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Seção 1 – Pensar enquanto vocação da humanidade

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Apresentação 
 
Caro aluno, o objetivo da nossa aula não é aprofundar 
questões filosóficas, mas ajudar a entender o porquê de uma 
disciplina chamada de Iniciação ao pensar. Será que, já no 
segundo semestre de um curso universitário, ainda não 
sabemos pensar? Desde criança pensamos e o pensar se 
tornou algo rotineiro para todos nós. Mas aqui está justamente 
o perigo: quando o pensar se torna algo rotineiro, perde a sua 
alma e a força criativa que deveria caracterizá-lo como 
pensamento. Assim, hoje vivemos numa cultura que sofre de 
indigência de pensamento, como dizia o filósofo Heidegger. 
Uma cultura abarrotada de informações, que podemos acessar 
quando e como queremos, mas carente de capacidade de 
pensar. Existe uma diferença entre pensar e saber. 
Pois pensar não é saber. É não saber. 
Quando se pensa não se pretende 
saber; e quando se pretende já saber, 
não se pensa. [...] Por isso só aprende 
quem pensa. Pois pensar significa 
acolher o mistério da realidade 
irrompendo nas realizações do real. 
(LEÃO In. BORGHI, 2013, p. 118). 
Somente quem reconhece o seu não saber frente ao 
“mistério da realidade” encontra-se na condição de aprender a 
pensar e de aprender pensando. Mais que simplesmente 
acumular conhecimento, o importante é aprender a pensar. Já 
no século XVI, Montaigne escrevia que precisava “indagar 
quem sabe melhor e não quem sabe mais”, e não se preocupar 
“por guarnecer a memória, deixando de lado, e vazios, juízo e 
consciência”. 
Tudo se submeterá ao exame da criança 
e nada se lhe enfiará na cabeça por 
simples autoridade e crédito. Que 
nenhum princípio, de Aristóteles, dos 
estoicos ou dos epicuristas, seja seu 
princípio. Apresentem--se-lhe todos em 
sua diversidade e que ela escolha se 
puder. E se não puder fique na dúvida, 
pois só os loucos têm certeza absoluta 
em sua opinião. (MONTAIGNE In. 
BORGHI, 2013, p. 118). 
Num mundo em que sobra conhecimento e falta 
pensamento, precisa saber integrar a “sociedade do 
conhecimento” com a “sociedade do pensamento”, para que as 
pessoas, que hoje têm acesso a uma infinidade de 
informações, possam desenvolver também a capacidade de 
pensar. O conhecimento é matéria-prima do pensamento: mas 
o conhecimento adquire todo o seu valor quando é 
administrado pela capacidade de pensar. Por isso, é 
fundamental que a educação ajude as pessoas a aprender a 
pensar, para poder valorizar o conhecimento, lembrando que o 
pensar humano educado não leva à certeza, como queria 
Descartes, mas à capacidade de lidar com as incertezas e a 
uma atitude de diálogo e de busca constante, que é decisiva 
para a qualidade ética da convivência humana. 
Considerando que “só aprende quem pensa”, é fundamental, 
na trajetória acadêmica, exercitar e aprimorar constantemente 
a nossa capacidade de pensar, através de um confronto com 
“pensadores” que, no decorrer dos séculos, mantiveram vivas 
as inquietações fundamentais que acompanham a nossa 
aventura no universo, não deixando que o pensamento 
perdesse a sua maravilhosa força criativa transformando-se 
simplesmente em conhecimento. Por isso, a finalidade desta 
disciplina é exercitar o nosso pensamento, dialogando com a 
filosofia. 
Por que a filosofia? Por que todos 
deveriam aprender a pensar 
filosoficamente - a fazer as questões 
pungentes que as crianças e os filósofos 
fazem, e a que os filósofos às vezes 
respondem? Há muito tempo creio que 
todos deveriam ocupar-se da filosofia – 
mas não para obter mais informações 
sobre o mundo, sobre a sociedade, ou 
sobre nós mesmos. Para isso, é melhor 
voltar-se para as ciências sociais e para 
a história. A filosofia nos é útil de um 
outro jeito – ela nos ajuda a 
compreender coisas que já sabemos, a 
compreendê-las melhor do que agora. É 
por isso que todos deveriam aprender a 
pensar filosoficamente. (ADLER, 2010, 
p. 09) 
Quando nos perguntamos pelo papel da filosofia, o que 
deveria vir à mente é o seu papel pedagógico. A experiência 
educacional se constrói pela relação dialógica de quem ensina 
com quem aprende. Dessa experiência de troca acontece a 
possibilidade de transformação de quem aprende e de quem 
ensina. Contudo, não podemos cair no erro de tomar a filosofia 
como mais uma disciplina entre tantas outras. A filosofia é 
movimento: é o movimento do pensamento buscando seu lugar 
no mundo, é abertura do homem diante do mundo através de 
uma nova leitura da vida. É daí que se afirma o seu lugar de 
sabedoria. 
O ponto de partida da filosofia é ​um problema real​, um 
problema que seja verdadeiro. Não há coisa mais absurda do 
que buscar uma solução para um problema que não existe. Por 
isso, algumas pessoas compreendem a filosofia como algo 
sem sentido, e que, de certo modo, não deve despertar o 
nosso interesse, muito menos nossa atenção. Na origem desse 
desinteresse está um desconhecimento dos problemas 
enfrentados pela filosofia e do fato de que eles fazem parte 
daquilo que nós somos. 
A partir do que foi dito até agora, já podemos enfrentar uma 
tentativa de síntese que defina e explique a utilidade da 
filosofia. Se a filosofia parte de um problema real, ela não se 
contenta com qualquer resposta a esse problema. Não basta 
saber ​COMO​as coisas acontecem, ou de que são feitas, mas o 
PORQUÊ​ delas existirem. 
Além disso, não importa o quanto o homem conheça, o mais 
importante é o que ele faz desse conhecimento para melhorar 
a humanidade. O pensamento filosófico, ao questionar tudo, 
não se torna superficial, mas, através da profundidade do 
olhar, transforma o objeto em algo digno do conhecimento. O 
pensamento filosófico não é ingênuo. Ele sabe que não pode 
conhecer tudo, mas aquilo que ele busca conhecer, deve 
conhecer bem. Nada menos que o rigor é exigido do pensar 
bem. 
Esta é a finalidade da disciplina Iniciação ao pensar: 
compreender a contribuição da filosofia para o fortalecimento 
do pensamento. O mundo de hoje é conhecido como a 
sociedade do conhecimento, mas o verdadeiro conhecimento 
pressupõe a capacidade de pensar. A capacidade de 
“manter-se alerta”, como dizia Heidegger, “no interior do já 
pensado em direção ao impensado, que ainda se guarda e se 
encobre no já pensado”. (HEIDEGGER, 2008, p. 120) 
 
