celebração do negócio).
 – Obrigações com encargo (modais): sujeitas a encargo.
 Exemplo: Caio doa a Tício um imóvel, desde que Tício comprometa-se a cuidar do doador enquanto este estiver vivo.
– Obrigação pura e simples: não está subordinada a condição, termo ou encargo. Exemplo: a compra e venda de aparelho celular em que a loja faz imediatamente a tradição do bem, sem a aposição de elementos acidentais a esse negócio.
- A condição é evento futuro e incerto que subordina a eficácia de um negócio jurídico. Termo é evento futuro e certo, ainda que em prazo indeterminado. Já o encargo é um dever imposto ao devedor em decorrência de negócios jurídicos gratuitos.
Obrigações reciprocamente consideradas:
– Obrigações principais: existem de maneira autônoma, independentemente de outra obrigação. 
Exemplo: a obrigação decorrente de um contrato de compra e venda. 
– Obrigações acessórias: dependem da existência de uma outra obrigação. Às obrigações acessórias aplica-se o princípio da gravitação jurídica, ou seja, elas presumem a existência de uma obrigação principal. A hipoteca, por exemplo, apenas existirá enquanto houver o mútuo do qual é garantia.
Obrigação de dar coisa certa 
A classificação tripartite (ou tricotômica) divide as obrigações em dar, fazer ou não fazer é a mais antiga no Direito Obrigacional. Obrigação de dar é espécie de obrigação positiva por meio da qual o devedor tem o dever de entregar uma coisa (bem) ao credor. O verbo dar aqui assume acepção bastante ampla: pode significar entregar a posse ou a detenção de um bem, restituir ou transferir a propriedade.
- Há obrigação de dar (obligatio dandi), por exemplo, no contrato de locação, em que o locador tem o dever de entregar a posse do imóvel ao locatário; também no contrato de depósito, em que o depositário tem o dever de restituir ao depositante o bem depositado; no contrato de compra e venda, em que o comprador tem o dever de transferir a propriedade do bem ao comprador.
- Em nosso sistema, a obrigação de dar constitui-se num compromisso de entrega de coisa e não a efetiva entrega da coisa. A obrigação de dar gera um crédito e não um direito real.
- No sistema brasileiro, em uma obrigação de dar o credor tem o direito que exigir do devedor conduta voltada à entrega, restituição ou transferência da posse ou propriedade do bem, mas, por si, não gera direito real. A mera celebração de um contrato de compra e venda de um bem móvel, por exemplo, não faz do credor o proprietário da coisa, mas sim credor do direito de exigir que o devedor transfira a coisa à sua propriedade; a transferência da propriedade ocorrerá com a tradição, no caso dos bens móveis, e com o registro no Cartório de Registro de Imóveis, no caso de bens imóveis.
- Obrigação de dar coisa certa, também chamada de obrigação específica, é aquela em que o objeto da prestação é certo e determinado, individualizado, apresenta peculiaridades próprias que o distingue dos demais do mesmo gênero e espécie. 
- Exemplo de obrigações envolvendo imóveis ( locação, compra e venda, comodato, doação e troca). Imóvel é bem perfeitamente individuado: apresenta área, localização e vizinhança próprias. 
- Na obrigação de dar coisa certa o interesse do credor está voltado à prestação de entrega, restituição ou transferência de bem individuado, de existência atual (Compra de uma água de coco na praia) ou futura (Compra da próxima safra de um produtor de grãos). Dessa afirmação é possível fazer uma importante conclusão que permeia toda a teoria do pagamento das obrigações: o credor não está obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa (art. 313, CC).
- As obrigações de dar coisa certa estão disciplinadas nos artigos 233 a 242, CC. 
- O art. 233, CC, consagra o princípio da acessoriedade (ou princípio da gravitação jurídica) ao estatuir que "a obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela, embora não mencionados, salvo se do contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso". Assim, regra geral, a obrigação de dar coisa certa abrange tanto a coisa (bem principal) quanto os seus acessórios (frutos, produtos e benfeitorias). Esse dispositivo deve ser complementado com o do art. 94, CC2 , que excetua as pertenças do princípio da gravitação jurídica.
