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A ADOÇÃO COMO ALTERNATIVA DE COMBATE E ERRADICAÇÃO DO INFANTICÍDIO INDÍGENA
INTRODUÇÃO
Casos de infanticídio estão presentes na história humana, pode-se inclusive, dizer que sempre estiveram presentes. Essa pratica era feita com crianças, em sua maioria recém-nascida. Esse termo antigamente se referia a assassinatos de crianças nos primeiros anos de vida, no entanto, para o código penal brasileiro, este crime se configura apenas se, a mulher que cometeu o crime estava sobre influência do estado puerperal, que pode ocorrer após o parto ou no intervalo de poucos dias do mesmo.
O infanticídio no Brasil é definido pelo Código Penal (art. 123), como crime doloso contra a vida, tendo a pena por tal pratica reduzida em relação ao homicídio, deste que seja praticado pela mãe, e esta esteja sobre influência do estado puerperal, durante ou logo após o parto.
Nos povos indígenas o infanticídio consiste no assassinato de crianças indesejadas pela tribo. É comum o relato dessas práticas em diversos grupos indígenas brasileiros. O confronto com esses relatos, deixa-nos em um embate: respeitar a cultura de um povo e assim proteger sua diversidade cultural, ou proteger a vida, que é o maior bem jurídico dos seres humanos, é o principal direito que há no ordenamento jurídico, do qual oriunda todos os outros 
As tribos brasileiras são autônomas e constituem grupos sociais com práticas e costumes próprios. Cada etnia tem sua visão de mundo e sociedade, valores, rituais, línguas e dialetos. Portanto seu conceito sobre vida e morte é diferente entre eles e bem heterogêneo sobre o nosso, como sociedade. 
Ainda que tenham seus direitos a cultura, os modos, por vezes, vão de encontro com a declaração universal dos direitos humanos, reconhecida internacionalmente e contra a nossa Constituição Federal. A omissão do Estado não é mais aceitável quando se trata desse assunto.	
 Com relação ao apresentado até o momento, o objetivo deste trabalho é analisar a adoção como alternativa para erradicar o infanticídio indígena.
1. O INFANTICÍDIO NO MUNDO E SUA CONCEITUAÇÃO
A ORIGEM DO INFANTICÍDIO
A pratica do infanticídio está registrado deste os tempos babilônicos, em períodos históricos diferentes e em diversas sociedades desenvolvidas ou não. O infanticídio, começa a ser registrado apenas como matança de crianças nos primeiros anos de vida. Contudo, a prática teve seu expoente na Grécia e na Roma Antiga, quando foi amplamente utilizada. [1: DICHER, M.; TREVISAM, E. A jornada histórica da pessoa com deficiência: inclusão como exercício do direito à dignidade da pessoa humana.]
Na Grécia antiga, os filhos com problemas de deficiência eram considerados castigos dos Deuses e sacrificados em sua honra. Em Roma, eram atirados ao fogo, a animais selvagens, abandonados nas florestas ou jogados ao mar. [2: COSTA, L.; SANTA BÁRBARA, R. A educação da criança na Idade Antiga e Média. VII JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS, Maringá, Universidade Estadual de Maringá, p. 17-75, 2008.][3: WHITE, MICHAEL. O Grande Livro das Coisas Horríveis. Leya, 2012.]
No Império Romano e em algumas tribos bárbaras a pratica do infanticídio era realizada a fim de regular a oferta de comida à população, assim eliminava-se as crianças para reduzir a humanidade, por de um falso controle administrativo por parte dos governantes. [4: JÚNIOR, H F. A Idade Média: nascimento do ocidente. Brasiliense, 2001]
A prática do infanticídio na Grécia foi utilizada para a criação de exércitos, onde os bebês fracos ou com deformidades eram abandonados para morrerem, como uma forma de sacrifícios. Semelhantemente, os Chakalis da Costa do Marfim que beneficiavam as crianças do sexo masculino em desvantagem as do sexo feminino.[5: LIDÓRIO, R. Não há morte sem dor: uma visão antropológica sobre a prática do infanticídio indígena no Brasil. In: SOUZA, Isaac Costa de; LIDÓRIO, Ronaldo (Org.). A questão indígena, uma luta desigual: missões, manipulação e sacerdócio acadêmico. Viçosa, MG: Ultimato, 2008.]
Na idade Média, não havia distinção entre infanticídio e homicídio, ou seja, os crimes de homicídios praticados pelos pais constituíam modalidade do parricidium e a pena aplicável era o culeus, de arrepiante atrocidade. [6: Homicídio do pai ou da mãe ou de qualquer ascendente; crime de parricida.][7: Logo que o crime de parricídio fosse provado, os sujeito era vendado por não ser digno de luz, açoitado com varas, amarrado dentro de um com animais, como serpentes e macacos. O saco em que o criminoso era amarrado tinha o nome de “Culeus”.]
Na Índia, tal pratica era muito frequente e supostamente dava-se para enaltecer os bebês do sexo masculino, mas nos dias atuais tal conduta é proibida, sendo trocado pelo aborto seletivo, enquanto na China, dava-se mais importância aos meninos, pois a transmissão de herança e linhagem passava somente para eles, fato que levou a pratica do aborto do sexo feminino e do infanticídio. [8: SILVA, Lillian et al. O estado puerperal e suas interseções com a bioética. 2010.][9: MARCHIONATTI, Angela Cristina. A criança e o adolescente como sujeitos de direito e sua inserção na sociedade brasileira: uma análise a partir do município de Ijuí, RS. 2013.]
A punição para os pais que matavam seus filhos era a morte pelo fogo ou decapitação. No Direito Romano, Apenas a mãe que matasse seu filho era punida de morte, o pai que matasse seu próprio filho não era punido, pois este tinha o direito, haja vista que viviam em uma sociedade patriarcal .[10: sistema social em que homens adultos mantêm o poder primário e predominam em funções de liderança política, autoridade moral, privilégio social e controle das propriedades. No domínio da família, o pai (ou figura paterna) mantém a autoridade sobre as mulheres e as crianças.]
O surgimento do Direito Natural e seu uso durante o século XVIII, foi o momento em que o infanticídio passou a ter uma pena cominada, desta maneira fora instituído como homicídio privilegiado quando praticado pela mãe. [11: ROCHA, Lorena Martins. Concurso de pessoas no crime de infanticídio. 2015.]
