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MÓDULO – FUNDAMENTOS DE SAÚDE DISCIPLINA - ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO SUS AULA 03 – SAÚDE E DOENÇA EM NOVO FOCO PROFESSORA TANIA MARIA SANTOS PIRES Introdução: Você é uma pessoa saudável ou você é uma pessoa doente? Vou reformular a pergunta: você é uma pessoa saudável que tem uma doença? Sei que neste momento você deve estar um pouco confuso para responder, mas não precisa se preocupar porque durante a aula de hoje, vamos discutir exatamente sobre os conceitos de saúde e doença e sobre os significados de adoecer e ser saudável e como estes conceitos influenciaram os modelos de formação profissional que temos. Contextualizando: Durante longo tempo no Brasil, o sistema de saúde esteve focado em atender a “DOENÇA” e por mais que esforços tenham sido feitos na tentativa de vencer a doença, os resultados demonstrados nas mudanças dos indicadores de saúde foram muito pequenos. De repente o SUS chega demandando que façamos promoção da “SAÚDE”, a proteção da “SAÚDE” e a recuperação da “SAÚDE”. Há uma evidente mudança de foco entre os dois objetivos. Um estava focado na doença e o outro está focado na saúde, mas mesmo assim, a principio notou-se que os profissionais da saúde ficaram perdidos, porque é claro que não basta apenas uma lei para mudar o modo de pensar das pessoas e em consequência trazer mudanças no seu modo de agir. Há necessidade de mudança nos conceitos internalizados ao longo de décadas, para que um outro olhar seja criado. Esta mudança vem acontecendo ao longo do processo histórico, sendo bastante compreensível a relação da formação do pensamento e as necessidades mais prementes de um determinado contexto histórico e social. No inicio do século, estando ainda o mundo sofrendo as consequências das grandes epidemias, sem antibióticos, sem vacinas, sem o conhecimento da microbiologia, é evidente que os cientistas sem voltariam para a doença. Na década de 1930, surgem os primeiros conceitos de saúde. Um deles, muito representativo e até mesmo um pouco romântico, é o conceito elaborado por Leriche, cientista francês, que diz que “saúde é a vida no silêncio dos órgãos” (LERICHE, 1931). Ao analisarmos o conceito de Leriche, notamos que ele relaciona a saúde aos órgãos. Se os órgãos estiverem silenciosos, ou seja, sem dor, sem disfunções, sem anomalias, então tudo estará bem e a pessoa pode ser considerada saudável !!!! Será mesmo? Quase 20 anos mais tarde, o mundo ainda sofria com as consequências da segunda guerra mundial. Os traumas que acometeram as pessoas, mesmo aquelas que não haviam sido presas ou agredidas diretamente já eram intensos, imagine sobre aqueles que foram diretamente atingidos e suas famílias. Mulheres pararam de menstruar sem causa orgânica aparente, grande numero de pessoas desenvolveram comportamentos estranhos, com crises de tremores, dores intensas em todo o corpo, não conseguiam dormir, sensação de medo e insegurança constantes, no entanto seus corpos aparentemente estavam saudáveis. Esta realidade levou a recém nascida Organização Mundial da Saúde, no ano de 1948 a elaborar o conceito de saúde que se tornou oficial e reconhecido até hoje . “saúde é um estado de completo bem estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”(OMS, 1948). Esta definição expressa a realidade daquele momento. Como dizer que pessoas que enfrentaram o pós guerra estariam saudáveis? Mesmo que na época não se conseguisse identificar quais as doenças, é claro que eles não estariam saudáveis. Apesar de ser inovador para a época, pelo fato de considerar o bem estar como referencia e não o corpo, este conceito provoca atualmente muitas criticas devido a palavra completo. De fato quem teria saúde, segundo este conceito? Quem poderia ter um completo bem estar de modo constante? Provavelmente respondendo a estes questionamentos surge o conceito elaborado por Dubos, também francês, que disse que “saúde é o resultado do equilíbrio dinâmico entre o individuo e o seu meio ambiente”(DUBOS, 1965). O conceito de Dubos dá conta com mais precisão da complexidade da saúde e não poderia ser diferente, dada a complexidade do ser humano. Se de fato pudéssemos avaliar quanto de nós está contido no corpo, veríamos que é muito pouco. Se levarmos em conta que a filosofia e as