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Direito Constitucional fácil para Concursos Públicos Aragonê Nunes Fernandes 
 
 
1 
1. TEORIA DA CONSTITUIÇÃO 
1.1. Conceito de Constituição 
A Constituição é a norma de maior hierarquia em um ordenamento jurídico, que organiza, 
estrutura e constitui o Estado e os direitos e garantias individuais. Ela dispõe sobre o modo de aquisição 
e exercício do poder, a competência e o funcionamento de seus órgãos, os limites de sua atuação e a 
responsabilidade de seus dirigentes.1 
Konrad Hesse explicita que a Constituição deve ser entendida como a ordem jurídica 
fundamental de uma comunidade. Por ter status de norma jurídica, ela seria dotada de força normativa 
suficiente para vincular e impor os seus comandos.2 
É certo que o Direito Constitucional se inter-relaciona com outras ciências, principalmente a 
Sociologia, a Filosofia e a Política. Em virtude disso, existem diversos sentidos para se conceituar a 
Constituição. Vejamos cada um desses sentidos: 
1.1.1. Sentido sociológico de constituição 
Ferdinand Lassalle defende que uma Constituição só seria legítima se representasse a 
vontade popular, refletindo as forças sociais que constituem o poder. Caso isso não aconteça, a 
Constituição não passaria de uma ‗folha de papel‘. 
1.1.2. Sentido político de constituição 
Carl Schmitt conceitua Constituição como a decisão política fundamental. Segundo o 
autor, a validade de uma Constituição não se apoia na justiça de suas normas, mas na decisão política 
que lhe dá existência. 
Importante ressaltar ainda que o pensador diferencia Constituição de leis constitucionais: 
Constituição disporia somente sobre as matérias de grande relevância jurídica, sobre as decisões 
políticas fundamentais, tais como organização do Estado, princípio democrático e direitos fundamentais. 
As outras normas presentes na Constituição seriam somente leis constitucionais. 
1.1.3. Sentido jurídico de constituição 
Para Hans Kelsen, a Constituição estaria no mundo do dever ser, e não no mundo do ser, 
caracterizada como fruto da vontade racional do homem, e não das leis naturais. A Constituição seria, 
assim, um sistema de normas jurídicas, puras, sem qualquer consideração de cunho sociológico, 
político ou filosófico. Em consequência, a validade da norma é completamente independente de sua 
aceitação pelo sistema de valores sociais vigentes em uma comunidade. 
1.1.4. Sentido culturalista de constituição 
No conceito desenvolvido por J.H. Meirelles Teixeira, a Constituição é produto de um fato 
cultural, produzido pela sociedade e que sobre ela pode influir. 
A concepção culturalista levaria ao conceito de ‗Constituição Total‟, por apresentar ―na sua 
complexidade intrínseca, aspectos econômicos, sociológicos, jurídicos e filosóficos‖.3 
Apresentadas as conceituações trazidas por cada um desses pensadores, recorremos ao 
seguinte quadro esquemático, que auxiliará o estudante a responder questões envolvendo esse tema. 
Vejamos: 
Sentido Pensador Expressão identificadora 
 
1
 Cf. Cunha Júnior, Dirley. Curso de direito constitucional. 5ª edição. Salvador: Jus Podivum, 2011, pág. 75. 
2
 HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição. Tradução: Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sério A. Fabris. 
1991, pág. 19. 
3
 Teixeira, J. H. Meirelles. Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 1991, págs. 58-59. 
Direito Constitucional fácil para Concursos Públicos Aragonê Nunes Fernandes 
 
 
2 
Sociológico Ferdinand Lassale Folha de papel 
Político Carl Schimtt Decisão política fundamental 
Jurídico Hans Kelsen Norma pura 
Culturalista J. H. Meirelles Teixeira Constituição total 
1.2. Classificações das Constituições 
As constituições podem ser classificadas de várias maneiras, a depender do critério 
utilizado. As principais classificações são as seguintes: 
1.2.1. Quanto à origem 
Promulgada 
(democrática ou 
popular) 
Fruto do trabalho de uma Assembleia Nacional Constituinte, eleita diretamente pelo povo. Ex.: 
Constituições brasileiras de 1891, 1934, 1988. 
Outorgada 
Imposta – de maneira unilateral – pelo governante, não contando com a participação popular. Ex.: 
Constituições brasileiras de 1824, 1937, 1967/69. 
Cesarista 
Embora seja outorgada, nela há participação popular por meio de referendo. Essa participação, no 
entanto, não é democrática, pois apenas ratifica a vontade do detentor do poder. Ex.: Constituição 
chilena, feita a partir da vontade do Ditador Alberto Pinochet. 
Pactuada 
(dualista) 
Origina-se de um compromisso firmado entre o rei e o Poder Legislativo. Nesse caso, o monarca se 
sujeita aos esquemas constitucionais (monarquia limitada). Ex.: Magna Carta de 1215. 
1.2.2. Quanto à forma 
Escrita 
(instrumental) 
Composta por um conjunto de regras organizadas em um único documento. Ex.: CF/88, Constituição 
espanhola. 
Costumeira 
(não escrita) 
Composta por textos esparsos, baseando-se nos usos, costumes, jurisprudência. Ex.: Constituição 
inglesa. 
1.2.3. Quanto ao modo de elaboração 
Dogmática 
Sempre escrita, é elaborada em um dado momento, por um órgão constituinte, segundo dogmas ou 
ideias. Ex.: CF/88. 
Histórica 
É também chamada costumeira e resulta da lenta formação histórica, das tradições de uma sociedade. 
Ex.: Constituição inglesa. 
1.2.4. Quanto à extensão 
Analítica 
(dirigente) 
Aborda todos os assuntos que os representantes do povo entenderem fundamentais, descendo às 
minúcias. Normalmente, traz regras que deveriam estar na legislação infraconstitucional. Ex.: CF/88. 
Sintética 
(negativa) 
Traz apenas princípios fundamentais, que se ajustam com o tempo. Normalmente dura mais tempo. Ex.: 
Constituição americana, que já dura mais de duzentos anos. 
1.2.5. Quanto ao conteúdo 
Material 
(substancial) 
No seu texto só há matéria realmente constitucional (ver, Sentido Político, de Carl Schimtt. Ex.: 
Constituição americana. 
Formal Qualquer regra contida no texto é considerada constitucional. Ex.: CF/88. 
ATENÇÃO: com a inserção do § 3º, no artigo 5º, da CF/88, mesmo algumas normas que estão fora do 
texto constitucional (tratados internacionais que tratam de direitos humanos aprovados sob o rito das 
emendas à constituição) são considerados como norma constitucional. 
1.2.6. Quanto à estabilidade ou possibilidade de alteração 
Imutável 
Nela, veda-se qualquer alteração. A imutabilidade pode ser absoluta ou relativa. Esta última se verifica 
quando se impõem limitações temporais, isto é, se impõe um prazo durante o qual a Constituição não 
poderá ser modificada. Foi o que aconteceu com a Constituição brasileira de 1824, que só poderia ser 
modificada após passados quatro anos de sua existência. 
Rígida 
Exige, em relação às normas infraconstitucionais, um processo legislativo mais complexo para serem 
alteradas. Ex.: CF/88. 
Flexível Não possui processo legislativo mais rigoroso em comparação às normas infraconstitucionais. 
Direito Constitucional fácil para Concursos Públicos Aragonê Nunes Fernandes 
 
 
3 
Semirrígida 
Para algumas matérias se exige processo legislativo mais complexo; para outras, não. Ex.: Constituição 
brasileira de 1824. 
Fixa (silenciosa) 
É aquela que só pode ser modificada pelo mesmo poder que a criou (Poder Constituinte Originário). São 
chamadas de silenciosas por não preverem procedimentos especiais para a modificação de seu texto. Ex: 
Constituição Espanhola de 1876. 
ATENÇÃO: Segundo Alexandre de Moraes4 (posição minoritária), a Constituição brasileira poderia ser 
considerada super-rígida. Isso porque as chamadas cláusulas pétreas (art. 60, § 4º) não poderiam ser 
suprimidas. 
1.2.7. Quanto ao conteúdo ideológico 
Liberal 
(negativa) 
Ela se preocupaexclusivamente em limitar a atuação do Estado, trazendo apenas prestações negativas 
(direitos fundamentais de 1ª dimensão). Traduz o fenômeno do abstencionismo estatal, que é a postura 
passiva do Estado. 
Social 
(dirigente) 
É a que se preocupa não apenas em preservar liberdades, mas também em efetivar direitos sociais, 
econômicos e culturais (direitos fundamentais de 2ª dimensão). Leva o nome de dirigentes porque 
direcionam as ações governamentais. Ex.: brasileira. 
1.2.8. Quanto à ideologia: 
Ortodoxa Reflete um só pensamento ideológico. Ex.: Constituição chinesa – comunista. 
Eclética 
Também chamada de compromissória, é fruto da conjunção entre as diferentes ideologias de um Estado. 
Ex.: brasileira. 
1.2.9. Quanto à correspondência com a realidade (critério ontológico) 
Para essa classificação, defendida por Karl Lowestein, o que importa é saber se a 
Constituição é – ou não – respeitada pelos detentores do poder. Dividem-se em: 
Normativa 
É aquela na qual há correspondência entre a teoria e prática. Haveria o respeito do texto pelos detentores 
do poder. Seria, em razão disso, o modelo ideal de Constituição. Seriam exemplos de Constituição 
normativa, segundo Bernardo Gonçalves Fernandes, a Constituição Americana de 1787, a Constituição 
Alemã de 1949 e a Constituição Francesa de 1958.
5
 