Assim sendo, como consequência de tal pensamento, as sentenças dos juristas da época, chegaram a considerar, e atuar, o crime de infanticídio como um crime, quando cometido pela mãe, privilegiado. Em outras palavras quando a mãe em estado puérpera, não sofre sanções graves ao cometer infanticídio.
Os filósofos do direito natural, visando diretamente a influenciar os legisladores no sentido de privilegiar o delito, possuíam fortes e relevantes argumentos, como a pobreza, o conceito de honra, bem como a prole portadora de doenças ou deformidade.[12: MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Infanticídio. Bauru, SP; Edipro, 2001.p.3]
Todavia, em alguns países, é permitido a pratica do infanticídio devido à cultura patriarcal que o institui, ocorrendo assim o favoritismo total pelo gênero masculino, e o absoluto desprezo pelo gênero feminino. Nos tempos atuais, a China é um país onde há um índice elevado de infanticídio do gênero feminino, sendo comum essa pratica ao descobrir que bebê é uma menina, o que acabou gerando um desiquilíbrio de gênero de sexos na população do país11.
Nesse contexto, Bouillon-Jenses alerta que “em várias sociedades, o infanticídio não apenas é tolerado, mas incentivado como uma forma de promoção e solução aos problemas de crianças indesejadas”, ainda que as mesmas tenham nascido saudáveis.[13: BOILLON-JENSES, Cindy. “Infanticide”. In: POST, Stephen G. (Org). Encyclopedia of Bioethics. 3 ed. Vol. 3. New York: Macmillian, 2004.]
Verifica-se que infanticídio é um crime praticado desde os mais remotos tempos alegando-se motivos de honra, religião, miséria, deficiências físicas, etc. A cultura do povo determina diretamente sobre a legalidade ou direito de cometer o infanticídio, não levando em consideração o direito a vida da criança.
CONCEITO DE INFANTICÍDIO 
Infanticídio vem do latim infanticidium, composto pelo prefixo in, que caracteriza negação, e o particípio do verbo fonissignifica “falar”. Assim sendo, são infantes aqueles que ainda não são capazes de falar, ou seja, as crianças recém-nascidas.
Conforme o Dicionário Aurélio, infanticídio é o assassínio de uma criança, especificamente de um recém-nascido. Ele nos traz também o significado jurídico deste termo: morte do filho provocada pela mãe por ocasião do parto ou durante o estado puerperal
Assim sendo, pode-se definir a palavra infanticídio como o homicídio de crianças no seu primeiro ano de vida, cometido pela mãe que não pode assumir sua maternidade por circunstâncias firmes em razão da sua posição no espaço e no tempo, estado sobre estado de perturbação psicológica e /ou física
 “’Em seu sentido etimológico significa a morte de um infante, é uma forma privilegiada de homicídio’. Trata-se de crime em que se mata alguém, assim como no art. 121 do Código Penal. Aqui a conduta também consiste em matar. Mas o legislador decidiu criar uma nova figura típica, com pena sensivelmente menor”.[14: MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado. 4. Ed. São Paulo: Método, 2010]
Para melhor compreensão do conceito do crime de infanticídio há dois conceitos primordiais. O primeiro conceito se dá pelo ato de matar o bebê após o seu nascimento e o segundo se dá pela ação da mulher sobre a influência do estado puerperal, o que o qualifica como crime.[15: COSTA, Maísa Marques. A culpabilidade da mãe no crime de infanticídio. ISSN 1677-1281, v. 34, n. 34, 2017.]
Isto é, não basta à mulher ter cometido o crime logo após o parto, ou seja, no espaço de tempo que subsiste o estado puerperal, mas que a mãe atue sobre a influência de tal estado. 
Assim, trata-se de um crime próprio praticado pela mãe do bebê, que logo após o parto tira a vida da criança sob a influência do estado puerperal. 
É um crime de ação penal pública incondicional, pois se trata de crime doloso contra a vida, logo compete ao Tribunal do Júri do local de onde ocorreu à infração julgar e processar.
Para Capez (2013):
“Segundo o disposto no art.123 do Código Penal, podemos definir o infanticídio como ocasião da vida do ser nascente ou neonato, realizada pela própria mãe, que se encontra sob a influência do estado puerperal. Trata-se de uma espécie de homicídio doloso privilegiado, cujo privilegio é concedido em virtude da ‘influência do estado puerperal’, sob o qual se encontra a parturiente”.[16: CAPEZ, Fernando. Direito penal simplificado: parte geral. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, 100-101]
No entanto, a referida norma refere-se ao estado puerperal em uma situação de perturbação de ordem física e psicológica decorrentes do parto, que também geram sentimentos de ódio, angústia e desespero que levavam a mulher matar seu filho. Desta maneira, o infanticídio é praticado no lapso temporal do estado puerperal, não o existindo, configurar-se-á o crime de homicídio. 
Como no caso de o estado puerperal ter uma duração menor, se torna difícil comprovar que o ato ocorreu durante esse período. Por isso, normalmente o indivíduo passa pela perícia médico-legal e avaliação psicológica para que se possa chegar a uma conclusão, sendo esta de grande importância.
Cabe ao sistema judiciário brasileiro analisar a taxa de hormônios nos resultados de pericias médicas da parturiente, e também não deixar de analisar os fatores psicossociais; assim para que haja a determinação correta da capacidade de imputação da agente.
Assim, o infanticídio latu sensu, significa a matança de crianças, que é punido pelo Código Penal Brasileiro como homicídio doloso contra a vida.
O INFANTICÍDIO NAS COMUNIDADES INDÍGENAS DO BRASIL
Ao logo de toda história humana, sempre houve registros do infanticídio, por vários motivos, seja pela deformidade da criança, pela discriminação de raça, pelo controle populacional, pela falta de alimento, por motivos sociais e até mesmo em rituais religiosos, porém sua origem é desconhecida.
A expressão “infanticídio indígena” é usada quando se referente à morte imposta às crianças nas tribos indígenas. Não se sabe ao certo a origem histórica do infanticídio, apenas que ele vem sendo feito por povos indígenas, e explicado etimologicamente por “matar-criança”, uma vez que o infanticídio é caracterizado deste sempre, pela morte provocada, permitida e induzida de crianças, justificado por motivos sociais e culturais.[17: DA SILVA, Iolanda Catrine; MACHADO, Nélida Reis Caseca. Infanticídio indígena: o direito à vida sob uma perspectiva cultural. Revista do Curso de Direito do UNIFOR, v. 5, n. 1, p. 28-43, 2015.]
