Buscar

2 teoria_geral_das_relacoes_obri (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 160 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 160 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 160 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

TEORIA GERAL DAS 
RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Dóris Ghilardi
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Cristiane Lisandra Danna
Norberto Siegel
Camila Roczanski
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Bárbara Pricila Franz
Marcelo Bucci
Revisão de Conteúdo: Priscilla Camargo
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2018
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
G424t
 Ghilardi, Dóris
 
 Teoria geral das relações obrigacionais. / Dóris Ghilardi – Indaial: 
UNIASSELVI, 2018.
 160 p.; il.
 
 ISBN 978-85-53158-12-6
1. Obrigações (Direito) – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo 
Da Vinci.
CDD 347.4 
Dóris Ghilardi
Doutora em Ciência Jurídica pela Univali 
com tese aprovada com distinção e louvor (2015); 
Mestre em Ciência Jurídica pela Univali – Itajaí (2006); 
Formação e aperfeiçoamento pela Escola da Magistratura 
– ESMESC – Florianópolis – SC (2002); Graduação 
em Direito na Univali, Itajaí (2000). Professora adjunta da 
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC –, na área 
de Direito Civil; professora convidada permanente da ESA-SC; 
ex-professora da Escola da Magistratura de Santa Catarina 
(ESMESC); ex-coordenadora do curso de Pós-Graduação de 
Direito de Família e Sucessões do Cesusc; Pesquisadora. 
Membro da Comissão de Direito de Família da OAB-SC. 
Coordenadora Científi ca do IBDFAM-SC. Autora do livro 
Economia do afeto: análise econômica do direito de 
família; coautora do livro de Prática jurídica processual 
civil. Coorganizadora da coletânea de livros de Prática 
Jurídica, publicada pela Lumen Juris, e autora de 
diversos artigos científi cos. Membro do grupo de 
estudos de Direito Civil Contemporâneo.
Sumário
APRESENTAÇÃO ..........................................................................07
CAPÍTULO 1
Aspectos Gerais das Obrigações ............................................. 09
CAPÍTULO 2
Modalidades das Obrigações .................................................... 19
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
Efeitos das Obrigações: Adimplemento, Extinção 
e Inadimplemento ......................................................................... 29
Transmissão das Obrigações .................................................... 41
APRESENTAÇÃO
O tema a ser abordado no presente livro abrange as relações obrigacionais, 
ramo considerado como o mais refratário a mudanças dentro do Direito Civil, ou 
seja, não é tão sensível a alterações quanto outras áreas, caso do Direito de 
Família, o que não significa dizer que seja imutável. Pelo contrário, novas teorias 
têm surgido e recentes reformas legislativas – caso do novo Código de Processo 
Civil e do Estatuto da Pessoa com Deficiência – alteraram a matéria.
 
Atentando às transformações, esta obra é redigida com base no Código 
Civil e demais legislações que influenciam o Direito Obrigacional, além de trazer 
teorias doutrinárias e entendimentos dos tribunais. 
A compreensão do Direito das Obrigações, sua estrutura, formação e efeitos serão 
detalhadamente estudados, de maneira a contemplar a dinâmica contemporânea das 
relações negociais. Os dogmas clássicos cederam espaço para uma compreensão 
mais abrangente e humanística, estabelecendo limites às obrigações. 
Repaginada a autonomia privada, a antiga relação entre credor e devedor 
ultrapassa o restrito campo do simples cumprimento ou descumprimento da 
prestação, exigindo, para tanto, a observância dos deveres laterais ou anexos que 
requerem das partes um modelo de conduta pautada pela honestidade lealdade 
e confiança. 
Com base nisso, este livro está dividido em quatro capítulos. O primeiro, 
intitulado como Aspectos gerais das obrigações, tratará sobre conceito, 
elementos, fontes e classificação das obrigações. Observando a releitura da 
relação obrigacional, será esta tratada como um verdadeiro processo que leva em 
consideração o comportamento ético e de cooperação, pautado pela boa-fé do 
início ao fim das tratativas entre as partes. 
O segundo capítulo abrange as modalidades das obrigações com a finalidade 
de compreender os diversos tipos de obrigações, suas características, modalidades 
e consequências, buscando a sua compreensão teórica e prática adequada.
Na sequência, o terceiro capítulo aborda os efeitos das obrigações, tratando 
dos modos de adimplemento, extinção e inadimplemento, atentando para as 
particularidades a que se sujeitam as relações no que tange às possibilidades de 
cumprimento e consequências de descumprimento.
Por fim, o último capítulo aborda a transmissão das obrigações, 
esclarecendo e diferenciando a cessão de crédito, de débito e de contrato.
CAPÍTULO 1
Aspectos Gerais das Obrigações
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Compreender a concepção do Direito Obrigacional contemporâneo.
 Conhecer as fontes que constituem o Direito Obrigacional.
 Compreender seus elementos e classifi cação.
 Realizar a compreensão e aplicação correta do Direito Obrigacional contemporâneo
10
 TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
11
ASPECTOS GERAIS DAS OBRIGAÇÕES Capítulo 1 
ContextualiZação
Este capítulo se destina ao estudo e recapitulação dos aspectos 
introdutórios do direito das obrigações com o objetivo de compreender o conceito 
contemporâneo de obrigação e todas as importantes implicações daí decorrentes. 
Analisar os efeitos práticos da obrigação como processo, as condutas exigidas 
pelas partes e os deveres anexos são tarefas salutares para um amplo 
aprendizado do conteúdo. Por fi m, importa também observar os elementos 
constitutivos das obrigações, suas fontes e campo de aplicação dos regramentos 
civis. Compreendidas as noções gerais e analisados os efeitos inerentes, parte-se 
para a classifi cação das obrigações, tema do segundo capítulo.
Conceito de Obrigação
O Código Civil divide-se em Parte Geral e Especial. Obrigações é o primeiro 
livro da parte Especial e compreende, além das obrigações propriamente ditas, 
também os contratos e a responsabilidade civil. Este livro traz apenas as noções 
das relações obrigacionais. 
O Direito das Obrigações é um ramo de conteúdo econômico, de natureza 
pessoal, não o confundindo com os direitos reais que pertencem ao Direito das 
Coisas. 
É fundamental perceber que existem dois grupos de direitos subjetivos 
patrimoniais: os direitos obrigacionais ou de crédito e os direitos reais. Duas 
teorias buscam explicá-los. A teoria unitária defende a unifi cação dos dois direitos, 
já a teoria dualista trabalha os dois grupos separadamente. O Brasil optou por 
trabalhar conforme a teoria dualista. 
Assim, embora os direitos subjetivos patrimoniais sejam tema comum aos 
direitos obrigacionais e reais, a primeira área contempla os direitos pessoais, 
enquanto o Direito das Coisas trata dos direitos reais.
 
