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UNIVERSIDADE PAULISTA NORBERTO BOBBIO TRABALHO DE FILOSOFIA SÃO PAULO 2018 UNIVERSIDADE PAULISTA NORBERTO BOBBIO TRABALHO DE FILOSOFIA NOME R.A. ANTÔNIO CÂNDIDO NETO D6780B6 BRUNO FERMINO BERNARDO N247DC1 DAVID ALMEIDA DE JESUS N3275C6 EVELYN FORMENTI DE MATTOS D758403 FABÍOLA DE CARVALHO GONÇALVES ROSA B47GCH1 FABRÍCIO FERREIRA DE LIMA D5421B4 JESSICA FATIMA TORRES N254220 LUANA FRANÇA DE CAMARGO N292393 LUCAS HASSAN CRIMINELLI DE OLIVEIRA D76IHJ9 RICARDO BEZERRA DA SILVA N298EA6 RICARDO LOPES LEME JÚNIOR N243JF4 CURSO: DIREITO PERÍODO: NOTURNO CAMPUS: ALPHAVILLE SALA:66 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 4 2. PRIMEIROS ANOS .............................................................................................................................. 4 3. TRAJETÓRIA ACADÊMICA E A DOCÊNCIA .................................................................................. 5 4. TRAJETÓRIA POLITICA .................................................................................................................... 5 5. PRODUÇÃO LITERÁRIA .................................................................................................................... 9 6. TEXTO DE REFERÊNCIA ................................................................................................................. 13 6.1. IGUALITARISMO E SEUS FUNDAMENTOS ............................................................................. 13 6.2. IGUALITARISMO E LIBERALISMO ............................................................................................ 15 6.3. O IDEAL DA IGUALDADE ........................................................................................................... 17 6.4. IGUALDADE, LIBERDADE E JUSTIÇA ..................................................................................... 19 6.5. A IGUALDADE DE TODOS .......................................................................................................... 20 6.6. A IGUALDADE DIANTE DA LEI .................................................................................................. 20 6.7. A IGUALDADE JURÍDICA ........................................................................................................... 21 6.8. A IGUALDADE DAS OPORTUNIDADES ................................................................................... 21 6.9. A IGUALDADE DE FATO ............................................................................................................. 22 6.10. O IGUALITARISMO ...................................................................................................................... 22 7. O ESTADO E O PODER. .................................................................................................................. 22 7.1. TEORIAS DO PODER ................................................................................................................... 22 7.2. AS FORMAS DO PODER E O PODER POLÍTICO .................................................................... 23 7.3. AS TRÊS FORMAS DE PODER .................................................................................................. 24 7.4. O PRIMADO DA POLÍTICA .......................................................................................................... 24 8. O FUNDAMENTO DO PODER ......................................................................................................... 24 8.1. O PROBLEMA DA LEGITIMIDADE ............................................................................................ 24 8.2. OS VÁRIOS PRINCÍPIOS DE LEGITIMIDADE .......................................................................... 25 8.3. LEGITIMIDADE E EFETIVIDADE ................................................................................................ 26 9. ESTADO E DIREITO.......................................................................................................................... 26 9.1. OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO ................................................................... 26 9.2. O GOVERNO DAS LEIS ............................................................................................................... 27 9.3. OS LIMITES INTERNOS ............................................................................................................... 28 9.4. OS LIMITES EXTERNOS ............................................................................................................. 28 10. CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 29 11. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................. 31 1. INTRODUÇÃO Apresentaremos neste trabalho a trajetória de Norberto Bobbio que é considerado um dos maiores pensadores do século X. Bobbio foi filósofo, político, historiador do pensamento político, escritor e senador vitalício na Itália. Conhecido por sua ampla capacidade de produzir escritos concisos, lógicos e, ainda assim, densos. Defensor da democracia social-liberal e do positivismo legal, crítico de Marx, do fascismo italiano, do Bolchevismo e do primeiro-ministro Silvio Berlusconi. 2. PRIMEIROS ANOS Norberto Bobbio nasceu em Turim capital de Piemonte, filho de um médico- cirurgião, Luigi Bobbio, neto de Antônio Bobbio, professor primário, depois diretor escolar, católico liberal que se interessava por filosofia e colaborava, periodicamente, nos jornais. Viveu durante a infância e adolescência em uma família abastada, com criadas e motorista. Inicia-se no gosto da leitura com George Bernard Shaw, Honoré de Balzac, Stendhal, Percy Bysshe Shelley, Benedetto Croce, Thomas Mann e vários outros. Foi amigo de infância de Cesare Pavese com quem conviveu e aprendeu o inglês através da leitura de alguns clássicos. Lia, depois traduzia e comentava. Não obstante as origens abastadas e o estrato social elevado a que pertence por força da posição social do pai, é marcado por uma educação liberal. Diz na Autobiografia: "na minha família nunca tive a impressão do conflito de classe entre burgueses e proletários. Fomos educados a considerar todos os homens iguais e a pensar que não há nenhuma diferença entre quem é culto e quem não é culto, entre quem é rico e quem não é rico." E registra: "recordei esta educação para um estilo de vida democrático numa página de Direita e Esquerda em que confesso ter-me sentido pouco à vontade diante do espetáculo das diferenças entre ricos e pobres, entre quem está por cima e por debaixo na escala social, enquanto o populismo fascista tinha em mira arregimentar os italianos dentro de uma organização social que cristalizasse as desigualdades." Mesmo tardiamente, adquiriu consciência política, e relembra: "não foi no cortiço familiar que amadureci a aversão ao regime Mussoliniano. Eu fazia parte de uma família filofascista como de resto o era grande parte da burguesia." Adquire a educação política no liceu Massimo d’Azeglio, nas aulas de Augusto Monti, amigo de Piero Gobetti e colaborador na revista Le Revoluzioni Liberali, na convivência com Leone Ginzburg, judeu russo, de quem se diz impressionado por uma inteligência viva, um "antifascista absoluto". 3. TRAJETÓRIA ACADÊMICA E A DOCÊNCIA A trajetória acadêmica de Norberto inicio em 1927, aos 18 anos, quando se inscreveu na faculdade de Jurisprudência da Universidade de Turim, onde podeconviver com professores notáveis que ajudaram a moldar sua personalidade. Em 1931, licenciou-se em Jurisprudência com tese de Filosofia do Direito. Entre os anos de 1932 e 1933 voltou para Turim, onde se especializou em filosofia, defendendo a tese sobre a fenomenologia de Husserl. No ano de 1934 obtêm a livre docência em filosofia do direito, sendo contratado em 1935 pela Universidade de Camerino para lecionar sobre a filosofia do direito. Em 1938 é convidado para lecionar na renomada Universidade de Siena. Alcançou em 1940 a cátedra de filosofia do direito na Faculdade de Jurisprudência da Universidade de Pádua. Em 1948 transfere-se para a Universidade de Turim, cabendo-lhe a cadeira de filosofia do direito. Em 1962 obtêm autorização para ministrar aulas de filosofia política, juntamente com filosofia de direito. Depois de 10 anos, em 1972, recebe a cadeira de filosofia política na Universidade de Turim. Ao completar 60 anos, em 1979, resolve retira-se parcialmente da atividade docente. Foi intitulado Professor benemérito (digno) da Universidade de Turim, onde deu aulas de Filosofia do Direito, Ciências Políticas e Filosofia da Política durante várias décadas, escreveu para vários jornais e revistas, incluindo o Corriere Della Sera, principal diário italiano. 