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OTORRINOLARINGOLOGIA – 2º BIMESTRE AULA 09 – FARINGOTONSILITES E HIPERTROFIA DE TONSILAS DR. GERALDO Farongotonsilites (FT) = infecção de garganta (tonsila = amígdala) Processo inflamatório da mucosa faríngea e tecido linfoide do anel linfático de Waldeyer, podendo acometer 1 ou mais segmentos de faringe (adenoidites, tonsilites ou faringotonsilites, tonsilite lingual, faringite) A FT infecciosa é a infecção mais frequente das vias aéreas superiores (fossa nasal e faringe) Maior incidência em idade pré-escolar, escolar e pré-adolescente Podem ser classificadas como inespecíficas (não há especificidade entre agente etiológico e quadro clínico) e específicas. FARINGOTONSILITES INESPECÍFICAS Faringotonsilites virais – mais comum, principalmente no outono/inverno 75% dos casos em crianças < 2 anos de idade, diminuindo após a puberdade. Agentes etiológicos: adenovírus é o mais comum, rinovírus, coronavírus, influenza, parainfluenza e VSR Quadro clínico: Febre Exsudato na faringe e tonsilas Obstrução nasal Coriza Mialgia Estomatites (vírus Herpes simples e Epstein-barr) Evolução benigna e autolimitada, ou seja, com ou sem medicação vai sarar em torno de 10 dias Hemograma com linfocitose sugere infecção viral. Tratamento: cuidados com estado geral, hidratação, medicação analgésica e antitérmica Mononucleose infecciosa Agentes etiológicos: vírus Epstein-Barr (EBV), CMV, Toxoplasma, adenovírus e vírus da hepatite Transmissão: gotículas de saliva ou contato próximo. Conhecida como “doença do beijo” EBV infecta preferencialmente linfócitos B, provocando resposta celular imune no organismo com replicação de linfócitos T citotóxicos “atípicos” no sangue Hospedeiro imunossuprimido (imunodeficiência primária ou transplantados): resposta limitada de linfócitos T, com proliferação anormal de linfócitos B pelo EBV, podendo desenvolver linfomas de Hodgkin e não Hodgkin, linfoma de Burkitt, carcinoma nasofaríngeo. Quadro clínico: Pródromos (mal-estar, fadiga) Febre Dor de garganta (hipertrofia tonsilar, hiperemia, exsudato branco-amarelado em tonsilas, edema de úvula/palato) Adenopatia cervical (nódulos cervicais posteriores) Após 2 a 4 semanas podem surgir esplenomegalia, hepatomegalia, rash cutâneo e petéquias palatais Febre e faringite duram 2 semanas Adenopatia e organomegalia duram 6 semanas Diagnóstico: hemograma (linfocitose atípica sugere mononucleose), reação de Paul-Bunnel-Davidson, pesquisa de anticorpos IgM e IgG. Tratamento: suporte hidratação, analgésicos e repouso (risco de ruptura esplênica) Faringotonsiltes bacterianas Agudas Recorrentes Crônicas Agentes etiológicos: Streptococcus pyogenes beta-hemolítico do grupo A – GRAM + (principal) Copatógenos: S. aureus, Haemophillus spp, Moraxella catarrhalis (produtores de beta-lactamase, tem maior resistência às penicilinas, que são as principais drogas erradicadoras das FTs estreptocócicas do grupo A) Motivos de preocupação em relação à faringotonsilite estreptocócica: Febre reumática Glomerulonefrite aguda Escarlatina Infecções invasivas Síndrome do choque tóxico Alta transmissibilidade Diagnóstico de FTs estreptocócicas Realizado com bases clínicas e epidemiológicas e confirmados por exames laboratoriais através da cultura (padrão-ouro) ou detecção antigênica. Exame físico: Hiperemia acentuada de orofaringe Exsudato tonsilar Petéquias no palato Nódulos linfáticos cervicais anteriores dolorosos à palpação Ausência de sinais de FTs virais (coriza, rouquidão, tosse e diarreia) A