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José Pereira da Silva MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 2 “In principio erat verbum et verbum erat apud Deum, et Deus erat verbum” (João, 1:1) “Verba volant, scripta manent” (Provérbio medieval) MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 3 Dedicatória Dedico este livro a meus filhos e netos: Beatriz, Rita, Marcílio, Ítalo, Yasmin e Ana Rita MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 4 Agradecimentos A minha esposa, Maria Rita Pereira, pelas numerosas noites que te- ve de dormir sem esperar por mim. A meus alunos do Curso de Especialização em Língua Portuguesa da UERJ, pela enorme colaboração em sua aplicação em sala de aula. Aos Prezados Colegas do Departamento de Letras da Faculdade de Formação de Professores, que me oportunizaram esta produção. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 5 Apresentação Afrânio da Silva Garcia1 O livro do professor José Pereira prima tanto pela acuidade quanto pela clareza na apresentação de informações concernentes a um assunto de tamanha importância, a ortografia da língua portuguesa, mormente neste momento, em que a aprovação de um novo Acordo Ortográfico provocará sutis, mas profundas, mudanças na maneira de escrever as palavras no idi- oma português, razão do título de sua obra: A Nova Ortografia da Língua Portuguesa. O livro se divide em quatro partes. Na primeira, discute-se o impacto do novo Acordo sobre a ortografia e a cultura dos países membros da Co- munidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), de um ponto de vista positivo; na segunda, faz-se uma cronologia da história da ortografia do por- tuguês; na terceira, apresenta-se a íntegra do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa com anotações do Autor e comentários explicativos da Comis- são elaboradora do documento; na quarta, temos a reunião de bom número de exercícios, o que facilitará a aplicação das regras aos estudantes e a pre- paração de aulas aos professores. A primeira parte, de autoria exclusiva do professor José Pereira, abre com uma definição sucinta do conteúdo e do âmbito do Acordo. Segue-se uma discussão bastante esclarecedora da necessidade do Acordo, na tenta- tiva de acabar com as discrepâncias ortográficas entre as grafias brasileira e 1 Afrânio da Silva Garcia é Professor Adjunto da UERJ e membro da Academia Brasileira de Filologia. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 6 lusitana do português, que, embora pequenas, são frequentes e problemáti- cas para a difusão internacional da língua. Em seguida, o autor defende a reintrodução das letras k, w e y no al- fabeto, com o argumento lógico de que não é mudança, mas aceitação da realidade, visto que elas são imprescindíveis em um mundo no qual as re- lações internacionais são primordiais e desejáveis. Na discussão das mudanças sofridas pela ortografia das palavras por- tuguesas propriamente ditas, o autor se volta inicialmente para a acentuação, explicando a supressão do trema e a perda dos acentos gráficos dos diton- gos abertos éi e ói nas paroxítonas; das letras i e u tônicas depois de diton- go, também nas paroxítonas; da primeira vogal tônica dos hiatos êem e ôo(s); do acento agudo do u tônico precedido de g ou q e seguido de e ou i, já de uso muito restrito; e dos acentos diferenciais. O autor, em sua busca pela perfeição e eficácia, esgota todas as exceções possíveis, através de ex- tensas e abundantes notas de pé de página. Na última parte da discussão das mudanças provocadas pelo novo Acordo Ortográfico, José Pereira discorre acerca do emprego do hífen e das letras maiúsculas, com explicações detalhadas e farta exemplificação. O professor acrescenta a essa discussão das mudanças decorrentes do novo Acordo Ortográfico um estudo, Princípio básico da acentuação grá- fica do português, com base na existência de um acento natural de inten- sidade, consoante a teoria que defende a acentuação gráfica em uma só re- gra, defendida por muitos estudiosos contemporâneos da língua portuguesa, a qual postula terem todas as palavras do português um padrão natural de acentuação tônica (fonética) e explica a acentuação gráfica como um meio de identificar as palavras que não se enquadram na acentuação natural, uma ideia bastante interessante e original, muito bem demonstrada no presente trabalho. Na seção seguinte, sobre a cronologia da história da ortografia, o au- tor apresenta todos os passos dados em Portugal e no Brasil para uma unifi- cação e simplificação da ortografia a partir do início do século XX, com a versão integral dos principais documentos relativos ao assunto, fornecendo subsídios inestimáveis para os pesquisadores da área, seguindo-se a íntegra do Acordo Ortográfico de 1990. Finalizando, o professor José Pereira faz uma compilação de exercí- cios de ortografia apresentados por alguns dos maiores gramáticos da língua portuguesa, provendo o professor com amplo material de apoio para suas MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 7 aulas de ortografia, tão necessário em tempos de mudança, seguidas de refe- rências bibliográficas bastante abrangentes sobre o assunto. Após um exame aprofundado do livro do professor José Pereira, ve- nho parabenizá-lo pela produção de uma obra muito útil e oportuna, que tanto poderá ser usada pelo professor de português do ensino fundamental e médio, quanto pelo pesquisador, dada a variedade e excelência dos conteú- dos nela abordados. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 8 O Autor José Pereira da Silva (Dom Cavate – MG, 23/09/1946) possui gra- duação em Curso da Cades pela Universidade Federal da Bahia (1970), gra- duação em Letras (Português/Literatura) pela Faculdade de Humanidades Pedro II (1976), especialização em Língua e Literatura do Século XVI em Portugal pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1982), especiali- zação em Metodolodia do Ensino Superior pela Universidade Estácio de Sá (1982), mestrado em Linguística e Filologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1986) e doutorado em Linguística pela Universidade Fede- ral do Rio de Janeiro (1991). Atualmente é professor adjunto da Universi- dade do Estado do Rio de Janeiro, diretor-presidente do Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos e segundo secretário da Academia Brasileira de Filologia. Tem experiência na área de Letras, atuando como docente em todos os níveis de ensino, desde o ensino fundamental ao de pós-graduação, e, na pesquisa e produção de conhecimentos, relativamente a filologia, linguística, letras, língua e textos. Na extensão universitária, atua principalmente como organizador de eventos e editor de livros e periódicos. Sua vasta produção acadêmica pode ser resumida em 104 artigos completos publicados; 134 livros como autor ou organizador; 48 capítulos de livros; 34 trabalhos completos e 95 resumos em anais de congressos e centenas de ou- tras produções acadêmicas. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 9 SUMÁRIO/CRONOGRAMA LIÇÃO I (18/03/2011) Apresentação da programação e cronograma, estabelecimento de metas e métodos de trabalho e de avaliação, apresentação divulgação e distri- buição do livro A Ortografia da Língua Portuguesa e estudo de uma“Breve História da Ortografia da Língua Portuguesa”........................ 11 LIÇÃO II (25/03/2011) A ortografia oficial da língua portuguesa na política linguística do sécu- lo XX .................................................................... 17 LIÇÃO III (01/04/2011) O que mudou para os brasileiros com o novo acordo ortográfico da lín- gua portuguesa .................................................................... 40 LIÇÃO IV (08/04/2011) Princípio básico da acentuação gráfica do português (p. 9-10) e sua aplicação nos exercícios de ortografia ................................................... 53 LIÇÃO V (15/04/2011) O alfabeto, o “h” inicial e final, as sequências consonânticas e as duplas grafias .................................................................... 63 LIÇÃO VI (22/04/2011) A homofonia de certos grafemas consonânticos ................................... 75 LIÇÃO VII (29/04/2011) Vogais átonas .................................................................... 97 LIÇÃO VIII (06/05/2011) Vogais nasais, ditongos, acento grave, trema, apóstrofo e supressão de acento em palavras derivadas ............................................................ 105 MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 10 LIÇÃO IX (13/05/2011) O acento gráfico nas palavras oxítonas e nas palavras paroxítonas ... 117 LIÇÃO X (20/05/2011) O acento gráfico nas proparoxítonas e nas vogais tônicas “i” e “u” das oxítonas e paroxítonas .................................................................. 136 LIÇÃO XI (27/05/2011) O uso do hífen .................................................................. 142 LIÇÃO XII (03/06/2011) Emprego do hífen .................................................................. 154 LIÇÃO XIII (10/06/2011) A oficialização das letras K, W e Y, uso de minúsculas e maiúsculas, di- visão silábica, assinaturas e firmas ..................................................... 