Em tribos indígenas brasileiras esse costume cultural ainda persiste, e a prática de eliminar crianças em virtude de particularidades relacionadas à cultura, ainda faz parte dos hábitos sociais que a tribo exerce. Não há existem estimativa de qual o impacto populacional o infanticídio representa nas aldeias, visto que, existe poucos dados oficiais do infanticídio nas tribos brasileiras e a maioria dos relatos encontrados é de missionários e antropólogos que convivem com algumas tribos.[18: TAURINO, Viviane Aparecida França. O crime de infanticídio nas comunidades indígenas à luz do ordenamento jurídico brasileiro. 2015.]
Há registros do infanticídio indígena, nos grupos uaiuai, guarani, bororo, kajabi, mehinaco, yanomani, tapirapé, ticuna, amondaua, parintintin, kamayurá, kuikuro, uru-euuau- uau, suruwaha, deni, waurá, jarawara, jaminawa, localizados na região do Acre, Amazonas e Mato Grosso, onde crianças são estranguladas, enterradas vivas, afogadas e abandonadas na mata.[19: PROJETO HAKANI. O que é infanticídio. Disponível em: . Acesso em: 14 fev. 2018]
O infanticídio, que é ligado à cultura, está relacionado aos costumes que são repassados de geração em geração e as justificativas são diversas. Os motivos que cercam sobre o infanticídio nas tribos indígenas, tem seus critérios mais gerais e encontrados em diversas etnias são: incapacidade da mãe de criar o filho, ser mulher, e a capacidade que a criança tem para sobreviver na aldeia. [20: Neste caso traz o significado de vida para alguns grupos indígenas, segundo eles, a vida se traduz apenas quando a criança nasce e se desenvolve sem deficiências física ou mental, caso não seja assim, a criança incapacitada não terá condições de sobreviver na comunidade, pois estará impossibilitada de pescar, caçar e interagir entre os seus membros, tornando-se dependente dos demais integrantes, destoando da definição cultural daquela comunidade..]
O infanticídio indígena, quando se refere a impossibilidade ou incapacidade da mãe de criar o filho, é um traço cultural, que varia de tribo em tribo o seu modo de execução. Ainda existe aldeias em que a mulher pode escolher entre a vida e a morte dele. Em algumas tribos, a mãe quando está preste a ter a criança, se encaminha para a mata, sozinha, e ao ter a criança, escolhe em levar ou não a criança para a tribo.
Nisto pode escolher como dá fim a fida criança, ela simplesmente pode abandonar o recém-nascido ou sufoca-lo com folhas secas, enterrar vivo, envenena-lo ou afoga-lo.[21: DOS SANTOS, Débora de Miranda; KUJAWA, Henrique. Infanticídio indígena: uma visão social, cultural e jurídica da vida humana. Prêmio aluno pesquisador tcc, 2016.]
A preferência por homens como primeiro filho também é uma das causas culturais do infanticídio indígena. Segundo a tradição, existe a preferência de que o primeiro filho seja do sexo masculino. Se nascer uma menina a mãe a sacrifica, para poder engravidar mais rápido, pois caso fique com a criança deve cuidar dela até os três anos de idade, ensinando as tradições da comunidade indígena e principalmente dando os cuidados básicos para que seja uma criança saudável.
Em algumas tribos as mães solteiras ou vítimas de violência sexual, sofrem pressão psicológica da família e da tribo para sacrificar seus filhos. Em outras, gêmeos são considerados uma maldição, uma vez que para eles essas crianças representam o “bem” e o “mal” e como não sabem diferenciar qual é a criança boa, opinam por sacrificar as duas.Não se pode deixar de tratar do nascimento de criança proveniente de mulheres solteiras ou de relações ilegítimas, para algumas comunidades indígenas inadmite-se a permanência da criança ali, notadamente ao do gênero feminino, pois é imprescindível para a feitura da humanidade do neonato a presença do pai e da mãe. Quando há o nascimento de um bebê do sexo masculino, ele pode ser aceito pela comunidade sob o argumento de ser útil em razão do sexo (caça e pesca), mesmo sem ter reconhecimento paterno, porém com status inferior aos demais.
Cabe mencionar que, atualmente, o infanticídio gera polêmica uma vez que as famílias ficam divididas entre criar os seus filhos dando-lhes todo carinho necessário e o compromisso de honrar as tradições. Assim, o infanticídio não é aceito por todos os integrantes das tribos.
a Constituição Federal, em seu artigo 1°, inc. III, institui como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana e, logo no art. 5º, caput, garante aos brasileiros e estrangeiros a inviolabilidade de direito à vida, à liberdade e à igualdade. A Constituição Federal, ao garantir esses direitos humanos fundamentais, não estabeleceu exceção em sua aplicabilidade, ou seja, deixa-se de aplicá-los quando os atos violadores daquele direito estiverem enraizados na cultura. 
Todavia, não se pode desprezar os costumes e tradições das tribos indígenas, que se organizam conforme os seus antepassados lhe ensinaram; merecem também proteção dos órgãos públicos. Nessas questões culturais, quando envolve infanticídio, muitos índios já não aceitam mais a prática de tal ato por considerarem um sofrimento, tanto para a criança quanto para a família. 
Não há dúvidas de que o infanticídio é uma afronta ao direito à vida e à dignidade da pessoa humana, inadmite-se sua prática sob o argumento de ser uma tradição. 
Pelos depoimentos de alguns indígenas, verifica-se que o infanticídio vem sendo repudiado por integrantes de algumas tribos, o que torna relevante a discussão do tema, uma vez que a prática coloca em confronto duas garantias constitucionais o direito à vida e o direito cultural.
Os questionamentos que envolvem a prática do infanticídio indígena abarcam os direitos fundamentais. Desse modo, torna-se relevante fazer algumas ponderações sobre tais direitos. Os direitos fundamentais estão devidamente previstos na Constituição e fundados na razão humana, visando garantir a dignidade e a igualdade, dessa forma os direitos fundamentais são direitos humanos positivados na Constituição. 