Nominal 
(nominalista) 
A Constituição seria um documento político, sem força normativa, pois os detentores do Poder não 
respeitariam seu texto. Ela não passaria de uma carta de intenções. Ex.: Constituições brasileiras de 
1824, 1891, 1934 e 1946. Para Pedro Lenza, a CF/88 pretende ser normativa
6
, mas, nas palavras de 
Bernardo Gonçalves Fernandes, ―toda Constituição se pretende normativa (não só a brasileira), mas uma 
coisa é pretender, outra coisa é ser, ou seja, o que realmente é!‖
7
. Em sentido semelhante, Marcelo 
Neves defende que a CF/88 seria nominalista, pois serviria como álibi para os governantes.
8
 
Semântica
9
 
Seria a usada pelos detentores do poder como instrumento para seus propósitos de dominação da 
sociedade. Canotilho conceitua esse modelo como „Constituição de Fachada‟. Ex.: Constituições 
brasileiras de 1937, 1967 e 1969. 
1.2.10. Quanto à finalidade 
Constituição 
Garantia 
É uma Constituição negativa, que se preocupa em trazer a limitação dos poderes estatais. Consagra os 
direitos de primeira dimensão. 
Constituição 
Balanço 
É a Constituição destinada a registrar um dado estágio das relações de poder no Estado, elaborada para 
espelhar certo período político, findo o qual é formulado um novo texto constitucional para o período 
seguinte
10
. Ex.: constituições da antiga União Soviética (1924, 1936 e 1977). 
Constituição 
Dirigente 
Possui texto extenso, trazendo em seu bojo as normas programáticas, ou seja, aborda programas, metas, 
planos e diretrizes para a atuação dos órgãos estatais. Dizem aos órgãos governamentais o ‗rumo‘ a ser 
seguido. Elenca os direitos sociais (segunda dimensão). 
 
4
 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional, 23ª edição, São Paulo: Atlas, 2008, pág. 41. 
5
 Idem, pág. 27. 
6
 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 16ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012, pág. 94. 
7
 Cf. FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de direito constitucional. 3ª ed. 2ª tir. Rio de Janeiro: Lúmen Juris. 2011, 
pág. 28. 
8
 NEVES, Marcelo. A constitucionalização simbólica. São Paulo: WMF Martins Fontes. 2007, pág. 101-110. 
9
 Há outra classificação doutrinária, segundo a qual uma Constituição também pode ser chamada de semântica. Nessa 
vertente, o texto não seria dotado de clareza, exigindo o uso de outros métodos de interpretação que não apenas o gramatical. 
A nosso aviso, todas as Constituições seriam semânticas, pois a necessidade de utilização dos mais variados métodos de 
interpretação é próprio do sistema normativo. 
10
 Cf. PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional Descomplicado, 3ª ed. São Paulo: Método. 2008, 
pág. 22. 
Direito Constitucional fácil para Concursos Públicos Aragonê Nunes Fernandes 
 
 
4 
1.2.11. Quanto aos sistemas 
Principiológica 
É a que tem como base fundamental os princípios constitucionais, os quais são o seu elemento basilar. 
Nela, podem existir regras, mas predominam os princípios. Ex: brasileira de 1988. 
Preceitual 
É aquela que tem como critério básico as regras constitucionais, dando ênfase a elas, embora também 
possua princípios. Ex: Constituição do México de 1917. 
1.2.12. Quanto à unidade documental 
Orgânica 
(unitextual ou 
codificada) 
Ela é escrita e sistematizada em um único documento. Ex: brasileira de 1988. 
Inorgânica 
(pluritextual ou 
legal) 
Nela, não se verifica a unidade textual. A Constituição é formada por vários documentos. Ex: atual 
Constituição de Israel e Constituição Francesa de 1875. 
Em resumo... A CF/88 é promulgada, escrita, dogmática, analítica, formal, rígida, social, eclética, 
nominal, dirigente, principiológica e orgânica. 
1.3. Elementos das Constituições 
A Constituição, embora sistematizada em um único texto, traz normas que são agrupadas 
pela doutrina de acordo com sua finalidade. 
Na orientação do professor José Afonso da Silva11, existem cinco categorias de elementos, 
quais sejam: 
1.3.1. Elementos orgânicos: 
São as normas que regulam a estrutura do Estado e do Poder. Ex.: Título III – Organização 
do Estado; Título IV – Organização dos Poderes. 
1.3.2. Elementos limitativos: 
São aqueles que limitam a ação dos poderes estatais, estabelecendo balizas do Estado de 
Direito e consubstanciando o rol dos direitos fundamentais. Ex.: Título II – Dos Direitos e Garantias 
Fundamentais. 
1.3.3. Elementos socioideológicos: 
Segundo Pedro Lenza, eles ―revelam o compromisso da Constituição entre o Estado 
individualista e o Estado social, intervencionista‖.12 Como exemplos, têm-se o Capítulo referente aos 
Direitos Sociais e o Título sobre a Ordem Social. 
1.3.4. Elementos de estabilização constitucional: 
Servem como instrumentos de defesa do Estado, assegurando a solução de conflitos 
constitucionais. Ex.: Capítulo referente à Intervenção (federal e estadual) e Título que alude à Defesa do 
Estado e das Instituições Democráticas. 
1.3.5. Elementos formais de aplicabilidade: 
Trazem as regras de aplicação das constituições. Ex.: preâmbulo, ADCT e art. 5º, § 1º (―as 
normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata‖). 
1.4. Neoconstitucionalismo 
 
11
 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 9ª ed. São Paulo: Malheiros, 1992, págs. 44-45. 
12
 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, pág. 30. 
Direito Constitucional fácil para Concursos Públicos Aragonê Nunes Fernandes 
 
 
5 
1.4.1. Considerações iniciais 
 
Não se pode falar em neoconstitucionalismo sem antes definir o que vem a ser o 
constitucionalismo. Para tanto, valemo-nos do que disse Canotilho (1993:51): 
 
Constitucionalismo é a teoria (ou ideologia) que ergue o princípio do governo limitado 
indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização político-social de 
uma comunidade. Neste sentido, o constitucionalismo moderno representará uma técnica 
específica de limitação do poder com fins garantísticos. O conceito de constitucionalismo 
transporta, assim, um claro juízo de valor. É, no fundo, uma teoria normativa da política, tal como a 
teoria da democracia ou a teoria do liberalismo.
13
 
 
Leciona Uadi Lamego Bulos que o constitucionalismo pode ser visualizado sob diferentes 
enfoques, não possuindo uma conceituação fechada, unívoca.São suas palavras: 
 
O termo constitucionalismo tem dois significados diferentes: em sentido amplo, significa o 
fenômeno relacionado ao fato de todo Estado possuir uma Constituição em qualquer época da 
humanidade, independentemente do regime político adotado ou do perfil jurídico que se lhe 
pretenda atribuir; em sentido estrito, significa a técnica jurídica de tutela das liberdades, surgida 
nos fins do século XVIII, que possibilitou aos cidadãos o exercício, com base em Constituições 
escritas, dos seus direitos e garantias fundamentais, sem que o Estado lhes pudesse oprimir pelo 
uso da força e do arbítrio.
14
 
 
Fazendo relevante apanhado, Pedro Lenza15 divide a evolução histórica da Europa em 
quatro grandes eras, a saber, a Idade Antiga, a Idade Média, a Idade Moderna e a Idade 
Contemporânea, pontuando em cada um desses momentos os movimentos constitucionais. 
Nesse contexto, o ilustrado doutrinador, fundado nas análises levadas a efeito por Karl 
Loewestein, aponta que entre os hebreus, ainda que timidamente, teria surgido o constitucionalismo. 
Naquele Estado teocrático foi assegurada aos profetas a legitimidade para fiscalizar os atos 
governamentais que extrapolassem os limites bíblicos. 
Avançando para a Idade Média, temos um grande marco para o direito constitucional, com a 
elaboração da Magna Carta de 1.215, também chamada de Carta do Rei João Sem Terra. Para parte 
da doutrina, esse documento consagraria a origem do princípio da legalidade e também da garantia do 
habeas corpus. 
Na Idade Moderna, era comum a elaboração dos pactos e forais ou cartas de franquia, 
documentos que almejavam resguardar direitos individuais. Nessa toada, surgem o Habeas Corpus 
Act (1679) e o Bill of Rights (1689). 
Os dois marcos históricos mais relevantes do constitucionalismo moderno foram as 
Constituições norte-americana de 1787 e a francesa de 1789, sendo esta última marcadamente 
influenciada pelos pensadores do Iluminismo. 
As inspirações liberais predominantes na época da Revolução Francesa acabaram levando 
a uma profunda desigualdade social, com a concentração de renda nas mãos de poucos, aprofundando 
a luta de classes. 
Ao final da Primeira Guerra Mundial, cresceu a necessidade de uma maior intervenção do 
Estado, com a implementação de políticas públicas e a preservação de direitos sociais. 
Nascia, aí, a segunda geração/dimensão de direitos fundamentais, centrada na política do 
Bem-Estar Social (welfare state). Esses novos ideais foram consagrados explicitamente nas 
Constituições do México (1917) e da Alemanha (1919), influenciadas em parte pela Encíclica Rerum 
Novarum, escrita pelo Papa Leão XIII no ano de 1891. 
 
