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27/09/2017 1 A Psicologia Latino-Americana e a Psicologia Comunitária no Brasil Profa. Dra. Rosana Carneiro Tavares Origem da Psicologia Comunitária no Brasil Na América Latina, a expressão “Psicologia Comunitária” passou a ser utilizada a partir de 1975, com o objetivo de se fazer uma nova Psicologia Social, a partir da preocupação de alguns psicólogos de distintos países latino-americanos com os escassos resultados sociais da Psicologia Social tradicional e por haver uma grande necessidade de superar os graves problemas sócio-econômicos que ainda hoje afetam a região (Góis, 2005). Nos territórios norte-americano e europeu... O surgimento da Psicologia comunitária ocorreu em meados da década de 60: Relacionado aos movimentos sociais comunitários, em especial os de saúde mental, com a constituição dos serviços de saúde mental de base comunitária. Críticas às intervenções exclusivamente médicas e hospitalocêntricas nos casos de doença mental. Inspirados nos pressupostos da psiquiatria preventiva, esses movimentos tinham como objetivo não somente tratar as doenças mentais mas também preveni-las. Intervenções expandem o foco para as comunidades compreendendo-se como produtoras de adoecimento mental. As origens da Psicologia comunitária na América Latina • Vinculação com a Psicologia social - atenção voltada aos graves problemas socioeconômicos da região buscando superá-los. • Tem sido relacionado, também, à Psicologia social crítica, à teologia da libertação e à educação popular. • Década 70 - alguns psicólogos sociais começaram a se aliar a movimentos comunitários que surgiam no Brasil (Comunidades Eclesiais de Base e os movimentos na área de saúde mental) • Aumenta o índice do envolvimento dos psicólogos com as questões sociais. A Psicologia Comunitária no Brasil • Posicionamento Metodológicoda PSLA Comunitária • Objetivo: Estudar a subjetividade do indivíduo se manifestando no conjunto de suas relações sociais e no cotidiano de suas ações. • Meta: Superar a dicotomia entre a vida interna e externa, compreender o sujeito contextualizado (espaço social e histórico). • Identidade da PSO latino-americana: Compromisso com os setores mais desfavorecido e com a busca pela mudança social, métodos participativos. Psicologia Social Comunitária Preocupa-se com a cidadania efetiva (escolarização, saúde, trabalho, questões de gênero) e auxilia as políticas públicas nas proposições subjetivas e equitativas, não igualitárias. • Psicologia Social Comunitária (PSC) no Brasil, nos últimos 50 anos: Marcada pela contraposição aos dispositivos conceituais, aos locais de trabalhado consagrados e às práticas da psicologia social norte- americana ao longo do século XX. Marcada pela inserção da noção de comunidade em seu conjunto de princípios. 27/09/2017 2 Novas diretrizes da Psicologia Social Comunitária Deselitizar a Psicologia. Aproximar-se da realidade concreta da população. Historiciza a vida social – consciência do sujeito da ação. Trabalha com os seguintes conceitos: Fortalecimento dos grupos minoritários, consciência social e de classe, relações de poder, identidade social, subjetividade auntônoma. Histórico da aproximação da Psicologia aos setores denominados menos favorecidos ou populares Concretizou-se a partir do final da década de 80 - processo de redemocratização do País, a promulgação da nova Constituição e a consolidação de um conjunto de políticas sociais. No setor de saúde - com a organização do SUS, a abertura dos campos de atuação foi favorecida pela abertura de campo de trabalho nas instituições públicas de saúde. A instituições públicas de saúde - atendiam, sob o primado das ações territoriais, a populações menos favorecidas economicamente. O desenvolvimento da PSC no Brasil - contexto Fim da ditadura militar: As discussões sobre os trabalhos realizados em comunidades foram objeto de mais atenção. Era uma atividade não remunerada, clandestina e voluntária (engajamento e militância política). O termo Psicologia comunitária passou a ser adotado por profissionais em debates e reflexões. Psicologia Comunitária • Psicologia na Comunidade (sai do espaço elitista de atuação) • Psicologia da Comunidade (envolve com processos coletivos e públicos e também institucionais) • Psicologia Comunitária (modelo de psicologia crítica, não adaptacionista, tomada de consciência e identidade cultural) O que é a Psicologia Comunitária? “Fazer psicologia comunitária é estudar as condições (internas e externas) ao homem que o impedem de ser sujeito e as condições que o fazem sujeito numa comunidade, ao mesmo tempo que, no ato de compreender, trabalhar com esse homem a partir dessas condições, na construção de sua personalidade, de sua individualidade crítica, da consciência de si (identidade) e de uma nova realidade social” (Góis,1990) Qual é o Objeto? O que faz? O que é a Psicologia Social Comunitária? Não é uma extensão da clínica, não é uma Psicologia na comunidade, e nem uma tecnologia social. Objeto central: “o reflexo psíquico da vida comunitária (...) no psiquismo de seus membros e a potencialização da consciência a partir das condições de vida da comunidade”. Questão central: “o desenvolvimento do indivíduo como sujeito histórico, social e comunitário (...)”