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Texto 06 - GLOBALIZAÇÃO EM QUESTÃO

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GLOBALIZAÇÃO EM QUESTÃO
Paul Hirst e Grahame Thompson
I. Introdução: Globalização - Um Mito Necessário?
Costuma-se dizer que os processos globais dissolvem as culturas, as economias e as fronteiras nacionais. Será verdade?
Do ponto de vista econômico, as estratégias econômicas internas se tornariam irrelevantes, as forças de mercado seriam incontroláveis, as empresas transnacionais seriam os principais atores e os Estados Nações perderiam seu sentido atual.
Três fatos são importantes e inquietantes nas discussões sobre a Globalização:
Ausência de um modelo explicativo de globalização econômica
Fenômenos de Internacionalização, freqüentemente citados como se fossem de Globalização
Falta de perspectiva histórica nas tentativas de explicação do fenômeno como se as mudanças atuais na economia fossem únicas e permanentes.
A Globalização é um mito no seu sentido mais extremado:
A Economia Internacional é, em certos aspectos, menos aberta e menos integrada hoje do que no período 1870-1914
Poucas são as empresas genuinamente Transnacionais
A mobilidade do Capital é muito mais financeira do que através de Investimento Direto Estrangeiro( IDE )
Os fluxos internacionais de Comércio, Financeiro e Investimento estão concentrados na Tríade( EUA, Europa e Japão )
Os mercados globais na verdade estão sobre controle e regulação das Grandes Potências.
É necessário distinguir-se claramente tendências que levam à Internacionalização crescente da economia do que se chama genericamente de Globalização.
Internacionalização:
As modificações na Economia Mundial mantêm um papel importante aos atores nacionais
Globalização:
A nova Economia Mundial subordina os atores nacionais
Para se compreender como surgiu o mito da Globalização é necessário um breve retrospecto da recente aceleração do processo de aceleração da Internacionalização da Economia Mundial.
Período 1945- 1973:
Prolongado crescimento econômico dos países avançados
Ativa intervenção estatal
Administração multilateral do comércio e mercados financeiros mundiais
Hegemonia dos EUA
Pleno Emprego nos países avançados
Estado do Bem Estar Social nos países avançados
Período 1973 - 1980:
Colapso do sistema Bretton-Woods( flutuação do Dólar )
Crises do petróleo( OPEP )
Crescimento dos empréstimos aos países do 3° Mundo
Internacionalização crescente dos mercados financeiros
Crescimento do Japão
Aumento do desemprego na Europa
Desenvolvimento acelerado de alguns países do 3°Mundo( PED )
Início da Produção Flexível( pós Fordismo )
Período 1980 – 1990:
Colapso do Keynesianismo
Fim do Comunismo e da Democracia Social
Crença nas forças do Mercado
Crença na Competitividade a qualquer custo
Mercados Globais seriam incontroláveis
Uma nova Economia Global ou relações econômicas internacionais intensificadas?
Uma Economia Internacional:
As entidades principais são as Economias Nacionais
Integração estratégica entre as Economias Nacionais
Política interna e externa separadas
A importância do comércio é substituída pouco á pouco pela do IDE
Crescimento das corporações Multinacionais
Uma Economia Globalizada:
sistema econômico Internacional torna-se autônomo e independente das Economias Nacionais
Aos governos nacionais cabe apenas a Regulação
Ingovernabilidade dos fenômenos econômicos
Fim da hegemonia de uma só grande potência( EUA )
As Multinacionais se transformam em Transnacionais
Deslocalização da produção
Enfraquecimento político dos trabalhadores
À uma economia globalizada não se contrapõe uma economia fechada mas sim uma economia aberta regulada pelos Estados Nações e por agencias supranacionais.
II. Globalização e História da Economia Internacional
Quando se fala em Globalização a principal questão em jogo é a mudança de Autonomia das Economias Nacionais na condução de suas atividades econômicas ou seja a capacidade das autoridades econômicas nacionais de determinarem suas próprias políticas econômicas e colocá-las em prática. Autonomia está intimamente ligada à abertura, interdependência e integração.
Corporações Multinacionais e Transnacionais
É por ocasião da Revolução Industrial, com o desenvolvimento das manufaturas que se constitui a precursora da Multinacional moderna.
As Multinacionais industriais surgiram na Economia Mundial após meados do século XIX e se fortaleceram na década de 20,no entanto seu poder diminuiu durante a depressão dos anos 30 e durante o período da 2ª Guerra reiniciando uma expansão flutuante após 1950.
Comércio e Integração Internacional
Entre 1870 e 1913 o comércio internacional apresentou crescimento significativo( 3,4% a.a. ), principalmente devido a ausência de restrições tarifarias importantes que vigoraram até o fim do padrão ouro nas transações internacionais.
Entre 1913 e 1950 o crescimento foi modesto( - de 1% a.a. ) devido ao controle de câmbio, restrições tarifárias e quantitativas, à Depressão dos anos trinta e às duas guerras mundiais.
Entre 1950 e 1973( os anos dourados ) com o fim da 2ª Guerra o comércio decolou extraordinariamente( 9% a.a. ).
Já entre 1973 e 1985 o crescimento, embora continuasse, retornou aos níveis do final do século XIX( 3,6% a.a. ).
A Migração Internacional
De modo geral existe um consenso de que uma das tendências da Globalização é de que o fenômeno da migração tornou-se mais importante e global. Será?
Em 1992 havia em todo o Mundo cerca de 100 milhões de migrantes de todos os tipos( 1,7% da população mundial ). Em 1815 o mundo apresentou a maior leva de migração de sua história( 60 milhões de pessoas ) muito maior do que a de 1992 considerando-se a população da época.
A Abertura e a Interdependência do Sistema Internacional
Para analisar-se se a integração da Economia Mundial evoluiu dramaticamente após os anos 50 é necessário comparar-se a evolução da proporção do comércio internacional em relação ao PIB.
Verifica-se então que essa proporção era muito maior em 1913 do que em 1973 para a grande maioria das economias avançadas.
Utilizando-se dados a partir de 1950 verifica-se então um crescimento vigoroso do comércio internacional e particularmente em relação aos PED.
Analisando-se os fluxos de Capitais verifica-se a mesma tendência do comércio. A abertura financeira não mostra crescimento ao longo do período 1875-1975 em relação ao PIB, embora se verifique uma tendência ao crescimento a partir dos anos 70.
Na verdade a abertura da economia mundial foi maior no período do padrão ouro do que no período dos anos 80.
O Mercado de Trabalho Mundial
Não existe um mercado de trabalho mundial como existe um mercado de bens e serviços. Há hoje enormes restrições à mobilidade do trabalho, com exceção de zonas de livre comércio regionais como no âmbito da EU.
Quando há migração esta restringe-se a mão de obra qualificada e de alta renda, na maior parte das vezes.
As restrições são na maior parte de fundo política e reguladas pelos governos nacionais
O mercado de trabalho internacional era muito mais liberal e sem restrições no período anterior a 1914 do que é hoje a não ser para os mais ricos e privilegiados
Regimes Monetários Internacionais e de Taxas de Câmbio
O século XX pode ser dividido em relação à regimes monetários e taxas de câmbio conforme se vê abaixo:
	REGIME
	PERÍODO
	1. Padrão- ouro Internacional
	1879- 1914
	
