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1.Direito Constitucional p AGEPEN CE (Agente Penitenciário) Com videoaulas

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Aula 00
Direito Constitucional p/ AGEPEN-CE (Agente Penitenciário) Com videoaulas
Professores: Nádia Carolina, Ricardo Vale
 
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DIREITO CONSTITUCIONAL – AGEPEN/CE 
Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale 
 
!ULA 01 
!!ART!!!!!DA CF/88!(PARTE 01! 
Conceito de Constituição ................................................................................................................ 4 
Estrutura das Constituições ............................................................................................................ 4 
A Pirâmide de Kelsen – Hierarquia das Normas ....................................................................... 5 
Aplicabilidade das normas constitucionais ................................................................................ 8 
Teoria Geral dos Direitos Fundamentais .................................................................................. 14 
1.  Direitos do Homem x Direitos Fundamentais x Direitos Humanos: ....................... 14 
2.  As “gerações” de direitos: ................................................................................................. 15 
3.  Características dos Direitos Fundamentais: .................................................................. 18 
4.  Limites aos Direitos Fundamentais: ............................................................................... 21 
5.  Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais: .......................................................... 23 
6.  Os Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988: .................................... 24 
Direitos e Deveres Individuais e Coletivos: Parte I ................................................................ 25 
Questões Comentadas ................................................................................................................... 64 
Lista de Questões ........................................................................................................................... 88 
 
 
  
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Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale 
 
Apresenta‹o e Cronograma de Aulas 
Ol‡, amigos do EstratŽgia Concursos, tudo bem? 
ƒ com enorme alegria que damos in’cio hoje ao nosso ÒDireito 
Constitucional p/ AGEPEN-CE (Agente Penitenci‡rio)Ó, focado no edital 
de julho de 2017. Antes de qualquer coisa, pedimos licena para nos 
apresentar: 
- N‡dia Carolina: Sou professora de Direito Constitucional do 
EstratŽgia Concursos desde 2011. Trabalhei como Auditora-Fiscal da 
Receita Federal do Brasil de 2010 a 2015, tendo sido aprovada no 
concurso de 2009. Tenho uma larga experincia em concursos pœblicos, 
j‡ tendo sido aprovada para os seguintes cargos: CGU 2008 (6¼ lugar), 
TRE/GO 2008 (22¼ lugar) ATA-MF 2009 (2¼ lugar), Analista-Tribut‡rio 
RFB (16¼ lugar) e Auditor-Fiscal RFB (14¼ lugar). 
- Ricardo Vale: Sou professor e coordenador pedag—gico do EstratŽgia 
Concursos. Entre 2008-2014, trabalhei como Analista de ComŽrcio 
Exterior (ACE/MDIC), concurso no qual fui aprovado em 3¼ lugar. 
Ministro aulas presenciais e online nas disciplinas de Direito 
Constitucional, ComŽrcio Internacional e Legisla‹o Aduaneira. AlŽm 
das aulas, tenho trs grandes paix›es na minha vida: a Prof» N‡dia, a 
minha pequena Sofia e o pequeno JP (Jo‹o Paulo)!!  
Como voc j‡ deve ter percebido, esse curso ser‡ elaborado a 4 m‹os. Eu 
(N‡dia) ficarei respons‡vel pelas aulas escritas, enquanto o Ricardo ficar‡ 
por conta das videoaulas. Tenham certeza: iremos nos esforar bastante para 
produzir o melhor e mais completo conteœdo para vocs. 
Em nosso curso, utilizaremos quest›es da AOCP, bem como de v‡rios 
concursos da ‡rea policial, para fixa‹o do conteœdo. Nosso objetivo Ž 
simular o modo com que os diferentes assuntos poder‹o ser cobrados em sua 
prova. 
Vejamos como ser‡ o cronograma do nosso curso: 
Aulas T—picos abordados Data 
Aula 00 Conceitos Introdut—rios. O art. 5o da Constitui‹o (Parte 
01). 
- 
Aula 01 O art. 5o da Constitui‹o (Parte 02). 25/07 
Aula 02 Da Administra‹o Pœblica (artigo 37). 01/08 
Aula 03 Da Defesa do Estado e das Institui›es Democr‡ticas, do 
estado de defesa e do estado de s’tio (artigos 136 a 
141). Da Segurana Pœblica (artigo 144). 
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Dito tudo isso, j‡ podemos partir para a nossa aula 00! Todos preparados? 
Um grande abrao, 
N‡dia e Ricardo 
Para tirar dœvidas e ter acesso a dicas e conteœdos gratuitos, acesse 
nossas redes sociais: 
Facebook do Prof. Ricardo Vale: 
https://www.facebook.com/profricardovale 
Canal do YouTube do Ricardo Vale: 
https://www.youtube.com/channel/UC32LlMyS96biplI715yzS9Q 
Periscope do Prof. Ricardo Vale: @profricardovale 
 
 
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Conceito de Constitui‹o 
Comeamos esse t—pico com a seguinte pergunta: o que se entende por 
Constitui‹o? 
Objeto de estudo do Direito Constitucional, a Constitui‹o Ž a lei 
fundamental e suprema de um Estado, criada pela vontade soberana do 
povo. ƒ ela que determina a organiza‹o pol’tico-jur’dica do Estado, 
dispondo sobre a sua forma, os —rg‹os que o integram e as competncias 
destes e, finalmente, a aquisi‹o e o exerc’cio do poder. Cabe tambŽm a ela 
estabelecer as limita›es ao poder do Estado e enumerar os direitos e 
garantias fundamentais.1 
A concep‹o de constitui‹o ideal foi preconizada por J. J. Canotilho. Trata-
se de constitui‹o de car‡ter liberal, que apresenta os seguintes elementos: 
a) Deve ser escrita; 
b) Deve conter um sistema de direitos fundamentais individuais 
(liberdades negativas); 
c) Deve conter a defini‹o e o reconhecimento do princ’pio da separa‹o 
dos poderes; 
d) Deve adotar um sistema democr‡tico formal. 
Note que todos esses elementos est‹o intrinsecamente relacionados ˆ 
limita‹o do poder coercitivo do Estado. Cabe destacar, por estar 
relacionado ao conceito de constitui‹o ideal, o que disp›e o art. 16, da 
Declara‹o Universal dos Direitos do Homem e do Cidad‹o (1789): ÒToda 
sociedade na qual n‹o est‡ assegurada a garantia dos direitos nem 
determinada a separa‹o de poderes, n‹o tem constitui‹o.Ó 
ƒ importante ressaltar que a doutrina n‹o Ž pac’fica quanto ˆ defini‹o do 
conceito de constitui‹o, podendo este ser analisado a partir de diversas 
concep›es. Isso porque o Direito n‹o pode ser estudado isoladamente de 
outras cincias sociais, como Sociologia e Pol’tica, por exemplo. 
Estrutura das Constitui›es 
As Constitui›es, de forma geral, dividem-se em trs partes: pre‰mbulo, 
parte dogm‡tica e disposi›es transit—rias. 
                                                        
1
  MORAES, Alexandre de. Constitui‹o do Brasil Interpretada e Legisla‹o 
Constitucional, 9» edi‹o. S‹o Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 17. 
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O pre‰mbulo Ž a parte que antecede o texto constitucional propriamente dito. 
O pre‰mbulo serve para definiras inten›es do legislador constituinte, 
proclamando os princ’pios da nova constitui‹o e rompendo com a ordem 
jur’dica anterior. Sua fun‹o Ž servir de elemento de integra‹o dos artigos 
que lhe seguem, bem como orientar a sua interpreta‹o. Serve para 
sintetizar a ideologia do poder constituinte origin‡rio, expondo os valores por 
ele adotados e os objetivos por ele perseguidos. 
Segundo o Supremo Tribunal Federal, ele n‹o Ž norma constitucional. 
Portanto, n‹o serve de par‰metro para a declara‹o de inconstitucionalidade e 
n‹o estabelece limites para o Poder Constituinte Derivado, seja ele Reformador 
ou Decorrente. Por isso, o STF entende que suas disposi›es n‹o s‹o de 
reprodu‹o obrigat—ria pelas Constitui›es Estaduais. Segundo o STF, o 
Pre‰mbulo n‹o disp›e de fora normativa, n‹o tendo car‡ter 
vinculante2. Apesar disso, a doutrina n‹o o considera juridicamente 
irrelevante, uma vez que deve ser uma das linhas mestras interpretativas do 
texto constitucional. 3 
A parte dogm‡tica da Constitui‹o Ž o texto constitucional propriamente dito, 
que prev os direitos e deveres criados pelo poder constituinte. Trata-se do 
corpo permanente da Carta Magna, que, na CF/88, vai do art. 1¼ ao 250. 
Destaca-se que falamos em Òcorpo permanenteÓ porque, a princ’pio, essas 
normas n‹o tm car‡ter transit—rio, embora possam ser modificadas pelo 
poder constituinte derivado, mediante emenda constitucional. 
Por fim, a parte transit—ria da Constitui‹o visa integrar a ordem jur’dica 
antiga ˆ nova, quando do advento de uma nova Constitui‹o, garantindo a 
segurana jur’dica e evitando o colapso entre um ordenamento jur’dico e 
outro. Suas normas s‹o formalmente constitucionais, embora, no texto da 
CF/88, apresente numera‹o pr—pria (vejam ADCT Ð Ato das Disposi›es 
Constitucionais Transit—rias). Assim como a parte dogm‡tica, a parte 
transit—ria pode ser modificada por reforma constitucional. AlŽm disso, 
tambŽm pode servir como paradigma para o controle de 
constitucionalidade das leis. 
A Pir‰mide de Kelsen Ð Hierarquia das Normas 
Para compreender bem o Direito Constitucional, Ž fundamental que estudemos 
a hierarquia das normas, atravŽs do que a doutrina denomina Òpir‰mide de 
KelsenÓ. Essa pir‰mide foi concebida pelo jurista austr’aco para fundamentar 
a sua teoria, baseada na ideia de que as normas jur’dicas inferiores (normas 
fundadas) retiram seu fundamento de validade das normas jur’dicas 
superiores (normas fundantes). 
                                                        
