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Personalidade Criminosa

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Personalidade Criminosa
Cogita-se a existência de determinada personalidade inclinada significativamente para o 
crime. 
A criminalidade atual tem constatado violações cada vez mais peculiares da lei, da moral e da ética, 
tem se surpreendido pela produção de delitos em faixas etárias cada vez menores, pela atitude 
criminosa cada vez mais presente em pessoas "normais", do ponto de vista sócio-cultural, por 
delitos motivados cada vez mais por questões de difícil compreensão. Isso tudo exige novas 
reflexões sobre as relações entre a psicopatologia e o ato delituoso. 
Cogitar sobre a existência de uma personalidade propensa ao crime e ao delito sempre foi uma 
preocupação de muitos autores da sociologia, psiquiatria e antropologia. Alguns identificam nessas 
pessoas naturalmente más, portadores de Transtorno Anti-Social da Personalidade, ou Sociopatas, 
ou Psicopatas e coisas assim. Vamos refletir sobre algumas questões dessa natureza. 
Será o criminoso responsável pelos seus atos ou vítima de um estado doentio? 
A sociedade em geral e, em particular, a justiça penal, carecem de noções mais precisas 
corroborando ou contestando da forma mais clara possível, a idéia de Traços de Personalidade ou de 
uma Personalidade Criminosa determinante de comportamentos delinqüentes. Essa também é a 
grande dúvida da psiquiatria. 
Especular sobre o grau de noção ou de juízo crítico que o criminoso tem de seu ato, e até que ponto 
ele seria senhor absoluto de suas ações ou servo submisso de sua natureza biológica, social ou 
vivencial, sempre foi preocupação da sociologia, antropologia e psiquiatria. Isso se aplica aos 
inúmeros casos de assassinos seriais, estupradores contumazes, gangues de delinqüentes, 
traficantes, estelionatários, etc, etc. 
Como veremos nessa revisão, dois pontos se destacam na literatura mundial; primeiro, é que parece 
aceito, unanimemente, a existência de determinada personalidade marcantemente criminosa ou, ao 
menos, inclinada significativamente para o crime. Em segundo, que a diferença principal entre as 
várias tendências doutrinárias diz respeito à flexibilidade ou inflexibilidade dessa personalidade 
criminosa, atribuindo ora uma predominância de fatores genéticos, ora de fatores emocionais e 
afetivos e, ora ainda, fatores sociais e vivenciais. E essa última questão estará diretamente 
relacionada ao arbítrio, juízo e punibilidade do infrator. 
A ocasião faz o ladrão ou existe o Livre Arbítrio?
Monomania Homicida, um termo curioso, foi proposto por Esquirol em 1838 para designar certas 
formas de loucura, cujo único sintoma evidente seria uma desordem ética e moral, propensa à 
prática de crimes. Talvez se tratasse de uma exigência mais social que médica, numa tentativa da 
sociedade segregar as duas figuras mais temidas do desvio da conduta humana; o louco alienado e o 
criminoso cruel. Esta posição nosográfica foi reforçada por Prichard, alguns anos depois de 
Esquirol, com seus trabalhos sobre uma tal Loucura Moral. 
Hoje, séculos e nomenclaturas depois, existem na CID.10 critérios de diagnóstico para a 
Personalidade Dissocial, caracterizada por um desprezo das obrigações sociais, falta de empatia 
para com os outros e por um desvio considerável entre o comportamento e as normas sociais. 
Neste tipo de personalidade há uma baixa tolerância à frustração e baixo limiar de descarga da 
agressividade, inclusive da violência, existe também uma tendência a culpar os outros ou a fornecer 
racionalizações duvidosas para explicar um comportamento de conflito com a sociedade. Seriam 
sinônimos dessa Personalidade Dissocial: 
Personalidade Amoral, 
Personalidade Anti-social, 
Personalidade Associal, 
Personalidade Psicopática e a 
Personalidade Sociopática. 
