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Índice LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS ESTUDO DO TEXTO: As sequências discursivas e os gêneros textuais no sistema de comunicação e informação - modos de organização da composição textual; atividades de produção escrita e de leitura de textos gerados nas diferentes esferas sociais - públicas e privadas. .................................................................................................03 ESTUDO DAS PRÁTICAS CORPORAIS: A linguagem corporal como integradora social e formadora de identidade - performance corporal e identidades juvenis; possibilidades de vivência crítica e emancipada do lazer; mitos e verdades sobre os corpos masculino e feminino na sociedade atual; exercício físico e saúde; o corpo e a expressão artística e cultural; o corpo no mundo dos símbolos e como produção da cultura; práticas corporais e autonomia; condicionamentos e esforços físicos; o esporte;. a dança; as lutas; os jogos; as brincadeiras. .................. 13 PRODUÇÃO E RECEPÇÃO DE TEXTOS ARTÍSTICOS: Interpretação e representação do mundo para o fortalecimento dos processos de identidade e cidadania – Artes Visuais: estrutura morfológica, sintática, o contexto da obra artística, o contexto da comunidade. Teatro: estrutura morfológica, sintática, o contexto da obra artística, o contexto da comunidade, as fontes de criação. Música: estrutura morfológica, sintática, o contexto da obra artística, o contexto da comunidade, as fontes de criação. Dança: estrutura morfológica, sintática, o contexto da obra artística, o contexto da comunidade, as fontes de criação. Conteúdos estruturantes das linguagens artísticas (Artes Visuais, Dança, Música, Teatro), elaborados a partir de suas estruturas morfológicas e sintáticas; inclusão, diversidade e multiculturalidade: a valorização da pluralidade expressada nas produções estéticas e artísticas das minorias sociais e dos portadores de necessidades especiais educacionais. .......................................................................................................................................................186 • ESTUDO DO TEXTO LITERÁRIO: Relações entre produção literária e processo social, concepções artísticas, procedimentos de construção e recepção de textos - produção literária e processo social; processos de formação literária e de formação nacional; produção de textos literários, sua recepção e a constituição do patrimônio literário nacional; relações entre a dialética cosmopolitismo/localismo e a produção literária nacional; elementos de continuidade e ruptura entre os diversos momentos da literatura brasileira; associações entre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário em seus gêneros (épico/ narrativo, lírico e dramático) e formas diversas.; articulações entre os recursos expressivos e estruturais do texto literário e o processo social relacionado ao momento de sua produção; representação literária: natureza, função, organização e estrutura do texto literário; relações entre literatura, outras artes e outros saberes. ..................................................................................................................................................................207 ESTUDO DOS ASPECTOS LINGUÍSTICOS EM DIFERENTES TEXTOS: Recursos expressivos da língua, procedimentos de construção e recepção de textos - organização da macroestrutura semântica e a articulação entre idéias e proposições (relações lógicosemânticas). ... 219 ESTUDO DO TEXTO ARGUMENTATIVO, SEUS GÊNEROS E RECURSOS LINGUÍSTICOS: Argumentação: tipo, gêneros e usos em língua portuguesa - formas de apresentação de diferentes pontos de vista; organização e progressão textual; papéis sociais e comunicativos dos interlocutores, relação entre usos e propósitos comunicativos, função sociocomunicativa do gênero, aspectos da dimensão espaçotemporal em que se produz o texto. .................................................................................230 ESTUDO DOS ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA LÍNGUA PORTUGUESA: Usos da língua: norma culta e variação linguística - uso dos recursos linguísticos em relação ao contexto em que o texto é constituído: elementos de referência pessoal, temporal, espacial, registro linguístico, grau de formalidade, seleção lexical, tempos e modos verbais; uso dos recursos linguísticos em processo de coesão textual: elementos de articulação das sequências dos textos ou à construção da micro estrutura do texto. .................................................................................................................................................................233 ESTUDO DOS GÊNEROS DIGITAIS: Tecnologia da comunicação e informação: impacto e função social - o texto literário típico da cultura de massa: o suporte textual em gêneros digitais; a caracterização dos interlocutores na comunicação tecnológica; os recursos linguísticos e os gêneros digitais; a função social das novas tecnologias. ........ 320 PROVA COMENTADA 2015 Linguagem, Códigos e suas Tecnologias ....................................................................................................392 ATENÇÃO DÚVIDAS DE MATÉRIA A NOVA APOSTILA oferece aos candidatos um serviço diferenciado - SAC (Serviço de Apoio ao Candidato). O SAC possui o objetivo de auxiliar os candidatos que possuem dúvidas relacionadas ao conteúdo do edital. O candidato que desejar fazer uso do serviço deverá enviar sua dúvida somente através do e-mail: professores@novaconcursos.com.br. Todas as dúvidas serão respondidas pela equipe de professores da Editora Nova, conforme a especialidade da matéria em questão. Para melhor funcionamento do serviço, solicitamos a especificação da apostila (apostila/concurso/ cargo/Estado/matéria/página). Por exemplo: Apostila Professor do Estado de São Paulo / Comum à todos os cargos - Disciplina:. Português - paginas 82,86,90. Havendo dúvidas em diversas matérias, deverá ser encaminhado um e-mail para cada especialidade, podendo demorar em média 10 (dez) dias para retornar. Não retornando nesse prazo, solicitamos o reenvio do mesmo. ERROS DE IMPRESSÃO Alguns erros de edição ou impressão podem ocorrer durante o processo de fabricação deste volume, caso encontre algo, por favor, entre em contato conosco, pelo nosso e-mail, sac@ novaconcursos.com.br. Alertamos aos candidatos que para ingressar na carreira pública é necessário dedicação, portanto a NOVA APOSTILA auxilia no estudo, mas não garante a sua aprovação. Como também não temos vínculos com a organizadora dos concursos, de forma que inscrições, data de provas, lista de aprovados entre outros independe de nossa equipe. Havendo a retificação no edital, por favor, entre em contato pelo nosso e-mail, pois a apostila é elaborada com base no primeiro edital do concurso, teremos o COMPROMISSO de enviar gratuitamente a retificação APENAS por e-mail e também disponibilizaremos em nosso site, www.novaconcursos.com. br/, na opção ERRATAS. Lembramos que nosso maior objetivo é auxiliá-los, portanto nossa equipe está igualmente à disposição para quaisquer dúvidas ou esclarecimentos. CONTATO COM A EDITORA: 2206-7700 / 0800-7722556 nova@novaapostila.com.br /NOVAConcursosOficial NovaApostila @novaconcurso\\ Atenciosamente, LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS MACHADO DE ASSIS Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 3 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS INTERPRETAÇÃO TEXTUAL É muito comum a preocupação com a interpretação de textos. Por isso, vão aqui alguns de- talhes que poderão ajudar no momento de respon- der às questões relacionadas a textos. Texto – é um conjunto de ideias organizadas e re- lacionadas entre si, formando um todo significativo capaz deproduzir interação comunicativa (capaci- dade de codificar e decodificar ). Contexto – um texto é constituído por diversas frases. Em cada uma delas, há uma certa informa- ção que a faz ligar-se com a anterior e/ou com a posterior, criando condições para a estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa interligação dá-se o nome de contexto. Nota-se que o relacionamento entre as frases é tão grande que, se uma frase for reti- rada de seu contexto original e analisada separada- mente, poderá ter um significado diferente daquele inicial. Intertexto - comumente, os textos apresentam re- ferências diretas ou indiretas a outros autores através de citações. Esse tipo de recurso denomina-se inter- texto. Interpretação de texto - o primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é a identificação de sua ideia principal. A partir daí, localizam-se as ideias secundárias, ou fundamentações, as argumenta- ções, ou explicações, que levem ao esclarecimento das questões apresentadas na prova. Normalmente, numa prova, o candidato é con- vidado a: - Identificar – é reconhecer os elementos funda- mentais de uma argumentação, de um processo, de uma época (neste caso, procuram-se os verbos e os advérbios, os quais definem o tempo). - Comparar – é descobrir as relações de seme- lhança ou de diferenças entre as situações do texto. - Comentar - é relacionar o conteúdo apresenta- do com uma realidade, opinando a respeito. - Resumir – é concentrar as ideias centrais e/ou secundárias em um só parágrafo. - Parafrasear – é reescrever o texto com outras palavras. Condições básicas para interpretar Fazem-se necessários: - Conhecimento histórico–literário (escolas e gê- neros literários, estrutura do texto), leitura e prática; - Conhecimento gramatical, estilístico (qualida- des do texto) e semântico; Observação – na semântica (significado das pa- lavras) incluem--se: homônimos e parônimos, denota- ção e conotação, sinonímia e antonímia, polissemia, figuras de linguagem, entre outros. - Capacidade de observação e de síntese e - Capacidade de raciocínio. Interpretar X compreender Interpretar significa - Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, de- duzir. - Através do texto, infere-se que... - É possível deduzir que... - O autor permite concluir que... - Qual é a intenção do autor ao afirmar que... Compreender significa - intelecção, entendimento, atenção ao que realmente está escrito. - o texto diz que... - é sugerido pelo autor que... - de acordo com o texto, é correta ou errada a afirmação... - o narrador afirma... Erros de interpretação É muito comum, mais do que se imagina, a ocorrência de erros de interpretação. Os mais frequentes são: - Extrapolação (viagem): Ocorre quando se sai do contexto, acrescentado ideias que não estão no texto, quer por conhecimento prévio do tema quer pela imaginação. - Redução: É o oposto da extrapolação. Dá-se atenção apenas a um aspecto, esquecendo que um texto é um conjunto de ideias, o que pode ser insuficiente para o total do entendimento do tema desenvolvido. ·ESTUDO DO TEXTO: AS SEQUÊNCIAS DISCURSIVAS E OS GÊNEROS TEXTUAIS NO SISTEMA DE COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 4 - Contradição: Não raro, o texto apresenta ideias contrárias às do candidato, fazendo-o tirar conclu- sões equivocadas e, consequentemente, errando a questão. Observação - Muitos pensam que há a ótica do escritor e a ótica do leitor. Pode ser que existam, mas numa prova de concurso, o que deve ser levado em consideração é o que o autor diz e nada mais. Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que relaciona palavras, orações, frases e/ou pará- grafos entre si. Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de um pronome relativo, uma con- junção (NEXOS), ou um pronome oblíquo átono, há uma relação correta entre o que se vai dizer e o que já foi dito. OBSERVAÇÃO – São muitos os erros de coesão no dia-a-dia e, entre eles, está o mau uso do pronome relativo e do pronome oblíquo átono. Este depende da regência do verbo; aquele do seu antecedente. Não se pode esquecer também de que os pronomes relativos têm, cada um, valor semântico, por isso a necessidade de adequação ao antecedente. Os pronomes relativos são muito importantes na interpretação de texto, pois seu uso incorreto traz er- ros de coesão. Assim sendo, deve-se levar em consi- deração que existe um pronome relativo adequado a cada circunstância, a saber: - que (neutro) - relaciona-se com qualquer ante- cedente, mas depende das condições da frase. - qual (neutro) idem ao anterior. - quem (pessoa) - cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois o objeto possuído. - como (modo) - onde (lugar) quando (tempo) quanto (montante) Exemplo: Falou tudo QUANTO queria (correto) Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria aparecer o demonstrativo O ). Dicas para melhorar a interpretação de textos - Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do assunto; - Se encontrar palavras desconhecidas, não inter- rompa a leitura; - Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto pelo menos duas vezes; - Inferir; - Voltar ao texto quantas vezes precisar; - Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do autor; - Fragmentar o texto (parágrafos, partes) para melhor compreensão; - Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada questão; - O autor defende ideias e você deve percebê- -las. Fonte: http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/ portugues/como-interpretar-textos QUESTÕES Veja, aí estão eles, a bailar seu diabólico “pas de deux” (*): sentado, ao fundo do restaurante, o cliente paulista acena, assovia, agita os braços num agônico polichinelo; encostado à parede, marmóreo e impassível, o garçom carioca o igno- ra com redobrada atenção. O paulista estrebu- cha: “Amigô?!”, “Chefê?!”, “Parceirô?!”; o garçom boceja, tira um fiapo do ombro, olha pro lustre. Eu disse “cliente paulista”, percebo a redun- dância: o paulista é sempre cliente. Sem querer es- tereotipar, mas já estereotipando: trata-se de um ser cujas interações sociais terminam, 99% das ve- zes, diante da pergunta “débito ou crédito?”.[...] Como pode ele entender que o fato de estar pa- gando não garantirá a atenção do garçom cario- ca? Como pode o ignóbil paulista, nascido e cria- do na crua batalha entre burgueses e proletários, compreender o discreto charme da aristocracia? Sim, meu caro paulista: o garçom carioca é antes de tudo um nobre. Um antigo membro da corte que esconde, por trás da carapinha entediada, do des- caso e da gravata borboleta, saudades do impera- dor. [...] Se deixou de bajular os príncipes e princesas do século 19, passou a servir reis e rainhas do 20: levou gim tônicas para Vinicius e caipirinhas para Sinatra, uísques para Tom e leites para Nelson, recebeu gor- das gorjetas de Orson Welles e autógrafos de Rockfe- ller; ainda hoje fala de futebol com Roberto Carlos e ouve conselhos de João Gilberto. Continua tão nobre quanto sempre foi, seu orgulho permanece intacto. Até que chega esse paulista, esse homem bi- dimensional e sem poesia, de camisa polo, meia soquete e sapatênis, achando que o jacarezinho de sua Lacoste é um crachá universal, capaz de abrir todas as portas. Ah, paulishhhhta otááário, nenhum emblema preencherá o vazio que carre- gas no peito - pensa o garçom, antes de conduzi- -lo à última mesa do restaurante, a caminho do banheiro, e ali esquecê-lo para todo o sempre. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 5 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Veja, veja como ele se debate, como se de- baterá amanhã,depois de amanhã e até a Quarta-Feira de Cinzas, maldizendo a Guana- bara, saudoso das várzeas do Tietê, onde a de- sigualdade é tão mais organizada: “Ô, compa- nheirô, faz meia hora que eu cheguei, dava pra ver um cardápio?!”. Acalme-se, conterrâneo. Acostume-se com sua existência plebeia. O garçom carioca não está aí para servi-lo, você é que foi ao restaurante para homenageá-lo. (Antonio Prata, Cliente paulista, garçom carioca. Folha de S.Paulo, 06.02.2013) (*) Um tipo de coreografia, de dança. QUESTÃO 01 (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VUNESP/2013) O contexto em que se encontra a passagem – Se dei- xou de bajular os príncipes e princesas do século 19, passou a servir reis e rainhas do 20 (3.º parágrafo) – leva a concluir, corretamente, que a menção a (A) príncipes e princesas constitui uma referência em sentido não literal. (B) reis e rainhas constitui uma referência em sen- tido não literal. (C) príncipes, princesas, reis e rainhas constitui uma referência em sentido não literal. (D) príncipes, princesas, reis e rainhas constitui uma referência em sentido literal. (E) reis e rainhas constitui uma referência em sen- tido literal. Texto para a questão 2: DA DISCRIÇÃO Mário Quintana Não te abras com teu amigo Que ele um outro amigo tem. E o amigo do teu amigo Possui amigos também... (http://pensador.uol.com.br/poemas_de_amizade) QUESTÃO 02 (PREFEITURA DE SERTÃOZINHO – AGENTE COMUNI- TÁRIO DE SAÚDE – VUNESP/2012) De acordo com o poema, é correto afirmar que (A) não se deve ter amigos, pois criar laços de amizade é algo ruim. (B) amigo que não guarda segredos não merece respeito. (C) o melhor amigo é aquele que não possui ou- tros amigos. (D) revelar segredos para o amigo pode ser arris- cado. (E) entre amigos, não devem existir segredos. QUESTÃO 03 (GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO – SE- CRETARIA DE ESTADO DA JUSTIÇA – AGENTE PENITEN- CIÁRIO – VUNESP/2013) Leia o poema para respon- der à questão. CASAMENTO Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me le- vanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinhos na cozi- nha, de vez em quando os cotovelos se es- barram, ele fala coisas como “este foi difícil” “prateou no ar dando rabanadas” e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primei- ra vez atravessa a cozinha como um rio profun- do. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva. (Adélia Prado, Poesia Reunida) A ideia central do poema de Adélia Prado é mos- trar que (A) as mulheres que amam valorizam o cotidiano e não gostam que os maridos frequentem pescarias, pois acham difícil limpar os peixes. (B) o eu lírico do poema pertence ao grupo de mulheres que não gostam de limpar os peixes, em- bora valorizem os esbarrões de cotovelos na cozinha. (C) há mulheres casadas que não gostam de fi- car sozinhas com seus maridos na cozinha, enquanto limpam os peixes. (D) as mulheres que amam valorizam os momen- tos mais simples do cotidiano vividos com a pessoa amada. (E) o casamento exige levantar a qualquer hora da noite, para limpar, abrir e salgar o peixe. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 6 QUESTÃO 04 (SABESP/SP – ATENDENTE A CLIENTES 01 – FCC/2014 - ADAPTADA) Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo. A MARCA DA SOLIDÃO Deitado de bruços, sobre as pedras quentes do chão de paralelepípedos, o menino espia. Tem os braços dobrados e a testa pousada sobre eles, seu rosto formando uma tenda de penumbra na tarde quente. Observa as ranhuras entre uma pedra e outra. Há, dentro de cada uma delas, um diminuto cami- nho de terra, com pedrinhas e tufos minúsculos de musgos, formando pequenas plantas, ínfimos bonsais só visíveis aos olhos de quem é capaz de parar de viver para, apenas, ver. Quando se tem a marca da solidão na alma, o mundo cabe numa fresta. (SEIXAS, Heloísa. Contos mais que mínimos. Rio de Janeiro: Tinta negra bazar, 2010. p. 47) No texto, o substantivo usado para ressaltar o uni- verso reduzido no qual o menino detém sua atenção é (A) fresta. (B) marca. (C) alma. (D) solidão. (E) penumbra. QUESTÃO 05 5-) (ANCINE – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CES- PE/2012) O riso é tão universal como a seriedade; ele abar- ca a totalidade do universo, toda a sociedade, a his- tória, a concepção de mundo. É uma verdade que se diz sobre o mundo, que se estende a todas as coi- sas e à qual nada escapa. É, de alguma maneira, o aspecto festivo do mundo inteiro, em todos os seus ní- veis, uma espécie de segunda revelação do mundo. Mikhail Bakhtin. A cultura popular na Idade Média e o Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec, 1987, p. 73 (com adaptações). Na linha 1, o elemento “ele” tem como referente textual “O riso”. (...) CERTO ( ) ERRADO QUESTÃO 06 (ANEEL – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE/2010) Só agora, quase cinco meses depois do apagão que atingiu pelo menos 1.800 cidades em 18 esta- dos do país, surge uma explicação oficial satisfatória para o corte abrupto e generalizado de energia no final de 2009. Segundo relatório da Agência Nacional de Ener- gia Elétrica (ANEEL), a responsabilidade recai sobre a empresa estatal Furnas, cujas linhas de transmissão cruzam os mais de 900 km que separam Itaipu de São Paulo. Equipamentos obsoletos, falta de manutenção e de investimentos e também erros operacionais cons- piraram para produzir a mais séria falha do sistema de geração e distribuição de energia do país desde o traumático racionamento de 2001. Folha de S.Paulo, Editorial, 30/3/2010 (com adaptações). Considerando os sentidos e as estruturas linguísti- cas do texto acima apresentado, julgue os próximos itens. A oração “que atingiu pelo menos 1.800 cidades em 18 estados do país” tem, nesse contexto, valor restritivo. (...) CERTO ( ) ERRADO QUESTÃO 07 7-) (COLÉGIO PEDRO II/RJ – ASSISTENTE EM ADMI- NISTRAÇÃO – AOCP/2010) “A carga foi desviada e a viatura, com os vigilantes, abandonada em Pirituba, na zona norte de São Paulo.” Pela leitura do fragmento acima, é correto afir- mar que, em sua estrutura sintática, houve supressão da expressão a) vigilantes. b) carga. c) viatura. d) foi. e) desviada. QUESTÃO 08 8-) (CORREIOS – CARTEIRO – CESPE/2011) Um carteiro chega ao portão do hospício e grita: — Carta para o 9.326!!! Um louco pega o envelope, abre-o e vê que a carta está em branco, e um outro pergunta: — Quem te mandou essa carta? — Minha irmã. — Mas por que não está escrito nada? — Ah, porque nós brigamos e não estamos nos falando! Internet: <www.humortadela.com.br/piada> (com adap- tações). O efeito surpresa e de humor que se extrai do tex- to acima decorre A) da identificação numérica atribuída ao louco. B) da expressão utilizada pelo carteiro ao entre- gar a carta no hospício. C) do fato de outro louco querer saber quem en- viou a carta. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 7 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS D) da explicação dada pelo louco para a carta em branco. E) do fato de a irmã do louco ter brigado com ele. QUESTÃO 09 9-) (CORREIOS – CARTEIRO – CESPE/2011) Um homem se dirige à recepcionista de uma clí- nica: — Por favor, quero falar com o dr. Pedro. — O senhor tem hora? O sujeito olha para o relógio e diz: — Sim. São duas e meia. — Não, não... Eu quero saber se o senhor é pa- ciente. — O que a senhora acha? Faz seis meses que ele não me paga o aluguel do consultório... Internet: <www.humortadela.com.br/piada>(com adaptações). No texto acima, a recepcionista dirige-se duas vezes ao homem para saber se ele A) verificou o horário de chegada e está sob os cuidados do dr. Pedro. B) pode indicar-lhe as horas e decidiu esperar o pagamento do aluguel. C) tem relógio e sabe esperar. D) marcou consulta e está calmo. E) marcou consulta para aquele dia e está sob os cuidados do dr. Pedro. (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO – TÉCNICO DA FAZENDA ESTADUAL – FCC/2010 - ADAPTADA) Atenção: As questões de números 10 a 13 refe- rem-se ao texto abaixo. Liderança é uma palavra frequentemente asso- ciada a feitos e realizações de grandes personagens da história e da vida social ou, então, a uma dimen- são mágica, em que algumas poucas pessoas teriam habilidades inatas ou o dom de transformar-se em grandes líderes, capazes de influenciar outras e, as- sim, obter e manter o poder. Os estudos sobre o tema, no entanto, mostram que a maioria das pessoas pode tornar-se líder, ou pelo menos desenvolver consideravelmente as suas capacidades de liderança. Paulo Roberto Motta diz: “líderes são pessoas co- muns que aprendem habilidades comuns, mas que, no seu conjunto, formam uma pessoa incomum”. De fato, são necessárias algumas habilidades, mas elas podem ser aprendidas tanto através das experiên- cias da vida, quanto da formação voltada para essa finalidade. O fenômeno da liderança