religiões consideram o ser humano como tridimensional, considerando o corpo, alma e espirito , segundo a filosofia cristã ocidental, então o corpo corresponde apenas a 1/3 do que somos. Os estudos da sociologia e psicologia comprovaram o conceito de Dubos. Como seres sociais e intensamente emocionais, o nosso corpo é afetado e responde a todos esses estímulos. Crianças deixam de crescer adequadamente se forem privadas de afeto. Homens sozinhos tem mais risco de adoecer do que homens casados e morrem mais cedo. A complexidade humana não pode ser restrita ao corpo. Sendo assim, doença não mais é o que se pensava que fosse, ou seja “transtornos do funcionamento do corpo de causas internas ou externas, de origem infecciosa ou degenerativa” e passa a ser um transtorno de qualquer origem que possa alterar a qualidade de vida das pessoas; qualquer alteração na vida que interfira negativamente no equilíbrio pessoal”. Estes conceitos abririam uma nova perspectiva para se compreender o que é saúde e doença de forma mais ampla e mais justa. A partir de então pode ser observada a influencia de outros componentes na produção de saúde e doença, como a fé, atitudes positivas com relação a si mesmo e aos outros, a capacidade de perdoar a si mesmo e aos outros, o desenvolvimento da resiliência em situações críticas, ajudar aos outros em suas dificuldades. Esses componentes se mostraram tão importantes que estudos sobre longevidade mostram que estas atitudes impactam mais positivamente a qualidade de vida do que ter os triglicerídios na dosagem certa. Apesar de tão lógica, esta forma de pensar sobre saúde e doença não é facilmente aceita pela maioria dos profissionais de saúde. Isto acontece devido ao modelo de formação aplicado nas universidades. Os profissionais de saúde são formados dentro dos grandes hospitais e sua formação está centrada na doença e no modelo biomédico. A ciências da saúde, sobretudo a medicina, aprofunda-se no entendimento da fisiopatologia, que é o estudo de como as doenças funcionam, mas a intensa especialização nos leva perder a visão integral da pessoa, com suas angustias e dúvidas, alegrias e recursos pessoais, enfim toda a sua história. As pessoas tornam-se segmentadas em seus vários sistemas e aparelhos e acontece uma grande dificuldade para juntar tudo de novo, e não se encontram respostas satisfatórias para a doença. O modelo proposto é um modelo integral de saúde, com a visão da pessoa como um todo, entendendo que mesmo que as pessoas tenham a mesma doença, o mesmo diagnostico, o seu adoecimento é diferente, porque eles tem vivencias diferentes e isto vai impactar no seu corpo. Neste modelo, consideram-se as questões sociais, familiares e comunitárias, o trabalho exercido, as amizades construídas, os valores e princípios consolidados na vida. O que somos , ainda o seremos ao envelhecer, na saúde ou na doença e isto nos diferencia como pessoas. Pesquisa Falar sobre saúde é falar sobre qualidade de vida. Aproveite este tema tão atual e pesquise sobre outros componentes da qualidade de vida. Para ajudá-lo, sugiro que assista a estes dois pequenos vídeos e possa sentir-se inspirado com estas histórias. https://www.youtube.com/watch?v=iDgt7J8OoNI https://www.youtube.com/watch?v=h1zF8fKTso8 Trocando Ideias Converse com a sua família e amigos sobre como tersaúde e qualidade de vida. Pense sobre alguns hábitos que temos que não são saudáveis, mas que acabamos por permitir que eles nos dominem. Sinta-se desafiado a mudar. Comece por fazer uma lista daquilo que você gostaria de mudar em você mesmo, nos seus hábitos e atitudes que o levariam certamente a ter uma vida mais saudável e com maior qualidade. Síntese Na aula de hoje estudamos o desenvolvimento dos modos de pensar saúde e doença e suas conceituações . Vimos como a OMS trouxe um conceito inovador e abrangente para a época. Concluímos que a complexidade humana é tão grande que as origens das doenças não podem ser restritas apenas ao corpo. A nossa forma de pensar saúde e doença influencia a nossa forma de agir como profissionais de saúde. Um olhar mais abrangente sobre saúde e doença nos permite maior qualidade de vida e saúde. Os determinantes sociais, familiares e emocionais tem uma enorme influencia na produção de saúde e doença.
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