161 LIÇÃO XIV (17/06/2011) Análise crítica do capítulo “Ortografia” da Moderna Gramática Portu- guesa, de Evanildo Bechara (2009, p. 91-108, especialmente os tópicos “Hífen” (p. 96-101), “Emprego de maiúsculas” (p. 103-105) e “Regras de Acentuação” (p. 105-108) BIBLIOGRAFIA ....................................................................... LIÇÃO XV (24/06/2011)- Análise crítica do livro Guia Ortográfico e Ortofônico Sacconi, de Luiz Antônio Sacconi (2009). LIÇÃO XVI (01/07/2011) Apresentação oral dos trabalhos finais (sendo que os apresentadores deverão chegar antes do horário para preparar o data show) MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 11 18/03/2011– Apresentação da programação e cronograma, estabelecimento de metas e métodos de trabalho e de avaliação, apresentação divulgação e distribuição do livro A Ortografia da Língua Portuguesa e estudo de uma ―BREVE HISTÓRIA DA ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA‖ (p. 115-118) MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 12 1. MEMÓRIA BREVE DOS ACORDOS ORTOGRÁFICOS (Confira SILVA, 2010, p. 115-116) A existência de duas ortografias1 oficiais da língua portuguesa, a lu- sitana e a brasileira, tem sido considerada como largamente prejudicial para a unidade intercontinental do português e para o seu prestígio no mundo. Tal situação remonta, como é sabido, a 1911, ano em que foi adotada em Portugal a primeira grande reforma ortográfica, mas que não foi exten- siva ao Brasil. (Confira BASES, 1911) Por iniciativa da Academia Brasileira de Letras, em consonância com a Academia das Ciências de Lisboa, com o objetivo de se minimizarem os inconvenientes desta situação, foi aprovado em 1931 o primeiro acordo ortográfico entre Portugal e o Brasil. Todavia, por razões que não importa mencionar, este acordo não produziu, afinal, a tão desejada unificação dos dois sistemas ortográficos, fato que levou mais tarde à Convenção Ortográ- fica de 1943. Perante as divergências persistentes nos Vocabulários publi- cados pelas duas Academias, que punham em evidência os parcos resulta- dos práticos do Acordo de 1943, realizou-se, em 1945, em Lisboa, um novo encontro entre representantes daquelas duas agremiações, o qual conduziu à chamada Convenção Ortográfica Luso-Brasileira de 1945. Mais uma vez, porém, este Acordo não produziu os almejados efeitos, já que foi adotado em Portugal, mas não no Brasil. Em 1971, no Brasil, e em 1973, em Portugal, foram promulgadas leis que reduziram substancialmente as divergências ortográficas entre os dois países. Apesar destas louváveis iniciativas, continuavam a persistir, porém, divergências sérias entre os dois sistemas ortográficos. 1 “O termo vem do grego orthographia, palavra formada de orthós, “correto”, “direito” e grafia, do verbo graphein, “escrever”. (PROENÇA FILHO, 2009, p. 15) No percurso até o português, passou pelo termo latimo também escrito orthographia. Na origem, portanto, o tempo correspondia à escrita correta das le- tras. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 13 No sentido de reduzi-las, a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras elaboraram, em 1975, um novo projeto de Acordo que não foi, no entanto, aprovado oficialmente, por razões de ordem política, sobretudo vigentes em Portugal. E é neste contexto que surge o encontro do Rio de Janeiro, em maio de 1986, no qual se encontram, pela primeira vez na história da língua por- tuguesa, representantes não apenas de Portugal e do Brasil, mas também dos cinco novos países africanos lusófonos emergidos da descolonização portu- guesa. O Acordo Ortográfico de 1986, conseguido na reunião do Rio de Ja- neiro, ficou, porém, inviabilizado pela reação polêmica contra ele movida sobretudo em Portugal. 2. RAZÕES DO FRACASSO DOS ACORDOS ORTOGRÁFICOS (Confira SILVA, 2010, p. 116-118) Perante o fracasso sucessivo dos acordos ortográficos entre Portugal e Brasil, abrangendo o de 1986 também os países lusófonos de África, im- porta refletir seriamente sobre as razões de tal malogro. Analisando sucintamente o conteúdo dos acordos de 1945 e de 1986, a conclusão que se colhe é a de que eles visavam impor uma unificação or- tográfica absoluta. Em termos quantitativos e com base em estudos desenvolvidos pela Academia das Ciências de Lisboa, com base num corpus de cerca de 110.000 palavras, conclui-se que o Acordo de 1986 conseguia a unificação ortográfica em cerca de 99,5% do vocabulário geral da língua. Mas tal uni- ficação era conseguida, sobretudo, à custa da simplificação drástica do sis- tema de acentuação gráfica, pela supressão dos acentos nas palavras propa- roxítonas e paroxítonas, o que não foi bem aceito por uma parte substancial da opinião pública portuguesa. Também o Acordo de 1945 propunha uma unificação ortográfica ab- soluta que rondava os 100% do vocabulário geral da língua, mas tal unifica- ção assentava em dois princípios que se revelaram inaceitáveis para os bra- sileiros: MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 14 a) Conservação das chamadas consoantes1 mudas ou não articuladas, o que correspondia a uma verdadeira restauração destas consoantes no Brasil, uma vez que elas tinham há muito sido abolidas; b) Resolução das divergências de acentuação das vogais tônicas e e o, seguidas das consoantes nasais m e n, das palavras paroxítonas (ou esdrúxulas) no sentido da prática portuguesa, que consistia em grafá-las com acento agudo e não circunflexo, conforme a prática brasileira. Assim se procurava,pois, resolver a divergência de acentuação grá- fica de palavras como António e Antônio, cómodo e cômodo, género e gêne- ro, oxigénio e oxigênio etc., em favor da generalização da acentuação com o diacrítico agudo. Esta solução estipulava, contra toda a tradição ortográfica portuguesa, que o acento agudo, nestes casos, apenas assinalava a tonicida- de2 da vogal3 e não o seu timbre, visando assim a resolver as diferenças de pronúncia daquelas mesmas vogais. A inviabilização prática de tais soluções nos leva à conclusão de que não é possível unificar por via administrativa divergências que assentam em claras diferenças de pronúncia, um dos critérios, aliás, em que se baseia o sistema ortográfico da língua portuguesa. Nestas condições, há de procurar uma versão de unificação ortográ- fica que acautele mais o futuro do que o passado e que não receie sacrificar a simplificação também pretendida em 1986, em favor da máxima unidade possível. Com a emergência de cinco novos países lusófonos,4 os fatores de desagregação da unidade essencial da língua portuguesa far-se-ão sentir com mais acuidade e também no domínio ortográfico. Neste sentido impor- ta, pois, consagrar uma versão de unificação ortográfica que fixe e delimite 1 “Consoante é o fonema constitutivo da sílaba que, na nossa língua, soa em companhia de uma vogal”. (PROENÇA FILHO, 2009, p. 17) 2 O termo “tonicidade”, assim como “tônico”, “átono”, “subtônico”, “oxítono”, “paroxítono”, “proparoxítono”, “pré-tônico”, “pós-tônico”, “rizotônico”, “arrizotônico” etc., é herança da gramaticologia grega, mais ade- quado para descrição de línguas tonais. Na realidade, esses termos já não se definem pela etimologia, pois a nossa língua não é tonal, mas, intensiva; acentuando-se pela força expiratória e não pelo tom. 3 “A vogal é o fonema nuclear da sílaba, a sua base, sua parte mais soante; corresponde a sons mus i- cais caracterizados, em termos de condições acústicas, por vobrações periódicas perfeitamente percep- tíveis: rá-pi-do; fa-la; fe-li-ci-da-de. (PROENÇA FILHO, 2009, p. 17) 4 Hoje são seis as ex-colônias portuguesas que se tornaram independentes no século XX, integrando a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), sendo que o Timor Leste pertenceu à Indonésia até recentemente. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 15 as diferenças atualmente existentes e previna contra a desagregação ortográ- fica da língua portuguesa. Foi, pois, tendo presentes estes objetivos que se fixou o novo texto de unificação ortográfica, o qual representa uma versão menos forte do que as que foram conseguidas em 1945 e 1986, mas ainda assim suficientemente forte para unificar ortograficamente cerca de 98% do vocabulário geral da língua. 3. FORMA E SUBSTÂNCIA DO NOVO TEXTO (Cf SILVA, 2010, p. 118) O novo texto de unificação ortográfica agora proposto contém alte- rações de forma (ou estrutura) e de conteúdo, relativamente aos anteriores. Pode-se dizer, simplificando, que em termos de estrutura se aproxima mais do Acordo de 1986, mas que em termos de conteúdo adota uma posição mais de acordo com o projeto de 1975, já mencionado. Em relação às alterações de conteúdo, elas afetam, sobretudo, o caso das consoantes mudas ou não articuladas, o sistema de acentuação gráfica1, especialmente das paroxítonas, e a hifenização. Pode-se dizer ainda que, no que diz respeito às alterações de conteú- do, dentre os princípios em que assenta a ortografia portuguesa, o critério fonético (ou da pronúncia) foi privilegiado com certo detrimento para o cri- tério etimológico. É o critério da pronúncia que determina, aliás, a supressão gráfica das consoantes mudas ou não articuladas, que se têm conservado na ortogra- fia lusitana essencialmente por razões de ordem etimológica. É também o critério da pronúncia que nos leva a manter certo núme- ro de grafias duplas do tipo de carácter e caráter, facto e fato, sumptuoso e suntuoso etc. É ainda o critério da pronúncia que conduz à manutenção da dupla acentuação gráfica do tipo de económico e econômico, efémero e efêmero, 1 É importante ressaltar, como lembra Celso Pedro Luft (2002, p. 107), que “Os substantivos próprios obedecem às mesmas regras de acentuação dos substantivos comuns [...]