- Fruto é "toda utilidade que um bem produz de forma periódica e cuja percepção mantém intacta a substância do bem que a produziu" . Podem ser percebidos (ou colhidos), pendentes, percipiendos, estantes e consumidos. 
- Produtos "bens que se retiram da coisa desfalcando a sua substância e diminuindo a sua quantidade".
- Benfeitoria "toda espécie de despesa ou obra (melhoramento) realizada em um bem, com o objetivo de evitar sua deterioração (benfeitoria necessária), aumentar seu uso (benfeitoria útil), ou dar mais comodidade (benfeitoria voluptuária)" 
- Pertenças são bens acessórios que "não constituindo partes integrantes, destinam-se, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro".
- Os frutos, produtos e benfeitorias devem ser entregues/transferidos ao credor junto com o bem principal, a não ser que as partes tenham pactuado em sentido contrário ou que as circunstâncias do caso não permitam, o que deve ser interpretado conforme os usos e costumes do local onde foi celebrado o negócio). Por exemplo, se A adquiriu todo o rebanho de B, estão incluídas as fêmeas prenhes, ainda que as partes não tenham estabelecido isso expressamente. 
- As pertenças não devem ser entregues/transferidas junto com o bem principal, salvo se a lei, as partes ou as circunstâncias do caso estabelecerem em sentido diverso. 
- Imagine uma compra e venda de imóvel residencial. Todas as benfeitorias realizadas no imóvel até a data da celebração do negócio devem estar presentes no momento da tradição. Aliás, isso é da própria natureza da obrigação de dar coisa certa, já que as benfeitorias contribuem para a individuação da coisa.
- Até o momento da tradição, a coisa pertence ao devedor. Disso infere-se que os frutos colhidos até o momento da tradição são do devedor, ao passo que os frutos pendentes pertencerão ao credor (art. 237, parágrafo único, CC). Também pertencerão ao devedor os frutos percipiendos, estantes e consumidos. Já os frutos colhidos com antecipação deverão ser restituídos ao credor (art. 1.214,parágrafo único, CC).
- Situação análoga é aquela em que, entre a celebração do negócio e a tradição, o bem houver sido melhorado ou acrescido. À regra de que até o momento da tradição a coisa pertence ao dono deve ser somado o princípio da vedação do enriquecimento sem causa: o devedor poderá exigir o aumento do preço proporcional à valorização da coisa e, se o credor não concordar em pagar a complementação, a obrigação pode ser resolvida.
- Resolver (a obrigação): Extinguir. A resolução é espécie de extinção que ocorre em razão do descumprimento do dever obrigacional por uma das partes.
Responsabilidade pela perda e pela deterioração da coisa: Os artigos 234 a 236 disciplinam a responsabilidade pela perda e pela deterioração da coisa. Perda é a destruição ou inutilização completa do bem, enquanto deterioração consiste na "danificação da coisa, afetando o seu valor econômico". Por ser obrigação de dar coisa certa, o objeto da prestação não pode ser substituído por outro, pelo que a primeira conclusão que pode ser tomada é a de que a obrigação deverá ser resolvida. 
- As regras atinentes à responsabilidade pela perda e pela deterioração da coisa levam em consideração dois critérios: 
a) o momento em que ocorreu a perda ou a deterioração (se antes ou depois da tradição).
b) a culpa do devedor (tomada a culpa aqui em seu sentido amplo, abrangendo tanto o dolo quanto a culpa em sentido estrito).
- A tradição a coisa pertence ao devedor e que isso é determinante para identificar a quem pertence os frutos gerados pelo bem. Como outra face da mesma moeda, podemos inferir que, se o devedor lucra com os frutos colhidos, os melhoramentos e acrescidos, ele também assume os prejuízos decorrentes da perda e da deterioração. 
- A obrigação como uma relação complexa impõe ao devedor o dever anexo de guarda e conservação da coisa até o momento da tradição. Assim é que existe um princípio geral de Direito que diz que a coisa perece para o seu dono (res perit domino). O credor ainda não tem direito sobre a coisa (jus in re), mas tão apenas o direito de vir a ter a coisa (jus ad rem), não podendo, portanto, suportar a perda ou a deterioração. Com base nessa premissa e nas variáveis apontadas acima (momento da tradição e culpa do devedor), é possível compreender as regras constantes dos artigos de 234 a 236.
