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Resumo de Epidemiologia I – Parte 2 Aula 4: O raciocínio epidemiológico – Epidemiologia Descritiva A) John Snow e a cólera: para muitos, John Snow é considerado o herói fundador da epidemiologia, por ter sistematizado a metodologia epidemiológica e ter antecipado a demonstração da teoria microbiana antes de Pasteur mesmo sem dispor de conhecimentos relativos à existência de microorganismos. Assim, Snow estudou as epidemias de cólera, em 1850, na Inglaterra, aplicando o raciocínio epidemiológico para chegar à conclusão de que a água das companhias de abastecimento inglesas poderia servir de veículo à transmissão da cólera. Para fazer essa dedução, ele considerou atributos como tempo, espaço e pessoa e buscou estabelecer associações causais entre determinados fatores, examinando fatos, bem como formulando e testando hipóteses. O método desenvolvido por Snow é tão bem sucedido que pode ser aplicado mesmo a doenças que não são de cunho infeccioso, como casos de doenças cardiovascular e câncer de pulmão, sendo ambas exemplos de doenças crônicas. B) Ignáz Semmelweis e a febre puerperal (1846): Semmelweis procurou entender a morte de mulheres de febre puerperal após o parto e, para isso, utilizou o raciocínio epidemiológico na forma de hipóteses relacionadas a resultados, que deveriam ser analisadas para sua comprovação. A conclusão obtida por meio desses testes foi de que a febre puerperal poderia ser causada não somente por materiais cadavéricos, mas também por matéria pútrida retirada de organismo vivo. C) Edward Jenner e a varíola (1789): também utilizou o raciocínio epidemiológico como forma de compreender a varíola humana, permitindo a criação da primeira vacina utilizada, em 1796. Todos esses casos demonstram que, na Epidemiologia, o problema científico surge quando doenças (ou agravos à saúde de qualquer natureza) acometem grupos humanos. Embora seja extremamente importante maximizar nosso conhecimento de biologia e patogenicidade da doença, nem sempre é necessário conhecer cada detalhe do mecanismo patogênico para sermos capazes de prevenir uma doença, e isso pode ser consolidado a partir da correta produção de hipóteses, somada ao rigoroso processo de validação, levando à solução de problemas identificados. Epidemiologia Descritiva: consiste na análise da distribuição das doenças e de seus determinantes, sendo fundamental para expor a situação de saúde de subgrupos da população, fornecer subsídios para explicações causais ou levantamento de hipóteses e definir prioridades de intervenção, de modo a influenciar a direção das medidas de prevenção e controle. Estudos descritivos: identificam grupos de risco e atuam na prevenção das doenças e no planejamento em saúde. Sugerem explicações para as variações de frequência, sendo base para o prosseguimento de pesquisas através de estudos analíticos. Informam, em termos quantitativos, a distribuição de um evento na população. Estudos analíticos: constituem a segunda fase no processo de obtenção de conhecimento, estando subordinados a uma ou mais hipóteses que relacionam eventos (exposição e doença). Variáveis epidemiológicas: são toda característica sobre a qual se coleta dados em uma investigação (como, por exemplo, sexo, idade e altura). São dividas em dois tipos: 1) Variável independente (secundária): é o fator causal, a causa presumida e a variável antecedente. Ela corrobora/confirma a variável dependente. 2) Variável dependente (principal): é a mais importante no estudo epidemiológico, sendo o efeito resultante da variável independente. É, portanto, a variável consequente. Aula 5: O risco em Epidemiologia A ideia de risco é um conceito estruturante, sobretudo para a epidemiologia das doenças não-infecciosas, nas quais o modelo baseado na teoria do contágio não é facilmente aplicável. A palavra risco vem do latim resecum, significado aquilo que corta. De fato, seu significado se resume a uma probabilidade de ocorrência de uma doença, agravo, óbito ou condição relacionada à saúde (incluindo cura, recuperação ou melhora) em uma população ou grupo, durante um período de tempo determinado. Nem todos os indivíduos, porém, possuem os mesmos riscos. A probabilidade de alguém se tornar doente ou incapacitado, então, varia conforme fatos (ou sua ausência), por sua intensidade ou por sua combinação com outros fatores. Fator de risco: atributo de um grupo da população que apresenta maior incidência de uma doença ou agravo à saúde em comparação com outros grupos definidos pela ausência ou menor exposição a tal característica. O seu oposto é chamado de fator de proteção. Exemplos de fatores de risco podem ser os genéticos, físicos (como exposição a radiação), sociais (baixa escolaridade materna, por exemplo, é fator de risco para lactentes com baixo peso ao nascer) e comportamentais (hábito de fumar, alcoolismo, exposição ao sol, não fazer exercícios físicos). Grupo de risco: grupo populacional exposto a um determinado fator de risco. Entretanto, esse conceito tem sido menos utilizado, pois o conceito de comportamento de risco permite tanto a compreensão da causa do problema, através da análise das atitudes e comportamentos, como não contém a ideia de segregação ou marginalização associada ao conceito de grupo de risco. Usos do risco: 1) Na Medicina Clínica: predizer o desenvolvimento de doenças, auxiliar na detecção das causas das doenças, estabelecer a probabilidade da doença em testes diagnósticos e programas de rastreamento. 2) Nos serviços de saúde: identificar grupos e populações vulneráveis, identificar áreas prioritárias para ações governamentais (sala de situação) e auxílio no planejamento e avaliação das ações. Quantificação do risco: 1) Valores absolutos: dados não trabalhados; restringem-se a eventos localizados no tempo e no espaço (número de casos e óbitos); não possibilita comparações geográficas ou temporais. 2) Valores relativos: tornam possíveis as comparações entre as frequências de mortalidade e morbidade. O risco é definido, matematicamente, como a razão entre o número de casos conhecidos de uma dada doença ou agravo pelo valor da população. Esse número pode ser multiplicado por 10n de acordo com o número de pessoas que se quer analisar. Algumas ressalvas sobre risco: 1) O conceito de risco se refere a um grupo como um todo. 2) A definição epidemiológica de risco compreende três elementos que são a ocorrência dos eventos relacionados à saúde, a referência populacional e a referência temporal. 3) A medida de risco se trata de um coeficiente.
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