O direito pessoal “consiste num vínculo jurídico pela qual o sujeito ativo pode 
exigir do sujeito passivo determinada prestação. Constitui uma relação de pessoa 
a pessoa e tem, como elementos, o sujeito ativo, o sujeito passivo e a prestação” 
(GONÇALVES, 2016, p. 23). 
12
 TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
Já o direito real pode ser defi nido como “o poder jurídico direto e imediato, do 
titular sobre a coisa, com exclusividade e contra todos” (GONÇALVES, 2016, p. 23). 
Dito deoutra forma, é uma relação jurídica entre o titular e a coisa. Portanto, tem 
como elementos o sujeito ativo, a coisa e a relação ou poder do sujeito sobre a coisa.
Destarte, nos direitos obrigacionais, a fi nalidade da obrigação assumida 
entre credor e devedor é o cumprimento da prestação, ou seja, o que importa é a 
atividade do devedor (comportamento do devedor, traduzida na prestação de dar, 
fazer ou não fazer) e não a coisa em si. 
Exemplifi cando: se dois sujeitos celebram um contrato em que um passa a 
se obrigar a entregar uma bicicleta ao outro, o credor passa a ser o titular de 
um direito pessoal a ser exercido em face do devedor. Isto é, pode exigir que o 
devedor cumpra com a sua prestação (de dar, de fazer ou não fazer – no caso, de 
entregar a bicicleta). Não existe uma pretensão de direito real sobre a coisa em si, 
apenas a de exigir o cumprimento da prestação. 
Em síntese, nas palavras de Gagliano e Pamplona Filho (2016, p. 46), “[...] 
conclui-se que o cumprimento da prestação (atividade do devedor), e não a coisa 
em si (o dinheiro, o imóvel etc.), constitui o objeto imediato da obrigação e, por 
conseguinte, do próprio direito de crédito”.
Em contrapartida, nos direitos reais se estabelece uma relação não entre 
sujeitos, mas uma relação de poder do titular sobre o próprio objeto – bem móvel 
ou imóvel.
O direito real surge a partir da constituição da posse ou propriedade, ou seja, 
tomando como exemplo a mesma situação colocada anteriormente: se o devedor 
cumprir com a sua prestação, a de entregar a bicicleta, surge, então, uma relação 
jurídica de direito real entre o sujeito ativo e a coisa que faz com que qualquer 
outro sujeito deva respeitar o direito ali estabelecido. Caso violado, surgirá a 
pretensão de direito real. 
“Em verdade, a pretensão de direito real apenas se manifestará contra aquele 
que eventualmente viole o dever genérico de não lesar” (FARIAS; ROSENVALD, 
2017, p. 102).
13
ASPECTOS GERAIS DAS OBRIGAÇÕES Capítulo 1 
Esquematizando: 
Relação Jurídica pessoal: Sujeito Ativo – Sujeito Passivo – 
Prestação
Relação Jurídica real: Titular Direito Real – Relação Jurídica – 
Coisa
a) Distinções entre direitos reais e pessoais
Tecer considerações sobre as principais distinções entre os direitos reais 
e pessoais é fundamental para uma compreensão mais dinâmica e abrangente 
do conteúdo. 
I – A primeira delas trata da relação instalada já mencionada, razão pela 
qual não será novamente detalhada. Apenas para deixar claro, a relação 
de direito pessoal se dá entre as partes, enquanto a relação de direito 
real se dá entre sujeito ativo e objeto.
II – No direito pessoal, a relação passiva está vinculada ao sujeito passivo 
(devedor), isto é, diante de eventual descumprimento da prestação 
caberá ao sujeito ativo (credor) exigir do sujeito passivo o cumprimento 
da prestação. Exemplifi cando: se o devedor se obrigou a transferir um 
terreno para X e culminou por vendê-lo a um terceiro, exceto no caso de 
fraude (que resultaria em anulabilidade), o credor não pode, a princípio, 
exigir do terceiro o imóvel. O descumprimento da prestação só poderá 
ser exigido em face do devedor que, neste caso, em razão do bem já 
estar com terceiro, se resolverá em perdas e danos. 
Somente um registro do contrato de compra e venda na matrícula do imóvel 
(contrato com efi cácia real, em razão do registro) permitiria a pretensão do credor 
em face de terceiros.
14
 TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
Já no direito real, a relação passiva é erga omnes, extensível contra todos. 
Exemplifi cando, após estabelecido o domínio sobre a coisa, não pode qualquer 
pessoa turbar ou esbulhar o poder do titular sobre a coisa. Se alguém violar o 
dever genérico de abstenção, o titular poderá mover a ação correspondente 
contra quem estiver indevidamente com a coisa. Por isso, os direitos reais são 
dotados do direito de sequela, que permite ao titular da coisa buscá-la com quem 
quer que esteja. Exemplifi cando: se o devedor transferir regularmente – escritura 
pública de compra e venda, registrada no cartório de registro de imóveis – o 
terreno para X e, após isso, vender o terreno por meio de um contrato de gaveta 
para terceiro e este entrar na posse do imóvel, X poderá mover a ação apropriada 
– ação reivindicatória – para assegurar a sua propriedade e posse.
III – A efi cácia é inter partes no direito pessoal e erga omnes no direito 
real, conforme mencionado. Dito de outra forma, a violação do direito 
subjetivo obrigacional somente autoriza a pretensão em face do 
próprio devedor (sujeito passivo). Já no direito real, a violação do 
direito permite ao sujeito ativo exigir a pretensão contra quem o tenha 
violado. No caso de o transgressor já ter repassado o bem adiante, 
o credor pode exigir a coisa de quem esteja com ela, em razão do 
direito de sequela. Exemplifi cando, se A vender uma moto para B e, 
antes de entregá-la a B, vender novamente para C, B poderá exigi-la 
diretamente de C.
IV – Enquanto os direitos reais são taxativos, ou seja, estão todos previstos 
no artigo 1225 do Código Civil, os direitos pessoais são ilimitados, 
podendo ser livremente criados pelas partes. 
Quadro 1 – Distinção entre direitos pessoais e reais 
DE CRÉDITO / OBRIGACIONAIS REAIS
I – Relação jurídica interpessoal (credor –
devedor); obrigações em geral (dar, fazer, 
não fazer);
I – Poder/relação entre pessoa e coisa 
(para o seu exercício prescinde-se de ou-
tro sujeito) 
- propriedade;
II – Obrigação passiva vinculada ao deve-
dor;
II – Obrigação passiva universal;
Dever geral de abstenção (todos devem 
respeitar o direito real do outro);
III – Efi cácia inter partes (o convencionado 
só produz efeitos entre as partes: credor e 
devedor);
III - Efi cácia erga omnes – são oponíveis 
a todas as pessoas (todos devem respeit-
ar; o sujeito passivo identifi cado somente 
surge quando há violação ou ameaça 
concreta – esbulho ou turbação);
15
ASPECTOS GERAIS DAS OBRIGAÇÕES Capítulo 1 
IV – Ilimitado (típicos e atípicos) / autono-
mia da vontade.
IV - Taxativos – numerus clausus – não 
admite ampliação pela vontade das partes 
(art. 1225 CC). Seguem o princípio da 
legalidade.
Fonte: A autora.
a) Obrigação propter rem ou ambulatória
São as obrigação sui generis, mistas que possuem características tanto do 
direito real (vincula sempre o titular da coisa) como do direito obrigacional (recai 
sobre uma pessoa que tem que satisfazer uma prestação). É, portanto, uma 
obrigação que recai sobre uma pessoa, por força de um direito real. A pessoa 
assume uma prestação em razão da aquisição de um direito real, ou dito de outro 
modo, em razão da coisa está obrigada a fazer ou deixar de fazer algo. 
Segundo Gonçalves (2016), a obrigação propter rem só existe em razão da 
situação jurídica do obrigado que é de titular do domínio de determinado direito 
real. Estão inseridas entre os direitos reais e pessoais, possuindo características 
de ambos. 
Cumpre recordar que, em regra, os direitos reais não criam obrigações 
positivas para terceiros, mas apenas o dever genérico de não lesar o direito 
alheio, enquanto os direitos obrigacionais geralmente surgem de um negócio 
jurídico entabulado entre credor e devedor. 
De modo excepcional, a titularidade de um direito real “importará a assunção 
de obrigações desvinculadas de qualquer manifestação de vontade do sujeito. A 
obrigação propter rem está vinculada à titularidade do bem, sendo esta a razão 
pela qual será satisfeita determidada prestação positiva ou negativa” (FARIAS; 
ROSENVALD, 2017, p. 110). Portanto, as obrigações mistas surgem e se 
extinguem com o direito real. 
Exemplos de obrigações propter rem: os direitos de vizinhança, como os 
deveres impostos aos proprietários e inquilinos de não prejudicarem o sossego ou 
a segurança dos vizinhos (art. 1277); a obrigação dos condôminos de concorrerem 
para o pagamento das despesas da coisa comum (art. 1315); o deverde não 
alterar a fachada do prédio (art. 1.336). 
b) Obrigação com efi cácia real (efi cácia perante terceiros)
São as obrigações que sem perder seu caráter de direito a uma prestação, 
transmitem-se e são oponíveis a terceiros que adquirem direito sobre determinado 
16
 TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
bem. Certas obrigações alcançam por força de lei a dimensão de direito real. Tem 
como objetivo dar uma maior segurança jurídica.
Exemplos de obrigações com efi cácia real são: a) o contrato de locação 
devidamente registrado na matrícula do imóvel correspondente (art. 576); b) 
contrato de promessa de compra e venda de imóvel, devidamente registrado na 
matrícula do imóvel correspondente. 
Atenção: Contrato não transfere propriedade. O registro é o modo de 
transferência de bens imóveis. O registro permite a publicidade dos atos e é 
por esta razão que os direitos reais possuem direito de sequela, que é o direito 
de pleitear a coisa com quem ela estiver. Os contratos pertencem ao campo 
dos direitos pessoais, sendo seu descumprimento apenas oponível em face do 
devedor (sujeito passivo). Todavia, quando um contrato é devidamente registrado 
na matrícula do imóvel correspondente, ele permite que terceiros tenham acesso 
à informação ali contida, obrigando terceiros. 
Exemplifi cando: se X vender o imóvel a Y por meio de contrato de 
promessa de compra e venda devidamente registrado no cartório de imóveis e, 
posteriormente, X vender novamente o imóvel para Z. Supondo que Z ingresse na 
posse do imóvel, Y poderá requerer o seu direito real sobre o imóvel (art. 1417), 
ou seja, se o contrato não fosse registrado, só restaria a Y resolver em perdas e 
danos, como adquiriu o status de direito obrigacional com efi cácia real, pode ser 
oponível perante terceiro (Z).
c) Conceito de obrigações
O Código Civil não defi ne obrigações, deixando a tarefa para a doutrina. 
Segundo Farias e Rosenvald (2017, p. 34), em sentido técnico-jurídico, a 
obrigação relaciona-se com “o vínculo existente entre pessoas, pelo qual uma 
assume uma prestação em favor da outra, vinculando o seu patrimônio”.
No passado, o conceito era centrado apenas na fi gura do devedor e do credor 
e o vínculo que os unia. Era visto como uma relação simples de subordinação do 
sujeito passivo ao sujeito ativo. 
Contemporaneamente, a relação obrigacional é vista com outros olhos, de 
forma mais dinâmica, observando a relação por inteiro e exigindo das partes um 
comportamento idôneo e ilibado, do início das tratativas até a entrega satisfatória 
da prestação. Ainda há o vínculo entre credor e devedor, porém, o devedor sujeita-
se não mais ao credor, mas ao cumprimento da prestação. 
17
ASPECTOS GERAIS DAS OBRIGAÇÕES Capítulo 1 
Além disso, não mais interessa apenas o simples cumprimento, mas a forma 
adequada e esperada de cumprimento, respeitando os prazos, as convenções e 
os locais de cumprimento, conforme ajustado. 
Exemplifi cando: se uma empresa de colocação de outdoors é contratada 
para colocar três painéis de propaganda pela cidade, de nada adianta colocá-
los em locais de pouca circulação de pessoas ou escondidos atrás de arbustos. 
Apesar do cumprimento, este se deu de forma imperfeita, podendo ser exigido 
seu cumprimento de modo satisfatório aos interesses do credor. 
A obrigação passou a ser vista como um processo, tendo 
em vista a sua complexidade que exige uma série de atividades 
e comportamentos de ambas as partes, em atendimento não só 
à entrega da prestação em si, mas também em observância aos 
deveres anexos ou laterais de conduta, consistentes em respeitar 
os deveres de informação, lealdade, respeito, probidade, conduta 
honesta, garantia, deveres de proteção, cooperação a fi m de não 
frustrar as legítimas expectativas de confi ança entre os contratantes. 
Há, portanto, uma diversidade de deveres contidos no vínculo entre credor e 
devedor, consubstanciada na exigência de uma atuação calcada na boa-fé objetiva.
Segundo Clóvis de Couto e Silva (1976, s.p.), “é a fi nalidade que determina 
a obrigação como processo”. Dito de outra maneira, a relação obrigacional é 
uma estrutura dinâmica de processos, não um vínculo estático. É uma ordem de 
cooperação entre devedor e credor, cuja fi nalidade é o adimplemento perfeito, que 
evita danos e aborrecimentos desnecessários de uma parte à outra ao longo de 
toda a trajetória. 
Releva anotar que em uma única relação jurídica encontram-se variadas 
obrigações, “assumindo ambas as partes, em diferentes momentos, o papel de 
credor e devedor de diferentes obrigações” (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 36). 
18
 TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
Ilustrativamente, pode-se falar de um contrato de compra e venda de um 
veículo, enquanto o comprador possui a obrigação de pagar, ao vendedor cabe a 
entrega da coisa.
Neste processo intersubjetivo, vencendo-se a polaridade credor e devedor, a 
fi nalidade continua a ser a satisfação dos interesses do credor. Porém, a ordem 
de cooperação recíproca exigida requer que o cumprimento deva ser feito da 
maneira mais satisfatória possível a ambas as partes, sem onerar ou difi cultar a 
satisfação de interesses contidos na relação obrigacional. 
Neste sentido, confi rmam Farias e Rosenvald (2017, s.p.), que “é preciso 
que o próprio credor adote uma posição de cooperação para o adimplemento, 
permitindo que o devedor se veja liberto do vínculo”.
Com efeito, a relação de cooperação exigida entre as partes, requer que 
o adimplemento ocorra da forma mais satisfatória ao credor e menos onerosa 
ao devedor. 
Para aprofundar seus conhecimentos, leia: SILVA, Clóvis V. do 
Couto. Obrigação como processo. São Paulo, FGV, 2011.
 Como visto anteriormente, o direito brasileiro adota a teoria dúplice, tratando 
de forma diversa e separada os direitos reais e obrigacionais. Porém, esta 
separação é relativa, já que o negócio real depende do negócio obrigacional. 
Assim, para que o cumprimento da obrigação ocorra de maneira satisfatória, as 
duas etapas devem ser respeitadas. Portanto, se A se comprometer na obrigação 
de entregar alguma coisa, já estará se comprometendo com o resultado fi nal que 
é a transferência da propriedade.
Exemplifi cando: se A vender por meio de promessa de compra e venda 
uma casa para B, no momento de efetuar a escritura pública de compra e venda 
não poderá difi cultar ou impedir a sua confecção (documento que permitirá o 
registro efetivo e aquisição do direito real), já que a obrigação é vista como um 
processo, estendendo-se da obrigação de conduta honesta e cooperativa até a 
concretização defi nitiva do direito real. 
19
ASPECTOS GERAIS DAS OBRIGAÇÕES Capítulo 1 
No Brasil, enquanto a relação obrigacional objetiva a entrega da prestação, 
o direito real só se constitui pela tradição (bens móveis) e pelo registro (bens 
imóveis). E estas etapas dependem do negócio obrigacional que as antecede. 
Tanto a tradição quanto o registro não constituem novos negócios, tanto que 
o artigo 1268 prevê que não será transferida a propriedade caso contenha um 
negócio jurídico nulo.
Diferentemente ocorre no direito alemão em que há uma separação absoluta 
das duas esferas – negócio obrigacional e real – abstraindo-se a causa ao tempo 
da transmissão. Isto é, concluída a primeira etapa, restará adimplida a obrigação 
por inteiro. Tanto que se algum problema se verifi car na primeira etapa (negócio 
obrigacional) e já estiver concluída a segunda etapa (negócio real), a anulação ou 
nulidade do negócio obrigacional não afetará a efi cácia do registro, que é um ato 
independente, abstrato.
Já no direito francês e italiano, só uma etapa se verifi ca, já que seguem a 
teoria de unifi cação, ou seja, o contrato entabulado entre as partes é sufi ciente 
para transmitir a propriedade (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
Elementos das Obrigações
Trabalhada a defi nição de obrigação como processo a exigir cooperação 
entre sujeito ativo e passivo,importa analisar a sua estruturação, ou seja, 
conhecer os elementos que compõem a relação jurídica. 
Segundo lição de César Fiuza (2008, p. 290), “a obrigação estrutura-se pelo 
vínculo entre dois sujeitos, para que um deles satisfaça em proveito do outro, 
certa prestação”.
Do conceito é possível extrair três elementos que são: sujeitos, objeto (prestação) 
e vínculo. Ou como preferem alguns autores, como Gonçalves (2016, p. 39): 
a) o subjetivo, concernente aos sujeitos da relação jurídica 
(sujeito ativo ou credor e sujeito passivo ou devedor); b) o 
objetivo ou material, atinente ao seu objeto, que se chama 
prestação; e c) o vínculo jurídico ou elemento imaterial (abstrato 
ou espiritual).
Serão, portanto, trabalhados em tópicos separados cada um dos elementos.
Elementos: as obrigações são compostas de três elementos: o elemento 
subjetivo: relacionado aos sujeitos; o objetivo: relacionado ao objeto; e o vínculo: 
que une os dois elementos anteriores, como se verá a seguir.
20
 TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
a) Sujeitos ou elemento subjetivo
 
