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Norberto Bobbio v1

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UNIVERSIDADE PAULISTA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NORBERTO BOBBIO 
TRABALHO DE FILOSOFIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2018 
 
UNIVERSIDADE PAULISTA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NORBERTO BOBBIO 
TRABALHO DE FILOSOFIA 
 
 
 
 
 
 
NOME R.A. 
ANTÔNIO CÂNDIDO NETO D6780B6 
BRUNO FERMINO BERNARDO N247DC1 
DAVID ALMEIDA DE JESUS N3275C6 
EVELYN FORMENTI DE MATTOS D758403 
FABÍOLA DE CARVALHO GONÇALVES ROSA B47GCH1 
FABRÍCIO FERREIRA DE LIMA D5421B4 
JESSICA FATIMA TORRES N254220 
LUANA FRANÇA DE CAMARGO N292393 
LUCAS HASSAN CRIMINELLI DE OLIVEIRA D76IHJ9 
RICARDO BEZERRA DA SILVA N298EA6 
RICARDO LOPES LEME JÚNIOR N243JF4 
 
 
CURSO: DIREITO 
PERÍODO: NOTURNO 
CAMPUS: ALPHAVILLE 
SALA:66 
SUMÁRIO 
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 4 
2. PRIMEIROS ANOS .............................................................................................................................. 4 
3. TRAJETÓRIA ACADÊMICA E A DOCÊNCIA .................................................................................. 5 
4. TRAJETÓRIA POLITICA .................................................................................................................... 5 
5. PRODUÇÃO LITERÁRIA .................................................................................................................... 9 
6. TEXTO DE REFERÊNCIA ................................................................................................................. 13 
6.1. IGUALITARISMO E SEUS FUNDAMENTOS ............................................................................. 13 
6.2. IGUALITARISMO E LIBERALISMO ............................................................................................ 15 
6.3. O IDEAL DA IGUALDADE ........................................................................................................... 17 
6.4. IGUALDADE, LIBERDADE E JUSTIÇA ..................................................................................... 19 
6.5. A IGUALDADE DE TODOS .......................................................................................................... 20 
6.6. A IGUALDADE DIANTE DA LEI .................................................................................................. 20 
6.7. A IGUALDADE JURÍDICA ........................................................................................................... 21 
6.8. A IGUALDADE DAS OPORTUNIDADES ................................................................................... 21 
6.9. A IGUALDADE DE FATO ............................................................................................................. 22 
6.10. O IGUALITARISMO ...................................................................................................................... 22 
7. O ESTADO E O PODER. .................................................................................................................. 22 
7.1. TEORIAS DO PODER ................................................................................................................... 22 
7.2. AS FORMAS DO PODER E O PODER POLÍTICO .................................................................... 23 
7.3. AS TRÊS FORMAS DE PODER .................................................................................................. 24 
7.4. O PRIMADO DA POLÍTICA .......................................................................................................... 24 
8. O FUNDAMENTO DO PODER ......................................................................................................... 24 
8.1. O PROBLEMA DA LEGITIMIDADE ............................................................................................ 24 
8.2. OS VÁRIOS PRINCÍPIOS DE LEGITIMIDADE .......................................................................... 25 
8.3. LEGITIMIDADE E EFETIVIDADE ................................................................................................ 26 
9. ESTADO E DIREITO.......................................................................................................................... 26 
9.1. OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO ................................................................... 26 
9.2. O GOVERNO DAS LEIS ............................................................................................................... 27 
9.3. OS LIMITES INTERNOS ............................................................................................................... 28 
9.4. OS LIMITES EXTERNOS ............................................................................................................. 28 
10. CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 29 
11. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................. 31 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
Apresentaremos neste trabalho a trajetória de Norberto Bobbio que é 
considerado um dos maiores pensadores do século X. Bobbio foi filósofo, político, 
historiador do pensamento político, escritor e senador vitalício na Itália. Conhecido por 
sua ampla capacidade de produzir escritos concisos, lógicos e, ainda assim, densos. 
Defensor da democracia social-liberal e do positivismo legal, crítico de Marx, do 
fascismo italiano, do Bolchevismo e do primeiro-ministro Silvio Berlusconi. 
2. PRIMEIROS ANOS 
Norberto Bobbio nasceu em Turim capital de Piemonte, filho de um médico-
cirurgião, Luigi Bobbio, neto de Antônio Bobbio, professor primário, depois diretor 
escolar, católico liberal que se interessava por filosofia e colaborava, periodicamente, 
nos jornais. Viveu durante a infância e adolescência em uma família abastada, com 
criadas e motorista. Inicia-se no gosto da leitura com George Bernard Shaw, Honoré 
de Balzac, Stendhal, Percy Bysshe Shelley, Benedetto Croce, Thomas Mann e vários 
outros. Foi amigo de infância de Cesare Pavese com quem conviveu e aprendeu o 
inglês através da leitura de alguns clássicos. Lia, depois traduzia e comentava. 
Não obstante as origens abastadas e o estrato social elevado a que pertence 
por força da posição social do pai, é marcado por uma educação liberal. Diz na 
Autobiografia: "na minha família nunca tive a impressão do conflito de classe 
entre burgueses e proletários. Fomos educados a considerar todos os homens 
iguais e a pensar que não há nenhuma diferença entre quem é culto e quem não 
é culto, entre quem é rico e quem não é rico." E registra: "recordei esta educação 
para um estilo de vida democrático numa página de Direita e Esquerda em que 
confesso ter-me sentido pouco à vontade diante do espetáculo das diferenças 
entre ricos e pobres, entre quem está por cima e por debaixo na escala social, 
enquanto o populismo fascista tinha em mira arregimentar os italianos dentro 
de uma organização social que cristalizasse as desigualdades." 
Mesmo tardiamente, adquiriu consciência política, e relembra: "não foi no 
cortiço familiar que amadureci a aversão ao regime Mussoliniano. Eu fazia parte 
de uma família filofascista como de resto o era grande parte da burguesia." 
Adquire a educação política no liceu Massimo d’Azeglio, nas aulas de Augusto Monti, 
amigo de Piero Gobetti e colaborador na revista Le Revoluzioni Liberali, na 
convivência com Leone Ginzburg, judeu russo, de quem se diz impressionado por 
uma inteligência viva, um "antifascista absoluto". 
3. TRAJETÓRIA ACADÊMICA E A DOCÊNCIA 
A trajetória acadêmica de Norberto inicio em 1927, aos 18 anos, quando se 
inscreveu na faculdade de Jurisprudência da Universidade de Turim, onde podeconviver com professores notáveis que ajudaram a moldar sua personalidade. Em 
1931, licenciou-se em Jurisprudência com tese de Filosofia do Direito. 
Entre os anos de 1932 e 1933 voltou para Turim, onde se especializou em 
filosofia, defendendo a tese sobre a fenomenologia de Husserl. 
No ano de 1934 obtêm a livre docência em filosofia do direito, sendo contratado 
em 1935 pela Universidade de Camerino para lecionar sobre a filosofia do direito. Em 
1938 é convidado para lecionar na renomada Universidade de Siena. 
Alcançou em 1940 a cátedra de filosofia do direito na Faculdade de 
Jurisprudência da Universidade de Pádua. 
Em 1948 transfere-se para a Universidade de Turim, cabendo-lhe a cadeira de 
filosofia do direito. Em 1962 obtêm autorização para ministrar aulas de filosofia 
política, juntamente com filosofia de direito. Depois de 10 anos, em 1972, recebe a 
cadeira de filosofia política na Universidade de Turim. 
Ao completar 60 anos, em 1979, resolve retira-se parcialmente da atividade 
docente. 
Foi intitulado Professor benemérito (digno) da Universidade de Turim, onde deu 
aulas de Filosofia do Direito, Ciências Políticas e Filosofia da Política durante várias 
décadas, escreveu para vários jornais e revistas, incluindo o Corriere Della Sera, 
principal diário italiano. 
4. TRAJETÓRIA POLITICA 
Um apaixonado pela teoria política e pelos direitos individuais. Na Itália dos 
anos 1940, mergulhada na Segunda Grande Guerra Mundial (1939-1945), Bobbio fez 
parte do movimento da Resistência: ligou-se a grupos liberais e socialistas que 
combatiam a ditadura do fascismo. Para quem não sabe, o movimento fascista foi 
fundado por Benito Mussolini, em 1922 e se baseava na crença de superioridade de 
uma "raça" sobre as demais, além de governar autoritariamente com um regime 
baseado na perda das liberdades individuais e na violência. Por suas ideias, o filósofo 
foi preso duas vezes, em 1942 e em 1944 - no intervalo entre as duas prisões, casou-
se com Valeria Cova. O casal teria três filhos e viveria junto por quase 60 anos. 