	
	2. Instabilidade entre as Guerras
	1918- 1939
	a- Flutuação
	1918- 1925
	b- Volta ao Ouro
	1925- 1931
	c- Volta à Flutuação
	1931- 1939
	
	
	3.Padrão- dólar com taxa semi-fixa
	1945- 1971
	a- Conversibilidade a ser estabelecida
	1945- 1958
	b- Sistema de Bretton Woods
	1958- 1971
	
	
	4. Padrão Dólar com Taxa Flutuante
	1971- 1984
	a- Fracasso do Acordo
	1971- 1974
	b- Volta à Flutuação
	1974- 1984
	
	
	5. SME e Zona do Marco Alemão
	1979- 1993
	
	
	6. Acordos de Intervenção Plaza- Louvre
	1985- 1993
	
	
	7. Tendência a Restabelecer a Flutuação
	1993-Pode-se tirar 3 conclusões da tabela acima:
A natureza governada do sistema ao longo do século
Continua a existir hoje em dia um sistema governado
A possibilidade de mudança a qualquer momento
Medidas de Integração
Taxas de juros nos Países
Valor das ações nos Países
Correlação estreita entre Investimento Nacional e Poupança Interna
Quanto maior a Integração mais próximos devem ser os valores acima entre as economias dos diversos países nos dois primeiros ítens; já no último é o contrário.
O período do Padrão- ouro foi um período em que as taxas internacionais de juros de curto prazo estavam estreitamente relacionadas ao contrário do que ocorre hoje quando a paridade das taxas está longe de ser alcançada.
A volatilidade dos mercados financeiros era muito maior até 1914 do hoje.
Em relação a correlação entre Investimento Nacional e Poupança ao contrário observa-se alta correlação, principalmente nas economias avançadas e que tem se acentuado nos anos recentes. A auto suficiência Investimento- poupança era muito menor no período 1870- 1910.
Desenvolvimentos Recentes na Atividade Financeira Internacional
Na década de 70 assistiu-se a um rápido crescimento da atividade financeira internacional:
Aumento dos empréstimos
Inovação Financeira
Conglomeração Financeira
O crescimento do mercado de bônus confirma a tendência à internacionalização dos sistemas financeiros mundiais.
Mas o perfil dos empréstimos internacionais tem se alterado dramaticamente: de longo prazo e voltados para ativos reais tem se modificado para prazos mais curtos e ativos financeiros.
A partir de 1985 tem-se observado o retorno e crescimento dos IDE.
O crescimento dos conglomerados financeiros tem aumentado os riscos de mercado e risco sistêmico, apresentando novos desafios de regulação para os governos e organismos Internacionais.
III. Comércio, Investimento Externo Direto e Desigualdade Internacional
No período 1945- 1973 o fator dominante que dirigiu a economia mundial foi o crescimento do comércio internacional. A partir dos anos 80 o polo dinâmico foi o IED.
Os mecanismos que tem importância para a estrutura e crescimento desenvolvimento da economia são o comércio internacional e o IED. Os fluxos de capitais de curto prazo tem pouco impacto sobre a economia real( apenas indiretamente pelo impacto sobre a taxa de câmbio e a taxa de juros ).
Os agentes responsáveis pelo Investimento Externo Direto são as corporações multinacionais.
Pelos dados disponíveis pode se ver que o IED é altamente concentrado nas economias avançadas e em um pequeno número de economias em desenvolvimento( PED ).
As ações desenvolvidas no âmbito da OMC visam apenas as questões do Comércio Internacional mas são incapazes de regular as questões dos fluxos e consequências do IED.
Os que são contrários à Globalização descuidam dessas questões pois sonham com a volta de economias fechadas e protegidas e os adeptos acham que os mercados resolverão todas as questões colocadas pela economia globalizada.
As questões fundamentais da economia globalizada não estão localizadas no âmbito da OMC( livre comércio ou protecionismo ) mas sim na discussão, regulação e distribuição do IED.
Trata-se aqui de compatibilizar o livre comércio com a administração do IED para um crescimento da economia mundial mais justo e estável. A governabilidade econômica está agora no âmbito internacional e não apenas local, mas é tão ou mais importante do que antes.
A Natureza do IED e do Comércio
No início dos anos 90 haviam cerca de 37 000 multinacionais em todo mundo, sendo que cerca de 24 000 delas( 70% ) localizavam-se nos 14 países da OCDE.
Do total de estoque do IED( 2 U$ trilhões ) apenas 5% tinham suas origens nos PED.
Um terço do estoque de IED eram das 100 maiores multinacionais. A indústria respondia por 60%, os serviços por 37% e o setor primário por apenas 3%.
Os anos de ouro da economia mundial foram caracterizados por crescimento do comércio internacional e do investimento interno. Eram economias dirigidas à exportação. A partir de 1982 é que começa a ganhar força o IED.
As questões envolvendo as novas características do IED foram inicialmente discutidas dentro das rodadas de negociações do Gatt( principalmente na Rodada Uruguai ) ainda como um desvio de comércio.
Padrão dos Fluxos e Estoques do IED e as Multinacionais
A distribuição do IED tem se alterado conforme a composição dos blocos regionais comerciais como o NAFTA ou a UE. As redes de produção, as alianças de P&D são exemplos de integração. Aliadas às novas tecnologias da Informática essas novas integrações da cadeia produtiva têm sido analisadas como um novo estágio de produção que resultou num novo tipo de empresa que seria a empresa verdadeiramente global ou as chamadas Transnacionais( TNCs ) ou as Corporações sem Estado.
Segundo os defensores extremados da Globalização estas redes de produtores e consumidores conectados pela Informática apresentam governabilidade e coordenação próprias que dispensam estratégias nacionais e intervenções políticas que apenas serviriam para prejudicar sua eficiência. Será?
Os países se diferem consideravelmente no que diz respeito a eficácia de suas economias em atrair investimentos externos. As vantagens não se limitam apenas ao menor custo de mão de obra.
Mesmo no mundo globalizante existem diferenças reais em como os países são capazes de atrair IED. Há diferenças:
na cultura empresarial
nos sistemas financeiros
nos esforços em P&D
na inovação tecnológica
nos ciclos de vida da produção
no ambiente institucional, etc.
As empresas Multinacionais têm que desenvolver 3 habilidades para administrar uma rede de atividades internacional:
tirar vantagens das economias de escala da dimensão global
adaptar a produção local e a oferta a consumidores diferenciados
usar a experiência local e global para fortalecer a base de recursos da empresa
Assim, no cenário internacional não temos apenas uma série de oligopólios comerciais mas também a capacidade dos governos nacionais poderem atuar como oligopolistas estratégicos.
Os governos são fundamentais na criação de vantagens competitivas construídas tais como: provisão de infra-estrutura e treinamento e qualificação de mão de obra.
Poder e Influência da Tríade
Uma característica importante das relações das estratégias e táticas empresariais e governamentais e suas íntimas relações pode ser visualizada pelo fato de que 75% do estoque do IED e 60% do fluxo estavam localizados na Tríade, no início dos anos 90.
Além desta concentração outro fato importante diz respeito à localização dos IED dos membros da Tríade. Cada um dos membros domina os IED em países específicos, geralmente em sua vizinhança ou zona tradicional de influência, o que vai contra a idéia de um mundo globalizado.
A intensidade da relação entre os membros da Tríade e sus clientes regionais é menor no caso do IED do que no caso do comércio. As relações de investimento são mais abertas à integração cruzada entre os países centrais do que as comerciais que são mais intensas.
IED, Comércio e Desigualdades de Renda
Fluxos de Investimento e População, 1981- 1991
	Países
	População, 1990
	%
	Fluxos de IED %
	Total
	5.292.195
	100
	100
	