viral tem febre mais baixa e no exame físico só tem hiperemia. Na bacteriana a febre é mais alta e tem pus ao exame físico. Principais sinais e sintomas clínicos das faringotonsilites Início súbito Dor de garganta Febre acima de 38,5 graus Cefaleia, náuseas, vômitos e dor abdominal na criança (pode simular doença entérica viral na criança) Exames laboratoriais (se houver necessidade) Hemograma: leucocitose com desvio à esquerda + neutrofilia Testes rápidos para identificação do SGA: menor custo do que a cultura, com especificidade de 95% Testes sorológicos (ASLO): úteis para saber se ocorreu uma infecção estreptocócica, mas não para o diagnóstico no início da doença Cultura de orofaringe (padrão-ouro) – demora de 3 a 4 dias Tratamento: Objetivos: melhorar sintomas da infecção aguda, diminuir período de contágio, prevenir complicações supurativas e não supurativas (Febre Reumática/GNPE) Analgésicos e antitérmicos Antibiótico: penicilina G benzatina, amoxicilina ou macrolídeos (pacientes alérgicos à penicilina). A droga de escolha é penicilina G benzatina IM. Faringotonsilites recorrentes Penicilina/amoxicilina é o antibiótico de escolha, porém nos casos rebeldes deverão ser administrados antibióticos que tenham ação contra bactérias produtoras de beta-lactamase. Quando o tratamento se mostrar ineficaz, indica-se cirurgia de acordo com os critérios de Paradise. Critérios de Paradise: Sete episódios agudos em um ano Cinco episódios por ano, em dois anos consecutivos Três episódios de infecção aguda, em três anos consecutivos Faringotonsilites crônicas Definição: dor de garganta por mais de 3 meses + inflamação tonsilar, podendo estar associada a halitose, presença de caseum nas criptas, eritema peritonsilar e adenopatia cervical persistente Flora bacteriana mista Tratamento: Antibiótico durante 3 a 6 semanas, contra patógenos anaeróbios e produtores de beta-lactamase (clindamicina/ amoxicilina + clavulanato) Cirúrgico Hiperplasia tonsilar As tonsilas palatinas/faríngeas aumentam progressivamente de tamanho durante a infância. O maior volume das tonsilas palatinas é do 4º ao 10º ano e das faríngeas do 3º ao 7º ano, havendo uma involução fisiológica após a puberdade. A hiperplasia tonsilar exuberante pode levar a distúrbios respiratórios, fonoarticulatórios, neurocognitivos, de deglutição, anomalias do desenvolvimento craniofacial e distúrbios de crescimento (SAOS). Sinais e sintomas de hiperplasia tonsilar: Obstrução nasal persistente Respiração oral ruidosaAdenoide Estagnação de exsudatos catarrais nas fossas nasais Tendência a surtos de otite média Fáscies adenoide Respiração dificultada e ruidosa Voz amigdaliana (abafada) Amígdala Disfagia Perda de peso, inapetência, palides Amigdalites de repetição Características fasciais dos respiradores bucais: Maxila atrésica Protrusão de incisivos superiores Mordidas aberta e cruzada Eversão de lábio inferior Lábio superior hipodesenvolvido Narinas estreitas Hipotonia da musculatura perioral Abscesso tonsilar Processo infeccioso no parênquima tonsilar geralmente com necrose tecidual, coleção purulenta e edema de tecidos circunvizinhos Cultura polimicrobiana Clínica: Odinofagia Alteração da voz Sialorreia Febre Sinais de flogose Exame físico: abaulamento tonsilar com sinais inflamatórios evidentes, unilateral na maior parte dos casos Tratamento: drenagem + antibiótico + sintomáticos Abscesso peritonsilar Complicação supurativa de tonsilites, em que o processo infeccioso atinge o espaço peritonsilar (entre a cápsula tonsilar