Um dos ensinamentos mais preciosos de Norberto Bobbio no campo da teoria 
política é saber ouvir as lições dos clássicos . Essas lições permitem estudar os temas 
recorrentes que se colocam em relação aos grandes problemas, igualmente 
recorrentes, da reflexão política. O estudo desses temas, que atravessam toda a 
história do pensamento político, tem como função, segundo Bobbio, “individuar 
certas categorias que permitem fixar em conceitos gerais os fenômenos que 
passam a fazer parte do universo político”. A primeira função, portanto, é a de 
determinar os conceitos políticos fundamentais, enquanto a segunda consiste em 
estabelecer entre as diversas teorias políticas, de diferentes épocas, as possíveis 
afinidades e diferenças. 
E, no entanto, que confere a um autor a qualidade de clássico? Para Bobbio, 
clássico é o autor que ao mesmo tempo é “intérprete autêntico de seu próprio 
tempo”, “sempre atual, de modo que cada época, ou mesmo cada geração, sinta 
a necessidade de relê-lo e, relendo-o, de reinterpretá-lo” e que tenha construído 
“teorias-modelo das quais nos servimos continuamente para compreender a 
realidade”. Como aponta Michelangelo Bovero, essa definição levanta problemas ao 
intérprete, pois como é possível que a obra de um intérprete autêntico de seu próprio 
tempo possa ser reinterpretada continuamente? A resposta parece estar na seguinte 
afirmação de Bobbio: “No estudo dos autores do passado, jamais fui 
particularmente atraído pela miragem do chamado enquadramento histórico, 
que eleva fontes a precedentes, as ocasiões e condições, detém-se por vezes 
nos detalhes até perder o ponto de vista do todo: dediquei-me, ao contrário, com 
particular interesse, ao delineamento de temas fundamentais, ao 
esclarecimento dos conceitos, à análise dos argumentos, à reconstrução do 
sistema”. O que interessa identificar nos clássicos não é tanto seu significado 
histórico, mas sim, nas palavras de Bobbio, “hipóteses de pesquisa, temas para 
reflexão, ideias gerais”. 
Os autores clássicos para Bobbio, em sua análise da teoria política, são, 
principalmente, Emanuel Kant (1724-1804), Karl Marx (1818-1883) e Max Weber 
(1864-1920). Kant é um autor frequente na obra de Bobbio, tanto assim que lhe 
dedicou um de seus livros, Direito e Estado no pensamento de Emanuel Kant. Para 
esse autor, o tema recorrente do pensamento político é o da liberdade, ou melhor, das 
duas liberdades, como diria Bobbio: “O primeiro significado é aquele recorrente na 
doutrina liberal clássica, segundo a qual ‘ser livre’ significa gozar de uma esfera 
de ação, mais ou menos ampla, não controlada pelos órgãos do poder estatal; 
o segundo significado é aquele utilizado pela doutrina democrática, segundo a 
qual ‘ser livre’ não significa não haver leis, mas criar leis para si mesmo”. No 
que se refere a Marx, confrontando sua teoria política com a dos autores que são 
considerados unanimemente como clássicos do pensamento político, de Platão a 
Hegel, e procedendo por meio de comparações por afinidades e diferenças, Bobbio 
demonstra a “reviravolta radical que Marx operou sobre a tradição apologética 
do Estado” na medida em que, para ele, o Estado deixa de ser o reino da razão e do 
bem-comum para ser considerado o reino da força e do interesse daqueles que detêm 
o poder. O terceiro autor, tido por Bobbio como “o último dos clássicos”, é Max Weber, 
cujas expressões “passaram a fazer parte definitivamente do patrimônio 
conceitual das ciências sociais”. No campo da teoria política, Bobbio considera que 
nenhum estudioso do século 20 contribuiu de forma tão significativa como Weber para 
o enriquecimento do léxico técnico da linguagem pertinente a esse campo. Dentre as 
expressões herdadas deste autor, Bobbio lembra algumas que, pela sua reconhecida 
importância, dispensam maiores comentários: poder tradicional e carisma, poder legal 
e poder racional, direito formal e direito material, monopólio da força, ética da 
convicção e ética da responsabilidade. 
A pergunta fundamental que se coloca relativamente ao trabalho que Bobbio 
elabora, a partir dos temas recorrentes e das lições dos clássicos, diz respeito, a 
saber, qual seria o tipo de filosofia política desenvolvida por ele. Inserida nessa 
indagação está à questão de sua visão acerca da relação existente entre fato e valor 
e da adoção de uma teoria descritiva ou prescritiva. Segundo Bobbio, existem quatro 
significados possíveis para a noção de filosofia política, que correspondem a quatro 
tipos de investigação. 
• A primeira consistiria na ideia da filosofia política como busca da melhor 
forma de governo ou da ótima República; 
• A segunda, da investigação do fundamento do Estado, com a 
consequente justificação ou injustificação da obrigação política, ou seja, 
da legitimidade do poder político; 
• A terceira tipo é aquele que visa à determinação do conceito geral de 
política, ou da essência da categoria do político, seja por meio da 
“autonomia da política” em relação à moral, seja por meio da delimitação 
de seu campo em relação à economia ou ao direito; 
• A quarta concepção parte da ideia da filosofia como meta-ciência, de 
modo que a filosofia política teria como tarefa a investigação dos 
pressupostos e das condições da validade da ciência e a análise da 
linguagem política. 
Para Bobbio, a terceira definição seria a mais apropriada para sua teoria 
política. No entanto, se partirmos dessa hipótese, o problema que teremos de 
enfrentar diz respeito à inexistência, em uma teoria assim considerada, de uma 
dimensão valorativa presente nos dois primeiros tipos. Como bem ponderou Bobbio, 
porém, “não há teoria tão asséptica que não permita entrever elementosideológicos que nenhuma pureza metodológica pode eliminar totalmente”. 
Bobbio parece então oscilar entre uma filosofia política puramente cognoscitiva e uma 
filosofia propositiva, mas, na verdade, apresenta em sua obra as duas dimensões. 
Apontando os temas reincidentes nas lições dos clássicos e suas teorias, 
Bobbio nos faz perceber certa continuidade na história, continuidade essa que diz 
respeito também aos problemas enfrentados por essas diversas teorias. A recorrência 
de problemas, de enfoques e de soluções parece marcar toda a história do 
pensamento político. Isso não quer dizer que em alguns momentos Bobbio 
desconheça haver certas “guinadas” na História, como a “revolução copernicana” 
decorrente da afirmação do primado dos direitos sobre os deveres, que a temática 
dos direitos humanos propiciou. Assumindo, portanto, a ideia dessa continuidade, 
podemos pensar nas questões referentes ao chamado “fim da história” e à 
possibilidade de encontrar-lhe um sentido. Como apontado por Bobbio em sua 
autobiografia Diário de um século, “a história humana não apenas não acabou 
como anunciou há alguns anos um historiador americano, mas, talvez, a julgar 
pelo progresso técnico-científico que está transformando radicalmente as 
possibilidades de comunicação entre todos os homens vivos, esteja apenas 
começando. É difícil afirmar, contudo, que direção esteja destinada a seguir”. 
Ainda a respeito do sentido da História, afirma: “Não tiro conclusão alguma acerca 
do sentido da História, que, não tenho vergonha de declarar, ignoro qual seja. 
Tenho apenas a sombria impressão de que ninguém ainda a captou”. De toda 
forma, fica evidente que, para Bobbio, a História não acabou e que, se ela tem um 
sentido, ninguém ainda foi capaz de dizer qual é. Visão realista, sim, mas não 
pessimista ou ingenuamente otimista. 
O pensador se auto definia como um militante da razão. Costumava dizer que 
embora o homem moderno tenha desvendado milhões de coisas que eram 
desconhecidas dos antigos, o mundo de hoje é cada vez mais incompreensível, 
menos transparente. Bobbio sempre defendeu o individualismo diante do Estado. Isso 
significa que ele acreditou e lutou contra as ditaduras, para que a liberdade de cada 
pessoa tivesse mais valor que a autoridade do governo de qualquer país quando esta 
é excessiva. Por esse motivo, considerava a criação dos tribunais para julgar crimes 
de guerra a maior conquista do seu século. 
A decisão de não concorrer a cargos na política de seu país não impediu Bobbio 
de influenciá-la ativamente, sempre presente e participante, o filósofo foi um ponto de 
referência no debate intelectual e político de seu tempo - e continua a ser para todos 
que defendem a democracia. Autor de mais de vinte obras, foi nomeado senador 
vitalício pelo presidente italiano Pertini, em 1984, que escreveu a Valéria: "Diga a ele 
que suas ideias são iguais às minhas “. 
5. PRODUÇÃO LITERÁRIA 
Ao longo da carreira, Norberto Bobbio escreveu ensaios, artigos para várias 
revistas e jornais, inclusive para o Corriere della Sera. Escreveu diversos livros, entre 
eles, “Teoria da Ciência Jurídica” (1950), “Política e Cultura” (1955), que vendeu mais 
de 300 mil cópias só na Itália e foi traduzido para diversos países, “Teoria das Formas 
de Governo” (1976), “Qual Socialismo?” (1976), “As Ideologias e o Poder em Crise” 
(1981), “O Futuro da Democracia” (1986) e as obras-primas da literatura moral e 
autobiográfica: “Tempo de Memória” (1996) e “Elogio da Serenidade” (1997). 