. Não faz relação entre saúde e doença ou prevenção e tratamento. (Góis, 1990) 27/09/2017 3 Como veio se desenvolvendo o trabalho da PSC? Atuação junto a sujeitos sociais concretos nas áreas de saúde, saneamento e urbanização das comunidades carentes. Intervenções realizadas com associação de moradores, grupo de mulheres, grupo de jovens, grupo de idosos, centros de cultura, lazer, etc. Caracterizando-se como um trabalho realizado junto aos movimentos sociais com vistas ao cooperativismo e à autonomia das comunidades. Quem é o Psicólogo Comunitário? Deve estar preparado para lidar com os problemas que afligem as comunidades (poluição, ausência de infraestrutura de saneamento, ausência de áreas de lazer, precariedade dos meios de transporte e trânsito congestionado). Age no fortalecimento de lideranças comunitárias. Visão Crítica: compreender a contradição das mobilizações comunitárias, que surgem por demandas concretas e que, quando atendidas, tendem a desmobilizar os grupos. “O trabalho do psicólogo comunitário é um trabalho psicossocial dirigido à melhoria da qualidade de vida” (Bomfim, 1989, p. 123). Psicologia Social Comunitária e seu espaço de atuação • Trabalha com a emancipação dos sujeitos (agentes/atores sociais) no LÓCUS DE INCLUSÃO E DE EXCLUSÃO (Espaço Social). • Formação de agentes transformadores da realidade social – sujeitos ativos (práxis). Que Lócus é esse? PARA REFLETIR... Como é a Realidade Social? LÓCUS DE EXCLUSÃO - O QUE É ISSO? LÓCUS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO PROCESSO DE PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DO CAPITAL. Toda Psicologia é social (Lane, 1988) – Psicologia Social Crítica O comportamento humano é causado e produzido sócio- historicamente. Mas que social é esse? • Não é natural e evidente. • É o resultado de uma construção histórica decorrente de lutas entre forças contraditórias. 27/09/2017 4 Psicologia Social Comunitária e Crítica • Entende que o locus de inclusão e exclusão NUNCA ESTÁ “RESOLVIDO”. A relação de inclusão e exclusão é dialética A realidade é uma construção social A Psicologia Social Comunitária e Crítica… • Diante de um sujeito histórico- social e de uma realidade construída socialmente tem qual Papel Psicologia Social Crítica Preocupa-se com a cidadania efetiva (escolarização, saúde, trabalho, questõesde gênero). Auxilia as políticas públicas - proposições subjetivas e equitativas, não igualitárias. Retomando... Várias Vertentes em Psicologia Social na Atualidade A diversidade ocorre sob discussões e contrapontos: Objetividade/Subjetividade Pesquisa Quantitativa/Qualitativa. Experimentalismo/Pesquisa Aplicada. Ciências sociais/Ciências Naturais. • As respostas a essas questões resultaram nas diferentes psicologias sociais (diversos fundamentos epistemológicos e metodológicos) = psicológica X sociológica X crítica. 27/09/2017 5 PSO Crítica A PSO na atualidade... América do Norte – os psicólogos sociais continuam se voltando para os temas clássicos: percepção, comunicação, persuasão, atribuições causais, entre outros. Indivíduo e sociedade dicotômicos, polos opostos. Europa – a psicologia social está mais preocupada com a estrutura social e com o contexto social: identidade social, relações intergrupais e institucionais, representações sociais. América Latina – a psicologia social está mais voltada para os problemas políticos e sociais, na busca pela transformação da realidade social. Brasil – uma Psicologia implicada com as comunidades, com os movimentos sociais, com as políticas públicas, com os grupos minoritários / Uma Psicologia envolvida com organizações e pequenos grupos sociais. Principais Teorias Contemporâneas • Teoria das Representações Sociais: Moscovici e Denise Jodelet • Construcionismo Social: Mary Jane Spink • A Teoria Crítica da Escola de Frankfurt: Adorno, Horkheimer, Marcuse e Habermas • A Teoria Sócio-Histórica: Vigotski Tendências na América Latina • A psicologia Social Crítica não é a única tendência na atualidade. • Vários psicólogos sociais na região vêm desenvolvendo seus trabalhos com base em referenciais da Psicologia Social Norte- Americana ou da Psicologia Social europeia. • É possível afirmar a existência de uma Psicologia Social latino- americana que reúna traços próprios de identidade? Álvaro e Garrido (2006) Atuações em Psicologia Comunitária • Atendimento psicológico gratuito em Comunidades como forma de conhecer e se aproximar mais daquela população. Modalidade de intervenção que repete um modelo desigual (de um lado a Comunidade que “precisa” de um atendimento psicológico e, de outro, o psicólogo oferecendo ajuda, para adequar a população ao um sistema). (FREITAS, 1996). • O profissional de Psicologia que entra em uma Comunidade motivado pelo simples fato de querer conhecer esse campo que para ele é desconhecido ou então, por simples curiosidade, alguns estudantes, profissionais se inserem em um ambiente comunitário com intuito de estudá-los. Essa inserção baseia-se em curiosidade cientifica (SAWAIA, 1995). • Existe, por fim, a inserção baseada na proposta de intervenção da Psicologia Social Comunitária, orientada pela responsabilidade de que o trabalho realizado pelos psicólogos deve promover uma mudança das condições vividas pela população. Acredita-se no homem protagonista da sua história, no homem em movimento. (FREITAS, 1996).
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