	
	
	
	A
	757.092
	14
	75
	EUA e CAN
	275.865
	
	
	UE
	357.767
	
	
	JAPÃO
	123.460
	
	
	
	
	
	
	B
	758.820
	14
	16.5
	10 PED
	
	
	
	
	
	
	
	A + B
	1.515.912
	28
	91.5
	
	
	
	
10 PED: Cingapura, México, Brasil, Malásia, Hong-Kong,
Argentina, Tailândia, Egito, Taiwan e 9 províncias
da China.
De acordo com esta tabela os restantes 72% da população mundial recebem apenas 8.5% dos IED, ou seja, cerca de 2/3 do mundo estão virtualmente fora do roteiro dos IED. A mesma desigualdade é observada pelo Comércio conforme se vê na tabela abaixo.
Distribuição do Comércio mundial, 1992( exportações )
	Países
	Comércio, Intraeuropeu
	Comércio,Extraeuropeu
	
	
	
	TOTAL
	US$ 3,731 trilhões
	US$ 2,843 trilhões
	
	
	
	A
	69.9 %
	60.4 %
	EUA e CAN
	15.6
	20.5
	UE
	45.2
	27.9
	JAPÃO
	9.1
	12.0
	
	
	
	B
	
	
	10 PED
	14.0
	18.2
	
	
	
	A+B
	83.9
	78.6
Distribuição Mundial do PIB, 1970- 1989
	Países
	1970- 1979
	1980- 1989
	
	
	
	A
	70.58 %
	66.38 %
	EUA e CAN
	31.22
	29.81
	UE
	29.65
	26.91
	JAPÃO
	10.11
	9.68
	
	
	
	B
	8.68
	9.20
	10 PED
	
	
	
	
	
	A+B
	79.26
	75.58
( % ppc )
Mais uma vez observa-se uma concentração da economia mundial, em termos de distribuição do PIB, semelhante às verificadas acima.
A má distribuição da renda a nível mundial coloca em cheque o que se convencionou chamar de Globalização e a possibilidade de um desenvolvimento auto sustentável e a longo prazo da economia internacional.
Questões de governabilidade
As questões abordadas acima colocam uma nova questão: a de uma nova ordem mundial que se volte para o ordenamento e distribuição dos IDE e os rumos do desenvolvimento.
Um acordo abrangente deste tipo deveria:
definir, garantir e codificar os direitos de propriedade das multinacionais em relação a seu IDE
proteger os direitos dos trabalhadores e as condições do trabalho
reconhecer os direitos dos governos em disciplinar e regulamentar questões de P&D, defesa nacional, balanço de pagamentos, etc.
estabelecer normas para a taxação das empresas multinacionais
estabelecer mecanismos de disputas baseado em lei internacional
definir protocolo sobre a questão ambiental
IV. As Corporações Multinacionais e as Teses de Globalização
Se há fortes tendências para a Globalização da economia deverá haver uma forte tendência para conversão das multinacionais em TNCs.
Para esta análise deve-se colocar 3 questões:
saber onde as Multi conduzem sua atividade
se há diferenças na expansão da atividade das Multi de diferentes países
se há diferenças entre as empresas do setor industrial e de serviços
A Abordagem Existente
O que os dados sobre as Multi mostram é que o território de origem é fundamental na localização da atividade econômica das empresas.
Os dados da OCDE mostram que a indústria ainda é o setor que mais atrai o IED e dentro do setor a distribuição do investimento mostra que ele está sendo dirigido cada vez mais à industria sofisticada com alto valor adicionado, como produtos químicos, automóveis e eletrônicos.
Em 1993 os seis maiores investidores no exterior eram:
EUA, Reino Unido, Japão, França, Alemanha e Holanda.
Os Resultados Comparados
Os dados obtidos sobre as vendas das Multi industriais dos países acima indicam que estas se concentram nos próprios países de origem( cerca de 2/3 das vendas ). Tomadas as empresas de serviços estes dados ficam mais acentuados ainda.
Se tomados dados dos ativos destas empresas estes são semelhantes aos dados de vendas, embora menos acentuados; outra vez a dominação da região/país de origem é evidente.
Tomados dados de distribuição do lucro novamente a centralidade da região/país de origem fica claro.
Análise Conjunta de Dados de 1992- 1993
Além do predomínio dos países de origem, uma outra característica importante é a concentração das vendas em muitas poucas áreas geográficas. O Japão, especialmente, é local de vendas quase exclusivo para as empresas japonesas.
Comparações e Implicações
As Multi ainda contam com sua base de origem como o centro de suas atividades apesar de toda a especulação sobre a Globalização. Portanto as empresas internacionais ainda são predominantemente Multi e não TNCs como se costuma defini-las hoje em dia. Isto pode ser visualizado na tabela abaixo:
Distribuição das vendas das Multi para a(o) região/país de origem( em % )
	Países
	Indústria
	Serviços
	