Os sujeitos da obrigação são o credor (sujeito ativo) e o devedor (sujeito 
passivo). O credor é aquele que tem o direito de exigir o cumprimento de 
determinada prestação, já o devedor é aquele que se obrigou a prestá-la. 
É preciso lembrar, todavia, que as obrigações são complexas em sua maioria 
e, portanto, as partes são credoras e devedoras reciprocamente, já que a relação 
negocial cria direitos e deveres. 
É possível haver pluralidade de sujeitos em qualquer polo da relação, sem 
descaracterizar a relação dual de sujeito(s) ativo(s) e passivo(s). Quando houver 
pluralidade de sujeitos, será preciso distingui-la entre obrigação solidária ou 
divisível ou indivisível, conforme se verá mais adiante. 
Os sujeitos podem ser pessoas naturais ou jurídicas (de direito público ou 
privado). As pessoas naturais podem ser capazes ou incapazes, sendo, neste 
caso, devidamente assistidas ou representadas, a depender da incapacidade, se 
relativa ou absoluta. 
Os sujeitos podem ser ainda determinados ou indeterminados, porém os 
indeterminados precisam ser determináveis no momento do cumprimento da 
obrigação. É, portanto, uma indeterminabilidade momentânea. Exemplo é o caso 
do cheque ao portador, a promessa de recompensa, ou um contrato de doação 
sem identifi cação do donatário. 
● Objeto ou elemento objetivo
O objeto se consubstancia em uma conduta humana positiva (de dar ou de 
fazer) ou negativa (de não fazer). É a chamada prestação. “É a ação ou omissão 
a que o devedor fi ca adstrito e que o credor tem o direito de exigir” (GONÇALVES, 
2016, p. 41).
O objeto da obrigação é o objeto imediato (próximo). O objeto imediato é 
a prestação de dar, fazer ou não fazer. Já o objeto da prestação, chamado de 
mediato (distante) está relacionado com a coisa. Exemplo: em um contrato de 
compra e venda de uma moto, a entrega (obrigação de dar ou de entregar) é o 
objeto imediato, já o objeto mediato é a moto (o que será entregue). 
O objeto imediato ou prestação deve observar algumas características 
essenciais: precisa ser lícito, possível, determinado ou determinável, que são 
também os elementos gerais de qualquer negócio jurídico (art. 104, CC).
21
ASPECTOS GERAIS DAS OBRIGAÇÕES Capítulo 1 
A licitude requer uma prestação autorizada pelo ordenamento jurídico. No 
caso de ser ilícita a prestação, será considerado nulo o negócio entabulado. 
Exemplos de negócios jurídicos com prestação ilícita são os contratos de venda 
de órgãos ou de venda de entorpecentes.
A possibilidade, por seu turno, precisa ser tanto física como jurídica. Se 
contrariadas estas características, mais uma vez o negócio será considerado 
nulo. A impossibilidade física relaciona-se com as leis físicas ou naturais, como 
um contrato de venda de um terreno em Júpiter ou o engarrafamento de todo o 
ar do universo. Já a impossibilidade jurídica é a que é proibida pelo ordenamento, 
como os negócios que tenham por objeto a herança de pessoa viva, art. 426, ou 
um bem público, art. 100, ambos do CC. 
Precisa ser também determinado ou determinável. Ser determinado 
signifi ca que a prestação deve estar especifi cada, detalhada, identifi cada, certa. 
Contudo admite também o ordenamento que esta especifi cação ocorra só mais 
adiante, no momento do cumprimento, caso da coisa incerta, que deve ser 
indicada ao menos pela quantidade e gênero, segundo redação do art. 243, CC. 
Exemplo: cem sacas de milho, sem especifi car o tipo. 
● Vínculo jurídico ou elemento abstrato ou imaterial
O vínculo jurídico é o feche normativo que dá coercibilidade à relação jurídica 
obrigacional. É o liame existente entre o credor e o devedor. Compõe-se do débito 
(ex.: dívida – obrigação de pagar do devedor) e da responsabilidade do crédito 
(possibilidade do credor de exigir judicialmente o pagamento da sua dívida).
Com efeito, percebe-se que é o vínculo jurídico que possibilita a exigibilidade de 
cumprimento da prestação avençada. Caso o cumprimento espontâneo não ocorra, 
garante-se o cumprimento da obrigação através da atuação do poder judiciário. 
Ocorrendo atendimento voluntário da prestação, restará adimplido o pacto 
ajustado entre as partes, que é, sem dúvidas, a fi nalidade almejada. Contudo, 
se isso não ocorrer, a pretensão poderá ser exigida judicialmente, ensejando ao 
credor requerer as medidas coercitivas adequadas ao cumprimento da prestação. 
O Código Civil trabalha com a ideia de conversão em perdas e danos, porém, 
o CPC relega esta alternativa somente para os casos de requerimento expresso do 
autor neste sentido ou no caso de ser impossível a obtenção da tutela específi ca 
ou equivalente (art. 499, CPC).
22
 TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
Não é demais recordar que a satisfação da prestação, seja por meio de 
cumprimento espontâneo ou coercitivo, atingirá os bens do devedor, não sendo 
mais permitida a prisão civil.
Fontes das Obrigações
Fonte no direito signifi ca a origem de uma obrigação, ou de acordo com 
Gonçalves (2016, p. 46), “é todo o fato jurídico de onde brota o vínculo obrigacional”.
Descobrir, desse modo, a fonte das obrigações consiste em classifi car os fatos 
que lhe dão origem, responsáveis pela criação das relações entre credor e devedor. 
 
