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Deficiência intelectual

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DEFICIÊNCIA INTELECTUAL 
Francimea H. Lopes 
Organizadora 
 
 
Na busca de uma melhor compreensão das deficiências em geral, em 1980 a 
Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs três níveis para esclarecer todas as 
deficiências, a saber: deficiência, incapacidade e desvantagem social. Em 2001, essa 
proposta, revista e reeditada, introduziu o funcionamento global da pessoa com 
deficiência em relação aos fatores contextuais e do meio, resituando-a entre as demais e 
rompendo o seu isolamento. Ela chegou a motivar a proposta de substituição da 
terminologia “pessoa deficiente” por “pessoa em situação de deficiência”. Assante, 
(2000), para destacar os efeitos do meio sobre a autonomia da pessoa com deficiência. 
Assim, uma pessoa pode sentir-se discriminada em um ambiente que lhe impõe barreiras 
e que só destaca a sua deficiência ou, ao contrário, ser acolhida, graças às transformações 
deste ambiente para atender às suas necessidades. 
A Convenção da Guatemala, internalizada à Constituição Brasileira pelo 
Decreto nº 3.956/2001, no seu artigo 1º define deficiência com {...} “uma restrição física, 
mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer 
uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico 
e social”. Essa definição ratifica a deficiência como uma situação. 
O diagnóstico da deficiência mental não se esclarece por supostas categorias e tipos de 
inteligência. Teorias psicológicas desenvolvimentistas, como as de caráter sociológico, 
antropológico têm posições assumidas diante da deficiência intelectual, mas ainda assim não se 
conseguiu fechar um conceito único que dê conta dessa intrincada condição. 
A deficiência intelectual é a nomenclatura usada atualmente para definir o que 
antigamente chamávamos de deficiência mental. O termo foi aprovado em agosto de 
2006, em uma Convenção Internacional de Direitos Humanos das Pessoas com 
deficiência, da Organização das Nações Unidas (ONU). 
A deficiência mental não é considerada uma doença ou um transtorno 
psiquiátrico, e sim um ou mais fatores que causam um prejuízo das funções cognitivas 
que acompanham o desenvolvimento diferente do cérebro. As Deficiências Intelectuais 
podem variar de leve à grave, diferenciando muito a intervenção de quem trabalha com 
este aluno. 
Para a Associação Americana de Deficiência Mental (AAMD), deficiência mental 
caracteriza-se por registrar um funcionamento intelectual geral significativamente abaixo 
da média, oriundo do período de desenvolvimento, anos concomitantemente com 
limitações associadas a duas ou mais áreas da conduta adaptativa ou da capacidade do 
indivíduo em responder adequadamente às demandas da sociedade, nos seguintes 
aspectos: comunicação, cuidados pessoais, habilidades sociais, desempenho na família e 
comunidade, independência e locomoção, saúde e segurança, desempenho escolar, lazer 
e trabalho. 
De acordo a AAMD, na deficiência mental observa-se uma substancial 
limitação da capacidade de aprendizagem do indivíduo, e de suas habilidades relativas á 
vida diária. O deficiente mental, assim, caracteriza-se por um déficit de inteligência 
conceitual, prática e social. 
Quatro dimensões configuram a identificação/diagnóstico da pessoa com DI: a 
função intelectual e as habilidades adaptativas, a função psicológico-emocional, as 
funções física e etiológica, e o contexto ambiental. 
Nesse enfoque multidimensional, é imperativo que se considere, na 
identificação da DM: a própria existência da deficiência; a intensidade da manifestação 
física, psicológica, emocional e da condição de saúde da pessoa que apresenta esse 
retardo; a capacidade funcional da pessoa para á vida cotidiana no lar, na escola, no 
trabalho e na comunidade; o contexto ambiental em que opera e as formas, quantidade e 
duração do apoio indicado, de modo a facilitar-lhe a independência, a produtividade e a 
interdependência, além de sua integração comunitária. 
O enfoque multidimensional considera o déficit intelectual indispensável, mas 
não suficiente nem exclusivo para a identificação de uma pessoa como come DM. Para 
receber esse diagnóstico, alguns requisitos deverão ser considerados: a incorporação do 
conceito de habilidades adaptativas; o uso adequado de instrumentos para a mensuração 
da inteligência geral estandardizados e validados; a faixa etária inferior aos dezoito anos, 
para o diagnóstico inicial; condições ambientais e de apoio que favoreçam a capacidade 
funcional da pessoa. 
Convém ressaltar que diagnósticos feitos antes dos seis anos de idade devem ser 
reavaliados, pois, nesta fase de desenvolvimento, muitas mudanças e estimulações podem 
ocorrer, alterando as características da criança (HONORA, 2008). 
Estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Banco Mundial 
indicam a alta incidência de deficiência intelectual em países em desenvolvimento, 
geralmente do Hemisfério Sul, por serem países com altas taxas de população que vivem 
abaixo da linha da pobreza, em condições precárias de saúde, de educação e de infra-
estrutura urbana. Os dados dos IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – 
indicam que 5% da população apresenta Deficiência Intelectual no Brasil. 
A educação das pessoas com deficiência intelectual requer ações especializadas 
e não especializadas da escola simultâneas à utilização de alternativas e procedimentos 
pedagógicos variados permeando as diversas formas de organização do sistema 
educacional. Desse modo, o aluno com DI terá oportunidade de apreender conteúdos e de 
desenvolver suas potencialidades. 
O atendimento ao educando deverá ser precedido de avaliação individualizada, 
efetuada pela equipe interdisciplinar, por meio de procedimentos específicos, que visam 
conhecer as potencialidades, as limitações e as necessidades especiais do deficiente 
intelectual. 
Para efeito do atendimento educacional, o diagnóstico da área de saúde deverá 
ser complementado pela avaliação pedagógica ou psicopedagógica, conforme os recursos 
locais. 
Quanto mais cedo os profissionais da área de saúde, a família ou a escola 
identificarem a DI na criança, mais rapidamente poderão ser efetivadas ações preventivas 
e maiores benefícios múltiplos poderão ser auferidos da intervenção educativa. 
O estudo global da relação entre as necessidades do educando e dos recursos 
educacionais da comunidade é indispensável, e deverá ser feito por uma equipe 
interdisciplinar. Após estudo pela equipe interdisciplinar, o encaminhamento do DI para 
os diversos serviços de atendimento educacional deverá levar em conta seu grau de 
deficiência, sua idade cronológica, seu histórico de atendimento, a disponibilidade de 
recursos humanos e materiais existentes na comunidade onde vive as condições 
socioeconômicas e culturais da região. 
 