 
A obrigação de restituir: é uma espécie de obrigação de dar coisa certa por meio da qual o devedor se obriga a devolver ao credor bem que está em seu poder. Por exemplo, no contrato de locação, o locatário tem o dever de restituir o imóvel ao locador no término do prazo; no contrato de depósito, o depositário deve devolver o bem que está sob sua guarda. 
- O Código Civil reserva os artigos 238 a 242 para tratar das obrigações de restituir. Tal qual ocorre na obrigação de entregar/transferir, na obrigação de restituir a responsabilidade pela perda e pela deterioração também parte da premissa de que a coisa perece para o seu dono (res perit domino) e as regras variam conforme a culpa do devedor. Observe, porém, que na obrigação de restituir o dono não é o devedor, mas sim o credor. 
- Na hipótese de perda total, o art. 238, CC10 , determina que, se o perecimento ocorrer antes da tradição e sem culpa do devedor, o credor suportará o prejuízo, sem que o devedor tenha que reparar os danos. Obviamente, os direitos do credor são resguardados até a data da perda. 
- Por outro lado, se a coisa se perder por culpa do devedor, ele deverá reparar integralmente os danos sofridos pelo credor, tanto pelo valor da coisa quanto pelos demais prejuízos de natureza patrimonial ou extrapatrimonial, conforme determina o art. 239. 
Exemplo: Tício precisou fazer uma viagem longa e por isso deixou o seu animal de estimação com Caio. Ao retornar de viagem, Tício descobriu que o cão sofreu um ataque cardíaco fulminante e faleceu. Neste caso Caio nada terá que reparar a Tício, pois não houve culpa sua na morte do animal. Se, todavia, Caio resolveu passear com o cachorro sem uso de coleira e guia e, por descuido seu, o cachorro morreu atropelado, Caio deverá indenizar Tício tanto no valor do animal quanto nas perdas e danos sofridos.
- Se ocorrer deterioração do bem, novamente prevalece a regra de que a coisa perece para o seu dono: se não houver culpa do devedor, o credor terá que aceitar a coisa no estado em que se encontra, sem direito a qualquer reparação; se houver culpa do devedor, o credor terá direito à reparação pelos prejuízos patrimoniais e extrapatrimoniais sofridos. 
- O art. 240 ao determinar que a deterioração da coisa por culpa do devedor seguirá a regra do art. 239 que trata da perda, aparentemente retira do credor a possibilidade de ficar com a coisa deteriorada. Todavia, a omissão da lei não elimina a alternativa de o credor ficar com o bem deteriorado no estado em que se encontrar, mais a indenização pelas perdas e danos.
- O Código Civil, com vistas a evitar o enriquecimento sem causa, apenas diferencia as hipóteses em que os melhoramentos e acréscimos ocorreram com ou sem despesa ou trabalho do devedor: 
– Se o devedor teve despesa ou agregou valor ao bem com o seu trabalho (art. 242, caput), o credor deverá ressarcir o devedor conforme as regras relativas às benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé previstas nos arts. 1.218 a 1.222.
- Se durante a vigência de um contrato de comodato o comodatário vier a realizar benfeitorias úteis e/ou necessárias no imóvel, terá direito à indenização pelo valor das benfeitorias, bem como poderá reter o bem até que a indenização seja paga; se, todavia, as benfeitorias úteis e necessárias forem realizadas após o término do prazo, momento em que cessou a boa-fé do comodatário, o comodatário terá direito ao ressarcimento do valor dispendido apenas nas benfeitorias necessárias, sem poder reter o bem.
– Se os melhoramentos e acréscimos ocorreram sem qualquer interferência do devedor (art. 241), o credor terá direito a receber a coisa no estado em que se encontra, sem qualquer ressarcimento ao devedor. Quanto aos frutos percebidos, o art. 242, parágrafo único, CC, estabelece que serão aplicáveis as regras atinentes ao possuidor de boa-fé e de má-fé (arts. 1.214 a 1.216).
Obrigação de dar coisa incerta 
A obrigação de dar coisa incerta é aquela em que a coisa objeto da prestação de dar é indeterminada (porém sempre determinável), genérica, definida apenas pelo gênero e pela quantidade (art. 243, CC).