Seção 1 – Pensar enquanto vocação da humanidade 
1.Do pensamento mítico aos Pré-Socráticos: o espanto diante da natureza 
O pensamento filosófico começa quando alguém faz uma 
pergunta de caráter geral, e o mesmo acontece com o 
pensamento científico. Os gregos compreenderam muito bem 
essa relação, e a partir dela construíram tudo o que 
conhecemos hoje. Se pudermos considerar qual teria sido essa 
força motriz, descobriremos que foi o ‘espanto’, a admiração. A 
admiração é a capacidade do homem de impressionar-se, 
impactar-se diante da beleza e da ordem (kósmos) da 
realidade. Isso é algo natural nas crianças; tudo é novo para 
eles e não param de admirar-se diante daquilo que veem. O 
estupor esconde dentro de si um pedido profundo, pois de 
imediato surge a pergunta pelosentido último daquilo que está 
diante de nós e, cada vez que esse mesmo fato aparece, a 
pergunta surgirá com mais força. Quando o homem grego, 
movido pela curiosidade diante do mundo, se espanta e 
pergunta: “o que é isso?” Ele busca compreender não apenas 
o objeto que se apresenta, mas entender, mesmo que 
indiretamente, o que é o processo do conhecimento. 
Com efeito, foi pela admiração que os 
homens começaram a losofar tanto no 
princípio como agora; perplexos, de 
início, ante as diculdades mais óbvias, 
avançaram pouco a pouco e enunciaram 
problemas a respeito das maiores, como 
os fenômenos da Lua, do Sol e das 
estrelas, assim como a gênese do 
universo. E o homem que é tomado de 
perplexidade e admiração julga-se 
ignorante (por isso o amigo dos mitos é, 
em certo sentido, um lósofo, pois 
também o mito é tecido de maravilhas); 
portanto, como losofavam para fugir à 
ignorância, é evidente que buscavam a 
ciência a m de saber, e não com uma 
nalidade utilitária. 
(ARISTÓTELES,1969. p. 40.) 
Pertence ao código genético de qualquer tipo de busca de 
conhecimento este espanto que desencadeia o pensar como 
abertura ao mistério da realidade que irrompe nas realizações 
do real. Trata-se de um pensar que Aristóteles chama de 
filosofar e que leva a se maravilhar não somente ante as 
grandes questões, como a origem do universo, mas também 
ante aquilo que o senso comum considera como óbvio. 
A filosofia nasce pela relação que o ser humano tem com a 
realidade que deseja conhecer. Essa relação com a realidade 
se deu primeiro por meio do mito (que também nasce da 
admiração e “é tecido de maravilhas” como acabamos de ler 
em Aristóteles), e em seguida através da reflexão filosófica, o 
que não quer dizer que os mitos tenham deixado de ser 
utilizados pelo homem. 
O homem sempre buscou explicar a realidade e o quê 
acontece com ela. O mito constitui uma primeira tentativa de 
reflexão que busca explicar os fenômenos da natureza e 
experiências comuns ao gênero humano de maneira simbólica, 
ou seja, por meio de narrativas. Estes mitos eram transmitidos 
de geração em geração e se misturavam entre um povo e 
outro. A explicação mítica não é um engano, pois realmente 
queriam fazer entender como e por que se sucediam as coisas. 
O mito é uma realidade cultural complexa, que pode ser 
abordada e interpretada através de perspectivas múltiplas, 
como observou Mircea Eliade: 
 