2
 ADI 2.076-AC, Rel. Min. Carlos Velloso, DJU de 23.08.2002. 
3 MORAES, Alexandre de. Constitui‹o do Brasil Interpretada e Legisla‹o 
Constitucional, 9» edi‹o. S‹o Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 53-55 
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Iremos, a seguir, nos utilizar da Òpir‰mide de KelsenÓ para explicar o 
escalonamento normativo no ordenamento jur’dico brasileiro. 
A pir‰mide de Kelsen tem a Constitui‹o como seu vŽrtice (topo), por ser 
esta fundamento de validade de todas as demais normas do sistema. Assim, 
nenhuma norma do ordenamento jur’dico pode se opor ˆ Constitui‹o: ela Ž 
superior a todas as demais normas jur’dicas, as quais s‹o, por isso mesmo, 
denominadas infraconstitucionais. 
Na Constitui‹o, h‡ normas constitucionais origin‡rias e normas 
constitucionais derivadas. As normas constitucionais origin‡rias s‹o produto 
do Poder Constituinte Origin‡rio (o poder que elabora uma nova Constitui‹o); 
elas integram o texto constitucional desde que ele foi promulgado, em 1988. 
J‡ as normas constitucionais derivadas s‹o aquelas que resultam da 
manifesta‹o do Poder Constituinte Derivado (o poder que altera a 
Constitui‹o); s‹o as chamadas emendas constitucionais, que tambŽm se 
situam no topo da pir‰mide de Kelsen. 
Com a promulga‹o da Emenda Constitucional n¼ 45/2004, abriu-se uma nova 
e importante possibilidade no ordenamento jur’dico brasileiro. Os tratados e 
conven›es internacionais de direitos humanos aprovados em cada Casa 
do Congresso Nacional (C‰mara dos Deputados e Senado Federal), em dois 
turnos, por trs quintos dos votos dos respectivos membros, passaram a ser 
equivalentes ˆs emendas constitucionais. Situam-se, portanto, no topo da 
pir‰mide de Kelsen, tendo ÒstatusÓ de emenda constitucional. 
As normas imediatamente abaixo da Constitui‹o (infraconstitucionais) e 
dos tratados internacionais sobre direitos humanos s‹o as leis 
(complementares, ordin‡rias e delegadas), as medidas provis—rias, os 
decretos legislativos, as resolu›es legislativas, os tratados 
internacionais em geral incorporados ao ordenamento jur’dico e os 
decretos aut™nomos. Todas essas normas ser‹o estudadas em detalhes em 
aula futura, n‹o se preocupe! Neste momento, quero apenas que voc guarde 
quais s‹o as normas infraconstitucionais e que elas n‹o possuem hierarquia 
entre si, segundo doutrina majorit‡ria. Essas normas s‹o prim‡rias, sendo 
capazes de gerar direitos e criar obriga›es, desde que n‹o contrariem a 
Constitui‹o. 
Novamente, gostar’amos de trazer ˆ baila alguns entendimentos doutrin‡rios e 
jurisprudenciais muito cobrados em prova: 
a) Ao contr‡rio do que muitos podem ser levados a acreditar, as leis 
federais, estaduais, distritais e municipais possuem o mesmo 
grau hier‡rquico. Assim, um eventual conflito entre leis federais e 
estaduais ou entre leis estaduais e municipais n‹o ser‡ resolvido por 
um critŽrio hier‡rquico; a solu‹o depender‡ da reparti‹o 
constitucional de competncias. Deve-se perguntar o seguinte: de qual 
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ente federativo (Uni‹o, Estados ou Munic’pios) Ž a competncia para 
tratar do tema objeto da lei? Nessa —tica, Ž plenamente poss’vel que, 
num caso concreto, uma lei municipal prevalea diante de uma lei 
federal. 
b) Existe hierarquia entre a Constitui‹o Federal, as Constitui›es 
Estaduais e as Leis Org‰nicas dos Munic’pios? Sim, a Constitui‹o 
Federal est‡ num patamar superior ao das Constitui›es Estaduais 
que, por sua vez, s‹o hierarquicamente superiores ˆs Leis Org‰nicas. 
b) As leis complementares, apesar de serem aprovadas por um 
procedimento mais dificultoso, tm o mesmo n’vel hier‡rquico das 
leis ordin‡rias. O que as diferencia Ž o conteœdo: ambas tm campos 
de atua‹o diversos, ou seja, a matŽria (conteœdo) Ž diferente. Como 
exemplo, citamos o fato de que a CF/88 exige que normas gerais sobre 
direito tribut‡rio sejam estabelecidas por lei complementar. 
c) As leis complementares podem tratar de tema reservado ˆs 
leis ordin‡rias. Esse entendimento deriva da —tica do Òquem pode 
mais, pode menosÓ. Ora, se a CF/88 exige lei ordin‡ria (cuja aprova‹o 
Ž mais simples!) para tratar de determinado assunto, n‹o h‡ —bice a 
que uma lei complementar regule o tema. No entanto, caso isso ocorra, 
a lei complementar ser‡ considerada materialmente ordin‡ria; essa 
lei complementar poder‡, ent‹o, ser revogada ou modificada por 
simples lei ordin‡ria. Diz-se que, nesse caso, a lei complementar ir‡ 
subsumir-se ao regime constitucional da lei ordin‡ria. 4 
d) As leis ordin‡rias n‹o podem tratar de tema reservado ˆs leis 
complementares. Caso isso ocorra, estaremos diante de um caso de 
inconstitucionalidade formal (nomodin‰mica). 
e) Os regimentos dos tribunais do Poder Judici‡rio s‹o considerados 
normas prim‡rias, equiparados hierarquicamente ˆs leis ordin‡rias. 
Na mesma situa‹o, encontram-se as resolu›es do CNMP (Conselho 
Nacional do MinistŽriopœblico) e do CNJ (Conselho Nacional de Justia). 
f) Os regimentos das Casas Legislativas (Senado e C‰mara dos 
Deputados), por constitu’rem resolu›es legislativas, tambŽm s‹o 
considerados normas prim‡rias, equiparados hierarquicamente ˆs leis 
ordin‡rias. 
Finalmente, abaixo das leis encontram-se as normas infralegais. Elas s‹o 
normas secund‡rias, n‹o tendo poder de gerar direitos, nem, tampouco, de 
impor obriga›es. N‹o podem contrariar as normas prim‡rias, sob pena de 
invalidade. ƒ o caso dos decretos regulamentares, portarias, das instru›es 
                                                        
4AI 467822 RS, p. 04-10-2011. 
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normativas, dentre outras. Tenham bastante cuidado para n‹o confundir os 
decretos aut™nomos (normas prim‡rias, equiparadas ˆs leis) com os 
decretos regulamentares (normas secund‡rias, infralegais). 
 
 
 
(MPE-BA Ð 2015) Existe hierarquia entre lei complementar 
e lei ordin‡ria, bem como entre lei federal e estadual. 
Coment‡rios: 
N‹o h‡ hierarquia entre lei ordin‡ria e lei complementar. 
Elas tm o mesmo n’vel hier‡rquico. TambŽm n‹o h‡ 
hierarquia entre lei federal e lei estadual. Quest‹o errada. 
Aplicabilidade das normas constitucionais 
O estudo da aplicabilidade das normas constitucionais Ž essencial ˆ correta 
interpreta‹o da Constitui‹o Federal. ƒ a compreens‹o da aplicabilidade das 
normas constitucionais que nos permitir‡ entender exatamente o alcance e a 
realizabilidade dos diversos dispositivos da Constitui‹o. 
Todas as normas constitucionais apresentam juridicidade. Todas elas s‹o 
imperativas e cogentes ou, em outras palavras, todas as normas 
CONSTITUIÇÃO, EMENDAS CONSTITUCIONAIS E TRATADOS 
INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS APROVADOS COMO 
EMENDAS CONSTITUCIONAIS
OUTROS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS
LEIS COMPLEMENTARES, ORDINÁRIAS E DELEGADAS, MEDIDAS 
PROVISÓRIAS, DECRETOS LEGISLATIVOS, RESOLUÇÕES 
LEGISLATIVAS, TRATADOS INTERNACIONAIS EM GERAL E DECRETOS 
AUTÔNOMOS
NORMAS INFRALEGAIS
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constitucionais surtem efeitos jur’dicos: o que varia entre elas Ž o grau 
de efic‡cia. 
A doutrina americana (cl‡ssica) distingue duas espŽcies de normas 
constitucionais quanto ˆ aplicabilidade: as normas autoexecut‡veis (Òself 
executingÓ) e as normas n‹o-autoexecut‡veis. 
As normas autoexecut‡veis s‹o normas que podem ser aplicadas sem a 
necessidade de qualquer complementa‹o. S‹o normas completas, bastantes 
em si mesmas. J‡ as normas n‹o-autoexecut‡veis dependem de 
complementa‹o legislativa antes de serem aplicadas: s‹o as normas 
incompletas, as normas program‡ticas (que definem diretrizes para as pol’ticas 
pœblicas) e as normas de estrutura‹o (instituem —rg‹os, mas deixam para a 
lei a tarefa de organizar o seu funcionamento). 5 
Embora a doutrina americana seja bastante did‡tica, a classifica‹o das 
normas quanto ˆ sua aplicabilidade mais aceita no Brasil foi a proposta pelo 
Prof. JosŽ Afonso da Silva. 
A partir da aplicabilidade das normas constitucionais, JosŽ Afonso da Silva 
classifica as normas constitucionais em trs grupos: i) normas de efic‡cia 
plena; ii) normas de efic‡cia contida e; iii) normas de efic‡cia limitada. 
1) Normas de efic‡cia plena:  
S‹o aquelas que, desde a entrada em vigor da Constitui‹o, produzem, ou tm 
possibilidade de produzir, todos os efeitos que o legislador constituinte quis 
regular. ƒ o caso do art. 2¼ da CF/88, que diz: Òs‹o Poderes da Uni‹o, 
independentes e harm™nicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judici‡rioÓ. 
As normas de efic‡cia plena possuem as seguintes caracter’sticas: 
a) s‹o autoaplic‡veis, Ž dizer, elas independem de lei posterior 
regulamentadora que lhes complete o alcance e o sentido. Isso n‹o 
quer dizer que n‹o possa haver lei regulamentadora versando sobre 
uma norma de efic‡cia plena; a lei regulamentadora atŽ pode 
existir, mas a norma de efic‡cia plena j‡ produz todos os seus efeitos 
de imediato, independentemente de qualquer tipo de regulamenta‹o. 
b) s‹o n‹o-restring’veis, ou seja, caso exista uma lei tratando de 
uma norma de efic‡cia plena, esta n‹o poder‡ limitar sua aplica‹o. 
c) possuem aplicabilidade direta (n‹o dependem de norma 
regulamentadora para produzir seus efeitos), imediata (est‹o aptas a 
produzir todos os seus efeitos desde o momento em que Ž promulgada 
                                                        