 
 
 
 
Características dos Alunos com Deficiência Intelectual1 
 
1 Fonte: Esclarecendo as Deficiências: aspectos teóricos e práticos para contribuir com uma sociedade 
inclusiva 
 
No conjunto dos indivíduos com deficiência intelectual, existe uma grande 
variedade de capacidades e necessidades. Há, no entanto, quatro áreas em que os 
indivíduos com deficiência intelectual podem apresentar diferenças entre si: 
 
1. Área motora: algumas crianças com deficiência intelectual leve não apresentam 
diferenças significativas em relação às crianças consideradas “normais”, porém 
podem apresentar alterações na motricidade fina. Nos casos mais severos, pode-
se perceber incapacidades motoras acentuadas, tais como dificuldade de 
coordenação e manipulação. Podem também começar a andar tardiamente.2. Área cognitiva: alguns alunos com deficiência intelectual podem apresentar 
dificuldades na aprendizagem de conceitos abstratos, em focar a atenção, na 
capacidade de memorização. Podem atingir os mesmos objetivos escolares que 
alunos considerados “normais”, porém, em alguns casos, com ritmo mais lento. 
3. Área da comunicação: em alguns alunos com deficiência intelectual, é 
encontrada dificuldade de comunicação, acarretando uma maior dificuldade em 
suas relações. 
4. Área socioeducacional: em alguns casos de deficiência intelectual, ocorre uma 
discrepância entre a idade mental e a idade cronológica, porém temos de ter claro 
que a melhor forma de promover a interação social é colocando os alunos em 
contato com seus pares de mesma idade cronológica, para participar das mesmas 
atividades, aprendendo os comportamentos, valores e atitudes apropriados da sua 
faixa etária. O fato de o aluno ser inserido numa mesma turma que tenha sua 
“idade mental”, ao invés de contribuir para o seu desenvolvimento, infantiliza-o 
e dificulta seu desenvolvimento psíquico-social. 
Não existem “receitas” prontas para o trabalho com alunos tanto com deficiência 
intelectual, ou com outra deficiência, quanto com os sem deficiência. Devemos ter em 
mente que cada aluno é um e que suas potencialidades, necessidades e conhecimentos ou 
experiências prévias devem ser levados em conta, sempre. 
Algumas dicas podem ser importantes para o trabalho com alunos com deficiência 
intelectual:2 
 
2 Fonte: Esclarecendo as Deficiências: aspectos teóricos e práticos para contribuir com uma sociedade 
inclusiva 
 
 Focar a atenção, dando prioridade aos objetivos que queremos ensinar; 
 Partir de contextos reais; 
 Criar situações de aprendizagem positivas e significativas, 
preferencialmente em ambientes naturais aos alunos; 
 Usar situações e formas as mais concretas possíveis; 
 Transferir comportamentos e aprendizados adquiridos para novas 
situações; 
 Dividir as tarefas em partes, aumentando as dificuldades gradualmente, 
respeitando o ritmo do aluno; 
 Motivar, elogiar o sucesso e valorizar a auto-estima; 
 Atender não só a área dos conhecimentos acadêmicos, como também os 
aprendizados que melhorarem a qualidade de vida de todos os alunos; 
 Experienciar situações do cotidiano no campo dos conhecimentos 
acadêmicos, como ensinar a ler e escrever o nome, endereço, a utilizar o 
telefone, a ler informações das paradas de ônibus, das placas e dos rótulos, 
a saber ver as horas, a compreender o valor monetário, a saber fazer 
compras e a dar troco, a organizar materiais, a utilizar os utensílios 
domésticos, a ter higiene pessoal, a saber se comportar em diferentes 
ambientes, a saber utilizar transportes públicos, a saber se comunicar e a 
se fazer entender por diferentes pessoas; 
 Utilizar, em seu trabalho, diferentes tipos de linguagem, como música, 
artes, expressões corporais, entre outras; 
 Acreditar, principalmente, que o aluno com deficiência intelectual PODE 
APRENDER como outra criança, só precisamos acreditar nisso e ter as 
ferramentas necessárias; 
 Acompanhar continuamente o processo de aprendizagem do aluno, 
registrando suas observações, para poder, com o tempo, perceber qual é a 
melhor forma cada aluno em especial apresenta para aprender, pois não há 
um perfil único para os alunos com deficiência intelectual. 
Sassaki (2006) dá algumas sugestões ao professor para melhor adaptação dos 
estudantes com deficiência intelectual: 
 Usar o sistema de companheirismo (trabalhos em duplas ou pequenos 
grupos); 
 Formar grupos de aprendizado cooperativo; 
 Contar histórias para ensinar conceitos abstratos; 
 Preparar versões simplificadas do material didático; 
 Posicionar o aluno com deficiência intelectual nas primeiras carteiras, de 
forma a que o professor possa sempre estar atento a ele; 
 Estimular o desenvolvimento de habilidades interpessoais e ensiná-lo s 
pedir ajuda e instruções sempre que não consiga desenvolver uma 
atividade; 
 Fazer adaptações de conteúdo sempre que necessário; 
 Avaliar o aluno pelo seu progresso individual e com base em seus talentos 
e suas habilidades naturais, sem compará-lo com a turma. 
É importante sabermos que muitos dos alunos que recebemos em nossa sala de 
aula fazem tratamentos clínicos e, muitas vezes, tratamentos psicológicos, sendo parte do 
tratamento a avaliação psicológica. É comum vermos que os psicólogos se interessam 
pela vida educacional de seus pacientes e isso pode resultar em momentos de trocas 
valiosas, nas quais serão desenvolvidas entrevistas com os professores do aluno. Nesse 
momento, o psicólogo vai procurar saber se foi a escola ou a família que encaminhou o 
paciente, além de buscar dados importantes da vida do aluno. Pode ser também que o 
terapeuta queira olhar as produções do aluno. 
Muitos profissionais da Psicologia ainda fazem uso de testes para avaliar seus 
pacientes. A primeira Escala de Inteligência foi criada por Binet e Simon, no início do 
século XX, 1904, na França. O Ministério Público estava preocupado com o grande índice 
de reprovação de crianças no ensino público, então contratou dois psicólogos, Binet e 
Simon, para identificar e estudar o problema. 
Eles então criaram o primeiro teste psicológico, a escala de inteligência, e foram 
modificando essa escala, transformando-a em teste. 
Um termo muito conhecido entre nós, mas que a cada dia está caindo em desuso, 
é o Coeficiente de Inteligência mais conhecido por QI. 
O Coeficiente de Inteligência (QI) é uma medida que pretendia “quantificar” os 
conhecimentos das pessoas para classificá-las. Foi organizado da seguinte forma: 
 