e músculo constritor superior da faringe) Acomete mais polo superior amigdaliano Cultura polimicrobiana Clínica: Dor intensa unilateral com irradiação para orelha Sialorreia Disfagia Voz anasalada Febre Sintomas gerais (mal-estar, calafrios) Exame físico: abaulamento unilateral que se projeta para a linha média, sinais inflamatórios intensos: edema, hiperemia e coleção purulenta Complicações: ruptura espontânea e aspiração para via aérea inferior ou atingir o espaço lateral da faringe (abscesso parafaríngeo) Tratamento: punção com drenagem + antibióticos + sintomáticos Tratamento cirúrgico para abscessos recorrentes: tonsilectomia “a frio” ou “a quente” FARINGOTONSILITES ESPECÍFICAS Difteria Doença infecciosa aguda grave causada pelo Corynebacterium diphteriae (bacilo de Kleber-Loeffer), atualmente rara em virtude da vacinação. Acomete mais crianças até 10 anos Transmissão:contato direto através de gotículas respiratórias Clínica: Dor de garganta pouco intensa Febre baixa Toxemia Prostração Palidez de mucosas Exame físico: placas pseudomembranosas branco-acinzentadas aderentes às tonsilas, pilares e úvula + linfadenopatia cervical e submandibular. Complicações: tropismo da toxina diftérica para miocárdio, rins e SNC. O diagnóstico é dado através da cultura, mas já na suspeita deverá ser administrado soro antidiftérico. Pode ser associado antibiótico (penicilina/eritromicina) como medida auxiliar ao soro e também medidas de suporte (hidratação vigorosa e analgesia) Mau prognóstico: dependerá do tempo da doença sem tratamento (é pior se > 3 dias); presença de edema periganglionar, manifestações hemorrágicas, placas extensas na faringe, miocardite precoce, insuficiência renal. Angina de Plaut-Vincent Causada pela associação entre bacilo fusiforme Fusobacterium plautvincenti (Gram – anaeróbio) + espirilo Spirochaeta dentium, saprófitas da cavidade oral que tornam-se patogênicos em condições de mal higiene oral e desnutrição Clínica e exame físico: lesão ulceronecrótica unilateral, recoberta por exsudato pseudomembranoso, fétida, com disfagia e odinofagia, febre pode não estar presente Diagnóstico: clínico + cultura Tratamento: antibiótico (penicilina/cefalosporina + metronidazol) e higiene bucal rigorosa Angina luética – sífilis Agente: Treponema pallidum Quando suspeitar: ulceração tonsilar unilateral + fatores de risco para DST Boca (tonsilas, lábios, mucosa jugal língua, gengiva) local extragenital mais acometido Clínica e exame físico: lesão de aspecto tumoral e consistência lenhosa à palpação, acompanhado de linfadenomegalia. A dor não é muito importante. Diagnóstico: microscopia de campo escuro ou sorologia (CDRL/FTA-ABS) Tratamento: penicilina benzatina IM dose única Faringite gonocócica Agente: Neisseria gonorrheae Acometimento primário em trato urogenital, mas pode acometer reto, orofaringe e conjuntiva. É mais predominante em homens de 15 a 30 anos Assintomática na maioria dos casos, mas pode causas odinofagia e mal-estar local em alguns casos Tratamento: ceftriaxone IM ou doxiciclina VO por 7 dias Faringite herpética Agente: vírus herpes simples (HSV) – tipo 1 mais comum em lesões orais Transmissão: contato com gotículas respiratórias e secreções mucosas Clínica e exame físico: febre, mal-estar e dor de garganta, presença de vesículas sangrantes ao toque ou úlceras com exsudato acinzentado, linfadenopatia cervical Duração da fase aguda: 7 a 10 dias, com regressão espontânea dos sintomas Após infecção primária o vírus fica latente, podendo ser reativado em