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1ª Edição |Maio| 2014 Impressão em São Paulo/SP ERGONOMIA Roger Valentim Abdala Coordenação Geral Nelson Boni Professor Responsável Roger Valentim Abdala Coordenadora Peda- gógica de Curso- EAD Roseli Leal Coordenação de Projetos Leandro Lousada Revisão Ortográfica Vanessa Almeida Projeto Gráfico, Dia- gramação e Capa Ana Flávia Marcheti 1º Edição: Maio de 2014 Impressão em São Paulo/SP ERGONOMIA Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 A135e Abdala, Roger Valentim.. Ergonomia. / Roger Valentim Abdala – São Paulo : Know How, 2013. 00p. : 21 cm. Inclui bibliografia ISBN : 1. Ergonomia. 2. Ergonomia física. 3. Ergonomia cognitiva. 4. Ergonomia organizacional. I. Título. CDD – 620.82 Introdução Unidade 1 Princípios e história da ergonomia 1.1 Disciplinas da ergonomia 1.2 Objetivos da ergonomia 1.3 Tarefa e Atividade 1.4 Observações diretas e indiretas 1.5 Verbalizações 1.6 Metodologia em ergonomia Gabarito Referências .5 .09 .53 .57 SUMÁRIO Introdução O estudo da ergonomia é abrangente e requer dos estudiosos uma análise profunda de questões re- lacionadas ao ser humano e suas interações com o ambiente. Destacam-se as questões físicas, cogniti- vas e organizacionais que interagem com o trabalha- dor, suas potencialidades e capacidades ao realizar uma tarefa e as limitações de um sistema. Em vista disso, as organizações têm se esfor- çado para aumentar a qualidade e produtividade de seus produtos e serviços levando-se em considera- ção a saúde, segurança e conforto do ser humano no ambiente de trabalho. Dores e sobrecargas de trabalho são riscos à saúde do trabalhador, causam redução da produtividade e diminuição de qualida- de de produtos e serviços, ou seja, o custo humano impacta diretamente nos objetivos organizacionais. Ao se empregar os princípios da ergonomia para a redução de não conformidades de trabalho, os profissionais de saúde e segurança do trabalho, ges- tores e diretores buscam estudar as possíveis situa- ções que podem sobrecarregar o trabalhador no que tange ao seu corpo físico e sua cognição, bem como as relações de trabalho que possam causar estresse, monotonia, agressividade, dentre outras consequên- cias maléficas de ordem psicossocial. A ergonomia pode contribuir na definição de métodos de trabalho que permitam uma interação homem – máquina - sistema saudável, equilibrada e de acordo com os limites e capacidades de cada um destes, considerando os aspectos biológicos do ser humano, tecnológicos das máquinas e ferramentas e de cultura e política organizacional. Neste trabalho, abordaremos princípios da ergonomia, seja ela de correção ou de concepção, analisaremos também os tipos de ergonomia (física, cognitiva e organizacional) e por fim abordaremos assuntos relacionados a Norma Regulamentadora – 17, a norma brasileira de Ergonomia. Unidade 1 1. Princípios e história da ergonomia O polonês Wojciech Jastrzebowski é conside- rado o primeiro estudioso moderno de ergonomia ao escrever um artigo intitulado “The Science of Work” (A Ciência do Trabalho). A saber: “(...) um enfoque científico que nos permitirá conhecer, em benefício próprio e dos demais, os melhores frutos do trabalho de toda a vida com o mínimo de esforço e a máxima satisfação.” (JASTRZEBOWSKI, 1857). Etimologicamente, o termo “ergonomia” tem origem das palavras gregas “nomos”, que significa “norma”, e “ergo”, que significa “trabalho”. Pode- -se dizer que ergonomia é a “ciência do trabalho”, ou que desenvolve regras e normas para conceber um sistema de trabalho. Neste contexto, o termo tra- balho significa uma atividade no qual um operador humano busca alcançar um objetivo. O ser humano é, portanto, o centro do estudo, ou seja, a ergonomia é uma ciência antropocêntrica, na qual o trabalho deve ser adequado ao ser huma- no e não o contrário. Esta é uma das bases da er- gonomia. Apesar de o ser humano ser adaptável às condições impostas a ele, ainda assim, há limites a serem respeitados, pois esta adaptação não é infinita. “Adaptar o trabalho ao homem” é, portanto, um dos princípios da ergonomia. Há pouco mais de um século, as condições de trabalho eram intoleráveis para a saúde e segurança dos trabalhadores. Doenças e epidemias, muitas ve- zes oriundas das condições de saneamento básico das cidades, potencializadas pelas condições precárias de higiene no ambiente laboral, obrigaram governos a criarem leis com foco na proteção ao trabalhador. Através de leis que estabeleciam limites de ho- ras diárias de trabalho, restrição do trabalho infantil, condições sanitárias de trabalho, foram algumas das bases quanto ao início da atenção aos aspectos de adaptar o trabalho ao trabalhador, ou seja, pode-se dizer que à partir daí teve início a ergonomia moder- na que atualmente conhecemos. Até a II Guerra Mundial, o desenvolvimento e aplicação destas leis de proteção ao trabalhador foram lentos. Isto porque este importante evento acelerou o desenvolvimento da tecnologia militar, através da criação e aperfeiçoamento das armas de guerra, como, por exemplo, os veículos de combate, aviões, dispositivos de navegação e detecção. Concomitantemente a estas invenções e me- lhorias nas armas de guerra, estudiosos, engenhei- ros, médicos, psicólogos, físicos e sociólogos perce- beram a importância de adaptar estes instrumentos tecnológicos às condições de trabalho, aos limites do usuário militar, levando-se em consideração aspectos físicos, cognitivos e psicológicos que objetivavam a redução do erro, a tomada de decisão rápida e eficaz, ou seja, a confiabilidade de máquinas e pessoas. O sucesso militar dependia, portanto, não ape- nas de quem dominasse a melhor tecnologia, levaria vantagem nos combates as nações que conseguis- sem adaptar melhor seus instrumentos de guerras aos seus usuários, os militares pilotos de aviões e de carros de combate, os soldados e seus fuzis, os co- mandantes e suas informações de guerra. A II Guerra Mundial foi impulso para o desen- volvimento da