A “sedimentação dos direitos fundamentais como normas obrigatórias é resultado de maturação histórica, o que também permite compreender que os direitos fundamentais não sejam sempre os mesmos em todas as épocas”. [22: MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p, 135-136]
2. CONFLITO APARENTE DE PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL PRESERVAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS
2.1. DIREITO À VIDA X DIREITO A CULTURA
Quando trata dos princípios fundamentais, a Constituição Federal estabelece no art. 1º, inc. III, a dignidade da pessoa humana, como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito. Ou seja, instituí que o Estado enquanto responsável em promover o bem-estar social, deva propiciar dignidade humana, e proporcionar condições as quais as pessoas tenham o mínimo necessário para viver com dignidade.
O art. 4º ainda estabelece como princípio da República Federativa do Brasil a prevalência dos direitos humanos (inc. II). É certo que os direitos indígenas devem ser considerados direitos fundamentais, tanto que se encontram presente no corpo do texto constitucional, como se demonstrou anteriormente. [23: Direitos humanos são aqueles ligados a liberdade e a igualdade que estão positivados no plano internacional. Já os direitos fundamentais são os direitos humanos positivados na Constituição Federal . Assim, o conteúdo dos dois é essencialmente o mesmo, o que difere é o plano em que estão consagrados. SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. Livraria do Advogado Editora, 2018.]
Por seu turno, o art. 2º da Declaração Universal dos Direitos Humanos ressalta que:
“Todas as pessoas têm capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. Não será tampouco feita qualquer distinção fundada na condição política, jurídica, ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania”.[24: SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade de Pessoa Humana e Direitos Fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004]
O direito à vida está declarado em nosso artigo 5º da Constituição Federal, afim de garantir a todos os brasileiros e estrangeiros residentes no País, o acesso pleno a ele. Essa garantia ao gozo, como direito fundamental, é inviolável e irrenunciável, logo, ninguém pode dispor da própria vida e nem da vida de terceiros.[25: DA COSTA, Clarice Kaiper Lima. Reparação civil pelo uso abusivo de imagens não autorizadas na internet e o direito ao esquecimento.]
Assim, “[o] primeiro direito do homem consiste no direito à vida, condicionador de todos os demais. Desde a concepção até a morte natural, o homem tem o direito à existência, não só biológica como também moral”. [26: 24 CARVALHO, K. G. Direito constitucional: teoria do estado e da constituição – direito constitucional positivo. 15. ed. rev. atual. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2009.]
Cabe à ordem jurídica, então, respeitar e proteger a vida, uma vez que ela é a essência da natureza do ser humano. A norma geral que garante a vida consiste em proteger todo o processo vital humano do nascimento até a morte, garantindo em todas as etapas desse processo os elementos essenciais à existência humana, o que “consiste no direito de estar vivo, de lutar pelo viver, de defender a própria vida, de permanecer vivo. É o direito de não ter interrompido o processo vital, senão pela morte espontânea e inevitável”.[27: DA SILVA, Iolanda Catrine; MACHADO, Nélida Reis Caseca. Infanticídio indígena: o direito à vida sob uma perspectiva cultural. Revista do Curso de Direito do UNIFOR, v. 5, n. 1, p. 28-43, 2015.]
O respeito pela vida humana deve ser garantindo por todos, indivíduos e Estado, uma vez que qualquer ato que viole tal garantia é inconstitucional, devendo desse modo ser abolido, conforme previsto nos artigos 227 e 230 da Constituição Federal 27. Assim, o texto constitucional, demonstra de forma clara a importância da proteção à vida, principalmente no que diz respeito aos grupos mais vulneráveis, que necessitam de uma maior atenção e proteção à dignidade humana.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece no artigo 7º, que todas as crianças e adolescentes possuem direito à proteção, à vida e à saúde, e que cabe ao Estado criar medidas que garantam esses direitos. Dentro das medidas públicas citadas no Estatuto devem ser incluídas ações que permitam o nascimento e o desenvolvimento da criança de forma sadia e harmoniosa e principalmente em condições dignas.[28: Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência]
Com efeito, o direito à vida é garantido a todos e tutelado pelo Estado, sem nenhuma discriminação.
O artigo 215º da CF consagra o direito cultural garantindo a livre manifestação e acesso a todas as fontes de cultura, assim como a valorização e a difusão das manifestações culturas,inclusive a indígena.[29: Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais]
Como se observa, cabe ao Estado e à sociedade proteger e resguardar os patrimônios culturais materiais e imateriais. O artigo 216 da CF disciplina sobre o patrimônio cultural brasileiro como sendo aquele que incorpora todos os bens materiais e imateriais, que representam os diferentes grupos sociais que formam a sociedade brasileira.[30: Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:I - as formas de expressão;II - os modos de criar, fazer e viver;III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.]
Os incisos I e II desse artigo referem-se às formas de expressão e aos modos de criar, fazer e viver de cada povo, podendo, assim, incluir no patrimônio cultural brasileiro a etnia de cada povo, seja ela afro-brasileira, popular ou indígena.
Segundo a Convenção ILO nº 169, o Estado tem a obrigação e a responsabilidade de proteger os direitos dos indígenas e de garantir o respeito pela sua integridade, conforme artigo 1º. Bem como, esses povos são livres e iguais e possuem os mesmos direitos dos demais indivíduos, segundo o artigo 2º.[31: sigla inglês para International Labour Organization - Organização Internacional do Trabalho.][32: FERRAZ, Bernardo Monteiro. A Convenção OIT nº 169 e a participação das comunidades indígenas e quilombolas no licenciamento ambiental. Revista Jus Navigandi, ISSN, p. 1518-4862.]
Ademais, deve-se ser preservado os valores e práticas sociais, culturais religiosos e espirituais próprios dos povos, e dever-se-á ser respeitada a integridade dos valores, práticas e instituições dos mesmos, consoante o artigo 5º da norma supracitada.
A Convenção disciplina ainda, a participação dos grupos indígenas nas decisões que os afetam, devendo haver a prévia consulta a esses grupos, nas medidas legislativas e administrativas que dizem respeito às novas condições de vida desses povos:
Artigo 6°
1. Ao aplicar as disposições da presente Convenção, os governos deverão:
a) consultar os povos interessados, mediante procedimentos apropriados e, particularmente, através de suas instituições representativas, cada vez que sejam previstas medidas legislativas ou administrativas suscetíveis de afetá-Ios diretamente;
b) estabelecer os meios através dos quais os povos interessados possam participar livremente, pelo menos na mesma medida que outros setores da população e em todos os níveis, na adoção de decisões em instituições efetivas ou organismos administrativos e de outra natureza responsáveis pelas políticas e programas que lhes sejam concernentes;
c) estabelecer os meios para o pleno desenvolvimento das instituições e iniciativas dos povos e, nos casos apropriados, fornecer os recursos necessários para esse fim.