. Infelizmente, pesa uma larga tradição de indisciplina e desinformação neste terreno, responsável por formas sem o acento devido (*Antonio, *Carmen...) e outras de acento errado (Corrêa, *Léa, *Raúl...)”. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 16 género e gênero, génio e gênio, ou de bónus e bônus, sémen e sêmen, ténis e tênis, ou ainda de bebé e bebê, ou metro e metrô etc. Explicitam-se em seguida as principais alterações introduzidas no novo texto de unificação ortográfica, assim como a respectiva justificação. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 17 EXERCÍCIOS 1 1. Por que a reforma ortográfica de 1911 não foi extensiva ao Brasil? Teria sido uma discriminação dos portugueses, como se tem comentado? 2. Situe histórico-politicamente o contexto em que se deu a reforma ortográ- fica de 1911. 3. O acordo ortográfico de 1931 chegou a ser implementado? Por quê? O que aconteceu? 4. O que ocorreu em 1943, relativamente ao processo de unificação ortográ- fica da língua portuguesa? 5. Por que o acordo ortográfico de 1945 não foi implementado no Brasil? Destaque dois pontos que foram taxativamente recusados pelos brasileiros. 6. O que diz a lei de 1971 sobre acentuação gráfica na língua portuguesa? 7. O que fizeram os portugueses, para facilitar essa aproximação, em lei de 1973? 8. Qual é o acordo ortográfico da língua portuguesa que foi efetivamente implementado? Dê alguns detalhes a respeito disso. 9. Dê algumas informações sobre o Acordo Ortográfico de 1986 e sobre o projeto de Acordo de 1975. 10. Quando ocorreu o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa que esta- mos implementando, atualmente, em Portugal, no Brasil e em alguns outros países da CPLP? 1 Os exercícios que apresentaremos, além de serem postos como exemplos para facilitar a preparação de aulas práticas, deverão ser verificados e criticados pelos colegas, pois o objetivo principal é disponibi- lizar um material de qualidade para os docentes e demais profissionais da língua escrita. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 18 25/03/2011 – A ortografia oficial da língua portuguesa na política linguísti- ca do século XX (p. 11-34) MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 19 CRONOLOGIA DA HISTÓRIA DA ORTOGRAFIA DO PORTUGUÊS Pretende-se, aqui, dar a conhecer uma breve cronologia das reformas ortográficas efetuadas na língua portuguesa. Antes do séxulo XVI, não havia qualquer normatização ortográfica da língua portuguesa, nem mesmo para uso restrito, porque cada um escre- via conforme ouvia, aproximando a escrita da fala o máximo possível, de acordo com a percepção e compreensão do escriba. Séc XVI até séc. XX – em Portugal e no Brasil a escrita praticada era fundamentada na etimologia (procurava-se a raiz1 latina ou grega para escrever as palavras), não havendo uma ortografia oficial. O cidadão esco- lhia o ortógrafo de sua simpatia ou conveniência, sem qualquer obrigação de seguir à risca as normas indicadas pelo escolhido.2 1907 – a Academia Brasileira de Letras começa a simplificar a escri- ta nas suas publicações. (Veja, a seguir, a ATA DA SESSÃO DA ABL,DE 11 DE JULHO DE 1907) 1910 – implantada a República em Portugal, foi nomeada uma Co- missão para estabelecer uma ortografia simplificada e uniforme para ser usada nas publicações oficiais e no ensino. 1 Raiz é o elemento que forma a base de uma palavra, obtido quando todos os afixos são retirados. Por exemplo: feliz em in- + feliz + -mente. Em gramática histórica, raiz é o segmento lexical mínimo de uma língua antiga, documentada ou recons- truída pelo método comparativo, que teria dado origem às formas posteriores de uma ou várias línguas aparentadas. Por exemplo: a raiz hipotética *sed- do indo-europeu, que originou sedere em latim, sit 'sentar' em inglês, sedentário em português, sidet' 'estar sentado' em russo etc. 2 O professor Afrânio Garcia (1996, p. 69) lembra: “A ortografia portuguesa foi, até o século XX, uma simples questão de prestígio deste ou daquele autor.” MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 20 1911 – primeira Reforma Ortográfica – tentativa de uniformizar e simplificar a escrita, mas não foi extensiva ao Brasil. 1915 – a Academia Brasileira de Letras resolve harmonizar a orto- grafia brasileira com a portuguesa, visto que só neste ano se concluiu a im- plementação da ortografia oficial portuguesa. 1919 – a Academia Brasileira de Letras revoga a sua resolução de 1915. 1924 – a Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras começam a procurar uma grafia comum. 1929 – a Academia Brasileira de Letras lança um novo sistema grá- fico. 1931 – aprovado o primeiro Acordo Ortográfico entre Brasil e Por- tugal, o qual visava suprimir as diferenças, unificar e simplificar a ortogra- fia, mas não chegou a ser implementado. 1938 – foram sanadas as dúvidas quanto à acentuação de palavras e foi criada a comissão para organizar o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. 1943 – redigida a primeira Convenção ortográfica entre Brasil e Por- tugal, que resultou no Formulário Ortográfico de 1943. Veja, mais adiante, tópico específico sobre esse Formulário. 1945 – Acordo Ortográfico, que se tornou lei em Portugal, mas, no Brasil, não foi ratificado pelo governo; os brasileiros continuaram a se regu- lar pela ortografia anterior, do Vocabulário de 1943. 1971 – promulgadas alterações no Brasil, reduzindo as divergências ortográficas com Portugal. 1973 – promulgadas alterações em Portugal, reduzindo ainda mais as divergências ortográficas com o Brasil. 1975 – a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras elaboram novo projeto de acordo, que não foi aprovado oficial- mente. 1986 – o presidente brasileiro José Sarney promove um encontro dos sete países de língua portuguesa – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné- Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, no Rio de Janeiro, MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 21 no qual apresenta o Memorando Sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. 1990 – a Academia das Ciências de Lisboa convoca novo encontro juntando uma Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portugue- sa – as duas academias elaboram a base do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. O documento entraria em vigor (conforme o 3º artigo do mes- mo) no dia ―1 de janeiro de 1994, após depositados todos os instrumentos de ratificação de todos os Estados junto do Governo português‖. 1996 – o último acordo foi ratificado apenas por Portugal, Brasil e Cabo Verde. 2004 – os ministros da Educação da CPLP se reúnem em Fortaleza (Ceará), para propor a entrada em vigor do Acordo Ortográfico, mesmo sem a ratificação de todos os membros. 2006 – São Tomé e Príncipe ratifica o Acordo, tornando legítima a sua implantação, a partir de 1º de janeiro de 2007, nos países que o fizeram. 2008 – Portugal e Brasil estabelecem seus cronogramas de imple- mentação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. 2009 – entra em vigor no Brasil o novo Acordo Ortográfico, com prazo final da sua implementação estabelecido para 31 de dezembro de 2012. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 22 ATA DA SESSÃO DA ABL DE 11 DE JULHO DE 1907 1 Presidência do Sr. Machado de Assis Às 4h30min da tarde, presentes os Senhores Machado de Assis, Medeiros e Albuquerque, Lúcio de Mendonça, Salvador de Mendonça, Oliveira Lima, João Ribeiro, Heráclito Graça, Silva Ramos, Souza Ban- deira, Graça Aranha, José Veríssimo, Araripe Júnior, Raimundo Correa, Afonso Arinos, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Euclides da Cunha, Ar- tur Azevedo, Guimarães Passos, Magalhães de Azeredo e Mário de Alen- car, o Senhor Presidente abriu a sessão. Lida e aprovada a ata2 da sessão anterior, o Senhor Presidente leu o ofício em que o Senhor Heráclito Graça agradeceu a sua eleição de membro da Academia e comunicou tomar posse da sua cadeira na conformidade do artigo 22 do Regimento Interno; e uma carta do Senhor Afonso Celso decla- rando que o seu voto era favorável ao projeto do Senhor Medeiros e Albu- querque. Em seguida, o Senhor Presidente declarou que iam ser votados os projetos da reforma ortográfica. O Senhor Salvador de Mendonça propôs, e foi aceito, que se fizesse votação nominal, e divididas algumas das proposições dos projetos, con- forme indicações dos Senhores Olavo Bilac, Souza Bandeira, João Ribeiro e Medeiros e Albuquerque, procedeu-se à votação, que deu o seguinte resul- tado: 1 Documento transcrito com atualização ortográfica e desenvolvimento das abreviaturas. Vide Livro das Atas da Academia, primeiro volume, relativo ao período compreendido entre 1896 e 1909, fl. 53-57v. e Henriques (2000, fl. 148-156 e 2001, p. 137-146). 2 Claudio Cezar Henriques (2000) observa que, apesar de registrada a palavra “Acta” no cabeçalho, foi utilizada a grafia sem o c no corpo do documento. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 23 1ª proposição – Suprima-se em absoluto o h mediano, salvo nas pa- lavras compostas de outras que tenham o h inicial (deshonra, inharmoni- co).1 Divida em duas partes: 1ª parte: Suprima-se em absoluto2 o h mediano, salvo nos grupos lh, nh e ch palatino. Responderam sim os senhores João Ribeiro, Heráclito Graça, Silva Ramos, Souza Bandeira, Graça Aranha, José Veríssimo, Araripe Júnior, Ra- imundo Correa, Afonso Arinos, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Artur Azevedo, Guimarães Passos, Magalhães de Azeredo, Medeiros e Albuquer- que, Machado de Assis e Mário de Alencar, ao todo 17; responderam não os Senhores Lúcio de Mendonça, Salvador de Mendonça, Oliveira Lima e Eu- clides da Cunha. 2ª parte: Conserve-se o h nas palavras compostas de outras que te- nham o h inicial (deshonra, inharmonico). Responderam sim os Senhores Lúcio de Mendonça, Salvador de Mendonça, Oliveira Lima, Heráclito Graça, Silva Ramos, José Veríssimo, Raimundo Correa, Afonso Arinos, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Eucli- des da Cunha, Artur Azevedo, Magalhães de Azeredo, Medeiros e Albu- querque, Machado de Assis e Mário de Alencar, ao todo 16; responderam não os Senhores João Ribeiro, Souza Bandeira, Graça Aranha, Guimarães Passos e Araripe Júnior. Aditivo do Senhor João Ribeiro: Suprima-se também o h inicial, salvo na 3ª pessoa do singular do verbo haver: ha. Considerou-se prejudicado pela votação anterior. 2ª proposição – Suprima-se em absoluto o w. Foi aprovado unanimemente. 3ª proposição – Suprima-se em absoluto o k, substituído por c antes de a, o e u e por qu antes de e e i. 1 As palavras dadas como exemplos não serão atualizadasortograficamente, pois isto descaracterizaria o documento. 2 Na sessão retificadora de 18 de julho, o Senhor Olavo Bilac propôs que se excluísse a expressão “em absoluto”. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 24 Responderam sim os Senhores João Ribeiro, Silva Ramos, Souza Bandeira, Graça Aranha, Raimundo Correa, Olavo Bilac, Alberto de Olivei- ra, Guimarães Passos, Magalhães de Azeredo, Medeiros e Albuquerque, Machado de Assis e Mário de Alencar, ao todo 12; responderam não os Se- nhores Lúcio de Mendonça, Salvador de Mendonça, Oliveira Lima, Herácli- to Graça, José Veríssimo, Araripe Júnior, Afonso Arinos, Euclides da Cu- nha e Artur Azevedo, ao todo 9. 4ª proposição – Suprima-se em absoluto o y. Responderam sim os Senhores João Ribeiro, Heráclito Graça, Silva Ramos, Souza Bandeira, Graça Aranha, José Veríssimo, Araripe Júnior, Ra- imundo Correa, Afonso Arinos, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Artur Azevedo, Guimarães Passos, Magalhães de Azeredo, Medeiros e Albuquer- que, Machado de Assis e Mário de Alencar, ao todo 17; responderam não os Senhores Lúcio de Mendonça, Salvador de Mendonça, Oliveira Lima e Eu- clides da Cunha. Emenda do Senhor José Veríssimo: Conserve-se o y nos nomes geográficos brasileiros. Responderam sim os Senhores Lúcio de Mendonça, Salvador de Mendonça, Oliveira Lima, Souza Bandeira, Graça Aranha, José Veríssimo, Afonso Arinos, Olavo Bilac, Euclides da Cunha, Artur Azevedo, Guimarães Passos, Medeiros e Albuquerque, Machado de Assis e Mário de Alencar, ao todo 14; responderam não os Senhores João Ribeiro, Heráclito Graça, Silva Ramos, Araripe Júnior, Raimundo Correa, Alberto de Oliveira e Magalhães de Azeredo, ao todo 7. 5ª proposição – Dividida em duas partes: 1ª parte: Substitua-se o ph por f, o ch com o som de k por qu antes de e e i e por c antes de a, o e u. Responderam sim os Senhores João Ribeiro, Heráclito Graça, Silva Ramos, Souza Bandeira, Graça Aranha, José Veríssimo, Araripe Júnior, Ra- imundo Correa, Afonso Arinos, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Artur Azevedo, Guimarães Passos, Magalhães de Azeredo, Medeiros e Albuquer- que, Machado de Assis e Mário de Alencar, ao todo 17; responderam não os Senhores Lúcio de Mendonça, Salvador de Mendonça, Oliveira Lima e Eu- clides da Cunha. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 25 2ª parte: Substitua-se o x por cs, s, z ou ss, conforme o som que ti- ver, mantendo-se-lhe apenas o som de consoante palatina como em xadrez, xairel etc. Responderam não os Senhores Lúcio de Mendonça, Salvador de Mendonça, Oliveira Lima, João Ribeiro, Heráclito Graça, Souza Bandeira, Graça Aranha, Raimundo Correa, Afonso Arinos, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Euclides da Cunha, Magalhães de Azeredo, Machado de Assis e Mário de Alencar, ao todo 15; responderam sim os Senhores Silva Ramos, José Veríssimo, Araripe Júnior, Artur Azevedo, Guimarães Passos e Medei- ros e Albuquerque, ao todo 6. 6ª proposição – Suprimam-se todas as consoantes geminadas, salvo quando ambas tiverem som, exemplo: escrever fala e não falla, mas escre- ver infecção, pois que os dois cc soam distintamente. Responderam sim os Senhores João Ribeiro, Heráclito Graça, Silva Ramos, Souza Bandeira, Graça Aranha, José Veríssimo, Araripe Júnior, Ra- imundo Correa, Afonso Arinos, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Euclides da Cunha, Artur Azevedo, Guimarães Passos, Magalhães de Azeredo, Me- deiros e Albuquerque, Machado de Assis e Mário de Alencar, ao todo 18; responderam não os Senhores Lúcio de Mendonça, Salvador de Mendonça e Oliveira Lima. 7ª proposição1 – Suprimam-se todas as consoantes nulas, desapare- cendo, portanto, a 1ª letra dos grupos gm, gn, pt, mn, ct, sc e outros. Responderam sim os Senhores João Ribeiro, Heráclito Graça, Silva Ramos, Souza Bandeira, Graça Aranha, Araripe Júnior, Raimundo Correa, Afonso Arinos, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Artur Azevedo, Guima- rães Passos, Magalhães de Azevedo, Medeiros e Albuquerque, Machado de Assis e Mário de Alencar, ao todo 17; responderam não os Senhores Lúcio de Mendonça, Salvador de Mendonça, Oliveira Lima e Euclides da Cunha. 8ª proposição – Dividida em 2 partes: 1ª parte: Substitua-se por j o g medial, sempre que tiver o som da- quela letra. Responderam sim os Senhores João Ribeiro, Heráclito Graça, Silva Ramos, Souza Bandeira, Graça Aranha, José Veríssimo, Araripe Júnior, Ra- 1 No original manuscrito, a 8ª proposição foi transcrita antes da 7ª. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 26 imundo Correa, Afonso Arinos, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Euclides da Cunha, Artur Azevedo, Guimarães Passos, Medeiros e Albuquerque, Machado de Assis e Mário de Alencar, ao todo 17; responderam não os Se- nhores Lúcio de Mendonça, Salvador de Mendonça, Oliveira Lima e Maga- lhães de Azevedo. 2ª parte: Substitua-se por j o g inicial sempre que tiver o som daque- la letra. Responderam não os Senhores Lúcio de Mendonça, Salvador de Mendonça, Oliveira Lima, Heráclito Graça, Silva Ramos, Souza Bandeira, Graça Aranha, José Veríssimo, Afonso Arinos, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Euclides da Cunha, Artur Azevedo, Magalhães de Azeredo, Ma- chado de Assis e Mário de Alencar, ao todo 16; responderam sim os Senho- res João Ribeiro, Araripe Júnior, Raimundo Correa, Guimarães Passos e Medeiros e Albuquerque. 9ª proposição – Dividida em duas partes: 1ª parte: Substitua-se sempre por s o ç inicial nas poucas palavras que o conservam. Responderam sim os Senhores João Ribeiro, Heráclito Graça, Silva Ramos, Souza Bandeira, Graça Aranha, José Veríssimo, Araripe Júnior, Ra- imundo Correa, Afonso Arinos, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Euclides da Cunha, Artur Azevedo, Guimarães Passos, Magalhães de Azevedo, Me- deiros e Albuquerque, Machado de Assis e Mário de Alencar, ao todo 18; responderam não os Senhores Lúcio de Mendonça, Salvador de Mendonça e Oliveira Lima. 2ª parte: Sempre que se encontrarem formas de grafia com s ou ç, prefira-se s: Exemplo: dansa preferível a dança. Responderam sim os Senhores Souza Bandeira, Graça Aranha, José Veríssimo, Araripe Júnior, Raimundo Correa, Afonso Arinos, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Euclides da Cunha, Artur Azevedo, Magalhães de Azevedo, Guimarães Passos, Medeiros e Albuquerque, Machado de Assis, Mário de Alencar e João Ribeiro1, ao todo 16; responderam não os Senho- res Lúcio de Mendonça, Salvador de Mendonça, Oliveira Lima, Heráclito Graça e Silva Ramos. 1 Na folha 56 do manuscrito das Atas, consta ...Machado de Assis e Mário de Alencar, João Ribeiro. Na ata de 18 de julho de 1907, João Ribeiro solicita a ratificação de que seu voto fora afirmativo. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 27 10ª proposição – Nos ditongos au, eu, iu, que também se escrevem ao, eo, io, prefiram-se as formas em u. Foi aprovada unanimemente. 11ª proposição – Substitua-se sempre por z a letra s quando o z tiver o som, como acontece entre vogais.1 Responderam sim os Senhores Souza Bandeira, Graça Aranha, José Veríssimo, Araripe Júnior, Raimundo Correa, Afonso Arinos, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Euclides da Cunha, Guimarães Passos, Magalhães de Azevedo, Medeiros e Albuquerque e Machado de Assis, ao todo 13; res- ponderam não os Senhores Lúcio de Mendonça, Salvador de Mendonça, Oliveira Lima, João Ribeiro, Heráclito Graça, Silva Ramos, Artur Azevedo e Mário de Alencar, ao todo 8. 