ergonomia no pós-guerra. A partir de 1950, com o foco e alta demanda das indústrias na produção (foco na produtividade), a ergonomia teve um terreno fértil para se desenvolver. Novas leis de proteção à saúde e segurança do trabalhador foram criadas principalmente na Europa e Estados Unidos e posteriormente no Japão e Canadá. Dez anos depois, a partir de 1960, a energia me- cânica, de maneira gradual, foi tomando lugar do em- prego da energia proveniente do esforço muscular do ser humano para a execução das atividades ocupacio- nais. Na época, verificou-se que a ocorrência de aci- dentes de trabalho estava relacionada com o emprego do trabalho manual, a aplicação de força muscular na resolução de tarefas laborais e as questões temporais, como, por exemplo, as demandas temporais relacio- nadas à busca de alta produtividade. Esta relação entre os objetivos exclusivamente de produção industrial e o consequente índice de aci- dentes de trabalho, somada ao início de preocupações com a saúde e segurança do trabalhador, exemplifica- do pelas leis nesta área, fizeram com que os objetivos da ergonomia gradualmente se voltassem mais para a segurança do trabalho em vez da produtividade a qualquer preço. Esta época foi por volta dos anos 60 e o início dos anos 70 nos países desenvolvidos. No início da evolução histórica da ergonomia, seus estudos estavam relacionados à ergonomia físi- ca, ou seja, estudos antropométricos, estudos rela- cionados à biomecânica,gasto energético, fisiologia humana, temperatura corporal versus temperatura ambiente e carga física de trabalho, frequência car- díaca e respiratória, e outros estudos relacionados às questões físicas limítrofes do ser humano testadas em laboratório e em campo. O foco dos estudos era a contração muscular e sua relação com as capacidades do ser humano in- teragindo com um ambiente de trabalho qualquer. Falando mais especificadamente, os estudos relacio- navam-se com o esforço muscular realizado, diversi- dade e amplitudes de movimentos articulares e seus limites toleráveis. Todos estes estudos num contexto de busca da produtividade, mas que, gradualmente, foram mudando para foco em saúde, segurança e conforto do trabalhador, estes três objetivos últimos como atualmente a ergonomia se configura quando se fala em seus objetivos e escopo. Atualmente, os princípios científicos da ergo- nomia física são muito bem conhecidos pelos pro- fissionais da área, como por exemplo, desenhos de postos de trabalho, estudos antropométricos, ergo- nomia no uso de computadores e terminais de vídeo, ergonomia em trabalhos pesados, etc. Sem dúvida alguma o pós-guerra contribuiu muito para o avanço da ergonomia física. Outras áreas em que a ergono- mia também se desenvolveu daquela época até os tempos atuais foram as áreas da ergonomia cogni- tiva e organizacional. Estas últimas, porém, ainda requerem de estudos bem mais aprofundados pelos pesquisadores e profissionais de saúde e segurança do trabalho. A ergonomia física sem dúvida alguma serve de base para a maioria dos trabalhos atuais de consul- torias em ergonomia, seus princípios são bem acei- tos e claramente suas mudanças e intervenções são identificadas. Configura-se, contudo como um vasto campo de trabalho estudos ligados à ergonomia cog- nitiva e ergonomia organizacional, não porque seus avanços históricos foram nulos, mas porque seu rit- mo de desenvolvimento foi mais lento comparando- -se com a ergonomia física. “ Ergonomia é uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres huma- nos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema." Fontem: International ergonomics association - iea (www.iea.cc) Além disso, os processos mentais e as relações sociais no trabalho, muitas vezes, possuem suas ba- ses em constructos qualitativos, nem sempre de fácil domínio para validações de achados científicos por parte da equipe de pesquisa ou pelos profissionais da área. Somado a isso, como foi informado ante- riormente, as principais demandas de trabalho da ergonomia atual no Brasil e no mundo ainda se ba- seiam em demandas relacionadas aos princípios da ergonomia física. Desta maneira, entendem-se as razões que fazem com que a ergonomia cognitiva e organizacional esteja no palco da maioria das atuais pesquisas científicas em ergonomia. 1.1 Disciplinas da ergonomia Não entraremos no mérito dos debates que de- fendem que a ergonomia é ou não uma ciência e/ ou uma técnica que emprega princípios científicos de outras disciplinas para uso em seu escopo de tra- balho, ou seja, o ser humano desempenhando uma atividade num ambiente qualquer de trabalho. Basta no momento dizermos que a ergonomia desenvolve suas técnicas dentro de bases científicas num ponto que permeia disciplinas relacionadas à engenharia (físicas e exatas), à medicina, psicologia e sociolo- gia (humanas e sociais), por exemplo, a solução de problemas de iluminação, temperatura, ruído e vi- brações, anatomia, fisiologia, psicologia. A Figura 1 ilustra os domínios da ergonomia quanto a algumas das disciplinas que a compõe. A ergonomia é uma disciplina autônoma, mas não pode viver sem se nutrir das aquisições de várias disciplinas, aquisições dinâmicas e assimiladas em um espírito interdisciplinar (WISNER, 2004, .p. 35). Na Europa, os primeiros pesquisadores tiveram como foco de estudo as ciências humanas, conce- dendo à ergonomia uma relação mais forte com a fisiologia e a psicologia. A importância de uma abor- dagem nesta área está em estudos que relacionam a ergonomia aos problemas de consumo energético do trabalhador, as posturas de trabalho, aplicação de forças musculares, levantamento de cargas, trabalho repetitivo, etc. Em relação à psicologia, os estudos relacionam-se com interações do trabalhador com os terminais de vídeo, usabilidade de computadores e equipamentos de forte apelo tecnológico, moti- vação no trabalho, relações sociais de trabalho etc. Cabe aqui ressaltar que não se faz intervenções er- gonômicas sem dar enfoque misto às disciplinas que