5
 FERREIRA FILHO, Manoel Gonalves. Curso de Direito Constitucional, 38» edi‹o. Editora 
Saraiva, S‹o Paulo: 2012, pp. 417-418. 
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a Constitui‹o) e integral (n‹o podem sofrer limita›es ou restri›es 
em sua aplica‹o). 
2) Normas constitucionais de efic‡cia contida ou prospectiva: 
S‹o normas que est‹o aptas a produzir todos os seus efeitos desde o 
momento da promulga‹o da Constitui‹o, mas que podem ser restringidas 
por parte do Poder Pœblico. Cabe destacar que a atua‹o do legislador, no caso 
das normas de efic‡cia contida, Ž discricion‡ria: ele n‹o precisa editar a lei, 
mas poder‡ faz-lo. 
Um exemplo cl‡ssico de norma de efic‡cia contida Ž o art.5¼, inciso XIII, da 
CF/88, segundo o qual Ҏ livre o exerc’cio de qualquer trabalho, of’cio ou 
profiss‹o, atendidas as qualifica›es profissionais que a lei estabelecerÓ. Em 
raz‹o desse dispositivo, Ž assegurada a liberdade profissional: desde a 
promulga‹o da Constitui‹o, todos j‡ podem exercer qualquer trabalho, of’cio 
ou profiss‹o. No entanto, a lei poder‡ estabelecer restri›es ao exerc’cio 
de algumas profiss›es. Citamos, por exemplo, a exigncia de aprova‹o no 
exame da OAB como prŽ-requisito para o exerc’cio da advocacia. 
As normas de efic‡cia contida possuem as seguintes caracter’sticas: 
a) s‹o autoaplic‡veis, ou seja, est‹o aptas a produzir todos os seus 
efeitos, independentemente de lei regulamentadora. Em outras 
palavras, n‹o precisam de lei regulamentadora que lhes complete o 
alcance ou sentido. Vale destacar que, antes da lei regulamentadora ser 
publicada, o direito previsto em uma norma de efic‡cia contida pode ser 
exercitado de maneira ampla (plena); s— depois da regulamenta‹o Ž 
que haver‡ restri›es ao exerc’cio do direito. 
b) s‹o restring’veis, isto Ž, est‹o sujeitas a limita›es ou restri›es, 
que podem ser impostas por: 
- uma lei: o direito de greve, na iniciativa privada, Ž norma de efic‡cia 
contida prevista no art. 9¼, da CF/88. Desde a promulga‹o da CF/88, o 
direito de greve j‡ pode exercido pelos trabalhadores do regime 
celetista; no entanto, a lei poder‡ restringi-lo, definindo os Òservios ou 
atividades essenciaisÓ e dispondo sobre Òo atendimento das 
necessidades inadi‡veis da comunidadeÓ. 
Art. 9¼ ƒ assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores 
decidir sobre a oportunidade de exerc-lo e sobre os interesses que 
devam por meio dele defender. 
¤ 1¼ - A lei definir‡ os servios ou atividades essenciais e dispor‡ sobre 
o atendimento das necessidades inadi‡veis da comunidade. 
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- outra norma constitucional: o art. 139, da CF/88 prev a 
possibilidade de que sejam impostas restri›es a certos direitos e 
garantias fundamentais durante o estado de s’tio. 
- conceitos Žtico-jur’dicos indeterminados: o art. 5¼, inciso XXV, 
da CF/88 estabelece que, no caso de Òiminente perigo pœblicoÓ, o 
Estado poder‡ requisitar propriedade particular. Esse Ž um conceito 
Žtico-jur’dico que poder‡, ent‹o, limitar o direito de propriedade. 
c) possuem aplicabilidade direta (n‹o dependem de norma 
regulamentadora para produzir seus efeitos), imediata (est‹o aptas a 
produzir todos os seus efeitos desde o momento em que Ž promulgada 
a Constitui‹o) e possivelmente n‹o-integral (est‹o sujeitas a 
limita›es ou restri›es). 
 
(Advogado FUNASG Ð 2015) As normas de efic‡cia 
contida tm efic‡cia plena atŽ que seja materializado o fator 
de restri‹o imposto pela lei infraconstitucional. 
Coment‡rios: 
As normas de efic‡cia contida s‹o restring’veis por lei 
infraconstitucional. AtŽ que essa lei seja publicada, a norma 
de efic‡cia contida ter‡ aplica‹o integral. Quest‹o correta 
 
3) Normas constitucionais de efic‡cia limitada:  
S‹o aquelas que dependem de regulamenta‹o futura para produzirem 
todos os seus efeitos. Um exemplo de norma de efic‡cia limitada Ž o art. 37, 
inciso VII, da CF/88, que trata do direito de greve dos servidores pœblicos 
(Òo direito de greve ser‡ exercido nos termos e nos limites definidos em lei 
espec’ficaÓ). 
Ao ler o dispositivo supracitado, Ž poss’vel perceber que a Constitui‹o Federal 
de 1988 outorga aos servidores pœblicos o direito de greve; no entanto, para 
que este possa ser exercido, faz-se necess‡ria a edi‹o de lei ordin‡ria que o 
regulamente. Assim, enquanto n‹o editada essa norma, o direito n‹o pode ser 
usufru’do. 
As normas constitucionais de efic‡cia limitada possuem as seguintes 
caracter’sticas: 
a) s‹o n‹o-autoaplic‡veis, ou seja, dependem de complementa‹o 
legislativa para que possam produzir os seus efeitos. 
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b) possuem aplicabilidade indireta (dependem de norma 
regulamentadora para produzir seus efeitos) mediata (a promulga‹o 
do texto constitucional n‹o Ž suficiente para que possam produzir todos 
os seus efeitos) e reduzida (possuem um grau de efic‡cia restrito 
quando da promulga‹o da Constitui‹o). 
 
Muito cuidado para n‹o confundir! 
As normas de efic‡cia contida est‹o aptas a 
produzir todos os seus efeitos desde o 
momento em que a Constitui‹o Ž promulgada. A 
lei posterior, caso editada, ir‡ restringir a sua 
aplica‹o. 
As normas de efic‡cia limitada n‹o est‹o 
aptas a produzirem todos os seus efeitos com 
a promulga‹o da Constitui‹o; elas dependem, 
para isso, de uma lei posterior, que ir‡ ampliar o 
seu alcance. 
JosŽ Afonso da Silva subdivide as normas de efic‡cia limitada em dois 
grupos: 
a) normas declarat—rias de princ’pios institutivos ou 
organizativos: s‹o aquelas que dependem de lei para estruturar e 
organizar as atribui›es de institui›es, pessoas e —rg‹os previstos na 
Constitui‹o. ƒ o caso, por exemplo, do art. 88, da CF/88, segundo o 
qual Òa lei dispor‡ sobre a cria‹o e extin‹o de MinistŽrios e —rg‹os da 
administra‹o pœblica.Ó 
As normas definidoras de princ’pios institutivos ou organizativos podem 
ser impositivas (quando imp›em ao legislador uma obriga‹o de 
elaborar a lei regulamentadora) ou facultativas (quando estabelecem 
mera faculdade ao legislador). O art. 88, da CF/88, Ž exemplo de norma 
impositiva; como exemplo de norma facultativa citamos o art. 125, ¤ 3¼, 
CF/88, que disp›e que a Òlei estadual poder‡ criar, mediante proposta do 
Tribunal de Justia, a Justia Militar estadualÓ. 
b) normas declarat—rias de princ’pios program‡ticos: s‹o aquelas 
que estabelecem programas a serem desenvolvidos pelo legislador 
infraconstitucional. Um exemplo Ž o art. 196 da Carta Magna (Òa saœde 
Ž direito de todos e dever do Estado, garantido mediante pol’ticas 
sociais e econ™micas que visem ˆ redu‹o do risco de doena e de 
outros agravos e ao acesso universal e igualit‡rio ˆs a›es e servios 
para sua promo‹o, prote‹o e recupera‹oÓ). Cabe destacar que a 
presena de normas program‡ticas na Constitui‹o Federal Ž que nos 
permite classific‡-la como uma Constitui‹o-dirigente. 
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ƒ importante destacar que as normas de efic‡cia limitada, embora tenham 
aplicabilidade reduzida e n‹o produzam todos os seus efeitos desde a 
promulga‹o da Constitui‹o, possuem efic‡cia jur’dica. Guarde bem isso: a 
efic‡cia dessas normas Ž limitada, porŽm existente! Diz-se que as normas de 
efic‡cia limitada possuem efic‡cia m’nima. 
Diante dessa afirma‹o, cabe-nos fazer a seguinte pergunta: quais s‹o os 
efeitos jur’dicos produzidos pelas normas de efic‡cia limitada? 
As normas de efic‡cia limitada produzem imediatamente, desde a promulga‹o 
da Constitui‹o, dois tipos de efeitos: i) efeito negativo; e ii) efeito 
vinculativo. 
O efeito negativo consiste na revoga‹o de disposi›es anteriores em 
sentido contr‡rio e na proibi‹o de leis posteriores que se oponham a 
seus comandos. Sobre esse œltimo ponto, vale destacar que as normas de 
efic‡cia limitada servem de par‰metro para o controle de constitucionalidade 
das leis. 
O efeito vinculativo, por sua vez, se manifesta na obriga‹o de que o 
legislador ordin‡rio edite leis regulamentadoras, sob pena de haver 
omiss‹o inconstitucional, que pode ser combatida por meio de mandado de 
injun‹o ou A‹o Direta de Inconstitucionalidade por Omiss‹o. Ressalte-se que 
o efeito vinculativo tambŽm se manifesta na obriga‹o de que o Poder Pœblico 
concretize as normas program‡ticas previstas no texto constitucional. A 
Constitui‹o n‹o pode ser uma mera Òfolha de papelÓ; as normas 
constitucionais devem refletir a realidade pol’tico-social do Estado e as pol’ticas 
pœblicas devem seguir as diretrizes traadas pelo Poder Constituinte Origin‡rio. 
 