13
 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. 6ª ed. Coimbra: Almedina, 1993, 
pág. 51. 
14
 BULOS, Uadi Lamego. Constituição Federal anotada. São Paulo: Saraiva, 2000, pág. 7. 
15
 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, págs. 50-1. 
Direito Constitucional fácil para Concursos Públicos Aragonê Nunes Fernandes 
 
 
6 
Ainda dentro do constitucionalismo contemporâneo, surgem os direitos de terceira e de 
quarta gerações/dimensões, entendidos aqueles como os transindividuais, calcados na fraternidade, na 
solidariedade. 
Paulo Bonavides16 (2000:524) diz que a quarta dimensão decorreria da influência da 
globalização política na esfera jurídica. Haveria uma universalização dos direitos fundamentais. 
Além disso, haveria também a atenção a questões ligadas à área da engenharia genética, 
que poderiam colocar em risco a própria existência da raça humana, relacionadas ao estudo da 
bioética, biodireito. 
Pedro Lenza destaca, de outro giro, que o constitucionalismo do futuro terá de trabalhar na 
consolidação dos direitos de terceira geração/dimensão, ―incorporando à ideia de constitucionalismo 
social os valores do constitucionalismo fraternal e de solidariedade, avançando e estabelecendo um 
equilíbrio entre o constitucionalismo moderno e alguns excessos do contemporâneo‖.17 
1.4.2. O neoconstitucionalismo 
Muito se fala na doutrina acerca do neoconstitucionalismo – também denominado de pós-
positivismo –, que consistiria em um movimento que busca reaproximar do direito da ética e da 
moral.18 
Com propriedade, Luís Roberto Barroso acentua que o neconstitucionalismo estaria fundado 
em três relevantes marcos, quais sejam, o histórico, o filosófico e o teórico.19 
Com efeito, na visão desse professor, o marco histórico do novo direito constitucional, na 
Europa continental, foi o constitucionalismo do pós-guerra, especialmente na Alemanha e na Itália. Em 
nosso país, o grande ponto de transformação foi a Constituição de 1988 e o processo de 
redemocratização que ela ajudou a protagonizar. 
Já o marco filosófico do novo direito constitucional seria o pós-positivismo, que consagra a 
confluência das duas grandes correntes de pensamento – o jusnaturalismo e o positivismo. 
No tocante ao marco teórico, Barroso cita três grandes transformações, responsáveis, a seu 
ver, pela subversão do conhecimento convencional relativamente à aplicação do direito constitucional, a 
saber, ―a) o reconhecimento de força normativa à Constituição; b) a expansão da jurisdição 
constitucional; c) o desenvolvimento de uma nova dogmática da interpretação constitucional‖.20 
Adverte Bernardo Gonçalves Fernandes que as perspectivas tidas como 
neoconstitucionalistas não são uníssonas, havendo, ao revés, uma profunda divergência o que levaria à 
existência de neoconstitucionalismos.21 
Essa diferença conceitual deriva da pluralidade de pensadores, como bem acentua Daniel 
Sarmento. Vejamos: 
 
... os adeptos do neoconstitucionalismo buscam embasamento no pensamento de juristas que se 
filiam a linhas bastante heterogêneas, como Ronald Dworkin, Robert Alexy, Peter Härbele, 
Gustavo Zagrebelsky, Luigi Ferrajoli e Carlos Santiago Nino, e nenhum destes se define hoje, ou 
já se definiu, no passado, como neoconstitucionalista.22 
 
 
16
 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 9ª edição. São Paulo: Malheiros, 2000, págs. 524-6. 
17
 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, pág. 53. 
18
 Por essa razão, Dimitri Dimoulis aponta que o chamado neoconstitucionalismo é apenas uma ―designação alternativa da 
corrente da teoria do direito conhecida como moralismo jurídico‖. 
19
 BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito. O triunfo tardio do 
Direito constitucional no Brasil. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 851, 1 nov. 2005. Disponível em: 
<http://jus.com.br/revista/texto/7547>. Acesso em: 7 out. 2010. 
20
 BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito. O triunfo tardio do 
Direito constitucional no Brasil. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 851, 1 nov. 2005. Disponível em: 
<http://jus.com.br/revista/texto/7547>. Acesso em: 7 out. 2010. 
21
 FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de direito constitucional. 3ª ed., 2ª tir. Rio de Janeiro: Lumen 
Juris. 2011, pág. 34. 
22
 SARMENTO, Daniel. O neoconstitucionalismo no Brasil: riscos e possibilidades. Leituras Complementares de Direito 
Constitucional – Teoria da Constituição. Salvador: Juspodvm, 2009, pág. 33. 
Direito Constitucional fácil para Concursos Públicos Aragonê Nunes Fernandes 
 
 
7 
Fundado, pois, em uma gama de princípios constitucionais, dentre os quais desponta o 
princípio da solidariedade, o constitucionalismo pós-moderno propõe uma releitura moral da 
Constituição. 
Dirley da Cunha Júnior aponta que o movimento do neoconstitucionalismo provocou uma 
mudança de postura dos textos constitucionaisdo pós-guerra. São suas palavras: 
 
... se no passado as Constituições se limitavam a estabelecer os fundamentos da organização do 
Estado e do Poder, as Constituições do pós-guerra inovaram com a incorporação explícita em 
seus textos de valores (especialmente associados à promoção da dignidade da pessoa humana e 
dos direitos fundamentais) e opções políticas gerais (como a redução das desigualdades sociais e 
específicas (como a obrigação de o Estado prestar serviços na área de educação e saúde).
23
 
 
Como visto, o neoconstitucionalismo se apresenta como uma terceira via, representada pela 
tentativa de superação do positivismo e do jusnaturalismo, por meio de uma conciliação entre as 
premissas fundamentais das duas correntes. 
Tem como características a importância dada aos valores e a elevação dos princípios à 
categoria de normas jurídicas. A norma é gênero, do qual são espécies os princípios e regras. 
Propõe-se, também, uma postura ativa do Magistrado, no que se convencionou chamar 
de ativismo ou construtivismo judicial. 
Com isso, o Juiz não poderia permanecer agindo de forma passiva. Deveria, ao contrário, 
atuar ativamente, viabilizando a implementação de políticas públicas, determinando, por exemplo, 
que o Estado forneça certos medicamentos não disponíveis na rede pública, ou, ainda, assegurando 
leitos em UTIs. 
Deve-se lembrar, ainda, que o constitucionalismo moderno encontra, como uma de suas 
origens, a teoria tridimensional do Direito (fato – valor – norma) de Miguel Reale. 
Há críticas ao neoconstitucionalismo, principalmente na primordial importância dada ao 
Poder Judiciário, que estaria se sobrepondo ao Legislativo (ferindo, destarte, a teoria dos freios e 
contrapesos). 
Fredie Didier sustenta: 
 
Os abusos e incompreensões revelam-se basicamente em uma postura de supervalorização 
dessas ‗novidades‘: a) supervalorizam-se as normas-princípio em detrimento das normas-regra, 
como se aquelas sempre devessem preponderar em relação a essas e como se o sistema 
devesse ter mais normas-princípio do que normas-regra, ignorando o importantíssimo papel que 
as regras exercem no sistema jurídico: reduzir a complexidade do sistema e garantir segurança 
jurídica; b) supervaloriza-se o Poder Judiciário em detrimento do Poder Legislativo, em grave 
prejuízo à democracia e à separação dos poderes; c) supervaloriza-se a ponderação em 
detrimento da subsunção, olvidando que a subsunção é método bem adequado à aplicação das 
normas-regra, de resto as espécies normativas mais abundantes no sistema.
24
 
 
Em interessante artigo sobre o tema, Humberto Ávila assevera o seguinte: 
 
Se existe um modo peculiar de teorização e aplicação do Direito Constitucional, pouco importa a 
sua denominação, baseado num modelo normativo, (‗da regra ao princípio‘), metodológico (‗da 
subsunção à ponderação‘), axiológico (‗da justiça geral à justiça particular‘) e organizacional (‗do 
Poder Legislativo ao Poder Judiciário‘), mas esse modelo não foi adotado, não deve ser adotado, 
nem é necessariamente bom que o seja, é preciso repensá-lo com urgência. Nada, absolutamente 
nada é mais premente do que rever a aplicação desse movimento que se convencionou chamar 
de ‗neoconstitucionalismo‘ no Brasil. 
(...) 
O ‗neoconstitucionalismo‘, baseado nas mudanças antes mencionadas, aplicado no Brasil, está 
mais para o que se poderia denominar, provocativamente, de uma espécie de ‗não-
 
23
 Cunha Júnior, Dirley. Curso de Direito Constitucional. 5ª edição. Salvador: JusPodivum. 2011, pág. 41. 
24
 DIDIER, Fredie. Curso de direito processual civil. Volume 1. 12ª edição. Salvador: Jus Podivm, 2010, pág. 27. 
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8 
constitucionalismo‘: um movimento ou uma ideologia que barulhentamente proclama a 
supervalorização da Constituição enquanto silenciosamente promove a sua desvalorização.
25
 
 
O movimento do neoconstitucionalismo traz a reboque o do neoprocessualismo, que é, 
segundo Fred Didier, a fase atual do processo civil brasileiro. 
O autor baiano menciona que o uso desse termo pode ser útil para caracterizar o estágio 
dos estudos sobre o direito processual. Ele ainda menciona que no Rio Grande do Sul essa fase do 
processo brasileiro seria conceituada como formalismo-valorativo. Este, por sua vez, pautar-se-ia pelo 
―reforço dos aspectos éticos do processo, com especial destaque para a afirmação do princípio da 
cooperação (...), que é decorrência dos princípios do devido processo legal e da boa-fé processual‖.26 
É certo que, como todo novo movimento jurídico, podemos destacar que o 
neoconstitucionalismo não se apresenta infenso a (justas) críticas. Mas, a nosso aviso, ele representa 
um importante avanço, que servirá para dar maior concretude aos valores constitucionais e, se bem 
sopesado, não acarretará rachaduras à salutar estrutura da separação dos Poderes. Ao revés, facilitará 
a consolidação das conquistas sociais. 
QUESTÕES SOBRE O TEMA 
1 (TRE-MG / Técnico Administrativo/ 2009) Quanto ao conceito e às classificações de constituição, assinale a 
opção correta. 
A) As constituições outorgadas decorrem da participação popular no processo de elaboração. 
B) A constituição de determinado país constitui sua lei fundamental, a qual prevê normas relativas a: estruturação 
do Estado, formação dos poderes, forma de governo, aquisição do poder, distribuição de competências, direitos, 
garantias e deveres dos cidadãos. Portanto, para ser considerado como constituição, é imprescindível que haja 
um único documento escrito contendo tais regras. 
C) As constituições rígidas não podem, em nenhuma hipótese, serem alteradas. 
D) A constituição material contém um conjunto de regras escritas, constantes de um documento solene 
estabelecido pelo chamado poder constituinte originário. 
E) A constituição de determinado país pode não ser escrita, já que tem por fundamento costumes, jurisprudência, 
leis esparsas e convenções, cujas regras não se encontram consolidadas em um texto solene. 
 