4. TRAJETÓRIA POLITICA Um apaixonado pela teoria política e pelos direitos individuais. Na Itália dos anos 1940, mergulhada na Segunda Grande Guerra Mundial (1939-1945), Bobbio fez parte do movimento da Resistência: ligou-se a grupos liberais e socialistas que combatiam a ditadura do fascismo. Para quem não sabe, o movimento fascista foi fundado por Benito Mussolini, em 1922 e se baseava na crença de superioridade de uma "raça" sobre as demais, além de governar autoritariamente com um regime baseado na perda das liberdades individuais e na violência. Por suas ideias, o filósofo foi preso duas vezes, em 1942 e em 1944 - no intervalo entre as duas prisões, casou- se com Valeria Cova. O casal teria três filhos e viveria junto por quase 60 anos. Um dos ensinamentos mais preciosos de Norberto Bobbio no campo da teoria política é saber ouvir as lições dos clássicos . Essas lições permitem estudar os temas recorrentes que se colocam em relação aos grandes problemas, igualmente recorrentes, da reflexão política. O estudo desses temas, que atravessam toda a história do pensamento político, tem como função, segundo Bobbio, “individuar certas categorias que permitem fixar em conceitos gerais os fenômenos que passam a fazer parte do universo político”. A primeira função, portanto, é a de determinar os conceitos políticos fundamentais, enquanto a segunda consiste em estabelecer entre as diversas teorias políticas, de diferentes épocas, as possíveis afinidades e diferenças. E, no entanto, que confere a um autor a qualidade de clássico? Para Bobbio, clássico é o autor que ao mesmo tempo é “intérprete autêntico de seu próprio tempo”, “sempre atual, de modo que cada época, ou mesmo cada geração, sinta a necessidade de relê-lo e, relendo-o, de reinterpretá-lo” e que tenha construído “teorias-modelo das quais nos servimos continuamente para compreender a realidade”. Como aponta Michelangelo Bovero, essa definição levanta problemas ao intérprete, pois como é possível que a obra de um intérprete autêntico de seu próprio tempo possa ser reinterpretada continuamente? A resposta parece estar na seguinte afirmação de Bobbio: “No estudo dos autores do passado, jamais fui particularmente atraído pela miragem do chamado enquadramento histórico, que eleva fontes a precedentes, as ocasiões e condições, detém-se por vezes nos detalhes até perder o ponto de vista do todo: dediquei-me, ao contrário, com particular interesse, ao delineamento de temas fundamentais, ao esclarecimento dos conceitos, à análise dos argumentos, à reconstrução do sistema”. O que interessa identificar nos clássicos não é tanto seu significado histórico, mas sim, nas palavras de Bobbio, “hipóteses de pesquisa, temas para reflexão, ideias gerais”. Os autores clássicos para Bobbio, em sua análise da teoria política, são, principalmente, Emanuel Kant (1724-1804), Karl Marx (1818-1883) e Max Weber (1864-1920). Kant é um autor frequente na obra de Bobbio, tanto assim que lhe dedicou um de seus livros, Direito e Estado no pensamento de Emanuel Kant. Para esse autor, o tema recorrente do pensamento político é o da liberdade, ou melhor, das duas liberdades, como diria Bobbio: “O primeiro significado é aquele recorrente na doutrina liberal clássica, segundo a qual ‘ser livre’ significa gozar de uma esfera de ação, mais ou menos ampla, não controlada pelos órgãos do poder estatal; o segundo significado é aquele utilizado pela doutrina democrática, segundo a qual ‘ser livre’ não significa não haver leis, mas criar leis para si mesmo”. No que se refere a Marx, confrontando sua teoria política com a dos autores que são considerados unanimemente como clássicos do pensamento político, de Platão a Hegel, e procedendo por meio de comparações por afinidades e diferenças, Bobbio demonstra a “reviravolta radical que Marx operou sobre a tradição apologética do Estado” na medida em que, para ele, o Estado deixa de ser o reino da razão e do bem-comum para ser considerado o reino da força e do interesse daqueles que detêm o poder. O terceiro autor, tido por Bobbio como “o último dos clássicos”, é Max Weber, cujas expressões “passaram a fazer parte definitivamente do patrimônio conceitual das ciências sociais”. No campo da teoria política, Bobbio considera que nenhum estudioso do século 20 contribuiu de forma tão significativa como Weber para o enriquecimento do léxico técnico da linguagem pertinente a esse campo. Dentre as expressões herdadas deste autor, Bobbio lembra algumas que, pela sua reconhecida importância, dispensam maiores comentários: poder tradicional e carisma, poder legal e poder racional, direito formal e direito material, monopólio da força, ética da convicção e ética da responsabilidade. A pergunta fundamental que se coloca relativamente ao trabalho que Bobbio elabora, a partir dos temas recorrentes e das lições dos clássicos, diz respeito, a saber, qual seria o tipo de filosofia política desenvolvida por ele. Inserida nessa indagação está à questão de sua visão acerca da relação existente entre fato e valor e da adoção de uma teoria descritiva ou prescritiva. Segundo Bobbio, existem quatro significados possíveis para a noção de filosofia política, que correspondem a quatro tipos de investigação. • A primeira consistiria na ideia da filosofia política como busca da melhor forma de governo ou da ótima República; • A segunda, da investigação do fundamento do Estado, com a consequente justificação ou injustificação da obrigação política, ou seja, da legitimidade do poder político; • A terceira tipo é aquele que visa à determinação do conceito geral de política, ou da essência da categoria do político, seja por meio da “autonomia da política” em relação à moral, seja por meio da delimitação de seu campo em relação à economia ou ao direito; • A quarta concepção parte da ideia da filosofia como meta-ciência, de modo que a filosofia política teria como tarefa a investigação dos pressupostos e das condições da validade da ciência e a análise da linguagem política. Para Bobbio, a terceira definição seria a mais apropriada para sua teoria política. No entanto, se partirmos dessa hipótese, o problema que teremos de enfrentar diz respeito à inexistência, em uma teoria assim considerada, de uma dimensão valorativa presente nos dois primeiros tipos. Como bem ponderou Bobbio, porém, “não há teoria tão asséptica que não permita entrever elementosideológicos que nenhuma pureza metodológica pode eliminar totalmente”. Bobbio parece então oscilar entre uma filosofia política puramente cognoscitiva e uma filosofia propositiva, mas, na verdade, apresenta em sua obra as duas dimensões. Apontando os temas reincidentes nas lições dos clássicos e suas teorias, Bobbio nos faz perceber certa continuidade na história, continuidade essa que diz respeito também aos problemas enfrentados por essas diversas teorias. A recorrência de problemas, de enfoques e de soluções parece marcar toda a história do pensamento político. Isso não quer dizer que em alguns momentos Bobbio desconheça haver certas “guinadas” na História, como a “revolução copernicana” decorrente da afirmação do primado dos direitos sobre os deveres, que a temática dos direitos humanos propiciou. Assumindo, portanto, a ideia dessa continuidade, podemos pensar nas questões referentes ao chamado “fim da história” e à possibilidade de encontrar-lhe um sentido. Como apontado por Bobbio em sua autobiografia Diário de um século, “a história humana não apenas não acabou como anunciou há alguns anos um historiador americano, mas, talvez, a julgar pelo progresso técnico-científico que está transformando radicalmente as possibilidades de comunicação entre todos os homens vivos, esteja apenas começando. É difícil afirmar, contudo, que direção esteja destinada a seguir”. Ainda a respeito do sentido da História, afirma: “Não tiro conclusão alguma acerca do sentido da História, que, não tenho vergonha de declarar, ignoro qual seja. Tenho apenas a sombria impressão de que ninguém ainda a captou”. De toda forma, fica evidente que, para Bobbio, a História não acabou e que, se ela tem um sentido, ninguém ainda foi capaz de dizer qual é. Visão realista, sim, mas não pessimista ou ingenuamente otimista. O pensador se auto definia como um militante da razão. Costumava dizer que embora o homem moderno tenha desvendado milhões de coisas que eram desconhecidas dos antigos, o mundo de hoje é cada vez mais incompreensível, menos transparente. Bobbio sempre defendeu o individualismo diante do Estado. Isso significa que ele acreditou e lutou contra as ditaduras, para que a liberdade de cada pessoa tivesse mais valor que a autoridade do governo de qualquer país quando esta é excessiva. Por esse motivo, considerava a criação dos tribunais para julgar crimes de guerra a maior conquista do seu século. A decisão de não concorrer a cargos na política de seu país não impediu Bobbio de influenciá-la ativamente, sempre presente e participante, o filósofo foi um ponto de referência no debate intelectual e político de seu tempo - e continua a ser para todos que defendem a democracia. Autor de mais de vinte obras, foi nomeado senador vitalício pelo presidente italiano Pertini, em 1984, que escreveu a Valéria: "Diga a ele que suas ideias são iguais às minhas “. 