 (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 1989).
A Convenção 169/OIT, assim, define a política geral para o tratamento dos povos indígenas, obrigando os governos a assumirem a responsabilidade de desenvolver ação coordenada e sistemática no intuito de proteger os direitos desses povos, garantindo o respeito pela sua integridade (art. 2°), o gozo pleno dos direitos humanos e liberdades fundamentais, sem obstáculos nem discriminação. Na verdade, referida Convenção visa promover a maior eficácia das obrigações assumidas pelos Estados.[33: ARIOSI, Mariângela de F. Os efeitos das convenções e recomendações da OIT no Brasil, 2014.]
A identidade cultural de cada povo envolve aspectos históricos, artes, costumes e rituais diferenciados, e cada grupo étnico-cultural possui o direito de ser reconhecido como diferente e respeitado, podendo preservar a sua própria cultura.[34: COHN, Clarice. Culturas em transformação: os índios e a civilização. São Paulo em perspectiva, v. 15, n. 2, p. 36-42, 2001.]
Somente com o processo de democratização a partir de 1985 é que o Estado brasileiro passou a dar maior relevância a temas de direitos humanos, o que se concretizou com a Constituição de 1988, a qual abriu caminhos para a ratificação de tratados internacionais de direitos humanos. [35: DE OLIVEIRA MAZZUOLI, Valerio. Tratados internacionais de direitos humanos e direito interno. Editora Saraiva, 2010.]
A referida lei integrou como um de seus princípios fundamentais a dignidade da pessoa humana, que está prevista no art. 1º, inciso III. A dignidade da pessoa humana, juntamente com os demais direitos fundamentais integram valores éticos à Constituição, conferindo suporte axiológico a todo ordenamento jurídico brasileiro, uma vez que norteiam a fundamentação das demais normas. [36: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:I - a soberania;II - a cidadania;III - a dignidade da pessoa humana;IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;V - o pluralismo político.Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.]
O Brasil através da Constituição de 1988 concedeu inúmeros direitos fundamentais e por vezes tais direitos destoam do código civil, como é o caso do direito à vida, previsto no art. 5º e o direito à diversidade cultural, previsto no art. 231.[37: Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.§ 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.(...)]
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. 
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. 
Mas é evidente que o direito à vida tem primazia em relação à diversidade cultural, uma vez que o direito à vida é um direito por excelência por ser pressuposto de existência de qualquer outro direito, daí tal importância que lhe deve ser conferida. 
A CF garante que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, e à propriedade. O direito à vida é o mais fundamental de todos os direitos, pois seu asseguramento impõe-se, já que se constitui em pré-requisito à existência e exercício de todos os demais direitos [38: MORAES, G. P. de. Curso de direito constitucional. 2. ed. rev. e atual. Niterói: Impetus,2008. Pag 87.]
Todos os brasileiros, por direito, devem ter suas vidas tuteladas peloEstado brasileiro, uma vez que este compromete-se nacional e internacionalmente pela proteção deste direito, principalmente quando se tratar de vulnerável, como é o caso das crianças indígenas, as quais não podem se defender e onde o isolamento das tribos propicia a prática do infanticídio. Sendo assim, é defeso que se adote medidas que tenham por objetivo acabar com a prática infanticida de determinadas tribos. [39: DOS SANTOS, Débora de Miranda; KUJAWA, Henrique. Infanticídio indígena: uma visão social, cultural e jurídica da vida humana. Prêmio aluno pesquisador tcc, 2016.]
O direito à vida é garantido na CF e na Declaração Internacional dos Direitos Humanos, proclamada em 10 de Dezembro de 1948, em seu artigo 3º. Vale ressaltar que a CF de 1988 inclui dentre os direitos constitucionalmente protegidos, os direitos enunciados nos tratados internacionais.[40: NO BRASIL, Representação da UNESCO. Declaração universal dos direitos humanos.]
Em Direito, os princípios são considerados como norteadores das interpretações constitucionais ou infraconstitucionais, e se constituem numa matriz epistemológica considerada nova, cujo desafio é equacionar suas dimensões em toda a abrangência.
Os princípios se constituem no critério fundamental desse trabalho hermenêutico. A Constituição Federal em seu art. 1º, elege 5 (cinco) princípios fundamentais que alicerçam todo o seu texto. O inciso III do mesmo artigo define a dignidade da pessoa humana como um desses princípios. 
Antes de oferecer elementos a ação estatal deve desenvolver maneiras para que consigam ter uma vida digna, que no caso dos povos indígenas, não é apenas pessoal mas também coletiva, Respeitando sempre suas características culturais do seu povo.
Assim, a aplicação dos direitos humanos em relação aos povos indígenas necessariamente deve considerar a organização social, os usos, costumes e tradições desses povos, bem como a natureza coletiva dos bens que formam o seu patrimônio cultural, territorial e ambiental. [41: DOS SANTOS, Débora de Miranda; KUJAWA, Henrique. Infanticídio indígena: uma visão social, cultural e jurídica da vida humana. PRÊMIO ALUNO PESQUISADOR TCC, 2016.]
Para quem princípios, juntamente com as regras, são espécies do gênero norma, e possuem o caráter de mandato de otimização, em que toda realização deve ser na maior medida possível, sugerindo a ideia de avaliação das possibilidades jurídicas e reais existentes.[42: CAMACHO, Wilsimara Almeida Barreto. “Infanticídio” indígena: um dilema entre a travessia e o permanecer à margem de si mesmo. 2011.]
O confronto entre os princípios, diferentemente das regras e leis, faz-se no cenário seu peso valorativo e não no plano da validade para o qual é imprescindível o texto. Essa diferença na solução dos conflitos entre regras e entre princípios dá-se justamente pelo fato de que, no segundo caso, a solução não está no ordenamento normativo do direito, mas na ponderação do hermeneuta.[43: Originado por uma atribuição de valores; que provém de valoração, da determinação do valor (preço, opinião, importância, serventia) de algo: emissão de opiniões valorativas][44: GORZONI, Paula. Entre o princípio e a regra: teoria dos direitos fundamentais. Novos estud. - CEBRAP,  São Paulo ,  n. 85, p. 273-279,    2009 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-33002009000300013&lng=en&nrm=iso>. access on  01  Apr.  2018. .]