Contudo, essa não é uma tarefa singela, já que o código silenciou a respeito e a 
doutrina traz inúmeros posicionamentos que a sistematizam de maneiras diversas. 
Parte considerável da doutrina defende que a lei é fonte primária das 
obrigações, caso de Álvaro Villaça de Azevedo e Sílvio Rodrigues.
 
Contudo, divergem outros tantos com o argumento de que a lei é sempre 
fonte imediata das obrigações, inclusive da prestação alimentar que foge deste 
âmbito de análise. 
Dentro deste posicionamento, são trazidas as fontes mediatas das 
obrigações, também classifi cadas de formas variadas. Para Carlos Roberto 
Gonçalves (2016, p. 50): 
A lei, como se disse, é fonte imediata de todas as obrigações. 
Algumas vezes a obrigação dela emana diretamente, como no 
caso da obrigação alimentar [...]. Outras vezes, a obrigação resulta 
diretamente de uma declaração da vontade, bilateral (contrato) ou 
unilateral (promessa de recompensa etc) ou de um ato ilícito. 
Percebe-se, portanto, que para o citado, a “obrigação resulta da vontade do 
Estado, por intermédio da lei, ou da vontade humana, por meio do contrato, da 
declaração unilateral da vontade ou do ato ilícito” (GONÇALVES, 2016, p. 50).
 
A classifi cação, trazida por Gagliano e Pamplona Filho (2016, p. 66), já difere 
da anterior, veja:
a) atos jurídicos negociais (o contrato, o testamento, as 
declarações unilaterais de vontade);
b) os atos jurídicos não negociais (o ato jurídico stricto sensu, os 
fatos materiais – como a situação fática de vizinhança etc.);
c) os atos ilícitos (no que se incluem o abuso de direito e o 
enriquecimento ilícito).
23
ASPECTOS GERAIS DAS OBRIGAÇÕESCapítulo 1 
Atenção: Neste material será sugerido que se adote a classifi cação 
proposta por Fernando Noronha (2010) que propõe o abandono do 
critério das fontes para seguir uma classifi cação conforme às funções 
das obrigações, que se moldam em três categorias. 
a) Classifi cação pela função
Para Fernando Noronha (2010, p. 435), mais importante que tentar classifi car 
as obrigações segundo os fatos geradores, que são múltiplos, “é procurar agrupar 
as inúmeras obrigações da vida real de acordo com a diversidade de funções 
que elas desempenham na vida real, porque é tal diversidade que implica 
especifi cidades no regime jurídico”. 
Com base neste critério, três são as categorias fundamentais de obrigações 
do ponto de vista dos interesses tutelados: as negociais, de responsabilidade civil 
e de enriquecimento sem causa.
● Obrigações negociais 
As obrigações negociais representam a maior parte das obrigações 
encontradas e resultam da prática de um ato de autonomia privada voluntariamente 
assumida por dois sujeitos para alcançar os efeitos pretendidos, ou seja, é o poder 
concedido às pessoas de estabelecerem e regulamentarem os seus interesses. 
As obrigações negociais surgem por meio de contratos (negócios bilaterais) 
ou negócios unilaterais. Os primeiros requerem manifestações de duas ou mais 
partes, já os segundos surgem da declaração unilateral de vontade, como a 
promessa de recompensa (art. 854 e ss, CC) ou o pagamento indevido (art. 876 
e ss, CC).
Nas obrigações negociais a obrigação fundamental é o adimplemento 
da prestação ajustada; quando ela não é cumprida espontaneamente surge a 
pretensão que pode ser exigida judicialmente.
 
24
 TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
● Responsabilidade civil
A responsabilidade civil é uma outra categoria de obrigações que resulta no 
dever de indenizar os danos causados a outrem em decorrência do cometimento 
de atos ilícitos (art. 186, 187 c/c 927, CC).
Exemplifi cando: se o condutor de um veículo atropelar um pedestre que 
se encontra na faixa de segurança, terá a obrigação de reparar o prejuízo por 
este sofrido.
É visível a diferença entre as obrigações negociais e a responsabilidade civil. 
Na primeira, a prestação a ser cumprida é assumida voluntariamente entre as 
partes e caso não seja cumprida espontaneamente, ensejará o seu cumprimento 
coercitivo. Já na responsabilidade civil é estabelecido apenas um dever genérico 
de não lesar, eis que não há um vínculo anterior que una as partes. Somente após 
o dano é que surge a obrigação de reparação.
Apenas para lembrar, importa anotar que o dever de indenizar pode 
ocorrer mediante à comprovação da culpa, na responsabilidade subjetiva ou 
independentemente de culpa na responsabilidade objetiva.
● Enriquecimento sem causa
 
Consiste na restituição do acréscimo patrimonial indevido (art. 884, CC). 
Segundo Fernando Noronha (2010, p. 443), “indevidos porque, segundo a 
ordenação jurídica de bens, deveriam ter acontecido noutro patrimônio (ao qual 
estavam juridicamente reservados)”.
Farias e Rosenvald (2017) trazem uma consideração importante com base 
nas lições de Giovanni Ettore Nanni de que a classifi cação do enriquecimento 
sem causa, pelo Código Civil, dentre os atos unilaterais, não é o mais correto, já 
que deveria ser tratado como fonte autônoma. 
Exemplo trazido por Fernando Noronha (2010, p. 443-444) para o 
enriquecimento sem causa é a do escultor que transforma em estatueta um 
bloco de mármore “do qual de boa-fé se julga dono, e que terá que restituir ao 
proprietário do bloco o valor deste. A estatueta é do artista, mas o valor do bloco 
terá de ser reintegrado no patrimônio de quem era proprietário deste”. 
25
ASPECTOS GERAIS DAS OBRIGAÇÕES Capítulo 1 
Atenção: Explicadas as obrigações pelas funções 
desempenhadas, é preciso esclarecer que este livro tratará apenas 
das obrigações negociais, cujas modalidades serão abordadas no 
capítulo a seguir. 
b) Relações obrigacionais: o civil, o empresário, o consumidor
Cumpre deixar claro que as obrigações negociais, embora tenham um 
campo abrangente, possuem regramentos distintos a depender do conteúdo que 
encerram. O tratamento dado pelo Código Civil, objeto deste livro, possui um 
âmbito de aplicação restrito às relações travadas entre particulares – intercivis e 
interempresariais – não regulamentando as relações consumeristas. 
Sempre que tiver uma negociação envolvendo relação de consumo, 
ela seguirá um regramento próprio, preconizado pelo Código de Defesa do 
Consumidor (Lei nº 8078/90). Farias e Rosenvald (2017, p. 60) trazem uma 
consideração relevante sobre isso:
Todavia, o status de cada um desses personagens é 
essencialmente dinâmico. Aquele sujeito de direito que em 
determinada relação obrigacional desempenha o papel de 
empresário poderá atuar como civil em outro contrato, nada 
impedindo que em algum momento se identifi que como 
consumidor. O mesmo tipo contratual ensejará aplicação de 
normas distintas, conforme a mutação subjetiva e fi nalística 
da hipótese de incidência. Quer dizer, a igualdade ou a 
diferença serão visualizadas na concretude do caso, de acordo 
com o papel a ser desempenhado pelo agente econômico 
comparativamente ao outro agente econômico de determinada 
relação jurídica. Um contrato de compra e venda será civil, 
empresarial ou de consumo conforme a posição que se 
encontre naquela obrigação específi ca.
 