5. PRODUÇÃO LITERÁRIA Ao longo da carreira, Norberto Bobbio escreveu ensaios, artigos para várias revistas e jornais, inclusive para o Corriere della Sera. Escreveu diversos livros, entre eles, “Teoria da Ciência Jurídica” (1950), “Política e Cultura” (1955), que vendeu mais de 300 mil cópias só na Itália e foi traduzido para diversos países, “Teoria das Formas de Governo” (1976), “Qual Socialismo?” (1976), “As Ideologias e o Poder em Crise” (1981), “O Futuro da Democracia” (1986) e as obras-primas da literatura moral e autobiográfica: “Tempo de Memória” (1996) e “Elogio da Serenidade” (1997). Sua vasta obra estuda a filosofia do direito, a ética, a filosofia política e a história das ideias. Nela se discutem as ligações entre razões de Estado e democracia, além de temas fundamentais, como a tolerância, relacionada ao preconceito, ao racismo e à questão da imigração na Europa atual, obrigada a conviver com diferentes crenças religiosas e políticas. Bobbio acreditava que a democracia precisa de cidadãos comprometidos com o combate a todo tipo de preconceito e com a prática diária da tolerância. A ética é apontada pelo intelectual italiano como um requisito indispensável para uma saudável relação entre a moral e a política. A ética é um ramo da filosofia que estuda a natureza do que se considera ser o bem, adequado e moralmente correto. O jornal francês "Le Monde" chamou Bobbio de "mâitre-à-penser" (mestre do pensamento) do século 20, no mesmo patamar de Raymond Aron e Jean Paul Sartre. Mas ele não fazia questão de ser chamado de ateu (que não crê em Deus), como muitos dos intelectuais. Costumava dizer que havia se afastado da igreja, não da religião. Em uma entrevista concedida em abril de 2000, ao jornal italiano "La Repubblica", o filósofo disse: "Quando sinto ter chegado ao fim da vida sem ter encontrado uma resposta às perguntas últimas, a minha inteligência fica humilhada, e eu e eu aceito esta humilhação, aceito-a e não procuro fugir desta humilhação com a fé, por meio de caminhos que não consigo percorrer. Continuo a ser homem, com minha razão limitada e humilhada: sei que não sei. Isso eu chamo de minha religiosidade". Bobbio morreu como viveu, com grande dignidade, instruindo os médicos a não intervir para tentar prolongar sua vida. Em sua obra “Teoria da norma jurídica”, Bobbio faz um panorama e uma crítica das diversas teorias que pretendem entender o conceito de direito, concluindo que, embora as teorias se integrem, a teoria normativista prevalece no sentido de constituir pressuposto de validade para as outras. Bobbio vislumbra três formas de valoração da norma jurídica, de acordo com três critérios distintos para investigação do objeto que, conforme a perspectiva que se adote, apontando caminhos de análise diferentes. A primeira forma de valoração é se a norma é vista pelo aspecto do justo, identificando o valor e o fim. O segundo aspecto que prevalece é o da validade, assim, a análise fica a cargo da Teoria Geral do Direito. E, finalmente, ele se questiona se a eficácia da norma é preocupação da investigação, dizendo que o campo de investigação é o da Sociologia Jurídica. Nos capítulos terceiro e quarto Bobbio se dedica ao estudo da estrutura da norma jurídica, buscando nos fundamentos da linguística, os instrumentos para entender a norma como proposição prescritiva, um fazer-fazer. No quinto capítulo, a preocupação de Bobbio está em distinguir as normas jurídicas das normas morais e sociais, chegando à conclusão de que o critério de distinção entre as normas é a resposta à violação. Em outras palavras, a diferença entre as normas está na sanção que o indivíduo que violou a prescrição deverá receber. Como ele afirma, é da natureza de toda prescrição ser violada, enquanto exprime não o que é, mas o que “deve ser”. Assim, se a possibilidade de transgressão da prescrição é esperada, faz-se necessária a criação de um mecanismo que elimine ou minimize as consequências danosas da violação. Esse mecanismo é a sanção, e a diferença entre as normas está na natureza dela. Ao tratar da sanção, Bobbio diferencia a sanção moral (que é puramente interior, caracterizada pelo arrependimento e remorso, e que possui pouca eficácia porque apenas os sujeitos que respeitam a norma moral podem sentir qualquer insatisfação ao desrespeitá-la), da sanção social (caracterizada como externa, pois quem a aplica é o grupo social e pode ser, de acordo com a gravidade, reprovação, eliminação, isolamento, expulsão ou até mesmo linchamento, padecendo da falta de proporção entre violação e resposta, o que significa que um mesmo ato pode ter punição diferente conforme a circunstância ou humor do grupo social). A sanção também sofre de incerteza e inconstância na sua aplicação, pois se é o grupo social quem pune,por vezes em razão de comportamentos hipócritas, pode não querer aplicar a sanção a determinado indivíduo ou a uma violação específica, ou seja, a sanção social não é institucionalizada, sua aplicação é variável. A sanção jurídica, por sua vez, é externa e institucionalizada, ou seja, distingue- se respectivamente das sanções morais e sociais. Além disso, ela é regulamentada, tanto em sua medida quanto em sua forma de aplicação, e está a cargo de órgãos institucionalizados da sociedade. Para Bobbio, é o ordenamento, enquanto conjunto de normas, que impõe a qualidade da norma. Assim, a norma será jurídica se pertencer ao ordenamento jurídico, pois é este que determina a sanção. Isto significa que, verificada a violação de determinada norma, o ordenamento ao qual ela pertence indicará a sanção aplicável. E tanto mais força terá quanto maior for sua eficácia. No último capítulo, Bobbio pretende classificar as normas jurídicas. Para isso, elege como critério a estrutura lógica das proposições prescritivas, ou seja, a indicação do destinatário da prescrição e a ação prescrita. Quanto ao destinatário, a prescrição pode ser geral ou individual, e quanto à ação prescrita, abstrata ou concreta. Dessa forma, as normas jurídicas podem ser gerais se dirigidas a uma classe de pessoas, a vários destinatários. Serão abstratas, se universais a respeito do comportamento. Individuais, se restringirem o seu destinatário (como as sentenças). E, concretas, se regularem uma ação particular. De forma geral, o direito, como uma das partes do sistema social, é considerado por Bobbio em função do todo, detendo uma função positiva primária, já que é instrumento de conservação por excelência, apesar de poder mudar a ordem vigente, adaptando-a às mudanças sociais. E sua função deve ser distributiva, conferindo a membros do grupo social recursos econômicos e não-econômicos. Como vimos, Bobbio simplifica o conceito de Direito ao dizer que a norma jurídica é aquela cuja execução é garantida por sanção externa e institucionalizada. A existência do Direito pressupõe um sistema normativo composto por três tipos básicos de norma: as que permitem determinada conduta, as que proíbem e as que obrigam determinada conduta. Bobbio define norma jurídica como aquela cuja execução é garantida por uma sanção externa e institucionalizada, devendo obedecer a uma série de requisitos: validade, vigência, eficácia e vigor. Ao definir o direito através da noção de sanção organizada e institucionalizada, distinta das sanções morais e sociais, Bobbio pressupõe um complexo orgânico de normas que forma o ordenamento jurídico. Outro tema que lhe é muito caro e de suma importância, é a sua dedicação à análise dos direitos humanos. Num texto intitulado “Sobre os fundamentos dos direitos do homem”, Bobbio discute a questão da definição e dos fundamentos dos direitos do homem, dizendo tratar-se de direitos históricos, pertencentes a uma época e lugar, nascidos em certas circunstâncias, de modo gradual, “não todos de uma vez e nem de uma vez por todas”, como ele diz. Para ele os direitos do homem constituem uma classe variável, como a história dos últimos séculos demonstra, pois o elenco de direitos do homem se modificou, e continua a se modificar, com a mudança das condições históricas. Portanto, além de mal definível e variável, a classe de direitos do homem é também heterogênea. Bobbio traz pelo menos três teses básicas ao tratar dos direitos do homem: a. Os direitos naturais são direitos históricos; b. Nascem no início da era moderna, juntamente com a concepção individualista da sociedade; c. Tornam- se um dos principais indicadores do progresso histórico. Já sobre a questão dos fundamentos dos direitos do homem, Bobbio é claro na medida em que se posiciona asseverando que não há um fundamento absoluto. São direitos que variam conforme a época e a cultura. Prova de que não são direitos fundamentais por natureza. De tempos em tempos vai se ampliando o rol de direitos, o que impossibilita atribuir fundamento absoluto a direitos historicamente relativos. Assim, Bobbio diz que não se deveria falar em fundamento dos direitos do homem e sim em fundamentos, de diversos fundamentos conforme o direito cujas boas razões se deseja defender. Bobbio ainda afirma que o problema fundamental em relação aos direitos do homem hoje, não é tanto o de justificá-los, mas o de protegê-los. Trata-se de um problema não filosófico, mas político. Para Bobbio, a efetivação da maior proteção dos direitos do homem está ligada ao desenvolvimento global da civilização humana, que ao mesmo tempo não pode ser tratada de forma isolada, sob pena de nem sequer compreender o problema em sua real dimensão. 