2 (TRE-MG / Técnico Administrativo / 2009) A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF) 
caracteriza-se por ser 
A) promulgada e semirrígida. 
B) rígida e material. 
C) formal e outorgada. 
D) escrita e rígida. 
E) flexível e escrita. 
 
3 (TRE-MA / Técnico Administrativo / 2009) Com relação à classificação das constituições, assinale a opção 
correta. 
A) A Constituição dos Estados Unidos da América é exemplo de constituição sintética. 
B) Uma constituição é rígida se não admite qualquer tipo de revisão. 
C) A constituição que se materializa ao longo do tempo, tal qual a inglesa, é classificada como ortodoxa. 
D) A CF pode ser classificada como prolixa e semirrígida. 
E) Toda constituição é necessariamente escrita e solene. 
 
4 (PGE-AL / Procurador do Estado / 2009) Analise o seguinte dispositivo, reproduzido da CF. 
 
Art. 242. O princípio do art. 206, IV (gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais), não se aplica 
às instituições educacionais oficiais criadas por lei estadual ou municipal e existentes na data da promulgação 
desta Constituição, que não sejam total ou preponderantemente mantidas com recursos públicos. 
§ 1.º – O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a 
formação do povo brasileiro. 
§ 2.º – O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal. 
 
Diante do dispositivo constitucional acima e acerca do conceito e das concepções de constituição, bem como da 
classificação das constituições, assinale a opção correta. 
A) As normas contidas no dispositivo acima transcrito podem ser caracterizadas como materialmente 
constitucionais, porquanto traduzem a forma como o direitosocial à educação será implementado no Brasil. 
 
25
 ÁVILA, Humberto. ‗Neoconstitucionalismo‘: entre a ‗ciência do direito‘ e o ‗direito da ciência‘. Revista eletrônica de Direito 
do Estado (REDE), Salvador, Instituto Brasileiro de Direito Público, nº 17, janeiro/fevereiro/março, 2009. Disponível na Internet: 
HTTP://www.direitodoestado.com.br.asp. Acesso em 10.8.2010. 
26
 DIDIER, Fredie. Curso de direito processual civil. Volume 1. 12ª edição. Salvador: Jus Podivm, 2010, pág. 28. 
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9 
B) Os dispositivos constitucionais relativos à composição e ao funcionamento da ordem política exprimem o 
aspecto formal da Constituição. 
C) A distinção entre o que é constitucional só na esfera formal e aquilo que o é em sentido substancial só se 
produz nas constituições escritas. 
D) O parágrafo 2.º do art. 242 da CF, por trazer comando típico de legislação infraconstitucional, poderá ser 
alterado por meio do mesmo procedimento legislativo utilizado para a alteração das leis ordinárias, uma vez que a 
CF é classificada, quanto à estabilidade, como semirrígida. 
E) O dispositivo constitucional em destaque demonstra que a CF pode ser classificada, quanto à extensão, como 
prolixa. Diante disso, é correto concluir que, no Brasil, há uma maior estabilidade do arcabouço constitucional que 
em países como os Estados Unidos da América. 
 
5 (MPE-RN / Promotor de Justiça Substituto / 2009) Carta outorgada em 10 de novembro de 1937 é exemplo 
de texto constitucional colocado a serviço do detentor do poder, para seu uso pessoal. É a máscara do poder. É 
uma Constituição que perde normatividade, salvo nas passagens em que confere atribuições ao titular do poder. 
Numerosos preceitos da Carta de 1937 permaneceram no domínio do puro nominalismo, sem qualquer aplicação 
e efetividade no mundo das normas jurídicas. 
Raul Machado Horta. Direito constitucional. 2.a ed. Belo Horizonte: Del Rey, 1999, p. 54-5 (com adaptações). 
Considerando a classificação ontológica das constituições, assinale a opção que apresenta a categoria que se 
aplica à Constituição de 1937, conforme a descrição acima. 
A) constituição semântica 
B) constituição dogmática 
C) constituição formal 
D) constituição outorgada 
E) constituição ortodoxa 
 
6 (TCE-AC / Analista de Controle Externo / 2009) Segundo a classificação da doutrina, a CF é um exemplo de 
constituição 
A) outorgada. 
B) rígida. 
C) sintética. 
D) ortodoxa. 
E) semântica. 
 
7 (TJ-AL / Juiz Substituto / 2009) Acerca do conceito, dos elementos e da classificação da CF, do poder 
constituinte e da hermenêutica constitucional, assinale a opção correta. 
A) De acordo com o princípio da força normativa da constituição, defendida por Konrad Hesse, as normas jurídicas 
e a realidade devem ser consideradas em seu condicionamento recíproco. 
A norma constitucional não tem existência autônoma em face da realidade. Para ser aplicável, a CF deve ser 
conexa à realidade jurídica, social e política, não sendo apenas determinada pela realidade social, mas 
determinante em relação a ela. 
B) Segundo Kelsen, a CF não passa de uma folha de papel, pois a CF real seria o somatório dos fatores reais do 
poder. Dessa forma, alterando-se essas forças, a CF não teria mais legitimidade. 
C) A CF admite emenda constitucional por meio de iniciativa popular. 
D) Segundo Pedro Lenza, os elementos limitativos da CF estão consubstanciados nas normas constitucionais 
destinadas a assegurar a solução de conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, do Estado e das 
instituições democráticas. 
E) Constituição rígida é aquela que não pode ser alterada. 
 
8 (PROCURADOR DO BACEN / 2009 – COM ADAPTAÇÕES) De acordo com a doutrina, constituição semântica 
é aquela cuja interpretação depende do exame de seu conteúdo significativo, sob o ponto de vista sociológico, 
ideológico e metodológico, de forma a viabilizar maior aplicabilidade político-normativo-social de seu texto. 
 
9 (PROCURADOR ESPECIAL DE CONTAS / TCE-ES / 2009) No que se refere aos elementos e à classificação 
das constituições, assinale a opção correta. 
A Quanto ao modo de elaboração, a constituição dogmática decorre do lento processo de absorção de ideias, da 
contínua síntese da história e das tradições de determinado povo. 
B Sob o ponto de vista da extensão, a constituição analítica consubstancia apenas normas gerais de organização 
do Estado e disposições pertinentes aos direitos fundamentais. 
C O preâmbulo, o dispositivo que estabelece cláusulas de promulgação e as disposições transitórias são 
exemplos de elementos de estabilização constitucional. 
D Os direitos individuais e suas garantias, os direitos de nacionalidade e os direitos políticos são considerados 
elementos limitativos das constituições. 
E Os denominados elementos formais de aplicabilidade das constituições são consagrados nas normas 
destinadas a garantir a solução de conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, do Estado e das instituições 
democráticas. 
 
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10 
10 (JUIZ FEDERAL / TRF 1ª REGIÃO / 2009) Assinale a opção correta acerca do conceito, da classificação e dos 
elementos da constituição. 
A Segundo a doutrina, os elementos orgânicos da constituição são aqueles que limitam a ação dos poderes 
estatais, estabelecem as balizas do estado de direito e consubstanciam o rol dos direitos fundamentais. 
B No sentido sociológico, a constituição seria distinta da lei constitucional, pois refletiria a decisão política 
fundamental do titular do poder constituinte, quanto à estrutura e aos órgãos do Estado, aos direitos individuais e à 
atuação democrática, enquanto leis constitucionais seriam todos os demais preceitos inseridos no documento, 
destituídos de decisão política fundamental. 
C Na acepção formal, terá natureza constitucional a norma que tenha sido introduzida na lei maior por meio de 
procedimento mais dificultoso do que o estabelecido para as normas infraconstitucionais, desde que seu 
conteúdo se refira a regras estruturais do Estado e seus fundamentos. 
D Considerando o conteúdo ideológico das constituições, a vigente Constituição brasileira é classificada como 
liberal ou negativa. 
E Quanto à correspondência com a realidade, ou critério ontológico, o processo de poder, nas constituições 
normativas, encontra-se de tal modo disciplinado que as relações políticas e os agentes do poder se subordinam 
às determinações de seu conteúdo e do seu controle procedimental. 
 
11 (DEFENSOR PÚBLICO DE 1ª CATEGORIA / DPE-PI / 2009 – COM ADAPTAÇÕES) São consideradas 
materialmente constitucionais as normas que, mesmo não tendo conteúdo propriamente constitucional, possuem 
em seus enunciados todos os elementos necessários à sua executoriedade direta e integral. 
 
12 (ANALISTA JUDICIÁRIO / TRE-MT / 2010) De acordo com a classificação das constituições, assinale a opção 
correta. 
A Quanto à sua mutabilidade, a CF pode ser classificada como semirrígida, uma vez que não pode ser alterada 
com a mesma simplicidade com que se modifica uma lei. 
B A CF é um exemplo de constituição outorgada, visto que foi elaborada por representantes legítimos do povo. 
C Segundo a classificação ontológica de Karl Loewenstein, as constituições podem ser divididas em normativas, 
nominais ou semânticas, conforme o grau de correspondência entre a pretensão normativa dos seus preceitos e a 
realidade do processo de poder. 
D Quanto à ideologia, a CF é classificada pela doutrina como ortodoxa. 
E A CF foi elaborada sob influxo dos costumes e transformações sociais. Sua confecção é fruto da evolução 
histórica das tradições do provo brasileiro, sendo, por isso, classificada como uma constituição histórica.13 (ANALISTA TÉCNICO-ADMINISTRATIVO / MS / 2010) Em um país que possua uma constituição flexível, 
caso seja editada uma lei com conteúdo contrário ao texto constitucional, essa lei será válida e acarretará 
alteração da Constituição. 
 