 Limítrofe – QI de 71 a 85 pontos 
 Deficiência intelectual leve – QI de 51 a 70 pontos 
 Deficiência intelectual média ou moderada – QI de 36 a 50 pontos 
 Deficiência intelectual severa – QI de 20 a 35 pontos 
 Deficiência intelectual Profunda – QI menor que 20 pontos 
 
Com base nessa classificação, pensava-se como a pessoa seria tratada, dividindo-
se também em: educável, treinável, dependente e profunda. 
É preciso entender que os testes de inteligência podem ser usados com bons 
resultados, ajudando muito no planejamento para o aluno com deficiência intelectual em 
especial, mas não é a única forma de observação a ser usada. Faz-se necessária a 
observação do aluno em diferentes ambientes, com deferentes pessoas, em diferentes dias, 
com atividades também diferenciadas para se perceber as potencialidades desse aluno. 
Não devemos utilizar o teste de inteligência como rótulo, como medida, pois o 
profissional, assim, estará colaborando para reforçar o estigma. 
O aluno com deficiência intelectual, como qualquer outro aluno, precisa 
desenvolver a sua criatividade, a sua capacidade de conhecer o mundo e a si mesmo, não 
apenas superficialmente ou por meio do que o outro pensa. O nosso engano é nivelar a 
dotação mental das pessoas com deficiência intelectual em um nível sempre muito baixo. 
Desse engano, derivam todas as ações educativas que desconsideram o fato de que cada 
pessoa é um indivíduo, que tem antecedentes diferentes de formação, de experiências de 
vida e de capacidade de aprender e de exprimir um conhecimento. 
 
 
A inclusão de Alunos com Deficiência Intelectual3 
 
De acordo com Stainback (2000), um aspecto extremamente importante na 
inclusão de alunos com deficiência intelectual é trilhar novos caminhos educacionais, 
pensando não somente na alfabetização deles, como também na modificação curricular 
da escola de ensino regular para atender às outras habilidades que o aluno com deficiência 
intelectualapresente (artes, música, dança) e com outro olhar sobre o papel do educador. 
 
3 Fonte: Esclarecendo as Deficiências: aspectos teóricos e práticos para contribuir com uma sociedade 
inclusiva 
 
 
A palavra chave é COMPARTILHAR a aprendizagem, formando realmente uma 
parceria educacional. 
Para Mantoan (2003), o aluno com deficiência intelectual é capaz de realizar um 
processo educacional por meio um currículo baseado em conteúdos construtivistas. A 
garantia de exercer sua liberdade e autodeterminação, poder de decisão e crítica, 
facultando-lhe a iniciativa própria na resolução de conflitos de natureza intelectual e 
moral, é condição importante para o seu desenvolvimento. Deve-se também contar com 
a colaboração da família e da sociedade para que se estenda a outros ambientes o mesmo 
clima de confiança. 
Em outros tempos, o currículo pedagógico era explicitado em matérias, disciplina 
e conteúdos programáticos, mas uma nova estrutura curricular deve ser criada para 
atender ao desenvolvimento global do aluno. 
Outras áreas devem ser também privilegiadas, como: 
Afetiva 
 Que o aluno torne-se independente e capaz de tomar iniciativas próprias, 
na medida de suas potencialidades; 
 Que o aluno respeite os sentimentos dos outros e expresse os seus; 
 Que o aluno esteja atento e interessado em conhecer o meio que o cerca 
 Que o aluno seja capaz de encontrar diferentes soluções para um mesmo 
problema, usando sua criatividade; 
 Que o aluno mantenha-se motivado a participar de todas as atividades 
propostas na escola. 
 
Social 
 Que o aluno possa estabelecer interações sociais com os adultos, baseadas 
no respeito mútuo; 
 Que o aluno estabeleça trocas sociais com seus pares, baseadas na 
cooperação; 
 Que o aluno aprenda regras sociais e aprenda a respeitá-las; 
 Que o aluno construa regras e normas de conduta compatíveis com os 
estágios de desenvolvimento em que se encontra. 
 
Perceptivo-motora 
 Que o aluno coordene movimentos diferentes, envolvendo coordenação 
motora grossa e fina. 
 