6. TEXTO DE REFERÊNCIA 6.1. IGUALITARISMO E SEUS FUNDAMENTOS O igualitarismo e seu fundamento se é verdade que, historicamente, o ponto de partida das doutrinas igualitárias é sobretudo a consideração da natureza comum dos homens, esse ponto de partida não é logicamente suficiente para justificar o princípio fundamental do igualitarismo, segundo o qual todos ou quase todos os homens devem ser tratados de modo igual em todos ou quase todos os bens desejáveis. Mesmo admitindo-se que seja factualmente verdadeiro que todos os homens são, pelo menos como genus, mais iguais do que desiguais, se comparados a outra espécie de seres vivos, disso não decorre, pela inderivabilidade de uma proposição normativa de uma proposição descritiva , que todos os homens devam ser tratados de modo igual. Esse princípio ético fundamental não deriva da pura e simples constatação de que homens são de fato, pelo menos como genus, iguais, mas da avaliação positiva deste fato, ou seja, do seguinte juízo de valor: "a igualdade (a maior igualdade possível) entre os homens é desejável." A prova disso é que uma doutrina não igualitária, como a hobbesiana que considera como finalidade suprema dos homens que vivem em sociedade não a maior igualdade possível, mas exclusivamente a paz social, e funda essa última na renúncia à igualdade natural e na constituição de um ordenamento no qual é traçada uma nítida linha de demarcação entre os que têm o dever de mandar e os que só têm o direito de obedecer -, parte da constatação de que, em estado de natureza, os homens são iguais. Mas, diferentemente dos teóricos do igualitarismo, Hobbes não formula sobre a igualdade natural um juízo de valor positivo; ao contrário, considera a igualdade material dos homens, tal como se verifica no estado de natureza, uma das causas do velum ominam contra omnes, que torna intolerável a permanência naquele estado e obriga os homens a criarem a sociedade civil. A maior parte dos teóricos do igualitarismo e Hobbes partem da mesma verdade factual, mas chegam a consequências práticas opostas, já que avaliam de modo oposto essa mesma realidade de fato. As consequências práticas opostas derivam não de uma constatação, mas de uma avaliação. A rigor, a constatação da igualdade natural dos homens não apenas não é suficiente para fundamentar o igualitarismo, mas nem mesmo é necessária. Pode-se perfeitamente considerar a máxima igualdade como um bem digno de ser perseguido, sem para tanto tomar como ponto de partida a constatação de uma igualdade natural, primitiva ou originária dos homens. O marxismo é uma doutrina igualitária, que abandonou completamente os pressupostos naturalistas das formas mais ingênuas de socialismo: a proposição normativa a igualdade é um bem digno de ser perseguido não deriva sub- repticiamente, nesse caso, do juízo de fato os homens nasceram ou são por natureza iguais,mas do juízo de valor a desigualdade é um mal, ou seja, bem entendido, aquela desigualdade que se pode observar na história concreta dos homens, que é a história de sociedades divididas em classes antagônicas e, por isso, profundamente desiguais. Ainda que numa forma extremamente simplificada, o procedimento mental que preside a constituição de uma teoria como esta é o completo oposto do procedimento hobbesiano: para Hobbes, os homens são de fato iguais, mas devem ser desiguais; para os teóricos do socialismo científico, os homens até agora foram de fato desiguais, mas devem ser iguais. Tal como as doutrinas igualitárias, também as doutrinas não-igualitárias pressupõem não tanto a consideração da fundamental e insuperável desigualdade humana, mas a avaliação positiva dessa ou daquela forma de desigualdade, seja entre indivíduos mais ou menos dotados pela natureza em força física, inteligência ou habilidade' seja entre raças, estirpes ou nações; elas pressupõem, em outras palavras, um juízo de valor oposto ao das doutrinas igualitárias, ou seja, o juízo segundo o qual essa ou aquela forma de desigualdade é favorável ou mesmo necessária ao melhor ordenamento social ou ao progresso da civilização e, portanto, a ordem social deve respeitar e não abolir as desigualdades entre os homens, ou, pelo menos, aquelas desigualdades que são consideradas social e politicamente úteis ao progresso social. Já que as sociedades até hoje existentes são de fato sociedades de desiguais, as doutrinas não igualitárias representam habitualmente a tendência a conservar o estado de coisas existente: são doutrinas conservadoras. As doutrinas igualitárias, ao contrário, representam habitualmente a tendência a modificar o estado de fato: são doutrinas reformadoras. Quando, além do mais, a valorização das desigualdades chega ao ponto de desejar e promover o restabelecimento de desigualdades agora canceladas, o não-igualitarismo se torna reacionário; ao contrário, o igualitarismo torna-se revolucionário quando projeta o salto qualitativo de uma sociedade de desiguais, tal como até agora existiu, para uma futura sociedade de iguais 6.2. IGUALITARISMO E LIBERALISMO Igualitarismo e liberalismo enquanto igualitarismo e não-igualitarismo são totalmente antitéticos, igualitarismo e liberalismo são apenas parcialmente antitéticos, o que não anula o fato de que, historicamente, tenham sido geralmente considerados como doutrinas antagônicas e alternativas. O não-igualitarismo nega a máxima do igualitarismo, segundo a qual todos os homens devem ser iguais em tudo, com relação à totalidade dos sujeitos, afirmando, ao contrário, que somente alguns homens são iguais, ou, no limite, que nenhum homem é igual a outro; já o liberamos nega a mesma machuca não com relação à totalidade dos sujeitos, mas à totalidade (ou quase totalidade) dos bens e dos males com relação aos quais os homens deveriam ser iguais, ou seja, admite a igualdade de todos não em tudo (ou quase tudo), mas somente em algo, um algo constituído, habitualmente, pelos chamados direitos fundamentais, ou naturais, ou, como hoje se diz, humanos. Esses direitos não são mais do que as várias formas de liberdade pessoal, civil e política, enumeradas progressivamente pelas várias Constituições dos Estados nacionais desde o final do século XVIII até hoje, e reconfirmadas, depois da Segunda Guerra Mundial, em documentos internacionais, tais como a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948) e a Convenção Europeia dos Direitos do Homem (1950). O ideal do Estado liberal, tal como foi paradigmaticamente expresso por Kant, é o ideal de um Estado no qual todos os cidadãos gozam de uma igual liberdade, isto é, são igualmente livres, ou iguais nos direitos de liberdade. Todavia, o liberalismo é uma doutrina só parcialmente igualitária: entre as liberdades protegidas inclui-se também, em geral, a liberdade de possuir e de acumular, sem limites e a título privado, bens econômicos, assim como a liberdade de empreender operações econômicas (a chamada liberdade de iniciativa econômica), liberdades das quais se originaram e continuam a se originar as grandes desigualdades sociais nas sociedades capitalistas mais avançadas e entre as sociedades economicamente mais desenvolvidas e as do Terceiro Mundo. As doutrinas igualitárias, de resto, sempre acusaram o liberalismo de ser defensor e protetor de uma Sociedade econômica e, portanto, também politicamente não-igualitária; para Marx, a igualdade jurídica de todos os cidadãos sem distinções de estamento, proclamada pela Revolução Francesa, não passou, na realidade, de um instrumento de que se serviu a classe burguesa com o objetivo de liberar e tornar disponível a força de trabalho necessária ao desenvolvimento do capitalismo nascente, através da ficção útil de um contrato voluntário entre indivíduos igualmente livres. Da crítica das doutrinas igualitárias contra a concepção e a prática liberal do Estado é que nasceram as exigências de direitos sociais, que transformaram profundamente o sistema de relações entre o indivíduo e o Estado e a própria organização do Estado, até mesmo nos regimes que se consideram continuadores, sem alterações bruscas, da tradição liberal do século XIX. Por outro lado, os liberais sempre acusaram os igualitários de sacrificar a liberdade individual, que se alimenta da diversidade das capacidades e das aptidões, à uniformidade e ao nivelamento impostos pela necessidade de fazer com que os indivíduos associados sejam