14 (ANALISTA TÉCNICO-ADMINISTRATIVO / MS / 2010) Os artigos que tratam da estrutura e organização do 
Estado são normas constitucionais formais. 
 
15 (ANALISTA ADMINISTRATIVO / TRE-BA / 2010) Toda constituição é necessariamente escrita e representada 
por um texto solene e codificado. 
 
16 (CESPE / PROCURADOR FEDERAL DE 2ª CATEGORIA / PGF / 2010) Segundo a doutrina, quanto ao critério 
ontológico, que busca identificar a correspondência entre a realidade política do Estado e o texto constitucional, é 
possível classificar as constituições em normativas, nominalistas e semânticas. 
 
17. (PGE-PE / Procurador do Estado / 2009) Chega de ação. Queremos promessas. Assim protestava o grafite, 
ainda em tinta fresca, inscrito no muro de uma cidade, no coração do mundo ocidental. A espirituosa inversão da 
lógica natural dá conta de uma das marcas dessa geração: a velocidade da transformação, a profusão de ideias, a 
multiplicação das novidades. Vivemos a perplexidade e a angústia da aceleração da vida. Os tempos não andam 
propícios para doutrinas, mas para mensagens de consumo rápido. Para jingles, e não para sinfonias. O direito 
vive uma grave crise existencial. 
Não consegue entregar os dois produtos que fizeram sua reputação ao longo dos séculos. De fato, a injustiça 
passeia pelas ruas com passos firmes e a insegurança é a característica da nossa era. 
Na aflição dessa hora, imerso nos acontecimentos, não pode o intérprete beneficiar-se do distanciamento crítico 
em relação ao fenômeno que lhe cabe analisar. Ao contrário, precisa operar em meio à fumaça e à espuma. 
Talvez esta seja uma boa explicação para o recurso recorrente aos prefixos pós e neo: pós-modernidade, pós-
positivismo, neoliberalismo, neoconstitucionalismo. Sabe-se que veio depois e que tem a pretensão de ser novo. 
Mas ainda não se sabe bem o que é. Tudo é ainda incerto. Pode ser avanço. Pode ser uma volta ao passado. 
Pode ser apenas um movimento circular, uma dessas guinadas de 360 graus. L. R. Barroso. 
Neoconstitucionalismo e constitucionalização do direito. O triunfo tardio do direito constitucional no Brasil. In: 
Internet: <jus2.uol.com.br> (com adaptações). 
 
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11 
Tendo o texto acima como motivação, assinale a opção correta a respeito do constitucionalismo e do 
neoconstitucionalismo. 
A O neoconstitucionalismo tem como marco filosófico o pós-positivismo, com a centralidade dos direitos 
fundamentais, no entanto, não permite uma aproximação entre direito e ética. 
B A democracia, como vontade da maioria, é essencial na moderna teoria constitucional, de forma que as 
decisões judiciais devem ter o respaldo da maioria da população, sem o qual não possuem legitimidade. 
C No neoconstitucionalismo, a Constituição é vista como um documento essencialmente político, um convite à 
atuação dos poderes públicos, ressaltando que a concretização de suas propostas fica condicionada à liberdade 
de conformação do legislador ou à discricionariedade do administrador. 
D O constitucionalismo pode ser definido como uma teoria (ou ideologia) que ergue o princípio do governo limitado 
indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização político-social de uma 
comunidade. Nesse sentido, o constitucionalismo moderno representa uma técnica de limitação do poder com fins 
garantísticos. 
E O neoconstitucionalismo não autoriza a participação ativa do magistrado na condução das políticas públicas, 
sob pena de violação do princípio da separação dos poderes. 
 
18 (MPE-RN / Promotor de Justiça Substituto / 2009) Acerca do constitucionalismo, assinale a opção incorreta. 
A) A origem do constitucionalismo remonta à antiguidade clássica, especificamente ao povo hebreu, do qual 
partiram as primeiras manifestações desse movimento constitucional em busca de uma organização política 
fundada na limitação do poder absoluto. 
B) O neoconstitucionalismo é caracterizado por um conjunto de transformações no Estado e no direito 
constitucional, entre as quais se destaca a prevalência do positivismo jurídico, com a clara separação entre direito 
e valores substantivos, como ética, moral e justiça. 
C) O constitucionalismo moderno representa uma técnica específica de limitação do poder com fins garantidores. 
D) O neoconstitucionalismo caracteriza-se pela mudança de paradigma, de Estado Legislativo de Direito para 
Estado Constitucional de Direito, em que a Constituição passa a ocupar o centro de todo o sistema jurídico. 
E) As constituições do pós-guerra promoveram inovações por meio da incorporação explícita, em seus textos, de 
anseios políticos, como a redução de desigualdades sociais, e de valores como a promoção da dignidade humana 
e dos direitos fundamentais. 
 
 
TEORIA DA CONSTITUIÇÃO 
01 E 02 D 03 A 04 C 05 A 
06 B 07 A 08 C 09 D 10 E 
11 E 12 C 13 C 14 E 15 E 
16 C 17 D 18 B 19 20 
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12 
2. PODER CONSTITUINTE 
É conceituado como o poder de elaborar ou atualizar uma Constituição, mediante a 
supressão, modificação ou acréscimo de normas constitucionais. 
A CF/88, em seu art. 1º, diz que todo o poder emana do povo, ou seja, o titular (dono) do 
poder é povo, entretanto quem exerce o poder normalmente não é o povo, e sim, seus representantes. 
Costuma-se dividir o poder constituinte em originário e derivado. Para parte da doutrina, há 
também o chamado poder constituinte difuso. 
2.1. Poder Constituinte Originário 
Também chamado de inicial, inaugural, de primeiro grau, genuíno ou primário. Ele seria o 
poder de criar uma Constituição, quando o Estado é novo (poder constituinte originário histórico), ou 
quando uma Constituição é substituída por outra, em um Estado já existente (poder constituinte 
revolucionário).27 
Ele não é temporário, sendo comumente chamado de poder latente e permanente. 
Segundo Gilmar Mendes, Inocêncio Coelho e Paulo Branco, ele ―está apto para se manifestar a 
qualquer momento‖.28 
Podem ser enumeradas as seguintes características: 
 
a ilimitado juridicamente: ele não tem de respeitar os limites postos na CF/88 anterior. Costuma-
se dizer que ele ‗pode tudo‘. 
b incondicionado: não tem de se submeter a qualquer forma prefixada de manifestação; 
c inicial: instaura uma nova ordem jurídica, rompendo com a ordem jurídica anterior. 
 
ATENÇÃO: Embora se diga que o poder constituinte originário é juridicamente ilimitado, segundo a 
corrente dos jusnaturalistas – que se contrapõe à dos juspositivistas – ele encontraria alguns limites 
culturais, espirituais, éticos e sociais. 
2.2. Poder Constituinte Derivado 
Recebe outras denominações, tais como poder instituído, constituído secundário ou de 
segundo grau. Sua característica principal é ser criado pelo Poder Constituinte Originário. Ao contrário 
do Originário, que é ilimitado, incondicionado e inicial, o Poder Constituinte Derivado obedece a certas 
regras (limites) impostas pelo Constituinte de primeiro grau. Por essa razão, dizemos que o poder 
constituinte derivado é limitado e condicionado. 
O constituinte derivado divide-se em três: decorrente, revisor e reformador. 
2.2.1. Poder Constituinte Derivado Decorrente 
É a possibilidade que os Estados-membros têm, em virtude de sua autonomia político-
administrativa, de se auto-organizarem por meio de suas respectivas constituições estaduais, sempre 
respeitando os princípios colocados na CF/88 (art. 25). 
Quais seriam os princípios que os Estados deveriam respeitarna elaboração de suas 
constituições? 
De acordo com Uadi Lamego Bulos29, seriam três espécies de princípios: 
 
27
 Cf. PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional Descomplicado, 3ª ed. São Paulo: Método. 2008, 
pág. 78. 
28
 MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito 
Constitucional, 2ª edição, São Paulo: Saraiva. 2008, pág. 200. 
29
 BULOS, Uadi Lamego. Constituição Federal anotada. São Paulo: Saraiva, 2000, págs. 506-9. 
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13 
2.2.1.1. Princípios constitucionais sensíveis: 
São aqueles previstos no artigo 34, inciso VII, da CF/88. Uma vez desrespeitados, autorizam 
a decretação de intervenção federal. 
2.2.1.2. Princípios constitucionais estabelecidos (organizatórios): 
Para o citado autor, ―são aqueles que limitam, vedam ou proíbem a ação indiscriminada do 
Poder Constituinte Decorrente. Por isso mesmo, funcionam como balizas reguladoras da capacidade de 
auto-organização dos Estados‖. Eles se subdividem em: 
 
a limites explícitos vedatórios ou mandatórios: proíbem os estados de praticar atos ou 
procedimentos contrários aos fixados pelo Constituinte Originário (Ex.: artigo 19), ou impõem 
restrições à liberdade de organização. Ex.: art. 18, § 4º, da CF/88. 
b limites inerentes: implícitos ou tácitos, vedariam qualquer possibilidade de invasão de 
competência por parte dos estados-membros; 
c limites decorrentes: assim chamados por decorrerem das disposições expressas. Ex.: 
necessidade de se respeitar a dignidade da pessoa humana, os princípios republicano e da 
legalidade. 
 