Cognitiva 
 Que o aluno tenha a oportunidade de agir livremente sobre um meio físico, 
rico em estímulos, e coordene suas ações, no sentido de estabelecer 
relações entre si e o mundo; 
 Que o aluno tome consciência das relações espaciais, causais e temporais, 
por meio das quais possa organizar seu mundo físico e social, agindo sobre 
eles, projetando suas ações, os objetos e acontecimentos vividos no plano 
simbólico; 
 Que o aluno expresse essas representações por intermédio da linguagem 
oral, do desenho, da brincadeira de faz-de-conta, da imitação, entre outras; 
 Que o aluno adquira conhecimentos sociais que sejam úteis a sua 
adaptação à vida. 
Para uma aprendizagem adequada, o espaço físico deve ser bem organizado, o 
material pedagógico deve ser rico e diversificado, propiciando atividade em pequenos 
grupos e com tempo de atenção progressiva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 
MENTAL 
 
 
José Ramon Amor Pan 
 
 
 
Evolução 
 
 
A maioria dos problemas observados nesses indivíduos vincula-se à eficiência 
geral de seu sistema cognitivo, embora haja algumas diferenças relacionadas, sobretudo 
a aspectos estruturais, em particular nos deficientes de níveis mais baixos, devido 
provavelmente à presença de alterações biológicas. De nossa revisão da pesquisa sobre o 
tema pode-se deduzir que as pessoas portadoras de deficiência mental apresentam maior 
lentidão em seu processo evolutivo. Eis como o enfatiza Zazzo: 
 
Comparado com a criança normal, o débil se desenvolve em velocidades distintas, 
segundo os diversos setores do desenvolvimento psicobiológico [....] 
A distância entre a idade mental e a idade cronológica sempre fora considerada de 
modo estático, como uma definição métrica da deficiência, dando lugar à 
assemelhação do débil mental com uma criança menor. Na perspectiva 
heterocrônica, essa distância se transforma na tensão de um sistema de equilíbrio 
particular, de uma estrutura original, causa de tudo o que pode constituir distinção 
do débil mental em relação à criança normal. 
 
 
 Ora, embora se produza um desenvolvimento mais lento, sempre com retardo 
com relação à normalidade, o processo segue normas regulares de progresso que, com a 
devida correção cronológica, o equiparam ao desenvolvimento normal. O portador de 
deficiência mental segue em seu amadurecimento o percurso normal, embora o faça em 
ritmo lento, com atrasos e fixações precoces. 
 
O raciocínio da criança débil evolui, em contrapartida, num ritmo lento ou inclusive 
cada vez mais lento, que a conduz, às vezes, a estados de estacamento; além disso, 
quando chega a seu limite superior, ela conserva com freqüência as marcas dos 
níveis anteriores, o que a leva a oscilações exageradas entre dois níveis de 
desenvolvimento, originando um falso equilíbrio caracterizado por certa 
viscosidade genética no raciocínio. 
 
 
Segundo Cambrodi, embora não exista unanimidade a respeito, parece 
demonstrado que as diferenças que a separam do desenvolvimento normal são meramente 
quantitativas, o que situaria o estudo da pessoa portadora de deficiência mental no âmbito 
dos parâmetros avaliativos das diferenças humanas. Esse processo evolutivo deve 
considerar-se terminado no portador de deficiência mental sem ultrapassar os limites do 
período pré-operacional no caso de deficiência mental moderada e do período operacional 
na deficiência leve. 
Portanto, seguindo os estudos de Piaget, seu pensamento está baseado no 
predomínio da percepção e da intuição sobre o da elaboração intelectual e abstrata. Pode 
resolver as tarefas e situações sempre que seja possível fazê-lo mediante operações 
concretas. Compreende quase todos os tipos de conservação, inclui classes e as inter-
relações que há entre elas; abrange o conceito de hierarquia ou seriação. Contudo, é-lhe 
impossível conceber em sua mente uma série de possibilidades e comprová-las 
sistematicamente, pois seu pensamento tem por objeto a própria realidade e não se dirige 
para “o possível”, procedimento típico do pensamento abstrato. Revela-se estéril e 
absolutamente frustrante para as duas partes exigir acima do nível de possibilidades. 
Ora, a constatação de que não superam o período de operações concretas não deve 
levar a concluir uma equiparação absoluta das pessoas portadoras de deficiência mental 
com as crianças desse mesmo nível mental (7-8 a 11-12 anos), porque essa assemelhação 
não tem base científica e só faz prejudicar seriamente o processo de desenvolvimento do 
indivíduo. 
 
 
Atenção 
 
 
A existência de déficits de atenção nas pessoas portadoras de deficiência mental 
está muito documentada. São os seguintes os resultados mais relevantes dos estudos sobre 
as deficiências que essas pessoas apresentam nessa área: 
1. Dificuldade de atentar inicialmente para dimensões relevantes dos estímulos. 
Um estímulo dado tem várias dimensões (forma, cor, tamanho, posição etc.). 
Normalmente, as pessoas aprendem que dimensões e que aspectos dessas 
dimensões contêm a informação necessária para selecionar o estímulo adequado 
ou para agir apropriadamente diante dele. Também apresentam dificuldades de 
atentar para mais de uma dimensão e precisam de mais tempo para acumular 
informação suficiente para fazer uma discriminação correta. 
2. Dificuldades no processamento atencional automático em pessoas com QI 
inferior a 55. Os processos controlados são intencionais, voluntários e requerem 
atenção. Quanto aos automáticos,considera-se que não requerem atenção e não 
são afetados pela prática nem pela retroalimentação. Além disso, sugere-se que 
o processamento automático se baseia na maturidade precoce e é invariável ao 
longo do desenvolvimento e dos níveis de inteligência. 
3. Não se encontraram diferenças na memória de localização ou da freqüência 
entre portadores de deficiência mental e a população normal. No entanto, a 
recordação da localização e da freqüência pode ver-se afetada pelos aspectos 
semânticos dos estímulos. Isto é, o processamento da freqüência e da localização 
de estímulos parece estar influenciado pelas demandas de codificação dos itens 
a recordar. 
4. As deficiências do processamento atencional controlado estão em função do 
QI. 
 
