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Para uso acadêmico apenas 1 Abril.com !Revista Exame 06/05/2005 12:38 Lições da 2a Guerra para os negócios Em janeiro de 1933, quando se tornou chanceler alemão, Adolf Hitler já havia publicado sua plataforma política. Esse livro -- !Mein Kampf (Minha Luta) -- era um best-seller em 1933, com mais de 1 milhão de exemplares vendidos. Nele, estavam claras as ideias do novo chanceler a respeito da supremacia da raça alemã, assim como seu ódio pelos judeus e seu desprezo por burgueses e intelectuais. Estava claro, também, o que ele julgava ser o destino da Alemanha: conquistar territórios na Europa. Principalmente na União Soviética. Os chefes políticos europeus tiveram a oportunidade de ler uma tradução para o inglês. Se o fizeram, não o levaram a sério. Um erro. Herr Hitler fez tudo o que prometeu. E tornou-se um dos personagens centrais de um episódio que mudaria, para sempre, a configuração do planeta. Há 60 anos, em 8 de maio de 1945, as Forças Armadas alemãs assinaram sua rendição. Haviam lutado na Europa e na África por mais de cinco anos. Em 2 de setembro de 1945, os japoneses renderam-se a bordo do encouraçado americano Missouri, ancorado na baía de Tóquio. Era o fim de uma luta que se iniciara em meados de 1937, na China, expandindo-se mais tarde para praticamente todo o Pacífico. É impossível calcular o volume de perdas econômicas causadas pela guerra. Quanto à perda de vidas, há uma estimativa, embora longe de ser exata. Morreram cerca de 50 milhões de pessoas, fardadas ou não. Uma média de 8,3 milhões Para uso acadêmico apenas 2 por ano de luta. Tomada em seu conjunto, a Segunda Guerra Mundial é um fato sem paralelo na história. Nunca tantos países haviam se envolvido num conflito armado. Nunca se produziu tanto armamento. Raramente se aplicou tanta pesquisa e dinheiro no desenvolvimento de equipamentos militares. A guerra começou numa época em que os exércitos ainda usavam cavalos. Quando terminou, os caças a jato já voavam. No final da década de 30, as armas mais destrutivas ainda eram os canhões de grande calibre. Meia dúzia de anos mais tarde o planeta tomava contato com as armas nucleares e com os mísseis balísticos. O mundo não poderia ser o mesmo após o término da Segunda Guerra Mundial. O evento -- com toda a sua enorme carga de tragédia humana -- marca o início de uma nova era na ciência, na tecnologia, na política, na economia e nos negócios. Os dias posteriores a 8 de maio de 1945 assistiram ao florescimento das grandes corporações mundiais e ao apogeu http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/842/noticias/licoes-da-2a-guerra-para-os- negocios-m0055496 1/5 11/14/2015 Lições da 2a Guerra para os negócios | EXAME.com da administração, ao desenvolvimento de novos mercados, à definitiva incorporação da mulher às linhas de produção, à supremacia da informação como instrumento de poder, à arrancada tecnológica que anos mais tarde levaria o homem à Lua e transformaria o planeta numa pequena aldeia ligada pela internet. Em todos os seus lances, a Segunda Grande Guerra é um manancial quase infindável de lições para o mundo dos negócios -- lições sobre o que se deve e sobre o que não se deve fazer. Seus comandantes são exemplos da liderança que dá certo -- e também daquela que leva todo um grupo à ruína. Estudamos Winston Churchill, Para uso acadêmico apenas 3 Adolf Hitler, Frank Delano Roosevelt, George Patton, Douglas McArthur, Joseph Stalin para compreender nossos próprios passos à frente do trabalho. É impossível não estabelecer paralelos entre a competição pelo mercado e o campo de batalha. O linguajar corporativo continua impregnado de termos militares. A organização da mão-de-obra em muitas companhias ainda se assemelha à dos exércitos - - embora esse seja um modelo em franca decadência. A arrogância continua a afundar empresas como fez com os exércitos da Alemanha e do Japão. Os mais rápidos são, como num con flito, aqueles que costumam levar a melhor. É por isso que a história que envolve a Segunda Guerra Mundial -- seja ela a dos vencedores ou a dos perdedores -- continua a encantar o mundo dos negócios. A guerra é uma fonte inestimável de aprendizado porque testa de forma extrema os limites do homem. Quando se analisa o perfil dos vencedores da Segunda Guerra Mundial, sobretudo russos e americanos, percebe-se que foram eles que planejaram suas ações de forma mais flexível. Adaptaram-se melhor a situações adversas. Eram mais objetivos. Tinham um sentido mais apurado de oportunidade. Olhando em perspectiva, tinham outra qualidade. Não eram românticos. Não possuíam grandes tradições militares a cultuar. Não acreditavam que a cor de sua farda fosse, por si só, uma garantia de vitória. Acontecia o contrário com japoneses e alemães. O japonês queria combater como um samurai em pleno século 20, o que obviamente não dava certo. Um exemplo dessa atitude: o alvo prioritário dos submarinos japoneses eram navios de guerra. Os submarinos americanos preferiam afundar os navios mercantes. Conseqüência: por falta de barcos de transporte, o soldado japonês ficou isolado em suas ilhas, sem cartuchos, sem arroz e sem saquê. Para uso acadêmico apenas 4 A Wehrmacht -- o Exército alemão -- padeceu do mesmo narcisismo. Tinha sua origem na Ordem dos Cavaleiros Teutônicos e nos guerreiros prussianos -- a quinta-essência do militarismo. Um complexo de superioridade que provocou muitas decisões irracionais. Era difícil para o comandante alemão ordenar um recuo tático. O inimigo logo percebeu que essa rigidez lhe dava vantagem, pois tornava mais fácil uma manobra de cerco. Foi assim, aos poucos, explorando cada erro, que os inexperientes russos e americanos chegaram a Tóquio e a Berlim. Não é difícil encontrar paralelos na história das grandes empresas. Podemos ficar em dois exemplos. A arrogância e o imobilismo quase levaram à bancarrota potências como a IBM, nos Estados Unidos, e o grupo Pão de Açúcar, no Brasil. A Primeira Guerra Mundial baseou-se principalmente em soldados de infantaria e em canhões. Foi uma guerra estática. Os exércitos, enterrados em trincheiras, praticamente não se movimentavam. Não houve, por isso, grandes lances táticos ou estratégicos nem muitas necessidades logísticas. Em 1939, as coisas eram bem diferentes. Quando entraram na Polônia, os alemães apresentaram uma forma de combate para a qual seus opositores estavam despreparados. Era a Blitzkrieg, "guerra relâmpago". Consistia no seguinte: primeiro, a Força Aérea amolecia a tropa inimiga com seus caças- bombardeiros. Em seguida, os tanques rompiam as linhas