tão semelhantes quanto possível: na tradição do pensamento liberal, o igualitarismo torna-se sinônimo de achatamento das aspirações, de compressão forçada dos talentos, de nivelamento improdutivo das forças motrizes da sociedade. Liberalismo e igualitarismo deitam suas raízes em concepções da sociedade profundamente diversas: individualista, conflitualista e pluralista, no caso do liberalismo; totalizante, harmônica e monista, no caso· do igualitarismo. Para o liberal, a finalidade principal é a expansão da personalidade individual, abstratamente considerada como um valor em si; para o igualitário, essa finalidade é o desenvolvimento harmonioso da comunidade. E diversos são também os modos de conceber a natureza e as tarefas do Estado: limitado e garantista, o Estado liberal; intervencionista e dirigista, o Estado dos igualitários. Essa diversidade, contudo, não exclui a proposta de sínteses teóricas e soluções práticas de compromisso entre liberdade e igualdade, na medida em que esses dois valores fundamentais juntamente com a ordem) de toda convivência civilizada são considerados como sendo não apenas antinômicos, mas também parcialmente complementares. A Constituição italiana, para citar uma entre muitas, estabelece em seu art. 3º, § 2º, que é tarefa da República remover os obstáculos de ordem econômica e social que, limitando de fato a liberdade e a igualdade dos cidadãos, impedem o pleno desenvolvimento da pessoa e a efetiva participação de todos os trabalhadores na organização política, econômica e social do país. Mesmo levando-se na devida conta a imensa distância que existe entre declarações solenes desse tipo e a realidade de fato, é significativo que liberdade e igualdade sejam consideradas, no mesmo texto, como bens indivisíveis e solidários entre si. 6.3. O IDEAL DA IGUALDADE A tendência no sentido de uma igualdade cada vez maior, como já havia observado ou temido Tocqueville no século XIX, é irresistível: o igualitarismo, apesarda aversão e da dura resistência que suscita em cada reviravolta da história, é uma das grandes molas do desenvolvimento histórico. A igualdade entendida como equalização dos diferentes é um ideal permanente e perene dos homens vivendo em sociedade. Toda superação dessa ou daquela discriminação é interpretada como uma etapa do progresso da civilização. Jamais como em nossa época foram postas em discussão as três fontes principais de desigualdade entre os homens: a raça (ou, de modo mais geral, a participação num grupo étnico ou nacional), o sexo e a classe social. Depois da tragédia do racismo hitleriano e quase como uma desforra contra as abominações que ele praticou, a opinião pública mundial reesperou para o apelo daquele grande movimento rumo à igualdade que é a superação do ódio e da discriminação raciais. O racismo está se tornando cada vez mais, para quem o exerce ou apenas o tolera, uma marca de infâmia. N nenhum auditório estudantil no mundo poderia hoje escutar sem revolta a lição sobre o homem negro (o homem natural em sua total barbárie e desregramento) que Hegel, o grande Hegel, ministrava de sua cátedra em Berlim. Como já se observou várias vezes, a revolução silenciosa de nosso tempo, a primeira revolução incruenta da história, é a que conduz à lenta mas inexorável atenuação, até a total eliminação, da discriminação entre os sexos: a equiparação das mulheres aos homens, primeiro na mais restrita sociedade familiar, depois na mais ampla sociedade civil, através da igualdade em grande parte exigida e em parte (ainda que em pequena parte) já conquistada nas relações econômicas e políticas, é um dos sinais mais seguros e encorajadores da marcha da história humana no sentido da equalização dos desiguais. Há mais de um século a ideia comunista atua na direção da luta contra a desigualdade das classes sociais, considerada como a fonte de todas as outras desigualdades, rumo à meta última da sociedade sem classes, uma sociedade na qual o livre desenvolvimento de cada um seja a condição para o livre desenvolvimento de todos. Tal como a liberdade, também a igualdade aparece cada vez mais como um 'tão. Como 'tão e, ao mesmo tempo, como retorno à origem, ao estado de natureza dos jusnaturalistas, ou, ainda mais remotamente à idade de ouro, ao reino de Saturno, rei tão justo que sob o reinado não haveria nem escravos nem propriedade privada, mas todas as coisas pertenciam a todos sem divisões, como se todos os homens tivessem um só patrimônio. E mais do que a liberdade, é a igualdade precisamente a igualdade substancial, a igualdade dos éguas 't' d litros que forma o traço comum e caratês ICO as cidades ideais dos utópicos (assim como uma feroz e inflexível desigualdade é o signo da advertência e da premonição das utopias negativas de nosso tempo), tanto daquela de Thomas More, que escreve que enquanto ela [a propriedade] perdurar, pesará sempre sobre a parcela amplamente majoritária e melhor da humanidade o fardo angustiante e inevitável da pobreza e das desventuras, como daquela de Tomas Campa-nela, cuja Cidade do Sol é habitada por filósofos que resolvem viver filosoficamente em comum. Inspira tanto as visões milenaristas das seitas heréticas que lutam pelo advento do Reino de Deus, que será o reino da fraternidade universal, quanto os ideais sociais das revoltas camponesas, nas quais Thomas Manzer -que, segundo Melanchton, ao ensinar que todos os bens deviam ser possuídos em comum, tornara a massa tão selvagem que não queria mais trabalhar -se liga a Gerard Winstanleyíta, que pregava: o governo do rei é o governo dos escribas e dos fariseus, que só se consideram livres se são donos da terra e dos seus irmãos; mas o governo republicano é o governo da justiça e da paz, que não faz distinção entre as pessoas. Constitui o nervo do pensamento social dos socialistas utópicos, desde o Código da natureza de Marly até a sociedade da grande harmonia de Fourier. Anima, agita e torna temível o pensamento revolucionário de Babel: somos todos iguais, não é verdade? Este princípio é inconteste; pois, a não ser que se esteja louco, não se pode dizer seriamente que é noite quando é dia. Então, pretendemos viver e morrer iguais como nascemos: queremos. A igualdade efetiva ou a morte. Do pensamento utópico ao pensamento revolucionário, o igualitarismo percorreu um longo trecho do caminho: contudo, a distância entre a aspiração e a realidade sempre foi continua a ser tão grande que, olhando para o lado e para trás, qualquer pessoa sensata deve não só duvidar seriamente de que ela possa um dia ser inteiramente superada, mas também indagar se é razoável propor essa superação. 6.4. IGUALDADE, LIBERDADE E JUSTIÇA Essa obra de Bobbio é considerada um clássico jurídico, pelo fato de tratar de dois dos preceitos que podem servir de base para a edificação de um regime político e social, e que portanto têm intrínseca relação com o ordenamento jurídico de cada país, principalmente nos capítulos constitucionais relativos ao direito e garantias individuais (comumente considerado os mais importantes de cada constituição, a qual por sua vez é a lei mais importante de cada país, e são elevados inclusive, a categoria de clausuras pétreas). No primeiro capítulo de sua obra, do título sobre a igualdade, essa é a conceituada como sendo uma aspiração permanente de homens que vivam em sociedade, como sendo um valor de convivência ordenada, feliz e civilizada, podendo ser desejada em companhia da liberdade. Para Bobbio, a forma mínima de se empregar o conceito de igualdade é no sentido de totalidade, como fazem as ideologias igualitárias ao defenderem a igualdade entre a humanidade, diversamente do que ocorre com as ideologias libertárias (de matriz individualista, para as quais a sociedade é meramente um agregado de indivíduos). Conclui-se então que a liberdade é predicativa de um ente e igualdade, modo de estabelecer determinado tipo de relação entre componentes de uma totalidade. Após conceituação inicial de Bobbio, vê-se que os modelos políticos de busca dos valores de liberdade e igualdade irão operar sob diferentes instâncias do corpo social para atingir os fins a que se dispõe. Bobbio diz também que caso o sistema político, moldado pela ideologia política dominante na população, opte pela valorização da igualdade, as políticas públicas e leis terão de abranger o conjunto da sociedade terão de visar uma parte da sociedade, a menos desfavorecida, para que tal desfavorecimento fosse sanado e que a igualdade fosse restaurada. Já no âmbito de igualdade e justiça, diz nesse sentido a relação de igualdade seria desejável por ser considerada justa e por visar a harmonização das partes integrantes de um todo, para qual todo adquira durabilidade. Na síntese de Bobbio, seria a liberdade um valor do indivíduo em face do todo (um bem individual) e a justiça um bem do todo enquanto soma das partes (um bem social). 