compõem a ergonomia, assim dizemos que a ergo- nomia é uma ciência multidisciplinar. Nos Estados Unidos os pioneiros em estudos ergonômicos despenderam seus esforços em assun- tos relacionados ao campo da psicologia experimen- tal e engenharia. O termo “engenharia humana” e “engenharia de fatores humanos” são termos usados até hoje naquele país e também no Canadá. A natureza de interdisciplinaridade da ergonomia é resultado de outra característica importante: a ergo- nomia é uma ciência antropocêntrica, ou seja, o ser hu- mano é o centro de atenção de seus estudos e esforços. E como definir o ser humano? Como medi-lo? Como elaborar ambiente de trabalho que o comportem com a máxima de segurança, saúde e conforto? A amplitude vasta de respostas e de opções de propostas para as perguntas acima parecem não ter fim. Em vista disso, parece claro que a ergonomia se agrega a outras disciplinas para compor e elaborar respostas para estas e outras perguntas. O desafio da ergonomia é adaptar o trabalho às pessoas. Como fazer isso? Primeiramente temos que definir quem é o ser humano, quem é o traba- lhador. A partir daí, o ambiente precisa ser definido. Disciplinas que compõe aspectos biopsicossociais são ferramentas para fornecer respostas para nossos questionamentos enquanto profissionais e pesqui- sadores de saúde e segurança do trabalho, a grande área da qual a ergonomia faz parte. Segundo Abrahão et al. (2009), três pressupos- tos são necessários para compreensão da ação ergo- nômica e suas metodologias: a interdisciplinaridade, a análise de situações reais e o envolvimento dos su- jeitos, conforme Figura 2. Ainda, segundo os autores, a interdisciplinarida- de da qual serve de base para a ergonomia, resulta da importância de se analisar o fenômeno do trabalho humano sobre diferentes perspectivas (ABRAHÃO et al, 2009). Esta relação da ergonomia com outras discipli- nas e profissionais (médicos, engenheiros, fisiote- rapeutas, administradores, terapeutas ocupacionais, psicólogos, enfermeiros, etc.) exige a elaboração de novos conceitos ao integrar conhecimentos destes diversos profissionais (CURIE, 2004). 1.2 Objetivos da ergonomia Antes de discutir os objetivos da ergonomia, é importante que façamos uma reflexão sobre como a ergonomia poderá favorecer empregados e empre- gadores, trabalhadores e organizações empresariais. Algumas destas vantagens estão relacionadas com a produtividade e na qualidade do trabalho executado. Outras vantagens estão relacionadas à saúde e a con- fiabilidade humana e a satisfação no trabalho. “ Objetivo da ergonomia [ transformar o trabalhador de forma a adaptá-lo às caracteristicas e variabilida- de do homem e do processo produtivo ] Fonte: Abrahão [et al.] (2009) Desta forma, a relação de contribuição que a ergonomia oferece para empresas e empregados, é a eficiência no alcance de resultados, a redução de desperdícios de tempo e de recursos, a prevenção de erros ea proteção a pessoa humana no trabalho. Falzon (2007) complementa sobre os objetivos da ergonomia da seguinte maneira: A especificidade da ergonomia reside em sua tensão entre dois objetivos. De um lado, um objetivo cen- trado nas organizações e no seu desempenho. Esse desempenho pode ser apreendido sobre diferentes aspectos: eficiência, produtividade, confiabilidade, qualidade, durabilidade etc. De outro, um objetivo centrado nas pessoas, este também se desdobrando em diferentes dimensões: segurança, saúde, confor- to, facilidade de uso, satisfação, interesse do trabalho, prazer etc. (FALZON, 2009, p.8). Para a ergonomia não é aceitável que haja des- perdícios de energia de maquinários ou humana, ou de tempo devido, por exemplo, a não conformidade de layout ergonômico, problemas relacionados aos espaços de trabalho ou não conformidades relacio- nadas a sobrecargas cognitivas e assuntos relaciona- dos à organização do trabalho. As bases científicas da ergonomia têm como escopo a adaptação do trabalho ao ser humano com vistas à sua saúde, segurança e conforto. Apesar do antropocentrismo da ergonomia é comum que estes esforços, em contrapartida, gerem benefícios não apenas ao ser humano no trabalho, mas há uma ten- dência também de que eles proporcionem à organi- zação um trabalho mais eficaz, redução de custos e ganho de produtividade. Estudos ergonômicos, no meio acadêmico, mas principalmente no campo da prestação de serviços de profissionais da área, buscam esta relação de efi- ciência e ganho mútuo entre empresa e empregados. Por um lado, o trabalhador se beneficia com a ergonomia no sentido que poderá exercer suas ativi- dades laborais com maior segurança, num ambiente salutar e confortável, ou seja, com um equilíbrio entre as demandas de trabalho e suas capacidades labora- tivas. De outro lado, as organizações empresariais se beneficiam da ergonomia no sentido que ofertam um ambiente propício para o desempenho, consequente- mente reduzindo custos relacionados a não confor- midades na área de saúde e segurança do trabalho. Os custos diretos e indiretos relacionados com o gerenciamento de trabalhadores afastados por do- enças ou acidentes de trabalho e não afastados, mas com sua capacidade ocupacional reduzida, como no caso de trabalhadores acometidos de distúrbios os- teomusculares relacionados ao trabalho (DORT) são exemplos de situações nas quais ações ergonômicas visam eliminar. A relevância da ergonomia está no fato de que ela melhora situações de trabalho, não apenas com benefícios para o trabalhador, mas também para as organizações empresariais. Através de estudos siste- máticos, como por exemplo, a Análise Ergonômica do Trabalho (AET), os profissionais de ergonomia conseguem fornecer dados das características da po- pulação envolvida, no caso os trabalhadores, bem como do ambiente nos quais eles desempenham suas funções. De posse destas informações sistemá- ticas os profissionais da área de ergonomia elaboram propostas técnicas, conceitos, diretrizes e procedi- mentos que à medida que são seguidos e defendidos