Com efeito, deve-se prestar atenção ao tipo de negociação realizada e os 
sujeitos envolvidos a fi m de saber identifi car qual regra incidirá. Por exemplo: se 
A adquiriu um produto em uma loja e está tendo problemas com a entrega, a 
solução será fornecida pelo CDC, já que se trata de relação de consumo. Agora, 
se A adquirir o produto de seu vizinho, por exemplo, que não é fornecedor, mas 
um mero particular, e encontrar o mesmo problema de entrega, a resolução será 
encontrada no Código Civil. É preciso fi car atento!
26
 TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
É assim por conta do tratamento especial dado aos vulneráveis que exigem 
tratamento diferenciado, como também acontece nas relações trabalhistas, 
tratadas especifi camente pela Consolidação das Leis do Trabalho. 
Para recordar ou aprofundar os conceitos de consumidor, 
fornecedor e relação de consumo, ver MARQUES, Cláudia Lima. 
Contratos no código de defesa do consumidor. 8. ed. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2016.
O capítulo chegou ao fi m e é preciso resgatar a ideia central aqui trabalhada 
que refl etirá no conhecimento de todo este livro. Para tanto, proponho uma 
atividade de estudo que deve ser realizada com afi nco. Bons estudos!
Atividade de Estudos:
1) Houve uma signifi cativa alteração no conceito de obrigação que 
mudou a forma de tratá-la e estudá-la, ressignifi cando não apenas 
a teoria, mas também a prática. Em que consiste a mudança? 
Justifi que. 
 _______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
27
ASPECTOS GERAIS DAS OBRIGAÇÕES Capítulo 1 
Algumas Considerações
O primeiro capítulo, portanto, introduz as relações obrigacionais e apresenta 
as suas nuances, além de tratar sobre a visão contemporânea de obrigação como 
processo em que as partes de uma relação obrigacional devem agir de acordo 
com os parâmetros da boa-fé durante toda a negociação. Além disso, foi visto 
o que compõe uma obrigação, seus elementos e suas fontes para agora, no 
próximo capítulo, tratarmos sobre as modalidades obrigacionais. 
ReferÊncias
BRASIL. Código civil e normas correlatas. 7. ed. Brasília: Senado Federal, 
Coordenação de Edições Técnicas, 2016.
COUTO E SILVA,Clóvis V. do. Obrigação como processo. São Paulo: 
Bushatsky, 1976.
FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: 
obrigações. Salvador: Jus Podivm, 2017.
Fiuza, César. Direito civil: curso completo. 11ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 
2008.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito 
civil: obrigações. São Paulo: Saraiva: 2016.
GOMES, Orlando; BRITO, Eduardo. Obrigações. 18. ed. rev., atual e aum. Rio 
de Janeiro: Forense, 2017.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das 
obrigações. São Paulo: Saraiva, 2016.
NORONHA, Fernando. Direito das obrigações. São Paulo: Saraiva, 2010.
28
 TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
CAPÍTULO 2
Modalidades das Obrigações
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Compreender os diversos tipos de obrigações e todas as suas características e 
elementos centrais.
 Aplicar adequadamente o Direito obrigacional em cada modalidade específi ca.
 Distinguir os variados tipos de obrigações.
30
 TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
31
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES Capítulo 2 
ContextualiZação
Há no Código Civil inúmeras modalidades de obrigações, todas trabalhadas 
em capítulos específi cos para facilitar o regramento dado a cada uma delas. A 
doutrina costuma agrupá-las em categorias, embora essa classifi cação seja 
apresentada em enquadramentos distintos, segundo diversos critérios adotados 
por cada autor, não havendo unanimidade classifi catória.
Apesar disso, os diferentes critérios não são um problema já que interagem 
e se inter-relacionam, ou seja, são complementares e não excludentes (FARIAS; 
ROSENVALD, 2017, p. 170).
Gonçalves (2016, 53-56), de forma bem didática, agrupa-as da seguinte maneira:
● Em função de seu objeto: obrigação de dar, que se 
subdivide em obrigação de dar coisa certa e de dar coisa 
incerta; obrigação de fazer e obrigação de não fazer.
● Quanto a seus elementos: obrigações simples e complexas, 
também chamadas de compostas. As obrigações complexas 
dividem-se pela multiplicidade de objetos (cumulativa e 
alternativa) e pela multiplicidade de sujeitos (divisíveis, 
indivisíveis e solidárias).
● Quanto à sua exigibilidade: civis e naturais.
● Quanto ao fi m: de meio, de resultado e de garantia.
● Quanto ao momento de cumprimento: de execução 
instantânea, diferida e periódica ou de trato sucessivo.
● Quanto aos elementos acidentais: puras, condicionais, a 
termo e com encargo ou modais.
● Quanto à liquidez do objeto: líquidas e ilíquidas.
No presente material será trabalhada cada modalidade de obrigação 
separadamente, porém, referindo-se à classifi cação anterior. O objetivo do 
capítulo destina-se, portanto, à percepção e compreensão de cada um dos tipos 
de obrigações, habilitando o aluno a identifi car e classifi car as obrigações de 
modo a aplicar as corretas resoluções e regramentos. 
Obrigação de Dar
As obrigações em função de seu objeto (dar, fazer e não fazer) são a base 
para todo tipo de obrigação, porquanto qualquer obrigação que venha a ser 
constituída abrangerá invariavelmente uma dessas três condutas. 
As obrigações de dar e de fazer são positivas, pois exigem um comportamento 
ativo, já as obrigações de não fazer são negativas, pois baseiam-se em atos de 
abstenção. 
32
 TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
a) Sobre a obrigação de dar
Conceito: a obrigação de dar, cujo objeto é a prestação de coisas, consiste 
na atividade de dar (entregar) ou restituir um objeto. Pode ser uma obrigação de 
dar ou entregar coisa certa ou incerta com previsão de regramentos distintos para 
cada modalidade caso não ocorra o cumprimento espontâneo. 
Figura 1 - Obrigação de dar coisa certa ou incerta
Fonte: A autora.
Das obrigações 
de dar 
Propriamente 
dita/entrega (arts. 
233 a 237 CC)
(arts. 243 a 
246, CC)
Restituição (arts. 
238 a 242, CC)
Coisa Incerta 
Coisa certa
Alguns autores, como Gagliano e Pamplona Filho (2016, p. 80), tratam de 
forma distinta a obrigação de dar e de entregar, tratando a obrigação de dar como 
a transferência de propriedade e a obrigação de entregar como transferência da 
posse ou detenção. 
Neste material serão utilizadas as expressões de dar e de entregar como 
sinônimos tanto de transferência de propriedade quanto de detenção ou posse. 
Destarte, a obrigação de dar ou entregar implica na transferência de coisas 
do devedor ao credor (lembrar que na compra e venda o vendedor deve pagar a 
coisa e o comprador deve entregá-la), enquanto a obrigação de restituir consiste 
na devolução da coisa recebida pelo devedor ao credor. Exemplos: 
● Obrigação de dar ou entregar – compra e venda de uma bicicleta, de um 
celular, de um terreno etc.
● Obrigação de restituir: comodato (empréstimo de coisa infungível), mútuo 
(empréstimo de coisa fungível) da coisa pelo devedor ao credor. 
33
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES Capítulo 2 
Atenção: Na visão de obrigação como processo, a prestação 
não se resume à obrigação de prestar (dar ou restituir), mas também 
ao resultado da prestação – guardar a coisa vendida, embalar, 
transportar, entregar a coisa sem avarias ou danos – porquanto a 
relação obrigacional é direcionada para uma fi nalidade específi ca, 
consistente no adimplemento que satisfaça aos interesses do credor. 
Lembre-se, ainda, como já visto no primeiro capítulo, de que no direito 
brasileiro, embora o direito real e obrigacional sejam tratados em planos distintos, 
a sua separação não é absoluta, já que o negócio dispositivo (real) depende do 
obrigacional.
Exemplifi cando: Na transferência de propriedade isso fi ca bem evidente. 
Se A vender para B um imóvel já na fase da negociação (direito obrigacional), 
o desejo de B é poder se tornar proprietário do referido bem. Assim, A deve agir 
durante toda a relação obrigacional, de modo a permitir que a transferência de 
propriedade se concretize. Portanto, não basta apenas entregar o imóvel para B 
e depois difi cultar a confecção da escritura pública, documento que permitirá o 
registro e aquisição do bem. 
Em relação aos bens móveis, as duas etapas praticamente se confundem já 
que a entrega fi naliza o negócio obrigacional e também inicia o direito real que, 
neste caso, ocorre pela simples tradição. A tradição pode ser real – entrega efetiva 
–, simbólica – quando representada por um ato, exemplo, entrega das chaves, 
na compra de um veículo –, ou fi cta – caso do constituto-possessório.
● Obrigação de dar coisa certa propriamente dita
● Objeto mediato da obrigação de dar coisa certa sempre será algo 
determinado que contenha características que o individualizem. 
Exemplos: compra e venda de um terreno com especifi cações e 
localização; aluguel de um veículo devidamente discriminado.
● Na obrigação de dar coisa certa, o devedor deve entregar exatamente o 
que se obrigou, não podendo entregar outra ainda que mais valiosa (art. 
313, do CC), por sua vez, o credor também não pode exigir coisa diversa 
do pactuado. 
34
 TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
● Preconiza o artigo 233 do CC que a obrigação principal (existência 
própria) também abrange os acessórios (depende do principal), embora 
não mencionados no acordo, exceto se o contrário resultar do título ou 
das circunstâncias do caso. Assim, no silêncio do contrato, na venda de 
vacas prenhas estão incluídos os fi lhotes; já na venda de uma fazenda 
não estão incluídos os animais destinados à produção.
O conceito de bens acessórios compreende: os frutos (utilidades produzidas 
periodicamente por uma coisa, ex.: frutas, crias, juros), os produtos (são as 
utilidades que se extraem de uma coisa, diminuindo a quantidade, ex.: metais 
e pedras) e as benfeitorias (obras realizadas na estrutura da coisa, ex.: piscina, 
troca de telhado). 
Para autores como Gagliano e Pamplona Filho (2016), inclui-se nosacessórios ainda as pertenças (coisas destinadas a conservar ou facilitar o uso 
das coisas principais, ex.: aparelho de ar-condicionado, máquinas utilizadas 
em uma fábrica) e as partes integrantes (bens que unidos ao principal formam 
um todo, como a lâmpada em relação ao lustre). Já para outros, como Farias e 
Rosenvald (2017a), as pertenças e partes integrantes não são bens acessórios 
em que pese serem subordinadas ao bem principal.
Para além dessa discussão, o importante é destacar que consideradas ou não 
como bens acessórios, as pertenças possuem um regramento próprio, segundo a 
regra prevista no art. 94 do CC que a disciplina, os “negócios jurídicos que tratam 
sobre o bem principal não abrangem as pertenças”. Então é fundamental exclui-
las da regra prevista no art. 233, CC. 
 
São exemplos de pertenças: as máquinas agrícolas, os tratores e os animais 
utilizados no preparo, plantio e colheita da produção; os elevadores, as instalações 
elétricas, os espelhos, os tapetes de uma casa, as máquinas e equipamentos 
utilizados em uma indústria. Além disso, o autor não considera como pertenças os 
móveis de uma casa, os instrumentos de trabalho e os livros da biblioteca.
Já Farias e Rosenvald (2017b, p. 541-542) consideram como pertenças os 
animais que auxiliam na produção, o aparelho de som do carro, bem como os 
móveis de uma fazenda, afi rmando que não seguem a sorte do bem principal. Em 
que pese a divergência, em relação aos móveis, na prática, difi cilmente se verá 
um contrato que não disponha sobre a inclusão ou exclusão deles. 
35
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES Capítulo 2 
– Por sua vez, o art. 237 do CC prevê que “até a tradição pertence ao 
devedor a coisa, com seus melhoramentos e acrescidos”. Lembra 
Gonçalves (2016, p. 65) que “como no direito brasileiro o contrato, por si 
só, não transfere o domínio, mas apenas gera a obrigação de entregar 
a coisa alienada, enquanto não ocorrer a tradição, na obrigação de 
entregar, a coisa continuará pertencendo ao devedor”. 
 