do inimigo. E só então chegava a infantaria http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/842/noticias/licoes-da-2a-guerra-para-os- negocios-m0055496 2/5 11/14/2015 Lições da 2a Guerra para os negócios | EXAME.com Em seguida, os tanques rompiam as linhas do inimigo. E só então chegava a infantaria para consolidar a Para uso acadêmico apenas 5 conquista. Na França, apesar do barulho dos nazistas, o Exército estava tranquilo. Embora a guerra já estivesse em curso, os oficiais gastavam até 3 horas em almoços regados a vinho. Haviam construído um sistema de casamatas e fortificações ao longo da fronteira com a Alemanha, conhecida como Linha Maginot. Em maio de 1940 os alemães contornaram as casamatas francesas, invadindo a Bélgica e Luxemburgo, e logo depois marchavam a passo de ganso pelo Arco do Triunfo. Um general francês, que se rendeu ao lendário Erwin Rommel, cumprimentou-o com o seguinte elogio: "Vocês são rápidos demais". Enquanto o Exército francês sedesintegrava, os ingleses que estavam na França escapavam do desastre pela praia de Dunquerque, largando suas armas na areia. Hitler, que ainda tinha esperança de firmar um acordo com a Inglaterra, mandou que seus tanques parassem a 24 quilômetros da praia. Um erro de cálculo. Os ingleses voltariam à França quatro anos mais tarde pelas praias da Normandia. A guerra relâmpago criava oportunidades e dificuldades que não existiam em 1914-1918. Tanques e aviões são armas caras e difíceis de produzir. Máquinas que se desgastam rapidamente, o que implica um sistema complicado de manutenção e um suprimento constante de peças de reposição. Sem contar o fato de que só funcionam com gasolina. Ou seja: para que a tropa continue a ganhar batalhas são necessários pla nejamento, produção industrial, profissionais de manutenção, combustível e linhas de transporte seguras para sustentar combates a grandes distâncias. Durante algum tempo a Alemanha dispôs de tudo isso, mas o sistema começou a fraquejar assim que seus soldados passaram a combater em regiões muito distantes da mãe-pátria. Para os especialistas em estado-maior, que pensam a Para uso acadêmico apenas 6 guerra em termos de equações e teoremas, esse fenômeno se chama "lei da distensão estratégica". Entre outras coisas, isso quer dizer que, quanto mais um exército se afasta de sua fonte de suprimento, mais difícil e arriscado se torna o combate. É curioso que os alemães tenham cometido esse engano, porque foram eles que criaram o estado-maior e boa parte da ciência da guerra. Não cometeram apenas esse, mas vários outros equívocos. A indústria alemã, seus engenheiros, seus projetistas estavam entre os melhores do mundo. Se é que não fossem os melhores. A questão é que essa indústria funcionava como se não houvesse uma guerra em curso, como se os portos alemães não estivessem bloqueados pela Marinha inglesa, como se existisse tempo e matéria-prima em quantidades infinitas. Seus tanques alemães eram pérolas da engenharia. O problema é que, pelo preço de um tanque alemão, os americanos fabricavam quatro ou cinco tanques mais simples. A melhor metralhadora portátil era alemã. Pelo preço dessa metralhadora, os russos fabricavam várias metralhadoras mais baratas e bem mais fáceis de operar. A indústria aeronáutica alemã foi dirigida durante muito tempo por um ás da aviação da Primeira Guerra Mundial, o general Ernst Udet, um boêmio que entendia tudo de acrobacias aéreas e nada de planejamento industrial. Embora produzisse bons aviões, a indústria aeronáutica virou uma desordem. Udet foi demitido (e suicidou-se) em 1941, mas já era tarde. Boa parte dos aviões alemães havia sido destruída pelos ingleses na Batalha da Inglaterra, e a Luftwaffe perdeu definitivamente o domínio dos ares. Hoje, 60 anos após o fim do conflito, os erros alemães parecem básicos. Por que, então, pequenas e grandes empresas continuam a colocar no mercado produtos tecnicamente Para uso acadêmico apenas 7 maravilhosos, mas indesejados pelos consumidores? http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/842/noticias/licoes-da-2a-guerra-para-os- negocios-m0055496 3/5 11/14/2015 Lições da 2a Guerra para os negócios | EXAME.com indesejados pelos consumidores? A Segunda Guerra deixou lições duradouras para vencidos e vencedores. No caso da Alemanha provou- se que exército nenhum, por mais competente que seja, sobrevive a um comando irracional ou a projetos delirantes. Franceses e ingleses se acomodaram com as glórias de 1918 e se esconderam atrás da Linha Maginot. Tinham força, em 1935, para deter o nazismo, mas perderam a oportunidade. Os soviéticos tentaram comprar a paz, pactuando com a Alemanha e entregando-lhe matéria-prima em abundância. Esqueceram- se do fato de que Hitler não cumpria contratos. O caso dos japoneses é mais fácil. Aprenderam que vontade, honra e ímpeto são qualidades importantes, mas não ganham guerras. Quanto aos americanos há o seguinte. Desde meados da década de 30 eles viam a expansão militar japonesa pelo Pacífico. Viam o crescimento das tensões na Europa. Não foi o bastante para que se mexessem. No dia 7 de dezembro de 1941, data do ataque japonês à base naval americana de Pearl Harbor, tinham em seus estoques munição para apenas alguns dias de combate. A guerra -- como os negócios -- é cheia de armadilhas. Analisar os erros e os acertos do passado pode ser de grande valia no presente. Nas páginas a seguir, o leitor conhecerá muitas das lições que a Segunda Guerra Mundial legou aos negócios. Para uso acadêmico apenas 8 Muito além da Revolução - Francisco Renato Silva Collyer Muito além da Revolução. os aspectos políticos e sociais da maior revolução da idade moderna Publicado em 08/2014. Elaborado em 07/2014 (http://jus.com.br/artigos/31268 ) O presente estudo pretende analisar o cenário sócio-político da Revolução Industrial bem como suas implicações para a sociedade pós-moderna. Resumo: Antes de representar uma mudança no processo de produção de mercadorias e, posteriormente, na industrialização deste processo, a Revolução Industrial trouxe uma verdadeira mudança nas relações sociais e no modo de se viver na Europa Ocidental a partir do século XVIII. O trabalho, antes feito de modo artesanal, praticamente familiar, em que o patrão mais se assemelhava a um pai do que propriamente um patrão, ganhou ares totalmente adversos. Agora, a jornada de trabalho se fixava no tempo e o relógio passou a ser utilizado de forma quase que escravista. As antigas corporações de ofício perderam a vez para as grandes fábricas e os trabalhadores, que antes tinham a noção de todo o processo de produção e que, até