Sua vasta obra estuda a filosofia do direito, a ética, a filosofia política e a história 
das ideias. Nela se discutem as ligações entre razões de Estado e democracia, além 
de temas fundamentais, como a tolerância, relacionada ao preconceito, ao racismo e 
à questão da imigração na Europa atual, obrigada a conviver com diferentes crenças 
religiosas e políticas. Bobbio acreditava que a democracia precisa de cidadãos 
comprometidos com o combate a todo tipo de preconceito e com a prática diária da 
tolerância. A ética é apontada pelo intelectual italiano como um requisito indispensável 
para uma saudável relação entre a moral e a política. A ética é um ramo da filosofia 
que estuda a natureza do que se considera ser o bem, adequado e moralmente 
correto. O jornal francês "Le Monde" chamou Bobbio de "mâitre-à-penser" (mestre do 
pensamento) do século 20, no mesmo patamar de Raymond Aron e Jean Paul Sartre. 
Mas ele não fazia questão de ser chamado de ateu (que não crê em Deus), como 
muitos dos intelectuais. Costumava dizer que havia se afastado da igreja, não da 
religião. 
Em uma entrevista concedida em abril de 2000, ao jornal italiano "La 
Repubblica", o filósofo disse: "Quando sinto ter chegado ao fim da vida sem ter 
encontrado uma resposta às perguntas últimas, a minha inteligência fica 
humilhada, e eu e eu aceito esta humilhação, aceito-a e não procuro fugir desta 
humilhação com a fé, por meio de caminhos que não consigo percorrer. 
Continuo a ser homem, com minha razão limitada e humilhada: sei que não sei. 
Isso eu chamo de minha religiosidade". Bobbio morreu como viveu, com grande 
dignidade, instruindo os médicos a não intervir para tentar prolongar sua vida. 
Em sua obra “Teoria da norma jurídica”, Bobbio faz um panorama e uma crítica 
das diversas teorias que pretendem entender o conceito de direito, concluindo que, 
embora as teorias se integrem, a teoria normativista prevalece no sentido de constituir 
pressuposto de validade para as outras. 
Bobbio vislumbra três formas de valoração da norma jurídica, de acordo com 
três critérios distintos para investigação do objeto que, conforme a perspectiva que se 
adote, apontando caminhos de análise diferentes. 
A primeira forma de valoração é se a norma é vista pelo aspecto do justo, 
identificando o valor e o fim. O segundo aspecto que prevalece é o da validade, assim, 
a análise fica a cargo da Teoria Geral do Direito. E, finalmente, ele se questiona se a 
eficácia da norma é preocupação da investigação, dizendo que o campo de 
investigação é o da Sociologia Jurídica. 
Nos capítulos terceiro e quarto Bobbio se dedica ao estudo da estrutura da 
norma jurídica, buscando nos fundamentos da linguística, os instrumentos para 
entender a norma como proposição prescritiva, um fazer-fazer. 
No quinto capítulo, a preocupação de Bobbio está em distinguir as normas 
jurídicas das normas morais e sociais, chegando à conclusão de que o critério de 
distinção entre as normas é a resposta à violação. Em outras palavras, a diferença 
entre as normas está na sanção que o indivíduo que violou a prescrição deverá 
receber. 
Como ele afirma, é da natureza de toda prescrição ser violada, enquanto 
exprime não o que é, mas o que “deve ser”. Assim, se a possibilidade de transgressão 
da prescrição é esperada, faz-se necessária a criação de um mecanismo que elimine 
ou minimize as consequências danosas da violação. Esse mecanismo é a sanção, e 
a diferença entre as normas está na natureza dela. 
Ao tratar da sanção, Bobbio diferencia a sanção moral (que é puramente 
interior, caracterizada pelo arrependimento e remorso, e que possui pouca eficácia 
porque apenas os sujeitos que respeitam a norma moral podem sentir qualquer 
insatisfação ao desrespeitá-la), da sanção social (caracterizada como externa, pois 
quem a aplica é o grupo social e pode ser, de acordo com a gravidade, reprovação, 
eliminação, isolamento, expulsão ou até mesmo linchamento, padecendo da falta de 
proporção entre violação e resposta, o que significa que um mesmo ato pode ter 
punição diferente conforme a circunstância ou humor do grupo social). 
A sanção também sofre de incerteza e inconstância na sua aplicação, pois se 
é o grupo social quem pune,por vezes em razão de comportamentos hipócritas, pode 
não querer aplicar a sanção a determinado indivíduo ou a uma violação específica, ou 
seja, a sanção social não é institucionalizada, sua aplicação é variável. 
A sanção jurídica, por sua vez, é externa e institucionalizada, ou seja, distingue-
se respectivamente das sanções morais e sociais. Além disso, ela é regulamentada, 
tanto em sua medida quanto em sua forma de aplicação, e está a cargo de órgãos 
institucionalizados da sociedade. 
Para Bobbio, é o ordenamento, enquanto conjunto de normas, que impõe a 
qualidade da norma. Assim, a norma será jurídica se pertencer ao ordenamento 
jurídico, pois é este que determina a sanção. Isto significa que, verificada a violação 
de determinada norma, o ordenamento ao qual ela pertence indicará a sanção 
aplicável. E tanto mais força terá quanto maior for sua eficácia. 
No último capítulo, Bobbio pretende classificar as normas jurídicas. Para isso, 
elege como critério a estrutura lógica das proposições prescritivas, ou seja, a 
indicação do destinatário da prescrição e a ação prescrita. 
Quanto ao destinatário, a prescrição pode ser geral ou individual, e quanto à 
ação prescrita, abstrata ou concreta. Dessa forma, as normas jurídicas podem ser 
gerais se dirigidas a uma classe de pessoas, a vários destinatários. Serão abstratas, 
se universais a respeito do comportamento. Individuais, se restringirem o seu 
destinatário (como as sentenças). E, concretas, se regularem uma ação particular. 
De forma geral, o direito, como uma das partes do sistema social, é considerado 
por Bobbio em função do todo, detendo uma função positiva primária, já que é 
instrumento de conservação por excelência, apesar de poder mudar a ordem vigente, 
adaptando-a às mudanças sociais. E sua função deve ser distributiva, conferindo a 
membros do grupo social recursos econômicos e não-econômicos. 
Como vimos, Bobbio simplifica o conceito de Direito ao dizer que a norma 
jurídica é aquela cuja execução é garantida por sanção externa e institucionalizada. A 
existência do Direito pressupõe um sistema normativo composto por três tipos básicos 
de norma: as que permitem determinada conduta, as que proíbem e as que obrigam 
determinada conduta. 
Bobbio define norma jurídica como aquela cuja execução é garantida por uma 
sanção externa e institucionalizada, devendo obedecer a uma série de requisitos: 
validade, vigência, eficácia e vigor. 
Ao definir o direito através da noção de sanção organizada e institucionalizada, 
distinta das sanções morais e sociais, Bobbio pressupõe um complexo orgânico de 
normas que forma o ordenamento jurídico. 
Outro tema que lhe é muito caro e de suma importância, é a sua dedicação à 
análise dos direitos humanos. Num texto intitulado “Sobre os fundamentos dos direitos 
do homem”, Bobbio discute a questão da definição e dos fundamentos dos direitos do 
homem, dizendo tratar-se de direitos históricos, pertencentes a uma época e lugar, 
nascidos em certas circunstâncias, de modo gradual, “não todos de uma vez e nem 
de uma vez por todas”, como ele diz. 
Para ele os direitos do homem constituem uma classe variável, como a história 
dos últimos séculos demonstra, pois o elenco de direitos do homem se modificou, e 
continua a se modificar, com a mudança das condições históricas. Portanto, além de 
mal definível e variável, a classe de direitos do homem é também heterogênea. 
Bobbio traz pelo menos três teses básicas ao tratar dos direitos do homem: 
a. Os direitos naturais são direitos históricos; 
b. Nascem no início da era moderna, juntamente com a concepção 
individualista da sociedade; 
c. Tornam- se um dos principais indicadores do progresso histórico. 
Já sobre a questão dos fundamentos dos direitos do homem, Bobbio é claro na 
medida em que se posiciona asseverando que não há um fundamento absoluto. São 
direitos que variam conforme a época e a cultura. Prova de que não são direitos 
fundamentais por natureza. 
De tempos em tempos vai se ampliando o rol de direitos, o que impossibilita 
atribuir fundamento absoluto a direitos historicamente relativos. Assim, Bobbio diz que 
não se deveria falar em fundamento dos direitos do homem e sim em fundamentos, 
de diversos fundamentos conforme o direito cujas boas razões se deseja defender. 
Bobbio ainda afirma que o problema fundamental em relação aos direitos do homem 
hoje, não é tanto o de justificá-los, mas o de protegê-los. Trata-se de um problema 
não filosófico, mas político. 