- Na formação da obrigação, a coisa é meramente determinável por critérios elencados pelo credor e devedor; apenas em um momento posterior é que o bem será individualizado por meio de um ato de escolha entre todas as coisas do mesmo gênero das quais dispõe o devedor. 
- O caráter de indeterminação do objeto da prestação é transitório e finda uma vez feita a escolha. Se não houvesse possibilidade de determinação da prestação, o negócio jurídico seria inválido (art. 104, II). 
- Assim como a obrigação do locador de entregar a posse do imóvel é de dar a coisa certa (imóvel é bem determinado e individuado), a obrigação de entregar 3 dúzias de rosas vermelhas é de dar a coisa incerta, eis que esta é identificada pelo gênero (rosas vermelhas) e pela quantidade (3 dúzias). No primeiro exemplo, só serve ao credor (locatário) aquele determinado imóvel. Já no segundo exemplo, o credor (comprador) não quer uma rosa específica, mas sim qualquer rosa vermelha, desde que em quantidade suficiente para solver a obrigação; depois de ajustada a obrigação, caberá a alguém (credor, devedor ou terceiro, dependendo da situação) selecionar quais serão as rosas a serem entregues ao devedor. 
- O que é incerto (determinável) é a coisa (objeto mediato da obrigação) e não a prestação (objeto imediato da obrigação).
- A concentração do débito: Na obrigação genérica (dar coisa incerta) haverá sempre um ato de escolha, de seleção da coisa que, dentre todas as outras que atendam aos critérios de determinação estabelecidos pelaspartes, será entregue ao credor. Tal escolhe é chamda de concentração. 
- A concentração do débito na obrigação genérica é um ato unilateral voltado à individualização da coisa. 
- Na obrigação de dar coisa incerta, a concentração é apenas um ato típico concatenado aos demais para atingir a satisfação do credor. A incerteza, portanto, é apenas um dos estágios de desenvolvimento da relação obrigacional. 
- As partes devem determinar a quem caberá fazer a concentração da dívida. No silêncio das partes, o art. 244 estatui que a concentração ficará a cargo do devedor. A regra do art. 244 é supletiva: no título da obrigação constará se a escolha cabe ao credor, ao devedor ou mesmo a um terceiro e, se nada tiver sido ajustado nesse sentido, a concentração deverá ser feita pelo devedor.
- Porém quem quer que tenha o dever de escolher não poderá agir sem limites. A lei exige que a concentração atenda a um padrão mínimo de razoabilidade na medida em que estabelece que o devedor não poderá dar ao credor a coisa pior, nem poderá ser obrigado a dar a melhor (art. 244). A obrigação recai sobre a qualidade média dos bens disponíveis do devedor (princípio do meio termo ou da qualidade intermediária).
Exemplo: uma fábrica de polpa de frutas congelada (credor) adquira duas toneladas (quantidade) de acerola (gênero) de um determinado produtor (devedor). O produtor não poderá entregar à fábrica aqueles frutos que já estiverem impróprios para consumo, mas também não será compelido a entregar as melhores frutas. Cumpre ressaltar que essa é uma norma dispositiva e nada impede que as partes estipulem padrões de qualidade que devem ser observados no momento da concentração.
- Enquanto não houver a concentração, a obrigação ainda é incerta. Todavia, uma vez procedida a escolha e cientificado o credor desta, a obrigação passa a ser de dar coisa certa (art. 245) e será regida pelas regras constantes dos artigos 233 a 242.
- Há três teorias para determinar o momento em que a obrigação deixa de ser genérica e passa a ser específica: 
– Teoria da escolha, em que a concentração se consuma no momento em que a seleção da coisa foi feita. 
– Teoria do envio, por meio da qual não basta a mera escolha, mas o envio dos bens ao credor.
– Teoria da entrega, que exige a colocação dos bens escolhidos à disposição do credor.
- O Código Civil adotou a teoria da escolha, acrescentando um requisito: o credor tem que ser cientificado da concentração. É desnecessário que os bens tenham sido enviados e, consequentemente, irrelevante que tenham sido entregues ao credor. Basta que o devedor os selecione e comunique, mesmo que verbalmente, ao credor. Na prática, essa comunicação pode ocorrer por envio de fatura, notificação por escrito etc.