12ª proposta – Exceção feita dos pronomes pessoais nós e vós e dos tempos dos verbos (amarás, preferis etc.) marquem-sesempre os finais agu- dos em az, ez, iz, oz e uz com z, reservando o s unicamente para o plural das palavras agudas terminadas em a, e, i, o e u.2 Responderam sim os Senhores Lúcio de Mendonça, Salvador de Mendonça, Oliveira Lima, João Ribeiro, Heráclito Graça, Souza Bandeira, Graça Aranha, José Veríssimo, Raimundo Correa, Afonso Passos, Maga- lhães de Azevedo, Machado de Assis, Medeiros e Albuquerque e Mário de Alencar, ao todo 18; responderam não os Senhores Silva Ramos, Araripe Júnior e Euclides da Cunha. 1 Na reunião retificadora de 8 de julho, ponderou “o Senhor João Ribeiro que a substituição do s intervo- cal com o som de s por z não devia aplicar-se ao prefixo des, convindo que este prefixo tivesse uniforme grafia, quer precedesse vogal quer consoante. O Senhor Medeiros e Albuquerque respondeu que a re- gra votada era absoluta e que entendia não ser possível adotar-se a exceção, nem havia fundamento para ela. Se algum motivo podia haver para que se conservasse o s do prefixo des era o da etimologia; mas não seria lógico atendê-lo em uma reforma que justamente desprezara as razões da etimologia pe- las da fonética, segundo estava firmado na 17ª proposição e decorria das outras proposições anteriores, entre outros a da supressão das letras mudas. Na sessão de 1ª de agosto de 1907, votou-se pelas seguintes “Restrições – Adota-se o s dos prefixos des, trans e bis: exemplos: desamor, desacompanhado, transeunte, bisavô, bisannual”. 2 Na sessão retificadora de 18 de julho, o Senhor Salvador de Mendonça propôs que esta 12a proposta passasse a ter a seguinte redação: “Exceção feita dos pronomes pessoais nós e vós e dos tempos dos verbos (amarás, preferis etc.) e do plural das palavras agudas em a, e, i, o e u, escrevam-se com z os fi- nais agudos das palavras em az, ez, iz, oz e uz (exemplos: rapaz, pedrez, Luiz, noz, arcabuz).” MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 28 13ª proposta – Escrevam-se as sílabas breves em ão com am (or- gam, orgams etc.). Responderam sim os Senhores Lúcio de Mendonça, Salvador de Mendonça, Oliveira Lima, Heráclito Graça, Silva Ramos, José Veríssimo, Raimundo Correa, Afonso Arinos, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Eucli- des da Cunha, Artur Azevedo, Guimarães Passos, Magalhães de Azevedo, Medeiros e Albuquerque, Machado de Assis e Mário de Alencar, ao todo 17; responderam não os Senhores João Ribeiro, Souza Bandeira, Graça Aranha e Araripe Júnior. 14ª proposta – Escrevam-se as sílabas longas em ã (manhã) com ã e as breves com an (firman1, orphan etc.). Foi aprovada unanimemente. 15ª proposta – Suprima-se o sinal de sinalefa nas contrações: deste, desta, naquele, naquela etc. Foi aprovada unanimemente. 16ª proposta – Escrevam-se os nomes próprios estrangeiros com a grafia de suas línguas.2 Aditivo do Senhor João Ribeiro: Conserve-se a grafia de todos os nomes próprios, quer de pessoa quer de nomenclatura geográfica, que já te- nham sido adotadas na língua portuguesa.3 Foi aprovada unanimemente. 17ª proposta – Tomando-se por base a boa pronúncia e, para esse efeito especial, considerando-se boa pronúncia a das classes cultas, como for fixada pela Academia – sempre que nos dicionários da língua portugue- 1 A palavra firman, cuja terminação an é tônica (longa e não breve, nos termos do texto), contraria a re- gra proposta. A falha foi apontada por Claudio Cezar Henriques na tese citada. No livro de 2001, ele substituiu a palavra firman por iman (Cf. Henriques, 2001, p. 145). 2 Na sessão de 1º de agosto, decidiu-se que “as palavras estrangeiras, inclusive gregas e latinas, não aportuguesadas, conservam a ortografia de origem: jus (e não juz), kirie (e não quirie), water-proof, boré, bis (e não biz)”. 3 João Ribeiro retifica, na sessão retificadora de 18 e julho, seu próprio Aditivo para a seguinte redação: “Os nomes próprios de pessoas e de lugares, desde que já tenham forma portuguesa, obedecem às re- gras adotadas de simplificação ortográfica.” MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 29 sa já se encontrarem diversos modos de escrever a mesma palavra, prefira- se a que se aproximar mais da referida pronúncia. Responderam sim os Senhores Souza Bandeira, Graça Aranha, José Veríssimo, Araripe Júnior, Raimundo Correa, Afonso Arinos, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Euclides da Cunha, Artur Azevedo, Guimarães Passos, Magalhães de Azevedo, Medeiros e Albuquerque e Machado de Assis, ao todo 14; responderam não os Senhores Lúcio de Mendonça, Salvador de Mendonça, Oliveira Lima, João Ribeiro, Heráclito Graça, Silva Ramos e Mário de Alencar. Deixou-se de votar o artigo 1º do projeto do Senhor Salvador de Mendonça porque seu autor o julgou prejudicado pela votação da proposi- ção antecedente. Terminada a ordem do dia, propôs o Senhor José Veríssimo e todos concordaram que a Academia só autorizasse como definitiva a publicação do resultado da votação, depois de ser esta ratificada na sessão seguinte. O Senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos e deu para or- dem do dia da próxima sessão1 a leitura e discussão da presente ata. 1 A referida “próxima sessão” ocorreu no dia 18 de julho de 1907. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 30 FORMULÁRIO ORTOGRÁFICO DE 1943 O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa terá por base o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, edição de 1940, consoante a sugestão do Sr. Ministro da Educa- ção e Saúde, aprovada unanimemente pela Academia Brasileira de Letras em 29 de janeiro de 1942. Para a sua organização serão obedecidos rigoro- samente os itens seguintes: 1. Inclusão dos brasileirismos consagrados pelo uso. 2. Inclusão de estrangeirismos e neologismos de uso corrente no Brasil e necessários à língua literária. 3. Substituição de certas formas usadas em Portugal pelas correspon- dentes formas usadas no Brasil, consoante a pronúncia e a morfologia con- sagradas. 4. Fixação da grafia de vocábulos cuja etimologia ainda não está per- feitamente demonstrada, consignando-se em primeiro lugar a de uso mais generalizado.1 5. Fixação das grafias de vocábulos sincréticos e dos que têm uma ou mais variantes, tendo-se em vista o étimo e a história da língua, e registro de tais vocábulos um a par do outro, de maneira que figure em primeira plana, como preferível, o de uso mais generalizado. 6. Evitar duplicidade gráfica ou prosódica de qualquer natureza, dando-se a cada vocábulo uma única forma, salvo se nele há consoante que facultativamente se profira,2 ou se há mais de uma pronúncia legitimada pe- lo uso ou pela etimologia, casos em que se registrarão as duas formas, uma 1 O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa decidirá tais questões. 2 A variante portuguesa em oposição à variante brasileira, por exemplo. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 31 em seguida à outra, colocando-se em primeiro lugar a de uso mais generali- zado. 7. Registro de um significado ou da definição de todos os vocábulos homófonos não homógrafos, bem como dos homógrafos heterofônicos – mas não dos homógrafos perfeitos -, fazendo-se remissão de um para outro. 8. Registro, entre parênteses, da vogal ou sílaba1 tônica de todo e qualquer vocábulo cuja pronúncia seja duvidosa,2 ou cuja grafia não mostre claramente a sua ortoépia; não sendo, porém, indicada a sílaba tônica3 dos infinitos dos verbos, salvo se forem homógrafosheterofônicos. 9. Registro, entre parênteses, do timbre da vogal tônica de palavras sem acento diacrítico, bem como da vogal da sílaba pré-tônica ou pós- tônica, sempre que se faça mister, em especial quando há metafonia, tanto no plural dos nomes e adjetivos quanto em formas verbais. Não será indica- do, porém, o timbre aberto das vogais e e o nem o timbre fechado delas nos vocábulos compostos ligados por hífen. 10. Fixação dos femininos e plurais irregulares, que serão inscritos em seguida ao masculino singular. 11. Registro de formas irregulares dos verbos mais usados em ear e iar, especialmente das do presente do indicativo, no todo ou em parte. 12. Todos os vocábulos devem ser escritos e acentuados graficamen- te de acordo com a ortoépia usual brasileira e sempre seguidos da indicação da categoria gramatical a que pertencem. Para acentuar graficamente as palavras de origem grega, ou indi- car-lhes a prosódia entre parênteses, cumpre atender ao uso brasileiro: registra-se a pronúncia consagrada, embora esteja em desacordo com a 1 “A emissão das palavras passa ao falante e ao ouvinte a impressão de que os fonemas ou grupos de fonemas de que se constituem são pronunciados num só conjunto: bala, por exemplo, divide-se em dois conjuntos de fonemas: ba- e -la; fonema, em três: fo-, ne- e -ma. [...] “Sílaba é cada uma das partes dos vocábulos caracterizada por essa impressão auditiva de unidade de som. Corresponde, portanto, ao fonema ou ao conjunto de fonemas proferidos numa só emissão de voz.” (PROENÇA FILHO, 2009, p. 16) 2 É o caso, por exemplo, dos vocábulos com gue, gui, que e qui. 3 “É a sílaba sobre a qual incide a maior força da voa: só, fa-la, rá-pi-do, a-ma-re-mos.” (PROENÇA FI- LHO, 2009, p. 16) MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 32 primordial;1 mas, se ela é de uso apenas em certa arte ou ciência, e ainda esteja em tempo de se corrigir, convém que seja corrigida, inscrevendo- se a forma etimológica em seguida à usual. O Vocabulário conterá: a) o formulário ortográfico, que são estas instruções; b) o vocabulário comum; c) registro de abreviaturas. Vocabulário Onomástico será publicado separadamente, depois de aprovado por decreto especial. 