a partir da alta direção da organização, gestores ge- renciais e trabalhadores de nível operacional, contri- buem para a redução de custos e o desenvolvimento da eficácia no trabalho. A ergonomia pode ser dividida em três segmen- tos distintos: • Ergonomia de correção: atua de maneira restrita, modificando elementos parciais do posto de traba- lho, tais como dimensões, iluminação, ruído, dispo- sição de salas de trabalho, entre outros (IIDA, 2003); • Ergonomia de concepção: Ao contrário, inter- fere amplamente no projeto do posto de trabalho, dos instrumentos, da máquina ou do sistema de pro- dução, organização do trabalho, e formação pessoal (IIDA, 2003); • Ergonomia de conscientização: Surgiu da ne- cessidade de orientar os profissionais de diversas áreas de atuação, com o objetivo de transmitir os conhecimentos já existentes e fazer com que estes profissionais os utilizem (IIDA, 2003). 1.3 Tarefa e Atividade O conhecimento sobre a tarefa e a atividade, suas definições teóricas, classificações e diferencia- ções resultam em pressupostos básicos e importan- tes para ações em ergonomia e o desenvolvimento de análises ergonômicas do trabalho (AET). Podemos definir tarefa como o trabalho pres- crito e a atividade como o trabalho real. A tarefa se define, portanto, por seus objetivos, suas demandas e as condições tecnológicas que a empresa disponi- biliza para a execução das atividades. Algumas perguntas nos ajudam a ponderar so- bre o que se deve levar em consideração ao se anali- sar uma tarefa, ou um trabalho prescrito; • O que deve ser feito (função, objetivos)? • Como deve ser feito (procedimentos de trabalho, instruções, padrões, operações admissíveis, exigên- cias, segurança)? • Quais os recursos (tecnologia disponível caracte- rísticas do posto de trabalho, ambiente de trabalho, documentação, máquinas, materiais)? • Qual o tempo disponível (ritmos, prazos)? • Quais as características do ambiente físico (am- biente de trabalho)? • Quais as características do ambiente cognitivo (fer- ramentas de apoio) e coletivo (presença ou ausência de colegas, parceiros, da hierarquia, modalidades de comunicação etc.) (FALZON, 2009)? • Quais as características sociais do trabalho (modo de remuneração, controle, sanção etc.) (FALZON, 2009)? • Quem executa a tarefa (características da po- pulação trabalhadora, como por exemplo, idade, gênero, tempo na função, experiências, requisitos para a função)? A tarefa (trabalho prescrito) se diferencia da ati- vidade (trabalho real), por várias razões, entre elas estão as estratégias dos operadores, as quais variam de indivíduo para indivíduo, as flutuações do am- biente de trabalho, ocorrências não programadas, etc. Além disso, a tarefa é planejada por gestores que nem sempre possuem um conhecimento adequado das condições de execução das atividades. A atividade é definida como um conjunto de condutas que o trabalhador assume para desem- penhar um trabalho. Por exemplo, as posturas que assume, os processos mentais que utiliza para to- mar uma decisão, os movimentos que executa para transformar um produto ou realizar um processo. A forma como pega uma ferramenta, a força e a fre- quência de contrações musculares que imprime para realizar uma tarefa. Em vista disso, é comum que haja adaptações em tempo real por parte dos operadores. É a máqui- na que quebrada a ferramenta que falta, ou que está desgastada, a planilha que está incompleta, a deman- da de trabalho que foi alterada ou aumentada, etc. Quando a discrepância entre tarefa e atividade aumenta, em geral, aumentam também as sobrecar- gas de ordem física, cognitiva e organizacional dos trabalhadores, que, muitas vezes, têm que se adaptar rapidamente às novas condições de trabalho ao exe- cutar suas atividades. Por exemplo, um trabalhador necessita fixar um quadro numa parede de madeira. Para tal, a tarefa é programada para que ele execute esta atividade com o uso de um martelo e pregos. Ele é treinado para tal, possui um tempo disponível bem dimensiona- do e possui experiência na função. Porém, ao iniciar sua atividade lhe é informado que não há martelos disponíveis. Como ele irá realizar este trabalho? As adaptações que ele realizar poderão gerar mudanças nas aplicações de forças musculares, mudanças de posturas, aumento de risco de acidentes, redução da qualidade do trabalho e outras consequências noci- vas ao trabalhador e o recebedor do serviço. O que aconteceria se o trabalhador tivesse que realizar esta atividade durante toda a sua jornada diá- ria de 08 horas? E se a falta do martelose mantivesse durante toda a semana ou durante todo o mês? Apesar de ilustrarmos de maneira hipotética este exemplo, é comum ocorrerem situações reais de trabalho nas quais faltam materiais para a execução das tarefas, ou não há tempo hábil disponível, ou o trabalhador não é treinado para tal. A consequên- cia quando estas situações ocorrem são o que cha- mamos de não conformidades. Abismos formados pela discrepância entre tarefa e atividade são uma das principais causas de custos humanos que, conse- quentemente, resultam em custos financeiros para as organizações empresariais e toda a sociedade. 