No DSM.IV, por sua vez, a característica essencial do transtorno da Personalidade Anti-Social seria 
um padrão de desrespeito e violação dos direitos dos outros, padrão este também conhecido como 
psicopatia, sociopatia ou transtorno da personalidade dissocial. O engodo e a manipulação 
maquiavélica das outras pessoas são aspectos centrais neste transtorno da Personalidade, no qual 
ocorre também violação de normas ou regras sociais importantes. Os comportamentos criminosos 
ou delinqüenciais característicos desse transtorno de personalidade englobam a agressão a pessoas e 
animais, destruição de propriedade, defraudação ou furto e séria violação de regras. 
As pessoas com transtorno da Personalidade Anti-Social não se conformam às normas legais, 
desrespeitam os direitos ou sentimentos alheios, enganam ou manipulam os outros a fim de obter 
vantagens pessoais, mentem repetidamente, ludibriam e fingem. Esses indivíduos costumam ainda 
ser irritáveis ou agressivos.
A dúvida que costuma acometer a maioria dos psiquiatras diz respeito à existência ou não de um 
real componente psicopatológico atrelado a Sociopatia. Michel Foucault, por exemplo, contestava 
essa entidade estranha e paradoxal inventada pela psiquiatria do Século XIX, que era a Monomania 
Homicida ou a Loucura Moral, e que caracterizava crimes que não eram senão uma forma de 
loucura ou, mais grave ainda, uma loucura que não se revela senão através do crime. 
A discussão que sempre existiu sobre a conduta humana se dá entre dois argumentos causais: o 
Livre Arbítrio da pessoa, o qual implica na conseqüência e eventual punibilidade dos atos de todas 
as pessoas e, por outro lado, na Constituição Biológica, como uma fatalidade orgânica que empurra 
a pessoa a agir dessa ou daquela forma (maniqueistamente). 
O reconhecimento da existência de uma personalidade em estado perigoso (periculosidade), fez 
com que a sociedade não se preocupasse mais, e exclusivamente, com a gravidade do ato criminoso 
mas, sobretudo, com a incômoda e problemática natureza do criminoso. A noção de Periculosidade, 
então, nasceu da conceituação de alguma patologia incrustada na personalidade do criminoso, tal 
como a antiga Monomania Homicida, atenuando assim a responsabilidade plena dos atos cometidos 
e, ao mesmo tempo, prevenindo a sociedade da presença incômoda desses mutilados éticos através 
da segregação manicomial. 
Apesar de hoje em dia não ser mais aceita a noção simplória da Monomania Homicida, antes de ser 
abandonada essa idéia estimulou a esdrúxula Teoria da Degenerescência, desenvolvida por Morel 
em 1857 e embasada por outros autores de grande expressão. Na realidade, foi a partir da 
Degenerescência da espécie humana, de Morel, através de seus simpatizantes ou contestadores, que 
se desenvolveram as mais variadas teorias biológicas, psicológicas, sociológicas e antropológicas 
sobre o crime, criminalidade e criminoso que hoje conhecemos. 
Inicialmente tivemos as conhecidas idéias de Lombroso, através de seus estudos morfológicos e 
anatômicos, na tentativa de conhecer mais profundamente a natureza do ser humano criminoso. Ele 
pressupunha um conjunto de estigmas biológicos e anatômicos que caracterizariam o criminoso e 
revelariam nele a reminiscência de um nível inferior da escala do desenvolvimento humano. Era 
uma espécie de determinismo biológico que marcava profundamente essas pessoas tidas como sub-
humanas. 
Nessa época distinguia-se apenas dois tipos de criminosos; o criminoso ocasional, representado por 
uma pessoa normal e fortuitamente criminosa sob influência de diversas circunstâncias e o 
criminoso nato, de natureza diferente da do homem normal, instintivo e cuja inclinação para o 
crime resultava de uma organização própria de sua biologia. Esse conceito em nada difere o Louco 
Moral do atual Sociopata. 
