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GEO 003 Mecânica dos Solos I Prof. Adinele Gomes Guimarães adinele@unifei.edu.br IRN – sala L.8.3.13 1 APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 2 Ementa •Introdução à Mecânica dos Solos •Formação e origem dos solos •Propriedades das partículas sólidas •Estrutura e estado dos Solos •Granulometria Conjunta •Índices Físicos •Limites de Consistência •Classificação dos solos •Compactação dos solos •Tensões nos solos 3 Bibliografia •SOUZA PINTO, C. Curso de Mecânica dos Solos. 2ªEd. São Paulo: Oficina de Textos, 2002. •CAPUTO, H.P. Mecânica dos Solos e suas aplicações. Vol. 1 e 3. Rio de Janeiro: LTC, 1987. •CRAIG, R.F. Mecânica dos Solos. Rio de Janeiro: LTC, 2007. •DAS,B.M. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. São Paulo: Ceangage Learning, 2011. 4 INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS Aula 01 5 Mecânica dos Solos Um dos campos básicos da Engenharia civil que por último se desenvolveu foi a Mecânica dos Solos. Ela estuda o comportamento do solo sob o aspecto da Engenharia O solo cobre o substrato rochoso e provém da desintegração e decomposição das rochas, mediante a ação dos intemperismo físico e químico Assim, de maneira geral, por causa da sua heterogenidade e das suas propriedades bastante complexas, não existe modelo matemático ou um ensaio em modelo reduzido que caracterize, de forma satisfatória, o seu comportamento 6 GEOTECNIA Mecânica dos Solos Mecânica das Rochas Geologia de Engenharia 7 Objetivo: estudar as propriedades físicas dos materiais geológicos, solos, rochas e suas aplicações em obras de Engenharia Civil, quer como material de construção, quer como elemento de fundação. 8 Histórico Desde a pré-história o homem se preocupou com o solo para fazer as suas construções. Mecânica dos Solos era empírica até o século XIX quando apareceram os primeiros trabalhos teóricos: Coulomb (1806) – parâmetros de resistência (coesão e ângulo de atrito) Darcy (1856) - movimento de água nos meios porosos Stokes (1856) Rankine (1872) Mecânica dos Solos Moderna (século XX) Atterberg (1911) Mohr (1918) Boussinesq (1920) Karl Terzaghi (1925) escreve o primeiro livro 1936 – Primeira Conferência Internacional 9 Conceito O significado da palavra solo não é o mesmo para todas as ciências que estudam a natureza. Para fins de Engenharia Civil, admite-se que os solos são misturas naturais de um ou diversos minerais (ás vezes com matéria orgânica) que podem ser separados por processos mecânicos simples, tais como agitação em água ou manuseio. Numa conceituação mais simplista, o solo seria todo material que pudesse ser escavado, sem o emprego de técnicas especiais, como, por exemplo, explosivos. 10 11 •Esse material forma a fina camada superficial que recobre quase toda a crosta terrestre e no seu estado natural apresenta-se composto de partículas sólidas (com diferentes formas e tamanhos), líquidas e gasosas •Os solos normalmente são caracterizados pela sua fase sólida, enquanto as fases líquida e a gasosa são consideradas conjuntamente como porosidade •Na análise de comportamento real de um solo, há necessidade de se levar em conta as porcentagens das fases componentes, bem como a distribuição dessas fases através da massa de solo •Para o engenheiro, a necessidade do conhecimento das propriedades do solo vai além do seu aproveitamento como material de construção, pois o solo exerce um papel especial nas obras de Engenharia porquanto cabe a ele absorver as cargas aplicadas na superfície, e mesmo interagir com obras implantadas no seu interior. FORMAÇÃO E ORIGEM DOS SOLOS Aula 01 12 Formação dos solos A exposição das rochas à atmosfera, devido à erosão, movimentos tectônicos, vulcanismo ou isostasia, coloca-as frente a forças e reagentes diferentes daqueles existentes em seu ambiente de formação. Estas forças e reagentes tendem a quebrar as rochas, reduzindo sua resistência, transformando-as em SOLO. Os processos físicos, químicos e biológicos, responsáveis pela sua fragmentação são conhecidos como INTEMPERISMO. Dentre estes processos, os processos biológicos, pela sua ação localizada, são menos importantes. A importância do estudo do intemperismo e seus produtos reside no fato de que a maior parte das obras de engenharia são implantadas na superfície ou em regiões próximas a esta, dentro da zona de intemperismo, em que os processos intempéricos atuam sobre as propriedades das rochas, alterando-as consideravelmente. Dependendo da composição química e mineralógica dessas rochas o intemperismo pode se dar de maneira extremamente rápida. 