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DOMÍNIO PÚBLICO INTERNACIONAL E PATRIMÔNIO COMUM DA

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DOMÍNIO PÚBLICO INTERNACIONAL E PATRIMÔNIO COMUM DA HUMANIDADE
 
DISCIPLINA DOS ESPAÇOS INTERNACIONAIS:
                 Há espaços e recursos naturais que se encontram em mais de um Estado, como é o caso de um rio que percorra mais de um país, ou de um lago que fique em região de fronteira. Nessa hipótese, cada ente estatal tem o direito de utilizar a parcela da área do recurso que se encontre em seu território de acordo com os ditames de suas decisões soberanas.
Existem espaços geográficos dentro e fora da Terra, que pelo menos em parcelas importantes de sua extensão, não pertencem a nenhum Estado, como o alto mar, o espaço aéreo internacional ou o espaço extra-atmosférico. Há também áreas que se encontram sob a soberania de um entente estatal, mas que se revestem de grande importância para toda humanidade, como o mar territorial e o espaço aéreo dos Estados, relevantes para o bom desenvolvimento da navegação aérea e marítima, desenvolvimento do comércio e etc. Essas áreas formam o chamado “domínio público internacional”.
                 Rezek define como “aqueles espaços cuja utilização suscita o interesse de mais de um Estado Soberano – às vezes de toda comunidade internacional – ainda quando sujeitos à incidência de determinada soberania.”
Pelo menos por enquanto, tais áreas são somente o mar, o espaço aéreo, as zonas polares e o espaço extra-atmosférico.
Cabe ressaltar que determinadas áreas que pertencem ao território de um ou de mais Estados e que parecem muito importantes para boa parcela da humanidade, como a Amazônia, o Saara e a Sibéria ainda não são consideradas como parte do domínio público internacional.
DIREITO DO MAR, DOS RIOS E DAS ÁGUAS INTERIORES. A NAVEGAÇÃO MARÍTIMA
                 O Direito Internacional regula o emprego do mar, dos rios e das águas interiores pelas atividades humanas, com vistas a permitir o melhor proveito possível desses espaços, mas sempre à luz da necessidade de manter o respeito à soberania nacional.
Vale destacar que as normas internacionais há muito se ocupam também das águas fronteiriças ou daquelas que banham mais de um Estado.
O principal tratado referente ao mar é a Convenção das Nações Unidas para o Direito do Mar (Convenção de Montego Bay), de 1982 (Decreto n. 1.530/95). O marco legal concernente ao tema no Brasil consta também da Lei n. 8.617/93.
Dentre os princípios do Direito do Mar encontramos:
Contribuição de suas normas para a manutenção da paz e para a promoção da justiça e do progresso de todos os povos do mundo;
A importância da cooperação internacional;
O respeito à soberania nacional;
A facilitação das comunicações internacionais;
O uso pacífico dos espaços marinhos.
É também princípio geral do Direito do Mar a obrigação dos Estados de proteger e preservar o meio marinho e de utilizar, de forma equitativa e eficiente seus recursos (arts. 116-120 e 192-222 da Convenção).
A Convenção de Montego Bay criou o Tribunal Internacional do Direito do Mar, com sede em Hamburgo, competente para examinar todas as controvérsias e pedidos relativos às normas do tratado em apreço ou de qualquer ato internacional que se refira à matéria de Direito do Mar (arts. 21 e 22 do Anexo VI da Convenção de Montego Bay).
Mar territorial
O mar territorial é a zona marítima adjacente ao território do Estado, sobre o qual este exerce sua soberania. Alcança também o espaço aéreo sobrejacente, o leito e o subsolo do mar territorial.
Todo estado tem o direito de fixar a largura de seu mar territorial até um limite que não ultrapasse 12 milhas marítimas, medidas a partir da linha de base determinada em conformidade com a Convenção de Montego Bay (arts. 3-7).
O Brasil acompanha o Direito Internacional nesse âmbito (art. 1º da Lei n. 8.617).
OBS: encontra-se, portanto, superada a noção de que o mar territorial brasileiro tem 200 milhas de extensão. Isso constava do Decreto n. 1.098/70. Já foi colocado como assertiva em prova de concurso.