Para Bobbio, a efetivação da maior proteção dos direitos do homem está ligada 
ao desenvolvimento global da civilização humana, que ao mesmo tempo não pode ser 
tratada de forma isolada, sob pena de nem sequer compreender o problema em sua 
real dimensão. 
6. TEXTO DE REFERÊNCIA 
6.1. IGUALITARISMO E SEUS FUNDAMENTOS 
O igualitarismo e seu fundamento se é verdade que, historicamente, o ponto de 
partida das doutrinas igualitárias é sobretudo a consideração da natureza comum dos 
homens, esse ponto de partida não é logicamente suficiente para justificar o princípio 
fundamental do igualitarismo, segundo o qual todos ou quase todos os homens devem 
ser tratados de modo igual em todos ou quase todos os bens desejáveis. Mesmo 
admitindo-se que seja factualmente verdadeiro que todos os homens são, pelo menos 
como genus, mais iguais do que desiguais, se comparados a outra espécie de seres 
vivos, disso não decorre, pela inderivabilidade de uma proposição normativa de uma 
proposição descritiva , que todos os homens devam ser tratados de modo igual. 
Esse princípio ético fundamental não deriva da pura e simples constatação de 
que homens são de fato, pelo menos como genus, iguais, mas da avaliação positiva 
deste fato, ou seja, do seguinte juízo de valor: "a igualdade (a maior igualdade 
possível) entre os homens é desejável." A prova disso é que uma doutrina não 
igualitária, como a hobbesiana que considera como finalidade suprema dos 
homens que vivem em sociedade não a maior igualdade possível, mas 
exclusivamente a paz social, e funda essa última na renúncia à igualdade natural 
e na constituição de um ordenamento no qual é traçada uma nítida linha de 
demarcação entre os que têm o dever de mandar e os que só têm o direito de 
obedecer -, parte da constatação de que, em estado de natureza, os homens são 
iguais. Mas, diferentemente dos teóricos do igualitarismo, Hobbes não formula sobre 
a igualdade natural um juízo de valor positivo; ao contrário, considera a igualdade 
material dos homens, tal como se verifica no estado de natureza, uma das causas do 
velum ominam contra omnes, que torna intolerável a permanência naquele estado e 
obriga os homens a criarem a sociedade civil. 
A maior parte dos teóricos do igualitarismo e Hobbes partem da mesma 
verdade factual, mas chegam a consequências práticas opostas, já que avaliam de 
modo oposto essa mesma realidade de fato. As consequências práticas opostas 
derivam não de uma constatação, mas de uma avaliação. A rigor, a constatação da 
igualdade natural dos homens não apenas não é suficiente para fundamentar o 
igualitarismo, mas nem mesmo é necessária. Pode-se perfeitamente considerar a 
máxima igualdade como um bem digno de ser perseguido, sem para tanto tomar como 
ponto de partida a constatação de uma igualdade natural, primitiva ou originária dos 
homens. O marxismo é uma doutrina igualitária, que abandonou completamente os 
pressupostos naturalistas das formas mais ingênuas de socialismo: a proposição 
normativa a igualdade é um bem digno de ser perseguido não deriva sub-
repticiamente, nesse caso, do juízo de fato os homens nasceram ou são por 
natureza iguais,mas do juízo de valor a desigualdade é um mal, ou seja, bem 
entendido, aquela desigualdade que se pode observar na história concreta dos 
homens, que é a história de sociedades divididas em classes antagônicas e, por 
isso, profundamente desiguais. Ainda que numa forma extremamente simplificada, o 
procedimento mental que preside a constituição de uma teoria como esta é o completo 
oposto do procedimento hobbesiano: para Hobbes, os homens são de fato iguais, mas 
devem ser desiguais; para os teóricos do socialismo científico, os homens até agora 
foram de fato desiguais, mas devem ser iguais. Tal como as doutrinas igualitárias, 
também as doutrinas não-igualitárias pressupõem não tanto a consideração da 
fundamental e insuperável desigualdade humana, mas a avaliação positiva dessa 
ou daquela forma de desigualdade, seja entre indivíduos mais ou menos dotados 
pela natureza em força física, inteligência ou habilidade' seja entre raças, estirpes 
ou nações; elas pressupõem, em outras palavras, um juízo de valor oposto ao das 
doutrinas igualitárias, ou seja, o juízo segundo o qual essa ou aquela forma de 
desigualdade é favorável ou mesmo necessária ao melhor ordenamento social ou ao 
progresso da civilização e, portanto, a ordem social deve respeitar e não abolir as 
desigualdades entre os homens, ou, pelo menos, aquelas desigualdades que são 
consideradas social e politicamente úteis ao progresso social. Já que as sociedades 
até hoje existentes são de fato sociedades de desiguais, as doutrinas não igualitárias 
representam habitualmente a tendência a conservar o estado de coisas existente: são 
doutrinas conservadoras. 
As doutrinas igualitárias, ao contrário, representam habitualmente a tendência 
a modificar o estado de fato: são doutrinas reformadoras. Quando, além do mais, a 
valorização das desigualdades chega ao ponto de desejar e promover o 
restabelecimento de desigualdades agora canceladas, o não-igualitarismo se torna 
reacionário; ao contrário, o igualitarismo torna-se revolucionário quando projeta o salto 
qualitativo de uma sociedade de desiguais, tal como até agora existiu, para uma futura 
sociedade de iguais 
6.2. IGUALITARISMO E LIBERALISMO 
Igualitarismo e liberalismo enquanto igualitarismo e não-igualitarismo são 
totalmente antitéticos, igualitarismo e liberalismo são apenas parcialmente antitéticos, 
o que não anula o fato de que, historicamente, tenham sido geralmente considerados 
como doutrinas antagônicas e alternativas. O não-igualitarismo nega a máxima do 
igualitarismo, segundo a qual todos os homens devem ser iguais em tudo, com 
relação à totalidade dos sujeitos, afirmando, ao contrário, que somente alguns 
homens são iguais, ou, no limite, que nenhum homem é igual a outro; já o liberamos 
nega a mesma machuca não com relação à totalidade dos sujeitos, mas à 
totalidade (ou quase totalidade) dos bens e dos males com relação aos quais os 
homens deveriam ser iguais, ou seja, admite a igualdade de todos não em tudo (ou 
quase tudo), mas somente em algo, um algo constituído, habitualmente, pelos 
chamados direitos fundamentais, ou naturais, ou, como hoje se diz, humanos. Esses 
direitos não são mais do que as várias formas de liberdade pessoal, civil e política, 
enumeradas progressivamente pelas várias Constituições dos Estados nacionais 
desde o final do século XVIII até hoje, e reconfirmadas, depois da Segunda Guerra 
Mundial, em documentos internacionais, tais como a Declaração Universal dos 
Direitos do Homem (1948) e a Convenção Europeia dos Direitos do Homem (1950). 
O ideal do Estado liberal, tal como foi paradigmaticamente expresso por Kant, é o 
ideal de um Estado no qual todos os cidadãos gozam de uma igual liberdade, isto é, 
são igualmente livres, ou iguais nos direitos de liberdade. Todavia, o liberalismo é 
uma doutrina só parcialmente igualitária: entre as liberdades protegidas inclui-se 
também, em geral, a liberdade de possuir e de acumular, sem limites e a título 
privado, bens econômicos, assim como a liberdade de empreender operações 
econômicas (a chamada liberdade de iniciativa econômica), liberdades das quais se 
originaram e continuam a se originar as grandes desigualdades sociais nas 
sociedades capitalistas mais avançadas e entre as sociedades economicamente 
mais desenvolvidas e as do Terceiro Mundo. As doutrinas igualitárias, de resto, 
sempre acusaram o liberalismo de ser defensor e protetor de uma Sociedade 
econômica e, portanto, também politicamente não-igualitária; para Marx, a igualdade 
jurídica de todos os cidadãos sem distinções de estamento, proclamada pela 
Revolução Francesa, não passou, na realidade, de um instrumento de que se serviu 
a classe burguesa com o objetivo de liberar e tornar disponível a força de trabalho 
necessária ao desenvolvimento do capitalismo nascente, através da ficção útil de um 
contrato voluntário entre indivíduos igualmente livres. Da crítica das doutrinas 
igualitárias contra a concepção e a prática liberal do Estado é que nasceram as 
exigências de direitos sociais, que transformaram profundamente o sistema de 
relações entre o indivíduo e o Estado e a própria organização do Estado, até mesmo 
nos regimes que se consideram continuadores, sem alterações bruscas, da tradição 
liberal do século XIX. Por outro lado, os liberais sempre acusaram os igualitários de 
sacrificar a liberdade individual, que se alimenta da diversidade das capacidades e 
das aptidões, à uniformidade e ao nivelamento impostos pela necessidade de 
fazer com que os indivíduos associados sejam tão semelhantes quanto possível: 
na tradição do pensamento liberal, o igualitarismo torna-se sinônimo de 
achatamento das aspirações, de compressão forçada dos talentos, de nivelamento 
improdutivo das forças motrizes da sociedade. Liberalismo e igualitarismo deitam 
suas raízes em concepções da sociedade profundamente diversas: individualista, 
conflitualista e pluralista, no caso do liberalismo; totalizante, harmônica e monista, no 
caso· do igualitarismo. Para o liberal, a finalidade principal é a expansão da 
personalidade individual, abstratamente considerada como um valor em si; para o 
igualitário, essa finalidade é o desenvolvimento harmonioso da comunidade. E 
diversos são também os modos de conceber a natureza e as tarefas do Estado: 
limitado e garantista, o Estado liberal; intervencionista e dirigista, o Estado dos 
igualitários. Essa diversidade, contudo, não exclui a proposta de sínteses teóricas e 
soluções práticas de compromisso entre liberdade e igualdade, na medida em que 
esses dois valores fundamentais juntamente com a ordem) de toda convivência 
civilizada são considerados como sendo não apenas antinômicos, mas também 
parcialmente complementares. A Constituição italiana, para citar uma entre muitas, 
estabelece em seu art. 3º, § 2º, que é tarefa da República remover os obstáculos de 
ordem econômica e social que, limitando de fato a liberdade e a igualdade dos 
cidadãos, impedem o pleno desenvolvimento da pessoa e a efetiva participação de 
todos os trabalhadores na organização política, econômica e social do país. Mesmo 
levando-se na devida conta a imensa distância que existe entre declarações solenes 
desse tipo e a realidade de fato, é significativo que liberdade e igualdade sejam 
consideradas, no mesmo texto, como bens indivisíveis e solidários entre si. 