(Advogado FUNASG Ð 2015) As normas constitucionais de 
efic‡cia limitada s‹o aquelas que, no momento em que a 
Constitui‹o Ž promulgada, n‹o tm o cond‹o de produzir 
todos os seus efeitos, necessitando de lei integrativa 
infraconstitucional. 
Coment‡rios: 
ƒ isso mesmo! As normas de efic‡cia limitada n‹o produzem 
todos os seus efeitos no momento em que a Constitui‹o Ž 
promulgada. Para produzirem todos os seus efeitos, elas 
dependem da edi‹o de lei regulamentadora. Quest‹o correta. 
(CNMP Ð 2015) As normas constitucionais de aplicabilidade 
diferida e mediata, que n‹o s‹o dotadas de efic‡cia jur’dica e 
n‹o vinculam o legislador infraconstitucional aos seus vetores, 
s‹o de efic‡cia contida. 
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Coment‡rios: 
As normas de efic‡cia limitada Ž que tm aplicabilidade 
diferida e mediata. Cabe destacar que as normas de efic‡cia 
limitada possuem efic‡cia jur’dica e vinculam o legislador 
infraconstitucional. Quest‹o errada. 
Teoria Geral dos Direitos Fundamentais 
1. Direitos do Homem x Direitos Fundamentais x Direitos Humanos: 
Antes de qualquer coisa, Ž necess‡rio apresentar a diferena entre as 
express›esÒdireitos do homemÓ, Òdireitos fundamentaisÓ e Òdireitos humanosÓ. 
Segundo Mazzuoli, Òdireitos do homemÓ diz respeito a uma sŽrie de direitos 
naturais aptos ˆ prote‹o global do homem e v‡lido em todos os tempos. 
Trata-se de direitos que n‹o est‹o previstos em textos constitucionais ou em 
tratados de prote‹o aos direitos humanos. A express‹o Ž, assim, reservada 
aos direitos que se sabe ter, mas cuja existncia se justifica apenas no plano 
jusnaturalista.6 
Direitos fundamentais, por sua vez, se refere aos direitos da pessoa humana 
consagrados, em um determinado momento hist—rico, em um certo Estado. 
S‹o direitos constitucionalmente protegidos, ou seja, est‹o positivados em 
uma determinada ordem jur’dica. 
Por fim, Òdireitos humanosÓ Ž express‹o consagrada para se referir aos 
direitos positivados em tratados internacionais, ou seja, s‹o direitos 
protegidos no ‰mbito do direito internacional pœblico. A prote‹o a esses 
direitos Ž feita mediante conven›es globais (por exemplo, o Pacto 
Internacional sobre Direitos Civis e Pol’ticos) ou regionais (por exemplo, a 
Conven‹o Americana de Direitos Humanos). 
 
H‡ alguns direitos que est‹o consagrados em 
conven›es internacionais, mas que ainda n‹o 
foram reconhecidos e positivados no ‰mbito 
interno. 
TambŽm pode ocorrer o contr‡rio! ƒ plenamente 
poss’vel que o ordenamento jur’dico interno d uma 
prote‹o superior ˆquela prevista em tratados 
internacionais (regionais e globais). 
                                                        
6
 MAZZUOLI, ValŽrio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Pœblico, 4» ed. S‹o Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2010, pp. 750-751.  
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ƒ importante termos cuidado para n‹o confundir direitos fundamentais e 
garantias fundamentais. Qual seria, afinal, a diferena entre eles? 
Os direitos fundamentais s‹o os bens protegidos pela Constitui‹o. ƒ o caso 
da vida, da liberdade, da propriedade... J‡ as garantias s‹o formas de se 
protegerem esses bens, ou seja, instrumentos constitucionais. Um exemplo Ž 
o habeas corpus, que protege o direito ˆ liberdade de locomo‹o. Ressalte-se 
que, para Canotilho, as garantias s‹o tambŽm direitos.7 
 
2. As Ògera›esÓ de direitos: 
Os direitos fundamentais s‹o tradicionalmente classificados em gera›es, o 
que busca transmitir uma ideia de que eles n‹o surgiram todos em um mesmo 
momento hist—rico. Eles foram fruto de uma evolu‹o hist—rico-social, de 
conquistas progressivas da humanidade. 
A doutrina majorit‡ria reconhece a existncia de trs gera›es de direitos: 
a) Primeira Gera‹o: s‹o os direitos que buscam restringir a a‹o 
do Estado sobre o indiv’duo, impedindo que este se intrometa de 
forma abusiva na vida privada das pessoas. S‹o, por isso, tambŽm 
chamados liberdades negativas: traduzem a liberdade de n‹o sofrer 
ingerncia abusiva por parte do Estado. Para o Estado, consistem em 
uma obriga‹o de Òn‹o fazerÓ, de n‹o intervir indevidamente na esfera 
privada. 
ƒ relevante destacar que os direitos de primeira gera‹o cumprem a 
fun‹o de direito de defesa dos cidad‹os, sob dupla perspectiva: n‹o 
permitem aos Poderes Pœblicos a ingerncia na esfera jur’dica 
individual, bem como conferem ao indiv’duo poder para exerc-los e 
exigir do Estado a corre‹o das omiss›es a eles relativas. 
Os direitos de primeira gera‹o tm como valor-fonte a liberdade. S‹o 
os direitos civis e pol’ticos, reconhecidos no final do sŽculo XVIII, 
com as Revolu›es Francesa e Americana. Como exemplos de direitos 
de primeira gera‹o citamos o direito de propriedade, o direito de 
locomo‹o, o direito de associa‹o e o direito de reuni‹o. 
b) Segunda gera‹o: s‹o os direitos que envolvem presta›es 
positivas do Estado aos indiv’duos (pol’ticas e servios pœblicos) e, em 
sua maioria, caracterizam-se por serem normas program‡ticas. S‹o, 
por isso, tambŽm chamados de liberdades positivas. Para o Estado, 
constituem obriga›es de fazer algo em prol dos indiv’duos, objetivando 
                                                        
7
 CANOTILHO, JosŽ Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constitui‹o, 7» 
edi‹o. Coimbra: Almedina, 2003.  
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que todos tenham Òbem-estarÓ: em raz‹o disso, eles tambŽm s‹o 
chamados de Òdireitos do bem-estarÓ. 
Os direitos de segunda gera‹o tm como valor fonte a igualdade. S‹o 
os direitos econ™micos, sociais e culturais. Como exemplos de 
direitos de segunda gera‹o, citamos o direito ˆ educa‹o, o direito ˆ 
saœde e o direito ao trabalho. 
c) Terceira gera‹o: s‹o os direitos que n‹o protegem interesses 
individuais, mas que transcendem a —rbita dos indiv’duos para alcanar 
a coletividade (direitos transindividuais ou supraindividuais). 
Os direitos de terceira gera‹o tm como valor-fonte a solidariedade, 
a fraternidade. S‹o os direitos difusos e os coletivos. Citam-se, como 
exemplos, o direito do consumidor, o direito ao meio-ambiente 
ecologicamente equilibrado e o direito ao desenvolvimento. 
Percebeu como as trs primeiras gera›es seguem a sequncia do lema da 
Revolu‹o Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade? Guarde isso 
para a prova! Abaixo, transcrevemos decis‹o do STF que resume muito bem o 
entendimento da Corte sobre os direitos fundamentais. 
ÒEnquanto os direitos de primeira gera‹o (direitos civis e pol’ticos) 
Ð que compreendem as liberdades cl‡ssicas, negativas ou formais Ð 
realam o princ’pio da liberdade e os direitos de segunda gera‹o 
(direitos econ™micos, sociais e culturais) Ð que se identificam com as 
liberdades positivas, reais ou concretas Ð acentuam o princ’pio da 
igualdade, os direitos de terceira gera‹o, que materializam 
poderes de titularidade coletiva atribu’dos genericamente a todas as 
forma›es sociais, consagram o princ’pio da solidariedade e 
constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, 
expans‹o e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados, 
enquanto valores fundamentais indispon’veis, pela nota de uma 
essencial inexauribilidade.Ó (STF, Pleno, MS n¼ 22.164-SP, Relator Min. 
Celso de Mello. DJ 17.11.95) 
Parte da doutrina considera a existncia de direitos de quarta gera‹o. Para 
Paulo Bonavides, estes incluiriam os direitos relacionados ˆ globaliza‹o: 
direito ˆ democracia, o direito ˆ informa‹o e o direito ao pluralismo. 
Desses direitos dependeria a concretiza‹o de uma Òcivitas m‡ximaÓ, uma 
sociedade sem fronteiras e universal. Por outro lado, Norberto Bobbio 
considera como de quarta gera‹o os Òdireitos relacionados ˆ engenharia 
genŽticaÓ. 
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H‡ tambŽm uma parte da doutrina que fala em direitos de quinta gera‹o, 
representados pelo direito ˆ paz. 8 
A express‹o Ògera‹o de direitosÓ Ž criticada por v‡rios autores, que 
argumentam que ela daria a entender que os direitos de uma determinada 
gera‹o seriam substitu’dos pelos direitos da pr—xima gera‹o. Isso n‹o Ž 
verdade. O que ocorre Ž que os direitos de uma gera‹o seguinte se 
acumulam aos das gera›es anteriores. Em virtude disso, a doutrina tem 
preferido usar a express‹o Òdimens›es de direitosÓ. Ter’amos, ent‹o, os 
direitos de 1» dimens‹o, 2» dimens‹o e assimpor diante. 
                                                        