A definição que a mim, pessoalmente, 
me parece a menos imperfeita, por ser a 
mais ampla, é a seguinte: o mito conta 
uma história sagrada; ele relata um 
acontecimento ocorrido no tempo 
primordial, o tempo fabuloso do 
“princípio”. Em outros termos, o mito 
narra como, graças às façanhas dos 
Entes Sobrenaturais, uma realidade 
passou a existir, seja uma realidade 
total, o Cosmo, ou apenas um 
fragmento: uma ilha, uma espécie 
vegetal, um comportamento humano, 
uma instituição. É sempre, portanto, a 
narrativa de uma “criação”: ele relata de 
que modo algo foi produzido e começou 
a ser. O mito fala apenas do que 
realmente ocorreu, do que se manifestou 
plenamente. Os personagens dos mitos 
são os Entes Sobrenaturais. Eles são 
conhecidos, sobretudo pelo que fizeram 
no tempo prestigioso dos “primórdios”. 
Os mitos revelam, portanto, sua 
atividade criadora e desvendam a 
sacralidade (ou simplesmente a 
“sobrenaturalidade”) de suas obras. Em 
suma, os mitos descrevem as diversas, 
e algumas vezes dramáticas, irrupções 
do sagrado (ou do “sobrenatural”) no 
Mundo. É essa irrupção do sagrado que 
realmente fundamenta o Mundo e o 
converte no que é hoje. E mais: é em 
razão das intervenções dos Entes 
Sobrenaturais que o homem é o que é 
hoje, um ser mortal, sexuado e cultural. 
(ELIADE, 2013, p. 11) 
 