Alertamos os estudantes que, para o Supremo Tribunal, a norma prevista no art. 57, § 4º, da 
CF/88, que trata da proibição de recondução dos parlamentares para as Mesas das Casas Legislativas 
(Câmara, Senado e Congresso) não é norma de repetição obrigatória, pois não se enquadra entre os 
princípios constitucionais estabelecidos. 
Confira-se: 
 
CONSTITUCIONAL. ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA ESTADUAL:MESA DIRETORA: 
RECONDUÇÃO PARA O MESMO CARGO. Constituição do Estado de Rondônia, art. 29, inc. I, 
alínea b, com a redação da Emenda Const. Estadual nº 3/92. C.F., art. 57, § 4º. TRIBUNAL DE 
CONTAS: CONSELHEIRO: NOMEAÇÃO: REQUISITO DE CONTAR MENOS DE SESSENTA E 
CINCO ANOS DE IDADE. Constituição do Estado de Rondônia, art. 48, § 1º, I, com a redação da 
Emenda Const. Estadual nº 3/92. C.F., art. 73, § 1º, I. I. - A norma do § 4º do art. 57 da C.F. que, 
cuidando da eleição das Mesas das Casas Legislativas federais, veda a recondução para o 
mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente, não é de reprodução obrigatória nas 
Constituições dos Estados-membros, porque não se constitui num princípio constitucional 
estabelecido.
30
 
2.2.1.3. Princípios constitucionais extensíveis: 
―São aqueles que integram a estrutura da federação brasileira, relacionando-se, por 
exemplo, com a forma de investidura em cargos eletivos (artigo 77), o processo legislativo (arts. 59 e 
ss), os orçamentos (arts. 165 e ss), os preceitos ligados à Administração Pública (arts. 37 e ss)‖. 
Existe Poder Constituinte Derivado Decorrente nos municípios e no DF? 
É certo que o poder constituinte derivado decorrente não foi estendido aos municípios 
(politicamente organizados por lei orgânica). Isso porque a lei orgânica do município se submete a um 
duplo grau de imposição legislativa, devendo ser compatível com a Constituição Federal e com a 
Estadual. 
Nos dizeres da Professora Noêmia Porto, 
 
... o poder constituinte derivado decorrente deve ser de segundo grau, tal como acontece com o 
poder revisor e poder reformador, isto é, encontrar sua fonte de legitimidade direta da Constituição 
Federal. No caso dos Municípios, porém, se descortina um poder de terceiro grau, porque 
mantém relação de subordinação com o poder constituinte estadual e o federal.
31
 
 
 
30
 ADI 793/RO, Relator Ministro Carlos Velloso, DJ de 16.5.1997. 
31
 PORTO, Noêmia. Temas relevantes de direito constitucional: poder constituinte. Brasília: Fortium, 2005, pág. 55-56. 
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14 
Quanto ao DF, a questão é controversa. Pelo critério jurídico-formal, a manifestação do 
poder constituinte derivado decorrente mantém-se adstrita à atuação dos estados-membros para a 
elaboração de suas respectivas constituições, não se estendendo ao DF e aos municípios, que se 
organizam mediante lei orgânica. Esse critério foi adotado pelo CESPE à época da elaboração da última 
prova de Juiz Federal da 1ª Região (realizada em 4.10.09). 
Pelo critério funcional, mencionado por Luiz Alberto Davi Araújo e Vidal Serrano Nunes 
Júnior32, a Lei Orgânica do Distrito Federal teria a mesma função das Constituições Estaduais, 
consubstanciando expressão do Poder Constituinte Derivado Decorrente. 
O entendimento prevalente no STF é o de que a Lei Orgânica do Distrito Federal mais se 
aproxima a uma Constituição Estadual. Aquela Corte faz referência à expressão Constituição distrital. 
Vejamos, a propósito, este precedente: 
 
A Lei Orgânica do Distrito Federal constitui instrumento normativo primário destinado a regular, de 
modo subordinante - e com inegável primazia sobre o ordenamento positivo distrital - a vida 
jurídico-administrativa e político-institucional dessa entidade integrante da Federação brasileira. 
Esse ato representa, dentro do sistema de direito positivo, o momento inaugural e fundante da 
ordem jurídica vigente no âmbito do Distrito Federal. Em uma palavra: a Lei Orgânica equivale, 
em força, autoridade e eficácia jurídicas, a um verdadeiro estatuto constitucional, 
essencialmente equiparável as Constituições promulgadas pelos Estados-membros.
33
 
 
Mais recentemente, houve nova manifestação do Supremo Tribunal, que assentou o 
seguinte: 
 
... a Lei Orgânica do Distrito Federal apresenta, no dizer da doutrina, a natureza de 
verdadeira constituição local, ante a autonomia política, administrativa e financeira que a Carta 
Magna confere a tal ente federado.
34
 
 
Em resumo, podemos asseverar que o DF, assim como os estados, possui poder 
constituinte derivado decorrente. Tal poder, entretanto, não foi estendido aos municípios. 
2.2.2. Poder Constituinte Derivado Revisor 
O Poder Constituinte derivado revisor, assim como o reformador e o decorrente, é fruto do 
trabalho de criação do originário, estando, portanto, a ele vinculado. É, assim, um poder condicionado e 
limitado. 
O art. 3º do ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias) determinou que, após 
pelo menos cinco anos da promulgação da CF/88, fosse feita uma revisão no texto constitucional. 
Essa revisão seria feita em sessão unicameral, pelo voto de maioria absoluta dos 
membros do Congresso Nacional e teria por objeto atualizar e adequar a CF/88 à realidade da época. 
ATENÇÃO: para se fazer as emendas de revisão, o rito era mais simples: só bastava uma votação em 
sessão unicameral e o quorum de aprovação era de maioria absoluta. 
Em 1994, foram feitas seis Emendas de Revisão, não sendo mais possível nova 
manifestação do constituinte derivado revisor em razão do exaurimento (acabou) da aplicabilidade da 
norma. 
2.2.3. Poder Constituinte Derivado Reformador 
É um poder limitado e condicionado, que encontra seu fundamento no constituinte originário. 
Manifesta-se por meio das emendas constitucionais (arts. 59 e 60 da CF/88). 
 
32
 ARAÚJO, Luiz Alberto Davi; NUNES JR, Vidal Serrano. Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros. 2005, págs.13-14). 
33
 ADI 980/DF, Relator Ministro Celso de Mello, DJ de 13.5.1994). 
34
 RE 577.025/DF, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, DJe de 6.3.2009). 
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15 
O constituinte originário permitiu que o texto constitucional sofresse alteração (acréscimo, 
supressão ou modificação), desde que observados um procedimento rígido e certas limitações. 
Para ser promulgada, uma Emenda à Constituição deve ser aprovada em 2 turnos de 
votação, por cada Casa do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados + Senado Federal), obtendo, 
em cada votação, 3/5 de votos. 
As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em conjunto, são as 
responsáveis pela promulgação. 
ATENÇÃO: vale lembrar que o Presidente da República não promulga, não sanciona e não veta as 
emendas à Constituição. A única fase em que ele pode participar é na iniciativa. 
2.2.3.1. Limitações ao constituinte reformador 
Como vimos, o constituinte reformador deve obedecer a certos limites. Assim, certas 
matérias – as chamadas cláusulas pétreas – não podem ser objeto de deliberação tendente às abolir 
(prejudicar, retirar, acabar). 
Há também limitações circunstanciais (CF/88 não pode ser alterada em certas 
circunstâncias de instabilidade política) e implícitas (não se pode suprimir a parte da CF/88 em que são 
estabelecidos os limites, pois isso seria uma burla indireta). Vale lembrar que não há limites temporais 
na CF/88. 
a Limitação circunstancial: não poderá haver emenda à Constituição durante: 
 
- intervenção federal; 
- estado de defesa; 
- estado de sítio. 
 
b Limitação material: não poderá ser objeto de deliberação a Proposta de Emenda à 
Constituição – PEC – tendente a abolir: 
 
- a forma federativa de Estado (divisão em Estados, DF e Municípios); 
- o voto direto, secreto, universal e periódico; 
- a separação dos Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário); 
- os direitos e garantias individuais. 
 
ATENÇÃO: o voto direto, secreto, universal e periódico é clausula pétrea, mas a obrigatoriedade do 
voto não. 
 Quando se fala em não ser objeto de deliberação, quer-se dizer que a emenda não pode 
nem ser colocada em votação, muito menos ser aprovada. 
 Se for para estender ou reforçar garantias pode haver a modificação inclusive dessas 
matérias. O que não pode é EC ‗tendente a abolir, restringir, diminuir‘ etc. 
c Limitação implícita: ao lado das limitações circunstanciais, materiais e procedimentais, a 
doutrina lista também as implícitas.35 
Entre elas estaria impossibilidade de alteração tanto do titular do poder constituinte 
originário como do poder constituinte derivado reformador. 
Além disso, não se permitiria a chamada dupla revisão, instituto constituído da seguinte 
forma: num primeiro momento, seriam extraídas as regras constitucionais nas quais constam as 
proibições. A título de exemplo, seria revogada a norma prevista no art. 60, § 4º, I, ‗e‘ – prevê a forma 
federativa de Estado; num segundo momento, outra emenda constitucional diria que o estado unitário 
seria adotado no Brasil. 
Diferenças entre constituinte originário x constituinte derivado 
Originário Derivado 
 
35
 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14ª ed. São Paulo: Saraiva, pág. 471. 
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16 
Juridicamente ilimitado (‗pode tudo‘) Obedece a limites, que são colocados pelo Constituinte Originário. 
Normas do Constituinte Originário nunca são 
inconstitucionais. 
Normas do Constituinte Derivado podem ser inconstitucionais, quando 
contrariem àquelas editadas pelo Originário. 
 