6.5. A IGUALDADE DE TODOS Uma das políticas que possui maior valor emotivo é a que define a igualdade de todos os homens, com o uso do argumento de que todos os homens são ou nascem iguais. Esse pensamento aparece diversas vezes no pensamento político ocidental. Contudo, o conceito de igualdade a todos é contrariado a partir do momento que poucos desfrutam de bens e direitos dos quais os demais são privados. A ideia de que todos são iguais não deve ser interpretada com a exigência de que todos os homens sejam iguais em tudo, mas com a ideia de que todos devem ser tratados como iguais e vistos como iguais com relação as qualidades do homem comoo uso da razão, a capacidade jurídica, a capacidade de possuir, a dignidade social etc. 6.6. A IGUALDADE DIANTE DA LEI O conceito de ISONOMIA, do pensamento político grego, aparece nas seguintes palavras de Eurípedes (poeta grego): nada é mais funesto para uma cidade do que um tirano. Esse conceito define o princípio de que todos são iguais perante a lei, ou seja, quando existem leis escritas, o pobre e o rico tem direitos iguais. Contudo, esse conceito de que todos iguais perante a lei não é de modo algum claro, tendo em vista que dentro do campo jurídico os cidadãos são divididos em categorias jurídicas diversas e distintas, dispostas numa ordem hierárquica, onde os superiores tem privilégios que os inferiores não tem. Esse princípio tem alguns significados históricos, como na passagem do Estado estamental para o Estado liberal burguês esse significado é nítido para quem examinar a diferença entre o Código prussiano de 1794, que contempla três estamentos em que se divide a sociedade civil (camponeses, burgueses e nobreza), e o Código napoleônico de 1804, onde só existem cidadãos, tendo em vista que ele era imperador sendo a única autoridade que prevalece aos demais naquele período. 6.7. A IGUALDADE JURÍDICA É necessário distinguir a igualdade perante a lei da igualdade de direito, da igualdade nos direitos e da igualdade jurídica: A igualdade de direito, corresponde quase sempre à contraposição entre igualdade formal e igualdade substancial; A igualdade nos direitos significa o igual gozo, por parte dos cidadãos, de alguns direitos fundamentais constitucionalmente assegurados, como são assegurados em algumas formulações célebres: Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, 1789; Declaração Universal dos Direitos do Homem, 1984; A Igualdade perante a lei é apenas uma forma específica da igualdade de direito ou dos direitos (por exemplo, do direito de todos de terem acesso a jurisdição comum, ou aos principais cargos civis e militares, independentemente do nascimento); A igualdade jurídica se entende a igualdade que faz de todo membro de um grupo social, inclusive a criança, um sujeito jurídico, ou seja, um sujeito dotado de capacidade jurídica. 6.8. A IGUALDADE DAS OPORTUNIDADES Considerado um dos pilares do estado de democracia social, o princípio da igualdade de oportunidades, ou de chances. Quando elevado a princípio geral, tem como objetivo colocar todos os membros daquela determinada sociedade na condição de participar da competição da vida, a partir de posições iguais. É supérfluo dizer que muda de sociedade para sociedade a definição de quais davam ser as posições de partida a serem consideradas como iguais, de quais devam ser as condições sociais e materiais que permitam concorrentes iguais. Mas não é supérfluo chamar atenção para o fato de que colocar indivíduos desiguais por nascimento nas mesmas posições de partida pode ser favorável aos mais pobres, isto é introduzir artificialmente discriminações que não existiriam, como ocorre em certas competições esportivas onde o concorrente menos experiente leva vantagem ao mais experiente. Desse modo, uma desigualdade torna-se um instrumento de igualdade, pelo simples motivo de corrigir uma desigualdade anterior: a nova igualdade é resultado da equiparação de duas desigualdades. 6.9. A IGUALDADE DE FATO Entende-se a igualdade com relação aos bens materiais, ou igualdade econômica. Os bens da igualdade se definem em bens com relação as necessidades que eles tendem a satisfazer, a questão da determinação do que é ou do que não é um bem. Uma vez determinada a natureza dos bens com relação aos quais os homens deveriam ser iguais. É preciso também estabelecer os modos através dos quais os homens entram e permanecem em relação com esses bens. 6.10. O IGUALITARISMO O objetivo do igualitarismo é o desenvolvimento harmonioso da comunidade, defendendo a igualdade para o maior número de homens no maior número de bens. Percebe-se que o Igualitarismo parcial ou limitado é perfeitamente compatível com uma concepção não igualitária da sociedade como um todo. 7. O ESTADO E O PODER. 7.1. TEORIAS DO PODER Aquilo que estado e política tem em comum é a referência ao fenômeno do poder. Não há teoria política que não parta de alguma maneira, direta ou indiretamente de uma definição de poder e de uma análise do fenômeno do poder. A teoria do estado apoia-se sobre a teoria dos três poderes e da relação entre eles. O processo político é ali definido como a formação, a distribuição e o exercício do poder. Na filosofia política o poder foi apresentado sob três aspectos, com três teorias fundamentais: substancialista, subjetivista e relacional. Nas teorias substancialistas, o poder é concebido como uma coisa que se possui e se usa como um outro bem qualquer . Esta típica interpretação é a de Hobbes, em que o poder de um homem a consiste nos meios de que presentemente dispõe para obter qualquer visível bem no futuro. Típica interpretação subjetivista é a de Locke onde poder é a capacidade do sujeito de obter certos efeitos. Este modo de entender o poder é adotado pelos juristas para definir o direito subjetivo. E que um sujeito tenha um direito subjetivo significa que o ordenamento jurídico lhe atribuiu poder de obter certos efeitos. Porém a mais aceita no discurso político contemporâneo é a terceira, que se remete ao conceito relacional de poder, e estabelece que por poder deve-se entender uma relação entre dois sujeitos, dos quais o primeiro obtém do segundo um comportamento que em caso contrário não ocorreria. Em Dahl, influência é uma relação entre atores, que induz o comportamento do outro de forma que de modo contrário não se realizaria. Ainda para Dahl, o poder de um é a negação da liberdade do outro e vice-versa. 7.2. AS FORMAS DO PODER E O PODER POLÍTICO Uma vez reduzido o conceito de Estado ao de política e o conceito de política ao de poder, o problema a ser resolvido torna-se o de diferenciar o poder político de todas as outras formas que pode assumir a relação de poder. A tipologia clássica, transmitida ao longo dos séculos, é a que se encontra na Política de Aristóteles, que distingue três tipos de poder com base na esfera em que é exercido: o poder dos pais sobres os filhos, do senhor sobre os escravos, do governante sobre os governados. A tripartição das formas de poder em paterno, despótico e civil é um dos tópos da teoria política clássica e moderna. Locke distingue-se de Aristóteles pelo critério de distinção no que diz respeito ao diverso fundamento dos três poderes. O poder do pai tem fundamento natural, na medida em que nasce da própria geração; o senhorial é o efeito do direito de punir quem se tornou culpado de um delito grave, e portanto, passível de uma pena igualmente grave como a escravidão; o poder civil está fundado sobre o consenso expresso ou tácito daqueles aos quais é destinado. O poder político vai-se assim identificando com o exercício da força e passa a ser definido como aquele poder que, para obter efeitos desejados, tem o direito de se servir da força. O uso da força física é condição necessária para a definição de poder político, mas não é condição suficiente. O tema da exclusividade do uso da força como característica do poder político é hobbesiano por excelência, a passagem do estado de natureza para o Estado representado pela passagem do uso indiscriminado da própria força contra os demais a uma condição na qual o direito de usar a força cabe apenas ao soberano. 7.3. AS TRÊS FORMAS DE PODER Vários critérios foram adotados para distinguir as várias formas de poder. O critério do meio de que se serveo detentor do poder para obter os efeitos desejados é o mais usado. Esta tipologia que classifica quanto aos meios define três poderes :econômico, ideológico e político, ou seja da riqueza, do saber e da força. • Poder econômico: é aquele que se vale da posse de certos bens numa situação de escassez, para induzir os que não possuem a adotar certa conduta. Na posse dos meios de produção isto representa grande fonte de poder. • Poder ideológico: é aquele que se vale da posse de certas formas de saber para exercer uma influência sobre o comportamento alheio e induzir outros a realizar ou não uma ação. • Poder político: é o que esta em condições de recorrer em última instância ao uso da força(e está em condições de fazê-lo por que detém o monopólio).Estas três formas de poder contribuem para manter sociedades desiguais, divididas entre fortes e fracos(com base no poder político); entre ricos e pobres(com base no poder econômico) e em sábios e ignorantes(com base no poder ideológico). 