6.3. O IDEAL DA IGUALDADE 
A tendência no sentido de uma igualdade cada vez maior, como já havia 
observado ou temido Tocqueville no século XIX, é irresistível: o igualitarismo, apesarda aversão e da dura resistência que suscita em cada reviravolta da história, é uma 
das grandes molas do desenvolvimento histórico. A igualdade entendida como 
equalização dos diferentes é um ideal permanente e perene dos homens vivendo em 
sociedade. Toda superação dessa ou daquela discriminação é interpretada como 
uma etapa do progresso da civilização. Jamais como em nossa época foram postas 
em discussão as três fontes principais de desigualdade entre os homens: a raça (ou, 
de modo mais geral, a participação num grupo étnico ou nacional), o sexo e a classe 
social. Depois da tragédia do racismo hitleriano e quase como uma desforra contra as 
abominações que ele praticou, a opinião pública mundial reesperou para o apelo 
daquele grande movimento rumo à igualdade que é a superação do ódio e da 
discriminação raciais. O racismo está se tornando cada vez mais, para quem o exerce 
ou apenas o tolera, uma marca de infâmia. N nenhum auditório estudantil no mundo 
poderia hoje escutar sem revolta a lição sobre o homem negro (o homem natural em 
sua total barbárie e desregramento) que Hegel, o grande Hegel, ministrava de sua 
cátedra em Berlim. Como já se observou várias vezes, a revolução silenciosa de 
nosso tempo, a primeira revolução incruenta da história, é a que conduz à lenta mas 
inexorável atenuação, até a total eliminação, da discriminação entre os sexos: a 
equiparação das mulheres aos homens, primeiro na mais restrita sociedade familiar, 
depois na mais ampla sociedade civil, através da igualdade em grande parte exigida 
e em parte (ainda que em pequena parte) já conquistada nas relações econômicas e 
políticas, é um dos sinais mais seguros e encorajadores da marcha da história 
humana no sentido da equalização dos desiguais. Há mais de um século a ideia 
comunista atua na direção da luta contra a desigualdade das classes sociais, 
considerada como a fonte de todas as outras desigualdades, rumo à meta última da 
sociedade sem classes, uma sociedade na qual o livre desenvolvimento de cada um 
seja a condição para o livre desenvolvimento de todos. Tal como a liberdade, também 
a igualdade aparece cada vez mais como um 'tão. Como 'tão e, ao mesmo tempo, 
como retorno à origem, ao estado de natureza dos jusnaturalistas, ou, ainda mais 
remotamente à idade de ouro, ao reino de Saturno, rei tão justo que sob o reinado não 
haveria nem escravos nem propriedade privada, mas todas as coisas pertenciam a 
todos sem divisões, como se todos os homens tivessem um só patrimônio. 
E mais do que a liberdade, é a igualdade precisamente a igualdade 
substancial, a igualdade dos éguas 't' d litros que forma o traço comum e caratês ICO 
as cidades ideais dos utópicos (assim como uma feroz e inflexível desigualdade 
é o signo da advertência e da premonição das utopias negativas de nosso tempo), 
tanto daquela de Thomas More, que escreve que enquanto ela [a propriedade] 
perdurar, pesará sempre sobre a parcela amplamente majoritária e melhor da 
humanidade o fardo angustiante e inevitável da pobreza e das desventuras, como 
daquela de Tomas Campa-nela, cuja Cidade do Sol é habitada por filósofos que 
resolvem viver filosoficamente em comum. Inspira tanto as visões milenaristas das 
seitas heréticas que lutam pelo advento do Reino de Deus, que será o reino da 
fraternidade universal, quanto os ideais sociais das revoltas camponesas, nas quais 
Thomas Manzer -que, segundo Melanchton, ao ensinar que todos os bens deviam ser 
possuídos em comum, tornara a massa tão selvagem que não queria mais trabalhar 
-se liga a Gerard Winstanleyíta, que pregava: o governo do rei é o governo dos 
escribas e dos fariseus, que só se consideram livres se são donos da terra e dos 
seus irmãos; mas o governo republicano é o governo da justiça e da paz, que não 
faz distinção entre as pessoas. Constitui o nervo do pensamento social dos 
socialistas utópicos, desde o Código da natureza de Marly até a sociedade da grande 
harmonia de Fourier. Anima, agita e torna temível o pensamento revolucionário de 
Babel: somos todos iguais, não é verdade? Este princípio é inconteste; pois, a não 
ser que se esteja louco, não se pode dizer seriamente que é noite quando é dia. 
Então, pretendemos viver e morrer iguais como nascemos: queremos. A igualdade 
efetiva ou a morte. Do pensamento utópico ao pensamento revolucionário, o 
igualitarismo percorreu um longo trecho do caminho: contudo, a distância entre a 
aspiração e a realidade sempre foi continua a ser tão grande que, olhando para o lado 
e para trás, qualquer pessoa sensata deve não só duvidar seriamente de que ela 
possa um dia ser inteiramente superada, mas também indagar se é razoável propor 
essa superação. 
6.4. IGUALDADE, LIBERDADE E JUSTIÇA 
Essa obra de Bobbio é considerada um clássico jurídico, pelo fato de tratar de 
dois dos preceitos que podem servir de base para a edificação de um regime político 
e social, e que portanto têm intrínseca relação com o ordenamento jurídico de cada 
país, principalmente nos capítulos constitucionais relativos ao direito e garantias 
individuais (comumente considerado os mais importantes de cada constituição, a qual 
por sua vez é a lei mais importante de cada país, e são elevados inclusive, a categoria 
de clausuras pétreas). 
No primeiro capítulo de sua obra, do título sobre a igualdade, essa é a 
conceituada como sendo uma aspiração permanente de homens que vivam em 
sociedade, como sendo um valor de convivência ordenada, feliz e civilizada, podendo 
ser desejada em companhia da liberdade. Para Bobbio, a forma mínima de se 
empregar o conceito de igualdade é no sentido de totalidade, como fazem as 
ideologias igualitárias ao defenderem a igualdade entre a humanidade, diversamente 
do que ocorre com as ideologias libertárias (de matriz individualista, para as quais a 
sociedade é meramente um agregado de indivíduos). Conclui-se então que a 
liberdade é predicativa de um ente e igualdade, modo de estabelecer determinado tipo 
de relação entre componentes de uma totalidade. 
Após conceituação inicial de Bobbio, vê-se que os modelos políticos de busca 
dos valores de liberdade e igualdade irão operar sob diferentes instâncias do corpo 
social para atingir os fins a que se dispõe. Bobbio diz também que caso o sistema 
político, moldado pela ideologia política dominante na população, opte pela 
valorização da igualdade, as políticas públicas e leis terão de abranger o conjunto da 
sociedade terão de visar uma parte da sociedade, a menos desfavorecida, para que 
tal desfavorecimento fosse sanado e que a igualdade fosse restaurada. 
Já no âmbito de igualdade e justiça, diz nesse sentido a relação de igualdade 
seria desejável por ser considerada justa e por visar a harmonização das partes 
integrantes de um todo, para qual todo adquira durabilidade. Na síntese de Bobbio, 
seria a liberdade um valor do indivíduo em face do todo (um bem individual) e a justiça 
um bem do todo enquanto soma das partes (um bem social). 