A ponderação de princípios é chamada de máxima da proporcionalidade, que por sua vez é composta por máximas parciais, quais sejam: adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito. Na primeira, busca-se estabelecer uma relação entre o meio empregado e o fim atingido, na segunda de vê-se considerar qual o meio mais benéfico ao destinatário e na terceira máxima parcial, a ponderação nos valores propriamente ditos.
Assim, ao contrapormos o direito à vida ao direito à preservação da cultura, ambos direitos constitucionalmente garantidos, não vemos outra saída senão a utilização do princípio fundamental da dignidade da pessoa humana para ajustar a valoração dos direitos aparentemente colidentes. Não se trata de atribuir maior valor a este ou àquele direito constitucional, mas, sim, de pautarmos a solução da contraposição com base num preceito maior que norteie as demais decisões.
Assim, o princípio aplicado ao caso concreto interfere no direito normativo e em sua interpretação, invertendo a ordem de valores, fazendo prevalecer, neste caso, a dignidade da pessoa humana.
Verifica-se que o infanticídio indígena coloca em oposição dois princípios que são garantidos constitucionalmente, o direito à vida e o direito cultural. Duas teorias, a do universalismo e do relativismo dos direitos fundamentais, aproximam os diálogos para se encontrar um melhor caminho para desatar esse nó.
Saliente-se que o conflito de regras existente no ordenamento jurídico tem como solução três critérios específicos: o hierárquico, no qual a lei superior prevalece sobre a inferior; o cronológico, no qual a lei mais recente prevalece em relação a anterior e a especialidade, que consiste no fato de que a lei especial deve prevalecer em relação à lei geral.
Porém, esses critérios não são adequados no que diz respeito à colisão entre direitos fundamentais, uma vez que o conflito desses direitos se assemelha ao conflito de princípios. Os direitos fundamentais possuem valores igualmente relevantes e em alguns casos possuem valores contrapostos.
Portanto, os direitos fundamentais não devem ser interpretados isoladamente, uma vez que deve existir coerência entre eles. Assim, sempre que houver conflito entre direitos fundamentais deve-se observar o principio da concordância prática ou da harmonização, cabendo ao intérprete realizar uma coordenação entre as garantias em conflito, de modo que essas sejam aplicadas de forma harmônica, sem que uma garantia sacrifique totalmente a outra.[45: MORAES, G. P. de. Curso de direito constitucional. 2. ed. rev. e atual. Niterói: Impetus, 2008.]
Sobre o conflito de princípios fundamentais, verifica-se que “[os] princípios não obedecem, em caso de conflito, a uma “lógica de tudo ou nada”, antes podem ser objeto de ponderação e concordância prática, consoante o seu “peso” e às circunstâncias do caso”.[46: CANOTILHO, J. J. G. Direito constitucional e teoria constitucional. 7. ed. Coimbra:Almedina, 2003.]
A questão indígena trazida nesta pesquisa coloca em conflito garantias que podem ter valores diferentes em cada sociedade. O universalismo direciona o direito à vida como garantia universal e o relativismo visualiza o direito à vida como um direito relativo.
Devido à complexidade da cultura brasileira, o infanticídio indígena é um tema atual que necessita de muita atenção no âmbito jurídico. É que a prática do infanticídio indígena coloca em confronto dois direitos consagrados pela constituição o direito à vida e o direito cultural. 
Direitos que possuem a mesma relevância no ordenamento jurídico. O limite do direito cultural previsto no artigo 231 da Constituição, perante o direito à vida, podem ser analisados com a ajuda de duas teorias, a do universalismo e do relativismo cultural. A tese universalista disciplina que o direito à vida deve ser garantido a todos, uma vez que é a maior de todas as garantias, e que de maneira alguma devem ser permitidas práticas que afrontam a vida. 
Assim, para os universalistas, o infanticídio indígena é intolerável e injustificável, devendo as autoridades tomarem iniciativas para que não ocorra a prática e até mesmo punir os que a praticam. Para os relativistas culturais a prática deve ser tolerada, uma vez que o valor da vida é diferente para os grupos indígenas, devendo assim, ser respeitada e que não deve existir a intervenção da prática. 
Ao analisar o infanticídio como uma prática de todo grupo cultural, impor o direito à vida a esse grupo seria impróprio, pois conforme demonstrado o valor da vida para os indígenas muito difere dos não indígenas, uma vezque suas normas de condutas são regidas pela razão espiritual e não por leis impostas.
Evidente que os direitos indígenas conquistados, incluindo-se aqui especificamente, os costumes, crenças e tradições (art. 231) não podem ser efetivados a qualquer custo, sem atentar-se para os princípios e garantias fundamentais expressamente previstos expressos em nossa Constituição Federal, principalmente os direitos humanos tidos como universais, como o direito à vida. 
A consolidação de um Estado Democrático de Direito, há que se pautar no princípio da dignidade da pessoa humana, sem se descurar da igualdade e liberdade. Como a questão da prática do infanticídio considerada como prática cultural legitimada na Constituição Federal é complexa, nada mais justificável do que, a priori, partir-se para os ‘diálogos interculturais’, não como forma de impor-se uma cultura sobre a outra, mas buscar garantir aos índios, além do direito à vida, o direito à igualdade, primando-se sempre pela liberdade como ideal de justiça.
3. A ADOÇÃO COMO ALTERNATIVA DE COMBATE E SOLUÇÃO
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) traz o entendimento do que se considera criança, que para os efeitos de Lei, é pessoa com até doze anos de idade incompletos (11 anos e 11 meses), e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade (art. 2º), e de que se aplica excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade (art. 2º, p. único). [47: Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade]
Trata ainda sobre quem tem a possibilidade sobre o gozo de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, direitos esses assegurados pela CF88, sem prejuízo da proteção integral de que trata a Lei, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade (art. 3º).