A Convenção fixa limites à soberania estatal dentro do mar territorial, fixando normas como aquelas que determinam que os navios de qualquer Estado, costeiro ou sem litoral, gozarão do direito de “passagem inocente” pelo mar territorial (arts. 17 a 26).
O Brasil reconhece o direito de passagem inocente em seu mar territorial aos navios de todas as nacionalidades, que ficam sujeitos às normas brasileiras pertinentes.
O Estado costeiro não exercerá sua jurisdição penal a bordo de navio estrangeiro eu passe por seu mar territorial com o fim de deter qualquer pessoa ou de realizar qualquer investigação com relação a uma infração criminal cometida a bordo dessa embarcação durante sua passagem, salvo nos seguintes casos (art. 27):
Se o ato tiver consequências para o Estado costeiro;
Se o ilícito puder perturbar a paz do Estado ou a ordem no mar territorial;
Se a assistência das autoridades locais tiver sido solicitada pelo capitão do navio ou pelo representante diplomático ou consular do Estado de bandeira
Ou se essas medidas forem necessárias para a repressão do tráfico de drogas.
Em todo caso, o Código Penal (art. 5, § 2º) determina que se aplica a lei brasileira ao crime praticado a bordo de embarcações estrangeiras de propriedade privada que se encontre em território nacional, em porto ou mar territorial do Brasil.
Em suma, não deve prevalecer a crença de que dentro do mar territorial de um Estado sempre se aplicam suas leis e se exerce sua jurisdição.
Já os navios de guerra e outros navios de Estado utilizados para fins não comerciais gozarão de imunidade de jurisdição, mas sua saída do mar territorial poderá ser exigida pelo Estado costeiro caso não cumpram as leis e regulamentos relativos à passagem pelo mar territorial. No alto mar, tais navios gozam de completa imunidade de jurisdição.
Zona contígua:
É a área adjacente ao mar territorial, dentro da qual o Estado pode tomar as medidas de fiscalização necessárias para evitar infrações às leis e regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração e sanitários no seu território ou no seu mar territorial. Terá a extensão de 24 milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial (art. 4º da Lei n. 8.617).
 Plataforma continental e fundos marítimos:
A plataforma continental compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além do mar territorial do Estado, em toda extensão do prolongamento natural de seu território terrestre, até o bordo exterior da margem continental ou até uma distância de 200 milhas marítimas das linhas de base (art. 11 da Lei n. 8.617):
O Estado costeiro exerce direitos de soberania para efeitos de exploração e aproveitamento de seus recursos naturais. Tais direitos são exclusivos porque se o Estado não explora a plataforma continental ou não aproveita os recursos naturais nela encontrados, ninguém pode fazê-lo sem o seu consentimento explícito.
Os recursos dizem com recursos minerais e outros recursos não vivos do leito do mar e do subsolo, bem como os organismos vivos pertencentes a espécies sedentárias, que compreendem aquelas que, no período de captura, estão imóveis no leito do mar ou no seu subsolo ou só podem se mover em constante contato físico com esse leito ou subsolo.
A plataforma continental brasileira estende-se por 200 milhas (art. 6º da Lei n. 8.617).
Os fundos marinhos compreendem as áreas subaquáticas, o leito e o subsolo das águas internacionais, que não pertencem, portanto, a nenhum Estado. Sua exploração deve ser feita em benefício dos povos do mundo em geral. Pela Convenção, são chamados Área. Para administrar a Área, criou-se a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos e um órgão de solução de controvérsias, a Câmara de Controvérsias dos Fundos Marinhos do Tribunal Internacional do Direito do Mar. (art. 156-191).
Zona econômica exclusiva:
É uma área adjacente ao mar territorial e situada além deste, sujeita ao regime jurídico específico estabelecido pela Convenção de Montego Bay (arts. 55-75). Deve ter extensão máxima de 200 milhasmarítimas das linhas de base.
No Brasil, a zona econômica exclusiva compreende uma faixa que se estende das 12 às 200 milhas marítimas.
O Estado tem direitos de soberania para fins de exploração, aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e deu subsolo e no que se refere a outras atividades que tenham fins econômicos.