7.4. O PRIMADO DA POLÍTICA A concepção do primado da política sobre os demais poderes, corresponde a doutrinada necessária imoralidade ou amoralidade da ação política que deve visar o próprio fim, sem sentir vinculada ou embaraçada por contemporização de outra natureza :primado que se reflete na figura do príncipe maquiavélico, com relação ao qual os meios empregados para vencer ou conquista o Estado são sempre, seja eles quais forem, “julgados honrosos ou por todos louvados. • independência do juízo político ao juízo moral. Primado da política e da razão do Estado: independência do juízo político da moral. Segundo Hegel, o princípio da ação do Estado está na própria necessidade de existir. 8. O FUNDAMENTO DO PODER 8.1. O PROBLEMA DA LEGITIMIDADE Com respeito ao poder político o problema de sua justificação nasce do questionamento se basta sua força para fazê-lo aceito por aqueles sobre os quais se exerce, para induzir seus destinatários a obedecê-lo. A este problema surge duas questões acerca da efetividade(no sentido de que o poder fundado sobre a força não pode durar) e também o problema da legitimidade (no)sentido de que um poder fundado apenas sobre a força pode ser efetivo, mas não considerado legítimo). • Se se limita a fundar o poder exclusivamente sobre a força, como se faz para distinguir o poder político do poder de um bando de ladrões? A consideração segundo a qual o supremo poder que é o poder político, deva também ter uma justificação ética, deu lugar a formulação de princípios de legitimidade, isto é, dos vários modos com os quais se procurou dar a quem detém o poder, uma razão de comandar, e a quem suporta o poder, uma razão de obedecer, dando a classe que detém o poder base moral e legal, isto por meio de duas fórmulas: a que faz derivar o poder da autoridade de Deus e a que o faz derivar da autoridade do povo. 8.2. OS VÁRIOS PRINCÍPIOS DE LEGITIMIDADE Na realidade, os princípios de legitimidade sempre adotados ao longo da história não são apenas os dois indicados por Mosca. Podem ser distinguidos pelo menos seis deles, através de duplas antitéticas de 3 grandes princípios unificadores: a vontade a natureza e a história. • Vontade: em uma concepção descendente do poder a autoridade ultima é a vontade de Deus, numa concepção ascendente a autoridade última é a vontade do povo. • Natureza: natureza como força originária(segundo a prevalente concepção clássica do poder ; e natureza como ordem racional pela qual a lei da natureza se identifica com a lei da razão (segundo prevalente interpretação jusnaturalista moderna). Obs.: 1 interpretação: da origem a ideia de que existem naturalmente forte e fracos, sábios e ignorantes , etc. 2 interpretação: significa ao contrário fundar o poder sobre a capacidade do soberano de identificar e aplicar leis naturais, que são as leis da razão. • História: tem duas dimensões de legitimação do poder , a passada ou a futura. A referência à história passada institui como princípio de legitimação a força da tradição,(critério de legitimação do poder constituído) enquanto que a referência a história futura constitui um dos critérios para a legitimação do poder que está se constituindo .O debate sobre os critérios de legitimidade não tem apenas um valor doutrinal, mas está ligado ao problema da obrigação política, baseando-se no princípio de que a obediência é devida apenas ao poder legitimo. E onde acaba a obrigação de obedeceras leis, começa o direito de resistência. 8.3. LEGITIMIDADE E EFETIVIDADE Em oposição à teorias anteriores que defendem que a legitimidade é necessária para a efetividade, as teorias positivistas abrem caminho a tese de que apenas o poder efetivo é legítimo. No âmbito do positivismo jurídico, isto é, de uma concepção que considera como direito apenas o direito posto pelas autoridades delegadas para este fim pelo próprio ordenamento e tornado eficaz por outras autoridades previstas pelo próprio ordenamento dão outra direção ao tema da legitimidade, e neste sentido a eficácia deriva da legitimidade. Os três tipos puros ou ideais de poder legítimo são segundo Weber, o poder tradicional, o poder racional- legal e o poder carismático, e representam três tipos diversos de motivação, no poder tradicional, o motivo da obediência é a crença na racionalidade do soberano, sacralidade esta que deriva da força daquilo que dura há tempo (tradição); no poder racional a obediência deriva da crença na racionalidade do 9. ESTADO E DIREITO 9.1. OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO Ao lado do problema do fundamento do poder, a doutrina clássica do Estado sempre se ocupou também do problema dos limites do poder, problema que geralmente é apresentado como problema das relações entre direito e poder (ou direito e Estado).Desde que o problema do Estado passaram a tomar conta os juristas, o Estado tem sido definido através de três elementos constitutivos : o povo, o território e a soberania. Por Estado em uma definição atualizada e corrente , “é um ordenamento jurídico destinado a exercer o poder soberano sobre um dado território, ao qual estão necessariamente subordinados os sujeitos a ele pertencentes.”(Mortati) Na rigorosa redução que Kelsen faz do Estado a ordenamento jurídico, o poder soberano torna-se o poder de criar e aplicar direito num território e para um povo, poder que recebe sua validade da norma fundamental e da capacidade de se fazer valer recorrendo inclusive, em última instância, à força, e portanto do fato de ser não apenas legítimo mas eficaz. O território torna-se o limite de validade espacial no sentido de que as normas emanadas do poder soberano valem apenas dentro de determinadas fronteiras, e o povo trona-se o limite de validade pessoal do direito do Estado. Justamente Kelsen, além dos limites de validade espacial e pessoal, que redefinem os elementos constitutivos território e povo, leva em consideração outras duas espécies de limite , os de validade temporal (uma norma tem validade limitada entre os limites de sua emanação e ab-rogação)e os limites de validade material na medida que existem : a) matérias não passíveis de regulamentação; b)matérias que podem ser reconhecidas como indisponíveis pelo próprio ordenamento. 9.2. O GOVERNO DAS LEIS A relação entre direito e poder é apresentado, desde a antiguidade pela pergunta : é melhor o governo das leis ou dos homens ? Platão afirma em sua distinção entre bom e mau governo que onde a lei é súdita dos governantes e privada de autoridade, vejo a ruína da cidade, e de onde ao contrário, a lei é senhora dos governantes e os governados seus escravos, vejo a salvação da cidade...” Aristóteles por sua vezafirma que a lei não tem paixões, e a supremacia da lei com respeito ao juízo dado caso por caso pelo governante repousa em sua generalidade e constância. O princípio da subordinação a lei conduz à doutrina do governo da lei, fundamentando o Estado de Direito, que em sua acepção mais restrita, representa o Estado cujos poderes são exercidos no âmbito de leis preestabelecidas. Mas surge uma questão : se as leis são geralmente postas por quem detém o poder, de onde vêm as leis a que deveria obedecer o próprio governante? A resposta a essa pergunta abrem duas estradas. A primeira que defende que além das leis postas pelos governantes existem as leis que não dependem da vontade dos governantes, e estas são leis naturais, ou leis cuja força vinculatória está radicada numa tradição. E a segunda que afirma que no início de um bom ordenamento existe um sábio, o grande legislador que deu ao povo uma constituição que deve ser escrupulosamente ater-se. Ambas as estradas foram percorridas ao longo da história do pensamento político e mesmos os artífices das leis são obrigados a respeitas as leis superiores as leis positivas, como as leis naturais. 9.3. OS LIMITES INTERNOS A ideia recorrente do governo das leis como superior ao governo dos homens pode parecer em contraste com o princípio que corresponde ao fato de o príncipe esta livre das leis (princeps é legibus solutus). O princípio não que dizer que o poder do príncipe não tenha limites : as leis a que se refere o princípio são leis positivas, ou seja, as leis postas pelo próprio soberano, isto não exclui que esteja submetido enquanto homem, como todos os homens a leis naturais e divinas. Além disso Bodin acrescenta a limitação pelas leis fundamentais do reino (como por exemplo a que regula a sucessão do trono) que são transmitidas e consuetudinárias e como tais positivas. Por fim, existe um terceiro limite e que serve para distinguir a monarquia régia da monarquia despótica : o poder do rei não se estender a esfera do direito privado(que é considerado direito natural) salvo em caso de justificada necessidade. Para alguns o poder do rei deve ser limitado não apenas pela existência de leis superiores, mas também pela existência de centros de poder legítimos que presentes Estado( clero, nobreza, as cidades). Sendo assim o respeito às leis superiores serve para distinguir o reino da tirania, e a presença de corpos intermediários serve para distinguir a monarquia do despotismo. Uma ulterior fase do processo de limitação jurídica do poder político é a que se afirma na teoria da separação dos poderes(executivo, legislativo e judiciário), e sua concentração nas mesmas mãos (sejam estas, mãos de muitos ou de poucos) se define como verdadeira ditadura. Seja qual for o fundamento dos direitos do homem, são eles considerados como direitos que o homem tem enquanto tal, independentemente de serem postos pelo poder político e que portanto o poder político deve não só respeitar, mas também proteger. 