certo ponto, tinham um modo de produção bastante flexível, passaram a ficar alienados e escravos da produtividade. Se antes os indivíduos trabalhavam de acordo com sua disponibilidade, com a Revolução Industrial a vida social ficaria em segundo plano, e a vida laboral dava lugar a uma grande massa de trabalhadores cada vez mais dependentes dos capitalistas, os donos dos meios de produção. O presente estudo analisa o contexto histórico-social da Revolução Industrial e os impactos que ela trouxe para a vida da coletividade da época. A História é a ciência do presente, pois parte da análise e da compreensão do passado para que possamos entender melhor nosso agora e, a partir disso, construir um futuro melhor. Palavras-chave: Revolução Industrial, Política, Sociedade, Luta de Classes INTRODUÇÃO Entre meados do século XVIII e a segunda metade do século XIX, a Europa Ocidental passou por um processo de grandes transformações econômicas, tecnológicas e, principalmente, sociais. Iniciadas na Inglaterra, essas transformações assumiram um caráter revolucionário, embora tenham ocorrido sem derramamento de sangue e sem a derrubada de governos. O conjunto dessas mudanças ficou conhecido como Revolução Industrial e Para uso acadêmico apenas 9 seu impacto foi tão grande na Europa e no mundo que transfigurou não somente a sociedade inglesa, mas também a face do planeta, alterando até mesmo as relações entre o ser humano e a natureza. Do ponto de vista econômico, a Revolução foi, sobretudo, a passagem de um sistema de produção marcadamente agrário e artesanal para outro de cunho industrial, dominado pela fábrica e pela maquinaria. Uma de suas características básicas foram as sucessivas inovações tecnológicas verificadas nesse período, dentre elas, o aparecimento de máquinas modernas rápidas, regulares e precisas, que substituíram o trabalho de milhares de homens e mulheres, antes realizado à mão; utilização do vapor como fonte deenergia para acionar as máquinas, em substituição à energia hidráulica, eólica, humana e animal; novas formas de se utilizar as matérias-primas de origem mineral, que deram impulso à metalurgia e à indústria química. Essas inovações tiveram lugar inicialmente na Inglaterra, devido a uma série de condições favoráveis ligadas ao processo do feudalismo ocorrido na Europa Medieval. Foi durante a fase do capitalismo mercantil, nos séculos XV ao XVIII, que tais condições se concentraram e aceleraram, com a Revolução Comercial, a conquista da América, a formação de um mercado mundial e a exploração de ouro e prata em grande quantidade nas terras americanas. Esse novo cenário permitiu à burguesia acumular riquezas e aplicá-las na produção manufatureira. Ao mesmo tempo, ocorreu na Inglaterra o processo de cercamentos, levando à liberação de mão-de-obra de origem rural e sua concentração nas cidades cada vez em crescimento. Isso faria surgir a maior parte da classe trabalhadora fabril, fundamental para a formação do chamado capitalismo industrial. Reunindo os capitais proporcionados pela expansão comercial dos séculos anteriores, a burguesia pôde mobilizar a mão-de-obra disponível para lançar-se ao empreendimento industrial de grande escala a partir do século XVIII. Uma das características da Revolução Industrial foi a substituição em grande escala do trabalho humano pelas máquinas. Como reação a isso e às relações sociais baseadas exclusivamente no dinheiro, surgiu na Europa o Romantismo, um movimento estético que propunha a liberdade de expressão, o predomínio da emoção sobre a razão e o retorno a formas comunitárias de vida, semelhante às da aldeia medieval. Em pouco tempo, a nova tendência empolgou artistas e escritores. Alguns deles idealizavam a Idade Média e a monarquia, contrapondo-as à sociedade burguesa e à República. Outros se tornaram críticos ferozes do capitalismo e das desigualdades sociais. Para uso acadêmico apenas 10 O CONTEXTO HISTÓRICO DA REVOLUÇÃO O desenvolvimento agrícola ocorrido a partir do século XVI, com os cercamentos dos campos deu a esse setor da economia inglesa características diferentes do sistema até então em vigor, que era baseado na produção autossuficiente e de baixo nível técnico nas pequenas propriedades independentes de cultivo familiar. Os cercamentos, na maioria dos casos, eram destinados para criação de ovelhas para a obtenção de lã, que, por sua vez, era utilizada como matéria- prima na manufatura dos tecidos. O surgimento desse processo levou à diminuição das áreas cultivadas para dar mais espaço às pastagens. A partir de 1688, após a Revolução Gloriosa, os cercamentos foram legalizados pelo Parlamento, o que deu ainda mais força aos senhores de terras. Enquanto isso, nas áreas cultivadas, os grandes proprietários começaram a investir em métodos novos e mais eficazeis de plantio. A partir daí foram pouco a pouco introduzindo algumas melhorias técnicas, que levariam à substituição do trabalho braçal pela energia mecânica, empregando as máquinas no processo. Com esse processo, os trabalhadores rurais foram duplamente pressionados a abandonar os campos. Sem ter para onde ir, esses homens e suas famílias migraram em massa para áreas urbanas. Uma vez nas cidades, ficavam à disposição de empresários capitalistas, sujeitando-se a baixos salários e a condições sub-humanas de vida. Ao mesmo tempo, a pecuária também se desenvolveu, pois o cultivo de forrageiras evitou que, por falta de áreas de pastagens, grande parte do rebanho fosse abatida durante o inverno. Isso garantiu a melhora qualitativa da alimentação da população em geral, possibilitando o crescimento demográfico pela queda da tava de mortalidade. Dessa forma, a agricultura estava em condições de cumprir duas funções fundamentais para a industrialização: aumentar a produção e a produtividade para baratear o preço dos alimentos, suprindo a crescente demanda das áreas urbanas e fornecer mão-de-obra abundante e barata para o trabalho industrial. Nos primeiros anos da Era Moderna as atividades agrícolas eram complementadas pela produção doméstica de tecidos de lã por meio de uma longa cadeia de operações. A lã era escolhida, depois limpa e, por último, fiava-se. Essas tarefas, muitas vezes, eram feitas por mulheres e Para uso acadêmico apenas 11 crianças. Os demais serviços, como penteação, tecelagem, tingimento, pisoagem, estiragem, desbaste e corte eram tarefas destinadas aos homens. O negócio de tecidos de lã era bastante lucrativo para os comerciantes. Em pouco tempo, eles passaram a investir parte de seus lucros nos equipamentos e instalações, passando a concentrar os principais processos de produção. Além