6.5. A IGUALDADE DE TODOS 
Uma das políticas que possui maior valor emotivo é a que define a igualdade 
de todos os homens, com o uso do argumento de que todos os homens são ou 
nascem iguais. Esse pensamento aparece diversas vezes no pensamento político 
ocidental. Contudo, o conceito de igualdade a todos é contrariado a partir do momento 
que poucos desfrutam de bens e direitos dos quais os demais são privados. 
A ideia de que todos são iguais não deve ser interpretada com a exigência de 
que todos os homens sejam iguais em tudo, mas com a ideia de que todos devem ser 
tratados como iguais e vistos como iguais com relação as qualidades do homem comoo uso da razão, a capacidade jurídica, a capacidade de possuir, a dignidade social 
etc. 
6.6. A IGUALDADE DIANTE DA LEI 
O conceito de ISONOMIA, do pensamento político grego, aparece nas 
seguintes palavras de Eurípedes (poeta grego): nada é mais funesto para uma cidade 
do que um tirano. Esse conceito define o princípio de que todos são iguais perante a 
lei, ou seja, quando existem leis escritas, o pobre e o rico tem direitos iguais. Contudo, 
esse conceito de que todos iguais perante a lei não é de modo algum claro, tendo em 
vista que dentro do campo jurídico os cidadãos são divididos em categorias jurídicas 
diversas e distintas, dispostas numa ordem hierárquica, onde os superiores tem 
privilégios que os inferiores não tem. Esse princípio tem alguns significados históricos, 
como na passagem do Estado estamental para o Estado liberal burguês esse 
significado é nítido para quem examinar a diferença entre o Código prussiano de 1794, 
que contempla três estamentos em que se divide a sociedade civil (camponeses, 
burgueses e nobreza), e o Código napoleônico de 1804, onde só existem cidadãos, 
tendo em vista que ele era imperador sendo a única autoridade que prevalece aos 
demais naquele período. 
6.7. A IGUALDADE JURÍDICA 
É necessário distinguir a igualdade perante a lei da igualdade de direito, da 
igualdade nos direitos e da igualdade jurídica: 
A igualdade de direito, corresponde quase sempre à contraposição entre 
igualdade formal e igualdade substancial; 
A igualdade nos direitos significa o igual gozo, por parte dos cidadãos, de 
alguns direitos fundamentais constitucionalmente assegurados, como são 
assegurados em algumas formulações célebres: Declaração de Direitos do Homem e 
do Cidadão, 1789; Declaração Universal dos Direitos do Homem, 1984; 
A Igualdade perante a lei é apenas uma forma específica da igualdade de 
direito ou dos direitos (por exemplo, do direito de todos de terem acesso a jurisdição 
comum, ou aos principais cargos civis e militares, independentemente do nascimento); 
A igualdade jurídica se entende a igualdade que faz de todo membro de um 
grupo social, inclusive a criança, um sujeito jurídico, ou seja, um sujeito dotado de 
capacidade jurídica. 
6.8. A IGUALDADE DAS OPORTUNIDADES 
Considerado um dos pilares do estado de democracia social, o princípio da 
igualdade de oportunidades, ou de chances. Quando elevado a princípio geral, tem 
como objetivo colocar todos os membros daquela determinada sociedade na condição 
de participar da competição da vida, a partir de posições iguais. É supérfluo dizer que 
muda de sociedade para sociedade a definição de quais davam ser as posições de 
partida a serem consideradas como iguais, de quais devam ser as condições sociais 
e materiais que permitam concorrentes iguais. Mas não é supérfluo chamar atenção 
para o fato de que colocar indivíduos desiguais por nascimento nas mesmas posições 
de partida pode ser favorável aos mais pobres, isto é introduzir artificialmente 
discriminações que não existiriam, como ocorre em certas competições esportivas 
onde o concorrente menos experiente leva vantagem ao mais experiente. Desse 
modo, uma desigualdade torna-se um instrumento de igualdade, pelo simples motivo 
de corrigir uma desigualdade anterior: a nova igualdade é resultado da equiparação 
de duas desigualdades. 
6.9. A IGUALDADE DE FATO 
Entende-se a igualdade com relação aos bens materiais, ou igualdade 
econômica. Os bens da igualdade se definem em bens com relação as necessidades 
que eles tendem a satisfazer, a questão da determinação do que é ou do que não é 
um bem. Uma vez determinada a natureza dos bens com relação aos quais os homens 
deveriam ser iguais. É preciso também estabelecer os modos através dos quais os 
homens entram e permanecem em relação com esses bens. 
6.10. O IGUALITARISMO 
O objetivo do igualitarismo é o desenvolvimento harmonioso da comunidade, 
defendendo a igualdade para o maior número de homens no maior número de bens. 
Percebe-se que o Igualitarismo parcial ou limitado é perfeitamente compatível com 
uma concepção não igualitária da sociedade como um todo. 
7. O ESTADO E O PODER. 
7.1. TEORIAS DO PODER 
Aquilo que estado e política tem em comum é a referência ao fenômeno do 
poder. Não há teoria política que não parta de alguma maneira, direta ou indiretamente 
de uma definição de poder e de uma análise do fenômeno do poder. A teoria do estado 
apoia-se sobre a teoria dos três poderes e da relação entre eles. O processo político 
é ali definido como a formação, a distribuição e o exercício do poder. Na filosofia 
política o poder foi apresentado sob três aspectos, com três teorias fundamentais: 
substancialista, subjetivista e relacional. Nas teorias substancialistas, o poder é 
concebido como uma coisa que se possui e se usa como um outro bem qualquer . 
Esta típica interpretação é a de Hobbes, em que o poder de um homem a consiste 
nos meios de que presentemente dispõe para obter qualquer visível bem no futuro. 
 Típica interpretação subjetivista é a de Locke onde poder é a capacidade do 
sujeito de obter certos efeitos. Este modo de entender o poder é adotado pelos juristas 
para definir o direito subjetivo. E que um sujeito tenha um direito subjetivo significa 
que o ordenamento jurídico lhe atribuiu poder de obter certos efeitos. Porém a mais 
aceita no discurso político contemporâneo é a terceira, que se remete ao conceito 
relacional de poder, e estabelece que por poder deve-se entender uma relação entre 
dois sujeitos, dos quais o primeiro obtém do segundo um comportamento que em caso 
contrário não ocorreria. Em Dahl, influência é uma relação entre atores, que induz o 
comportamento do outro de forma que de modo contrário não se realizaria. Ainda para 
Dahl, o poder de um é a negação da liberdade do outro e vice-versa. 
7.2. AS FORMAS DO PODER E O PODER POLÍTICO 
 Uma vez reduzido o conceito de Estado ao de política e o conceito de política 
ao de poder, o problema a ser resolvido torna-se o de diferenciar o poder político de 
todas as outras formas que pode assumir a relação de poder. A tipologia clássica, 
transmitida ao longo dos séculos, é a que se encontra na Política de Aristóteles, que 
distingue três tipos de poder com base na esfera em que é exercido: o poder dos pais 
sobres os filhos, do senhor sobre os escravos, do governante sobre os governados. 
A tripartição das formas de poder em paterno, despótico e civil é um dos tópos da 
teoria política clássica e moderna. Locke distingue-se de Aristóteles pelo critério de 
distinção no que diz respeito ao diverso fundamento dos três poderes. O poder do pai 
tem fundamento natural, na medida em que nasce da própria geração; o senhorial é 
o efeito do direito de punir quem se tornou culpado de um delito grave, e portanto, 
passível de uma pena igualmente grave como a escravidão; o poder civil está fundado 
sobre o consenso expresso ou tácito daqueles aos quais é destinado. O poder político 
vai-se assim identificando com o exercício da força e passa a ser definido como aquele 
poder que, para obter efeitos desejados, tem o direito de se servir da força. 
O uso da força física é condição necessária para a definição de poder político, 
mas não é condição suficiente. O tema da exclusividade do uso da força como 
característica do poder político é hobbesiano por excelência, a passagem do estado 
de natureza para o Estado representado pela passagem do uso indiscriminado da 
própria força contra os demais a uma condição na qual o direito de usar a força cabe 
apenas ao soberano. 
7.3. AS TRÊS FORMAS DE PODER 
Vários critérios foram adotados para distinguir as várias formas de poder. O 
critério do meio de que se serveo detentor do poder para obter os efeitos desejados 
é o mais usado. Esta tipologia que classifica quanto aos meios define três poderes 
:econômico, ideológico e político, ou seja da riqueza, do saber e da força. 
• Poder econômico: é aquele que se vale da posse de certos bens numa situação 
de escassez, para induzir os que não possuem a adotar certa conduta. Na posse 
dos meios de produção isto representa grande fonte de poder. 
• Poder ideológico: é aquele que se vale da posse de certas formas de saber para 
exercer uma influência sobre o comportamento alheio e induzir outros a realizar ou 
não uma ação. 
• Poder político: é o que esta em condições de recorrer em última instância ao uso 
da força(e está em condições de fazê-lo por que detém o monopólio).Estas três 
formas de poder contribuem para manter sociedades desiguais, divididas entre 
fortes e fracos(com base no poder político); entre ricos e pobres(com base no 
poder econômico) e em sábios e ignorantes(com base no poder ideológico). 