Diante da situação descrita, poderá o devedor “exigir aumento no preço; se o 
credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação” (art. 237, CC). Exemplo: 
venda de uma casa que será entregue em quinze dias e, neste meio tempo, a 
casa é atingida por um vendaval e o vendedor precisa efetuar a troca do telhado 
(benfeitoria necessária). Neste caso, incide a regra. 
Atenção: Não confundir o art. 233 do CC com o art. 237, CC. 
A primeira regra refere-se aos acessórios existentes ao tempo do 
pacto. Já a regra do art. 237, CC somente é aplicável em relação 
aos melhoramentos e acréscimos que forem constituídos entre a 
negociação e seu cumprimento. 
Além disso, para incidir na situação fática, os melhoramentos e acréscimos 
devem ter sido constituídos onerosamente (art. 242, CC). Caso tenham ocorrido 
sem despesas ou trabalho do devedor, não caberá indenização (art. 241, CC).
O conceito de melhorias previsto no artigo é bem abrangente, compreendendo 
as benfeitorias e acessões. Contudo, a regra exige bom senso e razoabilidade no 
que se concorda com Farias e Rosenvald (2017, p. 186), de que a indenização só é 
cabível se as benfeitorias e melhoramentos forem necessárias ou úteis e efetuadas 
de boa-fé. “Realmente, o devedor não poderá ser premiado pelo comportamento 
de má-fé muitas vezes utilizado para constranger o credor a aumentar o valor do 
negócio, ou mesmo para inviabilizá-lo” (FARIAS; ROSENVALD, 2017a, p. 187).
36
 TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
Em relação aos frutos, dispõe o parágrafo único do art. 237, CC de que 
pertencem os frutos percebidos ao devedor e os pendentes ao credor. Exemplo: 
no caso de comodato (empréstimo de coisa infungível). Se foi autorizado ao 
comodatário perceber os frutos da árvore que integram o imóvel, terá direito de 
colhê-los e consumí-los até o fi m do contrato; já os que ainda estiverem pendentes 
ao tempo da devolução do imóvel, pertencerão ao proprietário (GAGLIANO; 
PAMPLONA FILHO, 2016, p. 83).
Dica: se você estiver com difi culdades nos conceitos dos bens 
acessórios, retome-os nos livros na Parte Geral de Direito Civil.
● Consequências da não entrega
É obrigação do devedor zelar e cuidar da coisa até a sua entrega. Porém, 
se apesar disso se verifi car que a não entrega ocorreu por perecimento (perda 
completa do bem) ou deterioração (perda parcial), se foi com culpa ou sem culpa 
do devedor, diferentes consequências ocorrerão. Lembre-se de que os riscos 
correm por conta do vendedor até a entrega!
* Perecimento: perecimento é perda da coisa pelo seu desaparecimento ou 
perda das qualidades essenciais ou valor econômico.
Sem culpa do devedor: se a coisa se perder sem culpa do devedor (coisa 
destruída por uma inundação, raio, incêndio, roubo), resolve-se a obrigação para 
ambos (art. 234, CC), ou seja, se a coisa perecer sem culpa antes da tradição, 
ou pendente condição suspensiva (art. 125, CC), a obrigação se extingue para 
ambas as partes que retornam ao status quo ante.
 
Exemplifi cando: se A e B efetuam contrato de compra e venda e a coisa 
perecer sem que o preço da coisa tenha sido entregue, fi ca por isso mesmo, já 
que se nada foi adiantado não há o que restituir; porém, se o vendedor já recebeu 
o preço da coisa e ela se perder, deve devolver a quantia recebida, mas não 
estará obrigado a pagar perdas e danos.
 
Em caso de pendência de condição suspensiva (negócio subordinado a 
um casamento, formatura, conquista de um prêmio etc.), o direito ainda não foi 
adquirido, razão pela qual o devedor suportará o risco.
37
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES Capítulo 2 
Com culpa do devedor: a culpa acarreta a responsabilidade por perdas 
e danos. Neste caso, o credor tem o direito de receber o seu equivalente (em 
dinheiro), além das perdas e danos (dano emergente e lucro cessante), se for o 
caso (art. 234/402, CC). Exemplo: A vendeu sua bicicleta para B com pagamento 
à vista, porém, a entrega foi combinada para a semana seguinte. Na tentativa de 
entregá-la, A resolveu transportá-la na traseira de sua camioneta, sem os devidos 
cuidados. No caminho, em excesso de velocidade e dirigindo embriagado, sofreu 
um grave acidente, perecendo o veículo e a bicicleta que foram incendiados. 
Desse modo, A não só assumirá os riscos da perda, como terá que indenizar 
eventuais prejuízos decorrentes do não cumprimento da obrigação. Isto é, B terá 
direito a receber o dinheiro de volta, além de eventuais perdas e danos por ele 
sofridos e devidamente comprovados. 
Farias e Rosenvald (2017, p. 183) explicam que “nas perdas e danos estarão 
compreendidos apenas os lucros cessantes, já que o dano emergente seria o 
próprio dinheiro pago pelo objeto”. 
Acreditamos, contudo, que o dano emergente vai além do próprio 
equivalente. Por exemplo, se no caso exemplifi cado B adquiriu a bicicleta 
com intuito de participar de um torneio de ciclismo e já tiver pago a 
inscrição e, em razão da não entrega por A, B não puder participar da 
competição, restará comprovado o prejuízo efetivo.
* Deterioração: perda parcial.
 
Sem culpa: se a coisa se deteriorar, sem culpa do devedor (vendedor), 
poderá o credor (comprador) optar entre (art. 235, CC): a) resolver a obrigação, 
por não lhe interessar o bem danifi cado; b) ou aceitá-la no estado em que se 
encontra, com abatimento do preço.
 
Exemplo: A vende para B a sua moto, prometendo entregá-la no dia seguinte. 
No dia da entrega, um veículo colide com a moto, quebrando o espelho retrovisor, 
sem qualquer culpa do motoqueiro. Neste caso, B poderá escolher entre as duas 
alternativas. Lembre-se de que resolver a obrigação signifi ca retornar ao estado 
anterior, isto é, se já tiver efetuado o desembolso do preço, terá direito a recebê-lo 
de volta, senão, fi ca tudo como está. 
Com culpa: se a coisa se deteriorar com culpa do devedor (art. 236, CC), 
poderá o credor optar entre: a) resolver a obrigação, exigindo o equivalente (caso 
adiantado o pagamento),mais perdas e danos (se tiver); b) ou aceitar a coisa com 
abatimento de preço, porém com direito à indenização por perdas e danos.
38
 TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
Exemplo: se no caso do exemplo anterior a quebra do espelho retrovisor for 
provocada pela conduta culposa de A, que colide contra o veículo. Também neste 
caso, B poderá resolver a obrigação, exigindo a devolução do dinheiro (caso tenha 
adiantado o preço), além de eventuais perdas e danos, ou poderá aceitar a moto 
(cumprimento da tutela específi ca), com redução de preço, mais perdas e danos.
Refl exão: Farias e Rosenvald (2017b) defendem que se a deterioração 
tiver sido de pequena monta, não caberia ao credor a opção de exigir a 
resolução do contrato, pois ofenderia o princípio da proporcionalidade, além de 
resultar em abuso do direito, segundo a teoria do adimplemento substancial ou 
inadimplemento mínimo.
 
Esta é uma visão que pode ser considerada recente e depende do 
entendimento dos julgadores. Há, ainda, muita controvérsia na aplicação da teoria 
do adimplemento substancial. 
Teoria do adimplemento substancial: aplica-se aos casos em que há 
o cumprimento de grande parte da obrigação contraída. Se isso ocorrer, a 
aplicação da teoria não permite a outra parte pedir a resolução do contrato, 
isto é, prega a teoria que nas hipóteses em que o contrato tiver sido quase todo 
cumprido, não caberá sua extinção, mas apenas outros efeitos jurídicos, visando 
sempre à manutenção da avença. A teoria consagra os princípios da conservação 
do negócio jurídico e da boa-fé contratual.
b) Obrigação de restituir
Conceito: consiste na obrigação de devolver coisa alheia que se encontra em 
poder do devedor por força de estipulação contratual. Nas palavras de Gonçalves 
(2016, p. 72):
Caracteriza-se pela existência de coisa alheia em poder do 
devedor, a quem cumpre devolvê-la ao dono. Tal modalidade 
impõe àquele a necessidade de devolver coisa que, em razão de 
estipulação contratual, encontra-se legitimamente em seu poder.
É o caso do depositário (devedor) que deve restituir ao depositante aquilo 
que recebeu para conservar. Assim como a obrigação do locatário em devolver o 
bem, fi ndo o contrato; do comodatário entre outros.
39
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES Capítulo 2 
Atenção: a locação apesar de constituir uma obrigação de 
restituir, possui regramento próprio (Lei de Locação).
Relembrando as regras das benfeitorias:
 
Nas benfeitorias úteis e necessárias, o devedor tem direito de ser 
indenizado, podendo reter a coisa até o pagamento da indenização. 
Nas benfeitorias voluptuárias, poderá o devedor levantá-las, se não 
lhe for pago o valor devido. Se estiver de má-fé, só terá direito o 
devedor a reclamar indenização, sem direito à retenção.
Caso o bem não seja restituído voluntariamente no tempo certo e a coisa vier a 
se perder sem culpa do devedor, o prejudicado será o credor, que é o dono da coisa. 
● Consequências do não cumprimento
* Perecimento:
Sem culpa do devedor: se a coisa se perder antes da tradição (238, CC), o 
credor (dono) sofrerá a perda, com resolução da obrigação, ressalvados os seus 
direitos até o dia da perda. Exemplo: se o tênis emprestado for objeto de roubo, o 
proprietário sofrerá a perda, resolvendo-se a obrigação. 
A última parte do dispositivo garante ao proprietário os seus direitos até o dia 
da perda, assim, por exemplo, se A alugou uma prancha que veio a ser destruída 
por um raio, a negociação se resolve. Supondo que o aluguel tenha sido por cinco 
dias e que A utilizou-a durante dois dias até o seu perecimento, terá o locador 
direito a receber os dois dias de aluguel.
 