de estimular a produção de mercadorias, o capital mercantil acumulado durante a etapa do capitalismo comercial acelerou o processo de divisão social do trabalho, gerando maior especialização. Assim, a partir de certo momento, cada trabalhador passou a realizar apenas uma etapa na elaboração do produto. Essa especialização levou à ampliação do sistema produtivo. O desenvolvimento do setor têxtil acelerou-se após o surgimento da indústria do algodão, que suplantou em importância a manufatura de lá durante a Revolução Industrial. De fato, depois dos Atos de Navegação de 1651, o comércio ganhou impulso, enquanto o mercado se expandia com a conquista, pela Inglaterra, de novas áreas coloniais. Uma dessas áreas era a Índia, região produtora de algodão e altamente consumidora dos tecidos fabricados com essa matéria-prima. Em decorrência disso, os empresários do setor têxtil começaram a investir mais na indústria algodoeira do que na produção de tecidos de lá. Mais leves e mais baratos, os panos de algodão tinham ampla aceitação nas regiões de clima tropical e eram utilizados como parte do pagamento na compra de escravos africanos. Para aumentar a produção, os fabricantes passaram a estimular o desenvolvimento tecnológico, utilizando máquinas cada vez mais rápidas e complexas. Isso acabou por transformar a estrutura da indústria. Não apenas a indústria têxtil, mas também a de máquinas e equipamentos. Além da indústria têxtil. Dois outros setores da economia se destacaram no processo da Revolução Industrial na Inglaterra: o da extração de minerais, como ferro e carvão e o da fundição de ferro. No início do século XVIII, surgiu a primeira tentativa vitoriosa de obter ferro fundido em grande escala, com a utilização do carvão-de-pedra, riqueza natural do solo inglês. Em 1783, a invenção da pudlagem e da laminação possibilitou a fabricação de ferro quase sem impurezas. Até essa data, o metal era fabricado com o uso de carvão vegetal e as máquinas ainda eram quase todas de madeira. Para uso acadêmico apenas 12 A obtenção de ferro com grau mínimo de impurezas foi um dos pré- requisitos para a expansão da metalurgia. Obtido por pudlagem, o metal foi pouco a pouco aperfeiçoado, até se chegar ao aço em uma etapa posterior. No curso desse processo, ele passou a ser utilizado de forma crescente na construção de pontes e na fabricação dos mais diferentes objetos, o que contribuiu para a melhoria das estradas e dos meios de transporte. CONDIÇÕES POLÍTICAS DA REVOLUÇÃO No início do século XVIII, a Inglaterra possuía certa estabilidade política e havia se tornado Reino Unido da Grã-Bretanha, com a incorporação da Escócia, no ano de 1707. Nesse período, o governo inglês reforçou suas ligações com as colônias americanas, o que garantiu a obtenção de matérias-primas e a exportação de produtos manufaturados, segundo o princípio de comprar barato e vender caro. Ao mesmo tempo, as guerras contra a França possibilitaram a expansão doimpério britânico e dos mercados ultramarinos na Índia e no Canadá. A existência de interesses comuns entre a nobreza rural e os empresários do comércio e da indústria representou uma das condições para essa política. Essa união de interesses foi favorecida pela monarquia parlamentar, que estabilizou a moeda, protegeu as indústrias da concorrência estrangeira e estabeleceu medias especiais para desenvolver a navegação e o comércio ultramarino, bem como a indústria têxtil. A burguesia, classe dominante no Parlamento, órgão responsável pelas questões tributárias, além de todos os benefícios que já tinha, não era cobrada por impostos muito pesados. Em função dessa cobrança bastante branda, teve condições de acumular capitais mais rapidamente, permitindo-lhe investir de forma maciça em inovações técnicas, possibilitando a eclosão da Revolução Industrial. A SUBSTITUIÇÃO DO HOMEM PELA MÁQUINA E A DIVISÃO DO TRABALHO A introdução de máquinas do processo produtivo foi responsável pelo aprimoramento técnico dos demais equipamentos. Como exemplo, podemos citar a invenção da lançadeira volante, em 1733, ao qual sua implantação na indústria têxtil aumentou a capacidade de tecelagem, levando ao desenvolvimento da máquinas que aceleraram a produção de um maior número de fios. Com essas inovações, a ferramenta e a própria energia humana foram substituídas pela máquina e a energia mecânica. Assim, a partir de Para uso acadêmico apenas 13 melhorias sucessivas na etapa de fiação, que culminaram na obtenção de grande número de fios finos e resistentes, foi necessário um novo estímulo na etapa de tecelagem, levando à invenção do tear mecânico. Para agilizar o processo e baratear os custos de produção, os empresários começaram a concentrar os equipamentos e as atividades especializadas, como o tingimento e a tecelagem em unidades fabris, onde podiam racionalizar a produção. Na oficina artesanal, o trabalhador se encarregava de todas as etapas da produção. Com o surgimento da fábrica, a produção tornou-se cada vez mais parcelada, passando cada trabalhador a realizar apenas uma parte do processo. O patrão e seus representantes mais próximos articulavam racionalmente a produção, visando a uma maior produção, com custos mais baixos. Dessa forma, assumiram o controle sobre o processo de trabalho e eliminaram os antigos núcleos domésticos de produção. Com o tempo, as inovações tecnológicas da industria têxtil, especialmente do algodão, e das indústrias siderúrgicas possibilitaram melhorias nos transportes e nas comunicações, fatores importantes para a integração dos mercados. A REVOLUÇÃO SOCIAL Uma das consequências da Revolução Industrial foi a integração, em escala internacional, dos vários fatores de produção, ou seja, capital, matérias- primas, recursos naturais e mão-de-obra. Essa integração favoreceu a expansão do mercado mundial, pela crescente necessidade de escoamento dos excedentes da produção e de acesso a fontes de matérias-primas. Surgiu, assim, uma nova articulação econômica entre os países industrializados e as regiões menos desenvolvidas do planeta, conhecida como divisão internacional do trabalho. De acordo com essa divisão, as colônias tenderam a se concentrar na exploração de seus recursos naturais, especializando-se no cultivo e extração de produtos primários. Dessa forma, elas foram integradas ao sistema capitalista de um modo peculiar. Sem condições para industrializar-se no mesmo ritmo dos países mais desenvolvidos, fixaram- se como produtoras de matérias-primas e mercados consumidores de produtos manufaturados. Ao mesmo tempo, nos países engajados na revolução, o capital se concentrava cada vez