1 O aspecto fonético se sobrepõe ao etimológico, considerando-se o uso mais generalizado. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 33 DECRETO Nº 6.583, DE 29 DE SETEMBRO DE 2008 Promulga o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa em 16 de dezembro de 1990. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e Considerando que o Congresso Nacional aprovou, por meio do De- creto Legislativo nº 54, de 18 de abril de 1995, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa em 16 de dezembro de 1990; Considerando que o Governo brasileiro depositou o instrumento de ratificação do referido Acordo junto ao Ministério dos Negócios Estrangei- ros da República Portuguesa, na qualidade de depositário do ato, em 24 de junho de 1996; Considerando que o Acordo entrou em vigor internacional em 1º de janeiro de 2007, inclusive para o Brasil, no plano jurídico externo; DECRETA: Art. 1º O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, entre os Gover- nos da República de Angola, da República Federativa do Brasil, da Repú- blica de Cabo Verde, da República de Guiné-Bissau, da República de Mo- çambique, da República Portuguesa e da República Democrática de São Tomé e Príncipe, de 16 de dezembro de 1990, apenso por cópia ao presente Decreto, será executado e cumprido tão inteiramente como nele se contém. Art. 2º O referido Acordo produzirá efeitos somente a partir de 1º de janeiro de 2009. Parágrafo único. A implementação do Acordo obedecerá ao período de transição de 1º de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2012, durante o qual coexistirão a norma ortográfica atualmente em vigor e a nova norma estabelecida. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 34 Art. 3º São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar em revisão do referido Acordo, assim como quais- quer ajustes complementares que, nos termos do art. 49, inciso I, da Consti- tuição, acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacio- nal. Art. 4º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 29 de setembro de 2008; 187º da Independência e 120º da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Celso Luiz Nunes Amorim MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 35 DECRETO LEGISLATIVO Nº 54, DE 1995 CONGRESSO NACIONAL Faço saber que o Congresso Nacional aprovou, e eu, José Sarney, Presidente do Senado Federal, nos termos do art. 48, item 28, do Regime In- terno, promulgo o seguinte DECRETO LEGISLATIVO Nº 54, DE 1995 Aprova o texto do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assi- nado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990. O Congresso Nacional decreta: Art. 1º É aprovado o texto do Acordo Ortográfico da Língua Portu- guesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990. Parágrafo único. São sujeitos à apreciação do Congresso Nacional quaisquer atos que impliquem revisão do referido Acordo, bem como quaisquer atos que, nos termos do art. 49, I, da Constituição Federal, acarre- tem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional. Art. 2º Este Decreto Legislativo entra em vigor na data da sua publi- cação. Senado Federal, 18 de abril de 1995. – Senador José Sarney, Presidente. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 36 APROVAÇÃO DO ACORDO [DE 1990] PELA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA [DE PORTUGAL] A Assembleia da República resolve, nos termos dos artigos 164º, alínea j, e 169º, nº 5, da Constituição, aprovar, para ratificação, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa a 16 de dezembro de 1990, que segue em anexo. Aprovada em 4 de junho de 1991. O Presidente da Assembleia da República Vítor Pereira Crespo. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 37 ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA (1990) Considerando que o projeto de texto de ortografia unificada da lín- gua portuguesa aprovado em Lisboa, em 12 de outubro de 1990, pela Academia das Ciências de Lisboa, Academia Brasileira de Letras e dele- gações de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, com a adesão da delegação de observadores da Galiza, constitui um passo importante para a defesa da unidade essencial da língua portu- guesa e para o seu prestígio internacional; Considerando que o texto do Acordo que ora se aprova resulta de um aprofundado debate nos países signatários; A República Popular de Angola, a República Federativa do Brasil, a República de Cabo Verde, a República da Guiné-Bissau, a República de Moçambique, a República Portuguesa e a República Democrática de São Tomé e Príncipe acordam no seguinte: Artigo 1º É aprovado o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que cons- ta como anexo I ao presente instrumento de aprovação, sob a designação de Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), e vai acompanhado da respectiva nota explicativa, que consta como anexo II ao mesmo ins- trumento de aprovação, sob a designação de Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990). Artigo 2º Os Estados signatários tomarão, através das instituições e órgãos competentes, as providências necessáriascom vista à elaboração, até 1º de janeiro de 1993, de um vocabulário ortográfico comum da língua portugue- MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 38 sa1, tão completo quanto desejável e tão normalizador quanto possível, no que se refere às terminologias científicas e técnicas. Artigo 3º O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entrará em vigor em 1º de janeiro de 1994, após depositados os instrumentos de ratificação de todos os Estados junto do Governo de República Portuguesa. Artigo 4º Os Estados signatários adaptarão as medidas que entenderem ade- quadas ao efetivo respeito da data da entrada em vigor estabelecida no arti- go 3º. Em fé do que os abaixo-assinados, devidamente credenciados para o efeito, aprovam o presente Acordo, redigido em língua portuguesa, em sete exemplares, todos igualmente autênticos. Assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990. Pela República Popular de Angola: José Mateus de Adelino Peixo- to, Secretário de Estado da Cultura. Pela República Federativa do Brasil: Carlos Alberto Gomes Chia- relli, Ministro da Educação. Pela República de Cabo Verde: David Hopffer Almada, Ministro da Informação, Cultura e Desportos. Pela República da Guiné-Bissau: Alexandre Brito Ribeiro Furtado, Secretário de Estado da Cultura. Pela República de Moçambique: Luís Bernardo Honwana, Minis- tro da Cultura. Pela República Portuguesa: Pedro Miguel Santana Lopes, Secretá- rio de Estado da Cultura. Pela República Democrática de São Tomé e Príncipe: Lígia Silva Graça do Espírito Santo Costa, Ministra da Educação e Cultura. 1 É evidente que este "vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa" não é o que foi publicado pela Academia Brasileira de Letras neste ano de 2009 em sua 5ª edição, mas outro, que ainda será ela- borado em conjunto com os demais países da CPLP, na fase conclusiva do processo de implementação do Acordo. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 39 EXERCÍCIOS Não deixe de fixar as informações básicas desta lição, respondendo as ques- tões abaixo: 1– Qual era a preocupação ortográfica anterior ao século XVI em Portugal? 2– No século XVI começam a aparecer gramáticas e tratados ortográficos da língua portuguesa. Quais foram? 3– Que foram Fernão de Oliveira, João de Barros, Pero Magalhães de Gân- davo e Duarte Nunes de Leão? 4– Destaque algumas normas ortográficas aprovadas pela Academia Brasi- leira de Letras em 1907 que ainda são atuais. 5– O que lhe lembram as datas: 17 de dezembro de 1910, 15 de fevereiro de 1911, 23 de agosto de 1911, 01 de setembro de 1911 e 12 de setembro de 1911? 6– Que fato importante une as seguintes personalidades do início do século XX? – José Antônio Dias Coelho, Antônio José de Almeida, Carolina Mi- chaëllis de Vasconcelos, Aniceto dos Reis Gonçalves Viana, Antônio Cân- dido de Figueiredo, Francisco Adolfo Coelho, José Leite de Vasconcelos, Antônio José Gonçalves Guimarães, Antônio Ribeiro de Vasconcelos, Au- gusto Epifânio da Silva Dias, Júlio Moreira, José Joaquim Nunes e Manuel Borges Grainha? 7– Que acordo ortográfico foi efetivamente implementado no Brasil? 