 
Memória 
 
 
Os portadores de deficiência mental parecem ter a integridade estrutural 
necessária para que a memória sensorial funcione, mas parecem carecer do 
desenvolvimento de habilidades atencionais-perceptivas, necessárias para extrair 
informações relevantes do estímulo. Isso teria implicações para a intervenção, pois os 
aspectos funcionais, derivados do controle executivo da atenção, modificáveis mediante 
o treinamento e a mediação, poderiam ser os deficitários nessas pessoas. 
Quanto à memória de curto prazo, é aceito que as pessoas portadoras de 
deficiência mental manifestam problemas nela, embora as interpretações desse fato sejam 
divergentes. Não há provas suficientes que esclareçam se as diferenças entre portadores 
e não portadores de deficiência mental se devem somente a deficiências estruturais ou 
também a deficiências funcionais. Embora não produzam estratégias mnemotécnicas 
espontaneamente, os primeiros podem de fato aprender a usá-las, sendo a manutenção da 
estratégia adquirida relativamente fácil de conseguir: o sucesso no ensino de estratégias 
a pessoas portadoras de deficiência mental foi enorme. Contudo, obteve-se menos êxito 
em sua generalização para situações novas. 
Constatou-se a existência de uma série de condições que favorecem o uso de 
estratégias ativas de repetição. Enumeramos as principais: 
- Instruções muito claras. Só se os procedimentos e exigências da tarefa forem 
 entendidas poderá ela ser realizada com sucesso. 
- Prática extensa. É necessário permitir um número de tentativas mais amplas do 
que o proporcionado aos não-portadores de deficiência. 
- Apresentação lenta dos itens e em grupos pequenos. 
- Utilização de um contexto de ensino natural para favorecer a generalização. 
- Só se a tarefa for medianamente desafiadora, se o sujeito dispuser de uma 
estratégia e considerar pertinente seu uso, conseguiremos que a desenvolva. Por 
essa razão, devem-se evitar tanto as tarefas que se percebem como muito fáceis 
de realizar como aquelas que se percebem como mito difíceis. 
 
Por fim, os problemas na memória de longo prazo fundam-se mais na 
acessibilidade do que na disponibilidade da informação: os portadores de deficiência 
mental têm problemas para recuperar a informação armazenada e são mais lentos do que 
os não-portadores em sua habilidade de processar informação semântica 
permanentemente armazenada na memória. Mas as pesquisas mostram que as instruções 
de codificação semântica, ao lado de um tempo de estudo marcado pelo próprio sujeito, 
melhoram seu rendimento. 
Em suma, chega-se de novo à conclusão de que o objetivo da intervenção deve 
dirigir-se não a mostra a incapacidade estratégica dessas pessoas, mas a descobrir os 
modos de solucionar suas deficiências. A mudança apresentada é identificar o nível de 
comportamento estratégico que as pessoas portadoras de deficiência mental podem 
adquirir, tanto por meio do treinamento como pela especificação das condições de apoio 
para a aprendizagem e a generalização. 
 
 
 
 
 
 
Características da Personalidade do Portador de Deficiência Mental. 
 
 
José Ramon Amor Pan 
 
 
 
Como costuma ocorrer com conceitos semelhantes, também é problemática a 
definição do conceito de personalidade. Allport compila mais de cinqüenta tentativas de 
definição do termo. A personalidade é uma realidade sumamente complexa, que abrange 
uma multiplicidade de dimensões não bem definidas nem analisadas. Por essa razão, é 
praticamente impossível analisar todas as dimensões e características da personalidade. 
Aqui, entender-se-á por personalidade o conjunto amplo de características que constitui 
cada ser humano e que o diferencia de qualquer outro, em referência não só ao 
comportamento manifesto (consciente ou inconsciente), mas também às atitudes internas 
e às tendências de ação e inibição. 
Por outro lado, é preciso assinalar que são muito escassos os trabalho dedicados a 
estudar sistematicamente a personalidade dos portadores de deficiência mental e que 
poucos dados existentes são fragmentados e se encontram disseminados em estudos de 
vários tipos, nunca como um objetivo primário. Vamos limitar-nos a apresentar as 
características que receberam maior atenção por parte dos especialistas. 
 