	
	
	
	1987
	1992- 93
	1987
	1992- 93
	Alemanha
	72
	75
	-
	-
	Japão
	64
	75
	89
	77
	Reino Unido
	66
	65
	74
	77
	EUA
	70
	67
	93
	79
Todos os dados analisados até agora indicam que entre 70% ou 75% do valor multinacional adicionado foi produzido no país de origem o que contraria a hipótese de que estas empresas sejam TNCs.
A atividade remanescente destas empresas( os 30 ou 25% ) realmente se espalham consideravelmente, em diferentes áreas e em medidas diversas, o que pode significar que esta atividade pode ter importância estratégica para as empresas e que esta maior dispersão das filiais e subsidiárias poderia ser tomado como uma tendência a operar em rede.
Em relação às atividades em P&D as conclusões são semelhantes às apresentadas anteriormente. No máximo 10 a 30% das atividades tecnológicas das Multi localizavam-se em subsidiárias estrangeiras.
As empresas internacionais permanecem pois nacionalmente enraizadas o que significa que os países de origem têm poder de regular a atuação destas empresas.
V. Atraso Econômico e Prosperidade Futura
Um dos principais argumentos dos otimistas da tese da Globalização é que o mundo desenvolvido está perdendo sua hegemonia e que a economia internacional caminha para uma convergência que fará desaparecer, dentro de uns 25 anos, as enormes diferenças entre as economias nacionais observadas hoje. O aumento de renda do 3° Mundo e o crescimento do comércio mundial ajudará a manter o nível de emprego e a produção do 1° Mundo.
Para os pessimistas da Globalização esta convergência ocorrerá, mas haverá um nivelamento por baixo da economia mundial já que governos autoritários e legislação trabalhista repressiva produzirão força de trabalho qualificada mas barata no 3° Mundo, puxando, portanto, os salários do mundo desenvolvido para baixo, também.
Se tomar-se os dados de crescimento do PIB para o grupo de países desenvolvidos e países em desenvolvimento( PED ) verifica-se o caráter cíclico do crescimento e uma trajetória descendente de crescimento dos seus PIBs desde 1961.
Para sustentar taxas de crescimento elevadas há um consenso que os PED necessitam de persistir em estratégias de industrialização voltadas para exportação e estabilidade política.
Mas como os PED poderão administrar as tensões de desenvolvimento rápido e ao mesmo tempo conter os protestos dos perdedores?
Desenvolvimento acelerado em Perspectiva Histórica
Projetando-se as atuais taxas de crescimento para os próximos 25 anos os PED conseguirão certamente encurtar a distância que os separa hoje dos países desenvolvidos. Mas será isto possível?
Para isso deverão promover além de rápida industrialização, mudanças no nível de emprego e de produção da agricultura e de serviços e evitar a marginalização de grande parte da sociedade.
Os países da AL produziram crescimento acelerado, mas este foi acompanhado de 2 processos que reproduziram o atraso:
exclusão e marginalização da economia rural
migração intensiva da população rural pobre para os centros urbanos, mantendo a renda urbana baixa e pressionada para baixo pelo grande desemprego estrutural
Os países asiáticos conseguiram rápida industrialização porque seus regimes autoritários usaram do poder político para promover investimentos públicos em educação, habitação e infra-estrutura. Além disso geralmente já apresentavam baixa desigualdade de distribuição de renda. Bem diferente do que os liberais chamam de “bom governo”( com a significativa exceção da China que apresenta grandes desigualdades de renda interna entre suas regiões, o que pode comprometer seu futuro em prazo não muito distante ). 
O Caso Otimista e seus Limites
Os otimistas partem do recente crescimento dos PED para projetar o crescimento futuro. Recentemente Krugman e Young argumentaram que não se deve esperar repetição desses números para os próximos anos.
O crescimento responde à aumentos enormes de insumos( mobilização de recursos humanos sub-utilizados, emprego maciço de investimento público e capital privado ).
Mas o crescimento só será estável se puder prosseguir, agora, através do aumentode eficiência na utilização do capital e no aumento da produtividade do trabalho.
Deve-se ressaltar o papel crucial que o Estado representou para o desenvolvimento dos Tigres Asiáticos:
uma série de medidas intervencionistas estratégicas
subsídios aos investimentos
orientação administrativa
utilização de empresa pública
Atualmente os Tigres estão incrementando seus gastos em P&D como percentagem do PIB e continuam a aumentar a qualificação de sua mão de obra.
O Caso Pessimista e suas Limitações 
Para os pessimistas da Globalização esta depende da manutenção de salários baixos nos PED que seria sua única vantagem competitiva real.
Na verdade os bem sucedidos novos países industrializados desenvolveram-se basicamente devido ao investimento público tendo o IED pouca participação no processo ao contrário dos países da AL.
Na AL os níveis de investimento flutuam de acordo com as condições internacionais, necessitando esses países de permanentemente atrair capital externo, tendo para isso de se curvar às exigências da comunidade financeira internacional.
No entanto o IED é ainda uma pequena parcela do estoque de capital do mundo desenvolvido e ainda não há nenhuma evidência de que ele pode se transformar em uma parte importante do mundo em desenvolvimento.
Os baixos salários por sua vez dificilmente se transformarão em maior atrativo para o investimento estrangeiro, já que os custos atuais de produção da indústria moderna têm nos salários uma pequena participação não sendo decisivos para a localização da produção.
Adotar uma estratégia de desenvolvimento industrial para o 3° Mundo baseada na produção em massa com mão de obra pouco qualificada é extremamente arriscado.
Se um mundo mais justo é desejável, não se pode deixá-lo a cargo das forças de mercado, mas intervir para uma reestruturação da economia mundial por meio de políticas públicas, estimular o investimento privado nos países pobres e aperfeiçoar suas relações comerciais.
VI. Questões de Governabilidade em Geral
Cinco níveis de governabilidade:
Governabilidade por meio de acordo entre os maiores Estados- nação( o G3, Europa- Japão- América do Norte ), para estabilizar taxas de câmbio, coordenar políticas fiscais e monetárias, e cooperar na limitação da especulação financeira internacional.
Governabilidade por meio de um número maior de Estados, criando agências de regulação internacionais como a OMC, e outras para fiscalizar o IED e a questão ambiental.
Governabilidade de amplas áreas econômicas por meio dos blocos comerciais e de investimento, como a UE e o NAFTA, procurando objetivos sociais e ambientais.
Governabilidade por meio de políticas de nível nacional que equilibrem a cooperação e a competição entre empresas e dêem assistência à provisão de recursos para P&D, treinamento de pessoal, marketing internacional, etc.
Governabilidade por meio de políticas regionais para provisão de serviços coletivos para Dis., aumentando sua competitividade.
Fortes mecanismos de governabilidade nacional e regional podem compensar a volatilidade da economia internacional e a fraca governabilidade dos mercados mundiais.
A era da forma de regulação baseada na administração nacional e centradas no multilateralismo praticado pelas grandes economias nacionais já passou. Necessitamos de novas estratégias e instituições capazes de orientar uma atividade econômica que não fica mais sob controle nacional direto.
Governando os Mercados Mundiais 
 Os novos atores dominantes no cenário internacional são os maiores Estados- nação e cada vez mais os blocos regionais emergentes.
A economia internacional se tornou de tal maneira integrada que uma volta ao antigo protecionismo é totalmente improvável; as três principais potências do mundo( G3 ) estão amarradas em uma relação recíproca.
A Governabilidade Financeira Internacional 
O setor da economia que mais se internacionalizou foi o financeiro. Nessa área o mundo evoluiu do sistema monetário internacional conduzido pelo governo( G-SMI ) ao sistema conduzido pelo mercado( M-SMI ).
As principais características do M-SMI são:
Internacionalização dos portfolios financeiros
Declínio da importância dos bancos em relação ao mercado
Taxas de câmbio fixadas pelo mercado
Volatilidade do mercado amplificada pela tecnologia de informações
Concentração do mercado
Paradoxo do não alinhamento dos países em relação às suas políticas econômicas internas ao mesmo tempo que aumenta sua interdependência nos mercados internacionais
Em resposta a essas características do M-SMI houve regulação em 3 áreas:
Regulação das relações monetárias e da taxa de câmbio no âmbito do G3( controle da liquidez internacional )
Regulação dos mecanismos de pagamentos internacionais centrado no Banco de Compensações Internacionais
Regulação das instituições financeiras internacionais através também do BCI
As crises no sistema financeiro internacional nos anos 80 foi administrada pelos governos nacionais com relativo sucesso, daí a criação e desenvolvimento desses organismos internacionais de regulação. São os governos nacionais que permanecem à frente do M-SMI.
O sistema atual de cooperação internacional é chamado de controle do país de origem e está em pleno vigor no caso de supervisão bancária e começando no mercado de títulos públicos. No entanto a regulação não substitui os mecanismos de mercado na fixação dos preços.
Outros mecanismos têm se desenvolvido como o sistema de bandas cambiais( dirty float ) e mais recentemente as propostas de taxação das aplicações financeiras especulativas ( a taxa Tobin ).
Governando o Comércio
Multilateralismo( fase inicial do Gatt ) 
Bilateralismo
Minilateralismo( entre os blocos como a UE, o NAFTA, etc. )
A Regulação do IED e a Migração do Trabalho
A instituição de um sistema de monitoramento nacional com base no país de origem para o controle das atividades das multinacionais.
No que toca ao movimento migratório, até agora a cooperação internacional tem sido mais no sentido de restringir do que liberar os movimentos.
Governabilidade Econômica Nacional
O papel político do governo nas novas formas de administração econômica é fundamental. Embora não possam mais ser reguladores econômicos soberanos, os governos continuam a ser comunidades políticas com grande poder de influência.
Embora a política monetária seja limitada pela integração sobra um espaço enorme de manobra quanto à política fiscal.
As três principais funções do Estado moderno são as seguintes:
Construir uma coalizão de distribuição( distribuição de renda, gastos públicos, etc. )
Orquestrar o consenso social( equilibrar cooperação e competição, estabelecer compromissos, etc. )
Distribuição adequada dos recursos fiscais entre as esferas de governo: nacional, regional e local
 Os novos métodos de coordenação e de regulação econômica necessitam de maior coesão social e de cooperação da sociedade do que anteriormente.
 