O Mito 
O mito é pedagógico. Ele busca orientar o indivíduo frente a 
sua realidade, para, através da experiência, encontrar sentido 
em sua existência. Sua função social é assegurar a identidade 
da comunidade ao aproximar o indivíduo do herói no momento 
em que este internaliza valores e transmite valores à próxima 
geração. A transmissão desses valores decorre do uso da 
memória. 
O mito é uma linguagem de antecipação. Ele explica através 
da alegoria aquilo que, depois, veio a ser representado pela 
linguagem filosófico-científica. Para compreender o seu valor 
faz-se necessária uma interpretação baseada na experiência, 
uma experiência que se constrói através da relação 
desafiadora entre homem e mundo. Para isso é necessário 
poder ouvir, querer ouvir e silenciar. Poder ouvir está na esfera 
da sensibilidade diante da vida; querer ouvir é desejar 
encontrar a verdade da vida; e o silêncio está no grau de 
reverência diante da verdade que se encontra na jornada de 
vida. 
Pelo que foi dito até aqui, podemos observar a diferença 
entre o pensamento mítico e a filosofia nascente. A filosofia se 
distingue da tradição dogmática dos mitos ao oferecer uma 
pluralidade de explicações possíveis. É a passagem do mythos 
ao logos (razão). Nesta passagem do mythos para o Logos 
ainda existem certas estruturas narrativas que estão ligadas. O 
vídeo a seguir apresenta a tentativa do homem grego de 
explicar a origem do mundo através da linguagem mítica. 
 A Consciência Mítica / Filosofando 
Como vimos no texto “A consciência mítica”, o mito se 
preocupava com a origem divina da técnica, Prometeu ao 
roubar o fogo dos deuses para dar aos homens foi punido; 
esse castigo não apenas foi doloroso, foi também eterno. A 
temporalidade inaugurada por Prometeu não olha para o 
passado, mas para o futuro, futuro esse onde o homem 
envelhece. Não é a figura do retorno que regula, mas a 
projeção de um alvo que antecipa o futuro. Se a característica 
da natureza era o tempo cíclico, o tempo projectual, que visa 
um domínio, é o tempo da técnica. O professor Umberto 
Galimberti explica de forma clara o dilema presente no 
pensamento mítico da figura de Prometeu: 
 
Passando do tempo que retorna para o tempo 
que envelhece, do tempo cíclico da natureza 
regulado pelo selo da necessidade para o 
tempo projetual da técnica, atravessado pelo 
desejo e pela intenção do homem, a história 
sofre um abalo. Não mais decadência de uma 
idade mítica de ouro, mas progresso rumo ao 
futuro sem meta. A projetualidade técnica, de 
fato, indica avanço, mas não no sentido da 
história. A contração entre “passado recente” e 
“futuro imediato”, na qual se recolhe o seu agir, 
não permite discernir fins últimos, mas só 
progressos em vista da própria 
potencialização. De fato, a técnica nada mais 
persegue que o próprio crescimento, um mero 
“sim” a si mesma. (GALIMBERTI, 2006, p. 40) 
 
Esse pensamento será a ponte entre a mitologia e a ciência 
(ainda muito simples) que se inicia com os pensadores 
pré-socráticos. Dessa superação nasce a filosofia. Enquanto 
que no mito uma resposta é dada, na filosofia ela é procurada. 
Disso resulta a busca por umacoerência interna, conceitos 
rigorosos, debates fundamentados, que dão a base para o 
pensamento abstrato. 
 