 
Imagem desvalorizada 
 
 
Deve-se observar em primeiro lugar o baixo nível de auto-estima que, em geral, 
costumam ter as pessoas portadoras de deficiência mental. O indivíduo vai conhecendo 
suas peculiaridades e sucessivas dificuldades no domínio de situações e na realização de 
tarefas e vai se tornando progressivamente consciente de que é diferente dos outros, 
sobretudo durante a adolescência. Dificuldades que não vê nos irmão ou nas crianças a 
seu redor e que adquirem diversos significados de acordo com as conotações que as outras 
pessoas lhes atribuem. Existe uma repercussão emocional do reconhecimento da própria 
limitação e certa resistência a aceitá-la, que pode provocar uma baixa auto-estima e uma 
imagem desvalorizada de si mesmo. Esse resultado é compreensível se se considera a 
situação marginal ( tanto por falta como por excesso) na qual, desde o seu nascimento, se 
desenvolve sua existência. 
Como se indicou antes, muitos estudos demonstraram que a pessoa portadora de 
deficiência mental tem dificuldade de passar de uma tarefa para outra. Certa tendência à 
fadiga e à distração conjungam-se nela, o que dificulta os processos de aprendizagem e 
adaptação. Custa-lhe muito interromper um comportamento para passar para outro, 
interessar-se pela nova tarefa, focalizar sua atenção nela e mantê-la, para, por fim, tentar 
solucioná-la. Deve-se enfatizar que o portador de deficiência mental precisa de tempo e 
treinamento para conseguir essa mudança, em maior quantidade segundo o grau de 
novidade e de dificuldade do novo empreendimento. É preciso, portanto, conceder tempo 
e treinamento, caso contrário o indivíduo fracassará de forma clara. 
A pessoa portadora de deficiência mental encontra-se diante de uma realidade 
social na qual o modo de agir e de comunicar-se é regulamentado e julgado de antemão e 
os critérios que se manejam são excludentes e não inclusivos. Ela se vê imersa num 
mundo que não é “seu mundo” e no qual parece não ter lugar: “Você imagina abrir os 
olhos e encontra-se rodeado de um mundo de espertos?” Em boa lógica, vai desenvolver-
se uma personalidade coibida, oprimida muitas vezes pelas circunstâncias nas quais se 
desenvolve sua vida diária. 
Ao mesmo tempo, podemos considerar provável a existência de pais que centram 
toda a sua atenção na deficiência do filho e desenvolvem uma atitude de superproteção, 
conduta com a qual estão implicitamente colaborando para criar essa autopercepção 
negativa e estática no portador de deficiência mental, favorecendo que o sujeito se feche 
em sua própria limitação. Como já se indicou, a atitude do ambiente pode ajudar muito a 
facilitara formação de uma imagem positiva de si mesmo – que o faça projetar um futuro 
promissor – ou, ao contrário, ser altamente prejudicial. 
“Gibson (1980), Reynolds e Miller (1985) e Weiz (1982) mostraram que as 
crianças retardadas mentais educáveis possuem uma grande tendência a atribuir 
seus êxitos à sorte e não à sua habilidade, e seus fracassos à sua inaptidão, em vez 
de atribuí-los à má sorte. Quando se correlacionaram essas crenças com as de seus 
pais ou professores, evidenciou-se que existia uma elevada correlação positiva, o 
que leva a supor, segundo Weiz, que as baixas expectativas dos retardados mentais 
se devem aos efeitos do baixo conceito que deles têm os adultos e não às 
características intrínsecas do déficit cognitivo”. 
 
 
Uma maior e urgente necessidade de aceitação e aprovação social 
 
É um fenômeno suficientemente conhecido que qualquer pessoa que se sinta 
rejeitada pelos outros procure ser aceita a todo custo, chegando inclusive a apresentar 
comportamentos anômalos com o fim de chamar a atenção e ser reconhecida. Myers 
assinala que a maioria das pessoas aprendeu que se humilhar constitui às vezes uma 
excelente técnica para que os outros a agradem e que, quando a própria auto-imagem está 
muito ligada ao próprio rendimento, pode mostrar-se mais desastroso esforçar-se muito e 
arriscar-se a fracassa que desistir de antemão. 
Essa tendência, comum a todos os seres humanos, e o contexto particular em que 
se desenvolve a vida do portador de deficiência mental explicam o fato de essas pessoas 
apresentarem uma destacada necessidade de aceitação e aprovação social, precisamente 
porque experimentam que carecem dela na maioria das vezes. Parece claro que os que 
viveram numa situação de privação social, no sentido de carecer de a algumas relações 
sociais normais, são muito mais propensos à buscar da aceitação e aprovação nos outros 
como mecanismo com o qual enfrentar sua circunstância vital. 
Encontramos com freqüência no portador de deficiência mental respostas 
esteriotipadas ou inadequadas: ecolalia, oscilação, movimentos rítmicos dos dedos, auto-
agressão, masturbação etc. Muitos autores consideram esses comportamentos originados 
de problemas ambientais: falta de estimulação, institucionalização, situações frustrantes 
ou que provocam demasiada excitação etc. Esses comportamentos são mecanismos 
adaptativos que permitem ao indivíduo escapar da tensão que nele produz seu ambiente 
e da dificuldade que experimenta ao encarar as situações novas e\ou conflituosas da vida 
diária, ao mesmo tempo em que lhe servem de auto-estimulação compensatória. Quando 
os seres vivos (não só os seres humanos) se encontram em ambientes pequenos ou nos 
quais não existem estímulos adequados a eles, comportam-se de forma estereotipadas ou 
promovem condutas masturbatórias que, por seu excesso, podem ser consideradas 
psicopatológicas. 
A pessoa portadora de deficiência mental mostra esses comportamentos muito 
mais que o restante da população, pois convive com mais freqüência com problemas que 
superam sua capacidade de ajustamento. O desejo do portador de deficiência mental de 
manter a interação com o adulto e sua aprovação por meio da submissão e da persistência 
torna-se patente nessas circunstâncias. As pessoas que carecem do sentido da própria 
competência enfrentam as dificuldades de maneira muito menos eficiente. Assim, gera-
se uma maior dependência do portador de deficiência mental com relação aos reforços 
positivos e negativos procedentes de seu ambiente vital, devido ao fato de sua condição 
o levar a depender mais dele. Qualquer rótulo diagnóstico envolve quase sempre a 
aceitação por parte da pessoa que o recebe do papel que a sociedade atribui a esse rótulo, 
isto é, a pessoa acaba por comportar-se de acordo com os estereótipos sociais. O 
comportamento que se espera de um portador de deficiência mental vem caracterizado 
por estes dois adjetivos: defeituoso e anômalo. 
 