mais nas mãos da minoria burguesa, enquanto cresciam a miséria e a pobreza entre os trabalhadores. Destituídos dos Para uso acadêmico apenas 14 meios de produção, estes últimos sobreviviam apenas com a venda de sua força de trabalho, sujeitando-se a salários degradantes, a condições de vida sub-humanas e às severas normas de disciplina impostas pelos contramestres nas fábricas. Entretanto, os trabalhadores não se contentaram em assistir passivamente à degradação de suas condições de vida e de trabalho. Na Inglaterra, essa situação provocou inúmeras manifestações de revolta entre a classe trabalhadora, como a quebra de máquinas e a depredação de instalações industriais pelo movimento ludita. Entre os anos de 1811 a 1813, o movimento ludita responsabilizava as máquinas pelas condições de miserabilidade e desemprego dos trabalhadores. Em função disso, semeavam o terror nos distritos industriais do centro da Inglaterra, destruindo máquinas indepdentemente do lugar onde estivessem. Os luditas foram ferozmente reprimidos pelo governo, com julgamentos sumários que terminaram em enforcamentos e deportações. A Revolução Industrial permitiu que o capitalismo, com base na transformação técnica, atingisse seu processo específico de produção, caracterizado pela produção em larga escala, realizada nas fábricas. Nesse modo de produção, consolidado com a revolução industrial, há uma radical separação entre o trabalho e o capital. O trabalhador dispõe apenas da força de trabalho, enquanto o capitalista detém a propriedade dos meios de produção. A MORAL DA BURGUESIA A moral da classe burguesa, no que diz respeito à sexualidade, nos séculos XVIII e XIX, apresentou um comportamento duplo, bem próximo ao que ainda pode ser percebido em algumas sociedades atualmente, é dizer, as mulheres solteiras tinham que permanecer sob o manto da castidade e as casadas, fiéis aos seus maridos. Em contrapartida, para os jovens burgueses solteiros era permitido ter muitas mulheres e o adultério era tolerável para os casados. Entretanto nada poderia colocar em risco a estabilidade da família ou da propriedade burguesa. Durante o século XIX, a classe média, que era constituída pelos profissionais liberais, homens de negócios e funcionários públicos, cresceu e prosperou. A classe burguesa se abriu para aqueles que possuíam escolaridade e talento para os negócios. Suas casas não eram somente o lugar que abrigava o núcleo familiar; eram também “o repouso do guerreiro” e o local de onde o empreendedor operava, sob o olhar de Para uso acadêmico apenas 15 admiração da mulher e dos filhos, embevecidos pela sua capacidade de produzir riquezas e conforto. Para a massa expropriada os bairros pobres, desprovidos de saneamento básico, iluminação e outros serviços públicos era o que lhes restava. Esse contexto de miserabilidade contribuiu para o surgimento de críticas à condição degradante do trabalhador e de movimentos operários de intensidades diferentes. O TRABALHO NA ERA INDUSTRIAL A industrialização na Inglaterra foi muito mais do que o fruto de uma revolução técnica e científica. Ela representou uma mudança social profunda na medida em que transformou a vida dos indivíduos, implicando elevados custos sociais e, até mesmo, ambientais. Uma das transformações sociais mais notáveis se refere ao próprio significado da palavra trabalho. O que antes significava o castigo divino pelo pecado original de Adão e Eva, apregoada pela Igreja Católica Medieval, implicando dor e humilhação, passou a designar uma condição básica para a salvação diante de Deus, que poderia propiciar riqueza e dignidade. O trabalho passou a dignificar o homem e a qualificá-lo, tornando-se um indicador de posição social. Outro ponto que merece destaque é o controle técnico do processo de produção, que passou a se concentrar nas mãos do capitalista, no momento em que se instituiu a divisão do trabalho. O resultado foi uma verdadeira alienação do trabalhador em relaçãoao seu trabalho, cada vez mais afastado do produto final do seu esforço. Ou seja, o trabalhador perdeu totalmente a visão do processo de produção como um todo, tendo conhecimento apenas do seu serviço individualizado. A revolução também deu origem a uma espécie de “robotização do trabalhador”. O operário passou a servir a uma máquina, se transformando num operário que desempenhava atividades cotidianas totalmente cansativas. Também se transformou num trabalhador mais vulnerável a acidentes de trabalho devido à própria condição de suas atividades. Para baratear os custos da produção, os industriais passaram a buscar o trabalho feminino e infantil. A industrialização rapidamente passou a englobar todos membros da família, submetendo-os ao poder do empresário capitalista. Certas funções femininas, como as tarefas domésticas, o aleitamento e a educação das crianças, foram quase totalmente suprimidas, causando um considerável descontrole familiar. Para uso acadêmico apenas 16 Sem contar que os salários das mulheres e das crianças eram bem menores do que os dos homens. A cidade também mudou de fisionomia, em virtude da concentração de grandes multidões nas áreas fabris. Até o início da industrialização, eram centros comerciais de dimensões relativamente reduzidas, voltadas para a administração, o comércio e todo tipo de prestação de serviços. Nelas viviam funcionários públicos, artesãos, mercadores e etc. A indústria modificou os núcleos urbanos, em que pobres habitavam bairros populosos com péssimas condições de habitação. A burguesia morava nos bulevares, alamedas largas, com suas suntuosas e caras habitações, porém funcionais, na medida em que o mundo burguês procurava basear-se na praticidade e na beleza. A PROPAGAÇÃO DA REVOLUÇÃO De 1760 a 1830, a Revolução se limitou praticamente somente à Inglaterra. Era proibido exportar máquinas e técnicas de produção industrial. Mas não foi possível conter por muito tempo os interesses dos fabricantes de equipamentos industriais, desejosos em exportas as máquinas para terem ainda mais lucro. No ano de 1807, dois ingleses criaram uma fábrica de tecidos em Liège, na Bélgica. Seu desenvolvimento foi bastante rápido, facilitado pela existência de carvão e de ferro nessa região. A França que estivera mergulhada na Revolução Francesa desde 1789, em função disso, teve seu desenvolvimento retardado. Mais tarde, sua tradição de pequena indústria e de produção de artigos de luxo dificultou a concentração industrial e a acumulação de capitais que permitissem a continuidade do desenvolvimento. Na Alemanha, o progresso veio apenas depois da unificação política, em 1870. O progresso foi