 Ao nível regional cresce muito a importância da construção de um sistema de financiamento dedicado ao desenvolvimento das empresas e governado por políticas públicas definidas estrategicamente.
VII. Globalização, Governabilidade e Estado- nação
Embora a capacidade de governabilidade do Estado tenha se enfraquecido, principalmente em relação à administração macroeconômica nacional, ele permanece como elemento essencial para a governabilidade internacional principalmente em relação a 3 aspectos:
Os Estados – nação têm ainda um papel significativo a desempenhar na governabilidade econômica apesar da crescente internacionalização da economia mundial
Os Estados funcionam menos como entidades soberanas e mais como componentes de um sistema de governo internacional
Os Estados ainda mantêm um papel central no controle territorial e na regulação das populações
A exclusividade e monopólio do Estado na governabilidade é historicamente determinada e de modo algum predeterminada. Há quase um consenso quea característica do estado moderno é o monopólio dos meios de violência dentro de um determinado território.
O estado moderno é soberano por meio de acordos entre diversos estados. A soberania portanto veio de fora e antecede mesmo o Estado Democrático:
A afirmação do estado moderno só se tornou possível quando este se democratizou e portanto se legitimou e o seus assuntos de paz e guerra deixaram de ser determinados por ambições principescas
O governo representativo reforçou a capacidade do estado de criar e administrar um sistema nacional uniforme de administração
No século XX os estados adquiriram os meios para administrar ou dirigir as economias nacionais, seja através de planejamento e autarquias, seja através de políticas keynesianas( monetária e fiscal )
Assim, por volta dos anos 60 o Estado governava e dirigia a sociedade e acreditava-se que sua administração econômica era capaz de assegurar tanto o pleno emprego quanto o crescimento constante.( tanto no mundo capitalista como no mundo socialista )
A queda do muro de Berlin e dos regimes socialistas do leste europeu em 1989, no entanto, mudaram rapidamente esta situação.
Houve uma crescente percepção de que os Estados estariam perdendo sua capacidade de governabilidade e que os processos locais estariam se tornando cada vez mais globais. As forças de mercado mundiais seriam mais fortes até mesmo do que os mais poderosos estados.
Os Estados – nações deixariam de ser administradores econômicos efetivos devendo apenas oferecer serviços públicos e sociais com o mínimo de custo possível. Os estados seriam daqui em diante apenas as autoridades locais do sistema global.
A Mudança das Capacidades do Estado – nação
Com as armas nucleares os estados avançados se viram limitados na sua capacidade de guerrear. O fim da guerra fria acentuou ainda mais essa limitação.
Os movimentos revolucionários perderam força no mundo todo e parecem estar agora articulados a antagonismos locais específicos( como o Zapatista no México ).
Sem guerras ou revoluções o Estado torna-se mais desnecessário aos olhos do cidadão. Além disso as novas tecnologias de informação e comunicação tiraram do estado a capacidade de controlar seu território.
As comunicações modernas formam a base de uma sociedade civil internacional pluralista. Não há mais espaço para nacionalismos e fundamentalismos de qualquer espécie.
Mas o Estado permanece com o controle de sua população, já que esta ao contrário do capital não tem mobilidade internacional.
Governabilidade e a Economia mundial
A política está se tornando mais policêntrica, sendo os estados modernos meramente um nível em um sistema complexo de agências de governabilidade, sobrepostas e concorrentes.
A governabilidade não é apenas incumbência do Estado. É uma função que pode ser desempenhada por uma ampla variedade de instituições e práticas públicas e privadas, nacionais e internacionais.
A estabilidade na economia internacional só pode ser obtida se os estados combinarem de regulá-la e concordarem com objetivos comuns e padrões de governabilidade.
VII. Conclusões
O argumento que a economia internacional está se globalizando não resiste a uma análise mais detalhada, podendo-se apontar os seguintes problemas para as teses da globalização:
Não há um modelo teórico que explique o processo de globalização
A intensificação da internacionalização da economia mundial não é prova de uma nova estrutura econômica global
A economia mundial já foi mais internacionalizada no período 1870- 1914 do que é hoje
As empresas TNCs realmente globais são relativamente poucas
As perspectivas de governabilidade internacional de modo algum estão esgotadas
A economia internacional apresenta 5 características que devem ser ressaltadas:
As relações econômicas importantes na economia internacional são aquelas entre as grandes potências, particularmente entre os membros da OCDE
Não há dúvidas que houve uma progressiva internacionalização do mercado financeiro desde a década de 70
Embora tenha havido um volume crescente de comércio internacional as grandes economias mundiais ainda exportam uma parcela muito pequena do seu PIB
As empresas multinacionais ainda operam com base territorial nacional e o IED não é tão importante como se costuma pensar
A formação de blocos comerciais e econômicos supra nacionais é uma das características mais importantes do recente período de desenvolvimento
Enquanto a administração econômica nacional clássica se enfraquece há questões emergentes sobre as possibilidades de governabilidade que envolvem maior grau de cooperação entre os Estados Nacionais, na regulação da economia internacional.
PORQUE OS NEGÓCIOS SE GLOBALIZAM?
Edward Graham
O que é uma Firma Global?
Identidade Nacional versus Entidade Sem- pátria (a diferença entre multinacional e transnacional)
Michael Porter (1990) :
Multinacional é uma firma que opera em vários países, mas não liga, ou quase não, suas atividades estrategicamente
A firma global persegue uma estratégia unificada através da coordenação de suas atividades em várias nações