Em seguida, Lombroso passou a classificar os criminosos em 5 tipos: 
1. O Criminoso Nato, segundo ele representado pela 
maioria dos casos era, como o próprio nome indica, 
portador de um patrimônio genético causador de sua 
criminalidade. Ele é seria o resquício do Homem 
Selvagem, uma espécie de subtipo humano, enfim, umser degenerado.
2. O Criminoso Louco ou Alienado, no qual existia 
uma perturbação mental associada ao comportamento 
delinqüente, considerado como um Louco Moral ou um 
Perverso Constitucional.
3. O Criminoso Profissional, que não possui os 
estigmas biológicos inatos, como os anteriores, mas 
que se tornava criminoso por forças e pressões do seu 
meio. Este criminoso começa por um crime ocasional e 
pode reincidir.
4. O Criminoso Primário, que cometerá um ou outro 
delito por força de um conjunto de fatores 
circunstanciais do meio, mas não tenderia para a 
reincidência. De acordo com Lombroso, estes eram 
ainda predispostos por hereditariedade para o crime, 
mas não possuíam uma tendência genética para ele 
(?). Para Ferri (Peixoto), seriam, ao contrário do ditado 
que diz "a ocasião faz o ladrão", ladrões já prontos e 
aguardando a melhor ocasião para roubar.
5. O Criminoso por Paixão, vítima de um humor 
exaltado, de uma sensibilidade exagerada, "nervoso", 
explosivo e inconseqüente, a quem a contrariedade 
dos sentimentos leva por vezes a cometer atos 
criminosos, impulsivos e violentos, como solução para 
as suas crises emocionais.
O que é determinismo criminoso ?
Apesar dos estudos de Lombroso terem se limitado às relações entre anatomia e crime, entendendo-
se este como uma espécie de anomalia morfológica, sua contribuição foi fundamental para o 
enriquecimento do conceito holístico do ser humano. Garofalo, na mesma linha das concepções 
genéticas e constitucionais, atribuía maior importância aos aspectos morais e psicológicos do que 
aos elementos anatômicos. Ele passou a defender o ponto de vista, segundo o qual, os criminosos 
possuiriam uma anomalia moral e psíquica, uma espécie de lesão ética, responsável pela prática da 
delinqüência. A predeterminação da personalidade ao crime caminhou, então, da anatomia 
defeituosa à lesão ética. De qualquer forma, não se falava em livre arbítrio do criminoso. 
Foi nesta ocasião que Colajanni, defendendo também a predisposição psíquica do delinqüente, 
sugeriu à criminologia o conceito de periculosidade; uma perversidade constitucional e ativa no 
delinqüente, bem como uma certa quantidade de maldades que se podia esperar dele, quase 
automaticamente. Nesta mesma época, partindo ainda das concepções biológicas de Lombroso, 
Enrico Ferri, elaborou um dos primeiros modelos integrativo do direito com a psiquiatria e com a 
sociologia, valorizando como um importante fator na determinação do crime, além da predisposição 
psíquica, também o meio social onde se inseria o criminoso. Ainda assim não se falava em juízo 
crítico e arbítrio do contraventor; ora era a biologia a responsável pelo delito, ora a tal Lesão Ética, 
ora a psicologia claudicante do criminoso e, finalmente, poderia ser também o meio social propício 
ao crime. 
Se Lombroso despertou uma série de conceitos posteriores baseados na importância da constituição 
biológica, não lhe faltaram opositores. Os autores mais modernos achavam demasiadamente 
retrógrada a idéia do determinismo biológico de Lombroso, e alguns preferiam o determinismo 
social. 
Embora essa nova migração das influências criminais, do biológico para o social, dava a impressão 
de chique avanço intelectual, continuava sendo determinista do mesmo jeito. O criminoso 
continuava objeto de forças emancipadas de seu arbítrio e decisão. Este determinismo social, 
concebido por autores da moda, não era menos radical que o determinismo biológico de Lombroso. 
Alguns até defendiam que "cada sociedade tem os criminosos que merece", e que os fatores sociais 
e geográficos, por si só, já seriam suficientes para explicar a criminalidade. Dessa forma, a intenção, 
motivo ou personalidade do delinqüente, ficavam em segundo plano. 