devido à existência de ferro e cartão no país. No final do século XIX, a Alemanha superava a Inglaterra no tocante à produção de aço de produtos químicos. Nesta mesma época se dava a industrialização na Rússia, em virtude de investimento de capitais estrangeiros, principalmente franceses. Na América, os Estados Unidos foram o único país que passaram pela Revolução Industrial, no final do século XIX. Nesse período, os americanos já eram grandes produtores de artigos manufaturados, superando até mesmo a pioneira Inglaterra e a Rússia. Concentrou-se no Japão a principal industrialização da Ásia, que num Para uso acadêmico apenas 17 certo período de tempo conseguiu implantar a revolução graças à exploração do baixo custo dos salários e das medidas governamentais. Após a Revolução Meiji, em 1868, surgiu um programa sistemático de industrialização do país, visando tornar o Japão uma grande potência pela assimilação da técnica ocidental. Como um todo, a Revolução Industrial deu condições para uma revolução também nos transportes que, por sua vez, acentuaram ainda mais o processo de industrialismo. Depois do surgimento da locomotiva a vapor, no ano de 1830, as estradas de ferro se multiplicavam. As primeiras foram construídas nos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e Bélgica. Na França a primeira estrada de ferro foi construída em 1831, mas somente após 1870 elas foram expandidas. O comércio internacional fez surgir uma especialização mundial da produção, em que os países mais avançados se especializaram na produção industrial e os mais atrasados da Europa, América e Ásia concentraram seus esforços no setor primário, fornecendo alimentos e matérias-primas para os países industrializados. A Europa passou a ser o centro do capital, exigindo novos setores para investimentos, em que foram canalizados para diversos países estrangeiros sob a forma de empréstimos, e utilizados na implantação de vias férreas ou outros empreendimentos semelhantes. Um outro importante fenômeno que surgiu com a Revolução foi o desenvolvimento do imperialismo, em que o processo de industrialização criou para os países capitalistas uma série de problemas cuja solução dependia da manutenção do ritmo de desenvolvimento industrial. As potências capitalistas necessitavam de mercados externos que servissem de escoadouro para seu excedente de mercadorias. Precisavam também de minérios e matérias-primas que, muitas vezes, não existiam em seu próprio território e que eram extremamente necessários para produção de artigos industriais, além de mão-de-obra barata e de áreas favoráveis ao investimento seguro e lucrativo de seus capitais. Tais necessidades fizeram com que os países capitalistas desenvolvessem, na segunda metade do século XIX, uma política de expansão externa que ficou conhecida como imperialismo. A expansão imperialista atingiu, principalmente, a Ásia, África e América Latina. Esses continentes foram divididos em colônias ou áreas de influência das grandes potências industriais. Na passagem do século XIX para o XX a expansão do imperialismo provocou uma série de rivalidades entre as grandes potências pela divisão do mercado mundial, que desencadearam, em 1914, a I Guerra Mundial. Para uso acadêmico apenas 18 A expansão tecnológica não teve fim com a Revolução Industrial. Ao contrário, na sociedade capitalista atual, ela ainda é vista como um dos fatores que dividem o mundo entre os países chamados “desenvolvidos” e os “subdesenvolvidos”. Se, por um lado, o desenvolvimento tecnológico trouxe inovações importantes para a sociedade como os avanços na medicina, nas telecomunicações, nos transportes e na produção de bens de consumo, por outro trouxe também o chamado “desemprego estrutural”. Milhares de trabalhadores, no mundo inteiro, estão sendo substituídos por máquinas ou por operários multifuncionais – isto é, por aqueles que desempenham múltiplas funções no sistema produtivo. Mais uma vez, grupos sociais inteiros vão sendo historicamente colocados à margem dos benefícios gerados pelo desenvolvimento econômico. A REVOLUÇÃO URBANA A Europa ocidental já possuía uma antiga, porém, significativa, rede urbana, mas boa parte das cidades ainda estava limitada por suas muralhas medievais. Com o aumento da população e a expansão das indústrias, essa cidades cresceram e já na metade do século XIX algumas se tornaram verdadeiras metrópoles, como Londres e Paris. Sem nenhum planejamento e organização, essas cidades ofereciam duras condições de vida às pessoas por elas atraídas, geralmente originárias do campo. Sem infra-estrutura de saneamento básico e higiene, tornavam-se também focos de doenças e epidemias. Nas cidades, o modo das pessoas verem o mundo, a natureza e os seres humanos começou a mudar também. Lentamente, o distanciamento da natureza foi se concretizando. O tempo diário passou a ser medido pelo relógio, que regrava o tempo do trabalho e da vida. As atividades comerciais e culturais e as comodidades urbanas semultiplicaram; o acúmulo de conhecimento e a rapidez das informações tendiam a se concentrar nas cidades; estas começaram a mudar cada vez mais rápido. A vida social fora das fábricas era difícil. Nos bairros populares dos centros urbanos em crescimento, o preço da moradia era alto, não havia saneamento básico nem higiene, muito menos lazer. Em condição social diferente, a burguesia, formada pelos proprietários das fábricas, dos estabelecimentos comerciais e financeiros, também ampliou sua presença na sociedade, ocupando lentamente o lugar político e econômico da antiga nobreza. Para uso acadêmico apenas 19 A REVOLUÇÃO E AS NOVAS IDEOLOGIAS O rápido processo de industrialização gerou uma grande repercussão em vários aspectos da vida social, fazendo gerar um vívido debate sobre a Revolução Industrial e suas consequências para a sociedade. No centro desse debate, estavam trabalhadores e empresários, que tinham interesses totalmente divergentes. Os operários estavam desejosos por condições dignas de trabalho, enquanto do lado oposto a burguesia desejavam somente aumentar seus lucros e fazer crescer ainda mais seus negócios. A crescente polêmica deste conflito de interesses contribuiu para a elaboração de várias teorias sociais. Algumas dessas teorias justificavam os novos rumos da nova e crescente sociedade industrial capitalista, outras, que se identificavam com os anseios dos operários, denunciavam a exploração do trabalho e pregavam uma sociedade menos injusta e mais livre. A situação de extrema exploração na qual se encontravam os trabalhadores, além de resultar no nascimento do movimento operário, fez surgirem