Responsabilidade pela perda e pela deterioração da coisa incerta: Diferentemente da obrigação de dar coisa certa, em que a perda ou a deterioração da coisa resulta em resolução da obrigação ou abatimento proporcional do preço, na obrigação de dar coisa incerta, o perecimento total ou parcial da coisa não interfere no vínculo jurídico. 
- Em se tratando de obrigação genérica, a regra de que a coisa perece para o seu dono soma-se à regra de que o gênero não perece (genus nunquam perit). Significa dizer que, enquanto durar o período de incerteza (ou seja, enquanto o credor não houver sido notificado da concentração), a obrigação tem que ser cumprida, mesmo tendo ocorrido perda ou deterioração da coisa, culposa ou não culposa.
Exemplo: Imagine que o produtor de acerola que foi referido no item anterior colha mensalmente cinco toneladas da fruta. Se, por razões climáticas, a produção do mês tiver sido inferior à esperada, ainda assim ele terá que entregar as duas toneladas vendidas à fábrica de polpa de frutas congelada. O produtor não poderá eximir-se de realizar a prestação, mesmo tendo ocorrido força maior, uma vez que ele poderá concentrar o débito no que restou de sua produção. E ainda que o comprometimento de sua safra tivesse sido maior do que o débito, ele poderia adquirir acerola de outro produtor para entregar à fabrica, eis que o gênero não perece.
- o devedor arca com o prejuízo da perda ou da deterioração (res perit domino) e permanece obrigado a satisfazer o interesse do credor, ainda que o perecimento total ou parcial tenha decorrido de caso fortuito ou força maior (art. 246). Essa regra, porém, não é absoluta e deve ser entendida com algum temperamento. Isso porque há obrigações genéricas que são restritas e, por isso, fogem à regra de que o gênero não perece. É o caso, por exemplo, de safras especiais de azeites ou de vinhos. 
- Digamos que o comprador encomende 15 (quinze) garrafas de um vinho de safra especial em que foram produzidas apenas 100 (cem) garrafas no total. Se houver perda ou deterioração antes da concentração, a regra de que o gênero não perece deve ser limitada à quantidade máxima de 100 (cem) garrafas, de modo que, se as outras 85 (oitenta e cinco) já tiverem sido consumidas ou vendidas, o objeto tornar-se-á impossível. 
Essa hipótese não é contemplada pelo art. 246, CC, no entanto o PL n. 699 tenta suprir essa lacuna, propondo nova redação ao dispositivo com o seguinte teor: "antes de cientificado da escolha o credor, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito, salvo se se tratar de dívida genérica limitada e se extinguir toda a espécie dentro da qual a prestação está compreendida".
- uma vez feita a concentração a obrigação deixa de ser genérica e passa a ser específica. Significa dizer que depois da concentração, os riscos pela perda e pela deterioração seguem as regras 234 a 236.
Obrigações de fazer
A doutrina clássica divide as obrigações em dois grandes grupos: obrigações com prestação de coisa (seja ela certa ou incerta) e obrigações de prestação de fato, consistente em uma atividade que o devedor tem de realizar (conduta comissiva) ou abster-se de realizar (conduta omissiva) em favor do credor. 
- A obrigação de fazer (obligatio ad faciendum) é relação jurídica na qual o devedor precisa prestar um serviço, um fato, ao devedor. Ao contrário da obrigação de dar, ela não se resume a uma entrega, restituição ou transferência da propriedade de um bem, mas envolve uma atividade desenvolvida em benefício do credor. Há obrigação de fazer quando um pintor deve pintar o muro de uma casa; quando o cantor obriga-se a realizar um show; quando um professor obriga-se a ministrar aulas; quando um médico obriga-se a realizar uma cirurgia em um paciente etc. 
- As obrigações de fazer podem ser: 
– Infungíveis (personalíssimas ou intuito personae): são aquelas em que apenas o devedor pode realizar a prestação. Foram as qualidades essenciais do devedor que levaram o credor a estabelecer com ele um vínculo jurídico, de maneira que outra pessoa não poderá substituir o devedor e praticar a conduta objeto da prestação (lembre-se que ninguém é obrigado a receber prestação diferente da pactuada, ainda que mais valiosa - art. 313). 