8 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. S‹o Paulo: Malheiros, 2008. 
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3. Caracter’sticas dos Direitos Fundamentais: 
A doutrina aponta as seguintes caracter’sticas para os direitos fundamentais: 
a) Universalidade: os direitos fundamentais s‹o comuns a todos os 
seres humanos, respeitadas suas particularidades. Em outras palavras, 
h‡ um nœcleo m’nimo de direitos que deve ser outorgado a todas 
as pessoas (como, por exemplo, o direito ˆ vida). Cabe destacar, 
todavia, que alguns direitos n‹o podem ser titularizados por todos, pois 
GERAÇÕES DOS 
DIREITOS 
FUNDAMENTAIS
1a GERAÇÃO
LIBERDADE
IMPÕEM AO ESTADO O DEVER DE 
ABSTENÇÃO
DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS
2a GERAÇÃO
IGUALDADE
IMPÕEM AO ESTADO O DEVER DE 
ATUAÇÃO
DIREITOS SOCIAIS, ECONÔMICOS E 
CULTURAIS
3a GERAÇÃO
FRATERNIDADE
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS
4a GERAÇÃO
PAULO BONAVIDES: DEMOCRACIA, 
INFORMAÇÃO, PLURALISMO
NORBERTO BOBBIO: ENGENHARIA 
GENÉTICA
5a GERAÇÃO
 DIREITO À PAZ
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s‹o outorgados a grupos espec’ficos (como, por exemplo, os direitos 
dos trabalhadores). 
b) Historicidade: os direitos fundamentais n‹o resultam de um 
acontecimento hist—rico determinado, mas de todo um processo de 
afirma‹o. Surgem a partir das lutas do homem, em que h‡ conquistas 
progressivas. Por isso mesmo, s‹o mut‡veis e sujeitos a 
amplia›es, o que explica as diferentes Ògera›esÓ de direitos 
fundamentais que estudamos. 
c) Indivisibilidade: os direitos fundamentais s‹o indivis’veis, isto Ž, 
formam parte de um sistema harm™nico e coerente de prote‹o ˆ 
dignidade da pessoa humana. Os direitos fundamentais n‹o podem ser 
considerados isoladamente, mas sim integrando um conjunto œnico, 
indivis’vel de direitos. 
d) Inalienabilidade: os direitos fundamentais s‹o intransfer’veis e 
inegoci‡veis, n‹o podendo ser abolidos por vontade de seu titular. 
AlŽm disso, n‹o possuem conteœdo econ™mico-patrimonial. 
e) Imprescritibilidade: os direitos fundamentais n‹o se perdem com 
o tempo, sendo sempre exig’veis. Essa caracter’stica decorre do fato de 
que os direitos fundamentais s‹o personal’ssimos, n‹o podendo ser 
alcanados pela prescri‹o. 
f) Irrenunciabilidade: o titular dos direitos fundamentais n‹o pode 
deles dispor, embora possa deixar de exerc-los. ƒ admiss’vel, 
entretanto, em algumas situa›es, a autolimita‹o volunt‡ria de seu 
exerc’cio, num caso concreto. Seria o caso, por exemplo, dos indiv’duos 
que participam dos conhecidos Òreality showsÓ, que, temporariamente, 
abdicam do direito ˆ privacidade. 
g) Relatividade ou Limitabilidade: n‹o h‡ direitos fundamentais 
absolutos. Trata-se de direitos relativos, limit‡veis, no caso 
concreto, por outros direitos fundamentais. No caso de conflito entre 
eles, h‡ uma concord‰ncia pr‡tica ou harmoniza‹o: nenhum deles Ž 
sacrificado definitivamente. 
 
A relatividade Ž, dentre todas as caracter’sticas dos 
direitos fundamentais, a mais cobrada em prova. 
Por isso, guarde o seguinte: n‹o h‡ direito 
fundamental absoluto! Todo direito sempre 
encontra limites em outros, tambŽm protegidos pela 
Constitui‹o. ƒ por isso que, em caso de conflito 
entre dois direitos, n‹o haver‡ o sacrif’cio total de 
um em rela‹o ao outro, mas redu‹o proporcional 
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de ambos, buscando-se, com isso, alcanar a 
finalidade da norma. 
h) Complementaridade: a plena efetiva‹o dos direitos fundamentais 
deve considerar que eles comp›em um sistema œnico. Nessa —tica, os 
diferentes direitos (das diferentes dimens›es) se complementam e, 
portanto, devem ser interpretados conjuntamente. 
i) Concorrncia: os direitos fundamentais podem ser exercidos 
cumulativamente, podendo um mesmo titular exercitar v‡rios direitos 
ao mesmo tempo. 
j) Efetividade: os Poderes Pœblicos tm a miss‹o de concretizar 
(efetivar) os direitos fundamentais. 
l) Proibi‹o do retrocesso: por serem os direitos fundamentais o 
resultado de um processo evolutivo, de conquistas graduais da 
Humanidade, n‹o podem ser enfraquecidos ou suprimidos. Isso 
significa que as normas que os instituem n‹o podem ser revogadas ou 
substitu’das por outras que os diminuam, restrinjam ou suprimam. 
Segundo Canotilho, baseado no princ’pio do n‹o retrocesso social, 
os direitos sociais, uma vez tendo sido previstos, passam a constituir 
tanto uma garantia institucional quanto um direito subjetivo. Isso 
limita o legislador e exige a realiza‹o de uma pol’tica condizente com 
esses direitos, sendo inconstitucionais quaisquer medidas estatais que, 
sem a cria‹o de outros esquemas alternativos ou compensat—rios, 
anulem, revoguem ou aniquilem o nœcleo essencial desses direitos. 
Os direitos fundamentais possuem uma dupla dimens‹o: i) dimens‹o subjetiva 
e; ii) dimens‹o objetiva. 
Na dimens‹o subjetiva, os direitos fundamentais s‹o direitos exig’veis 
perante o Estado: as pessoas podem exigir que o Estado se abstenha de 
intervir indevidamente na esfera privada (direitos de 1» gera‹o) ou que o 
Estado atue ofertando presta›es positivas, atravŽs de pol’ticas e servios 
pœblicos (direitos de 2» gera‹o). 
J‡ na dimens‹o objetiva, os direitos fundamentais s‹o vistos como 
enunciados dotados de alta carga valorativa: eles s‹o qualificados como 
princ’pios estruturantes do Estado, cuja efic‡cia se irradia para todo o 
ordenamento jur’dico. 
 
(FUB Ð 2015) A caracter’stica da universalidade consiste em 
que todos os indiv’duos sejam titulares de todos os direitos 
fundamentais, sem distin‹o. 
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Coment‡rios: 
H‡ alguns direitos que n‹o podem ser titularizados por todas 
as pessoas. ƒ o caso, por exemplo, dos direitos dos 
trabalhadores. Quest‹o errada. 
(TRT 8a Regi‹o Ð 2013) Os direitos fundamentais s‹o 
personal’ssimos, de forma que somente a pr—pria pessoa pode 
a eles renunciar. 
Coment‡rios: 
Os direitos fundamentais tm como caracter’stica a 
ÒirrenunciabilidadeÓ. Quest‹o errada. 
 
4. Limites aos Direitos Fundamentais: 
A imposi‹o de limites aos direitos fundamentais decorre da relatividade que 
estes possuem. Conforme j‡ comentamos, nenhum direito fundamental Ž 
absoluto: eles encontram limites em outros direitos consagrados no texto 
constitucional. AlŽm disso, conforme j‡ se pronunciou o STF, um direito 
fundamental n‹o pode servir de salvaguarda de pr‡ticas il’citas. 
Para tratar das limita›es aos direitos fundamentais, a doutrina desenvolveu 
duas teorias: i) a interna e; ii) a externa. 
A teoria interna (teoria absoluta) considera que o processo de defini‹o 
dos limites a um direito Ž interno a este. N‹o h‡ restri›es a um direito, mas 
uma simples defini‹o de seus contornos. Os limites do direito lhe s‹o 
imanentes, intr’nsecos. A fixa‹o dos limites a um direito n‹o Ž, portanto, 
influenciada por aspectos externos (extr’nsecos), como, por exemplo,a colis‹o 
de direitos fundamentais. 9 
Para a teoria interna (absoluta), o nœcleo essencial de um direito fundamental 
Ž insuscet’vel de viola‹o, independentemente da an‡lise do caso concreto. 
Esse nœcleo essencial, que n‹o poder‡ ser violado, Ž identificado a partir da 
percep‹o dos limites imanentes ao direito. 
A teoria externa (teoria relativa), por sua vez, entende que a defini‹o dos 
limites aos direitos fundamentais Ž um processo externo a esses direitos. Em 
outras palavras, fatores extr’nsecos ir‹o determinar os limites dos 
direito fundamentais, ou seja, o seu nœcleo essencial. ƒ somente sob essa 
—tica que se admite a solu‹o dos conflitos entre direitos fundamentais pelo 
                                                        
9
 SILVA, Virg’lio Afonso da. O conteœdo essencial dos direitos fundamentais e a efic‡cia 
das normas constitucionais. In: Revista de Direito do Estado, volume 4, 2006, pp. 35 Ð 39. 
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ju’zo de pondera‹o (harmoniza‹o) e pela aplica‹o do princ’pio da 
proporcionalidade. 
Para a teoria externa, o nœcleo essencial de um direito fundamental tambŽm Ž 
insuscet’vel de viola‹o; no entanto, a determina‹o do que Ž exatamente 
esse Ònœcleo essencialÓ depender‡ da an‡lise do caso concreto. Os direitos 
fundamentais s‹o restring’veis, observado o princ’pio da proporcionalidade 
e/ou a prote‹o de seu nœcleo essencial. Exemplo: o direito ˆ vida pode sofrer 
restri›es no caso concreto. 
Quest‹o muito relevante a ser tratada Ž sobre a teoria dos Òlimites dos 
limitesÓ, que incorpora os pressupostos da teoria externa. A pergunta que se 
faz Ž a seguinte: a lei pode impor restri›es aos direitos fundamentais? 
A resposta Ž sim. A lei pode impor restri›es aos direitos fundamentais, mas 
h‡ um nœcleo essencial que precisa ser protegido, que n‹o pode ser objeto 
de viola›es. Assim, o grande desafio do exegeta (intŽrprete) e do pr—prio 
legislador est‡ em definir o que Ž esse nœcleo essencial, o que dever‡ ser feito 
pela aplica‹o do princ’pio da proporcionalidade, em suas trs vertentes 
(adequa‹o, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito). 
A teoria dos Òlimites dos limitesÓ visa, portanto, impedir a viola‹o do 
nœcleo essencial dos direitos fundamentais. Como o pr—prio nome j‡ nos 
induz a pensar, ela tem como objetivo impor limites ˆs restri›es (limites) aos 
direitos fundamentais criados pelo legislador. Por isso, a teoria dos Òlimites dos 
limitesÓ tem dado amparo ao controle de constitucionalidade de leis, pela 
aplica‹o do princ’pio da proporcionalidade. 
O Prof. Gilmar Mendes, ao tratar da teoria dos Òlimites dos limitesÓ, afirma 
o seguinte: 
Òda an‡lise dos direitos individuais pode-se extrair a conclus‹o err™nea 
de que direitos, liberdades, poderes e garantias s‹o pass’veis de 
ilimitada limita‹o ou restri‹o. ƒ preciso n‹o perder de vista, porŽm, 
que tais restri›es s‹o limitadas. Cogita-se aqui dos chamados limites 
imanentes ou Ôlimites dos limitesÕ (Schranken-Schranken), que balizam 
a a‹o do legislador quando restringe direitos individuais. Esses limites, 
que decorrem da pr—pria Constitui‹o, referem-se tanto ˆ necessidade 
de prote‹o de um nœcleo essencial do direito fundamental, quanto ˆ 
clareza, determina‹o, generalidade e proporcionalidade das restri›es 
impostas.Ó10 
No Brasil, a CF/88 n‹o previu expressamente a teoria dos limites aos 
limites. Entretanto, o dever de prote‹o ao nœcleo essencial est‡ 
impl’cito na Carta Magna, de acordo com v‡rios julgados do STF e com a 
                                                        