Apesar de todas estas movimentações doutrinárias, a figura do Criminoso Nato e Constitucional 
dominou os estudos de criminologia no séc. XIX e início do séc. XX, progressivamente 
substituindo a predominância da constituição biológica em favor de uma natureza psicológica, 
moral e até social. Com base nestas várias teorias, considera-se a possibilidade de alguma alteração 
psíquica relacionada com a criminalidade. Inicialmente tem-se em mente a figura do Perverso 
Constitucional e, posteriormente, a figura do Sociopata e do Psicopata, atualmente, fala-se na 
Personalidade Anti-Social dos manuais de diagnóstico DSM.IV e CID.10. 
Na realidade, ao longo de mais de um século houve apenas um deslocamento das teorias 
deterministas; inicialmente falava-se no determinismo biológico, onde as constituições genéticas e 
hereditárias eram determinantes absolutas. Posteriormente foi a vez do determinismo moral, onde o 
indivíduo podia já nascer degenerado ou normal. Em seguida, foi a vez do determinismo 
psicológico, onde as maneiras da pessoa reagir psicologicamente à vida eram inatas, absolutas e 
invariáveis e, finalmente, veio o determinismo social, reconhecendo circunstâncias sociais que 
empurravam invariavelmente a pessoa para o crime. 
Com tantos determinismos, de qualquer forma o delinqüente continuava sempre sendo vítima de 
alguma circunstância, interna ou externa, a qual eximia a responsabilidade plena por seu ato, como 
se, por sua constituição, fosse ela biológica, moral ou psicológica, ou ainda pelas adversidades 
sociais e culturais ou, simplesmente pelo modismo, não lhe restasse outra opção senão o crime.
Quem acredita no Livre Arbítrio do criminoso?
Se, do século XIX até atualmente, acreditava-se que elementos ou fatores, internos ou externos, 
determinavam inexoravelmente uma espécie de Homem Criminoso, recentemente surgiu uma nova 
corrente fenomenológica de De Greeff. Trata-se de uma tendência que procura compreender as 
vivências interiores do delinqüente e o processo do ato criminoso, partindo dum pressuposto de que 
o delinqüente não é um ser diferente, por natureza ou qualidade, das outras pessoas. Em natureza e 
qualidade, o hipotético Homem Criminoso seria igual ao indivíduo dito normal, diferindo deste 
apenas em relação a um certo número de características, as quais facilitam nele a execução do ato 
criminoso.
Com De Greeff deixamos o constitucional ou degenerado comprometedor da espécie humana, e 
passamos a considerar a pessoa com sua história pessoal, a considerar o conjunto de processos 
psicológicos, afetivos, morais, sociais, etc, eventualmente capazes de conduzir à criminalidade. E 
esse "certo número de características, as quais facilitam nele a execução do ato criminoso", parece 
tratar-se de algo relacionado à escala de valores, ou seja, um atributo muito mais arbitrário e eletivo 
das pessoas do que os determinismos estigmatizantes até então considerados. 
As idéias de De Greeff despertaram a necessidade de encarar o delinqüente como qualquer outra 
pessoa, possuidor de uma história particular e opções pessoais realizadas em função desta história. 
Tal posição pode ser considerada "fenomenológica", e atenuou, sobremaneira, a hipótese de uma 
incontrolável predeterminação biológica, psicológica e social para a criminalidade. Essa 
fenomenologia valorizava sim a conduta geral da pessoa, seu caráter, seus motivos, instintos, afetos 
e antecedentes pessoais. A partir de agora, há necessidade de se conhecer profundamente o 
criminoso naquilo que ele tem de mais específico: sua personalidade específica pessoal e não mais 
uma personalidade geral e própria dos Homens Criminosos. 
Livrar-se da idéia de Personalidade Criminosa não é tão simples assim. 