Na dicção do art. 247 a obrigação de fazer infungível é aquela em que somente ao devedor é imposta uma conduta ou só por ele exequível. Se, por exemplo, uma pessoa contratar um famoso cantor para se apresentar em seu aniversário, apenas esse famoso cantor poderá cumprir a obrigação. 
– Fungíveis (ou impessoais): são aquelas em que o devedor pode ser substituído por outra pessoa, sem prejuízo da satisfação do interesse do credor. Claro que preferencialmente o devedor é quem deve realizar a atividade avençada, porém, se outra pessoa o fizer, o credor ficará igualmente satisfeito. É o que acontece, por exemplo, com a obrigação de consertar um aparelho eletrônico: se a assistência técnica a que o credor levou o aparelho não fizer o reparo, outra pessoa capacitada poderá fazê-lo às expensas do devedor. O que é mais importante na obrigação de fazer fungível é o resultado da atividade, e não as características pessoais do devedor. 
Distinção entre obrigação de dar e obrigação de fazer: a obrigaçãode dar é de prestação de coisa enquanto a obrigação de fazer é de prestação de um fato. Porém não é com essa extrema facilidade que se pode entender a distinção de ambas, pois segundo a doutrina e a jurisprudência cada caso é um caso, ao qual o dever que prepondera na obrigação, de modo que se o dar pressupõe um fazer, a obrigação é de fazer. 
- Não é correto dizer que sempre que houver tradição da posse ou da propriedade, a obrigação é de dar, eis que muitas vezes haverá tradição também em obrigações de fazer. O critério a ser observado é se a prestação de dar é consectário lógico da obrigação de fazer ou não. 
Tutela específica das obrigações de fazer: O Código Civil de 2002, em seus artigos de 247 a 249, estabelece as regras aplicáveis nas hipóteses de descumprimento, culposo ou não, da obrigação de fazer.
- Sendo a obrigação de fazer infungível, se o devedor não realizar a prestação, surgirá o dever de indenizar os danos patrimoniais (danos emergentes e lucros cessantes) e extrapatrimoniais decorrentes do descumprimento (art. 247- Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta ou só por ele exequível). Por exemplo, imagine que os noivos (credores) contrataram uma banda (devedor) para tocar em seu casamento. Se a banda não comparecer na data e hora avençados porque, por descuido, acabou agendando outro show para o mesmo dia e horário, deverá reparar as perdas e danos sofridos pelos noivos. 
- Se a prestação se tornar impossível, deverá ser analisada se essa inexequibilidade foi culposa ou não. Se não houve culpa do devedor, a obrigação será resolvida com o restabelecimento das partes ao status quo ante, sem necessidade de reparação dos danos; se, porém, houve culpa do devedor, além da resolução haverá a necessidade de reparar os danos sofridos pelo credor (art. 248- Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; se, por culpa dele, responderá por perdas e danos.).
- Sobre a diferença entre a impossibilidade da prestação e a mora ou inadimplemento do credor, a impossibilidade não se confunde com a mora ou com o inadimplemento. A impossibilidade que interessa ao direito é a superveniente, ou seja, posterior ao início do negócio jurídico e desde que não tenha havido mora do devedor. O devedor que já estiver em mora quando da impossibilidade de a prestação ocorrer responderá inclusive pelas perdas e danos, ainda que a impossibilidade resulte de caso fortuito e força maior.
Exemplo: noivos contratam uma banda para o casamento, o cantor da banda sofra um acidente de trânsito e fique hospitalizado, sem poder se locomover pelas próximas semanas. A prestação se tornou inexequível sem culpa do devedor, o que faz com que a obrigação seja resolvida. 
- O Código Civil prevê que, se a obrigação for fungível, o credor, sem prejuízo do ressarcimento pelos danos patrimoniais ou extrapatrimoniais que tiver sofrido, poderá substituir o devedor por uma terceira pessoa, que realizará a prestação às expensas do devedor (art. 249- Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível. Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido.), com isso ele permite que em caso de urgência, o credor, independentemente de autorização judicial, realize ou mande realizar a prestação, sendo posteriormente ressarcido das despesas. Trata-se de autorização legal para o exercício da autotutela.