Do Mito a Filosofia 
Como verificamos até aqui, a caminhada do pensamento 
mítico até o início do pensamento filosófico foi longa. Sempre 
que o homem tentou compreender o seu tempo, precisou fazer 
uso da linguagem e do pensamento da sua época. A mitologia, 
se não explicava a origem da natureza, pelo menos justificava, 
à sua maneira, o início de tudo. A diferença é que enquanto no 
mito a inteligibilidade é dada, na filosofia ela é procurada. 
Ao falar da origem da filosofia, é comum escutar um tipo de 
linguagem que poderia levar a pensar que somente na Grécia 
do VI século a.C. aparece a racionalidade. Fala-se do 
nascimento da filosofia como da passagem do mito à razão ou 
até de “invenção da razão”, quando seria mais correto e menos 
suscetível de equívocos falar do desenvolvimento de uma nova 
forma de racionalidade. A racionalidade humana aparece bem 
antes do aparecimento da racionalidade filosófico-científica, e 
todas as tentativas do ser humano de entender o mundo e si 
próprio no universo, sejam elas de tipo mágico, religioso, 
mítico, são manifestações, às vezes altamente desenvolvidas, 
de racionalidade. 
A grande contribuição dos Pré-Socráticos está na sua 
disposição de conhecer a natureza através da razão, 
enfrentado-a sem medo de contrariar os deuses, mas 
reconhecendo que se o fogo do conhecimento representado 
por Prometeu nos traz conhecimento, é somente partindo dele 
que podemos desvelar a natureza ao usar a razão. O vídeo a 
seguir faz uma breve apresentação dos principais filósofos 
Pré-Socráticos. 
Ao tentar compreender o mundo físico, o homem grego ao seu 
modo tenta compreender o seu papel nesse mundo, mesmo 
que esse papel seja apenas interpretar a natureza. Essa 
inquietação diante da natureza é a força presente na Arché, o 
princípio pelo qual tudo vem a ser e que se torna o centro de 
interesse da reflexão filosófica inicial. 
 Se o pensamento mitológico buscava uma origem para o 
mundo, os Pré-Socráticos também buscavam uma origem, no 
entanto, para isso partiram da natureza. A contribuição deles é 
motivo de orgulho para a humanidade. Fazendo uso de uma 
figura de linguagem, o que esses homens fizeram foi desenhar 
um mapa náutico, e convidar as próximas gerações a navegar 
em um oceano de mistérios e belezas. Os desafios que esses 
homens enfrentaram servem de inspiração para os desafios de 
hoje e de amanhã. O início do pensamento nos convida a 
questionar. Seu objetivo não é apenas encontrar respostas, 
mas através do seu movimento, nos levar a pensar quem 
somos nos dias de hoje. Seria essa uma tarefa fácil? Não. Mas 
quem disse que pensar de uma forma correta seria fácil?! 
Pensar é antes de tudo um desafio do homem em busca da 
sua humanidade, que por vezes parece perdida, mas está 
apenas escondida, esperando o momento oportuno para se 
afirmar. Precisamos reconhecer o valor do conhecimento e do 
pensamento, para, através dele, redescobrirmos a nossa 
humanidade. 
A Consciência Mítica / Filosofando 
 
Como vimos no texto “A consciência mítica”, o mito se 
preocupava com a origem divina da técnica, Prometeu ao 
roubar o fogo dos deuses para dar aos homens foi punido; 
esse castigo não apenas foi doloroso, foi também eterno. A 
temporalidade inaugurada por Prometeu não olha para o 
passado, mas para o futuro, futuro esse onde o homem 
envelhece. Não é a figura do retorno que regula, mas a 
projeção de um alvo que antecipa o futuro. Se a característica 
da natureza era o tempo cíclico, o tempo projectual, que visa 
um domínio, é o tempo da técnica. O professor Umberto 
Galimberti explica de forma clara o dilema presente no 
pensamento mítico da figura de Prometeu: 
 
Passando do tempo que retorna para o tempo 
que envelhece, do tempo cíclico da natureza 
regulado pelo selo da necessidade para o 
tempo projetual da técnica, atravessado pelo 
desejo e pela intenção do homem, a história 
sofre um abalo. Não mais decadência de uma 
idade mítica de ouro, mas progresso rumo ao 
futuro sem meta. A projetualidade técnica, de 
fato, indica avanço, mas não no sentido da 
história. A contração entre “passado recente” e 
“futuro imediato”, na qual se recolhe o seu agir, 
não permite discernir fins últimos, mas só 
progressos em vista da própria 
potencialização. De fato, a técnica nada mais 
persegue que o próprio crescimento, um mero 
“sim” a si mesma. (GALIMBERTI, 2006, p. 40) 
 