Diferenças entre constituinte revisor x constituinte reformador 
Revisor Reformador 
São as emendas constitucionais de revisão - ECR São as emendas à Constituição - EC 
Emendas deviam ser feitas 5 anos após a promulgação 
da CF/88 
Emendas podem ser feitas a qualquer tempo (salvo em certas 
circunstâncias) 
Precisavam obter maioria absoluta de votos Precisava obter três quintos de votos 
Votação em sessão unicameral Votação em cada Casa do Congresso Nacional (CD + SF) 
Uma única votação (1x) Duas votações em cada Casa (2x) 
Parou na ECR 6/94 Atualmente está na EC 72/13 
ATENÇÃO: vale lembrar que o Presidente da República não promulga, não sanciona e não veta as 
emendas à Constituição. A única fase em que ele pode participar é na iniciativa. 
2.3. Poder Constituinte Difuso 
Segundo parte da doutrina, seria um poder que decorre de fatores sociais, políticos e 
econômicos. Consiste na alteração informal de uma norma da Constituição. 
Em outras palavras, seria a modificação da interpretação sem alteração no texto. É também 
chamado de mutação constitucional. 
2.4. Poder Constituinte Supranacional 
Seria o poder que cria uma Constituição, na qual cada Estado cede uma parcela de sua 
soberania para que uma Constituição comunitária seja criada. O titular deste Poder não é o povo, mas o 
cidadão universal. 
Ele tem por fundamentos: a cidadania universal; pluralismo de ordenamentos jurídicos; 
vontade de integração e soberania remodelada. 
QUESTÕES SOBRE O TEMA 
1 (AGU / Advogado da União / 2009) O poder constituinte originário esgota-se quando é editada uma 
constituição, razão pela qual, além de ser inicial, incondicionado e ilimitado, ele se caracteriza pela 
temporariedade. 
 
2 (PROCURADOR DO BACEN / 2009 – COM ADAPTAÇÕES) O poder constituinte derivado decorrente deve 
observar, entre outros, os princípios constitucionais estabelecidos, que integram a estrutura da Federação 
brasileira, como, por exemplo, a forma de investidura em cargos eletivos, o processo legislativo e os orçamentos. 
 
3 (PROCURADOR ESPECIAL DE CONTAS / TCE-ES / 2009 – COM ADAPTAÇÕES) Acerca da formação da 
constituição, da recepção, da reforma e da revisão de normas constitucionais, na sistemática constitucional 
brasileira, julgue os itens. 
A No tocante ao poder constituinte originário, o Brasil adotou a corrente positivista, de modo que o referido poder 
se revela ilimitado, apresentando natureza pré-jurídica. 
B As normas produzidas pelo poder constituinte originário são passíveis de controle concentrado e difuso de 
constitucionalidade. 
C A CF pode ser alterada, a qualquer momento, por intermédio do chamado poder constituinte derivado 
reformador e também pelo derivado revisor. 
 
4 (JUIZ FEDERAL / TRF 1ª REGIÃO / 2009) Julgue os itens subsequentes, relativos aos poderes constituintes 
originário e derivado. 
I. O poder constituinte originário não se esgota quando se edita uma constituição, razão pela qual é considerado 
um poder permanente. 
II. Respeitados os princípios estruturantes, é possível a ocorrência de mudanças na constituição, sem alteração 
em seu texto, pela atuação do denominado poder constituinte difuso. 
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17 
III. O STF admite a teoria da inconstitucionalidade superveniente de ato normativo editado antes da nova 
constituição e perante o novo paradigma estabelecido. 
IV. Pelo critério jurídico-formal, a manifestação do poder constituinte derivado decorrente mantém-se adstrita à 
atuação dos estados-membros para a elaboração de suas respectivas constituições, não se estendendo ao DF e 
aos municípios, que se organizam mediante lei orgânica. 
V. O poder constituinte originário pode autorizar a incidência do fenômeno da desconstitucionalização, segundo o 
qual as normas da constituição anterior, desde que compatíveis com a nova ordem constitucional, permanecem 
em vigor com status de norma infraconstitucional. 
 
Estão certos apenas os itens 
A I e V. 
B II e III. 
C I, IIIe IV. 
D I, II, IV e V. 
E II, III, IV e V. 
 
5 (DEFENSOR PÚBLICO DE 1ª CATEGORIA / DPE-PI / 2009) Quanto aos limites de atuação do poder de 
reforma constitucional e ao alcance de proteção das cláusulas pétreas, assinale a opção correta. 
A Sendo um poder instituído, o poder de reforma constitucional sofre limitações de conteúdo, mas não de forma. 
Assim, uma proposta de emenda à CF que seja rejeitada poderá ser reapresentada na mesma sessão legislativa. 
B O STF entende que os direitos e garantias individuais considerados cláusulas pétreas pela CF restringem-se 
àqueles expressos no elenco do art. 5.º, não admitindo interpretação extensiva. 
C Consideram-se limitações temporais as situações que impedem que a CF seja emendada na vigência de 
intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. 
D No exercício do poder de reforma constitucional, o Congresso Nacional dispõe da faculdade de modificar a Lei 
Magna, não se admitindo que essa competência seja restringida por limitações outras que não aquelas constantes 
de forma explícita do texto constitucional. 
E A jurisprudência do STF considera que os limites materiais ao poder constituinte de reforma não significam a 
intangibilidade literal da disciplina dada ao tema pela Constituição originária, mas sim a proteção do núcleo 
essencial dos princípios e institutos protegidos pelas cláusulas pétreas. 
 
6 (AGENTE ADMINISTRATIVO / MPS / 2009) O poder constituinte derivado, ou de revisão ou reforma, 
caracteriza-se por ser inicial, autônomo e incondicionado, corporificando-se por meio de instrumento denominado 
emenda constitucional. 
 
7 (PROCURADOR FEDERAL DE 2ª CATEGORIA / PGF / 2010) No que se refere ao poder constituinte originário, 
o Brasil adotou a corrente jusnaturalista, segundo a qual o poder constituinte originário é ilimitado e apresenta 
natureza pré-jurídica. 
 
8 (PROMOTOR DE JUSTIÇA / PGJ-SE / 2010) Assinale a opção correta a respeito dos conceitos de mutação 
constitucional, revisão constitucional e poder constituinte. 
A Tratando-se de mutação constitucional, o texto da constituição permanece inalterado, e alteram-se apenas o 
significado e o sentido interpretativo de determinada norma constitucional. 
B A revisão constitucional prevista no ADCT da CF, que foi realizada pelo voto da maioria simples dos membros 
do Congresso Nacional, gerou seis emendas constitucionais de revisão que detêm o status de normas 
constitucionais originárias. 
C Previsto pelo constituinte originário, o poder constituinte derivado decorrente encontra limitações apenas nas 
cláusulas pétreas. 
D Sendo poder de índole democrática, autônomo e juridicamente ilimitado, o poder constituinte originário tem 
como forma única de expressão a assembleia nacional constituinte. 
E É expressamente previsto na CF que os Poderes Legislativos dos estados, do DF e dos municípios devem 
elaborar suas constituições e leis orgânicas mediante manifestação do poder constituinte derivado decorrente. 
PODER CONSTITUINTE 
01 E 02 E 03 CEE 04 D 05 E 
06 E 07 E 08 A 09 10 
11 12 13 14 15 
 
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18 
3. PRINCÍPIO DA HIERARQUIA DAS NORMAS 
Nas palavras de Bobbio, 
 
... as normas de um ordenamento não estão todas no mesmo plano. Há normas superiores e 
normas inferiores. As inferiores dependem das superiores. Subindo das normas inferiores àquelas 
que se encontram mais acima, chega-se a uma norma suprema, que não depende de nenhuma 
outra superior e sobre a qual repousa a unidade do sistema. Essa norma suprema é a norma 
fundamental, que dá unidade a todas as outras, isto é, faz das normas espalhadas e de várias 
proveniências um conjunto unitário que pode ser chamada de ordenamento.
36
 
 
Como visto, dentro do ordenamento jurídico (conjunto de leis em sentido amplo) de um país 
existem normas de diferente hierarquia. 
Pode-se representar esta hierarquia por meio de uma pirâmide: no todo estaria a 
Constituição; em seguida teríamos as emendas (que se incorporam ao texto constitucional); mais 
abaixo os atos normativos primários (constantes no art. 59 da CF/88, com exceção das emendas à 
Constituição); e já na base da pirâmide os atos infralegais (portarias, instruções normativas etc). 
Feitas essas considerações, podemos dizer que: 
1 Pelo princípio da supremacia da constituição, a CF/88 é hierarquicamente superior às 
demais normas. Ou seja: se uma norma contrariar a CF/88, ela será inconstitucional. 
2 Não há hierarquia entre normas originárias da CF/88. Quando, no caso concreto, houver 
um conflito (na verdade, apenas aparente) entre as normas, deve-se recorrer a princípios 
interpretativos. 
Assim, uma norma pode ceder espaço à outra, sem que isso implique sua 
inconstitucionalidade. 
Deve, também, ser ressaltado que o STF37 não admite a teoria da inconstitucionalidade 
de normas originárias (editadas pelo Constituinte Originário), defendida pelos professores Otto Bachof 
e Jorge Miranda. 
3 Uma emenda à Constituição pode ser declarada inconstitucional, caso desrespeite a 
CF/88. Isso ocorre porque as emendas constitucionais fazem parte do Poder Constituinte Derivado. 
Assim, elas (as emendas) devem estar de acordo com a Constituição. 
É comum a seguinte indagação nas provas: ‗Existe norma constitucional inconstitucional?‘. 
A resposta é... depende. 
Se a norma for originária, não haverá hipótese de inconstitucionalidade. Agora, se ela for 
fruto do Constituinte Derivado, poderá padecer de vício de inconstitucionalidade. 
Exemplificando, pode uma emenda à CF/88 ou um artigo de determinada Constituição 
Estadual serem declarados inconstitucionais por afrontarem a Constituição Federal. 
4 Uma emenda à Constituição é hierarquicamente superior às leis, pois se incorpora ao 
texto constitucional. 
5 Não existe hierarquia entre leis federais, estaduais e municipais. O que existe são 
diferentes âmbitos de atuação (cada uma atua em sua esfera de competência, definida pela CF/88). 
6 Prevalece o entendimento de que não existe hierarquia entre lei ordinária (LO) e lei 
complementar (LC)38. O que haveria, na verdade, são diferentes âmbitos de atuação. O assunto será 
estudado de maneira mais detalhada quando tratarmos do Processo Legislativo. 
7 Segundo a jurisprudência do STF39, uma LC pode ser revogada por uma LO (desde que a 
LC tenha tratado de matéria própria de LO). 
 