13 Os principais fatores que controlam o intemperismo são: • Tipo de rocha e estruturas - cada rocha tem uma mineralogia característica, que reage de maneira distinta ao intemperismo. A presença de estruturas e texturas direcionais (foliação, clivagem, etc.) também influencia o intemperismo. Rochas com estruturas e/ou texturas direcionais pouco espaçadas, em geral, alteram-se mais facilmente que aquelas mais maciças. Exemplo da influência do fraturamento no desenvolvimento do intemperismo em uma rocha vulcânica (Fonte: Skinner & Porter, 1995) 14 Tipo de Rocha Minerais de alta resistência Ex.: quartzo Menor intemperismo Minerais de baixa resistência Ex.: mica Maior intemperismo Maior quantidade de Estruturas Maior disponibilidade de ataque Maior intemperismo 15 Os minerais existentes nas rochas formados a pressões e temperaturas superiores às existentes na superfície da Terra, tornam-se instáveis, tendendo a se alterar para minerais estáveis à estas novas condições. Os minerais mais estáveis, quartzo, ouro, platina, diamante, são transportados (chuvas, rios, ventos) e sedimentam-se, podendo originar depósitos com valor comercial associados à rochas sedimentares 16 • Inclinação da encosta (Topografia ou Relevo) - nos taludes mais inclinados, as chuvas transportam o material intemperizado para o pé dos mesmos, expondo continuamente a rocha sã ao ataque intempérico, de tal maneira que a rocha alterada tem pouca espessura. Nos taludes menos íngremes este processo não ocorre e as espessuras podem atingir dezenas de metros. • Clima - O intemperismo é mais intenso e atinge maiores profundidades nas regiões de clima tropical, pois as reações químicas são aceleradas pelas amplas variações sazonais e diárias de umidade e calor, comuns neste tipo de clima. Nos climas secos e frios, por seu turno, o intemperismo químico atua muito lentamente, de maneira que o intemperismo físico é o principal responsável pelo processo. • Tempo de ação do processo - o tempo necessário para a decomposição de uma rocha sã pode variar muito devido ao tipo de clima, à inclinação da encosta e à composição da rocha. Assim, são necessários dezenas de milhares de anos para o surgimento de solos residuais em regiões de clima frio e seco, enquanto que em regiões de clima úmido, este tempo pode ser muito menor. 17 CONCEITOS Intemperismo é o processo de desintegração e decomposição (modificação da mineralogia e química das rochas) que ocorrem na superfície da crosta, em função do contato desta com a atmosfera ou, em parte, com a hidrosfera. Não se inclui neste conceito o processo de erosão. Este implica remoção de partículas sólidas. No intemperismo, há remoção de substâncias em solução. Intemperismo físico é o conjunto de processosque levam à fragmentação e desintegração da rocha. Intemperismo químico é o conjunto de processos que levam à decomposição da rocha. 18 Intemperismo Físico Os processos de intemperismo físico são aqueles que causam fragmentação ou diminuição da rocha sem que haja qualquer modificação química em sua composição, devido à variações no nível de pressões atuantes, que levam à fadiga e ruptura do material. As variações no nível de pressões podem ocorrer a partir das seguintes ações: • Alívio de tensões no maciço rochoso, ocasionando o surgimento de descontinuidades aproximadamente paralelas ao relevo; • Aquecimento e Resfriamento - as variações térmicas, diuturnas e sazonais, causando expansão e retração dos maciços rochosos, podem induzir à criação de fraturas no maciço rochoso; • Ciclos de Umidecimento e Secagem - algumas rochas, quando submetidas à ciclos de umidecimento e secagem, desenvolvem mecanismos de variação de pressões, principalmente ligadas à expansão de alguns minerais ou ao desenvolvimento de poro-pressões, que podem vir a colapsar a rocha; • Ação Erosiva da Água e dos Ventos - por exemplo, os maciços rochosos expostos comumente apresentam desplacamentos resultantes da percolação de água através das juntas; • Ação de escavações mecânicas. 