1.4 Observações diretas e indiretas “A atividade não se reduz ao comportamento. O comportamento é a parte observável, manifesta, da atividade. A atividade inclui o observável e o não ob- servável: a atividade intelectual ou mental. A ativida- de gera o comportamento.” (FALZON, 2009, p. 9). Para se analisar uma atividade é necessário que se façam observações. Faverge (1972) elaborou uma forma de observação na qual há quatro tipos de aná- lise da atividade. São elas: • Gestos e posturas: neste tipo de observação é dada atenção às ações realizadas pelo do trabalhador, sua frequência e duração. Medidas de frequência cardía- ca e gasto energético são exemplos de dados quan- titativos a serem levados em consideração neste tipo de análise. Na atual ergonomia, a análise dos gestos e posturas é realizada por vídeos e fotografias, associados à aplica- ção de ferramentas ergonômicas, programas de compu- tador e outras ferramentas e instrumentos tecnológicos. • Aquisição da Informação: neste tipo de obser- vação realiza-se registro dos movimentos oculares do trabalhador através de filmagem. Através dis- so, verificam-se os sinais que o trabalhador utiliza para buscar informações do ambiente como recurso para realizar uma tarefa. Pode-se dizer que a análise da aquisição da informação é um complemento da análise dos gestos e posturas, pois em geral os mo- vimentos e as posturas assumidas são respostas de processos cognitivos. • Regulação: neste tipo de análise o profissional que realiza a observação busca identificar os ajustes que o trabalhador necessita fazer para compensar flutua- ções do ambiente e de suas próprias condições com a finalidade de executar e completar o trabalho. A regulação é um mecanismo de controle que compara os resultados de um processo com uma produção desejada e ajusta esse processo em relação à diferença constatada (FALZON, 2009, p. 10). • Processos mentais: este tipo de observação é reali- zado principalmente em postos automatizados e de inteligência artificial. Requerem do observador um entendimento profundo da forma de raciocinar do trabalhador na resolução de problemas. Os processos mentais levam em consideração o planejamento do trabalho, a antecipação de ações e diagnóstico. Neste tipo de análise, não é possível realizar uma observação direta, mas sim inferência e respostas verbais. 1.5 Verbalizações Ressaltamos a importância das verbalizações dos trabalhadores para a realização de uma análise ergonômica. As verbalizações podem ser classifica- das em “verbalizações espontâneas” e “verbaliza- ções provocadas”. As primeiras ocorrem esponta- neamente, sem que haja pedido do profissional de ergonomia. Quando há um pedido do observador para que o trabalhador “pense alto”, chamamos de verbalização provocada. As verbalizações contribuem em muito para a comprovação de achados ergonômicos ou confir- mação de diagnóstico ergonômico, principalmente em aspectos cognitivos de análise. Em geral, deve-se incentivar que as verbalizações sejam feitas em tem- po real de trabalho. Outro fato importante sobre as verbalizações diz respeito ao nível de confiança que o trabalhador o qual é o interlocutor possui em relação ao pesqui- sador, ou o ergonomista observador. Verbalizações poderão ser mascaradas caso o trabalhador não se sinta seguro sobre os propósitos reais de uma análise ergonômica, ou dos resultados que suas verbaliza- ções poderão gerar para ele mesmo. A sinceridade dos trabalhadores nas verbaliza- ções é primordial para que o diagnóstico ergonômi- co seja claro, confiável e real. Caberá ao ergonomis- ta observador conquistar esta confiança, a qual em geral é desenvolvida pela frequência e duração das observações, além das características organizacio- nais da instituição empresarial local da observação. Em suma, o observador tem que “entrar na tribo” antes de buscar informações do trabalho através de verbalizações dos trabalhadores. 1.6 Metodologia em ergonomia Como vimos anteriormente, a ergonomia sur- giu da necessidade de melhoria do desempenho no trabalho e respostas socioeconômicas a questões re- lacionadas a situações de trabalho não satisfatórias. Desta maneira, a ergonomia foi experimentando, assinalando fortemente uma atitude científica, dis- tinguindo-se claramente dos que formulavam reco- mendações com base em preconceitos sociológicos (WISNER, 1994. p. 87). Há cerca de 70 anos, os métodos experimentais de pesquisa em ergonomia permitiram progressos e melhorias de situações de trabalho que proporciona- ram avanços tecnológicos e redução de perdas hu- manas, de tempo e de materiais. A abordagem metodológica da ergonomia gra- dativamente foi migrando dos objetivos militares para os industriais, firmando-se numa abordagem que demandava fatos, dados quantitativos, conse- lhos precisos, resultados claramente demonstráveis. Tudo isso num tempo curto, ou seja, sem atrapalhar o trabalho industrial (WISNER, 1994). Esta propos- ta metodológica estende-se até os dias atuais. A experimentação utilizada para o estudo do ser humano seguia as mesmas regras para a física e quí- mica, contribuindo para elucidar fatos indiscutíveis e permitindo dar conselhos precisos. Porém, este tipo de abordagem não pertencia nem pertence à pesquisa, e, sim, a estudos experimentais, ou seja, assim como nos primórdios da ergonomia, pois, os critérios in- dustriais não possuíam, tampouco possuem uma base puramente científica (WISNER, 1994). Apesar de existirem certas lacunas científicas de abordagem industrial da ergonomia, ainda assim esta metodologia possui certos benefícios, os quais de maneira resumida serão citados. São eles: • Custo: a contribuição ergonômica é de baixo cus- to, pois basta recorrer ao saber do especialista, aju- dado por alguns tratados e por experiências simples e rápidas (quick and dirty); • Tempo: o trabalho na indústria não foi pertur- bado, visto que o ergonomista se contentou com a descrição do problema feita por seu interlocutor da direção e eventualmente com uma rápida visita aos lugares, ou com uma análise sumária da situação (WISNER, 1994. p. 91). Alguns profissionais atuam em ergonomia mes- mo sem possuir o conhecimento necessário para exe- cutar atividades e serviços nesta área. Estes podem até obter sucesso mesmo ao executar intervenções insuficientes e frágeis, pois comumente os recebe- dores dos serviços desconhecem quase que comple- tamente sobre o funcionamento do corpo humano, questões relacionadas à biomecânica e a antropome- tria e outros assuntos de saúde do trabalhador. (...) muitos ergonomistas, no mundo, prestam servi- ços agindo dessas maneiras. A razão desse sucesso se deve ao fato de que a ignorância do funcionamento do homem é tão profunda na maioria dos planejado- res que algumas contribuições ergonômicas, mesmo modestas e desajeitadas, têm um efeito muito positi- vo. (WISNER, 1994, p. 91). Um