situações de fadiga, estresse, trauma e imunodeficiências Tratamento: sintomático, antirretrovirais reservados aos pacientes com deficiências imunológicas Herpangina Agente: vírus coxsackie tipos 2,3,4,5,6,8 e 10 Transmissão fecal-oral ou disseminação respiratória Crianças de 1 a 7 anos Duração: 4 dias Clínica: inicia-se com febre alta, anorexia, dor de garganta, podendo ter vômitos e diarreia Orofaringe: lesão hiperemiada com vesículas centrais, localizadas nos pilares, tonsilas, palato mole e úvula, após rompimento das vesículas formam-se ulceras rasa Tratamento: sintomático Câncer de tonsila Quando suspeitar: lesão ulcerada unilateral sem melhora ao tratamento clínico Fatores de risco: tabagismo, etilismo, papiloma vírus humano Biópsia com avaliação histopatológica é mandatória e fecha o diagnóstico Paracoccidioidomicose Agente: fungo Paracoccidioides brasiliensis Predomina no sexo masculino entre 30 a 50 anos, em habitantes da zona rural Forma crônica representa 90% dos casos, com acometimento pulmonar (mais comum), seguido de pele e mucosas Clínica e exame físico: buscar alterações na mucosa da nasofaringe e orofaringe como ulcerações, associadas a odinofagia, disfagia e disfonia Lesão oral: pouco comum, muitas vezes erroneamente tratada como CEC Diagnóstico: presença de fungos ao exame do escarro/raspados da lesão Tratamento: antifúngico por uso prolongado (itraconazol) Leishmaniose Agente: Leishmania brasiliensis Transmissão: picada de insetos (flebótomos) Forma tegumentar é a mais comum e 3% evoluem para a forma mucosa Principal alvo é a mucosa nasal, mas lesões em cavidade oral, faringe e laringe podem ser encontradas Infiltração edematosa bastante intensa, principalmente na úvula e depois pilares até parede posterior da faringe Observa-se tecido fibroso misturado com tecido de granulação de aspecto vegetante (principalmente em anel linfático de Waldeyer) Processo cicatricial após tratamento leva a formação de cordões esbranquiçados e deformação de estruturas anatômicas (véu palatino, parede posterior da faringe), com estenoses amplas Tratamento: glucantime Adenoidectomias Indicações absolutas Hiperplasia adenoamigdaliana grave Distúrbios respiratórios Distúrbios do sono Cor pulmonale Distúrbios do crescimento Distúrbios da deglutição Distúrbios da fonação Indicações relativas Tonsilites de repetição Abscesso peritonsilar recorrente (a frio após drenagem ou a quente junto com drenagem) Tonsilite crônica caseosa Doenças imunomediadas pelo Streptococcus pyogenes (GNDA/ febre reumática) Complicações locorregionais (OMC secretoras, rinossinusites, laringotraqueítes recorrentes) Contraindicações Anemias Distúrbios de coagulação Fissura submucosa (adenotonsilectomia pode promover uma incompetência velofaríngea) Técnicas cirúrgicas Anestesia geral com IOT + posição de rose (hiperextensão cervical) Abridor de boca de McIVOR Adenoidectomia palpação e curetagem da adenoide às cegas (cureta de Beckmann) Hemostasia com turundas (subgalato de bismuto) Tratado de otorrinolaringologia: microdebridador Amigdalectomia Técnica de dissecção: remoção das amígdalas por meio da sua apreensão, incisão do pilar anterior e dissecção por planos, com auxílio do aspirador descolador. Hemostasia com turundas (subgalato de bismuto) Ponto hemostático com Catgut 2-0 simples Técnica de sluder – tonsilótomo de sluder Técnica de dissecção extracapsular por eletrocautério bipolar Complicações Sangramento Dor Hiperêmese Desidratação hiponatrêmica
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