só ocorre na inter-re- lação; envolve duas ou mais pessoas e a existência de necessidades para serem atendidas ou objetivos para serem alcançados, que requerem a interação cooperativa dos membros envolvidos. Não pressu- põe proximidade física ou temporal: pode-se ter a mente e/ou o comportamento influenciado por um escritor ou por um líder religioso que nunca se viu ou que viveu noutra época. [...] Se a legitimidade da liderança se baseia na acei- tação do poder de influência do líder, implica dizer que parte desse poder encontra-se no próprio grupo. É nessa premissa que se fundamenta a maioria das teorias contemporâneas sobre liderança. Daí definirem liderança como a arte de usar o po- der que existe nas pessoas ou a arte de liderar as pes- soas para fazerem o que se requer delas, da maneira mais efetiva e humana possível. [...] (Augusta E.E.H. Barbosa do Amaral e Sandra Souza Pinto. Gestão de pessoas, in Desenvolvimento gerencial na Adminis- tração pública do Estado de São Paulo, org. Lais Macedo de Oliveira e Maria Cristina Pinto Galvão, Secretaria de Gestão pública, São Paulo: Fundap, 2. ed., 2009, p. 290 e 292, com adaptações) QUESTÃO 10 10-) (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO – TÉC- NICO DA FAZENDA ESTADUAL – FCC/2010) De acordo com o texto, liderança (A) é a habilidade de chefiar outras pessoas que não pode ser desenvolvida por aqueles que somente executam tarefas em seu ambiente de trabalho. (B) é típica de épocas passadas, como qualida- des de heróis da história da humanidade, que realiza- ram grandes feitos e se tornaram poderosos através deles. (C) vem a ser a capacidade, que pode ser ina- ta ou até mesmo adquirida, de conseguir resultados desejáveis daqueles que constituem a equipe de tra- balho. (D) torna-se legítima se houver consenso em to- dos os grupos quanto à escolha do líder e ao modo como ele irá mobilizar esses grupos em torno de seus objetivos pessoais. QUESTÃO 11 11-) (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO – TÉC- NICO DA FAZENDA ESTADUAL – FCC/2010) O texto deixa claro que (A) a importância do líder baseia-se na valoriza- ção de todo o grupo em torno da realização de um objetivo comum. (B) o líder é o elemento essencial dentro de uma organização, pois sem ele não se poderá atingir qual- quer meta ou objetivo. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 8 (C) pode não haver condições de liderança em algumas equipes, caso não se estabeleçam ativida- des específicas para cada um de seus membros. (D) a liderança é um dom que independe da par- ticipação dos componentes de uma equipe em um ambiente de trabalho. QUESTÃO 012 (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO – TÉCNICO DA FAZENDA ESTADUAL – FCC/2010) O fenômeno da liderança só ocorre na inter-relação ... (4º parágrafo) No contexto, inter-relação significa (A) o respeito que os membros de uma equipe devem demonstrar ao acatar as decisões tomadas pelo líder, por resultarem em benefício de todo o gru- po. (B) a igualdade entre os valores dos integrantes de um grupo devidamente orientado pelo líder e aqueles propostos pela organização a que prestam serviço. (C) o trabalho que deverá sempre ser realizado em equipe, de modo que os mais capacitados cola- borem com os de menor capacidade. (D) a criação de interesses mútuos entre mem- bros de uma equipe e de respeito às metas que de- vem ser alcançadas por todos. QUESTÃO 013 (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO – TÉCNICO DA FAZENDA ESTADUAL – FCC/2010) Não pressupõe proximidade física ou temporal ... (4º parágrafo) A afirmativa acima quer dizer, com outras pala- vras, que (A) a presença física de um líder natural é funda- mental para que seus ensinamentos possam ser divul- gados e aceitos. (B) um líder verdadeiramente capaz é aquele que sempre se atualiza, adquirindo conhecimentos de fontes e de autores diversos. (C) o aprendizado da liderança pode ser pro- dutivo, mesmo se houver distância no tempo e no espaço entre aquele que influencia e aquele que é influenciado. (D) as influências recebidas devem ser bem ana- lisadas e postas em prática em seu devido tempo e na ocasião mais propícia. QUESTÃO 014 (DETRAN/RN – VISTORIADOR/EMPLACADOR – FGV PROJETOS/2010) PAINEL DO LEITOR (Carta do leitor)Resgate no Chile Assisti ao maior espetáculo da Terra numa ope- ração de salvamento de vidas, após 69 dias de per- manência no fundo de uma mina de cobre e ouro no Chile. Um a um os mineiros soterrados foram içados com sucesso, mostrando muita calma, saúde, sorrindo e cumprimentando seus companheiros de trabalho. Não se pode esquecer a ajuda técnica e material que os Estados Unidos, Canadá e China ofereceram à equipe chilena de salvamento, num gesto humani- tário que só enobrece esses países. E, também, dos dois médicos e dois “socorristas” que, demonstran- do coragem e desprendimento, desceram na mina para ajudar no salvamento. (Douglas Jorge; São Paulo, SP; www.folha.com.br – painel do leitor – 17/10/2010) Considerando o tipo textual apresentado, al- gumas expressões demonstram o posicionamento pessoal do leitor diante do fato por ele narrado. Tais marcas textuais podem ser encontradas nos trechos a seguir, EXCETO: A) “Assisti ao maior espetáculo da Terra...” B) “... após 69 dias de permanência no fundo de uma mina de cobre e ouro no Chile.” C) “Não se pode esquecer a ajuda técnica e ma- terial...” D) “... gesto humanitário que só enobrece esses países.” E) “... demonstrando coragem e desprendimen- to, desceram na mina...” (DCTA – TÉCNICO 1 – SEGURANÇA DO TRABALHO – VUNESP/2013 - ADAPTADA) Leia o texto para responder às questões de nú- meros 15 a 17. FÉRIAS NA ILHA DO NANJA Meus amigos estão fazendo as malas, arrumando as malas nos seus carros, olhando o céu para verem que tempo faz, pensando nas suas estradas – barrei- ras, pedras soltas, fissuras* – sem falar em bandidos, milhões de bandidos entre as fissuras, as pedras soltas e as barreiras... Meus amigos partem para as suas férias, cansa- dos de tanto trabalho; de tanta luta com os motoris- tas da contramão; enfim, cansados, cansados de se- rem obrigados a viver numa grande cidade, isto que já está sendo a negação da própria vida. E eu vou para a Ilha do Nanja. Eu vou para a Ilha do Nanja para sair daqui. Pas- sarei as férias lá, onde, à beira das lagoas verdes e azuis, o silêncio crescecomo um bosque. Nem pre- ciso fechar os olhos: já estou vendo os pescadores com suas barcas de sardinha, e a moça à janela a namorar um moço na outra janela de outra ilha. (Cecília Meireles, O que se diz e o que se entende. Adaptado) *fissuras: fendas, rachaduras Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 9 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS QUESTÃO 015 (DCTA – TÉCNICO 1 – SEGURANÇA DO TRABALHO – VUNESP/2013) No primeiro parágrafo, ao descrever a maneira como se preparam para suas férias, a au- tora mostra que seus amigos estão (A) serenos. (B) descuidados. (C) apreensivos. (D) indiferentes. (E) relaxados. QUESTÃO 016 (DCTA – TÉCNICO 1 – SEGURANÇA DO TRABALHO – VUNESP/2013) De acordo com o texto, pode-se afirmar que, assim como seus amigos, a autora viaja para (A) visitar um lugar totalmente desconhecido. (B) escapar do lugar em que está. (C) reencontrar familiares queridos. (D) praticar esportes radicais. (E) dedicar-se ao trabalho. QUESTÃO 017 Ao descrever a Ilha do Nanja como um lugar onde, “à beira das lagoas verdes e azuis, o silêncio cresce como um bosque” (último parágrafo), a auto- ra sugere que viajará para um lugar (A) repulsivo e populoso. (B) sombrio e desabitado. (C) comercial e movimentado. (D) bucólico e sossegado. (E) opressivo e agitado. QUESTÃO 018 (POLÍCIA MILITAR/TO – SOLDADO – CONSUL- PLAN/2013 - ADAPTADA) Texto para responder à questão. (Adail et al II. Antologia brasileira de humor. Volume 1. Por- to Alegre: L&PM, 1976. p. 95.) A charge anterior é de Luiz Carlos Coutinho, car- tunista mineiro mais conhecido como Caulos. É corre- to afirmar que o tema apresentado é (A) a oposição entre o modo de pensar e agir. (B) a rapidez da comunicação na Era da Infor- mática. (C) a comunicação e sua importância na vida das pessoas. (D) a massificação do pensamento na sociedade moderna. RESOLUÇÃO 1-) Pela leitura do texto infere-se que os “reis e rai- nhas” do século 20 são as personalidades da mídia, os “famosos” e “famosas”. Quanto a príncipes e prin- cesas do século 19, esses eram da corte, literalmente. RESPOSTA: “B”. 2-) Pela leitura do poema identifica-se, apenas, a informação contida na alternativa: revelar segredos para o amigo pode ser arriscado. RESPOSTA: “D”. 3-) Pela leitura do texto percebe-se, claramente, que a autora narra um momento simples, mas que é prazeroso ao casal. RESPOSTA: “D”. 4-) Com palavras do próprio texto responderemos: o mundo cabe numa fresta. RESPOSTA: “A”. 5-) Vamos ao texto: O riso é tão universal como a seriedade; ele abarca a totalidade do universo (...). Os termos relacionam-se. O pronome “ele” retoma o sujeito “riso”. RESPOSTA: “CERTO”. 6-) Voltemos ao texto: “depois do apagão que atin- giu pelo menos 1.800 cidades”. O “que” pode ser substituído por “o qual”, portanto, trata-se de um pro- nome relativo (oração subordinada adjetiva). Quan- do há presença de vírgula, temos uma adjetiva expli- cativa (generaliza a informação da oração principal. A construção seria: “do apagão, que atingiu pelo menos 1800 cidades em 18 estados do país”); quan- do não há, temos uma adjetiva restritiva (restringe, delimita a informação – como no caso do exercício). RESPOSTA: “CERTO’. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 10 7-) “A carga foi desviada e a viatura, com os vigilan- tes, abandonada em Pirituba, na zona norte de São Paulo.” Trata-se da figura de linguagem (de cons- trução ou sintaxe) “zeugma”, que consiste na omis- são de um termo já citado anteriormente (diferente da elipse, que o termo não é citado, mas facilmen- te identificado). No enunciado temos a narração de que a carga foi desviada e de que a viatura foi abandonada. RESPOSTA: “D”. 8-) Geralmente o efeito de humor desses gêneros textuais aparece no desfecho da história, ao final, como nesse: “Ah, porque nós brigamos e não esta- mos nos falando”. RESPOSTA: “D”. 9-) “O senhor tem hora? (...) Não, não... Eu quero sa- ber se o senhor é paciente” = a recepcionista quer saber se ele marcou horário e se é paciente do Dr. Pedro. RESPOSTA: “E”. 10-) Utilizando trechos do próprio texto, podemos che- gar à conclusão: O fenômeno da liderança só ocor- re na inter-relação; envolve duas ou mais pessoas e a existência de necessidades para serem atendidas ou objetivos para serem alcançados, que requerem a interação cooperativa dos membros envolvidos = equipe RESPOSTA: “C”. 11-) O texto deixa claro que a importância do líder baseia-se na valorização de todo o grupo em torno da realização de um objetivo comum. RESPOSTA: “A”. 12-) Pela leitura do texto, dentre as alternativas apre- sentadas, a que está coerente com o sentido dado à palavra “inter-relação” é: “a criação de interesses mútuos entre membros de uma equipe e de respeito às metas que devem ser alcançadas por todos”. RESPOSTA: “D”. 13-) Não pressupõe proximidade física ou temporal = o aprendizado da liderança pode ser produtivo, mes- mo se houver distância no tempo e no espaço entre aquele que influencia e aquele que é influenciado. RESPOSTA: “C”. 14-) Em todas as alternativas há expressões que repre- sentam a opinião do autor: Assisti ao maior espetá- culo da Terra / Não se pode esquecer / gesto huma- nitário que só enobrece / demonstrando coragem e desprendimento. RESPOSTA: “B”. 15-) “pensando nas suas estradas – barreiras, pedras soltas, fissuras – sem falar em bandidos, milhões de bandidos entre as fissuras, as pedras soltas e as bar- reiras...” = pensar nessas coisas, certamente, deixa-os apreensivos. RESPOSTA: “C”. 16-) Eu vou para a Ilha do Nanja para sair daqui = res- posta da própria autora! RESPOSTA: “B”. 17-) Pela descrição realizada, o lugar não tem nada de ruim. RESPOSTA: “D”. 