8– Que documentos regulamentam a ortografia vigente no Brasil desde me- ados do século XX? 9– Qual é a importância de uma ortografia unificada na CPLP? 10– Você acha que o AOLP de 1990 será implementado? Por quê? MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 40 01/04/2011 – O que mudou para os brasileiros com o novo acordo ortográ- fico da língua portuguesa (p. 1-8 e 111-112) MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 41 O QUE MUDOU PARA OS BRASILEIROS COM O NOVO ACOR- DO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em 16 de de- zembro de 1990 por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambi- que, Portugal, São Tomé e Príncipe e, posteriormente, por Timor Leste, que constituem a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), entrará efetivamente em vigor, no Brasil, no dia 1º de janeiro de 2009, conforme o Decreto assinado pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva na Academia Brasileira de Letras (ABL) no dia 29 de setembro de 2008 (centenário de fa- lecimento de Machado de Assis). Aqui, esse Acordo foi aprovado em 18 de abril de 1995, pelo Decre- to Legislativo nº 54, e poderia ter entrado em vigor a partir de 1º de janeiro de 2007, depois que o terceiro país da CPLP o assinou e fez o depósito dos instrumentos de ratificação em Portugal. ACORDO ORTOGRÁFICO Este é um Acordo meramente ortográfico e, portanto, restringe-se à língua escrita, não afetando nenhum aspecto da língua falada, como tem si- do indevidamente divulgado por alguns veículos de comunicação. Não é um acordo radical, que elimine todas as diferenças ortográfi- cas observadas nos países que têm a língua portuguesa como idioma oficial, mas constitui um passo importante em direção a essa pretendida unificação. O ACORDO SERIA NECESSÁRIO MESMO? A língua portuguesa ainda tem um sistema ortográfico português e um brasileiro, sendo que o português é adotado também pelos outros seis países que integram a CPLP. Essa duplicidade é consequência do fracasso do Acordo assinado em 1945 e adotado pelos portugueses, mas recusado pe- MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 42 los brasileiros, que preferiram manter as normas estabelecidas pelas Instru- ções para a Organização do Vocabulário Ortográfico da Língua Portugue- sa aprovadas pela Academia Brasileira de Letras a 12/08/1943, adotadas oficialmente através da Lei nº 2.623, de 21/10/1955, e simplificadas pela Lei nº 5.671, de 18/12/1971. As diferenças são pequenas, mas a dupla ortografia dificulta a difusão internacional da língua (por exemplo, os testes de proficiência têm de ser du- plicados), além de aumentar os custos editoriais, na medida em que um livro, para circular em todos os territórios da lusofonia, precisa normalmente ter du- as impressões diferentes. No Acordo assinado em 1990, estipulou-se a data de 1º de janeiro de 1994 para a entrada em vigor da ortografia unificada, depois de ratificado pelos parlamentos de todos os países da CPLP. Contudo, por várias razões, o processo de ratificação não se deu conforme se esperava e o Acordo não pôde entrar em vigor. Diante dessa situação, em 2004, decidiram que bastaria a manifesta- ção ratificadora de três dos oito países para que ele passasse a vigorar. Por isto, como em novembro de 2006 São Tomé e Príncipe o ratificou, fazendo o depósito do instrumento de ratificação em Portugal, em princípio, está vi- gorando e deveríamos implementá-lo desde 1º de janeiro de 2007. No en- tanto, embora o Brasil tenha sido sempre o maior defensor da unificação, só agora determinou seu calendário oficial, que irá de 2009 a 2012, tendo aguardado a decisão do governo português. NO ALFABETO NÃO HOUVE MUDANÇA, MAS ACEITAÇÃO DA REALIDADE O alfabeto volta, oficialmente, a ter 26 letras, porque foram reintroduzidos o k, o w e o y1, que nunca deixaram de ser utilizados, apesar de não incluídos como letras do alfabeto: A (á), B (bê), C (cê), D (dê), E (é), F (efe), G (gê ou guê), H (agá), I (i), J (jota), K (cá), L (ele), M (eme), N (ene), O (ó), P (pê), Q (quê), R (erre), S (esse), T (tê), U (u), V (vê), W (dáblio), X (xis), Y (ípsilon), Z (zê), reconhecendo-se a necessidade daquelas letras em algumas situações especiais, como na escrita de símbolos de unidades de medida: km 1 A letra k ésempre consoante, a letra y é sempre vogal ou semivogal, mas a letra w pode ser consoan- te, vogal, semiconsoante ou semivogal, dependendo da origem e do contexto. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 43 (quilômetro), kg (quilograma), W (watt) e na escrita de palavras e nomes es- trangeiros (e seus derivados): show, playboy, playground, William, kaiser, Kafka, kafkaniano. (Vide item DO ALFABETO E DOS NOMES PRÓPRIOS ES- TRANGEIROS E SEUS DERIVADOS, p. 186 e seguintes). AS MUDANÇAS As poucas mudanças que ocorrem na ortografia brasileira correspon- dem a alguns casos da acentuação gráfica, a algumas simplificações no uso do hífen e a outras no uso obrigatório de letras iniciais maiúsculas; simplifi- cando o sistema anterior nos três casos e tornando-o mais racional. Não chega a atingir uma em cada duzentas palavras. TREMA Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a letra u para indi- car que ela deve ser pronunciada nos grupos gue, gui, que, qui, de modo que agüentar passa a ser escrito como aguentar, argüir passa a arguir, bi- língüe passa a bilíngue, cinqüenta passa a cinquenta, delinqüente passa a delinquente, eloqüente passa a eloquente, ensangüentado passa a ensan- guentado, eqüestre passa a equestre, freqüente passa a frequente, lingüeta passa a lingueta, lingüiça passa a linguiça, qüinqüênio passa a quinquênio, sagüi passa a sagui, seqüência passa a sequência, seqüestro passa a seques- tro.1 MUDANÇAS NAS REGRAS DE ACENTUAÇÃO GRÁFICA Não se usa mais o acento nos ditongos2 abertos éi e ói das palavras paroxítonas, de modo que alcatéia passa a alcateia, assembléia passa a as- 1 Permanece, entretanto, em palavras estrangeiras e em suas derivadas, como em Michaëllis, Müller, mülleriano etc. e em textos nos quais o autor quer marcar estilisticamente a pronúncia da respectiva vo- gal, assim como se faz com o uso das letras maiúsculas, com a hifenização, com a apostrofação etc. 2 Ditongo é o encontro de vogal e semivogal na mesma sílaba: debaixo, mau, feito, ideia, escreveu, réu, sorriu, apoio, herói, sou, gratuito, pão, pães, cãibra, irmão, leões, muito, água, equestre, ligueta, tran- quilo, quórum, quanto, aguentar, quinquênio. (Cf. PROENÇA FILHO, 2009, p. 18). Em regra, é decres- MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 44 sembleia, colméia passa a colmeia, Coréia passa a Coreia, epopéia passa a epopeia, estréia passa a estreia, estréio (verbo estrear) passa a estreio, ge- léia passa a geleia, idéia passa a ideia, odisséia passa a odisseia, platéia passa a plateia; alcalóide passa a alcaloide, andróide passa a androide, apóia (verbo apoiar) passa a apoia, apóio (verbo apoiar) passa a apoio, bóia passa a boia, celulóide passa a celuloide, clarabóia passa a claraboia, debi- lóide passa a debiloide, estóico passa a estoico, heróico passa a heroico, ji- bóia passa a jiboia, jóia passa a joia, paranóia passa a paranoia, tramóia passa a tramoia etc.1 Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no u tônicos quando vierem depois de um ditongo, visto que, rigorosamente, não são as segundas vogais de hiatos2, pois estes consistem no encontro de duas vogais em sílabas vizinhas. Assim, acaiúra passa a acaiura, bacaiúba passa a ba- caiuba, baiúca passa a baiuca, bocaiúva passa a bocaiuva, cauíla passa a cauila, feiúla passa a feiula, feiúra passa a feiura, guaraiúba passa a guaraiu- ba, iaraiúba passa a iaraiuba, maiuíra passa a maiuira, peiúdo passa a peiu- do, seiúda passa a seiuda, tarauíra passa a tarauira.3 Não se usa mais o acento circunflexo das palavras terminadas em eem e oo(s). Por isto, abençôo passa a abençoo, crêem (verbo crer) passa a creem, dêem (verbo dar) passa a deem, abalrôo (verbo abalroar) passa a abalroo, abençôo (verbo abençoar) passa a abençoo, abordôo (verbo abor- doar) passa a abordoo, acanôo (verbo acanoar) passa a acanoo, afeiçôo (verbo afeiçoar) passa a afeiçoo, aferrôo (verbo aferroar) passa a aferroo algodôo (verbo algodoar) passa a algodoo, apadrôo (verbo apadroar) passa a apadroo, aperfeiçôo (verbo aperfeiçoar) passa a aperfeiçoo, apregôo (verbo apregoar) passa a apregoo, dôo (verbo doar) passa a doo, enjôo passa a enjoo, lêem (verbo ler) passa a leem, magôo (verbo magoar) passa a ma- cente. Exceções ocorrem apenas quando precedidos das consoantes “q” e “g”: gua (guará), gue (aguen- tar), gui (sagui), guo (ambíguo), qua (quatro), que (frequentar), qui (tranquilo), quo (quociente). 1 Em palavras oxítonas, entretanto, continuam sendo acentuados os ditongos éi, éu e ói, como em pa- péis, céu, chapéus, corrói, anzóis etc, assim como em paroxítonas terminadas em r, como Méier e des- tróier. 2 Hiato é “o encontro de duas vogais, cada uma pertencente a uma sílaba do vocábulo: I-ta-ja-í, sa-í-da, Gra-ja-ú, sa-ú-de.” (PROENÇA FILHO, 2009, p. 18) 3 Continuam sendo acentuados nas palavras oxítonas ou proparoxítonas e nas paroxítonas que não fo- rem precedidas de ditongo, como em tuiuiú, tuiuiús, tatuí, Piauí, açaí, piíssimo, maiúsculo, cafeína, saí- da, saúde, viúvo, saístes, saúva. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 45 goo, perdôo (verbo perdoar) passa a perdoo, povôo (verbo povoar) passa a povoo, vêem (verbo ver) passa a veem, vôos passa a voos, zôo passa a zoo etc.1 Fica abolido, nas formas verbais rizotônicas (que têm o acento tôni- co2 na raiz), o acento agudo do u tônico precedido de g ou q e seguido de e ou i. (gúe, gúes, gúem, gúi, gúis, qúe, qúes, qúem). Com isto, elimina-se uma regra que não tem apoio fonético, em palavras como: averigúe, apazi- gúe e argúem, que passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem; en- xague, enxagues, enxaguem, delinques, delinque, delinquem. Verbos como esses passam a admitir dupla pronúncia, sendo legítimas também formas como averígues, apazígue, apazíguem, apazígues, averígue, averíguem, en- xágues, enxágue, enxáguem, delínques, delínque, delínquem. Deixa de existir o acento diferencial de intensidade em palavras co- mo para (á), flexão do verbo parar, e para, preposição; pela(s) (é), substan- tivo e flexão do verbo pelar, e pela(s), combinação da preposição per e o ar- tigo a(s); polo(s) (ó), substantivo, e polo(s), combinação antiga e popular de por e lo(s); pelo (é), flexão de pelar, pelo(s) (ê), substantivo, e pelo(s) com- binação da preposição per e o artigo o(s); pera (ê), substantivo (fruta), pera (é), substantivo arcaico (pedra) e pera preposição arcaica.3 1 Naturalmente, palavras como herôon se acentuam graficamente porque são paroxítonas terminadas em on. 2 Na gramática de nossa língua, chama-se de acento tônico ao destaque feito em uma sílaba do vocábu- lo, pronunciando-a com maior força que as demais. A sílaba em que está o acento tônico é chamada de sílaba tônica. 3 A palavra “forma” (fôrma) passa a ter grafia facultativa (com ou sem o acento diferencial de timbre). Permanece o acento diferencial de timbre em pôde / pode: pôde (pretérito perfeito do indicativo) e pode (presente do indicativo). Exemplo: Ontem ele não pôde sair mais cedo, mas hoje ele pode. Permanece o acento diferencial de intensidade em pôr / por. Pôr é verbo. Por é preposição. Exemplo: Vou pôr o livro na estante feita por mim. Permanece o acento diferencial morfológico nos verbos ter, vir e seus derivados. Exemplos: ele tem e eles têm; ele vem e eles vêm; ele mantém e eles mantêm, ele convém e eles convêm, ele detém e eles detêm, ele intervém e eles intervêm. Em respeito à pronúncia cultade toda a lusofonia, palavras que têm pronúncia diferenciada, principal- mente as vogais nasais ou nasalizadas, podem ser grafadas com acento circunflexo ou acento agudo, como as proparoxítonas econômico/económico, acadêmico/académico, as paroxítonas fêmur/fémur, bô- nus/bónus e as oxítonas bebê/bebé, canapê/canapé, ou ainda metrô/metro etc. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 46 USO DO HÍFEN O hífen é um sinal gráfico mal sistematizado na ortografia da língua portuguesa, cujas regras o Acordo atual tentou organizar, de modo a tornar seu uso mais racional e simples, alterando algumas das anteriores. As observações a seguir se referem ao uso do hífen em palavras for- madas por prefixos1 ou por elementos que podem funcionar como prefixos, como: aero, agro, além, ante, anti, aquém, arqui, auto, circum, co, contra, eletro, entre, ex, extra, geo, hidro, hiper, infra, inter, intra, macro, micro, mini, multi, neo, pan, pluri, proto, pós, pré, pró, pseudo, retro, semi, sobre, sub, super, supra, tele, ultra, vice etc. 1) Com os prefixos, em geral, usa-se o hífen diante de palavra inicia- da por h2. Exemplos: anti-higiênico, anti-histórico, co-herdeiro, macro- história, mini-hotel, proto-história, sobre-humano, super-homem, ultra- humano. 2) Usa-se o hífen quando o prefixo termina por uma letra (vogal ou consoante) e o segundo elemento começa pela mesma letra.3 Exemplos: an- ti-ibérico, anti-imperialista, anti-inflacionário, anti-inflamatório, auto- observação, contra-almirante, contra-atacar, contra-ataque, infra-axilar; micro-ondas, micro-ônibus, semi-internato, semi-interno, hiper-requintado, inter-racial, inter-regional, inter-resistente, sub-base, sub-bibliotecário, sub-bloco,4 super-racista, super-reacionário, super-resistente, super- revista, super-romântico, supra-auricular.5 1 Prefixo é o morfema ou elemento mórfico que altera o sentido do radical (elemento que encerra o nú- cleo do sentido), a que se agrega e antecede. Exemplos: refazer, inútil, desordem. Os termos que têm o mesmo radical são chamados de cognatos. Exemplos: amar, amor, amigo etc. 2 Mantêm-se sem o hífen as palavras formadas com os prefixos des, in e re nas quais o segundo ele- mento perde o h inicial, como em desabilitar, desabituar, desarmonia, deserdar, desipnotizar, desipote- car, desonestar, desonrar, desumano, inábil, inabitual, inóspito, inumano, reaver, reabilitar, reidratar, reumanizar, reomenagear, reumificar etc. 3 Quando o primeiro elemento termina em vogal e o segundo elemento começa com s ou r, estas conso- antes são duplicadas para manter o fonema representado pelas letras r e s iniciais. Exemplos: antirreli- gioso, antissemita, contrarregra, infrassom. 4 Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra iniciada por r: sub-raça, sub-região, sub- reitor, sub-repticio, sub-rogar etc., para evitar o abrandamento da pronúncia do r. 5 O prefixo co se aglutina em geral com o segundo elemento, mesmo quando este se inicia por o: coo- brigar, coobrigação, coordenar, cooperar, cooperação, cooptar, coocupante, coordenar etc. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 47 3) Com os prefixos além, aquém, ex, pós, pré, pró, recém, sem e vice o hífen sempre é utilizado. Exemplos: além-mar, além-túmulo, aquém- mar, ex-aluno, ex-diretor, ex-hospedeiro, ex-prefeito, ex-presidente, pós- graduação, pós-moderno, pré-história, pré-vestibular, pré-primário, pré- fabricado, pró-reitor; pró-europeu, recém-casado, recém-nascido, sem- terra, sem-teto, vice-rei, vice-almirante etc. 4) Deve-se usar o hífen com os sufixos1 [ou radicais pospositivos] de origem tupi-guarani: açu, guaçu e mirim. Exemplos: acará-açu, tamanduá- açu, inambu-guaçu, sabiá-guaçu, anajá-mirim, Ceará-mirim etc. 5) Deve-se usar o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasio- nalmente se combinam, formando não propriamente vocábulos2, mas enca- deamentos vocabulares. Exemplos: ponte Rio-Niterói, eixo Rio-São Paulo, rodovia Rio-Bahia.3 6) Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição. Exemplos: girassol, madressilva, mandachuva, paraque- das, paraquedista, pontapé4. 7) Para clareza gráfica, se no final da linha a partição de uma palavra ou combinação de palavras coincidir com o hífen, ele deve ser repetido na Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de palavra iniciada por h, m, n e vogal: circum- adjacente, circum-mediterrâneo, circum-murar, circum-navegação, pan-americano, pan-helenismo, pan- mítico etc. 1 “Sufixo é o morfema ou elemento mórfico que altera o sentido do radical que o an tecede e ao qual se agrega” (PROENÇA FILHO, 2009, p. 22), como em agitação, beleza, festança. 2 Eis como Domício Proença Filho (2009, p. 19) define vocábulo e palavra: “Em termos elementares, entende-se por vocábulo a palavra considerada em sua configuração fônica, ou seja, em função dos fo- nemas, das sílabas, da acentuação tônica que a caracterizam. Palavra é o vocábulo considerado em sua significação, em função do sentido de que se reveste. Envolve, portanto, aspectos fônicos e aspectos semânticos. No uso comum, os termos funcionam como sinônicos.” 3 Aqui houve uma sutil mudança, que reconhece a validade do uso em prejuízo da regra anteriormente estabelecida e quase sempre desrespeitada. A norma ortográfica que seguimos desde 1943, que é o “Formulário Ortográfico do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa” determina, em seu parágrafo 52: “Emprega-se o travessão, e não o hífen, para ligar palavras ou grupos de palavras que formam, pelo assim dizer, uma cadeia na frase: O trajeto Mauá – Cascadura; a estrada de ferro Rio – Petrópolis; a li- nha aérea Brasil – Argentina; o percurso Barcas – Tijuca; etc.” 4 A quinta edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela Academia Brasileira de Letras recentemente (Academia, 2009), registrou os exemplos excepcionais elencados pelo Acordo, como estes e muitos outros, mas não acrescentou outros, deixando isto para uma próxima etapa, quan- do for redigido o "vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa" referido no Artigo 2º do Acordo. MANUAL DE ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA página 48 linha seguinte. Exemplos: Em nossa cidade, conta-se que ele foi viajar. O diretor do Código Brasileiro recebeu os ex-alunos. 7) Para clareza gráfica, se no final da linha a partição de uma palavra ou combinação de palavras coincidir com o hífen, ele deve ser repetido na linha seguinte. Exemplos: Em nossa cidade, conta-se (conta--se, se a divi- são interlinear estiver aqui) que ele foi viajar. O diretor do Código Brasilei- ro recebeu os ex-alunos (ex--alunos, se a divisão interlinear estiver aqui). O CASO DAS LETRAS MAIÚSCULAS O uso obrigatório de letras iniciais maiúsculas fica restrito a nomes próprios de pessoas (João, Maria, Dom Quixote), lugares (Curitiba, Rio de Janeiro), instituições (Instituto Nacional da Seguridade Social, Ministério da Educação) e seres mitológicos (Netuno, Zeus); a nomes de festas (Natal, Páscoa, Ramadão); na designação dos pontos cardeais quando se referem a grandes regiões (Nordeste, Oriente); nas siglas (FAO, ONU); nas iniciais de abreviaturas1 (Sr., Gen, V. Exª); e nos títulos de periódicos (Folha de S. Paulo, Gazeta do Povo). Ficou facultativo usar a letra maiúscula nos nomes que designam os domínios do saber (matemática ou Matemática), nos títulos (Carde- al/cardeal Seabra, Doutor/doutor Fernandes, Santa/santa Bárbara) e nas ca- tegorizações de logradouros públicos (Rua/rua da Liberdade), de templos (Igreja/igreja
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