Já se a coisa a ser restituída teve melhoramentos ou acréscimos, sem trabalho 
do devedor, lucrará o credor, sem ter que indenizar, segundo o art. 241, CC. Se, por 
exemplo, A emprestou uma galinha para B e esta colocar ovos, estes deverão ser 
entregues ao proprietário. Já se o melhoramento provém do trabalho do devedor, 
aplica-se a regra das benfeitorias (art. 1.219, CC), segundo artigo 242, CC. 
40
 TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
Exemplo: No caso de uma casa emprestada, se o vidro da 
janela quebra e você efetua a troca, pode exigir o valor despendido, 
se o proprietário não quiser pagar, terás direito de retenção até o 
efetivo pagamento. 
Em relação aos frutos percebidos, prevê o parágrafo único do artigo 242, CC 
que se aplicam as mesmas regras do possuidor de boa ou má-fé. Para entender, 
é preciso recordar da regra trazida pelo art. 1.214, parágrafo único, do CC que 
dispõe ter o possuidor direito aos frutos percebidos se estiver de boa-fé, cabendo 
ao proprietário os pendentes. Caso já tenham sido colhidos, devem ser restituídos. 
Com culpa do devedor: se a coisa se perder com culpa (art. 239, CC), 
obriga-se o devedor a pagar o equivalente, além das perdas e danos. 
Exemplo: locação de um computador portátil que acaba sendo furtado 
por negligência do locatário. Caberá ao locatário pagar o valor do computador, 
acrescido eventualmente de perdas e danos.
* Deterioração:
 
Sem culpa do devedor: se a coisa se deteriorar sem culpa do devedor, 
“recebê-la ao credor tal qual se ache, sem direito à indenização” (art. 240, 
CC). Exemplo: se A emprestar um livro para B e este retornar com uma página 
manchada de café causada por um fortuito, A receberá o livro no estado em que 
se encontra. 
Com culpa do devedor: “se a coisa a ser restituída se deteriorar com culpa 
do devedor, obriga-se este a pagar o equivalente, além das perdas e danos” (parte 
fi nal do art. 240, CC). Exemplo: se A empresta a B um livro e este arrancar várias 
páginas em um momento de raiva, deverá B ressarcir a A o valor do livro, além de 
eventuais perdas e danos. 
41
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES Capítulo 2 
Atenção: o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) emitiu o 
enunciado nº 15 que preconiza que as disposições do art. 236 do CC 
também são aplicáveis às hipóteses do art. 240 in fi ne, CC, isto é, o 
enunciado permite ao credor receber a coisa no estado em que se 
encontra, com direito a perdas e danos, no caso de deterioração de 
coisa, com culpa do devedor.
O enunciado faz sentido já que o proprietário tem o direito de escolher o que 
melhor lhe aprouver. 
c) Obrigação de dar coisa incerta
Conceito: a obrigação de dar coisa incerta será identifi cada, ao menos, 
pelo gênero e quantidade (art. 243, CC). A indeterminação é apenas relativa 
ou parcialmente incerta e não absoluta ou totalmente incerta, já que para que 
possa ser cumprida deve, obrigatoriamente, indicar a quantidade (ex.: cem quilos, 
duas sacas, cinquenta alqueires etc.) e o gênero. Se faltar qualquer um dos dois 
indicativos, a avença não gerará obrigação de cumprimento.
 
Parte da doutrina critica a expressão gênero, entendendo que o legislador 
deveria ter dito espécie, em razão de gênero ser muito abrangente, difi cultando 
o seu cumprimento. Assim, não seria possível efetuar um contrato de cem sacas 
de cereais (gênero), mas somente cem sacas de milho (espécie), faltando apenas 
indicar a qualidade.
 
A obrigação é incerta somente no momento da sua origem, devendo se 
transformar em obrigação certa no momento de seu cumprimento. Dito de outra 
forma, a obrigação de dar coisa incerta transforma-se em obrigação de dar coisa 
certa, no instante do adimplemento.
42
 TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
O estado de indeterminação é transitório e cessará com a escolha. A escolha, 
também chamada de ato de concentração, é o momento da cientifi cação da outra 
parte, do objeto a ser entregue. Neste momento, a obrigação converte-se em 
obrigação de dar coisa certa, nos termos do artigo 245 do CC “cientifi cado da 
escolha o credor, vigorará o disposto na seção antecedente”.
 
Importante observar que a fase da concentração exige não só a escolha, 
mas também a cientifi cação da outra parte do que foi escolhido. 
E a quem cabe a escolha? O art. 244,CC fornece a resposta, indicando 
caber ao devedor a escolha, se o contrário não tiver sido pactuado. Porém, a 
escolha não é totalmente livre, disciplinando o artigo à observância de limitações, 
no sentido de que não poderá o devedor dar a coisa pior, assim como não está 
obrigado a entregar a melhor.
A concentração pauta-se pelo critério da qualidade mediana ou intermediária 
da coisa. Isso se tiver pelo menos três espécies, pois se somente tiver duas, 
poderá entregar qualquer delas, sob pena de inexistir escolha.
 
Se for necessário judicializar, o procedimento de escolha encontra-se previsto 
no art. 811 do CPC, indicando que se a escolha couber ao devedor, este será 
citado para entregar o bem já especifi cado; já se couber ao credor, a indicação 
deverá ser feita na petição inicial. 
* Perda ou deterioração: 
Na obrigação de dar coisa incerta, a perda ou deterioração possui dois 
momentos diferentes de avaliação e consequências, a saber:
 
Antes da escolha: não poderá o devedor alegar perda ou deterioração antes 
da escolha, ainda que por caso fortuito ou força maior (art. 246, CC). Assim, é 
em razão da indeterminação da coisa que está apenas identifi cada pelo gênero e 
quantidade, pois “o gênero nunca perece” (GONÇALVES, 2016, p. 83).
 
Ex.: obrigação de entregar dez sacas de café. Como pode ser possível alegar 
perda se não se sabe quais dez sacas seriam entregues? 
Ainda que a obrigação seja de entregar dez cabeças de gado e faleçam todos 
os gados do devedor, não restará desobrigado do cumprimento, já que poderá 
adquirir outros dez bovinos para cumprir a obrigação.
43
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES Capítulo 2 
Contudo, se a obrigação tiver sido estipulada com determinação do local da 
coisa, dívida genérica restrita (como a chamam Farias e Rosenvald (2017b)), a 
conclusão será outra. Exemplo: se a obrigação for de entregar dez cabeças de 
gado, localizadas na Fazenda X, e todos se perderem por motivo de força maior, 
a obrigação restará extinta.
 
Portanto, a solução para as obrigações de dar coisa incerta, que se achem 
circunscritos a determinado local, devidamente especifi cado, acarretará na 
resolução da obrigação, no caso de ser perderem sem culpa do devedor, enquanto 
as obrigações de dar coisa incerta, indicadas apenas pela quantidade e gênero, 
antes da escolha, não aceitam alegação de perda ou deterioração.
 
Depois da escolha: depois do momento de concentração (escolha e 
cientifi cação), a obrigação se converte em obrigação de dar coisa certa e as 
regras aplicáveis serão as mesmas da perda ou deterioração da obrigação de dar 
coisa certa (arts. 238 a 240, CC):
− Perecimento sem culpa: se resolve.
− Perecimento com culpa: equivalente mais perdas e danos.
− Deterioração sem culpa: resolver ou aceitar a coisa com abatimento do 
preço.
− Deterioração com culpa: equivalente ou aceitar a coisa mais perdas e 
danos.
Obrigação de FaZer
Conceito: o interesse do credor está centrado na conduta do devedor 
que implica na prestação de serviço ou alguma outra atividade do devedor. O 
objeto prestacional pode ser tanto a realização de serviço de natureza física (ex.: 
contrato de empreitada); intelectual (ex.: composição de uma música, poema, 
peça de teatro) ou prática de ato jurídico que requer uma emissão de vontade 
(como a outorga de escritura pública).
Atenção: A obrigação de fazer se diferencia da obrigação 
de dar “em razão da preponderância de atos para a realização da 
prestação, devendo-se verifi car se o dar é ou não consequência do 
fazer” (MONTEIRO, 2017, p. 89). 
44
 TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
Se a prestação consiste além de o devedor entregar a coisa, o dever de 
confeccioná-la, será obrigação de fazer. Se a coisa já estiver pronta e a prestação 
for apenas de entrega, a obrigação será de dar. Exemplos: entregar um quadro 
que será feito pelo próprio devedor – obrigação de fazer; entregar uma bicicleta, 
que já pertence ao devedor – obrigação de dar.
 
Há situações em que ambas as obrigações serão simultâneas, caso do contrato 
de empreitada, em que a prestação de materiais é obrigação de dar e a efetivação do 
serviço é obrigação de fazer. Em resumo, afi rma Gonçalves (2016. p. 86):
Nas obrigações de entregar, concentra-se o interesse do credor 
no objeto da prestação, sendo irrelevantes as características 
pessoais ou qualidades do devedor. Nas de fazer, ao contrário, 
principalmente naquelas em que o serviço é medido pelo 
tempo, gênero ou qualidade, esses predicados são relevantes 
e decisivos.
A distinção entre as obrigações de dar e de fazer é relevante, já que as 
consequências para ambas são distintas, principalmente as medidas processuais, 
cabendo a aplicação de multa diária em caso de descumprimento da obrigação, 
apenas no caso de obrigação de fazer.
 
Algumas obrigações deixam dúvidas na sua classifi cação e, por vezes, 
são alvo de disputas judiciais, caso do depósito obrigatório das empresas dos 
valores de FGTS de seus funcionários. Durante muito tempo houve a discussão 
se a obrigação é de dar ou de fazer, o enunciado do Conselho Federal de Justiça 
(CFJ) é no sentido de se tratar de obrigação de dar. 
a) Espécies de obrigações
As obrigações de fazer podem ser personalíssimas ou não personalíssimas, 
a depender se podem ou não ser cumpridas por terceiro.
Personalíssima, infungível ou intuitu personae: o credor está interessado 
na qualidade específi ca do prestador do serviço, por essa razão a obrigação só 
poderá ser desempenhada pelo próprio devedor, que só se exonera de cumprir 
o avençado. Exemplo: a contratação de um cantor específi co para realização 
de show, a contratação de um determinado cirurgião plástico, a contratação do 
advogado X. 
 