Surgiu então o Conceito de Periculosidade. O conceito de periculosidade, tal como refere Debuyst, 
incluía três elementos: a personalidade criminosa, a situação perigosa e a importância sócio-cultural 
do ato cometido. Segundo este autor, através da periculosidade seria possível fazer um diagnóstico 
dos traços de personalidade e definir adequadas medidas de intervenção. Assim sendo, com o 
conceito depericulosidade volta à tona a idéia de personalidade criminosa, como dissemos, difícil 
de se livrar. 
O conceito de periculosidade se mantém indissociável do conceito de personalidade (criminosa), e 
ambos seriam conceitos fundamentais para o desenvolvimento da criminologia clínica. Através 
desta, acredita-se poder concentrar esforços na procura de índices capazes de identificar 
características de risco e fatores desencadeantes. Aqui ficam patentes a avaliação da periculosidade 
do sujeito e a eventual argüição de seu potencial de socialização.
Determinismo à parte, não se consegue esquecer o fato do conceito de personalidade ser, por si 
próprio, problemático. As principais teorias psicológicas da criminalidade que hoje em dia dominam 
a investigação nesta área poderão ser agrupadas em duas grandes linhas gerais. Uma delas, centrada 
na pesquisa das diferenças que caracterizam a dita Personalidade Criminosa, específica do 
criminoso e determinadora do ato delinqüente (Pinatel, Le Blanc), e uma outra linha, a de 
investigação, mais ligada à análise do vivido do criminoso e de seu percurso na criminalidade, 
partindo de uma abordagem fenomenológica do autor da ação delituosa (Debuyst). 
Pinatel, defende a criminologia clínica como o meio de se estudar os fatores que conduzem ao ato 
delinqüente e a identificar dos traços psicológicos subjacentes a este. Defende o ponto de vista 
segundo o qual, não haveria nos criminosos em geral, tipos psicopatológicos classificáveis dentro 
das categorias psiquiátricas tradicionais mas, no máximo, conjugações de traços de personalidade, 
agrupados de uma forma específica. Esses traços é que definiriam a tal Personalidade Criminosa e, 
esta sim, seria determinadora do comportamento delinqüente. Poderemos sintetizar essa posição nos 
seguintes pontos: 
 (a) o criminoso é um homem como outro qualquer, só se 
diferenciando por uma maior aptidão para ato criminoso;
(b) a personalidade criminosa seria descrita através de 
traços psicológicos agrupados numa determinada 
característica;
(c) essa característica englobaria os traços de 
agressividade, egocentrismo, labilidade e indiferença 
afetiva, sendo estes os elementos responsáveis pelo ato 
delituoso, enquanto as variáveis, tais como o temperamento, 
as aptidões físicas, intelectuais e profissionais, as razões 
aparentes, e as necessidades seriam responsáveis pelas 
diferentes modalidades desse ato;
(d) a personalidade criminosa, considerada na sua 
globalidade, seria dinâmica em relação aos seus diferentes 
traços constitutivos e adaptabilidade social.
Partindo dessa noção de Personalidade Criminosa, específica de cada delinqüente ou do criminoso 
e composta por um conjunto de traços em atuação dinâmica, diferentes investigadores chegarão a 
resultados diversos e, por vezes, contraditórios. Assim, por exemplo, LeBlanc e Fréchette, 
estudando a personalidade delinqüente ao longo da infância e adolescência, concluem pela 
existência de uma Síndrome da Personalidade Delinqüente. 
Esta comportaria uma estrutura específica com os seguintes sintomas: inclinação criminosa, anti-
sociabilidade e egocentrismo, cada um deles sofrendo desenvolvimentos diversos ao longo do 
tempo. De acordo com esses autores, estes traços psicológicos específicos do delinqüente seriam 
responsaveis pela maneira como eles valorizariam o impacto que as circunstâncias sociais lhes 
causarão.