Solidão 
 
A solidão é sempre um sentimento bastante comum nessas pessoas, podendo 
desembocar em depressão. A baixa auto-estima e a solidão podem provocar uma 
depressão manifesta; às vezes, essa depressão pode estar disfarçada e ser expressa 
mediante um equivalente depressivo. O adolescente de deficiência mental é 
especialmente vulnerável a esses sentimentos de insuficiência e auto-imagem negativa. 
Em suma, “as pessoas com retardo mental reconhecem ser diferentes do restante dos 
membros da sociedade, sentindo amiúde como se pertencessem (a essa sociedade)”. É 
sintomático que os portadores de deficiência mental procurem estar com seus iguais, 
porque só então se sentem verdadeiramente acolhidos e respeitados. Para essa situação 
contribui, sem dúvida, a dificuldade que experimentam ao estabelecer uma comunicação, 
porque com freqüência não entendem nem são entendidos adequadamente. 
Com efeito, o portador de deficiência mental se caracteriza pela pobreza de 
linguagem, de julgamento, de capacidade de discernir e por suas dificuldades de 
abstração. A indubitável limitação de suas aptidões se estende sem exceção a todos os 
campos de comportamento. Não só apresentam uma prevalência muito maior das 
desordens de locução (dificuldade de falar), como também manifestam desordens de 
linguagem (deficiências no conhecimento e no manejo da língua). Sua linguagem é pobre 
em termos de vocabulário, com estruturas sintáticas incompletas e às vezes incorretas. A 
conseqüência é uma comunicação verbal sujeita a amplas restrições, que obrigará a 
simplificar a maneira de dirigir-se a ele e a certificar-se de que compreendeu realmente o 
que se quis indicar-lhe. 
Ora, parece oportuno insistir; o fato de essas pessoas terem acesso unicamente à 
linguagem concreta não significa que careçam de pensamento. O fato de uma pessoa estar 
privada do pensamento abstrato – o predominante na atualidade – a excluirá de certos 
papéis no âmbito da sociedade, mas não a exclui em absoluto de todos, em particular se 
se incide adequadamente em seu funcionamento cognitivo. O pensamento concreto é 
suficiente para ter acesso ao mundo do trabalho e afetivo e conseguir um bom ajuste 
pessoal, familiar e social, integrando-se dessa maneira à sociedade, tal como demonstrado 
por grande parte dos cidadãos não-portadores de deficiência mental. A inteligência prática 
refere-se á habilidade de manter e dar suporte a si mesmo como uma pessoa independente 
no manejo das atividades comuns da vida diária. Essa inteligência seria a que permitiria 
conseguir o maior grau possível de independência pessoal. 
A companhia, o afeto e amizade são elementos imprescindíveis para o equilíbrio 
e estabilidade de qualquer ser humano. É indubitável que para os portadores de 
deficiência mental a confiança, a ternura, o apreço e o calor humano de sua família, dos 
profissionais que eles se relacionam e de seus companheiros e amigos é tão apreciável 
quanto para qualquer pessoa. Dar e receber calor e intimidade pode oferecer paz e 
felicidade a uma vida de solidão e incompreensão. O desenvolvimento de relações 
humanas, afetivas de ternura proporciona-lhe outras possibilidades humanas e garante sua 
auto-realização pessoal. Essas relações são muitas vezes mais importantes e desejadas do 
certas relações sexuais enquanto tais. Não obstante, verificamos que muito poucas vezes 
se permite estimular a amizade e a relação interpessoal. 
São muitos os que nunca comemoraram um aniversário com os colegas ou que 
não saem com eles. É freqüente ouvir frases como estas: “Meu filho sai sempre conosco, 
nós o levamos a todos os lugares, mas sempre conosco”.; “Às vezes seus irmãos o levam 
com ele e seus amigos”; “Prefiro morrer do que deixar minha filha ir ao cinema ou a umadiscoteca com seus colegas”. E assim vemos, tantas vezes, o adulto portador de 
deficiência, pela rua, de mãos dadas com a mãe em atitude totalmente infantil, sem chegar 
a saber como relacionar-se com seus iguais, sem chegar a adquirir o gosto pela amizade 
e pela partilha de interesses, tão importantes para todos e também para ele, se soubermos 
dar-lhes ocasião para isso. 
 
 
Falta de inibição e sugestionabilidade 
 
Costuma-se mencionar tradicionalmente que o portador de deficiência mental tem 
maiores dificuldades para superar as pulsões da libido do que a população normal. 
Acrescenta-se como explicação que seus mecanismos de controle e inibição estão menos 
desenvolvidos do que na pessoa não-portadora de deficiência. A questão que se coloca é 
se estamos realmente diante de um elemento estrutural ou se, pelo contrário, isso se pode 
dever ao fato de não ter havido uma correta educação da pessoa nesses terrenos. Cremos 
que a falta de maturidade emocional ou a dificuldade de compreender o significado das 
relações interpessoais não estão ligadas à deficiência mental, achando-se na verdade 
diretamente relacionadas com a história educacional e afetiva daqueles a quem a 
sociedade parece impedir um destino como adultos, obrigando-os a permanecer na 
creche. 
Outro fator a considerar aqui é o fato de que muitos gestos aos quais atribuímos 
uma conotação genital não são mais do que demonstrações de carinho, instrumentos de 
transmissão de sentimentos profundos que a pessoa portadora de deficiência mental não 
pode comunicar de outra maneira, devido, precisamente, a sua limitada capacidade de 
mediação verbal. Já observei que não é certa a opinião de que essas pessoas são 
hiperssexuadas, e é preciso enfatizar que, nelas, a dimensão genital permanece na maioria 
das vezes em segundo plano. 
Às vezes, por falta de competência social, essas pessoa podem ter manifestações 
pouco oportunas, pouco matizadas, mais espontâneas do que nas pessoas normais. Esses 
tipos de comportamento não são freqüentes e denota mais uma falha na educação e no 
programa de socialização do que um sentimento sexual agressivo ou exacerbado, como 
algumas pessoas poderiam pensar. Por essa razão, torna-se tão necessária uma educação 
que capacite o portador de deficiência mental a estabelecer relações interpessoais, dando-
lhe, além disso, ocasião para elas. 
Sua simplicidade emotivo-cognoscitiva, sua ingênua transparência e certa 
sugestionabilidade explicam muitos comportamentos incorretos, atribuídos em princípio 
à deficiência mental. O dicionário define o verbo sugestionar como “dominar a vontade 
de uma pessoa, levando-a a agir em determinado sentido; fascinar alguém, provocar sua 
admiração ou seu entusiasmo”. Molina constata que, à medida que o nível mental do 
indivíduo é mais baixo, que aumenta sua história pessoal de fracassos, ou que foi ele mais 
dependente de ajudas externas, o grau de sugestionabilidade e dependência de indícios 
externos procedentes dos adultos se incrementa notavelmente. Em muitos casos, o 
portador de deficiência mental é obrigado a manter relações sexuais plenas que ele não 
busca nem deseja; portanto, esse contato sexual não é responsabilidade do deficiente, não 
pode ser relacionado com sua deficiência psíquica, tendo antes sido provocado por uma 
incompetência social que ele não buscou e por uma manipulação de seu ambiente. 
 