Impessoal ou fungível: o credor está apenas interessado no serviço realizado 
e não na pessoa que irá realizá-lo. Exemplos: contratação de profi ssionais para a 
construção de um muro, da pintura da casa, da troca do encanamento etc. Neste 
caso, havendo recusa do devedor em prestá-la, poderá o credor mandar executar 
por terceiro.
45
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES Capítulo 2 
b) Inadimplemento
As obrigações de fazer podem ser inadimplidas porque a prestação tornou-
se impossível, com culpa ou sem culpa do devedor, ou também porque, podendo 
ser cumprida, o devedor se recusa a prestá-la. 
● Não cumprimento mediante recusa (art. 247, CC)
Nesse caso o cumprimento ainda é possível, porém o devedor se recusa à 
prestação só a ele imposta ou só por ele exequível. A previsão do Código Civil 
é no sentido de que o devedor será obrigado a indenizar as perdas e danos. 
Exemplo: se é contratado um escultor famoso para confeccionar uma obra de arte 
e ele se recusa, deverá indenizar o contratante pelos prejuízos sofridos.
Atenção: O Código de Processo Civil alerta de que a obrigação 
somente será convertida em perdas e danos se o autor a requerer 
ou se impossível a tutela específi ca ou obtenção da tutela pelo 
resultado prático equivalente (art. 497, CPC). Para isso, contempla 
medidas específi cas que obrigam o devedor a cumpri-las, a teor do 
art. 536 do CPC:
Art. 536 No cumprimento de sentença que reconheça 
a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, 
o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a 
efetivação da tutela específi ca ou a obtenção de tutela 
pelo resultado prático equivalente, determinar as 
medidas necessárias à satisfação do exequente.
§ 1º Para atender ao disposto no caput, o juiz poderá 
determinar, entre outras medidas, a imposição de multa, 
a busca e apreensão, a remoção de pessoas e coisas, 
o desfazimento de obras e o impedimento de atividade 
nociva, podendo, caso necessário, requisitar o auxílio 
de força policial.
Poderá a parte insistir no cumprimento específi co da obrigação e também 
neste caso pleitear cumulativamente as perdas e danos que eventualmente tenha 
sofrido pela demora no cumprimento, a teor do art. 500, CPC.
 
46
 TEORIA GERALDAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
Com efeito, a regra quanto ao descumprimento da obrigação de fazer é o da 
execução específi ca, sendo a resolução em perdas e danos à exceção, podendo 
ser pleiteada sozinha ou em conjunto com o cumprimento obrigacional.
● Impossibilidade superveniente da prestação nas obrigações 
pessoais ou infungíveis
Se a obrigação não puder ser cumprida por impossibilidade de sua prestação, 
diferentes consequências são previstas para o caso de terem ocorrido com ou 
sem culpa do devedor.
 
Todavia, a impossibilidade do objeto ou prestação não pode existir já no 
início da negociação, o que conduziria à nulidade do negócio (art. 104 c/c 166, II, 
CC). A impossibilidade de confi gurar a situação em destaque deve ocorrer após a 
negociação, isto é, deve ser superveniente ao negócio. Essa impossibilidade pode 
ser tanto natural (fato da natureza, inundação, por exemplo); pessoal (doença) 
ou jurídica (proibição de importar determinado material, que é matéria-prima do 
objeto a ser realizado).
– Sem culpa do devedor: preceitua o artigo 248, CC: “se a prestação 
se tornar impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação”. 
Exemplo: foi contratado um professor de alemão para uma tradução 
simultânea e ele fi cou resfriado, fi cando sem voz, resolve-se a obrigação, 
ou seja, se o valor de seus honorários já tiver sido adiantado, será 
restituído, caso contrário, tudo fi cará como antes. 
– Com culpa do devedor: (parte fi nal do art. 248, CC), responderá este 
por perdas e danos. Se, por exemplo, um artista é contratado para fazer 
parte de uma apresentação e deixa de estar presente, pois arriscou-se 
em viagem para outro destino e correu o risco de não conseguir chegar 
em tempo, o que, de fato, aconteceu, deverá indenizar os prejuízos 
sofridos pelo credor.
● Impossibilidade da prestação nas obrigações impessoais ou 
fungíveis
– Em caso de mora: “se o fato puder ser executado por terceiro, será livre 
ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou 
mora, sem prejuízo de indenização cabível” (art. 249, CC).
47
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES Capítulo 2 
Portanto, além de indenização cabível, em caso de culpa, poderá o credor 
solicitar que terceiro realize o serviço à custa do devedor. Se for urgente o serviço, 
poderá determinar a sua feitura sem necessidade de autorização judicial, caso 
contrário, somente mediante autorização.
Atividade de Estudos:
1) Estudo de caso: A adquire aparelho celular (especifi cado) de B, 
adiantando o pagamento. A entrega do aparelho fi cou combinada 
para dois dias depois da negociação. Neste meio tempo, o 
aparelho perde algumas de suas funções periféricas em razão 
de uma queda proposital. Diante do caso hipotético, identifi que 
o tipo de obrigação descrita, bem como as consequências para o 
caso de inadimplemento. Verifi que, ainda, se é possível pleitear 
a imposição de pena de multa para o caso de cumprimento 
específi co da obrigação. 
 ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
Obrigação de não FaZer
Conceito: Obrigações de não fazer consistem nas restrições ou abstenções 
combinadas ou negociadas entre as partes. São as obrigações assumidas de 
não praticar determinado ato, que não é proibido por lei. Exemplos: não vender 
determinado bem, não revelar determinado segredo industrial, não construir 
acima de determinada altura.
A restrição assumida de não fazer deve ser uma abstenção específi ca, um 
não fazer determinado e não genérico que respeite certos limites. Exemplo: não se 
casar com A, jamais não se casar com quem quer que seja; não levantar um muro 
específi co acima de determinada altura, não proibição de levantar qualquer muro.
48
 TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
Atenção: As obrigações negativas não podem ser confundidas 
com as servidões, instituto de direito real, que recai sobre o bem e 
não sobre a pessoa, caso da obrigação de não fazer. As servidões 
por recaírem sobre o bem são mantidas em caso de alienação, já as 
obrigações negativas extinguem-se em caso de alienação do bem. 
a) Classifi cação das obrigações de não fazer
As obrigações de não fazer podem ser:
● Duradouras: sem prazo defi nido. Exemplo: não alienar certo bem (gravar 
bem com cláusula de inalienabilidade);
● Temporárias: com prazo defi nido. Exemplo: não alienar certo bem 
durante três meses.
● Instantâneas: se desfazem com um único ato. Exemplo: não revelar um 
segredo.
● Permanentes: dependem de vários e repetidos atos de abstenção. 
Exemplo: não passar pelo terreno ao lado.
Em caso de inadimplemento da obrigação de não fazer, importa a 
verifi cação se o inadimplemento ocorreu com ou sem culpa do devedor. 
– Sem culpa: (art. 250, CC) são aqueles atos que precisam ser 
efetuados, pois resultam de um ato alheio à sua vontade. Neste caso, 
resolve-se a obrigação. É o caso de uma obrigação assumida entre 
A e B de não dispor de um imóvel, mas ele vem a ser desapropriado 
pelo município; ou uma obrigação assumida com os vizinhos de 
não construir calçada na frente da casa e, posteriormente, surge uma 
resolução municipal, dando prazo para a construção das calçadas. 
– Com culpa: (art. 251, CC) praticado o ato pelo devedor, “a cuja abstenção 
se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se 
desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos”. Exemplo: 
não elevar muro acima de determinada altura. Se o devedor aumentar o 
muro, poderá o credor exigir que se desfaça a obra (art. 823, do CPC). 
Se não for urgente, precisará de autorização judicial que determine o 
desfazimento, caso contrário, poderá fazê-lo ou determinar que terceiro 
o desfaça, além das perdas e danos.
Em caso de 
inadimplemento 
da obrigação de 
não fazer, importa 
a verifi cação se o 
inadimplemento 
ocorreu com ou sem 
culpa do devedor.
49
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES Capítulo 2 
Há casos em que será impossível desfazer o ato, como no caso de revelação 
de um segredo industrial, a obrigação se converterá em perdas e danos (art. 823, 
parágrafo único do CPC).
Recapitulando: As obrigações de dar (objeto), entregar (restituir) 
ou de fazer (prestação de serviço ou emissão de declaração de 
vontade) exigem um agir positivo das partes. Já a obrigação de não 
fazer consiste numa abstenção, num agir negativo. As obrigações 
de dar dividem-se em obrigação de dar coisa certa e coisa incerta e 
obrigação de restituir.
Obrigações AlternatiVas
A classifi cação das obrigações quanto aos seus elementos divide-se em 
obrigações alternativas e obrigações cumulativas. São tipos de obrigações 
compostas ou múltiplas, já que dizem respeito a mais de um objeto.
a) Sobre as obrigações alternativas
Nas prestações alternativas, apesar da multiplicidade de objetos que a 
caracterizam, o devedor se liberta da prestação, elegendo para o seu cumprimento 
apenas um dos objetos.
Conceito: São compostas, portanto, por duas ou mais prestações, das quais 
somente uma será escolhida para pagamento ao credor e liberação do devedor. 
Pode ser estabelecida entre duas coisas (um carro ou uma moto); entre dois fatos 
(fazer pessoalmente ou chamar terceiro) uma coisa e um fato (entregar um carro 
ou reparar o veículo sinistrado).
● Na visão de obrigação como processo, a obrigação alternativa confere 
ao devedor maior possibilidade de cumprimento da obrigação, já que 
pode eleger qual deles quer entregar. Já ao credor, a vantagem reside na 
maior garantia quanto ao seu cumprimento.
50
 TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS
Atenção: Não confundir com a prestação de dar coisa incerta: 
nesta há apenas um objeto indeterminado, já na obrigação alternativa 
há vários objetos determinados desde o

Outros materiais