Todos os demais Estados, inclusive aqueles sem litoral, gozam de zona econômica exclusiva, das liberdades de navegação e sobrevoo e de colocação de cabos e dutos submarinos, bem como de outros usos do mar internacionalmente lícitos.
A teor da Lei n. 8.617 (arts. 06-10), a investigação científica marinha na zona econômica exclusiva só poderá ser conduzida por outros Estados com o consentimento do Governo brasileiro, valendo o mesmo para exercícios ou manobras militares por outros Estados.
Os arts. 69-72 da Convenção regulam a possibilidade de Estados sem litoral ou geograficamente desfavorecidos terem direito a participar, numa base equitativa, no aproveitamento de uma parte apropriada dos excedentes dos recursos vivos das zonas econômicas exclusivas, nos termos de acordos a serem estabelecidos.
Alto mar:
Compreende todas as áreas marítimas não incluídas na zona econômica exclusiva, no mar territorial ou nas águas interiores de um Estado, nem nas águas arquipelágicas de um Estado arquipélago.
Implica as seguintes liberdades, a serem sempre exercidas com fins pacíficos: navegação, sobrevoo, colocação de cabos e dutos, instalação de ilhas artificiais e outras estruturas permitidas pelo Direito Internacional, pesca e pesquisa científica.
O direito de pesca (arts. 116-120) deve obedecer a certas condições, que incluem a preservação dos recursos vivos do alto mar e a cooperação com outros Estados.
Os Estados têm alguns deveres no sem âmbito, dentre os quais prestar assistência (art. 98), impedir e punir o transporte de escravos (art. 99), combater a pirataria (arts. 100-107) e reprimir o tráfico de drogas.
Direito Internacional da Navegação Marítima:
Os navios devem navegar sob a bandeira de um só Estado. Devem submeter-se, no alto mar, à jurisdição exclusiva desse Estado, o que impõe para o Estado de bandeira da embarcação, os deveres estatuídos pelo art. 94 da Convenção. São nesse sentido as disposições do art. (5º, § 1º e 7º, II, “c”, ambos do CP).
A Convenção (art. 111) prevê o direito de perseguição, pelo qual pode ser empreendidas, pelas autoridades do Estado costeiro, a perseguição e captura de navio estrangeiro que possa ter infringido leis internas. Deve ter início em águas sujeitas à jurisdição do Estado costeiro e só pode continuar fora dessa área se não for interrompida. Só pode ser feito por navio ou aeronave militar do Estado.
Rios internacionais:
São aqueles que banham mais de um Estado. Classificam-se em 02 tipos:
Sucessivos: passam consecutivamente por um Estado e depois por outro(s).
Contíguos (limítrofes ou fronteiriços): separam os territórios dos Estados (alguns rios podem ter as duas características).
Ainda não existe um tratado geral sobre o toma. Rezek afirma que o regime jurídico dos rios internacionais forma um direito casuístico.
Há acordos pontuais, como o Tratado da Bacia do Prata, de 1969 (Decreto 67.084/70) e o Tratado de Cooperação Amazônica, de 1978 (Decreto 85.050/80).
Águas interiores
Para o Direito do Mar são aquelas localizadas no interior da linha de base do mar territorial (art. 8º, § 1º, da Convenção), como as baías, portos, reentrâncias, fiordes, etc.
No que diz com as águas interiores marítimas não há direito de passagem inocente. Há porem o ingresso de embarcações estrangeiras nos portos, desde que autorizadas.
ZONAS POLARES:
                São o Ártico e a Antártida.
O Ártico é um grande oceano coberto de gelo permanente e não há regulamentação específica, sendo aplicáveis normas internacionais pertinentes à navegação aérea, marítima, exploração dos recursos naturais e proteção ao meio ambiente.
A Antártida é um continente coberto de gelo, que recebe tratamento específico, como prova o Tratado da Antártida, de 1959 (Decreto 75.963/75), que se orienta por dois princípios:
O reconhecimento de que é do interesse de toda a humanidade que a Antártida seja utilizada exclusivamente para fins pacíficos para sempre e que não se converta em cenário ou objeto de discórdias internacionais;
A importância das pesquisas científicas na região para o progresso da humanidade.

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