36
 BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. Brasília: Editora UnB. 1982, pág. 49. 
37
 ADI 815/DF, Relator Ministro Moreira Alves, DJ de 10.5.96. 
38
 Na doutrina, posicionam-se pela inexistência de hierarquia: Celso Bastos e Michel Temer. Concluindo pela existência de 
hierarquia, estão, entre outros, Manoel Gonçalves Ferreira Filho e Alexandre de Moraes. 
39
 Nesse sentido: RE 377.457/PR, Relator Ministro Gilmar Mendes, DJe de 19.12.2008. 
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19 
8 Excetuando as Emendas à Constituição, não há hierarquia entre os atos normativos 
primários, previstos no art. 59 da CF/88. 
9 Com relação aos tratados internacionais, devem ser feitas algumas considerações... 
 
a Em regra, os tratados internacionais têm status (força) de lei ordinária. 
b A partir da EC nº 45/04, os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos (TIDH) 
que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos 
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. 
c Os tratados internacionais sobre direitos humanos (TIDH) anteriores à EC nº 45/04, têm status 
de norma supralegal, ou seja, são hierarquicamente maiores que leis ordinárias e menores que a 
CF/88.ATENÇÃO: Calha ressaltar que, para parte da doutrina40, existe a necessidade de o ordenamento 
jurídico interno se compatibilizar não só com a Constituição (Controle de Constitucionalidade), mas 
também com os tratados internacionais com status supralegal (Controle de Convencionalidade). 
Haveria, assim, a necessidade de dupla compatibilização vertical das leis (frente à CF/88 e aos 
TIDH). 
10 Os decretos regulamentares são considerados atos normativos secundários. A sua 
missão é a de regulamentar as leis. Daí se diz que eles se sujeitam a controle de legalidade e não de 
constitucionalidade. 
Em sentido contrário, os decretos autônomos, inseridos pela EC nº 32/2001 – art. 84, VI, da 
CF/88, são considerados atos normativo primários, sujeitando-se a controle de constitucionalidade. 
Sistematizando, temos o seguinte quadro: 
Espécie Submissão Classificação 
Decretos regulamentares À lei e à CF/88 Ato normativo secundário 
Decretos autônomos Somente à CF/88 Ato normativo primário 
 
QUESTÕES SOBRE O TEMA 
1 (SECRETÁRIO EXECUTIVO / MEC-FUB / 2009) De acordo com a hierarquia das leis, a Constituição Federal 
está subordinada às leis complementares, pois elas regulamentam o que falta na Constituição. 
 
2 (DEFENSOR PÚBLICO DE 1ª CATEGORIA / DPE-PI / 2009 – COM ADAPTAÇÕES) O princípio da supremacia 
constitucional, mediante o qual nenhuma lei ou ato normativo poderá subsistir validamente se for incompatível 
com a CF, tem uma dimensão material, mas não formal. Nesse sentido, o descumprimento de preceitos 
constitucionais de natureza formal não permite a fiscalização judicial da validade do ato, resolvendo-se pelos 
métodos de controle parlamentar ou administrativo. 
 
3 (AGENTE ADMINISTRATIVO / MPS / 2009) A norma constitucional é uma sobre norma, porque trata do 
conteúdo ou das formas que as demais normas devem conter, apresentando princípios que servem de guias 
supremos ao exercício das competências dos órgãos. 
 
4 (AGENTE ADMINISTRATIVO / MPS / 2009) Segundo a estrutura escalonada ou piramidal das normas de um 
mesmo sistema jurídico, no qual cada norma busca sua validade em outra, situada em plano mais elevado, a 
norma constitucional situa-se no ápice da pirâmide, caracterizando se como norma-origem, porque não existe 
outra que lhe seja superior. 
 
5 (ANALISTA TÉCNICO-ADMINISTRATIVO / MS / 2010) A distinção hierárquica entre normas constitucionais é 
inadmissível perante a Constituição. 
 
HIERARQUIA DAS NORMAS 
01 E 02 E 03 C 04 C 05 C 
06 07 08 09 10 
 
40
 GOMES, Luiz Flávio. Controle de convencionalidade: STF revolucionou nossa pirâmide jurídica. Disponível em 
http://www.lfg.com.br. 26 de setembro de 2008. 
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20 
4. EFICÁCIA E APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 
Nesse ponto, será utilizada a classificação feita pelo Professor José Afonso da Silva41, por 
ser a mais utilizada nas provas de concurso. Entretanto, também serão feitos rápidos comentários às 
nomenclaturas referidas pelos professores Maria Helena Diniz42 e Michel Temer43. 
4.1. Normas de eficácia plena: 
Elas possuem aplicabilidade direta, imediata e integral. São aquelas normas da CF/88 que, 
no momento de sua entrada em vigor, estão aptas a produzir todos os seus efeitos, independentemente 
de norma integrativa infraconstitucional. 
Ex.: remédios constitucionais e a norma que prevê gratuidade de transportes coletivos 
urbanos aos maiores de sessenta e cinco anos (art. 230, § 2º). Outros exemplos: art. 2º; 14, § 2º; 17, § 
4º; 19; 20; 21; 22; 24; 30 etc. 
É também essa a nomenclatura de Maria Helena Diniz. 
4.2. Normas de eficácia contida: 
Possuem aplicabilidade direta e imediata, mas possivelmente não integral. São aquelas em 
que o legislador constituinte regulou suficientemente os interesses relativos a determinada matéria, mas 
deixou margem à atuação restritiva por parte do legislador. 
Ex.: art. 5º, XIII (―é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as 
qualificações profissionais que a lei estabelecer‖). Ou seja: garante-se o direito do livre exercício 
profissional, mas uma lei, por exemplo, o Estatuto da OAB, pode exigir a aprovação no exame da 
Ordem para que a pessoa se torne advogado. 
Para o STF44, a norma prevista no art. 5º, LXVII (―não haverá prisão civil por dívida, salvo a 
do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do 
depositário infiel‖) é de eficácia contida, ou restringível. 
Outros exemplos: incisos VII, VIII, XV, XXIV, XXV, XXVII, XXXIII do art. 5º; art. 15, IV etc. 
ATENÇÃO: As normas de eficácia contida são chamadas de normas com eficácia relativa restringível 
pela professora Maria Helena Diniz. Já Michel Temer, utiliza a expressão normas de eficácia redutível 
ou restringível. 
4.3. Normas de eficácia limitada: 
Possuem aplicabilidade indireta, mediata e dependente de complementação. São aquelas 
que, de imediato, no momento em que a CF/88 é promulgada, não têm a possibilidade de produzir 
todos os seus efeitos, precisando de uma lei integrativa infraconstitucional. 
Ex.: art. 37, VII - direito de greve de servidor público será exercido nos termos e nos limites 
definidos em lei específica. Outro exemplo: art. 7º, XI. 
É incorreto dizer que as normas de eficácia limitada não produzem nenhum efeito. Elas 
possuem a chamada eficácia mínima ou efeito paralisante e também o efeito revogador. Ou seja: no 
mínimo, elas impedem que leis inviabilizem direitos previstos na CF/88 e revogam normas que sejam 
contrárias a seu texto. Ex.: não pode uma lei dizer que servidor público não terá direito de greve. Essa 
lei seria inconstitucional. 
ATENÇÃO: Para Maria Helena Diniz, essas normas são chamadas de normas com eficácia relativa 
complementável ou dependente de complementação legislativa. 
 
41
 SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 3ª ed. São Paulo: Malheiros, 1998. 
42
 DINIZ, Maria Helena. Norma constitucional e seus efeitos. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 1997. 
43
 TEMER, Michel. Elementos de direito constitucional. 14ª ed. São Paulo: Malheiros, 1998. 
44
 HC-94.013/SP, Relator Ministro Carlos Britto, DJe de 13.3.2009. 
Direito Constitucional fácil para Concursos Públicos Aragonê Nunes Fernandes 
 
 
21 
4.4. Normas programáticas: 
São normas de aplicação diferida, e não de aplicação ou execução imediata; mais do que 
comandos-regras, explicitam comandos-valores. Têm como destinatário principal o legislador, que 
deverá fazer a ponderação do tempo e dos meios em que vêm a ser revestidas de plena eficácia; não 
consentem que os cidadãos as invoquem imediatamente após a entrada em vigor da CF/88. Ex.: arts. 
196 e 205. 
ATENÇÃO: A professora Maria Helena Diniz também aponta a existência das normas supereficazes 
ou com eficácia absoluta. Elas não poderiam ser modificadas por meio de emenda e possuiriam força 
paralisante total de qualquer legislação que, explícita ou implicitamente, vier a contrariá-las. Ex.: as 
cláusulas pétreas. 
Ao longo de nosso trabalho em sala de aula, pudemos perceber a dificuldade dos alunos na 
identificação da norma constitucional, pois, por vezes, há confusão principalmente entre as normas de 
eficácia contida e as de eficácia limitada. 
Pensando nisso, usaremos o seguinte quadro, com o intuito de tornar menos árdua a 
resolução das provas: 
Classificação Características Fórmula identificadora 
Eficácia Plena Aplicabilidade direta, imediata e integral 
Desde a promulgação da CF pode produzir 
todos os seus efeitos. 
100%  100% 
Eficácia Contida 
Aplicabilidade direta, imediata, mas 
possivelmente não integral

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