19 O intemperismo físico é composto pelos processos que levam a fragmentação da rocha, sem modificação significativas em sua estrutura química ou mineralógica. Estas quebras podem se dar por vários processos: a) Variação de temperatura: as rochas são compostas por diversos minerais, que se dilatam e contraem de maneira diferente (coeficientes de dilatação e contração diferentes). Quando vários minerais estão unidos na massa da rocha e são submetidos à variações de temperatura, se dilatam e contraem em direções e com intensidades diferentes. Este fenômeno cria tensões no corpo da rocha, levando à fadiga do material e seu fraturamento. Nas rochas máficas (de coloração escura, como o basalto) este processo é ainda mais intenso devido à maior absorção de calor. Imagine um bloco de rocha exposto à intempéries. As tensões geradas na superfície do bloco se transmitirão para as arestas, e das arestas para os vértices. Logo, a ordem de fraturamento deve ser primeiro os vértices e depois as arestas, dando um aspecto arredondado ao material. A este processo dá-se o nome de esfoliação sendo muito comum na região de Santa Maria, especialmente na porção Norte (em direção à encosta, Júlio de Castilhos, São Martinho, Silveira Martins, etc). 20 b) Crescimento de raízes: espécies pioneiras arbustivas e arbóreas podem exercer grandes pressões sobre as rochas, através do crescimento das raízes entre as fendas. Exemplos típicos desta força são os danos causados pelas raízes de algumas árvores ao calçamento e às fundações das construções. c) Gelo: apesar de não ser comum no clima atual do Brasil, a formação de gelo na água acumulada em fendas nas rochas também pode levar à sua fragmentação. A água no estado sólido ocupa um volume 10 % maior que no estado líquido. d) Precipitação de sais: de maneira semelhante, o acúmulo de porções de água ricas em sais em frestas e fendas na rocha, podem ocasionar seu fraturamento quando a água evapora e os sais começam a se cristalizar. 21 Intemperismo Químico Os processos químicos, por sua vez, são aqueles que, através de reações químicas, resultam na decomposição da estrutura dos minerais. É um processo muito importante em regiões de clima tropical úmido. Entre estes processos, resultantes da ação deletéria da água: • Hidrólise – é, em geral, o mais importante processo químico. Resulta na transformação do mineral original em um neomineral adaptado às novas condições. Ex.: KAlSi3O8 + H2O → HAlSi3O8 + KOH (Feldspato) (Argila) • Hidratação – ocorre devido à adição de moléculas de água à composição de certos minerais, formando novos compostos, com maior volume. Ex.: Fe2O3 + H2O → Fe2O3nH2O (Hematita) (Limonita) 22 • Oxidação – decomposição de minerais devido à ação oxidante do oxigênio (O2) e do gás carbônico (CO2), dissolvidos na água. Ex.: FeS2 + O2 + H2O → Fe2O3nH2O + H2SO4 • Carbonatação – decomposição de minerais pelo CO2 dissolvido na água, formando ácido carbônico. Ex.: CaCO3 + H2CO3 → Ca(HCO3)2 (calcita) (Bicarbonato de Cálcio) 23 O aumento de Área Superficial Específica (ASE) é a maior contribuição do intemperismo físico para o avanço do intemperismo químico e a pedogenese. A desagregação física (intemperismo físico), por ser um processo mais rápido e que aumenta a superfície de exposição, é considerado como controlador da decomposição química (intemperismo químico). 24 Exemplo de intemperismo esferoidal em rochas graníticas (Fonte: Skinner & Porter, 1995). 25 O intemperismo químico é o conjunto de reações que levam à modificação da estrutura dos minerais que compõem a rocha. Na natureza, é praticamente impossível separar o intemperismo físico do intemperismo químico, já que ocorrem quase simultaneamente. O intemperismo químico, entretanto, torna-se mais acelerado à medida em que o intemperismo físico avança, devido ao aumento de área superficial específica (ASE) dos minerais. Assim como o intemperismo físico, o químico ocorre porque as condições ambiente na superfície da crosta são bastante diferentes daquelas onde os minerais se formam. Os arranjos cristalinos das estruturas mineralógicas estão sempre tendendo para uma situação de maior equilíbrio com o ambiente. Entretanto, mesmo quando estas diferenças são muito grandes, estas reações ocorrem em uma velocidade bastante lenta, do ponto de vista humano. 26 Perfis de Intemperismo A atuação de processos intempéricos sobre as rochas origina Perfis de Intemperismo , que mostram uma gradação progressiva em direção à superfície: rocha sã, rocha pouco alterada, rocha medianamente alterada, rocha muito alterada e solo residual, resultantes do intemperismo “in situ”, sem que haja transporte. Alternativamente, podem desenvolver-se “zonas de intemperismo”, marcadas pela ausência de intemperismo seqüencial, em que os níveis de alteração são influenciados pelas estruturas geológicas, tanto a nível de afloramento, quanto a nível regional. Exemplo de perfis de intemperismo de rochas metamórficas (a esquerda) e ígneas (a direita), segundo Deere & Patton (1971). 