Kenich Ohmae (1990) :
A transnacional é uma corporação que perdeu sua identidade nacional e opera essencialmente como uma entidade sem pátria em uma escala global; para este tipo de empresa a Nação- estado é irrelevante ou antes um obstáculo à sua eficiência
Robert Reich (1990) :
As corporações operam numa base global mas os governos nacionais continuam a desempenhar um papel importante na regulação de suas atividades
Para Porter, mesmo a firma global (transnacional) retem, em larga medida, sua identidade nacional. O ambiente de mercado do país de origem é fonte de força ou fraqueza para ela.
 Isto explicaria por ex., porque as firmas globais japonesas têm sido tão dinâmicas e bem sucedidas nos últimos anos (1990) em contraposição às firmas americanas que perderam terreno na economia inernacional nos anos 80 porque o mercado interno dos EUA perdera muito de sua vitalidade nesta época.
Na verdade as firmas globais apresentam uma personalidade dual:
De um lado elas se comportam de acordo com o segundo ponto levantado por Porter acima: uma estratégia internacional unificada
Por outro lado as corporações internacionais são uma coleção de subsidiárias que operam elas mesmas como se fossem firmas nacionais atuando em seus mercados nacionais. 
As subsidiárias têm de obedecer leis locais, estão subordinadas às autoridades regulatórias locais e têm de se adaptar aos mercados locais. Na verdade elas podem ser vistas apenas como empresas locais cujos proprietários vivem no exterior.
Ohmae versus Porter no Contexto de um Debate Duradouro 
O debate Porter X Ohmae se dá num contexto que se inicia nos anos 50.
John Dunning (1958) examinando as operações das filiais britânicas de empresas norte americanas e comparando com as operações das suas concorrentes propriamente britânicas concluiu que as subsidiárias das empresas norte americanas no Reino Unido eram mais bem sucedidas que as últimas e que seu sucesso decorria de suas habilidades de transferir tecnologias e outros valores não tangíveis dos EUA para a Inglaterra e de adaptá-las ao ambiente inglês.
Dunning concluiu que após um certo tempo as empresas britânicas eram capazes de acompanhar as filiais americanas. Ou seja; a presença das subsidiárias americanas no Reino Unido fez com que a produtividade se elevasse em todas as firmas na Inglaterra e não só nas filiais norte americanas e portanto toda a economia inglesa era beneficiada.
Stephen Hymer (1959) procurou saber porque uma empresa procura internacionalizar suas operações. Procurou explicar que para ir ao exterior, uma empresa deveria obter vantagens especiais sobre as empresas meramente “internas”.
Ele identificava essas vantagens como de economias de escala e especiais habilidades de gerenciamento como marketing e fidelidade de marca.
Essas vantagens poderiam compensar eventuais desvantagens tais comocustos extras associados a gerenciamento de operações à longa distância e outros.
Hymer acreditava que estas vantagens eram na verdade uma espada de dois gumes:
De um lado essas empresas tendem a ser mais eficientes e bem gerenciadas
Por outro lado essas firmas freqüentemente detêm grande poder de mercado e disso deriva poder político sem responsabilidade o que é um fator negativo que acaba dominando o primeiro aspecto, positivo
Essas colocações tiveram grande influência sobre o pensamento econômico posterior que se cristalizou nos conhecidos argumentos que vêem as corporações globais como monopolistas predatórios que cobram em excesso por seus produtos nos mercados locais e suprimem quaisquer concorrentes locais, restringindo o fluxo tecnológico para firmas nativas.
A oposição aos IDEs, no entanto, não se limita aos países receptores, mas também aos países de origem. Freqüentemente nos países avançados a oposição a saída de capital para IDE se liga à crença de que ele substitui a exportação de mercadorias e serviços e portanto extingue postos de trabalho nestes países. 
No entanto dados disponíveis sugerem que o IDE e as exportações são freqüentemente complementares. Um auxilia o outro. Em alguns setores o IDE é na verdade um pré requisito para exportação a um país.
Mark Casson e Peter Buckley (1976) explicam que as empresas se voltam para operações no exterior a fim de se apropriarem de economias de escala e outras. Estas economias são apropriadas porque os custos de transação são reduzidos pela extensão das empresas ao exterior contra a comercialização à distância (exportação ou licencimento).
Segundo eles com a internacionalização das empresas a concorrência é acirrada o que leva a um desenvolvimento e uma difusão mais intensa de novas tecnologias o que tem um impacto bastante positivo sobre a eficiência e o crescimento econômico.
Denis Encarnation (1992) argumenta que IDE é pré requisito para exportação, especialmente para produtos e serviços com alta tecnologia. Como ex. ele cita o caso das empresas norte americanas que por não estarem presentes no Japão também exportam muito pouco para aquele país.
Concluindo as várias visões acima, e mais próximo de Porter mas contrariando o que Ohmae pressupôs, pode se dizer que afirma global é ainda enraizada no país de origem e deriva muito de sua força neste fato. 
Impactos da Política Nacional sobre a Globalização
As políticas nacionais podem afetar enormemente as condições para a internacionalização da economia através de políticas protecionistas e medidas não tarifárias (já que as medidas tarifárias estão limitadas pelos acordos no âmbito da OMC) e pode se destacar essas interferências sob 4 aspectos:
Defesa nacional. Até que ponto a empresa global é equiparada à local?
Trabalho. A regulação do Trabalho afeta as empresas elevando ou diminuindo o custo da mão de obra.
Impostos. Maior ou menor carga tributária, ou taxação diferenciada para empresas nacionais ou internacionais podem ser adotadas.
Defesa da moeda nacional. A fixação da taxa de câmbio pode ser arbitrária e interferir na rentabilidade das empresas em um país.
Implicações do Embate entre Governo e negócios Globais
 
