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áreas a 54,6% de brasileiros; 36% de argentinos; 4,7% de uruguaios, 3,8% de paraguaios e 0,9% de bolivianos. ELIANA ZUGAIB136 brasileiro300. A bacia hidrográfica do Paraná-Paraguai é a mais importante do sistema do Prata, em termos de descarga (75%) e área de drenagem (84%)301, e cobre extensa região de 2.605.000 km² no Brasil, na Argentina, no Paraguai e na Bolívia. O rio Paraná, o maior deles, drena 58% da Bacia do Prata, passando pelos territórios do Brasil (59%), da Argentina (37,4%) e do Paraguai (3,6%). Enquanto o rio Paraguai, seu tributário mais importante, banha o restante da Bacia, atravessando áreas do Brasil (33.3%), do Paraguai (33,3%), da Argentina (16,7%) e da Bolívia (16,7%)302. Esses rios estão divididos, do ponto de vista da navegação comercial, em três seções distintas, respectivamente, o alto, o médio e o baixo Paraná e o alto, o médio e o baixo Paraguai. Conformada pelos principais rios do sistema do Prata, a HPP nasce no rio Paraguai, na localidade de Cáceres, situada no interior do estado do Mato Grosso, inclui o Canal Tamengo e continua até sua desembocadura no rio Paraná, de onde se prolonga para atingir seu ponto extremo, o Porto de Nova Palmira, sobre a desembocadura do rio Uruguai, na banda oriental do Prata (ANEXO – Figura 4). Apesar de existir relativa homogeneidade nas características hidrológicas e morfológicas ao longo dos 3.442 km de hidrovia, há sensíveis diferenças nas condições de navegabilidade, sobretudo nas épocas de estiagem, que, no âmbito do projeto HPP, levaram a sua divisão em quatro trechos desde a nascente até a desembocadura, representativos daquelas diferenças. O primeiro deles compreende 413 km, de Cáceres a Ponta do Morro; o segundo, de Ponta do Morro à Foz do Rio Apa, num percurso de 858 km; o terceiro, da Foz do Rio Apa à confluência do rio Paraná, em extensão de 932 km; e o quarto, da confluência do rio Paraná ao 300 Castro, op. cit., p. 124. 301 PONCE, Victor M. Descrição Geográfica, Pantanal e Hidrovia. Disponível em <http://ponce.sdsu. edu/hidroviareportportuguesechapter2.html>. Acesso em: 25 nov.2003. Menção a Bonetto (1975). 302 Ibidem. Menção a Anderson et al. (1993). 137A HIDROVIA PARAGUAI-PARANÁ (HPP) rio da Prata, com 1240 km303 (ANEXO – Tabela 2). A Argentina é o país que possui a maior frente fluvial da Hidrovia, com 1661 km, dos quais 375 compartilhados com o Paraguai, seguida do Brasil, com 1653 km, sendo que nessa extensão 393 são lindeiros com o Paraguai e 48 com a Bolívia. O Paraguai coloca-se em terceiro lugar, com 1321 km, dos quais 563 passam exclusivamente em seu território; e, em quarto lugar, encontra-se a Bolívia, com apenas 48 km compartilhados com o Brasil. O Uruguai não dispõe de nenhum trecho304. Para se compreenderem os objetivos do projeto de melhoria das condições de navegabilidade da HPP, é importante ter presente as características físicas e hidrológicas dos rios que a formam e o valioso ecossistema que encerra, em grande medida ainda inalterado, no qual se inclui o Pantanal Mato-Grossense. 1.1. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS GEOMORFOLÓGICAS DOS RIOS PARAGUAI E PARANÁ E SUAS IMPLICAÇÕES PARA AS CONDIÇÕES NATURAIS DE NAVEGABILIDADE E INTERVENÇÕES DE MELHORIA Ao compreender os rios Paraguai e Paraná, e levando-se em conta sobretudo sua longa extensão, a HPP oferece condições naturais de navegação consideradas bastante satisfatórias, limitando-se as restrições de calado a alguns meses e a anos críticos305. De fato, à exceção dos rios da Bacia Amazônica, nenhuma outra via fluvial do mundo, em condições naturais, permite o tráfego contínuo de 303 GRUPO DE TRABAJO AD HOC DE LOS PAÍSES DE LA CUENCA DEL PLATA. Hidrovía Paraguay-Paraná. Estudio de Pré-Factibilidad. [S.l], nov. 1988. p. 22. 