dos pontos mais importantes a serem le- vados em consideração é a variabilidade do homem ao longo do dia (ciclo circadiano) e também a va- riabilidade de capacidades e competênciasde pessoa para pessoa e entre períodos. Alguns exemplos desta diversidade são: • Força muscular; • Idade; • Estatura; • Massa corporal; • Antecedentes de traumas e patologias; • Nível e grau de instrução; • Experiência profissional; • Gênero; • Etc. É comum que planejadores de trabalho tenham fracassado ao tentar projetar demandas de trabalho para o ser humano, levando em consideração experiên- cias puramente tecnológicas, ou seja, não se pode com- parar a variabilidade do homem com a variabilidade de uma máquina. Há 50 anos este era um erro frequente. Apesar de variabilidade do homem e também da tarefa e atividade, há ainda administradores, en- genheiros de produção e outros gestores fabris que insistem em se basear no sistema homem-máquina ao elaborar e dimensionar a produção, ou seja, com- parar o homem a uma máquina. 1.6.1 Análise Ergonômica do Trabalho A primeira vez que a Análise Ergonômica do Trabalho foi proposta foi em 1955, através do livro “A Análise do Trabalho”, de autoria de Faverge e Om- bredane. O desenvolvimento desta metodologia pros- seguiu através dos ergonomistas Güerín, Montmollin, Wisner, Leplat, e Laville, os quais aprofundaram suas bases teóricas e diversificaram suas aplicações. A Análise Ergonômica do Trabalho é definida como um conjunto estruturado e intercomplemen- tar de análises situadas, de natureza global e sistemá- tica, sobre os determinantes da atividade das pessoas numa organização (GÜERÍN, 2001). A Análise Ergonômica do Trabalho centra seus objetivos, métodos e desenvolvimentos teóricos so- bre a atividade de trabalho, suas dificuldades físicas e/ou cognitivas e sobre as condições de trabalho en- contradas nas empresas (GÜERÍN, 2001). Nas ações ergonômicas demandadas pelas or- ganizações é importante que o profissional de ergo- nomia dê atenção não só para as bases científicas desta disciplina, mas também para os resultados eco- nômicos que a organização empresarial conseguirá com esta ação. Güerín et al (2001) intitula um de seus livros com a seguinte expressão: “Compreender o Traba- lho para Transformá-lo” e defende que os objetivos da ação ergonômica têm estes dois enfoques, um voltado para os trabalhadores, sua saúde e valoriza- ção e outro voltado para os objetivos econômicos da empresa. A metodologia de Análise Ergonômica do Tra- balho – AET leva em conta estes dois objetivos ma- cros e através da AET busca-se resolver problemas relacionados a situações de adaptação ou concepção de sistemas de produção nos quais o foco foi pu- ramente financeiro, técnico ou organizacional, não favorecendo uma reflexão sobre o a influência dos meios de trabalho e cuja concepção não leva sufi- cientemente em consideração as variabilidades dos trabalhadores e do ambiente (GÜERÍN, 2001). Segundo Güerín (2001), o objetivo da AET é: a) Conhecer e explicar as relações entre a saúde dos trabalhadores e as condições de realização do trabalho; b) Compreender o trabalho para uma posterior trans- formação ou concepção de novas situações laborais; c) Melhorar a organização dos sistemas sociotécni- cos, a gestão dos recursos humanos e, em consequ- ência, o desempenho da empresa como um todo. A Análise Ergonômica do Trabalho - AET pos- sui cinco componentes estruturais, os quais se confi- guram como etapas metodológicas introdutórias, de desenvolvimento e de recomendações. Esta estruturação da AET promove uma base crescente de conhecimentos sobre o estudo em questão. Estas etapas metodológicas são a análise da demanda (1), a análise da tarefa (2), a análise da ati- vidade (3), o diagnóstico ergonômico (4) e as reco- mendações ergonômicas (5). Cada etapa possui suas características e especificidades e, como tal, reque- rem uma abordagem específica. A análise da demanda é a primeira das 05 eta- pas. Ela é apresentada ao ergonomista pelo dirigente da empresa ou por um de seus representantes legais, ou seja, quando o ergonomista é solicitado, em geral, já se conhece algumas das não conformidades ergo- nômicas da organização, ou tentativas de tratamento técnico (FALZON, 2007). Segundo Falzon (2007), a análise da demanda tem os objetivos de: a) Identificar a história da demanda e seu contex- to, a população envolvida, além do demandante que entrou em contato, e as tentativas de respos- ta já realizadas; b) Identificar os desafios propostos pela demanda, os quais podem ser diversos, como desafios econô- micos, de saúde e segurança ocupacional e gestão. Identificar também os responsáveis pela permissão para início da intervenção ergonômica; c) Recolher informações que permitam realizar os estudos dos problemas demandados, como por exemplo, consulta ao Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), Programa de Controle de Médico em Saúde Ocupacional (PCMSO), esta- tística de acidentes, etc. d) Identificar as representações e expectativas que os responsáveis da organização empresarial possuem do ergonomista; e) Identificar a cultura organizacional da empre- sa, os limites de intervenção (sociais, econômi- cos, temporais); f) Permitir ao ergonomista verificar sua competência e pertinência de sua intervenção e possível reformu- lação dos objetivos e modalidades de ação. É recomendado que antes da contratação de um serviço de ergonomia seja possível que o ergo- nomista realize uma visita para a empresa deman- dante do serviço. Neste momento, o ergonomista poderá tomar conhecimento da demanda, caracte- rísticas do trabalho e da empresa, prazos etc. Um projeto ou contrato deverá contemplar os seguintes características e aspectos (FALZON, 2007): • A demanda reformulada; • Os prazos; • A natureza das contribuições que se esperam do ergonomista, seus prazos e grau de precisão; • As condições de sucesso da intervenção, como por exemplo, o acesso às situações de trabalho, do- cumentos e pessoas, regras da intervenção, recursos