Há pelo menos 3 razões para se realçar o que já foi dito anteriormente:
Certas ações governamentais em busca de objetivos nacionais podem diminuir as vantagens da globalização
Nações têm funções legítimas e o seu exercício pode levar a restringir as corporações globais
Conflitos de dois tipos (entre governos e entre governo e empresa) podem surgir a partir de diferentes políticas nacionais e diferentes estratégias empresariais
A GRANDE EMPRESA E A DINÂMICA DO MODERNO CRESCIMENTO ECONÔMICO
Alfred D. Chandler, Jr., e Takashi Hikino
Introdução
A grande empresa, especialmente a industrial, tem sido fundamental para o crescimento dinâmico da economia mundial. E não somente por que o moderno crescimento global tenha assumido a forma de crescimento industrial, mas principalmente porque as empresas manufatureiras, particularmente aquelas utilizando capital intensivo e conhecimento intensivo, historicamente, têm sido responsáveis pela maior parte da pesquisa e desenvolvimento (P&D), que se tornaram essenciais para a contínua inovação tecnológica no século XX.
Estas grandes empresas, desde a Segunda Revolução Industrial, investiram não somente em instalações industriais, mas também em Marketing e redes de distribuição e adequadas hierarquias gerenciais.
Desta maneira tornaram-se um campo fértil de aprendizado em conhecimento tecnológico, gerencial e organizacional para toda economia.
As novas tecnologias desenvolvidas por estas empresas, foram extensivamente utilizadas em setores não industriais, pelo mecanismo de internalização de transferência de tecnologia realizado pela diversificação da grande empresa industrial em atividades não manufatureiras correlatas.
A Terceira Revolução Industrial, ora em curso, transforma os processos de produção e distribuição como na Segunda, mas agora através de grandes empresas já estabelecidas e não de novas empresas.
A maior contribuição da grande empresa industrial para o crescimento econômico deste século parece ser de 4 tipos:
As grandes empresas baixaram substancialmente os custos de produção explorando as economias de escala e se tornando assim oligopolistas e capital intensivas 
Elas se tornaram o local de aprendizado e desenvolvimento de valores intangíveis engajados no processo de produção
Estas grandes empresas se tornaram o coração de uma rede de fornecedores, produtores de equipamentos, varejistas, publicitários, projetistas e fornecedores de tecnologia e serviços financeiros
Dado seus grandes investimentos em P&D elas se tornaram pioneiras em novas tecnologias assegurando assim para si parcelas crescentes do mercado, seja doméstico ou internacional e criando ao mesmo tempo barreiras para entrada de novas empresas nos mercados
Complementaridade entre a Acumulação de Capital Físico e Capital Intangível
A complementaridade entre capital físico (investimento em instalações e equipamentos) e capital intangível (conhecimento humano e habilidades envolvidas na produção) é essencial para a compreensão do papel e importância que a grande empresa desempenha na economia moderna.
O mecanismo de complementaridade tem sido ignorado pela maioria dos estudiosos do desenvolvimento a não ser mais recentemente quando o progresso tecnológico foi finalmente incorporado às análises de crescimento econômico juntamente com os “fatores de produção” (capital, trabalho e matérias- primas).
Angus Maddison (1994) afirmou:
“O progresso tecnológico é a mais essencial característica do crescimento econômico; se não houvesse progresso tecnológico, todo o processo de acumulação seria bem mais modesto.”
A complementaridade interativa dos fatores de produção é essencial para a compreensão do processo porque fatores como educação, sistemas científicos, desenvolvimento tecnológico e crescimento da produtividade têm de ser considerados em conjunto e a natureza de sua integração é importante para a sua história e para o entendimento da importância da empresa moderna incorporar esta complementaridade entre capital físico e humano.
Formação de Capital e as Fontes de Rendimentos crescentes de Escala
 