304 FRAGA, Jorge Alberto. Cuenca del Plata, Río de la Plata e Hidrovía; tendencias geopolíticas y esfuerzos de integración. In: Revista de la Escuela Nacional de Inteligencia. Secretaría de Inteligencia de Estado, República Argentina, v. II, n. 1, p. 119, primer cuatrimestre, 1993. Ver também em CAF. Los Ríos nos unen. Integración Fluvial Suramericana, op. cit., p. 178. 305 INTERNAVE ENGENHARIA. Hidrovia Paraguai-Paraná. Estudo de Viabilidade Econômica. Relatório Final. Volume I, item 1.4/1, cópia disponível no arquivo do CIC. ELIANA ZUGAIB138 embarcações de 1,5 m de calado, durante todo o tempo, na maioria dos anos, por mais de 3.400 km306. Um dos problemas que se colocam, principalmente no rio Paraguai e em menor grau no rio Paraná, com conseqüências para a navegabilidade de seus cursos, está relacionado com seu regime hidrológico anormal, que provocou a interrupção do tráfego no rio Paraguai, especificamente no trecho Corumbá/Puerto Quijarro onde se encontravam as minas de ferro de Mutum e Urucum, em período de águas baixas, entre 1962 e 1973307. Com o período de águas altas, em 1974, reiniciou-se de forma ativa a navegação no rio Paraguai, particularmente com o transporte de minério de ferro e manganês, soja e seus subprodutos, trigo, petróleo, calcário para a produção de cimento e produtos florestais. De acordo com estudos realizados, o aumento das águas do rio Paraná, a partir de 1972, deveu-se à construção de inúmeras represas em território brasileiro, a partir do anos 50, o que não aconteceu com respeito ao rio Paraguai. Considera-se, portanto, provável a repetição de períodos prolongados de águas baixas308. O regime hidrológico da HPP apresenta período de águas baixas entre julho e novembro e de águas altas entre dezembro e abril, sendo que este último coincide com a época da colheita de cereais e, portanto, de tráfego mais intenso. Existe, contudo, no sistema platino, ordem natural sui generis, graças à complementaridade de seus recursos hídricos. Estudos realizados indicam que as boas condições de navegabilidade dos rios Paraguai e Paraná se devem ao efeito regulador das áreas inundadas do Pantanal 306 Grupo de Trabalho Ad Hoc de los Países de la Cuenca del Plata. op. cit., p. 20. 307 INSTITUTO DE INVESTIGACIONES ECONÓMICAS (I.I.E.). El Balance de la Economía Argentina. Alianzas Inter-Regionales. Córdoba, Argentina: Talleres Gráficos de Ediciones Eudecor SRL, 2003. pp. 103, 104. 308 Idem. p. 104. Ver também em D’ALMEIDA, Carlos Eduardo. Características e viabilidade técnica e econômica da Hidrovia. In: OPORTUNIDADES EMPRESARIAIS NA HIDROVIA PARAGUAI-PARANÁ, 1990, São Paulo. A Hidrovia Paraguai-Paraná: oportunidades empresariais (síntese dos trabalhos apresentados). São Paulo: ILAM, 1990. p. 14. 139A NAVEGAÇÃO NOS RIOS DA BACIA DO PRATA Mato-Grossense, ao baixíssimo declive daqueles rios e à defasagem do regime pluviométrico entre as bacias de seus tributários309. 1.2. CARACTERÍSTICAS DO RIO PARAGUAI O rio Paraguai, com 2.500 km de extensão, nasce no estado do Mato Grosso, na serra de Tapirapuã, perto de Vila de Parecis, e torna-se navegável a 250 km, águas abaixo, nas proximidades de Cáceres, para então ingressar, em distância de 30 km, na região do Pantanal310, pela qual percorre aproximadamente 300 km. O trecho de 650 km entre Porto Cáceres e Corumbá, de muita sinuosidade e pouca profundidade, mais que duplica a distância em linha reta e as maiores dificuldades localizam-se acima da confluência de seu afluente, o rio Cuiabá, com obstáculos sérios em seu leito e profundidades de apenas 2 ou 3 metros nos pontos críticos no período de estiagem311. Em estudo pioneiro do engenheiro Luis Tossini, realizado no ano de 1931, lê-se “desde Cáceres a Barra Norte de Bracinho – unos 160 kilómetros – el río Paraguay sigue un curso sinuoso en un valle entre colinas bajas y una llanura aluvial bien definida”312. 309 Grupo de Trabalho Ad Hoc de los Países de la Cuenca Del Plata. op. cit., p. 20. O Paraná cresce no verão e tem seus volumes mínimos no inverno, porém, um de seus principais afluentes, o rio Iguaçu, que contribui