Exemplo: uma pessoa que tem uma casa à beira da praia contrate os serviços de outrem para, em um mês, construir um muro de arrimo para proteger a casa do movimento da maré. Passado o prazo estabelecido, o credor poderá mover ação contra o devedor para que ele construa o muro ou para que o órgão jurisdicional autorize que outra pessoa faça a obra, com as despesas pagas pelo devedor. Suponha, ainda, que esteja se aproximando uma superlua que fará a maré subir em proporções anormais que podem comprometer a estrutura da casa do credor, se o muro de arrimo não for logo construído. Nesse caso, o credor poderá, no exercício da autotutela, mandar construir o muro e depois cobrar as despesas do devedor.
- A autotutela, por ser medida de exceção, não pode ser exercida de maneira abusiva, devendo o credor comprovar a urgência.
- Ao consentir com a relação obrigacional, o credor não deseja o equivalente pecuniário suficiente para ressarcir seus prejuízos caso o devedor descumpra a prestação, mas sim que a atividade, o serviço seja efetivamente realizado. 
- Sempre que for possível, a tutela jurisdicional deve voltar-se à satisfação do credor, ao interesse do credor na prestação do fato. 
- a Lei n. 8.952/94 alterou a redação do art. 461 CPC , para autorizar o juiz a adotar as medidas necessárias para a obtenção do resultado prático equivalente ou impor multa cominatória (as chamadas astreintes, previstas no art. 461 §4o, CPC, com redação dada pela Lei n. 8.952/94) ao devedor a fim de persuadi-lo a cumprir a obrigação. O CPC/15 mantém a possibilidade de imposição de multa cominatória para compelir o réu a cumprir a obrigação, conforme depreende-se do art. 53726 do referido Diploma. 
Obrigações de não fazer : A obrigação de não fazer (obligatio ad non faciendum) é aquela em que a prestação consiste em uma omissão do devedor, que se abstém da prática de determinada conduta que, não fosse o vínculo obrigacional, poderia praticar. 
- Por isso, costuma-se dizer que, em regra, as obrigações de não fazer são personalíssimas e indivisíveis. 
- O art. 1.303 traz exemplo de obrigação negativa: o proprietário de imóvel rural não pode levantar construção a menos de 3 (três) metros do terreno vizinho. Também há exemplo de obrigação de não fazer no art. 22, I, a, da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), que autoriza que o juiz proíba o agressor de se aproximar da ofendida, seus familiares e testemunhas, podendo inclusive fixar limite mínimo de distância entre estes e o agressor.
- A obrigação de não fazer também pode surgir da vontade das partes, como ocorre nas servidões prediais em que o proprietário do imóvel serviente se abstém de construir imóvel que obstrua a vista do proprietário do imóvel dominante (servidão de vista). O descumprimento de uma obrigação de fazer ocorre no momento em que o devedor pratica a conduta que tem o dever de não praticar. Se, no exemplo do imóvel rural, o proprietário construir a um metro do terreno vizinho, é considerado inadimplente na obrigação de não fazer. 
- Há uma polêmica na doutrina sobre o descumprimento de obrigação de não fazer ser caracterizado como inadimplemento absoluto ou não (art. 390, CC), prevalecendo o entendimento de que o mero descumprimento da obrigação não induz necessariamente ao inadimplemento absoluto. 
- Renan Lotufo apresenta interessante classificação das obrigações de não fazer proposta por Maria Ángeles Egusquiza, que adota como critério o tempo de duração da obrigação: assim, as obrigações negativas podem ser instantâneas, quando a conduta negativa refere-se a um único ato do devedor, ou podem ser continuadas, pela exigência do comportamento ser prolongado no tempo, ou, ainda, ser periódicas, a certo prazo. 
Exemplo: se uma emissora de televisão é proibida de transmitir parte de um programa musical porque não obteve os direitos de reprodução de uma das músicas há uma obrigação de não fazer instantânea; já o caso de uma servidão de vista é uma obrigação de não fazer continuada.
- O art. 250 trata da impossibilidade superveniente da prestação de não fazer, estabelecendo que "extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato que se obrigou a não praticar". Esse dispositivo reproduziu o conteúdo do art. 882, CC/16, e ressalta o caráter personalíssimo da obrigação de não fazer.
- O art. 251 contempla a

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