10 MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos Fundamentais e Controle de Constitucionalidade: 
Estudos de Direito Constitucional. 3.ed. S‹o Paulo: Saraiva, 2009. P. 41 
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doutrina, por decorrncia do modelo garant’stico utilizado pelo constituinte. 
Isso porque a n‹o-admiss‹o de um limite ˆ atua‹o legislativa tornaria in—cua 
qualquer prote‹o fundamental11. 
Por fim, vale ressaltar que os direitos fundamentais tambŽm podem ser 
restringidos em situa›es de crises constitucionais, como na vigncia do 
estado de s’tio e estado de defesa.12 
 
(FUB Ð 2015) Os direitos fundamentais, considerados como 
cl‡usula pŽtrea das constitui›es, podem sofrer limita›es 
por pondera‹o judicial caso estejam em confronto com 
outros direitos fundamentais, por altera‹o legislativa, via 
emenda constitucional, desde que, nesse œltimo caso, seja 
respeitado o nœcleo essencial que os caracteriza. 
Coment‡rios: 
ƒ poss’vel, sim, que sejam impostas limita›es aos direitos 
fundamentais, mas desde que seja respeitado o nœcleo 
essencial que os caracteriza. Em um caso concreto no qual 
haja o conflito entre direitos fundamentais, o juiz ir‡ aplicar a 
tŽcnica da pondera‹o (harmoniza‹o). Quest‹o correta. 
 
5. Efic‡cia Horizontal dos Direitos Fundamentais: 
AtŽ o sŽculo XX, acreditava-se que os direitos fundamentais se aplicavam 
apenas ˆs rela›es entre o indiv’duo e o Estado. Como essa rela‹o Ž de um 
ente superior (Estado) com um inferior (indiv’duo), dizia-se que os direitos 
fundamentais possu’am Òefic‡cia verticalÓ. 
A partir do sŽculo XX, entretanto, surgiu a teoria da efic‡cia horizontal dos 
direitos fundamentais, que estendeu sua aplica‹o tambŽm ˆs rela›es 
entre particulares. Tem-se a chamada Òefic‡cia horizontalÓ ou Òefeito 
externoÓ dos direitos fundamentais. A aplica‹o de direitos fundamentais nas 
rela›es entre particulares tem diferente aceita‹o pelo mundo. Nos Estados 
Unidos, por exemplo, s— se aceita a efic‡cia vertical dos direitos fundamentais. 
Existem duas teorias sobre a aplica‹o dos direitos fundamentais: i) a da 
efic‡cia indireta e mediata e; ii) a da efic‡cia direta e imediata. 
Para a teoria da efic‡cia indireta e mediata, os direitos fundamentais s— se 
aplicam nas rela›es jur’dicas entre particulares de forma indireta, 
                                                        
11 MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocncio M‡rtires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. 
Curso de Direito Constitucional. P. 319. 
12 O estado de defesa e estado de s’tio est‹o previstos nos art. 136 e art. 137, da CF/88. 
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excepcionalmente, por meio das cl‡usulas gerais de direito privado (ordem 
pœblica, liberdade contratual, e outras). Essa teoria Ž incompat’vel com a 
Constitui‹o Federal, que, em seu art. 5¼, ¤ 1¼, prev que as normas 
definidoras de direitos fundamentais possuem aplicabilidade imediata. 
J‡ para a teoria da efic‡cia direta e imediata, os direitos fundamentais 
incidem diretamente nas rela›es entre particulares. Estes estariam t‹o 
obrigados a cumpri-los quanto o Poder Pœblico. Esta Ž a tese que prevalece 
no Brasil, tendo sido adotada pelo Supremo Tribunal Federal. 
Suponha, por exemplo, que, em uma determinada sociedade empres‡ria, um 
dos s—cios n‹o esteja cumprindo suas atribui›es e, em raz‹o disso, os outros 
s—cios queiram retir‡-lo da sociedade. Eles n‹o poder‹o faz-lo sem que lhe 
seja concedido o direito ˆ ampla defesa e ao contradit—rio. Isso porque os 
direitos fundamentais tambŽm se aplicam ˆs rela›es entre particulares. ƒ a 
efic‡cia horizontal dos direitos fundamentais.(PGE / PR Ð 2015) Os direitos fundamentais assegurados 
pela Constitui‹o vinculam diretamente s— os poderes pœblicos, 
estando direcionados mediatamente ˆ prote‹o dos 
particulares e apenas em face dos chamados poderes privados. 
Coment‡rios: 
Os direitos fundamentais tm efic‡cia horizontal, aplicando-
se, tambŽm, ˆs rela›es entre particulares. Destaque-se que, 
no Brasil, prevalece a tese da efic‡cia direta e imediata dos 
direitos fundamentais. Quest‹o errada. 
 
6. Os Direitos Fundamentais na Constitui‹o Federal de 1988: 
Os direitos fundamentais est‹o previstos no T’tulo II, da Constitui‹o Federal 
de 1988. O T’tulo II, conhecido como Òcat‡logo dos direitos 
fundamentaisÓ, vai do art. 5¼ atŽ o art. 17 e divide os direitos fundamentais 
em 5 (cinco) diferentes categorias: 
a) Direitos e Deveres Individuais e Coletivos (art. 5¼) 
b) Direitos Sociais (art. 6¼ - art. 11) 
c) Direitos de Nacionalidade (art. 12 Ð art. 13) 
d) Direitos Pol’ticos (art. 14 Ð art. 16) 
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e) Direitos relacionados ˆ existncia, organiza‹o e participa‹o em 
partidos pol’ticos. 
ƒ importante ter aten‹o para n‹o cair em uma ÒpegadinhaÓ na hora da prova. 
Os direitos individuais e coletivos, os direitos sociais, os direitos de 
nacionalidade, os direitos pol’ticos e os direitos relacionados ˆ existncia, 
organiza‹o e participa‹o em partidos pol’ticos s‹o espŽcies do gnero 
Òdireitos fundamentaisÓ. 
O rol de direitos fundamentais previsto no T’tulo II n‹o Ž exaustivo. H‡ 
outros direitos, espalhados pelo texto constitucional, como o direito ao meio 
ambiente (art. 225) e o princ’pio da anterioridade tribut‡ria (art.150, III, ÒbÓ). 
Nesse ponto, vale ressaltar que os direitos fundamentais relacionados no T’tulo 
II s‹o conhecidos pela doutrina como Òdireitos catalogadosÓ; por sua vez, os 
direitos fundamentais previstos na CF/88, mas fora do T’tulo II, s‹o conhecidos 
como Òdireitos n‹o-catalogadosÓ. 
 
(MPU Ð 2015) Na CF, a classifica‹o dos direitos e garantias 
fundamentais restringe-se a trs categorias: os direitos 
individuais e coletivos, os direitos de nacionalidade e os 
direitos pol’ticos. 
Coment‡rios: 
Pode-se falar, ainda, na existncia de outros dois grupos de 
direitos: os direitos sociais e os direitos relacionados ˆ 
existncia, organiza‹o e participa‹o em partidos pol’ticos. 
Quest‹o errada. 
 