27 Exemplo de “zona de intemperismo” em biotita-gnaisse, em que observa-se que os níveis de alteração não estendem-se lateralmente por influência do fraturamento existente na rocha (Fonte: Marques, 1998) 28 De maneira a permitir uma melhor padronização nas classificações efetuadas por diferentes técnicos em regiões distintas do planeta, a Associação Internacional de Mecânica das Rochas (ISRM), elaborou um esquema de classificação em termos qualitativos, conforme a tabela abaixo. 29 Decomposição das rochas que se encontram no próprio local em que se formaram Velocidade de decomposição da rocha é maior do que a velocidade de remoção por agentes externos Maiores ocorrências nas regiões tropicais Apresentam-se em horizontes com grau intemperização decrescente Solos Residuais • Foram levados ao seu atual local por algum agente de transporte • Suas características são função do agente transportador • Tamanho das partículas é mais uniforme Solos Transportados 30 Classificação pela origem · Solo saprolítico– guarda características da rocha sã e tem basicamente os mesmos minerais, porém sua resistência já se encontra bastante reduzida. Pode ser caracterizado como uma matriz de solo envolvendo grandes pedaços de rocha altamente alterada, apresenta pequena resistência ao manuseio; . Solo de alteração de rocha – preserva parte da estrutura e de seus minerais, porém com dureza inferior à da rocha matriz, em geral muito fraturada permitindo grande fluxo de água através das descontinuidades; · Rocha sã – ocorre em profundidade e mantém as características originais, ou seja, inalterada. As espessuras das faixas são variáveis e dependem das condições climáticas e do tipo de rocha. SOLO RESIDUAL · Solo residual maduro – é mais homogêneo e não apresenta nenhuma relação com a rocha mãe; · Solo residual jovem – apresenta boa quantidade de material que pode ser classificado como pedregulho (# > 4,8 mm). São bastante irregulares quanto à resistência, coloração, permeabilidade e compressibilidade (intensidade do processo de alteração não é igual em todos os pontos). 31 SOLOS TRANSPORTADOS OU SEDIMENTARES a) SOLOS DE ALUVIÃO · São transportados e arrastados pela água; · Sua constituição depende da velocidade das águas no momento de deposição, sendo encontrado próximo às cabeceiras material mais grosseiro e o material mais fino (argila) são carregados a maiores distâncias; · Existem aluviões essencialmente arenosos, bem como aluviões muito argilosos, comuns nas várzeas dos córregos e rios; · Estes solos apresentam baixa capacidade de suporte (resistência), elevada compressibilidade e são susceptíveis à erosão; · Apresentam duas formas distintas: terraços (ao longo do próprio vale do rio) e planícies de inundação (forma depósitos mais extensos); · São fontes de materiais de construção, mas péssimos materiais de fundação. b) SOLOS ORGÂNICOS · Formados em áreas de topografia bem caracterizada (bacias e depressões continentais, nas baixadas marginais dos rios e baixadas litorâneas); · Mistura do material transportado com quantidades variáveis de matéria orgânica decomposta; · Normalmente são identificados pela cor escura, cheiro forte e granulometria fina; · Quando a matéria orgânica provém de decomposição sobre o solo de grande quantidade de folhas, caules e troncos de plantas forma-se um solo fibroso, essencialmente de carbono, de alta compressibilidade e baixíssima resistência, que se chama turfa. Provavelmente este é pior tipo de solo para os propósitos do engenheiro geotécnico. 32 c) SOLOS COLUVIAIS (ou depósito de tálus) · O transporte se deve exclusivamente à gravidade e o solo formado possui grande heterogeneidade; · São de ocorrência localizada, geralmente ao pé de elevações e encostas, provenientes de antigos escorregamentos; · Apresentam boa resistência, porém elevada permeabilidade; · Sua composição depende do tipo de rocha existente nas partes elevadas; · Colúvio: material predominantemente fino; · Tálus: material predominantemente grosseiro. d) SOLOS EÓLICOS · Formados pela ação do vento e os grãos dos solos possuem forma arredondada; · É o mais seletivo tipo de transporte de partículas de solo; · Não são muito comuns no Brasil, destacando-se somente os depósitos ao longo do litoral. 33
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