18-) Questão que envolve interpretação “visual”! Fá- cil. Basta observar o que as personagens “dizem” e o que “pensam”. RESPOSTA: “A”. INTERTEXTUALIDADE Intertextualidade acontece quando há uma re- ferência explícita ou implícita de um texto em outro. Também pode ocorrer com outras formas além do texto, música, pintura, filme, novela etc. Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertextuali- dade. Apresenta-se explicitamente quando o autor in- forma o objeto de sua citação. Num texto científico, por exemplo, o autor do texto citado é indicado; já na forma implícita, a indicação é oculta. Por isso é importante para o leitor o conhecimento de mundo, um saber prévio, para reconhecer e identificar quan- do há um diálogo entre os textos. A intertextualidade pode ocorrer afirmando as mesmas ideias da obra citada ou contestando-as. Há duas formas: a Pará- frase e a Paródia. Paráfrase Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a ideia do texto é confirmada pelo novo texto, a alu- são ocorre para atualizar, reafirmar os sentidos ou Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 11 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS alguns sentidos do texto citado. É dizer com outras palavras o que já foi dito. Temos um exemplo citado por Affonso Romano Sant’Anna em seu livro “Paró- dia, paráfrase & Cia” (p. 23): Texto Original Minha terra tem palmeiras Onde canta o sabiá, As aves que aqui gorjeiam Não gorjeiam como lá. (Gonçalves Dias, “Canção do exílio”). Paráfrase Meus olhos brasileiros se fecham saudo- sos Minha boca procura a ‘Canção do Exí- lio’. Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’? Eu tão esquecido de minha terra... Ai terra que tem palmeiras Onde canta o sabiá! (Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia”). Este texto de Gonçalves Dias, “Canção do Exílio”, é muito utilizado como exemplo de paráfrase e de paródia.Aqui o poeta Carlos Drummond de Andra- de retoma o texto primitivo conservando suas ideias, não há mudança do sentido principal do texto, que é a saudade da terra natal. Paródia A paródia é uma forma de contestar ou ridicu- larizar outros textos, há uma ruptura com as ideolo- gias impostas e por isso é objeto de interesse para os estudiosos da língua e das artes. Ocorre, aqui, um choque de interpretação, a voz do texto original é retomada para transformar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica de suas verdades incontesta- das anteriormente. Com esse processo há uma inda- gação sobre os dogmas estabelecidos e uma busca pela verdade real, concebida através do raciocínio e da crítica. Os programas humorísticos fazem uso contínuo dessa arte. Frequentemente os discursos de políticos são abordados de maneira cômica e con- testadora, provocando risos e também reflexão a respeito da demagogia praticada pela classe domi- nante. Com o mesmo texto utilizado anteriormente, teremos, agora, uma paródia. Texto Original Minha terra tem palmeiras Onde canta o sabiá, As aves que aqui gorjeiam Não gorjeiam como lá. (Gonçalves Dias, “Canção do exílio”). Paródia Minha terra tem palmares onde gorjeia o mar os passarinhos daqui não cantam como os de lá. (Oswald de Andrade, “Canto de regresso à pá- tria”). O nome Palmares, escrito com letra minúscula, substitui a palavra palmeiras, há um contexto históri- co, social e racial neste texto, Palmares é o quilombo liderado por Zumbi, foi dizimado em 1695, há uma in- versão do sentido do texto primitivo que foi substituí- do pela crítica à escravidão existente no Brasil. Linguagem Literária e não Literária Sabemos que a “matéria-prima” da literatura são as palavras. No entanto, é necessário fazer uma dis- tinção entre a linguagem literária e a linguagem não literária, isto é, aquela que não caracteriza a litera- tura. Embora um médico faça suas prescrições em de- terminado idioma, as palavras utilizadas por ele não podem ser consideradas literárias porque se tratam de um vocabulário especializado e de um contex- to de uso específico. Agora, quando analisamos a literatura, vemos que o escritor dispensa um cuidado diferente com a linguagem escrita, e que os leitores dispensam uma atenção diferenciada ao que foi produzido. Outra diferença importante é com relação ao tratamento do conteúdo: ao passo que, nos textos não literários (jornalísticos, científicos, históricos, etc.) as palavras servem para veicular uma série de in- formações, o texto literário funciona de maneira a chamar a atenção para a própria língua (FARACO & MOURA, 1999) no sentido de explorar vários aspectos como a sonoridade, a estrutura sintática e o sentido das palavras. Veja abaixo alguns exemplos de expressões na linguagem não literária ou “corriqueira” e um exem- plo de uso da mesma expressão, porém, de acordo com alguns escritores, na linguagem literária: Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 12 Linguagem não literária: - Anoitece. - Teus cabelos loiros brilham. - Uma nuvem cobriu parte do céu. Linguagem literária: - A mão da noite embrulha os horizontes. (Alva- renga Peixoto) - Os clarins de ouro dos teus cabelos cantam na luz! (Mário Quintana) - Um sujo de nuvem emporcalhou o luar em sua nascença. (José Cândido de Carvalho) Como distinguir, na prática, a linguagem literária da não literária? - A linguagem literária é conotativa, utiliza figuras (palavras de sentido figurado) em que as palavras adquirem sentidos mais amplos do que geralmente possuem. - Na linguagem literária há uma preocupação com a escolha e a disposição das palavras, que aca- bam dando vida e beleza a um texto. - Na linguagem literária é muito importante a ma- neira original de apresentar o tema escolhido. - A linguagem não literária é objetiva, denotati- va, preocupa-se em transmitir o conteúdo, utiliza a palavra em seu sentido próprio, utilitário, sem preocu- pação artística. Geralmente, recorre à ordem direta (sujeito, verbo, complementos). Leia com atenção os textos a seguir e compare as linguagens utilizadas neles. Texto A Amor (ô). [Do lat. amore.] S. m. 1. Sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem, ou de alguma coisa: amor ao próximo; amor ao patrimô- nio artístico de sua terra. 2. Sentimento de dedica- ção absoluta de um ser a outro ser ou a uma coisa; devoção, culto; adoração: amor à Pátria; amor a uma causa. 3. Inclinação ditada por laços de famí- lia: amor filial; amor conjugal. 4. Inclinação forte por pessoa de outro sexo, geralmente de caráter sexual, mas que apresenta grande variedade e comporta- mentos e reações. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Novo Dicionário da Língua Portuguesa, Nova Fronteira. Texto B Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; é dor que desatina sem doer. Luís de Camões. Lírica, Cultrix. Você deve ter notado que os textos tratam do mesmo assunto, porém os autores utilizam linguagens diferentes. No texto A, o autor preocupou-se em definir “amor”, usando uma linguagem objetiva, científica, sem preocupação artística. No texto B, o autor trata do mesmo assunto, mas com preocupação literária, artística. De fato, o poeta entra no campo subjetivo, com sua maneira própria de se expressar, utiliza comparações (com- para amor com fogo, ferida, contentamento e dor) e serve-se ainda de contrastes que acabam dando graça e força expressiva ao poema (contentamento descontente, dor sem doer, ferida que não se sente, fogo que não se vê). Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 13 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS O CORPO FALA De acordo com vários estudos, nosso corpo fala e muito seu corpo se expressa com gestos ele diz muita coisa para as outras pessoas. E muita coisa a dizer pra você, pois antes de tudo nosso corpo é um centro de informações para nós mesmos, uma linguagem que não mente e cuja essa estrutura é demonstrada nas páginas que você tem agora em suas mãos, sendo assim elas darão a você uma nova dimensão na comunicação pessoal. Quando sentimos uma dor nosso corpo está co- municando a nós que algo está errado e sim nosso humor muda e toda nossa comunicação interpesso- al e sensibilizada pela dor, porém a última coisa que pensamos é que há algo errado e deixamos passar. Qualquer dor que sentimentos se refere há alguma alteração que sofremos seja ela com surgimento na- tural ou decorrente de acidentes tem como origem um desajuste no campo emocional. A lista de definições de “comunicação” é muito grande; virtualmente cada autor propõe a sua pró- pria. Podemos denominar comunicação ao proces- so pelo qual, uns seres, umas pessoas atribuem sig- nificados a uns fatos produzidos e, entre eles muito especialmente ao comportamento dos outros seres ou pessoas. A primeira condição para que haja comunica- ção é a presença de um emissor e um receptor. O estudo dos símbolos sempre esteve relaciona- do com o conceito de comunicação. Como é natu- ral, a expressão corporal que abrange os movimen- tos do corpo e a postura, está relacionada com as características físicas da pessoa. Há três classes de movimentos observáveis: os fa- ciais, gesticulares e os de postura. Embora possamos categorizar estes tipos de movimentos, a verdade é que estão fortemente entrelaçados, e muito frequen- temente se torna difícil dar um significado a um, pres- cindindo dos outros. Na comunicação verbal, sendo a linguagem o fator mais importante, reconhecemos que produzi- mos e recebemos uma quantidade muito grande de mensagens que não vêm expressas em palavras. Estas mensagens são os que denominamos não verbais, e vão da cor dos olhos,comprimento do ca- belo, movimentos do corpo, postura, e até o tom da voz, passando por objetos, roupas, distribuição do es- paço e do tempo. O estudo rigoroso desses sistemas de comunica- ção não começou até bastante tempo depois da Segunda Guerra Mundial. Isto não quer dizer que não encontremos alguma referência já nos antigos mun- dos Grego e Chinês, ou em trabalhos sobre dança, teatro ou liturgia. A comunicação não verbal, geralmente, man- tém uma relação de interdependência com a inte- ração verbal. Com freqüência as mensagens não verbais têm mais significação que as mensagens verbais. Em qualquer situação comunicativa, a comuni- cação não verbal é inevitável. Nas mensagens não verbais, prepondera a fun- ção expressiva ou emotiva sobre a referencial. Em culturas diferentes, há sistemas não verbais di- ferentes. Existe uma especialização de certos comporta- mentos para a comunicação. ·ESTUDO DAS PRÁTICAS CORPORAIS: A LINGUAGEM CORPORAL COMO INTEGRADORA SOCIAL E FORMADORA DE IDENTIDADE Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 14 O estudo em que se encontra este tipo de busca é o descritivo. O conhecimento das formas não verbais de co- municação serve para converter o encontro com ou- tra pessoa em uma experiência interessante. Quando se começou a estudar a comunicação não verbal, esta era dirigida ao pessoal de vendas, gerentes e executivos, mas mais tarde se foi amplian- do de tal maneira que toda pessoa, qualquer que seja sua vocação e sua posição social, pode usá-la para compreender melhor o acontecimento mais complexo que se apresenta na vida: o encontro cara a cara com outra pessoa. A interpretação da postura Para a maioria de nós, a postura é um tema pou- co agradável sobre a maneira como nossa mãe cos- tumava nos repreender. Mas para um psicanalista a postura de um paciente muitas vezes constitui uma chave primordial sobre a natureza de seus proble- mas. A postura é a chave não verbal mais fácil de des- cobrir, e observá-la pode ser muito interessante. Com surpreendente frequência, as pessoas imi- tam as atitudes corporais de outras. Dois amigos se sentam exatamente da mesma maneira, a perna di- reita cruzada sobre a esquerda, por exemplo, e as mãos entrelaçadas atrás da cabeça; ou um deles o faz ao contrário, a perna esquerda cruzada sobre a direita, como se fosse uma imagem refletida em um espelho. Denomina-se a esse fenômeno posturas congruentes. Acredita-se que duas pessoas que compartilham um mesmo ponto de vista, acabam compartilhando também uma mesma postura. Estudar a postura das pessoas durante uma dis- cussão é extremamente interessante, já que muitas vezes poderemos detectar quem está a favor de quem, antes que cada um fale. Observou-se