Direitos e Deveres Individuais e Coletivos: Parte I 
Iniciaremos o estudo do artigo da Constitui‹o mais cobrado em provas de 
concursos: o art. 5¼. Vamos l‡? 
Art. 5¼ Todos s‹o iguais perante a lei, sem distin‹o de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pa’s a 
inviolabilidade do direito ˆ vida, ˆ liberdade, ˆ igualdade, ˆ segurana e ˆ 
propriedade, nos termos seguintes: (...) 
O dispositivo constitucional enumera cinco direitos fundamentais Ð os direitos ˆ 
vida, ˆ liberdade, ˆ igualdade, ˆ segurana e ˆ propriedade. Desses direitos Ž 
que derivam todos os outros, relacionados nos diversos incisos do art. 5¼. A 
doutrina considera, inclusive, que os diversos incisos do art. 5¼ s‹o 
desdobramentos dos direitos previstos no caput desse artigo. 
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Apesar de o art. 5¼, caput, referir-se apenas a Òbrasileiros e estrangeiros 
residentes no pa’sÓ, h‡ consenso na doutrina de que os direitos fundamentais 
abrangem qualquer pessoa que se encontre em territ—rio nacional, 
mesmo que seja um estrangeiro residente no exterior. Um estrangeiro que 
estiver passando fŽrias no Brasil ser‡, portanto, titular de direitos 
fundamentais. 
Nesse sentido, entende o STF que o sœdito estrangeiro, mesmo aquele 
sem domic’lio no Brasil, tem direito a todas as prerrogativas b‡sicas que lhe 
assegurem a preserva‹o do status libertatis e a observ‰ncia, pelo Poder 
Pœblico, da cl‡usula constitucional do due process13. Ainda sobre o tema, 
chamamos sua aten‹o para decis‹o do STF segundo a qual Òo direito de 
propriedade Ž garantido ao estrangeiro n‹o residenteÓ.14 
Cabe destacar, ainda, que os direitos fundamentais n‹o tm como titular 
apenas as pessoas f’sicas; as pessoas jur’dicas e atŽ mesmo o pr—prio 
Estado s‹o titulares de direitos fundamentais. 
No que se refere ao direito ˆ vida, a doutrina considera que Ž dever do 
Estado assegur‡-lo em sua dupla acep‹o: a primeira, enquanto direito de 
continuar vivo; a segunda, enquanto direito de ter uma vida digna, uma vida 
boa.15 Seguindo essa linha, o STF j‡ decidiu que assiste aos indiv’duos o 
direito ˆ busca pela felicidade, como forma de realiza‹o do princ’pio da 
dignidade da pessoa humana.16 
O direito ˆ vida n‹o abrange apenas a vida extrauterina, mas tambŽm a 
vida intrauterina. Sem essa prote‹o, estar’amos autorizando a pr‡tica do 
aborto, que somente Ž admitida no Brasil quando h‡ grave ameaa ˆ vida da 
gestante ou quando a gravidez Ž resultante de estupro. 
Relacionado a esse tema, h‡ um importante julgado do STF sobre a 
possibilidade de interrup‹o de gravidez de feto anencŽfalo. O feto 
anencŽfalo Ž aquele que tem uma m‡-forma‹o do tubo neural (ausncia 
parcial do encŽfalo e da calota craniana). Trata-se de uma patologia letal: os 
fetos por ela afetados morrem, em geral, poucas horas depois de terem 
nascido. 
A Corte garantiu o direito ˆ gestante de Òsubmeter-se a antecipa‹o 
teraputica de parto na hip—tese de gravidez de feto anencŽfalo, previamente 
diagnosticada por profissional habilitado, sem estar compelida a apresentar 
autoriza‹o judicial ou qualquer outra forma de permiss‹o do EstadoÓ. O STF 
entendeu que, nesse caso, n‹o haveria colis‹o real entre direitos 
                                                        
13HC 94.016, Rel. Min. Celso de Mello, j. 16-9-2008, Segunda Turma, DJE de 27-2-2009. 
14 RE 33.319/DF, Rel. Min. C‰ndido Motta, DJ> 07.01.1957. 
15 MORAES, Alexandre de. Constitui‹o do Brasil Interpretada e Legisla‹o 
Constitucional, 9» edi‹o. S‹o Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 106. 
16 Pleno STF AgR 223. Rel. Min. Celso de Mello. Decis‹o em 14.04.2008. 
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fundamentais, apenas conflito aparente, uma vez que o anencŽfalo, por ser 
invi‡vel, n‹o seria titular do direito ˆ vida. O feto anencŽfalo, mesmo que 
biologicamente vivo, porque feito de cŽlulas e tecidos vivos, seria 
juridicamente morto, de maneira que n‹o deteria prote‹o jur’dica.17 Assim, a 
interrup‹o da gravidez de feto anencŽfalo n‹o Ž tipificada como crime de 
aborto. 
Outra controvŽrsia levada ˆ aprecia‹o do STF envolvia a pesquisa com 
cŽlulas-tronco embrion‡rias. Segundo a Corte, Ž leg’tima e n‹o ofende o 
direito ˆ vida nem, tampouco, a dignidade da pessoa humana, a realiza‹o 
de pesquisas com cŽlulas-tronco embrion‡rias, obtidas de embri›es 
humanos produzidos por fertiliza‹o Òin vitroÓ e n‹o utilizados neste 
procedimento.18 
Por fim, cabe destacar que nem mesmo o direito ˆ vida Ž absoluto. A 
Constitui‹o Federal de 1988 admite a pena de morte em caso de guerra 
declarada. 
 
(MPE /RS Ð 2014) Ainda que o sistema jur’dico-
constitucional p‡trio consagre o direito ˆ vida como direito 
fundamental, ele admite excepcionalmente a pena de morte. 
Coment‡rios: 
Nenhum direitofundamental Ž absoluto, inclusive o direito ˆ 
vida. Em caso de guerra declarada, admite-se a pena de 
morte. Quest‹o correta. 
                                                        
17
 STF, Pleno, ADPF 54/DF, Rel. Min. Marco AurŽlio, decis‹o 11 e 12.04.2012, Informativo STF 
no 661. 
18 ADI 3510/DF, Rel. Min. Ayres Britto, DJe: 27.05.2010 
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Uma vez decifrado o ÒcaputÓ do artigo 5¼ da Carta Magna, passaremos ˆ 
an‡lise dos seus incisos: 
I - homens e mulheres s‹o iguais em direitos e obriga›es, nos termos desta 
Constitui‹o; 
Esse inciso traduz o princ’pio da igualdade, que determina que se d 
tratamento igual aos que est‹o em condi›es equivalentes e desigual aos que 
est‹o em condi›es diversas, dentro de suas desigualdades. Obriga tanto o 
legislador quanto o aplicador da lei. 
O legislador fica, portanto, obrigado a obedecer ˆ Òigualdade na leiÓ, n‹o 
podendo criar leis que discriminem pessoas que se encontram em situa‹o 
equivalente, exceto quando houver razoabilidade para tal. Os intŽrpretes e 
aplicadores da lei, por sua vez, ficam limitados pela Òigualdade perante a 
leiÓ, n‹o podendo diferenciar, quando da aplica‹o do Direito, aqueles a quem 
a lei concedeu tratamento igual. Com isso, resguarda-se a igualdade na lei: de 
nada adiantaria ao legislador estabelecer um direito a todos se fosse permitido 
que os ju’zes e demais autoridades tratassem as pessoas desigualmente, 
reconhecendo aquele direito a alguns e negando-os a outros. 
DIREITO À 
VIDA
DIREITO À BUSCA PELA FELICIDADE (UNIÕES HOMOAFETIVAS 
SÃO ENTIDADES FAMILIARES)
SOBREVIVÊNCIA + EXISTÊNCIA DIGNA
ALCANÇA A VIDA INTRA E EXTRAUTERINA
É RELATIVO
É COMPATÍVEL
COM A INTERRUPÇÃO DE 
GRAVIDEZ DE ANENCÉFALO
COM A PESQUISA COM 
CÉLULAS‑TRONCO 
EMBRIONÁRIAS
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Vejamos, abaixo, interessante trecho de julgado do STF a respeito do assunto: 
19 
O princ’pio da isonomia, que se reveste de auto-aplicabilidade, n‹o Ž Ð 
enquanto postulado fundamental de nossa ordem pol’tico-jur’dica Ð 
suscet’vel de regulamenta‹o ou de complementa‹o normativa. 
Esse princ’pio Ð cuja observ‰ncia vincula, incondicionalmente, todas 
as manifesta›es do Poder Pœblico Ð deve ser considerado, em sua 
prec’pua fun‹o de obstar discrimina›es e de extinguir privilŽgios (RDA 
55/114), sob duplo aspecto: (a) o da igualdade na lei; e (b) o da 
igualdade perante a lei. A igualdade na lei Ð que opera numa fase de 
generalidade puramente abstrata Ð constitui exigncia destinada ao 
legislador que, no processo de sua forma‹o, nela n‹o poder‡ incluir 
fatores de discrimina‹o, respons‡veis pela ruptura da ordem 
ison™mica. A igualdade perante a lei, contudo, pressupondo lei j‡ 
elaborada, traduz imposi‹o destinada aos demais poderes estatais, 
que, na aplica‹o da norma legal, n‹o poder‹o subordin‡-la a critŽrios 
que ensejem tratamento seletivo ou discriminat—rio. 
 
 
O princ’pio da igualdade, conforme j‡ comentamos, impede que pessoas que 
estejam na mesma situa‹o sejam tratadas desigualmente; em outras 
palavras, poder‡ haver tratamento desigual (discriminat—rio) entre 
pessoas que est‹o em situa›es diferentes. Nesse sentido, as a›es 
afirmativas, como a reserva de vagas em universidades pœblicas para 
negros e ’ndios, s‹o consideradas constitucionais pelo STF.20 Da mesma 
forma, Ž compat’vel com o princ’pio da igualdade programa concessivo de 
bolsa de estudos em universidades privadas para alunos de renda familiar 
de pequena monta, com quotas para negros, pardos, ind’genas e portadores 
de necessidades especiais. 21 
Segundo o STF: 
                                                        
19MI 58, Rel. p/ o ac. Min. Celso de Mello, j.14-12-1990, DJ de 19-4-1991. 
20 RE 597285/RS. Min. Ricardo Lewandowski. Decis‹o: 09.05.2012 
21 STF, Pleno, ADI 3330/DF, Rel. Min. Ayres Britto, j. 03.05.2012. 
IGUALDADE
IGUALDADE NA LEI
DESTINA‑SE AO 
LEGISLADOR
IGUALDADE PERANTE A LEI
DESTINA‑SE AOS 
APLICADORES DO 
DIREITO
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Òo legislador constituinte n‹o se restringira apenas a proclamar 
solenemente a igualdade de todos diante da lei. Ele teria buscado 
emprestar a m‡xima concre‹o a esse importante postulado, para 
assegurar a igualdade material a todos os brasileiros e estrangeiros que 
viveriam no pa’s, consideradas as diferenas existentes por motivos 
naturais, culturais, econ™micos, sociais ou atŽ mesmo acidentais. AlŽm 
disso, atentaria especialmente para a desequipara‹o entre os distintos 
grupos sociais. Asseverou-se que, para efetivar a igualdade material, o 
Estado poderia lanar m‹o de pol’ticas de cunho universalista Ð a 
abranger nœmero indeterminado de indiv’duos Ð mediante a›es de 
natureza estrutural; ou de a›es afirmativas Ð a atingir grupos sociais 
determinados Ð por meio da atribui‹o de certas vantagens, por tempo 
limitado, para permitir a suplanta‹o de desigualdades ocasionadas por 
situa›es hist—ricas particulares.Ò22 
A realiza‹o da igualdade material n‹o pro’be que a lei crie discrimina›es, 
desde que estas obedeam ao princ’pio da razoabilidade. Seria o caso, por 
exemplo, de um concurso para agente penitenci‡rio de pris‹o feminina restrito 
a mulheres. Ora, fica claro nessa situa‹o que h‡ razoabilidade: em uma 
pris‹o feminina, Ž de todo desej‡vel que os agentes penitenci‡rios n‹o sejam 
homens. 
O mesmo vale para limites de idade em concursos pœblicos. Segundo o STF, Ž 
leg’tima a previs‹o de limites de idade em concursos pœblicos, quando 
justificada pela natureza das atribui›es do cargo a ser preenchido (Sœmula 
683). Cabe enfatizar, todavia, que a restri‹o da admiss‹o a cargos pœblicos a 
partir de idade somente se justifica se previsto em lei e quando situa›es 
concretas exigem um limite razo‡vel, tendo em conta o grau de esforo a ser 
desenvolvido pelo ocupante do cargo. 23 
A isonomia entre homens e mulheres tambŽm Ž objeto da jurisprudncia do 
STF. Segundo a Corte, n‹o afronta o princ’pio da isonomia a ado‹o de 
critŽrios distintos para a promo‹o de integrantes do corpo feminino e 
masculino da Aeron‡utica24. Trata-se de uma hip—tese em que a distin‹o 
entre homens e mulheres visa atingir a igualdade material, sendo, portanto, 
razo‡vel. 
Note, todavia, que, em todos os casos acima, s— a lei ou a pr—pria Constitui‹o 
podem determinar discrimina›es entre as pessoas. Os atos infralegais (como 
edital de concurso, por exemplo) n‹o podem determinar tais limita›es sem 
que haja previs‹o legal. 
                                                        