técnicos, modalidades de difusão dos resultados. Enfim, a análise da demanda visa compreender bem a natureza e o objetivo do pedido (WISNER, 1994) a qual servirá de base para a sequência do tra- balho a ser realizado pelo ergonomista. A análise da tarefa, como discutido anterior- mente, é parte da prescrição do trabalho, das nor- mas e dos recursos disponibilizados pela empresa. A tarefa diz respeito ao que o trabalhador tem que fazer, segundo determinadas normas e padrões de qualidade e de quantidade. A tarefa, portanto, abran- ge as condições de trabalho, pois influenciam as pos- sibilidades de ação (ABRAHÃO et al, 2009). A tarefa de maneira geral compõe-se dos se- guintes elementos a serem analisados: • Pessoas • Ações • Informações • Entradas e saídas • Máquinas • Ambiente • Condições organizacionais Em relação às pessoas os elementos de análise da tarefa são: Em relação ao ambiente os elementos de análi- se da tarefa são: Ainda outros elementos ambientais que devem ser levado em consideração para a análise da tarefa são: • Materiais; • Ferramentas; • Cargas; • Dimensões; • Mobiliário; • EPI / EPC; • Dispositivos de informações; • Controles; • Substâncias químicas. Em relação às questões organizacionais os ele- mentos de análise da tarefa são: • Jornada; • Turnos; • Hora-extra; • Salário; • Plano de carreira; • Relações de trabalho; • Valorização social do trabalho; • Trabalho em grupo; • Rodízios; • Estilos gerenciais. A análise da tarefa aborda um conjunto de ob- jetivos e prescrições dados aos operadores, definida pelos seus modos operatórios, as instruções, as nor- mas de segurança e os recursos da empresa dispo- nibilizados aos operadores para a realização de suas atividades(GUERIN, 2001). A análise da tarefa também é considerada como um princípio que impõe um modo de definição do trabalho em relação ao tempo. A característica prin- cipal da tarefa é sua exterioridade em relação ao tra- balhador envolvido (GUERIN, 2001). A exterioridade diz respeito ao planejamento do trabalho por um engenheiro de produção, um ad- ministrador ou gestor que não participa ativamente in loco da produção por ele planejada. Frequente- mente, estes gestores não levam em conta as particu- laridades dos operadores e muito menos o que eles pensam sobre as escolhas feitas e impostas (GUE- RIN, 2001). Após a abordagem da análise da tarefa a qual diz respeito às prescrições e regulamentos do traba- lho, iremos agora discorrer sobre a análise da ativi- dade, sua natureza e características, seus elementos de estudo, conceitos e definições. De maneira introdutória, vimos que a atividade difere da tarefa da mesma forma que o trabalho real difere do trabalho prescrito. Variabilidades decor- rentes da tecnologia, das pessoas e da organização constituem estas diferenças entre o que é real e o que é prescrito. Outro fator que contribui para esta dis- crepância é limitações e fragilidades do planejamen- to da produção, dificuldades de recursos ofertados pela empresa e restrições temporais para a produção. De maneira geral, podemos dizer que a ativida- de consiste naquilo que o trabalhador faz, suas ações, suas decisões para atingir os objetivos definidos na tarefa ou redefinidos de acordo com o trabalho real (ABRAHÃO et al., 2009). Há ainda uma dimensão importante da atividade: a forma como o trabalhador executa para atingir os ob- jetivos propostos para a tarefa. Esta dimensão contem- pla o trabalho muscular (força, flexibilidade, controlo motor, posturas assumidas, etc.), e as atividades cogni- tivas do trabalhador (ABRAHÃO et al., 2009). A análise da atividade se faz através da observa- ção dos comportamentos dos trabalhadores, sua fala, a direção do olhar, os gestos, os movimentos, desloca- mentos, etc. A atividade pode ser analisada também a partir das estratégias operatórias adotadas pelo traba- lhador para cumprir as metas com as condições for- necidas pela empresa (ABRAHÃO et al., 2009). Os elementos analisados devem ser quantificá- veis através de registros estatísticos, fotografias, ví- deos, planilhas, softwares, entrevistas, questionários etc. De maneira resumida, os aspectos a serem defi- nidos e analisados são: • Realização do trabalho; • Percepção do trabalho; • Gestos e movimentos; • Posturas e vícios; • Ritmo de trabalho; • Pausas e repousos; • Fatores sociais; • Técnicas de análise. As características de resultado em uma Análise Ergonômica do Trabalho (AET) constam de: A Figura 5 ilustra as relações entre tarefa e ativi- dade, suas diferenças e particularidades. Nota-se que a tarefa está relacionada às condições predetermina- das e a resultados antecipados e a atividade de traba- lho às condições reais de trabalho e ao resultado real. O diagnóstico ergonômico, parte integrante de uma Análise Ergonômica do Trabalho é resultado de uma reflexão e avaliação das etapas pregressas ante- riormente conduzidas. Não se pode identificar um diagnóstico ergonô- mico sem antes ter abordado o assunto ou tema em questão. Por exemplo, não se pode no diagnóstico identificar uma postura incorreta de um trabalhador que realiza uma atividade qualquer sem ter registra- do esta postura por meio de fotografias ou vídeos na análise da atividade, ser ter registrado a frequência que o trabalhador assume tal postura. Além disso, não se pode diagnosticar que a postura “x” assumida gera riscos de doenças oste- omusculares sem corroborar esta informação nas estatísticas de afastamentos ou registros de entrada no serviço médico da empresa por conta de dores ou qualquer distúrbio igual ou similar ao identifica- do, seja pelo trabalhador em questão ou por outros trabalhadores que realizam o mesmo tipo de tarefa. O diagnóstico ergonômico resulta da articula- ção dos dados resultantes das hipóteses iniciais de pesquisa levantadas durante a análise da demanda, das observações livres do ergonomista, da comple- xidade e da variabilidade das situações de trabalho, das questões relacionadas à organização do trabalho ou a cultura organizacional