Aplicando-se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem (art. 3º, p. único). [48: Tal disposição é também reflexo do contido no art. 5º, da CF/88, que ao deferir a todos a igualdade em direitos e deveres individuais e coletivos, logicamente também os estendeu a crianças e adolescentes. O verdadeiro princípio que o presente dispositivo encerra, tem reflexos não apenas no âmbito do direito material, mas também se aplica na esfera processual, não sendo admissível, por exemplo, que adolescentes acusados da prática de atos infracionais deixem de ter fielmente respeitadas todas as garantias processuais asseguradas aos acusados em geral, seja qual for sua idade (vide comentários aos arts. 106 a 111, do ECA).]
A Lei nº 12.010, de 3 de agosto de 2009, é a atual lei que trata sobre a adoção no Brasil, promove alterações no Estatuto da Criança e do Adolescente dispondo que as gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude (p. único, art. 13). 
Assegura ainda, acompanhamento psicológico da mãe e da criança, tanto aos menores inseridos no programa de acolhimento familiar ou institucional, tendo sua situação reavaliada, no máximo, a cada seis meses, por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidindo de forma fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família substituta (art. 19, § 1º), não se prolongando por mais de dois anos, a permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento (art. 19, § 2º). 
Assim, sempre que possível, a criança ou o adolescente será previamente ouvido por equipe profissional, tendo sua opinião devidamente considerada (art. 28, §1º), e em se tratando de maior de doze anos de idade, será necessário seu consentimento, colhido em audiência (art. 28, §2), devendo o acolhimento familiar ou institucional ocorrer no local mais próximo à residência dos pais ou do responsável (art. 101, §7º). O cadastro de crianças e adolescentes terá âmbito estadual e nacional, assim como o de pessoas ou casais habilitados à adoção a serem adotadas deverá ser feita na comarca de sua residência (art. 50, § 5º).[49: Vale lembrar que no caso de colocação de adolescente em família substituta não basta a oitiva deste, sendo necessário colher também o seu consentimento com a medida, que do contrário não poderá ser efetivada. A oitiva da criança ou adolescente que se pretende colocar em família substituta decorre de sua condição de sujeitos de direito, no caso, o direito à convivência familiar, sendo os verdadeiros destinatários desta que, afinal, se constitui numa medida de proteção (cf. art. 101, inciso IX, do ECA).]
Conforme preceitua o art. 1º da Lei nº 6.001, de 19 de dezembro de 1973 (Estatuto do Índio), “Esta Lei regula a situação jurídica dos índios ou silvícolas e das comunidades indígenas, com o propósito de preservar a sua cultura e integrá-los, progressiva e harmoniosamente, à comunhão nacional”, a intenção do legislador é de prolongar a cultura e a vida destes índios. [50: Entretanto, com a constituição de 1988, encerra-se no âmbito constitucional o patrocínio às políticas de assimilação e integração do indígena, que passa a ser substituído pelo reconhecimento de seus bens culturais e pelo direito à diferença. Em outras palavras, reconhece-se (no artigo 231) sua organização social, seus costumes, suas línguas, suas crenças e suas tradições como partes integrantes, a seu modo, da comunidade nacional e resguarda-se assim o seu direito de continuarem a ser índios.]
Pois “Art. 2º Cumpre à União, aos Estados e aos Municípios, bem como aos órgãos das respectivas administrações indiretas, nos limites de sua competência, para a proteção das indígenas e a preservação dos seus direitos: I – estender aos índios os benefícios da legislação comum, sempre que possível a sua aplicação” (Lei nº 6.001/73). 
Além do mais, “os indígenas são brasileiros natos e a eles são assegurados todos os direitos civis, políticos, sociais e trabalhistas, bem como as garantias fundamentais estabelecidas na Constituição Federal”, conforme preâmbulo do referido Estatuto. 
Portanto, e de acordo com a Lei 12.010, em seu art. 28, § 6º: 
§ 6º Em se tratando de criança ou adolescente indígena ou proveniente de comunidade remanescente de quilombo, é ainda obrigatório: 
I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade social e cultural, os seus costumes e tradições, bem como suas instituições, desde que não sejam incompatíveis com os direitos fundamentais reconhecidos por esta Lei e pela Constituição Federal; 
II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia; 
III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão federal responsável pela política indigenista, no caso de crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, perante a equipe interprofissional ou multidisciplinar que irá acompanhar o caso.”
Pois já se trata de costumes das próprias tribos os familiares terem essa prática do cuidado, e com estudo e promoção da ideia por repartições de cuidado ao índio, a prática se tornaria muito mais viável e saudável. É costume, entre os índios, a adoção de crianças por parentes, quando estas ficam órfãs, ou quando a família não tem condições de criá-las. Na maioria das famílias visitadas, encontra-se um sobrinho, ou outro parente, morando junto, que é criado e educado como se fosse filho.[51: MARTINS, Tatiana AzambujaUjacow. Direito ao Pão Novo: o princípio da dignidade humana e a efetivação do direito indígena. 1ª ed. São Paulo: Pillares, 2005, p. 171.]
As noções de parentesco e família são essenciais para compreendermos a organização social dos povos indígenas e, consequentemente, as suas práticas relacionadas aos cuidados com suas crianças e adolescentes. Nas comunidades indígenas crianças e adolescentes indígenas recebem, quase sempre, cuidados de todos os seus familiares, sejam eles consanguíneos ou afins. Nas tribos a convivência familiar-comunitária é plenamente exercida com autonomia e independência, envolvendo todos.[52: DE SENA, Thandra Pessoa; DE SOUZA DELGADO, Joedson. Adoção de Crianças e Adolescentes nas Comunidades Indígenas: A Colocação da Criança Indígena em uma Família Substituta. Revista de Gênero, Sexualidade e Direito, v. 2, n. 1, 2016.]
Então, conforme a abordagem sobre o tema de adoção será priorizada a permanência da criança/adolescente no seio de sua família. Neste caso, a proteção será garantida por meio de ações educativas e preventivas desenvolvidas junto à comunidade, e, em especial, junto à família da criança e adolescente. A medida está em consonância com o art. 129, IV, do Estatuto da Criança e Adolescente, o qual estabelece, como medida aplicável aos pais ou responsável, “encaminhamento a cursos ou programas de orientação. [53: Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família;I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família; (Redação dada dada pela Lei nº 13.257, de 2016)II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua freqüência e aproveitamento escolar;VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado;VII - advertência;VIII - perda da guarda;IX - destituição da tutela;X - suspensão ou destituição do pátrio poder poder familiar. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) VigênciaParágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos arts. 23 e 24.][54: MARENSI, Marcela de Andrade Soares. Adoção de Crianças e Adolescentes Indígenas. Disponível em:http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,adocao-de-criancas-e-adolescentesindigenas,48450. Html. 2014]
Deste modo, os direitos das crianças poderão ser resguardados e buscado uma maior ajuda para melhor atender as suas necessidades. Pois o que o legislador, sempre visa é o cuidado integral das crianças, e assim, ver uma correta efetivação de seus direitos diretamente aplicados em todas as culturas, sem distinção. 