Numa perspectiva pouco diferente, Eysenck defende que o comportamento criminoso é o resultado 
da interação entre fatores ambientais e características hereditárias, o que todo mundo já sabe há 
tempos. Porém, ele atribui uma importância fundamental a estas últimas, as hereditárias, e 
desenvolve uma teoria bio-psicológica da personalidade. De qualquer forma, também Eysenck 
acaba defendendo a existência de uma Personalidade Criminosa, composta por um conjunto 
variável de traços psicológicos característicos do delinqüente e responsáveis pelos seus atos 
transgressivos. 
Entretanto, Ch. Debuyst, apesar de contestar o conceito da Personalidade Criminosa, tal como era 
definido, e apesar de alegar que este conceito é uma visão ingênua da realidade por ser estática e 
determinista, não consegue se desvencilhar da idéia de uma personalidade inclinada à contravenção, 
como todos os outros. Ele recomenda analisarmos a delinqüência a partir de três aspectos 
fundamentais; a posição que o sujeito delinqüente ocupa na sociedade, os processos que resultam de 
suas múltiplas interações sociais e, finalmente, as características de sua personalidade.
A diferença é que ele aceita, com mais facilidade, um aspecto dinâmico da personalidade, 
conseqüentemente, acaba considerando que a criminalidade não é um fenômeno estático e nem 
obrigatório. Acha que seria ingênuo acreditar que um conjunto fixo de elementos, sejam esses 
elementos os traços, estilos ou qualquer outro conceito determinista, estivesse na base de todo o 
comportamento transgressivo indistintamente. 
Finalmente, dando um passo além do aspecto dinâmico da personalidade proposto por Debuyst, tal 
como um devir não totalmente determinado por circunstâncias várias, surge F. Digneffe defendendo 
a idéia de que o indivíduo é sim responsável, dependendo dele a construção do seu próprio mundo e 
projetos. Digneffe dedica-se ao estudo das maneiras como o sujeito faz a gestão da sua vida, como 
elabora seus aspectos relativos à ética, aos valores e ao desenvolvimento moral, acabando por 
adquirir uma característica pessoal de acordo com a adoção de seu próprio modelo existencial. A 
autora se detém, sobretudo, nos casos onde a delinqüência é a forma de gestão de vida escolhida 
pelo indivíduo. 
Se a Personalidade é responsável pelo crime, quem é responsável pela Personalidade?
A criminalidade moderna, entretanto, particularmente considerando-se crimes curiosos entre 
escolares, franco-atiradores, ideológicos, religiosos e outros, exige o desenvolvimento de outros 
modelos criminais. Alguns autores partem da constatação de que não existem diferenças de 
personalidade entre delinqüentes e não delinqüentes. A pesquisa atual se orienta cada vez mais para 
a compreensão dos processos complexos pelos quais uma pessoa se envolve numa conduta 
delinqüente, adquire uma identidade criminosa e adota, finalmente, um modo de vida delinqüente 
(Yochelsom). 
Desta forma, não estaríamos diante um conjunto de traços de personalidade determinantes de uma 
conduta criminosa, mas diante de uma ação delituosa resultante da interação entre determinados 
contextos e situações do meio, juntamente com um conjunto de processos cognitivos pessoais, 
afetivos e vivenciais, os quais acabariam por levar a pessoa a interpretar a situação de uma forma 
particular e a agir (criminosamente) de acordo com o sentido que lhe atribui. 
Aqui também se pensa numa determinada Personalidade Criminosa, entretanto, personalidade esta 
produzida não apenas pelo arranjo genético mas, sobretudo, pelo desenvolvimento pessoal. De 
acordo com novas teorias da personalidade (Agra, Guidano), seriam sete os sistemas que a 
constituem: 
· neuro-psicológico
· psico-sensorial
· expressivo
· afetivo
· cognitivo
· vivencial
· político. 
Essa nova tendência reconhece que a personalidade e o ato são inter-relacionados da seguinte 
forma: a personalidade é a matriz de produção da ação e define as condições e modalidades do agir, 
enquanto o ato seria o processo de materialização dessa personalidade. 