7.4. O PRIMADO DA POLÍTICA 
A concepção do primado da política sobre os demais poderes, corresponde a 
doutrinada necessária imoralidade ou amoralidade da ação política que deve visar o 
próprio fim, sem sentir vinculada ou embaraçada por contemporização de outra 
natureza :primado que se reflete na figura do príncipe maquiavélico, com relação ao 
qual os meios empregados para vencer ou conquista o Estado são sempre, seja eles 
quais forem, “julgados honrosos ou por todos louvados. 
• independência do juízo político ao juízo moral. 
 Primado da política e da razão do Estado: independência do juízo político da 
moral. Segundo Hegel, o princípio da ação do Estado está na própria necessidade de 
existir. 
8. O FUNDAMENTO DO PODER 
8.1. O PROBLEMA DA LEGITIMIDADE 
Com respeito ao poder político o problema de sua justificação nasce do 
questionamento se basta sua força para fazê-lo aceito por aqueles sobre os quais se 
exerce, para induzir seus destinatários a obedecê-lo. A este problema surge duas 
questões acerca da efetividade(no sentido de que o poder fundado sobre a força não 
pode durar) e também o problema da legitimidade (no)sentido de que um poder 
fundado apenas sobre a força pode ser efetivo, mas não considerado legítimo). 
• Se se limita a fundar o poder exclusivamente sobre a força, como se faz para 
distinguir o poder político do poder de um bando de ladrões? 
A consideração segundo a qual o supremo poder que é o poder político, deva 
também ter uma justificação ética, deu lugar a formulação de princípios de 
legitimidade, isto é, dos vários modos com os quais se procurou dar a quem detém o 
poder, uma razão de comandar, e a quem suporta o poder, uma razão de obedecer, 
dando a classe que detém o poder base moral e legal, isto por meio de duas fórmulas: 
a que faz derivar o poder da autoridade de Deus e a que o faz derivar da autoridade 
do povo. 
8.2. OS VÁRIOS PRINCÍPIOS DE LEGITIMIDADE 
 Na realidade, os princípios de legitimidade sempre adotados ao longo da 
história não são apenas os dois indicados por Mosca. Podem ser distinguidos pelo 
menos seis deles, através de duplas antitéticas de 3 grandes princípios unificadores: 
a vontade a natureza e a história. 
• Vontade: em uma concepção descendente do poder a autoridade ultima é a 
vontade de Deus, numa concepção ascendente a autoridade última é a vontade 
do povo. 
• Natureza: natureza como força originária(segundo a prevalente concepção 
clássica do poder ; e natureza como ordem racional pela qual a lei da natureza se 
identifica com a lei da razão (segundo prevalente interpretação jusnaturalista 
moderna). 
Obs.: 1 interpretação: da origem a ideia de que existem naturalmente forte e fracos, 
sábios e ignorantes , etc. 
2 interpretação: significa ao contrário fundar o poder sobre a capacidade do 
soberano de identificar e aplicar leis naturais, que são as leis da razão. 
• História: tem duas dimensões de legitimação do poder , a passada ou a futura. A 
referência à história passada institui como princípio de legitimação a força da 
tradição,(critério de legitimação do poder constituído) enquanto que a referência a 
história futura constitui um dos critérios para a legitimação do poder que está se 
constituindo .O debate sobre os critérios de legitimidade não tem apenas um valor 
doutrinal, mas está ligado ao problema da obrigação política, baseando-se no 
princípio de que a obediência é devida apenas ao poder legitimo. E onde acaba a 
obrigação de obedeceras leis, começa o direito de resistência. 
8.3. LEGITIMIDADE E EFETIVIDADE 
Em oposição à teorias anteriores que defendem que a legitimidade é 
necessária para a efetividade, as teorias positivistas abrem caminho a tese de que 
apenas o poder efetivo é legítimo. No âmbito do positivismo jurídico, isto é, de uma 
concepção que considera como direito apenas o direito posto pelas autoridades 
delegadas para este fim pelo próprio ordenamento e tornado eficaz por outras 
autoridades previstas pelo próprio ordenamento dão outra direção ao tema da 
legitimidade, e neste sentido a eficácia deriva da legitimidade. Os três tipos puros ou 
ideais de poder legítimo são segundo Weber, o poder tradicional, o poder racional-
legal e o poder carismático, e representam três tipos diversos de motivação, no poder 
tradicional, o motivo da obediência é a crença na racionalidade do soberano, 
sacralidade esta que deriva da força daquilo que dura há tempo (tradição); no poder 
racional a obediência deriva da crença na racionalidade do 
9. ESTADO E DIREITO 
9.1. OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO 
Ao lado do problema do fundamento do poder, a doutrina clássica do Estado 
sempre se ocupou também do problema dos limites do poder, problema que 
geralmente é apresentado como problema das relações entre direito e poder (ou 
direito e Estado).Desde que o problema do Estado passaram a tomar conta os juristas, 
o Estado tem sido definido através de três elementos constitutivos : o povo, o território 
e a soberania. Por Estado em uma definição atualizada e corrente , “é um 
ordenamento jurídico destinado a exercer o poder soberano sobre um dado território, 
ao qual estão necessariamente subordinados os sujeitos a ele pertencentes.”(Mortati) 
 Na rigorosa redução que Kelsen faz do Estado a ordenamento jurídico, o poder 
soberano torna-se o poder de criar e aplicar direito num território e para um povo, 
poder que recebe sua validade da norma fundamental e da capacidade de se fazer 
valer recorrendo inclusive, em última instância, à força, e portanto do fato de ser não 
apenas legítimo mas eficaz. O território torna-se o limite de validade espacial no 
sentido de que as normas emanadas do poder soberano valem apenas dentro de 
determinadas fronteiras, e o povo trona-se o limite de validade pessoal do direito do 
Estado. Justamente Kelsen, além dos limites de validade espacial e pessoal, que 
redefinem os elementos constitutivos território e povo, leva em consideração outras 
duas espécies de limite , os de validade temporal (uma norma tem validade limitada 
entre os limites de sua emanação e ab-rogação)e os limites de validade material na 
medida que existem : a) matérias não passíveis de regulamentação; b)matérias que 
podem ser reconhecidas como indisponíveis pelo próprio ordenamento. 
9.2. O GOVERNO DAS LEIS 
A relação entre direito e poder é apresentado, desde a antiguidade pela 
pergunta : é melhor o governo das leis ou dos homens ? Platão afirma em sua 
distinção entre bom e mau governo que onde a lei é súdita dos governantes e privada 
de autoridade, vejo a ruína da cidade, e de onde ao contrário, a lei é senhora dos 
governantes e os governados seus escravos, vejo a salvação da cidade...” Aristóteles 
por sua vezafirma que a lei não tem paixões, e a supremacia da lei com respeito ao 
juízo dado caso por caso pelo governante repousa em sua generalidade e constância. 
O princípio da subordinação a lei conduz à doutrina do governo da lei, fundamentando 
o Estado de Direito, que em sua acepção mais restrita, representa o Estado cujos 
poderes são exercidos no âmbito de leis preestabelecidas. 
Mas surge uma questão : se as leis são geralmente postas por quem detém o 
poder, de onde vêm as leis a que deveria obedecer o próprio governante? A resposta 
a essa pergunta abrem duas estradas. A primeira que defende que além das leis 
postas pelos governantes existem as leis que não dependem da vontade dos 
governantes, e estas são leis naturais, ou leis cuja força vinculatória está radicada 
numa tradição. E a segunda que afirma que no início de um bom ordenamento existe 
um sábio, o grande legislador que deu ao povo uma constituição que deve ser 
escrupulosamente ater-se. Ambas as estradas foram percorridas ao longo da história 
do pensamento político e mesmos os artífices das leis são obrigados a respeitas as 
leis superiores as leis positivas, como as leis naturais. 
9.3. OS LIMITES INTERNOS 
A ideia recorrente do governo das leis como superior ao governo dos homens 
pode parecer em contraste com o princípio que corresponde ao fato de o príncipe esta 
livre das leis (princeps é legibus solutus). O princípio não que dizer que o poder do 
príncipe não tenha limites : as leis a que se refere o princípio são leis positivas, ou 
seja, as leis postas pelo próprio soberano, isto não exclui que esteja submetido 
enquanto homem, como todos os homens a leis naturais e divinas. Além disso Bodin 
acrescenta a limitação pelas leis fundamentais do reino (como por exemplo a que 
regula a sucessão do trono) que são transmitidas e consuetudinárias e como tais 
positivas. Por fim, existe um terceiro limite e que serve para distinguir a monarquia 
régia da monarquia despótica : o poder do rei não se estender a esfera do direito 
privado(que é considerado direito natural) salvo em caso de justificada necessidade. 