e dos conhecimentos do ergonomista (ABRAHÃO et al., 2009) A formulação do diagnóstico ergonômico tem como objetivo a reformulação das questões iniciais e hipóteses de base, contribuir para desvendar as es- tratégias usadas pelos operadores para realizar uma atividade e contribuir para uma mudança das repre- sentações sobre o trabalho (ABRAHÃO et al., 2009). Segundo Guerín (2001), o diagnóstico ergonômico também contribui para a resolução de problemas micro e macro e identificar sintomas relacionados a não conformidades, como por exemplo: • Erros humanos; • Incidentes críticos; • Afastamentos; • Falta de qualidade nos serviços. Por fim, as recomendações ergonômicas são o produto do esforço metodológico realizado nas etapas iniciais e finais de uma AET. Por isso, a er- gonomia é uma ciência e uma técnica, uma ciência porque requer uma abordagem de pesquisa científica e também porque demanda ações transformadoras de cunho socioeconômico. Não existe uma ação ergonômica sem a busca pela transformação do trabalho, a melhoria dos pro- cessos produtivos, da valorização do profissional na empresa e sua proteção contra doenças ocupacio- nais e acidentes de trabalho. É importante que haja envolvimento de vários profissionais e representantes da empresa para que as recomendações ergonômicas sejam mais comple- tas, menos restritivas e alcancem as expectativas de todos envolvidos. Não se faz ergonomia sem envol- vimento dos trabalhadores. Segundo Guerín (2001), as recomendações er- gonômicas contemplam uma apresentação do es- tudo, objetivo, e resultados, o modelo operativo de ação e os custos das modificações e perspectivas. Al- guns exemplos de melhorias são: • Projeto de novos sistemas de trabalho; • Análise de tempos e movimentos; • Antropometria; • Enriquecimento das tarefas; • Controle do ritmo de trabalho; • Rodízio das tarefas; • Pausas energéticas; • Relaxamento muscular; • Pequenas melhorias; • Correção dos vícios. A Figura 6 ilustra a relação entre as etapas de uma Análise Ergonômica do Trabalho com a tipo- logia de recursos de investigação em pesquisa que devem ser realizados para levantamento de dados, reflexões analíticas e alcance dos objetivos. Finalizamos este capítulo ressaltando que o foco da Análise Ergonômica do Trabalho é contri- buir para o cumprimento do item 17.1 da NR 17, o qual informa: Esta Norma Regulamentadora visa a estabelecer pa- râmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos tra- balhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. Para que se possa atingir o objetivo supracitado, a NR 17 informa os requisitos mínimos de interven- ção e análise para o desenvolvimento de uma AET. Estes requisitos são: • Levantamento, transporte e descarga individual de materiais; • Mobiliário dos postos de trabalho; • Equipamentos dos postos de trabalho; • Condições ambientais de trabalho: • Organização do trabalho: o As normas de produção; o O modo operatório; o A exigência de tempo; o A determinação do conteúdo de tempo; o O ritmo de trabalho; o O conteúdo das tarefas. A AET trata-se de um documento dinâmico e por isso deve estar baseado em ações mediatas e imediatas, ou seja, é necessário que se gerencie os achados obtidos durante o levantamento dasinfor- mações para a melhoria do trabalho. Exercícios 1) Explique a relação do desenvolvimento da ergo- nomia com o pós II Guerra Mundial. 2) Explique por que atualmente as principais pesqui- sas científicas possuem foco na ergonomia cognitiva e organizacional. 3) Explique por que a ergonomia possui natureza interdisciplinar. 4) Segundo Abrahão et al. (2009), há três pressupos- tos para uma compreensão da ação ergonômica e de suas metodologias 5) Por que empregadores e empregados se benefi- ciam da ergonomia? Gabarito Unidade I 1. A II Guerra Mundial foi impulso para o desenvol- vimento da ergonomia no pós-guerra porque a partir de 1950 as economias dos países estavam focalizadas na produção e possuíam uma alta demanda industrial para tal. Com os conhecimentos prévios desenvolvi- dos das interações do ser humano com o ambiente de guerra e seus respectivos equipamentos, a ergonomia teve, portanto, um terreno fértil para se desenvolver. 2. Porque os processos mentais e as relações sociais no trabalho muitas vezes possuem suas bases em constructos qualitativos, nem sempre de fácil domínio para validações de achados científicos. Além disso, as principais demandas de trabalho da ergonomia atual no Brasil e no mundo ainda se baseiam em demandas relacionadas aos princípios da ergonomia física. 3. A natureza de interdisciplinaridade da ergonomia é resultado de uma característica importante: a ergono- mia é uma ciência antropocêntrica, ou seja, o ser hu- mano é o centro de atenção de seus estudos e esforços. E devido à complexidade do ser humano para defini- -lo, medi-lo, e como elaborar um ambiente de trabalho para que o comportem com a máxima de segurança, saúde e conforto requerem estudos interdisciplinares. 4. A interdisciplinaridade, a análise de situações reais e o envolvimento dos sujeitos. 5. Os empregadores e empregados se beneficiam da ergonomia porque de um lado o trabalhador poderá exercer suas atividades laborais com maior seguran- ça, num ambiente salutar e confortável e de outro, as organizações empresariais poderão ofertar um am- biente propício para o desempenho, consequente- mente reduzindo custos relacionados a não confor- midades na área de saúde e segurança do trabalho. REFERÊNCIAS AMADIO, A. (1996). Fundamentos Biomecânicos para a Análise do Movimento Humano. Edição da Universidade de São Paulo. São Paulo. ALBERTON, Anete. Uma Metodologia Para Auxi- liar No Gerenciamento De Riscos E Na Seleção De Alternativas De Investimentos Em Segurança. Pro- grama de Pós-Graduação em Engenharia de Produ- ção. Mestrado. Ano de defesa 1996. UFSC. ASSOCIATION FRANÇAISE DE NORMALI- SATION – AFNOR. Ergonomie. 2 ed. Paris: 1.986. 211 p. ANDERSSON B.J.G, e SVENSSON H. O, ODEN, A. 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