As chamadas economias de escala trazem para a empresa a um só tempo vantagens competitivas e vulnerabilidade.
Vantagens porque à medida que a capacidade de produção aumenta acurva de custo de longo- prazo cai até o ponto de mínima escala eficiente (o mais baixo custo unitário determinado pela tecnologia dada e pelo tamanho do mercado).
Vulnerabilidade porque esta potencial vantagem de custo de escala pode não efetivar-se a menos que um firme fluxo de matérias- primas em direção à fábrica seja obtido, pois se a produção cair abaixo da escala mínima eficiente o custo unitário de curto- prazo se elevará fortemente e grandes empresas perderão muito rapidamente suas vantagenscompetitivas (isto porque os custos fixos e o investimento inicial destas empresas é muito elevado).
Lucratividade, agora, se torna dependente de investimento intensivo em funções não industriais a fim de manter a cota de produção. Torna-se necessário a formação de sistemas de vendas nacional e internacional e organizações de distribuição e a produção de produtos diversificados embora relacionados (utilizando as mesmas matérias- primas e o mesmo equipamento).
A cota de produção necessária para manter a escala ótima requer cuidadosa coordenação não só sobre os fluxos do processo de produção, mas também sobre os fluxos de matéria- primas dos fornecedores, fluxos de produtos para os intermediários e usuários finais. Isto requer pois uma constante atenção de equipes de gerenciamento.
Portanto a economia de escala potencial é baseada no capital físico ou tangível, mas a realização da economia de escala é baseada no capital humano ou intangível (determinada pela capacidade operacional e organizacional, dependendo de conhecimentos, habilidades, experiência e equipe de trabalho, ou seja, competência humana organizada).
As primeiras firmas a realizar estes investimentos em capital humano rapidamente dominaram suas industrias. Mas estas firmas raramente eram os inventores de tecnologia ou inovadores.
Nas industrias oligopolistas surgidas deste processo a competição mudou de competição de mercado através de preços para uma competição não baseada em preços.
A estratégia de crescimento de longo- prazo das novas grandes empresas se baseiam, atualmente, em mover-se para mercados distantes (expansão geográfica) e entrar em mercados relacionados (diversificação de produtos) nos quais seu aprendizado organizacional baseado em investimentos em novos processos e produtos dá a elas vantagens competitivas.
Estas competências adquiridas tornam-se então uma fonte mais poderosa de vantagens competitivas do que simplesmente reduzir custos de produção.
Aprendizado Organizacional, Estrutura Corporativa e Redes
Os conhecimentos e habilidades tanto dos gerentes quanto dos trabalhadores são melhor desenvolvidos através do método de tentativa e erros, feedback e avaliação, ou seja aprender fazendo (aprendizado contínuo). Ou seja esses conhecimentos e habilidades não são comercializáveis ou patenteáveis. São criadas assim poderosas barreiras para entradas de novas firmas nos mercados e facilitada a entrada de firmas que tenham desenvolvido competências comparáveis em industrias de tecnologia relacionada, ou na mesma industria em outros países.
A movimentação das firmas em direção a novos produtos ou novos mercados nacionais tornou a antiga estrutura centralizada (U-form) obsoleta e fez surgir uma nova estrutura organizacional mais descentralizada (M-form).
Além disso as empresas desenvolveram uma rede de firmas com atividades complementares e relacionadas (network), afim de assegurar o fluxo de matérias- primas e informações necessárias ao novo processo de produção e comercialização.
EUA, Líder Mundial da Mudança do Capital Tangível para Intangível
No século XX, principalmente após a 2ª Guerra Mundial, nota-se que a maior fonte de crescimento da economia mundial foi a sistematização e utilização da ciência para a comercialização de novos produtos, processos e ocasionalmente novas tecnologias básicas. Esta fonte foi aprofundada nos EUA pelos investimentos governamentais federais em pesquisa industrial, especialmente em defesa e saúde e pelo apoio governamental à pesquisa básica nas universidades.
Nos EUA as grandes firmas estão mais e mais concentradas em setores que utilizam capital intensivo e poupam mão de obra que necessita de alto nível de educação e treinamento e as mudanças tecnológicas em direção ao capital intangível, particularmente conhecimento tecnológico, são resultado de P&D.
O Papel da Grande Empresa Industrial no Salto à Frente e Convergência
O desenvolvimento da indústria de capital intensivo e conhecimento intensivo e o papel da grande empresa industrial na condução desse processo de mudança tecnológica e modernização foi não só um fenômeno americano, mas também um fenômeno global.
 A convergência de produtividade no pós guerra e o conseqüente salto à frente das nações seguidoras dos EUA, mais avançado tecnologicamente e líder econômico, mudou dramaticamente o panorama mundial no que se refere a localização geográfica das 500 maiores empresas do mundo. 
Nações menos avançadas tecnologicamente tornaram-se internacionalmente competitivas no mercado das grandes industrias de capital intensivo assumindo a liderança tecnológica e econômica de novas indústrias da Terceira Revolução Industrial, quase que de repente.
Ao contrário da Segunda Revolução Industrial, quando empresas pioneiras estiveram à frente das inovações tecnológicas, na Terceira Revolução, foram as empresas já líderes que continuaram no comando do processo de inovação tecnológica.
Conclusão 
A grande empresa industrial permaneceu como a instituição central na dinâmica do moderno crescimento econômico. Seu papel central foi o de dirigir o avanço tecnológico.
 
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