Para alguns o poder do rei deve ser limitado não apenas pela existência de leis 
superiores, mas também pela existência de centros de poder legítimos que presentes 
Estado( clero, nobreza, as cidades). Sendo assim o respeito às leis superiores serve 
para distinguir o reino da tirania, e a presença de corpos intermediários serve para 
distinguir a monarquia do despotismo. Uma ulterior fase do processo de limitação 
jurídica do poder político é a que se afirma na teoria da separação dos 
poderes(executivo, legislativo e judiciário), e sua concentração nas mesmas mãos 
(sejam estas, mãos de muitos ou de poucos) se define como verdadeira ditadura. Seja 
qual for o fundamento dos direitos do homem, são eles considerados como direitos 
que o homem tem enquanto tal, independentemente de serem postos pelo poder 
político e que portanto o poder político deve não só respeitar, mas também proteger. 
9.4. OS LIMITES EXTERNOS 
 Nenhum Estado está só. Todo Estado existe ao lado de outros Estado, em 
uma sociedade de Estados. A soberania destes tem duas faces, uma voltada para o 
interior, outra para o exterior, correspondentemente vai ao encontro de dois tipos 
delimites: os que derivam das relações entre governantes e governados, e são limites 
internos, e os que derivam das relações entre Estados. E são limites externos. Mas 
ao processo de unificação interior, corresponde um processo de emancipação em 
relação ao exterior, pois quanto mais consegue vincular- se aos súditos, mais 
consegue tornar-se independente. 
Enquanto o processo de dissolução do império representa uma redução do 
poder em favor de novos Estados, o processo de formação de um Estado maior a a 
partir da união de Estado pequenos representa um esforço de poder dos primeiros 
sobre os segundo: estes perdem em independência interna, aquilo que ganham em 
força no exterior, unindo-se a outros(característica marcante do federalismo). Do 
ponto de vista externo, a história dos Estados europeus é um contínuo processo de 
decomposição e recomposição, e portanto de vinculação e desvinculação dos limites 
jurídicos. 
10. CONCLUSÃO 
Norberto Bobbio (1909-2004) foi um dos maiores politógos do século XX. 
Dentre sua extensa obra, deixou uma importante contribuição à Ciência Política: seu 
livro Teoria Geral da Política: a filosofia política e as lições dos Clássicos. Este texto 
tentará abordar ligeiramente algumas considerações sobre o conceito de política na 
visão desse autor. 
Para Bobbio, falar em política enquanto prática humana conduz, 
consequentemente, a se pensar no conceito de poder. O poder estaria ligado à ideia 
de posse dos meios para se obter vantagem (ou para fazer valer a vontade) de um 
homem sobre outros. Assim, o poder político diria respeito ao poder que um homem 
pode exercer sobre outros, a exemplo da relação entre governante e governados 
(povo, sociedade). Contudo, ao falar em poder político, é preciso pensar em sua 
legitimação. Podemos ter poderes políticos legitimados por vários motivos, como pela 
tradição (poder de pai, paternalista), despótico (autoritário, exercido por um rei, uma 
ditadura) ou aquele que é dado pelo consenso, sendo este último um modelo de 
governo esperado. O poder exercido pelo governante em uma democracia, por 
exemplo, dá-se pelo consenso do povo, da sociedade. No caso brasileiro, o poder da 
presidenta é garantido por que existe um consenso da sociedade que o autoriza e, 
além disso, há uma Constituição Federal que formaliza e dá garantias a esse 
consenso. 
Conforme nos mostra Bobbio (2000), há uma tipologia moderna das formas de 
poder, como poder econômico, poder ideológico e poder político, sendo que este 
último seria aquele no qual se tem a exclusividade para o uso da força. Nas palavras 
de Bobbio (ibidem, p. 163), “o poder político, enfim, funda-se sobre a posse dos 
instrumentos através dos quais se exerce a força física (armas de todo tipo e 
grau): é o poder coativo no sentido mais estrito da palavra”. Contudo, Bobbio 
também aponta que não é apenas o uso da força, mas sim seu monopólio, sua 
exclusividade, que tem o consentimento da sociedade organizada. Em outras 
palavras, será uma exclusividade de poder que pode ser exercida sobre um 
determinado grupo social, em determinado território. 
Outro aspecto importante para Bobbio sobre a política é que sua finalidade ou 
seu fim não pode se resumir apenas em um aspecto, pois “[...] os fins da política 
são tantos quantas forem as metas a que um grupo organizado se propõe, 
segundo os tempos e as circunstâncias” (ibidem, p. 167). Porém, um fim mínimo 
à política (enquanto poder de força) é a manutenção da ordem pública e a defesa da 
integridade nacional. Essa finalidade é mínima para a realização de todos os outros 
fins do poder político. Porém, é importante se atentar para o fato de que o poder 
político não pode ter como finalidade o poder pelo poder, pois se assim fosse perderia 
o sentido. 
Quando Bobbio, cita Carl Shmitt, também fala da ideia de política como relação 
amigo-inimigo, dizendo que “o campo de origem e de aplicação da política é o 
antagonismo, e sua função consistiria na atividade de agregar e defender os 
amigos e de desagregar e combater os inimigos”.No debate de ideias para se 
pensar a ordem social, essa oposição é fundamental, contudo, apenas esse nível de 
antagonismo pode ser tolerado pelo Estado, uma vez que a extrema divisão ou 
situação de conflito entre aqueles que compõem uma sociedade poderia levar ao 
caos. 
No exercício de compreensão do conceito de política, deve-se considerar que 
na filosofia política moderna aquilo que é políticonão necessariamente coincide com 
o social, pois, ao longo da história, as outras esferas da vida foram se separando do 
Estado, a exemplo do poder religioso e do poder econômico. Na visão de Bobbio, a 
política restringe-se à esfera do Estado, instituição esta responsável pela ordem 
social. Para Bobbio, “enquanto a filosofia política clássica está alicerçada sobre 
o estudo da estrutura da polis e das suas várias formas históricas ou ideais, a 
filosofia política pós-clássica caracteriza-se pela contínua tentativa de uma 
delimitação daquilo que é político (o reino de César) em relação àquilo que não 
é político (seja ele o reino de Deus ou o reino das riquezas), por uma contínua 
reflexão sobre aquilo que diferencia a esfera da política da esfera da não política, 
o Estado do não Estado...” 
O processo de emancipação da sociedade no sentido de seu “funcionamento” 
sem a presença do Estado poderia levar ao fim da política enquanto ação coercitiva 
para coesão social. Em outras palavras, se a sociedade conseguisse manter sua 
ordem sem o poder político (que usa da força), ela não precisaria mais do Estado. 
Nesse mesmo livro, Bobbio também fala da relação entre política e moral, uma 
vez que ambas estão ligadas à ação (à práxis) humana. Porém, aquilo que 
fundamenta ou motiva, ou aquilo que é permitido ou proibido, nem sempre tem o 
mesmo sentido para a política e para a moral. Segundo Bobbio, pode haver “ações 
morais que são impolíticas (ou apolíticas) e ações políticas que são imorais (ou 
amorais)” distinção esta que, aliás, já se fazia presente na obra de Nicolau Maquiavel. 
Dessa forma, seria preciso considerar que existem razões e ações do Estado que são 
justificadas quando por ele praticadas, mas jamais permitidas a um indivíduo. A 
política seria a razão do Estado, enquanto a moral seria a razão do indivíduo. Assim, 
seria preciso pensar na autonomia da ação política, a qual é motivada por razões que 
não são as mesmas da ação individual. 
Em suma, dessa breve explanação sobre alguns aspectos da obra citada de 
Norberto Bobbio, pode-se inferir que, em linhas gerais, sua posição tenta 
compreender a política como “atividade ou conjunto de atividades que têm de algum 
modo, como termo de referência, a pólis, isto é, o Estado” 
11. BIBLIOGRAFIA 
DESCONHECIDO. Noberto Bobbio. Wikipedia. Disponível em 
<https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Norberto_Bobbio>. Acesso em 13 de abril de 2018 
CORRÊA, R. Ferreira. “Resenha do livro "Igualdade e Liberdade"”, de Norberto 
Bobbio. Disponível em 
http://www.academia.edu/11699154/Resenha_do_livro_Igualdade_e_Liberdade_de_
Norberto_Bobbio. Acesso em 12 de abril de 2018 
RIBEIRO, Paulo Silvino. "Ideia de Política em Norberto Bobbio"; Brasil Escola. 
Disponível em <https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/ideia-politica-norberto-
bobbio.htm>. Acesso em 09 de abril de 2018. 
DESCONHECIDO. “Biografia”. Instituto Norberto Bobbio. Disponível em < 
http://www.institutonorbertobobbio.org.br/#!nobertobobbio/biografia>. Acesso em 23 
de março de 2018. 
DESCONHECIDO. “Biografia”. Uol Educação. Disponível em < 
https://educacao.uol.com.br/biografias/norberto-bobbio.htm>. Acesso em 14 de abril 
de 2018. 
DESCONHECIDO. “Biografia”. INB-Blog . Disponível em < 
https://norbertobobbio.wordpress.com/norberto-bobbio/>. Acesso em 21 de abril de 
2018.

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