Hoje em dia, alguns autores que pesquisam crimes e delinqüências comuns do cotidiano perpetrados 
por delinqüentes primários e reincidentes, não têm encontrado entre eles déficits ou psicopatologias 
relevantes o suficiente para se associar ao que se entende por Personalidade Criminosa ou 
comportamento criminal, verificando-se, pelo contrário, que esses sujeitos não se distinguem 
significativamente dos indivíduos ditos normais. 
Temsido simpática a idéia de que os comportamentos transgressivos não resultam da incapacidade 
para agir de outra forma que não a criminosa, como pretendiam os positivistas, nem de uma 
determinação biológica para só agir desta forma, como acreditavam os deterministas. Os atos, 
delituosos ou não, estariam relacionados com processos da personalidade ao nível da construção de 
significados e de valores da realidade, bem como com as opções de relacionamento da pessoa com 
essa realidade. Tal conceito implica na existência de uma estrutura da personalidade que determina 
certos padrões de ação e certos padrões de inter-relação particular do indivíduo com a realidade, 
fazendo com que ela aja em conformidade com a visão pessoal que tem da realidade. 
Atualmente é difícil aceitar-se a existência de uma personalidade tipicamente criminosa, composta 
por traços imutáveis e pré-definidos. Defende-se sim a existência de diferentes formas de 
organização e estruturação da personalidade, de diferentes maneiras de integrar os estímulos do 
meio e os processos psíquicos e de diferentes maneiras de relação com o mundo exterior. Essa 
estruturação típica e própria da personalidade é que produziria diferentes representações da 
realidade nas diferentes pessoas e, em função dessa personalidade, as pessoas definirão também 
suas diferentes formas de agir e de se relacionar com os outros e com o mundo. 
Seguindo esse raciocínio, o criminoso, como qualquer pessoa, estabelece uma representação da 
realidade, desenvolve uma ordem de valores e significados, na qual a transgressão adquire um 
determinado sentido e se torna, em dado momento da sua história de vida, uma modalidade de vida. 
Não se pretende negar aqui, peremptoriamente, as valiosas teorias da personalidade, notadamente a 
idéia de uma eventual Personalidade Criminosa, como advogaram inúmeros autores. Nossa idéia é 
apenas demonstrar que a criminalidade pode ser demasiadamente complexa para se supor um 
modelo teórico relativamente simples e fixo como, por exemplo, o dos traços de personalidade ou 
da característica biológica criminosa (Kreitler).
Pelas mesmas razões, somos obrigados também a não considerar aceitável o conceito de 
periculosidade, tal como tem sido definido, facultando um prognóstico definido e uma argüição 
hipotética sobre o devir da pessoa dita criminosa. Estaríamos, se aceitássemos isso tudo, novamente 
nos confrontando com abordagens deterministas da Personalidade Criminosa. 
No entanto, a grande questão que se impõe é sabermos: a partir de qual momento, negamos à pessoa 
a capacidade de ser, ela mesma, produtora de si mesma e determinadora de seus percursos? Ou, de 
outra forma: quando podemos confinar a pessoa numa análise reducionista que a transforma num 
objeto de conceitos como o de Personalidade Criminosa, portanto, objeto de estratégias de 
intervenção terapêutica concordante com esse modelo? 
Este artigo é inspirado no trabalho de Celina Manita; "Personalidade Criminal e perigosidade: da perigosidade do sujeito criminoso ao(s) perigo(s) de se tornar objecto 
duma personalidade criminal."
Assistente da Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação da Universidade do Porto e Membro do Centro de Ciências do Comportamento Desviante 
para referir:
Ballone GJ, Moura EC - Personalidade Criminosa, in. PsiqWeb, internet, disponível em 
www.psiqweb.med.br, revisto em 2008.
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17. Pinatel, J. (1991). Criminologie clinique et personnalité criminelle. In Cario & Favard (Eds), La personnalité criminelle, pp. 187-197.
18. Yochelsom, S. & Samenow, S. (1989). The criminal personality(I): a profile for change. London: Jason, Aronson, Inc. (1.ª ed. em 1976).
	Personalidade Criminosa

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