teorias que condenavam o sistema capitalista e as desigualdades sociais trazidas por ele e propunham novas formas de organização da sociedade. O conjunto dessas teorias ficou conhecido como socialismo. Entre os criadores das primeiras correntes socialistas modernas, destacaram-se os teóricos franceses conde de Saint-Simon e Pierre-Joseph Proudhon e o britânico Robert Owen. Saint-Simon criticou o liberalismo econômico e a desumana exploração dos trabalhadores pelos proprietários dos meios de produção. Defendia a extinção das diferenças de classe e a construção de uma sociedade em que cada um ganhasse de acordo com o real valor de seu trabalho. Proudhon afirmava que a propriedade privada era um roubo. Pregava a igualdade e a liberdade para todos os indivíduos, que passariam a viver numa sociedade harmônica, sem a força do Estado. Owen acreditava na organização da sociedade em comunidades cooperativas compostas de operários, em que cada um receberia de acordo com as suas horas de trabalho. Já os pensadores alemães Karl Marx e Friedrich Engels desenvolveram posteriormente a corrente socialista do socialismo científico, também conhecida como marxismo. De acordo com essa concepção, depois de tomar o poder, a classe operária deveria por um fim na propriedade privada dos meios de produção e de troca e criar uma sociedade baseada na associação autônoma dos trabalhadores e em formas coletivas de propriedade. Essa doutrina atribuía ao proletariado a missão histórica de Para uso acadêmico apenas 20 destruir o capitalismo e conduzir a humanidade para uma sociedade igualitária. REFERÊNCIAS COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral: Volume 2 – 1a edição – São Paulo, Saraiva, 2010. KARNAL, Leandro. Estados Unidos: da Colônia à Independência. São Paulo, Contexto, 1999. JAGUARIBE, Hélio. Um Estudo Crítico da História – São Paulo, Paz e Terra, 2001. HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982. THOMPSON, E. P. Costumes em Comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. PETTA, Nicolina Luiza de. e OJEDA, Eduardo Aparício Baez. História, uma abordagem integrada. São Paulo: Moderna, 2002. ARRUDA, José Jobson de A. e PILETTI, Nelson. Toda a História. 4 ed. São Paulo: Ática, 2000. DA MATTA, Roberto. Relativizando: Uma Introdução à Antropologia. Petrópolis: Vozes, 1997. CARDOSO, Ruth. A Aventura Antropológica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. DIVALTE, Garcia Figueira. História (volume único). São Paulo: Ática, 2006. Autor Informações sobre o texto Como citar este texto (NBR 6023:2002 ABNT) COLLYER, Francisco Renato Silva. Revolução Industrial: aspectos políticos e sociais da maior revolução da idade moderna. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 20, n. 4242, 11 fev. 2015. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/31268>. Acesso em: 14 nov. 2015. Para uso acadêmico apenas 21 sábado, 3 de novembro de 2012 O Mito da Revolução Industrial – Marcelo Centenaro (http://marcelocentenaro.blogspot.com.br/2012/11/o-mito-da-revolucao-industrial.html) A Revolução Industrial, iniciada por volta de 1750 na Inglaterra, provocou um imenso avanço tecnológico e econômico no mundo. Ninguém discute isso. Porém, existe um mito sobre seus efeitos sobre a população mais pobre. Há uma crença generalizada de que o preço desse progresso foi a opressão das classes trabalhadoras pelos capitalistas. Sem restrições governamentais, as grandes corporações teriam tido liberdade de arrochar os salários, cortar custos negligenciando a segurança do ambiente de trabalho e multiplicar suas já imensas fortunas às custas da miséria da classe trabalhadora, que foi reduzida a uma virtual escravidão. Friedrich Engels escreveu que o trabalhador típico do período pré- industrial vivia "uma vida justa e pacífica em toda piedade e probidade e sua posição material era muito melhor que a dos trabalhadores que o sucederam". No início do século XX, seria clara a necessidade de salvar a classe trabalhadora da vitimização inerente ao sistema capitalista. O movimento de reforma social teria conseguido que fossem estabelecidos programas para proteger os desfavorecidos, impostas regulações mais rígidas sobre as empresas, dadas chances de que os trabalhadores se sindicalizassem e impedida a tendência natural à criação de monopólios que seria inerente ao capitalismo. A luta em defesa do homem comum continuaria até hoje, liderada pelos partidos progressistas, com o objetivo de, um dia, atingirmos a igualdade ecônomica que uma sociedade livre deseja. É uma história convincente, que apela aos instintos humanos de proteger os oprimidos e lutar contra a injustiça. Os princípios básicos deste mito inspiraram grandes obras de literatura, desde Charles Dickens, com Um Conto de Natal e Oliver Twist. É extremamente popular em todo o mundo e é a crença política e econômica básica Para uso acadêmico apenas 22 da maioria dos atores e jornalistas. Mais importante, esse mito norteia todas as políticas públicas no Brasil, pelo menos desde Getúlio Vargas. O problema é que nada disso é verdade. A qualidade de vida dos trabalhadores melhorou drasticamente e continuamente com a Revolução Industrial. Durante todo o Feudalismo, da queda do Império Romano até o final do século XVI, era comum que pessoas fossem vendidas em leilões, submetidas a todo tipo de trabalho penoso e degradante, praticamente sem remuneração. Às vésperas da Revolução Industrial, entre 1730 e 1749, 75% das crianças inglesas morriam antes de completar 5 anos de idade. Entre 1750 e 1850, a população da Grã-Bretanha triplicou. A expectativa de vida aumentou tremendamente, mas houve também uma migração em massa do continente para as Ilhas Britânicas, de trabalhadores buscando condições melhores. O advento da produção em massa fez com que, pela primeira vez na história, o alvo dos produtores de bens não fosse a camada mais rica da população, mas o homem comum. A explosão da produção provocouuma queda generalizada de preços. Uma miríade de produtos baratos se tornou disponível: sabão, roupas de baixo, chá, café, açúcar, chapéus, tecidos. As pequenas lojas se espalharam por toda parte e surgiram empregos no comércio. Os assalariados da indústria e do comércio passaram a ser consumidores. A dieta de uma família pobre deixou de ser uma tigela de farinha com batatas e passou a incluir carne fresca, bacon, pão de trigo, manteiga, chá. Os trabalhadores trocaram péssimos empregos na agricultura por péssimos empregos na indústria. Porém, passaram a comer melhor, vestir-se melhor, ter mais saúde e produzir mais. A inovação tecnológica era feita por pessoas