Nesse sentido, a recente Instrução Normativa Nº 1, de 13 de maio de 2016, veio para melhor tutelar os direitos das crianças indígenas, a fim de promover o acolhimento familiar emergencial e provisório, reforçando a tutela dos direitos de menores que necessitam com urgência de um lar. Assim, conforme dispõe o art. 6º, § 2º. 
O acolhimento emergencial deve se dar na mesma família nuclear, extensa, parentela, comunidade, povo ou terra indígena, constituindo-se em uma ação que visa fortalecer a identidade sociocultural específica da criança ou jovem em relação ao pertencimento ao seu povo, de modo a preservar as práticas tradicionais de proteção e cuidado. 
Após promover a devida informação oficial aos órgãos competentes e judiciais deve-se requerer que seja viabilizada a manutenção dos vínculos familiares e comunitários, afim de verificar se a família foi cientificada da medida e se a criança tem acesso à assistência jurídica, dentre outras providências. 
A referida Instrução também promove novas atribuições às Unidades da FUNAI, dentre elas, apoiar, promover e articular, sempre que possível, a averiguação periódica da existência de crianças e jovens indígenas em serviços de acolhimento, unidades de saúde e outras entidades, que possam estar configuradas circunstâncias de iminente ou consumado afastamento do convívio familiar ou comunitário (art. 11, inc. V).
Assim conclui-se que as crianças e os adolescentes indígenas se constituem sujeitos de direitos exigíveis com base na lei e são detentores de proteção integral como as demais crianças brasileiras. O respeito ao outro e o repúdio a qualquer forma de opressão, como já afirmado anteriormente, é um valor que deve estar presente em todas as concepções éticas emancipatórias. 
Reitera-se que a cultura e a língua de um povo evoluem com o passar dos anos, não são rígidas, por adequarem-se ao tempo, as leis e as novas tecnologias que vão sendo aperfeiçoadas. 
Deve-se preservar a cultura em tudo aquilo que é salutar ao indivíduo, mas também rever valores que não atendem ao princípio da dignidade humana. Deste modo, é possível dizer que o direito à vida não deve ser mitigado pelo simples pensamento de que uma cultura deve ser preservada. Essas culturas não devem ser diminuídas ou mesmo desaparecidas pela ideia de preservação, pois se mostram opostas e no fim, uma anula a outra. Pois, ou a cultura é preservada e crianças continuarão sendo mortas ou o direito a vida será preservado em detrimento da cultura, mesmo que práticas culturais sejam deixadas para trás. 
Entretanto, a situação de violação de direitos das crianças e adolescentes em nosso país é notoriamente grave, e seu enfrentamento é merecedor de prioridade, como garantiu o legislador na Constituição Federal (artigo 227) e artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente. Por isso, não se pode negar a hipótese, nem a tentativa de adoção por pretendentes de outras culturas.
No caso de concordância dos pais, eles serão ouvidos pelo juízo e pelo parquet em audiência, garantindo-lhes a livre manifestação de vontade e se tomarão a termo as declarações. Nessas audiências, deve ser garantido o auxílio de intérprete, conforme o artigo 12 da Convenção 169 da OIT sobre povos indígenas e tribais. Porque a lei não proíbe a adoção por pessoas de outras culturas, apenas aumenta as exigências. Então embora possa aceitar este tipo de adoção, esta não é realizada de imediato. Sendo necessários trâmites administrativos e até mesmo jurídicos muito mais demorados que o convencional. 
No entanto, não se pode fechar os olhos para as situações críticas vivenciadas nas aldeias e muitas vezes silenciadas pelos órgãos estatais e desconhecidas pela sociedade civil. Ainda é preciso criar-se uma subdivisão dessa categoria de “vítimas das vítimas”, onde encaixo as crianças indígenas. Os índices oficiais disparam nos percentuais de violações nos mostrando que elas integram: 
- o maior índice de crianças sem registro de nascimento; 
- o maior índice de crianças não alfabetizadas; 
- o maior índice de crianças vítimas da mortalidade infantil; 
- o maior contingente com maior chance de ser vítima de violência sexual (duas vezes maior que as outras crianças, junto com crianças negras), segundo dados do Unicef. 
Então, em havendo crianças que precisam de um lar, e esgotadas as possibilidades em sua própria aldeia, ou mesmo, na ocorrência de iminente perigo de vida ou à sua integridade física, faz-se necessária a optação pela adoção destes menores por famílias que não a de sua cultura.
O princípio da proteção integral sugere que, tanto a criança quanto o adolescente, devem encontrar no poder público todo o apoio necessário para que seus interesses sejam atendidos, propiciando uma criação sadia e em condições de proporcionar a formação de seus caráter e personalidade. 
Nesse contexto a inclusão do atendimento em todas as necessidades, como alimentação, educação, vida familiar e social, dentre outras. A própria família da criança deve ser amparada através de uma rede de atendimento que lhe dê condições de criá-la com carinho e cuidado. 
A proteção, bem comoo direito à família, a cuidados e por que não, ao afeto, dentre todos os demais direitos, devem alcançar e abarcar a criança, de modo a suprir todas as necessidades pessoais e como de ser humano devidamente assistido pelas legislações aplicáveis aos índios brasileiros natos. 
Pois, deve-se também reconhecer que os direitos fundamentais exercem, além de sua função limitadora do poder, uma relevante função de legitimação do poder estatal, na medida em que o poder se justifica pela realização dos direitos dos seres humanos. Diante disso, pode-se afirmar que a relevância da Constituição Brasileira está em priorizar a dignidade humana e os princípios fundamentais como a base que justifica o Estado Democrático de Direito. De outra forma, uma constituição sem a declaração de direitos fundamentais não pode ser considerada digna desse nome.

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