9.4. OS LIMITES EXTERNOS Nenhum Estado está só. Todo Estado existe ao lado de outros Estado, em uma sociedade de Estados. A soberania destes tem duas faces, uma voltada para o interior, outra para o exterior, correspondentemente vai ao encontro de dois tipos delimites: os que derivam das relações entre governantes e governados, e são limites internos, e os que derivam das relações entre Estados. E são limites externos. Mas ao processo de unificação interior, corresponde um processo de emancipação em relação ao exterior, pois quanto mais consegue vincular- se aos súditos, mais consegue tornar-se independente. Enquanto o processo de dissolução do império representa uma redução do poder em favor de novos Estados, o processo de formação de um Estado maior a a partir da união de Estado pequenos representa um esforço de poder dos primeiros sobre os segundo: estes perdem em independência interna, aquilo que ganham em força no exterior, unindo-se a outros(característica marcante do federalismo). Do ponto de vista externo, a história dos Estados europeus é um contínuo processo de decomposição e recomposição, e portanto de vinculação e desvinculação dos limites jurídicos. 10. CONCLUSÃO Norberto Bobbio (1909-2004) foi um dos maiores politógos do século XX. Dentre sua extensa obra, deixou uma importante contribuição à Ciência Política: seu livro Teoria Geral da Política: a filosofia política e as lições dos Clássicos. Este texto tentará abordar ligeiramente algumas considerações sobre o conceito de política na visão desse autor. Para Bobbio, falar em política enquanto prática humana conduz, consequentemente, a se pensar no conceito de poder. O poder estaria ligado à ideia de posse dos meios para se obter vantagem (ou para fazer valer a vontade) de um homem sobre outros. Assim, o poder político diria respeito ao poder que um homem pode exercer sobre outros, a exemplo da relação entre governante e governados (povo, sociedade). Contudo, ao falar em poder político, é preciso pensar em sua legitimação. Podemos ter poderes políticos legitimados por vários motivos, como pela tradição (poder de pai, paternalista), despótico (autoritário, exercido por um rei, uma ditadura) ou aquele que é dado pelo consenso, sendo este último um modelo de governo esperado. O poder exercido pelo governante em uma democracia, por exemplo, dá-se pelo consenso do povo, da sociedade. No caso brasileiro, o poder da presidenta é garantido por que existe um consenso da sociedade que o autoriza e, além disso, há uma Constituição Federal que formaliza e dá garantias a esse consenso. Conforme nos mostra Bobbio (2000), há uma tipologia moderna das formas de poder, como poder econômico, poder ideológico e poder político, sendo que este último seria aquele no qual se tem a exclusividade para o uso da força. Nas palavras de Bobbio (ibidem, p. 163), “o poder político, enfim, funda-se sobre a posse dos instrumentos através dos quais se exerce a força física (armas de todo tipo e grau): é o poder coativo no sentido mais estrito da palavra”. Contudo, Bobbio também aponta que não é apenas o uso da força, mas sim seu monopólio, sua exclusividade, que tem o consentimento da sociedade organizada. Em outras palavras, será uma exclusividade de poder que pode ser exercida sobre um determinado grupo social, em determinado território. Outro aspecto importante para Bobbio sobre a política é que sua finalidade ou seu fim não pode se resumir apenas em um aspecto, pois “[...] os fins da política são tantos quantas forem as metas a que um grupo organizado se propõe, segundo os tempos e as circunstâncias” (ibidem, p. 167). Porém, um fim mínimo à política (enquanto poder de força) é a manutenção da ordem pública e a defesa da integridade nacional. Essa finalidade é mínima para a realização de todos os outros fins do poder político. Porém, é importante se atentar para o fato de que o poder político não pode ter como finalidade o poder pelo poder, pois se assim fosse perderia o sentido. Quando Bobbio, cita Carl Shmitt, também fala da ideia de política como relação amigo-inimigo, dizendo que “o campo de origem e de aplicação da política é o antagonismo, e sua função consistiria na atividade de agregar e defender os amigos e de desagregar e combater os inimigos”.No debate de ideias para se pensar a ordem social, essa oposição é fundamental, contudo, apenas esse nível de antagonismo pode ser tolerado pelo Estado, uma vez que a extrema divisão ou situação de conflito entre aqueles que compõem uma sociedade poderia levar ao caos. No exercício de compreensão do conceito de política, deve-se considerar que na filosofia política moderna aquilo que é políticonão necessariamente coincide com o social, pois, ao longo da história, as outras esferas da vida foram se separando do Estado, a exemplo do poder religioso e do poder econômico. Na visão de Bobbio, a política restringe-se à esfera do Estado, instituição esta responsável pela ordem social. Para Bobbio, “enquanto a filosofia política clássica está alicerçada sobre o estudo da estrutura da polis e das suas várias formas históricas ou ideais, a filosofia política pós-clássica caracteriza-se pela contínua tentativa de uma delimitação daquilo que é político (o reino de César) em relação àquilo que não é político (seja ele o reino de Deus ou o reino das riquezas), por uma contínua reflexão sobre aquilo que diferencia a esfera da política da esfera da não política, o Estado do não Estado...” O processo de emancipação da sociedade no sentido de seu “funcionamento” sem a presença do Estado poderia levar ao fim da política enquanto ação coercitiva para coesão social. Em outras palavras, se a sociedade conseguisse manter sua ordem sem o poder político (que usa da força), ela não precisaria mais do Estado. Nesse mesmo livro, Bobbio também fala da relação entre política e moral, uma vez que ambas estão ligadas à ação (à práxis) humana. Porém, aquilo que fundamenta ou motiva, ou aquilo que é permitido ou proibido, nem sempre tem o mesmo sentido para a política e para a moral. Segundo Bobbio, pode haver “ações morais que são impolíticas (ou apolíticas) e ações políticas que são imorais (ou amorais)” distinção esta que, aliás, já se fazia presente na obra de Nicolau Maquiavel. Dessa forma, seria preciso considerar que existem razões e ações do Estado que são justificadas quando por ele praticadas, mas jamais permitidas a um indivíduo. A política seria a razão do Estado, enquanto a moral seria a razão do indivíduo. Assim, seria preciso pensar na autonomia da ação política, a qual é motivada por razões que não são as mesmas da ação individual. Em suma, dessa breve explanação sobre alguns aspectos da obra citada de Norberto Bobbio, pode-se inferir que, em linhas gerais, sua posição tenta compreender a política como “atividade ou conjunto de atividades que têm de algum modo, como termo de referência, a pólis, isto é, o Estado” 11. BIBLIOGRAFIA DESCONHECIDO. Noberto Bobbio. Wikipedia. Disponível em <https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Norberto_Bobbio>. Acesso em 13 de abril de 2018 CORRÊA, R. Ferreira. “Resenha do livro "Igualdade e Liberdade"”, de Norberto Bobbio. Disponível em http://www.academia.edu/11699154/Resenha_do_livro_Igualdade_e_Liberdade_de_ Norberto_Bobbio. Acesso em 12 de abril de 2018 RIBEIRO, Paulo Silvino. "Ideia de Política em Norberto Bobbio"; Brasil Escola. Disponível em <https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/ideia-politica-norberto- bobbio.htm>. Acesso em 09 de abril de 2018. DESCONHECIDO. “Biografia”. Instituto Norberto Bobbio. Disponível em < http://www.institutonorbertobobbio.org.br/#!nobertobobbio/biografia>. Acesso em 23 de março de 2018. DESCONHECIDO. “Biografia”. Uol Educação. Disponível em < https://educacao.uol.com.br/biografias/norberto-bobbio.htm>. Acesso em 14 de abril de 2018. DESCONHECIDO. “Biografia”. INB-Blog . Disponível em < https://norbertobobbio.wordpress.com/norberto-bobbio/>. Acesso em 21 de abril de 2018.
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