que tivessem capacidade intelectual de criá-la, independentemente de sua origem. George Stephenson, criador da locomotiva a vapor, havia sido vaqueiro. O engenheiro Telford, que construiu 1200 pontes e mais de 1500 quilômetros de estradas, era filho de um pastor de ovelhas e começou como aprendiz de pedreiro. Joseph Bramah, inventor da prensa hidráulica, foi aprendiz de carpinteiro. Frederich König, imigrante alemão, inventor de uma impressora de alta velocidade, Para uso acadêmico apenas 23 era filho de um camponês e foi aprendiz numa gráfica. Como estes, há incontáveis outros exemplos. Friedrich Hayek disse que o Mito da Revolução Industrial sobrevive porque os historiadores estão contaminados pelo marxismo. Como acreditam que o capitalismo produz miséria, procuram e encontram supostas provas dessa crença. Antes da Revolução Industrial, a miséria dos pobres era considerada um fato imutável da vida. Com o progresso, as pessoas passaram a tolerar cada vez menos a pobreza que restou. Isso fez com que aumentassem as críticas à situação dos mais pobres e não o fato de essa situação estar piorando. Ludwig von Mises argumentou que os donos das fábricas não tinham nenhum poder de obrigar alguém a se tornar operário contra sua vontade. Só podiam contratar quem aceitasse o emprego voluntariamente, nas condições oferecidas e pelo salário tratado. Os salários eram muito, muito baixos e as condições de vida eram muito, muito ruins. Mas eram melhores que a alternativa. Fora das fábricas, as mulheres mal tinham o que dar de comida a seus filhos. As fábricas literalmente os salvaram da fome. Portanto, é verdade que o capitalismo criou o proletariado. Não no sentido de Marx e Engels, mas no sentido de que esse enorme contingente de pessoas não teria sobrevivido se não houvesse surgido o capitalismo. Von Mises escreveu: "O que há de notável na Revolução Industrial é que ela iniciou uma era de produção em massa para atender as necessidades das massas. Os assalariados não são mais pessoas que trabalham exaustivamente apenas pelo bem-estar de outras pessoas. Eles próprios são os principais consumidores dos produtos saídos das fábricas. Não existe, nos Estados Unidos de hoje, nenhum ramo de grandes empresas que não tente satisfazer as necessidades das massas. O princípio essencial do empreendedorismo capitalista é fornecer produtos ao homem comum. [...] Não há outra maneira, numa economia de mercado, de se adquirir e preservar riqueza, exceto suprir as massas, da maneira melhor e mais barata, de todos os bens que elas pedirem." A Revolução Industrial foi um processo evolutivo, realizado por tentativa e erro. Para haver um avanço em uma área era necessário que houvesse outro avanço paralelo em outras áreas. O processo Para uso acadêmico apenas 24 que resultou nas grandes invenções aconteceu sem nenhum planejamento central. Aconteceu com cada pessoa buscando seus próprios interesses particulares. Aconteceu porque as pessoas eram motivadas pelo lucro. Não poderia ter ocorrido por meio de uma mente humana tentando planejá-lo. Não aconteceria se as pessoas fossem movidas por razões altruísticas. Também não aconteceria se as pessoas não vislumbrassem a perspectiva de vantagens pessoais como resultado de suas ações. Um ponto essencial do Mito da Revolução Industrial diz respeito ao trabalho infantil. Em primeiro lugar, é necessário dizer que o trabalho infantil sempre existiu. As condições de trabalho para crianças também eram muito ruins, o trabalho era pesado, perigoso e insalubre. Um dos estímulos para os pais buscarem trabalhos em fábricas é que o trabalho para seus filhos era mais leve e menos perigoso. Com a melhoria do padrão de vida, os pais puderam prescindir da renda resultante do trabalho infantil, e as crianças passaram a ficar em casa. Não foi a Revolução Industrial que criou o trabalho infantil, ele sempre existiu antes. Foi a Revolução Industrial que acabou com o trabalho infantil. Também é importante diferenciar o que se chamava, na Inglaterra, de "free-labour children" e "parish-apprentice children". "Free-labour children" eram crianças que tinham uma família e trabalhavam junto com seus pais em uma fábrica. Um dono de empresa não tinha como subjugar uma dessas crianças e obrigá-la a trabalhar em condições com as quais seus pais não concordassem. "Parish-apprentice children" eram crianças órfãs ou abandonadas (como Oliver Twist), submetidas à autoridade e supervisão de funcionários do Estado. Quando os historiadores narram casos de crianças submetidas aos tipos mais cruéis de trabalhos, quase sempre as situações envolvem exclusivamente essas crianças. Sobre os monopólios, só existe uma maneira de manter um monopólio numa economia de mercado: ter um produto tão melhor que o da concorrência, a um preço tão baixo, que todos os consumidores escolham comprá-lo. Se, em virtude dessa posição de monopólio, a empresa resolver subir os preços ou descuidar da qualidade, os concorrentes vão fatalmente aparecer e ocupar uma Para uso acadêmico apenas 25 fatia cada vez maior do mercado. Numa economia livre, a competição nunca é eliminada. Não tem como ser eliminada. Outra coisa completamente diferente é o monopólio estatal. Se o governo impede a competição, a empresa ou as empresas monopolistas podem cobrar preços absurdos e entregar produtos e serviços ruins. Se alguém quiser trabalhar (ou continuar trabalhando) nesse específico ramo de atividade, terá de se sujeitar às condições de trabalho que essas empresas impuserem. Existem dois tipos de monopólio estatal. O monopólio clássico é aquele em que leis proíbem que existam competidores. O outro tipo, mais comum atualmente, é aquele em que o governo impede que surjam novos competidores por meio do excesso de regulação. Poucas grandes empresas dominam o mercado. Elas competem entre si, mas são protegidas de concorrentes inovadores porque o custo de adequar- se às regras é proibitivo. O padrão de vida das pessoas só se eleva e as condições de trabalho só melhoram por meio de investimentos de capital e da produção de mais bens, de melhor qualidade. É exatamente isso que foi a Revolução Industrial. E é exatamente disso que os países mais pobres e anticapitalistas do mundo precisam para prosperarem. Este texto é um pastiche traduzido dos artigos abaixo: http://www.blupete.com/Literature/Essays/BluePete/IndustRev.htm http://www.thefreemanonline.org/features/a-myth-shattered-mises- hayek-and-the-industrial-revolution/ http://www.fff.org/freedom/0993c.asp http://tommullen.hubpages.com/hub/The-Populist-Myth-of-the-19th- Century
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