22
 RE 597285/RS. Min. Ricardo Lewandowski. Decis‹o: 09.05.2012 
23 RE 523737/MT Ð Rel. Min. Ellen Gracie, DJe: 05.08.2010 
24RE 498.900-AgR, Rel. Min. Carmen Lœcia, j. 23-10-2007, Primeira Turma, DJ de 7-12-2007. 
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Do princ’pio da igualdade se originam v‡rios outros princ’pios da Constitui‹o, 
como, por exemplo, a veda‹o ao racismo (art. 5¼, XLII, CF), o princ’pio da 
isonomiatribut‡ria (art. 150, II, CF), dentre outros. 
Finalizando o estudo desse inciso, guarde outra jurisprudncia cobrada em 
concursos. O STF entende que o princ’pio da isonomia n‹o autoriza ao 
Poder Judici‡rio estender a alguns grupos vantagens estabelecidas por 
lei a outros. Isso porque se assim fosse poss’vel, o Judici‡rio estaria 
ÒlegislandoÓ, n‹o Ž mesmo? O STF considera que, em tal situa‹o, haveria 
ofensa ao princ’pio da separa‹o dos Poderes. 
Sobre esse tema, destacamos, inclusive, a Sœmula Vinculante n¼ 37: ÒN‹o 
cabe ao Poder Judici‡rio, que n‹o tem fun‹o legislativa, aumentar 
vencimentos de servidores pœblicos sob fundamento de isonomia.Ó 
 
(PGE / RS Ð 2015) Ao julgar a a‹o direta de 
inconstitucionalidade em que se questionava a 
(in)constitucionalidade de lei determinando a fixa‹o de cotas 
raciais em Universidades e ao julgar a a‹o declarat—ria de 
constitucionalidade em que se questionava a 
(in)constitucionalidade da Lei Maria da Penha, o STF acolheu 
uma concep‹o formal de igualdade, com o reconhecimento 
da veda‹o a toda e qualquer forma de discrimina‹o, salvo a 
hip—tese de discrimina‹o indireta. 
Coment‡rios: 
Nas duas situa›es, o STF acolheu uma concep‹o material 
de igualdade. No primeiro caso (cotas raciais), considerou-se 
leg’timo o uso de a›es afirmativas pelo Estado; no segundo, 
o STF considerou leg’timas medidas especiais para coibir a 
violncia domŽstica contra as mulheres. Em ambos os casos, 
aplicou-se um tratamento desigual, mas para pessoas 
que est‹o em situa›es diferentes, o que est‡ em 
conformidade com a ideia de igualdade material. Quest‹o 
errada. 
(PGM Ð Niter—i Ð 2014) O direito fundamental ˆ igualdade Ž 
compat’vel com a existncia de limite de idade para a 
inscri‹o em concurso pœblico, sempre que justificado pela 
natureza das atribui›es do cargo a ser preenchido. 
Coment‡rios: 
O STF considera leg’tima a previs‹o de limites de idade em 
concursos pœblicos, quando justificada pela natureza das 
atribui›es do cargo a ser preenchido. Quest‹o correta. 
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II - ninguŽm ser‡ obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa sen‹o em 
virtude de lei; 
Esse inciso trata do princ’pio da legalidade, que se aplica de maneira 
diferenciada aos particulares e ao Poder Pœblico. Para os particulares, traz a 
garantia de que s— podem ser obrigados a agirem ou a se omitirem por lei. 
Tudo Ž permitido a eles, portanto, na falta de norma legal proibitiva. J‡ para o 
Poder Pœblico, o princ’pio da legalidade consagra a ideia de que este s— pode 
fazer o que Ž permitido pela lei. 
ƒ importante compreendermos a diferena entre o princ’pio da legalidade e o 
princ’pio da reserva legal. 
O princ’pio da legalidade se apresenta quando a Carta Magna utiliza a 
palavra ÒleiÓ em um sentido mais amplo, abrangendo n‹o somente a lei em 
sentido estrito, mas todo e qualquer ato normativo estatal (incluindo atos 
infralegais) que obedea ˆs formalidades que lhe s‹o pr—prias e contenha uma 
regra jur’dica. Por meio do princ’pio da legalidade, a Carta Magna determina a 
submiss‹o e o respeito ˆ ÒleiÓ, ou a atua‹o dentro dos limites legais; no 
entanto, a referncia que se faz Ž ˆ lei em sentido material. 
J‡ o princ’pio da reserva legal Ž evidenciado quando a Constitui‹o exige 
expressamente que determinada matŽria seja regulada por lei formal ou atos 
com fora de lei (como decretos aut™nomos, por exemplo). O voc‡bulo ÒleiÓ 
Ž, aqui, usado em um sentido mais restrito. 
JosŽ Afonso da Silva classifica a reserva legal do ponto de vista do v’nculo 
imposto ao legislador como absoluta ou relativa. 
Na reserva legal absoluta, a norma constitucional exige, para sua integral 
regulamenta‹o, a edi‹o de lei formal, entendida como ato normativo 
emanado do Congresso Nacional e elaborado de acordo com o processo 
legislativo previsto pela Constitui‹o. 
Como exemplo de reserva legal absoluta, citamos o art. 37, inciso X, da CF/88, 
que disp›e que a remunera‹o dos servidores pœblicos somente poder‡ ser 
fixada ou alterada por lei espec’fica. N‹o h‡, nesse caso, qualquer espao para 
regulamenta‹o por ato infralegal; somente a lei pode determinar a disciplina 
jur’dica da remunera‹o dos servidores pœblicos. 
Na reserva legal relativa, por sua vez, apesar de a Constitui‹o exigir lei 
formal, esta permite que a lei fixe apenas par‰metros de atua‹o para o 
—rg‹o administrativo, que poder‡ complement‡-la por ato infralegal, 
respeitados os limites estabelecidos pela legisla‹o. 
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A doutrina tambŽm afirma que a reserva legal pode ser classificada como 
simples ou qualificada. 
A reserva legal simples Ž aquela que exige lei formal para dispor sobre 
determinada matŽria, mas n‹o especifica qual o conteœdo ou a finalidade 
do ato. Haver‡, portanto, maior liberdade para o legislador. Como exemplo, 
citamos o art.5¼, inciso VII, da CF/88, segundo o qual Ҏ assegurada, nos 
termos da lei, a assistncia religiosa nas entidades civis e militares de 
interna‹o coletivaÓ. Fica bem claro, ao lermos esse dispositivo, que a lei ter‡ 
ampla liberdade para definir como ser‡ implementada a presta‹o de 
assistncia religiosa nas entidades de interna‹o coletiva. 
A reserva legal qualificada, por sua vez, alŽm de exigir lei formal para 
dispor sobre determinada matŽria, j‡ define, previamente, o conteœdo da 
lei e a finalidade do ato. O melhor exemplo de reserva legal qualificada, 
apontado pela doutrina, Ž o art. 5¼, inciso XII, da CF/88, que disp›e que Ҏ 
inviol‡vel o sigilo da correspondncia e das comunica›es telegr‡ficas, de 
dados e das comunica›es telef™nicas, salvo, no œltimo caso, por ordem 
judicial, nas hip—teses e na forma que a lei estabelecer para fins de 
investiga‹o criminal ou instru‹o processual penalÓ. 
Ao ler esse dispositivo, percebe-se que o legislador n‹o ter‡ grande liberdade 
de atua‹o: a Constitui‹o j‡ prev que a intercepta‹o telef™nica somente 
ser‡ poss’vel mediante ordem judicial e para a finalidade de realizar 
investiga‹o criminal ou instru‹o processual penal. 
III - ninguŽm ser‡ submetido a tortura nem a tratamento desumano ou 
degradante; 
Esse inciso costuma ser cobrado em sua literalidade. Memorize-o! 
IV - Ž livre a manifesta‹o do pensamento, sendo vedado o anonimato; 
Trata-se da liberdade de express‹o, que Ž verdadeiro fundamento do Estado 
democr‡tico de direito. Todos podem manifestar, oralmente ou por escrito, o 
que pensam, desde que isso n‹o seja feito anonimamente. A veda‹o ao 
anonimato visa garantir a responsabiliza‹o de quem utilizar tal liberdade para 
causar danos a terceiros. 
Com base na veda‹o ao anonimato, o STF veda o acolhimento a 
denœncias an™nimas. Entretanto, essas dela›es an™nimas poder‹o servir de 
base para que o Poder Pœblico adote medidas destinadas a esclarecer, em 
sum‡ria e prŽvia apura‹o, a verossimilhana das alega›es que lhe foram 
transmitidas.25 Em caso positivo, poder‡, ent‹o, ser promovida a formal 
                                                        
25
 STF, Inq 1957/ PR, Rel. Min. Carlos Velloso, Informativo STF n¼ 393. 
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instaura‹o da "persecutio criminis", mantendo-se

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