 Esse pensamento será a ponte entre a mitologia e a ciência 
(ainda muito simples) que se inicia com os pensadores 
pré-socráticos. Dessa superação nasce a filosofia. Enquanto 
que no mito uma resposta é dada, na filosofia ela é procurada. 
Disso resulta a busca por uma coerência interna, conceitos 
rigorosos, debates fundamentados, que dão a base para o 
pensamento abstrato. 
 
Do Mito a Filosofia 
Como verificamos até aqui, a caminhada do pensamento 
mítico até o início do pensamento filosófico foi longa. Sempre 
que o homem tentou compreender o seu tempo, precisou fazer 
uso da linguagem e do pensamento da sua época. A mitologia, 
se não explicava a origem da natureza, pelo menos justificava, 
à sua maneira, o início de tudo. A diferença é que enquanto no 
mito a inteligibilidade é dada, na filosofia ela é procurada. 
Ao falar da origem da filosofia, é comum escutar um tipo de 
linguagem que poderia levar a pensar que somente na Grécia 
do VI século a.C. aparece a racionalidade. Fala-se do 
nascimento da filosofia como da passagem do mito à razão ou 
até de “invenção da razão”, quando seria mais correto e menos 
suscetível de equívocos falar do desenvolvimento de uma nova 
forma de racionalidade. A racionalidade humana aparece bem 
antes do aparecimento da racionalidade filosófico-científica, e 
todas as tentativas do ser humano de entender o mundo e si 
próprio no universo, sejam elas de tipo mágico, religioso, 
mítico, são manifestações, às vezes altamente desenvolvidas, 
de racionalidade. 
A grande contribuição dos Pré-Socráticos está na sua 
disposição de conhecer a natureza através da razão, 
enfrentado-a sem medo de contrariar os deuses, mas 
reconhecendo que se o fogo do conhecimento representado 
por Prometeu nos traz conhecimento, é somente partindo dele 
que podemos desvelar a natureza ao usar a razão. O vídeo a 
seguir faz uma breve apresentação dos principais filósofos 
Pré-Socráticos. 
Ao tentar compreender o mundo físico, o homem grego ao seu 
modo tenta compreender o seu papel nesse mundo, mesmo 
que esse papel seja apenas interpretar a natureza. Essa 
inquietação diante da natureza é a força presente na Arché, o 
princípio pelo qual tudo vem a ser e que se torna o centro de 
interesse da reflexão filosófica inicial. 
 Se o pensamento mitológico buscava uma origem para o 
mundo, os Pré-Socráticos também buscavam uma origem, no 
entanto, para isso partiram da natureza. A contribuição deles é 
motivo de orgulho para a humanidade. Fazendo uso de uma 
figura de linguagem, o que esses homens fizeram foi desenhar 
um mapa náutico, e convidar as próximas gerações a navegar 
em um oceano de mistérios e belezas. Os desafios que esses 
homens enfrentaram servem de inspiração para os desafios de 
hoje e de amanhã. O início do pensamento nos convida a 
questionar. Seu objetivo não é apenas encontrar respostas, 
mas através do seu movimento, nos levar a pensar quem 
somos nos diasde hoje. Seria essa uma tarefa fácil? Não. Mas 
quem disse que pensar de uma forma correta seria fácil?! 
Pensar é antes de tudo um desafio do homem em busca da 
sua humanidade, que por vezes parece perdida, mas está 
apenas escondida, esperando o momento oportuno para se 
afirmar. Precisamos reconhecer o valor do conhecimento e do 
pensamento, para, através dele, redescobrirmos a nossa 
humanidade.

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