 
Estresse, ansiedade, frustração 
 
A pessoa portadora de deficiência mental se acha especialmente submetida ao 
estresse em sua interação com o meio, sendo frequentemente nela a ansiedade. Em larga 
medida isso se deve ao fato de ter de enfrentar riscos e problemas maiores, em virtude de 
conjugação de fatores que ocorrem em sua situação existencial e porque o fracasso é 
freqüente. O ajustamento e a tolerância social são mais difíceis de estabelecer para ela. 
Por essa razão, essa pessoa pode precisar de orientação e assistência para resolver de 
modo satisfatório essas situações e evitar que a resolução dessa tensão se produza pelo 
caminho da frustração. Como afirma Montobbio e Casapietra, “as pessoas jovens e 
adultas portadoras de deficiência mental mostram pouca resistência às frustrações (...) 
essa carência é mais um resultado de sua história afetiva e educacional do que do dano 
orgânico que se acha na base da deficiência”. 
A frustração é um fator básico na experiência humana e produz com freqüência 
mudanças extremas no comportamento individual, no modo como o homem corresponde 
ao meio e na forma com que executa se plano de vida. A modificação da própria conduta 
não costuma ser eficaz para resolver o problema formulado. A causa pode estar em que o 
sujeito careceu de suficiente motivação para conseguir esse objetivo particular; ou porque 
sua capacidade é limitada para tentar novas formas de resposta. 
Um obstáculo que uma pessoa transpõe facilmente pode bloquear outra. Quando 
um problema parece insuperável e as pressões de um indivíduo são tais que ele não pode 
mudar seus objetivos facilmente, sua frustração pode adquirir graus de permanência. As 
contribuições procedentes do exterior e as modalidades conflituosas nas quais o portador 
de deficiência mental se encontra diante do mundo possuem um peso muito significativo 
e devem ser consideradas um dos fatores que vão compondo sua personalidade. 
O que se descobre na estrutura do ego de uma pessoa com deficiência mental 
poderia ser uma situação de profunda perplexidade, com traços intensos de angústia, 
numa tentativa desesperada de lutar contra a percepção de que sua existência é 
essencialmente um fracasso como ser humano, contra a impotência de chegar a ser algo 
que mereça a aprovação social. É verdade reconhecida que todo comportamento é sempre 
uma tentativa de adaptação por parte da pessoa. O comportamento do portador de 
deficiência mental representa uma tentativa de manter a própria estima, constantemente 
questionada por sua própria limitação e pelas reações de seu ambiente. Muitos de seus 
comportamentos são reações de defesa para escapar de uma situação vivenciada com uma 
forte carga de ansiedade, em momentos de crescente estimulação ambiental ou interna, o 
que está estreitamente relacionado com a baixa tolerância à frustração apresentada por 
essas pessoas. 
No que diz respeito a essa situação de estresse, é evidente que um portador de 
deficiência mental cria problemas importantes na vida cotidiana da família, já desde o 
momento de seu nascimento, e que são gerados no seio da unidade familiar alguns 
processos psicológicos que podem contribuir para prejudicar sua já complicada situação. 
É uma realidade bem estudada que o portador de deficiência mental pode ser a origem de 
tensões emocionais muito fortes no interior de sua família, que muitas vezes intensificam 
as tensões pessoais de seus pais, os quais, por sua vez, as remetem ao filho. Não é raro 
observar que o membro familiar diferente e incômodo costuma ser escolhido para 
polarizar toda a tensão familiar. Essa posição de catalisador pode proporcionar-lhe 
sentimentos de culpa, insuficiência e carência de valor, agravados pelo fato de que esse 
sujeito costuma ser excluído de outros grupos sociais e não encontram assim válvulas de 
escape para a tensão interior acumulada. 
Quando a presença do membro portador de deficiência foi bem integrada e não 
produz tensões sérias na família, os comportamentos psicossociais dessas pessoas são 
semelhantes aos de seus irmãos e companheiros normais. Portanto, deve-se insistir no 
fato de que a família do portador de deficiência mental precisaria também de apoio e 
acompanhamento psicológico e comunitário adequados, de maneira que se pudesse 
neutralizar a tempo esse tipo de dinâmicas,que prejudicam profundamente os portadores 
de deficiência mental. O retardo metal constitui um perigo para o desenvolvimento da 
personalidade. O fato de esse perigo determinar ou não uma psicopatologia especifica 
depende das experiências da vida da criança e de suas influências ambientais. 
 
Caráter 
 
No que tange a seu caráter, pode-se observar na convivência diária com essas 
pessoas uma série de traços que poderiam ser considerados gerais, exceto se existir algum 
tipo de transtorno psicoafetivo a mais. É preciso destacar que todas essas características 
são precisamente elementos que favorecem um clima cordial para o encontro interpessoal. 
De modo concreto, podem-se assinalar as seguintes: 
- Especial inclinação a concentrar as próprias energias em instaurar, manter e 
salvaguardar relações interpessoais. 
- Resposta rápida, generosa e cordial no contato com outras pessoas. 
- Preocupação sincera e extraordinária com o bem-estar dos outros. 
- Grande confiança e lealdade na relação com os outros, mesmo que não 
 correspondida. 
- Franqueza, sinceridade, espontaneidade e ingenuidade, não diminuídas pelos 
 convencionalismos sociais. 
 
 
 
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