que as pessoas que não se conhe- cem evitam cuidadosamente adotar as mesmas po- sições. A importância da imitação pode chegar a ser uma das lições mais significativas que podemos aprender, pois é a forma com que outros nos expres- sam que coincidem conosco ou que lhes agrada- mos. Também é a forma com que comunicamos aos outros que realmente nos agradam. Se um chefe deseja estabelecer rapidamente uma boa relação e criar um ambiente tranquilo com um empregado, basta copiar a postura deste para obter seus objetivos. Da mesma maneira que as posturas congruentes expressam acordo, os nãos congruentes podem ser utilizados para estabelecer distâncias psicológicas. Ao ver um casal de jovens sentados um ao lado do outro em um sofá. A garota está olhando para o moço, que está sentado olhando para fora, os bra- ços e as pernas como formando uma barreira entre ambos e este permanece sentado assim durante oito longos minutos e só de tempos em tempos vira a ca- beça para a garota para falar com ela. Ao término desse tempo entra outra jovem no local e o moço fica de pé e sai com ela; mediante sua postura tinha estabelecido que a garota que estava sentada a seu lado não era seu par. Algumas vezes, quando as pessoas se vêem for- çadas a sentar-se muito juntas, inconscientemente desdobram seus braços e pernas como barreiras. Dois homens sentados muito juntos em um sofá gira- rão o corpo levemente e cruzarão as pernas de den- tro para fora, ou porão uma mão ou um braço para proteger o lado comum do rosto. Um homem e uma mulher sentados frente a fren- te a uma distância muito próxima, cruzarão os bra- ços e talvez as pernas, e se virarão para trás em seus assentos. A postura não é somente uma chave sobre o caráter, é também uma expressão da atitude. Com efeito, muitos dos estudos psicológicos que se tem Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 15 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS feito sobre a postura, a analisam segundo o que re- vela a respeito dos sentimentos de um indivíduo com respeito às pessoas que o rodeiam. Um investigador observou que quando um ho- mem se inclina levemente para frente, com as cos- tas um pouco encurvadas, provavelmente simpatiza com a pessoa que está com ele. A postura é, como já dissemos, o elemento mais fácil de observar e de interpretar de todo o compor- tamento não verbal. De certo modo, é preocupante saber que alguns movimentos corporais que tínha- mos por arbitrários são tão circunscritos, previsíveis e, às vezes, reveladores; mas por outra parte, é muito agradável saber que todo nosso corpo responde continuamente ao desenvolvimento de qualquer en- contro humano. Por exemplo, os vendedores, em casas de ca- sais casados devem observar os gestos dos cônjuges para ver quem os inicia e quem os copia. Se o marido for o que mantém a conversação e a mulher não diz nada, mas você observa que ele copia os gestos da mulher, descobrirá que é ela quem decide e assina os cheques, assim, convém ao vendedor dirigir sua conversa à senhora. A comunicação dos sentidos (o tato) O tato é o sentido que está presente em todos os outros. A luz e os aromas nos envolvem. Nos sentimos muitas vezes embalados pela músi- ca. Imaginemos o que aconteceria a uma criança a quem fosse impedida sua relação por meio do tato. Possivelmente terminaria sendo uma perfeita inváli- da. Nossa pele é usualmente um fiel reflexo de nossas emoções, como o medo, a ira, o ódio. O tato pos- sui uma classe especial de proximidade, posto que quando uma pessoa toca a outra, a experiência é totalmente mútua. A pele fica em contato com a pele, de forma direta ou através da vestimenta, e se estabelece uma imediata tomada de consciência de ambas as partes. Esta tomada de consciência é mais aguda quando o contato é pouco freqüente. O que o homem experimenta através da pele é muito mais importante do que a maioria de nós pen- sa. Prova disso é o surpreendente tamanho das áreas táteis do cérebro, a sensorial e a motora. Os lábios, o dedo indicador e o polegar, sobretu- do, ocupam uma parte desproporcional do espaço cerebral. A experiência tátil, portanto, deve ser con- siderada muito complexa e de grande significado. Todo ser humano está em contato constante com o mundo exterior através da pele. Apesar de que não é se é consciente disso até que se detém a pensá-lo, sempre existe, pelo menos, a pressão do pavimento contra a planta do pé, ou a do assento contra as ná- degas. Na realidade, todo o meio ambiente o afeta através da pele; sente a pressão do ar, o vento, a luz do sol, a névoa, as ondas acústicas e, algumas vezes, outros seres humanos. O tato é provavelmente o mais primitivo dos sen- tidos. O bebê recém-nascido explora mediante o tato; é assim que descobre onde termina seu próprio corpo e começa o mundo exterior. À medida que a criança cresce, aprende que há objetos e partes de seu próprio corpo e do das outras pessoas, que se podem tocar e outras que não. Quando o indivíduo descobreas relações sexuais, na realidade está re- descobrindo a comunicação tátil. Se interromper uma conversa, a pessoa que o faz poderá pôr sua mão no braço de seu interlocutor, já que este gesto poderá ser interpretado como o pedi- do de “um momento” e evidentemente faz parte do mecanismo da conversação. Também é importante a parte do corpo que se toca. Uma mão que repousa suavemente sobre um antebraço terá um impacto totalmente diferente do que teria se colocada sobre um joelho. O contato — pelo menos o mais impessoal — produz-se em todo nosso entorno, percebamo-lo ou não. Vinculamos o contato físico com o sexo, exce- to quando se nota claramente que não há conexão entre ambos; por isso o utilizamos escassamente para expressar amizade e afeto. Nas ruas dos Estados Unidos não é costume ver- -se homens nem mulheres que caminhem de braços dados. Entretanto, este é um costume bastante comum na América do Sul. Aos norte-americanos parece um indício de ho- mossexualidade. Até os pais e filhos maiores têm en- tre si um contato mais superficial O tato, o paladar e o olfato são sentidos de proxi- midade. A audição e a visão, em troca, podem pro- porcionar experiências à distância. Movimentos corporais As investigações a respeito da comunicação hu- mana frequentemente descuidaram do indivíduo em si. Não obstante, é óbvio que qualquer de nós pode fazer uma análise aproximada do caráter de um in- divíduo apoiando-se em sua maneira de mover-se — rígido, desenvolto, vigoroso, — e a maneira como o faça representará um traço bastante estável de sua personalidade. Tomemos por exemplo a simples ação de cami- nhar. Este só feito nos pode indicar muitas coisas. O homem que habitualmente pise com força ao cami- nhar nos dará a impressão de ser um indivíduo decidi- do. Se caminhar ligeiro, poderá parecer impaciente ou agressivo, embora se com o mesmo impulso o faz Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 16 mais lentamente, de maneira mais homogênea, nos fará pensar que se trata de uma pessoa paciente e perseverante. Outra o fará com muito pouco im- pulso, como se cruzando um gramado cuidando de não arruiná-lo e nos dará uma idéia de falta de se- gurança. O fato de levantar os quadris exageradamen- te dá impressão de confiança em si mesmo; se ao mesmo tempo se produz uma leve rotação, estamos diante de alguém garboso e desenvolto. Se a isto se adiciona-lhe um pouco mais de ritmo, mais ênfase e uma figura em forma de violão, teremos a maneira de caminhar que, em uma mulher, faz os homens se virarem para olhar, na rua. Isto representa o “como” do movimento corporal, em contraste com o “que”: não o ato de caminhar em si, mas sim a maneira como é feito; não o ato de estreitar a mão, mas sim a forma de fazê-lo. A proporção entre gesto e postura é uma forma de avaliar o grau de participação de um indivíduo em uma determinada situação. Um homem que sa- code energicamente os braços não parecerá con- vincente se seus movimentos não se estendem ao resto do corpo. O que importa é a proporção existente entre os movimentos posturais e os gestuais, mais que o mero número de movimentos posturais. Um homem pode estar sentado muito quieto, escutando, mas se, ao se mover, o faz com todo seu corpo, parecerá estar prestando muita atenção; muito mais que se estives- se continuamente em movimento, jogando talvez constantemente com alguma parte de seu corpo. As atitudes corporais refletem as atitudes e orien- tações persistentes no indivíduo. Uma pessoa pode estar imóvel ou sentada para a frente de maneira ativa, ou afundada em si mesma, e assim sucessiva- mente. Estas posições ou posturas, e suas variações ou a falta delas, representam a forma com que al- guém se relaciona e orienta com as outras. Há uma maneira de aprender a controlar a qua- lidade do movimento? “Seria como o problema da centopéia. Se algu- ma vez começasse a pensar qual pata deve mover primeiro, ficaria totalmente paralisada”. O conjunto de gestos Um dos enganos mais graves que um novato na linguagem do corpo pode cometer é interpretar um gesto isolado de outros e das circunstâncias. Coçar a cabeça, por exemplo, pode significar muitas coisas: caspa, piolhos, suor, insegurança, esquecimento ou mentira, em função de outros gestos que se façam simultaneamente. Para chegar a conclusões acerta- das, deveremos observar os gestos em seu conjunto. Como qualquer outra linguagem, o do corpo tem também palavras, frases e pontuação. Cada gesto é como uma só palavra e uma palavra podem ter vários significados. Só quando a palavra forma parte de uma frase, pode se saber seu significado correto. A pessoa perceptiva é a que lê bem as frases não verbais e as compara com as expressas verbalmente. A figura mostra um conjunto de gestos que ex- pressam avaliação crítica. O principal é o da mão no rosto, com o indicador levantando a bochecha e outro dedo tampando a boca enquanto o polegar sustenta o queixo. Outras evidências de que o que escuta analisa criticamente o que fala, são proporcionadas pelas pernas muito cruzadas e o braço cruzado sobre o peito (defesa), enquanto a cabeça e o queixo estão um pouco inclinados para baixo (hostilidade). A “fra- se não verbal” diz algo assim como “eu não gosto do que está dizendo e não estou de acordo”. A observação dos grupos de gestos e a congru- ência entre os canais verbais e não verbais de comu- nicação são as chaves para interpretar corretamen- te a linguagem do corpo. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 17 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Além de considerar o conjunto dos gestos e de ter em conta a congruência entre o que é dito e o movimento corporal, todos os gestos devem ser con- siderados dentro do contexto em que se produzem. Por exemplo, se alguém estiver de pé na parada do ônibus, com os braços e as pernas cruzados e o quei- xo baixo, em um dia de inverno, o mais provável é que tenha frio e não que esteja na defensiva. Mas se essa pessoa faz os mesmos gestos quando está sen- tada em frente a um homem, com uma mesa entre os dois, e esse homem está tentando convencer o outro de algo, de lhe vender uma idéia, um produto ou um serviço, a interpretação correta é que a pes- soa está na defensiva e com atitude negativa. A velocidade de alguns gestos e o modo como se tornam óbvios para os outros está relacionada com a idade dos indivíduos. Se uma menina de cinco anos diz uma mentira a seus pais, tapará imediatamente a boca com uma ou as duas mãos. O gesto indica aos pais que a me- nina mentiu e esse gesto continua sendo usado toda a vida, variando somente sua velocidade. Quando a adolescente diz uma mentira, também leva a mão à boca como a menina de cinco anos, mas, em lugar de tapá-la bruscamente, seus dedos como que roçam sua boca. O gesto de tapar a boca se torna mais refinado na idade adulta. Quando o adulto diz uma mentira, o cérebro or- dena à mão que tampe a boca para bloquear a sa- ída das palavras falsas, como ocorria com a menina e a adolescente, mas no último momento, tira a mão da boca e o resultado é um gesto tocando o nariz. Esse gesto não é mais que a versão refinada, adulta, do gesto de tampar a boca que se usou na infância. Isto serve de exemplo para mostrar que quando um indivíduo se faz maior, muitos de seus gestos se tor- nam mais elaborados e menos óbvios. É mais difícil identificar as atitudes de quem os faz. GESTOS AO INÍCIO DE UMA CONVERSAÇÃO O encontro é um momento fundamental da con- versa e, a partir dele, desencadeia-se uma série de estratégias através de sutis negociações não verbais que têm lugar dos primeiros momentos. Os primeiros 15 a 45 segundos são fundamentais, já que represen- tam a afirmação de uma relação quepreexista ou uma negociação. Aquelas pautas de comportamento comunica- tivo, aquelas regras de interação que pomos em funcionamento para expressar ou negociar a intimi- dade, são as que fazemos para fazer saber a uma pessoa se nós gostarmos dela ou não. E raramente fazemos isso de maneira verbal. RITMOS CORPORAIS Cada vez que uma pessoa fala, os movimentos de suas mãos e dedos, as sacudidas de cabeça, os piscadas, todos os movimentos do corpo coincidem com o compasso de seu discurso. Esse ritmo se altera quando há enfermidades ou transtornos cerebrais. Os territórios e as zonas - O ESPAÇO PESSOAL - Distâncias zonais O raio ao redor do indivíduo branco de classe média que vive na Austrália, Nova Zelândia, Inglaterra ou América do Norte pode dividir-se em quatro distâncias zonais bem claras: Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 18 - Zona íntima (de 15 a 45 cm) É a mais importante e é a que a pessoa cuida como sua propriedade. Só se permite a entrada aos que estão muito perto emo- cionalmente da pessoa, como o amante, pais, filhos, amigos íntimos e parentes. - Zona pessoal (entre 46cm e 1,2 metros): é a dis- tância que separa as pessoas em uma reunião social, ou de escritório, e nas festas. - Zona social (entre 1,2 e 3,6 metros): essa é a dis- tância que nos separa dos estranhos, do encanador, de quem faz reparos na casa, dos fornecedores, das pessoas que não conhecemos bem. - Zona pública (a mais de 3,6 metros): é a distân- cia cômoda para nos dirigir a um grupo de pessoas. Embora toleremos intrusos na zona pessoal e so- cial, a intromissão de um estranho na zona íntima ocasiona mudanças fisiológicas em nossos corpos. Por isso rodear com o braço os ombros de alguém que se acaba de conhecer, embora seja de maneira muito amistosa, pode fazer que a pessoa tome uma atitude negativa em relação a você. A aglomeração nos concertos, elevadores, ôni- bus, ocasiona a intromissão inevitável nas zonas ínti- mas de outras pessoas. Há uma série de regras não escritas que os ocidentais respeitam fielmente quan- do se encontram nestas situações, como por ex.: Não é correto falar com ninguém, nem sequer com alguém conhecido. Deve-se evitar encarar as pessoas. Deve-se man- ter “cara de paisagem”, totalmente inexpressiva. Se carregar um livro ou um jornal, simulará estar lendo. Quanto mais pessoas houver no lugar, menos mo- vimentos deve efetuar. Nos elevadores se deve ficar olhando o painel in- dicador dos andares. - Os rituais do uso do espaço Quando uma pessoa procura espaço entre estra- nhos o faz sempre procurando o maior espaço dispo- nível entre dois espaços ocupados e reclamar a zona do centro. No cinema, escolherá um assento que es- teja na metade do caminho entre a extremidade da fila e o da pessoa que esteja sentada. O propósito deste ritual é não incomodar as outras pessoas apro- ximando-se ou afastando-se demais delas. A distância normal para observar entre habitan- tes urbanos. A atitude negativa de uma mulher sobre cujo ter- ritório um homem tenha avançado: anda para atrás para manter uma distancia confortável. - Zonas espaciais urbanas e rurais Os que cresceram em zonas rurais pouco povo- adas precisam de mais espaço que os que cresce- ram em lugares densamente povoados. Observar o quanto alguém estende o braço para dar a mão dá a chave para saber se foi criada na cidade ou no campo. O habitante da cidade tem sua área priva- tiva de 46 cm, e até essa distância estende o braço para saudar. A pessoa criada no campo pode ter seu espaço pessoal de 1 metro ou mais e até essa distância es- tenderá a mão. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 19 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS - Gestos com as mãos É uma antiga brincadeira dizer que “Fulano fica- ria mudo se lhe atassem as mãos”. Entretanto, é certo que todos ficaríamos bastante incomodados se tivéssemos que renunciar aos gestos com que tão freqüentemente acompanhamos e ilus- tramos nossas palavras. A maioria das pessoas são conscientes dos movi- mentos das mãos dos outros, mas geralmente os ig- noram, encarando-os como não se tratando de mais do que gestos sem sentido. Entretanto, os gestos co- municam. Às vezes, contribuem para esclarecer uma mensagem verbal pouco clara. A PALMA DA MÃO O gesto de exibir as palmas das mãos sempre foi associado com a verdade, a honestidade, a lealda- de e a deferência. Muitos juramentos são efetuados colocando a palma da mão sobre o coração; a mão se levanta com a palma para fora quando alguém declara em um tribunal; diante dos membros do tri- bunal, a Bíblia é sustentada com a mão esquerda e se levanta a palma direita. Na vida cotidiana, as pessoas usam duas posi- ções fundamentais das palmas das mãos: palmas para cima na posição do mendigo que pede dinhei- ro ou comida, e a outra é a das palmas para bai- xo como se tratasse de se conter, de manter algo. Quando alguém deseja ser franco e honesto, levanta uma ou ambas as palmas para a outra pessoa e diz algo assim como: “vou ser franco com você”. Quando alguém começa a confiar em outro, ex- por-lhe as palmas ou partes delas é um gesto incons- ciente como quase todas as linguagens do corpo, um gesto que proporciona ao que o vê a sensação ou o pressentimento de que estão lhe dizendo a ver- dade. Há três gestos principais de gestos com as pal- mas: a palma para cima (já comentada), para baixo e a palma fechada com um dedo apontando em uma direção. A palma para cima é um gesto não ameaçador que denota submissão. Quando alguém coloca a palma para baixo ad- quire imediatamente autoridade. A pessoa recepto- ra sente que está lhe dando uma ordem. A palma fechada em um punho, com o dedo as- sinalando a direção, é o plano simbólico com que um ordena ao que o escuta para fazer que lhe obe- deça. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 20 O APERTO DE MÃOS Apertar as mãos é um vestígio que ficou do ho- mem das cavernas. Quando dois cavernícolas se encontravam, le- vantavam os braços com as palmas à vista para de- monstrar que não escondiam nenhuma arma. Com o transcorrer dos séculos, esse gesto de exi- bição das palmas foi transformando-se em outros como o da palma levantada para a saudação, a palma sobre o coração e muitos outros. A forma moderna desse ancestral gesto de sau- dação é estreitar as palmas e sacudi-las. No Ociden- te se pratica essa saudação ao encontrar-se e ao despedir-se. - Apertos de mãos submissos e dominantes Tendo em conta o que já foi dito sobre a força de uma petição feita com as palmas para cima ou para baixo, estudemos a importância dessas posições no aperto de mãos. Suponhamos que acabam de nos apresentar a alguém e se realiza um aperto de mãos. Três atitudes podem transmitir-se no aperto: A atitude de domínio: “Esse indivíduo está tentan- do me submeter. Vou estar alerta.” A atitude de submissão: “Posso fazer o que quiser com essa pessoa.” E a atitude de igualdade: “Eu gos- to, nos daremos bem.” Essas atitudes se transmitem de forma inconscien- te mas, com a prática e a aplicação conscientes, as seguintes técnicas para estreitar a mão podem ter um efeito imediato no resultado de um encontro com outra pessoa. O domínio se transmite quando a palma (a da manga escura na figura) fica para baixo. Não é necessário que a palma fique para o chão; basta com que esteja para baixo sobre a palma da outra pessoa. Esta posição indica para um que o ou- tro quer tomar o controle dessa reunião. O contrário do aperto dominante é oferecer a mão com a palma para cima. Esse gesto resulta es- pecialmente efetivo quando se deseja ceder ao ou- tro o controle da situação, ou lhe fazer sentir que o tem.Quando duas pessoas dominantes se estreitam as mãos tem lugar uma luta simbólica, já que cada uma tenta pôr a palma da outra em posição de sub- missão. O resultado é um aperto de mãos vertical no qual cada um transmite ao outro um sentimento de respeito e simpatia. - Os estilos para estreitar a mão Estender o braço com a mão esticada e a palma para baixo é o estilo mais agressivo de iniciação da saudação, pois não dá oportunidade à outra pessoa de estabelecer uma relação em igualdade de con- dições. Essa forma de dar a mão é típica do macho dominante e agressivo que sempre inicia o sauda- ção. Seu braço rígido e a palma para baixo obrigam o outro indivíduo a ficar em situação totalmente sub- missa, pois tem que responder com sua palma para cima. O aperto de mãos “tipo luva” se chama às vezes “aperto de mãos do político”. O iniciador trata de dar a impressão de ser uma pessoa digna de confiança e honesta, mas quando usa essa técnica com alguém que se acaba de conhecer, o efeito é oposto. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 21 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS A trituração dos nódulos é a marca do tipo rude e agressivo. A intenção que se manifesta ao estender as duas mãos para o receptor demonstra sinceridade, con- fiança ou um sentimento profundo para o receptor. Pegar na parte superior do braço transmite mais sentimento do que pegar o pulso. E mais até transmi- te o tirar do ombro. Pegar no pulso e no cotovelo é aceito somente entre amigos íntimos ou parentes. Se um político ou um vendedor fizer isso com um eventu- al cliente, isso desloca o receptor e não é bom. MÃOS COM OS DEDOS ENTRELAÇADOS A princípio pode parecer que esse é um gesto de bem-estar porque a pessoa que o usa frequentemen- te está sorrindo ao mesmo tempo, e parece feliz. Mas realmente é um gesto de frustração ou atitude hostil e a pessoa que o faz está dissimulando uma atitude negativa. É preciso provocar alguma ação para de- senlaçar os dedos e expor as palmas e a parte dian- teira do corpo, senão permanecerá a atitude hostil. Parece que existe uma relação entre a altura a que se sustentam as mãos e a intensidade da atitude negativa. quanto mais altas estão as mãos, mais difí- cil será o trato com a pessoa. MÃOS EM OGIVA A pessoa que se tem confiança, que é superior, ou a que usa mínima gesticulação, com freqüência faz este gesto, e com ele expressa sua atitude de se- gurança. Também é um gesto comum entre os con- tadores, advogados, gerentes e outros profissionais. A ogiva para cima se usa quando esta pessoa opinando, quando é a que fala. A ogiva para baixo se usa mais quando se está escutando. MÃOS, BRAÇOS E PULSOS Caminhar com a cabeça levantada, o queixo para diante e as mãos para trás das costas são gestos comuns nos policiais que percorrem as ruas, do dire- tor da escola, dos militares e de todas as pessoas que tenham autoridade. É um gesto de superioridade e segurança. Mas não se deve confundir esse gesto, pegando no pulso ou no braço, já que estes últimos mostram frustração e intenção de autocontrolar-se. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 22 OS GESTOS COM O POLEGAR Em quiromancia, os polegares assinalam a força do caráter e o ego. O uso dos polegares na expressão não verbal confirma o anterior. Usam-se para expressar domínio, superioridade e inclusive agressão; os gestos com os polegares são secundários, formam parte de um gru- po de gestos. Representam expressões positivas usadas fre- qüentemente nas posições típicas do gerente “frio” diante de seus subordinados. O homem que corteja a uma mulher os emprega diante dela e são de uso comum também entre as pessoas de prestígio, de alto status e bem vestidas. As pessoas que usam roupas novas e atraentes fazem mais gestos com os polegares do que as que usam roupas fora de moda. Os polegares, que expressam superioridade, se tornam mais evidentes quando uma pessoa está dando uma mensagem verbal contraditória. Com freqüência os polegares saem dos bolsos, às vezes dos bolsos posteriores, como para dissimular a atitude dominante da pessoa. As mulheres agressivas ou dominantes usam também este gesto. Os que mostram os polegares costumam acres- centar a esse gesto o balanço sobre os pés para dar a impressão de ter maior estatura. Outra posição conhecida é a dos braços cruza- dos com os polegares para cima. É um sinal duplo pois os braços indicam uma atitude defensiva ou negativa, enquanto que os polegares representam uma atitude de superioridade. A pessoa que usa este gesto duplo está acostumado a gesticular com os polegares e, quando está parada, se balança sobre os pés. O polegar pode ser usado também como um gesto de ridículo quando aponta para outra pessoa. O polegar que assinala deste modo resulta irritante para a maioria das mulheres. AS MÃOS NO ROSTO Como se pode saber que alguém está mentindo? Reconhecer os gestos de engano pode ser uma das habilidades mais importantes que se pode adquirir. Quais são os sinais que delatam os mentirosos? As posições das mãos no roso são a base dos ges- tos humanos para enganar. Em outras palavras, quando vemos, dizemos ou escutamos uma mentira, freqüentemente tentamos tampar os olhos, a boca ou os ouvidos com as mãos. Quando alguém faz um gesto de levar as mãos ao rosto nem sempre significa que está mentindo, mas indica que esta pessoa pode estar enganan- do. A observação ulterior de outros grupos de gestos pode confirmar as suspeitas. É importante não inter- pretar isoladamente os gestos com as mãos no rosto. - O guardião da boca Tampar a boca é um dos gestos tão óbvios nos adultos como nas crianças. A mão cobre a boca e o polegar se aperta contra a bochecha, quando o cérebro ordena, em forma subconsciente, que se su- primam as palavras enganosas que acabam de se Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 23 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS dizer. Às vezes, o gesto se faz tampando a boca com alguns dedos ou com o punho, mas o significado é o mesmo. Se a pessoa que está falando usa este gesto, denota que está dizendo uma mentira. - Tocar o nariz O gesto de tocar o nariz é, essencialmente, uma versão dissimulada de tocar a boca. Pode consistir em ficar roçando suavemente debaixo do nariz ou pode ser um toque rápido e quase imperceptível. Uma explicação da origem do gesto de tocar o nariz é que, quando a mente tem o pensamento ne- gativo, o subconsciente ordena à mão que tampe a boca, mas, no último instante, para que não seja um gesto tão óbvio, a mão se retira da boca e toca rapidamente o nariz. Outra explicação é que mentir produz coceira nas delicadas terminações nervosas do nariz e, para que passe se faz necessário esfregálo. - Esfregar o olho O gesto representa a tentativa do cérebro de blo- quear a visão do engano ou de evitar ter que olhar a face da pessoa a quem se está mentindo. O mesmo acontece com o esfregar a orelha. É a tentativa de quem escuta de “não ouvir o mau”, de bloquear as palavras de mentira. É a versão adulta do gesto dos meninos de tampar os ouvidos com as duas mãos para não ouvir uma reprimenda. - Esfregar o pescoço Neste caso o indicador da mão direita esfrega debaixo do lóbulo da orelha ou do flanco do pes- coço. Nossas observações desse gesto revelam algo interessante: a pessoa se esfrega umas cinco vezes. É estranho que o faça mais ou menos vezes. O gesto indica dúvida, incerteza, e é característi- co da pessoa que diz: “Não sei se estou de acordo”. É muito notório quando a linguagem verbal contradiz o gesto; por exemplo, quando a pessoa diz: “Entendo como se sente”. Algumas pessoas quando dizem uma mentira e suspeitam que foram descobertas, realizam o gestode puxar o colarinho da camisa. Se perceber isso, pode lhe pedir que repita ou que explique novamente o que falou. - Os dedos na boca O gesto da pessoa que fica os dedos na boca quando se sente pressionada é a tentativa incons- ciente da pessoa de voltar para a segurança do recém-nascido que suga o peito materno. A criança substitui o peito da mãe pelo polegar, e o adulto não fica com os dedos na boca, mas substitui por inserir nela coisas como cigarros, lapiseiras, etc. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 24 Embora quase todos os gestos feitos com as mãos no rosto expressem mentira ou desilusão, meter os de- dos na boca é uma manifestação de necessidade de segurança. É adequado dar garantias e seguran- ça à pessoa que faz este gesto. - O aborrecimento Quando o que está escutando começa a apoiar a cabeça na mão, está dando sinais de aborreci- mento: a mão sustenta a cabeça para tentar não dormir. O grau de aborrecimento está em relação direta com a força com que o braço e a mão estão sustentando a cabeça. Um movimento simples como o de entregar algo ao ouvinte para lhe alterar a posi- ção pode produzir um mudança de atitude. A primeira das três figuras mostra o gesto de ava- liação”. A avaliação se demonstra com a mão fe- chada apoiada na bochecha, em geral com o indi- cador para cima. O gesto de passar a mão no queixo é um sinal que indica que o que o faz está tomando uma decisão. Quando uma pessoa fica com um objeto na boca (cigarro, lapiseira, etc.) quando lhe pede que tome uma decisão, esse gesto indica que não está seguro sobre a decisão a adotar e que vai a ser necessário lhe dar mas segurança porque o objeto que tem na boca lhe faz ganhar tempo. - Os gestos de esfregar-se ou espalmar a cabeça A versão exagerada de puxar a gola da camisa é esfregar a nuca com a palma da mão. A pessoa que faz esse gesto quando mente, em geral evita o olhar direto e olha para baixo. Esse gesto expressa também zanga ou frustração. Se ao mostrar um engano a al- guém, essa pessoa reconhecer o esquecimento co- metido e se golpear a testa, é porque não se sentiu intimidada por sua observação. Se, ao contrário, se dá a palmada na nuca, reflete que se sentiu constrangida por você lhe haver exposto o engano. Os que habitualmente esfregam a nuca têm ten- dência a ser negativos e a criticar, enquanto que os que esfregam a testa para não verbalizar um engano são pessoas mais abertas e com as quais se trabalha mais facilmente. Os braços defendem - OS GESTOS COM OS BRA- ÇOS CRUZADOS Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 25 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Esconder-se detrás de uma barreira é uma res- posta humana normal que aprendemos em tenra idade para nos proteger. Ao cruzar um ou os dois braços sobre o peito se forma uma barreira que, em essência, é a tentativa de deixar fora de nós a ameaça pendente ou as cir- cunstâncias indesejáveis. Quando uma pessoa tem uma atitude defensi- va, negativa ou nervosa, cruzar os braços demonstra que se sente ameaçada. - Gesto padrão de braços cruzados O gesto padrão é universal e expressa a mesma atitude defensiva ou negativa, quase em todas par- tes. Costuma ser visto quando a pessoa está entre desconhecidos em reuniões públicas, filas, cafete- rias, elevadores ou em qualquer lugar onde se sinta insegura. Quando o ouvinte cruza os braços, não somen- te tem pensamentos negativos sobre o que fala mas também presta menos atenção ao que diz. Os ora- dores com experiência sabem que esse gesto de- monstra a necessidade urgente de quebrar o gelo para que os ouvintes adotem atitudes mais recepti- vas, por exemplo: lhe alcançar um livro, lhe fazer al- guma pergunta para que participe, etc. - Cruzamento de braços reforçado Se, além de ter cruzado os braços, a pessoa fe- chou os punhos, os sinais são de defesa e hostilida- de. Este grupo de gestos se combina às vezes com dentes apertados e rosto avermelhado. Nesse caso, pode ser iminente um ataque verbal ou físico. - O gesto de segurar os braços Este estilo se observa usualmente nas pessoas que estão na sala de espera de um médico ou de um dentista, ou nas que viajam de avião pela primeira vez e esperam a decolagem. É uma atitude negativa de restrição, como querendo sujeitar os braços e não permitindo deixar o corpo exposto. - Cruzamento parcial de braços Outra versão da barreira é segurar um braço com a mão. Esta atitude é comum nas pessoas que de- vem enfrentar o publico quando recebem um título, um prêmio, ou tem que dizer umas palavras. É como reviver a sensação de segurança que se experimen- tava quando a gente era menino e os pais o leva- vam pela mão em situações de temor. - Cruzamento de braços dissimulado É usado por pessoas que estão continuamente expostas ao público, como políticos, vendedores, etc. que não desejam que o publico perceba que estão nervosas ou inseguras. Em vez de cruzar dire- tamente um braço sobre o outro, uma mão sustenta uma bolsa, segura o relógio, o punho da camisa, etc. Desta maneira se forma a barreira e se obtém a sensação de segurança. - Expressão facial Os sinais faciais têm um papel chave na comu- nicação. Basta ver como nas conversas telefônicas a ausência destas expressões reduzem significativa- mente a disposição do receptor para interpretar as mensagens. Essas expressões são, também, os indícios mais precisos do estado emocional de uma pessoa. Assim interpretamos a alegria, a tristeza, o medo, a raiva, a surpresa, o asco ou o afeto, pela simples obser- vação dos movimentos do rosto de nosso interlocutor. Provavelmente, o ponto mais importante da co- municação facial encontraremos nos olhos, o foco mais expressivo da face. O contato ocular é um sinal chave em nossa comunicação com outros. Assim, a longitude do olhar, quer dizer, a duração do conta- to ininterrupto entre os olhares, sugere uma união de mensagens. A comunicação ocular é, pos sivelmente, a mais sutil das formas de expressão corporal. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 26 OS SINAIS COM OS OLHOS Nas mesmas condições de luminosidade as pupi- las se dilatam ou se contraem segundo a atitude da pessoa. Quando alguém se entusiasma as pupilas se dilatam até ter quatro vezes o tamanho normal. Mas quando alguém esta de mau humor, zangado ou tem uma atitude negativa, as pupilas se contraem Os olhos são muito usados na conquista amorosa. Aristóteles Onassis usava óculos escuros para seus entendimentos comerciais a fim que seus olhos não re- velassem seus pensamentos. Quando uma pessoa é desonesta ou tenta ocultar algo, seu olhar enfrenta o nosso menos que um terço do tempo. Mas, quando alguém sustenta o olhar mias que dois terços do tempo, acha o interlocutor atraen- te ou sente hostilidade e está enviando uma mensa- gem não verbal de desafio. Para conseguir uma boa relação com outra pessoa, deve-se olhar para ela du- rante 60 ou 70% do tempo, assim a pessoa começa a sentir simpatia pela outra. - O olhar de negócio Quando se está falando de negócios deve-se ima- ginar um triângulo na testa da outra pessoa. Então se mantém o olhar dirigido a essa zona e não desce para baixo, e o outro perceberá que você fala a sério. - O olhar social Quando o olhar vai para baixo do nível dos olhos se desenvolve uma atmosfera social. Nos encontros sociais o olhar se dirige ao triângulo formado entre os olhos e a boca. - O olhar íntimo Percorre os olhos, passa pelo queixo e se dirige para outras partes do corpo. Se a pessoa estiver inte- ressada devolverá um olhar do mesmo estilo. - As olhadas de esguelha Usam-se para transmitir interesse amoroso se fo- rem combinadas com uma elevaçãonas sobrance- lhas e um sorriso, ou hostilidade se combinarem com as sobrancelhas franzidas ou para baixo. Gestos com as pernas - CRUZAMENTO DE PERNAS As pernas cruzadas, como os braços cruzados, indicam a possível existência de uma atitude nega- tiva ou defensiva. A princípio, o propósito de cruzar os braços sobre o peito era defender o coração e a região superior do corpo. Cruzar as pernas é a tenta- tiva de proteger a zona genital. O cruzamento de braços assinala uma atitude mais negativa que cruzar as pernas, e é mais eviden- te. Terá que tomar cuidado quando se interpretam os gestos de cruzar as pernas de uma mulher, pois muitas foram ensinadas que “assim se sentam as damas”. Há duas maneiras fundamentais de cruzar as per- nas estando sentado: o cruzamento padrão e o cru- zamento em que as pernas desenham um 4. - O Cruzamento de pernas padrão Uma perna se cruza nitidamente por cima da outra; em geral, a direita sobre a esquerda. Este é o cruzamento normal para os europeus, britânicos, aus- tralianos e neozelandeses, e indica uma atitude de- fensiva, reservada ou nervosa. Entretanto, este gesto é de apóio a outros gestos negativos e não deve ser interpretado isolado do contexto. - O Cruzamento de pernas norteamericano em 4 Este cruzamento de pernas indica que existe uma atitude de competência ou discussão. É a posição que usam os norte-americanos. Isso significa que é um gesto de difícil interpretação se efetuado por um norte-americano durante uma conversa, mas é muito claro quando feito por um súdito britânico. Quando as pessoas não se conhecem e estão conversando, seus corpos com braços e pernas cru- zadas estão demonstrando uma atitude fechada, enquanto que à medida que comecem a sentir-se confortáveis e a conhecer-se, começa o processo de abertura e adotarão uma posição mais relaxada e aberta. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 27 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS CRUZAMENTO DE TORNOZELOS Tanto o cruzar de braços como de pernas assinala a existência de uma atitude negativa ou defensiva, e o cruzamento de tornozelos indica o mesmo. A ver- são masculina do cruzamento de tornozelos se com- bina freqüentemente com os punhos apoiados sobre os joelhos ou com as mãos segurando com força os braços da poltrona. A versão feminina é apenas dife- rente: mantêm os joelhos juntos; os pés podem estar para um lado, e as mãos descansam uma ao lado da outra ou uma sobre a outra, apoiadas nos coxas. Em uma entrevista de venda, quando o entrevis- tado cruza os tornozelos está “mordendo os lábios” mentalmente. O gesto assinala a dissimulação de uma atitude ou emoção negativa: nervosismo ou te- mor. - CRUZAMENTO DE PÉS É um gesto quase exclusivamente feminino. Um pé se engancha na outra perna para fortalecer a ati- tude defensiva. Quando aparece este gesto, pode estar certo de que a mulher se fechou nela mesma, retraindo-se como uma tartaruga em sua carapa- ça. Um enfoque discreto, amistoso e quente é o que você necessita, se deseja abrir o carapaça. Esta po- sição é própria das mulheres tímidas. Outros gestos - AS POSIÇÕES FUNDAMENTAIS DA CABEÇA Há três posições básicas da cabeça. A cabeça para cima é adotada pela pessoa que tem atitude neutra em relação ao que esta escutando. Quando a cabeça se inclina para um lado significa uma de- monstração de interesse. Quando esta cabeça incli- nada para baixo assinala que a atitude é negativa e até oposta. As duas mãos atrás da cabeça Esse gesto é típico dos contadores, advogados, gerentes de vendas ou pessoas em geral que sentem confiança em si mesmas, ou são dominadores, ou se sentem superiores em algum aspecto. Como se inte- riormente dissessem: “talvez algum dia chegue a ser tão inteligente como eu”. É um gesto que irrita muita gente. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 28 GESTOS DE AGRESSÃO Com as mãos nos quadris se busca parecer maior quando se está brigando. O casaco aberto e jogado para trás assinala uma atitude de agressão direta, já que o indivíduo expõe o coração e a garganta em um desdobramento não verbal de valor. Com o gesto característico das mãos nos quadris, e os polegares enganchados no cinto, e localizados cada um em ângulo com o outro assinalam estar avaliando-se ser cordial, mas enquanto não tirarem as mãos dos quadris, o ambiente não será aliviado. - Gestos de paquera. O êxito de algumas pessoas em encontros sexuais com o sexo oposto, está em relação direta com a capacidade para enviar os sinais do cortejo e para reconhecê-los quando os recebem. As mulheres reconhecem rapidamente os sinais do cortejo, assim como todos os gestos, mas os ho- mens são muito menos perceptivos e freqüentemen- te são totalmente cegos à linguagem gestual. Que gestos e movimentos do corpo as pessoas usam para comunicar seu desejo de ter uma rela- ção? A seguir mencionamos uma lista dos sinais utili- zados pelos dois sexos para atrair possíveis amantes. Dedicamos mais espaço aos sinais femininos que aos masculinos. Isso porque que as mulheres têm muitas mais si- nais que os homens. Quando uma pessoa se encontra em companhia de alguém do sexo oposto, tem lugar certas mudan- ças fisiológicas: o tônus muscular aumenta, como preparando-se para um possível encontro sexual, as bolsas ao redor do rosto e dos olhos diminuem, a flacidez do corpo também diminui, o peito projeta- -se para frente, o estômago se encolhe automatica- mente e desaparece a postura encurvada. O corpo adota uma posição ereta e a pessoa parece ter re- juvenescido. GESTOS MASCULINOS DE PAQUERA Como os machos de todas as espécies, o homem se comporta com paquera quando se aproxima uma mulher: Levará uma mão à garganta para arrumar a gravata. Se não usar gravata, alisará a gola da ca- misa, tirará algum pó imaginário do ombro, ou arru- mará a camisa, a jaqueta ou qualquer outro objeto. Também é possível que passe uma mão pelo cabelo. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 29 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS O desdobramento sexual mais agressivo é adotar a postura com os polegares no cinto, que destaca a zona genital. Também pode girar o corpo para a mulher e deslocar um pé na direção dela, empregar o olhar íntimo e sustentar o olhar durante uma fração de segundo mais do que o normal. Se realmente está interessado, as pupilas se dilatarão. Com freqüência adotará a postura das mãos nos quadris para destacar sua dimensão física e demons- trará que está preparado para entrar em ação. Se está sentado ou apoiado contra uma parede, pode ocorrer que abra as pernas ou as estique para desta- car a região genital. As mulheres têm mais recursos e habilidades para a sedução que os que qualquer homem possa che- gar a adquirir. - Sinais e gestos femininos de paquera As mulheres usam alguns dos gestos de paque- ra dos homens, como tocar o cabelo, alisar a roupa, colocar uma mão, ou ambas, nos quadris, direcionar o corpo e um pé para o homem, as longos olhares íntimos e um intenso contato visual. Também podem adotar a postura com os pole- gares no cinto que, embora seja um gesto agressivo masculino, é empregado também pelas mulheres com sua típica graça feminina: a posição de um só polegar no cinto, ou saindo de uma bolsa ou de um bolso. A excitação lhes dilata as pupilas e lhes ruboriza as bochechas. Sacudir a cabeça: sacode-se a cabeça para jo- gar o cabelo para trás ou afastá-lo do rosto. Até as mulheres com o cabelo curto usam este gesto. Exibir os pulsos: A mulher interessada em um ho- mem exibirá, pouco a pouco, a pele suave e lisa dos pulsos ao companheiro em potencial. Faz muitíssimo tempo que se considera a zona do pulso como uma das mais eróticas do corpo. As palmas tambémsão exibidas ao homem enquanto se fala. Para as mulheres que fumam, fica muito fácil fa- zer o gesto sedutor de exibir o pulso e a palma. As pernas abertas: Quando aparece um homem, as pernas femininas se abrem mais do que quando ele não está presente. Isso ocorre tanto se a mulher estiver sentada como de pé, e contrasta com a ati- tude feminina de se defender do ataque sexual me- diante o cruzamento de pernas. O ondulação dos quadris: Ao caminhar, a mulher acentua o ondulação dos quadris para destacar a zona pélvica. Alguns dos gestos femininos mais sutis, como os que seguem, são sempre usados para fazer publicidades e vender produtos e serviços. Os olhares de esguelha: com as pálpebras um pouco baixas, a mulher sustenta suficientemente o olhar do homem como para que este se dar conta da situação; logo, ela desvia o olhar. Esta forma de olhar proporciona a sensação sedutora de espiar e de ser espiado. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 30 A boca entreaberta e os lábios úmidos: Os lábios podem ser umedecidos com saliva ou cosméticos. A mulher adquire assim um aspecto que convida à se- xualidade. Os gestos do cruzamento de pernas feminino: Fre- qüentemente, os homens se sentam com as pernas abertas para exibir de forma agressiva a zona genital. As mulheres usam diversas posições básicas do cruza- mento de pernas para comunicar a atração sexual: Apontar com o joelho: nessa posição, uma perna se dobra debaixo da outra e com o joelho da perna cruzada se destaca à pessoa que despertou o inte- resse. É uma postura muito relaxada que tira formali- dade à conversação e em que se expõem um pou- co as coxas. Acariciar o sapato: Essa postura também é rela- xada e tem um efeito fálico ao se meter e tirar o pé do sapato. Alguns homens se excitam com isso. Quase todos os homens concordam em que as pernas cruzadas tornam a mulher sentada mais atra- ente. É uma posição que as mulheres usam conscien- temente para chamar a atenção. Outros sinais que as mulheres usam são: cruzar e descruzar as pernas com lentidão frente ao homem, acariciando-se suavemente as coxas: indicam assim o desejo de ser tocadas. Freqüentemente acompa- nham esse gesto falando em voz baixa ou grave. Cigarros e óculos - OS GESTOS AO FUMAR Os gestos que se fazem ao fumar podem ter mui- ta importância quando se julga a atitude de uma pessoa. Fumar cigarros, como fumar em cachimbo, é um deslocamento da tensão interna que permite demo- rar as coisas. Não obstante, o fumante de cigarros toma suas decisões mais rapidamente que o fuman- te de cachimbo. Na verdade, quem fuma cachimbo precisa de mais tempo que o proporcionado por um cigarro. O ritual do cigarro compreende uma série de mi- nigestos, como golpear o cigarro, fazer cair a cinza ou movê-lo, e que indicam que a pessoa está experi- mentando mais tensão que a normal. Um sinal concreto indica se a pessoa tem uma atitude positiva ou negativa a cada momento: a di- reção em que exala a fumaça. A pessoa que tem uma atitude positiva, que se sente superior ou que confia em si mesmo, exala para cima a maior parte do tempo. Ao contrário, quem está em atitude ne- gativa, de suspeita, exala para baixo quase todo o tempo. Soprar para baixo por um lado da boca índica uma atitude de reserva ou mais negativa. Tudo isto é válido apenas nos casos em que o fumante não exala para cima com a finalidade de não incomo- dar aos demais; nesses casos, exalará para qualquer lado. Exalar a fumaça pelo nariz indica que a pessoa se sente segura e superior. A fumaça vai para baixo somente pela posição das fossas nasais e a pessoa freqüentemente se joga para trás para exalar. Se a cabeça do indivíduo está inclinada para baixo quan- do exala pelo nariz, está zangado e trata de parecer feroz como um touro enfurecido. Em geral, se utilizam os charutos para expressar superioridade devido a seu custo e tamanho. OS GESTOS COM OS ÓCULOS Todos os objetos auxiliares que o homem utiliza proporcionam oportunidades para fazer muitos ges- tos reveladores, e esse é o caso dos que usam óculos. Um dos gestos mais comuns é pôr na boca a ponta de uma haste. O ato de pôr objetos contra os lábios ou na boca representa uma tentativa de reviver a sensação de segurança do bebê que suga o peito da mãe, o que significa que o gesto de levar os ócu- los à boca é um gesto de afirmação da própria segu- rança. Os fumantes usam os cigarros com a mesma finalidade das crianças que chupam o polegar. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 31 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS PERFORMANCE CORPORAL E IDENTIDADES JUVENIS; NOS DIFERENTES DEBATES SOBRE os jovens e a ju- ventude em seus relacionamentos com a escola te- nho me deparado com depoimentos de professores e administradores escolares que narram algo que poderíamos denominar como uma situação de inco- municabilidade entre os sujeitos escolares. Da parte dos professores os jovens alunos são comumente ro- tulados de desinteressados pelos conteúdos escola- res, apáticos, indisciplinados, alguns violentos, tidos como de baixa cultura, com sexualidade exacerbada e alienada, hedonistas e consumis- tas. Alunos, por sua vez, dão testemunho de uma ex- periência pouco feliz no ambiente escolar, especial- mente quando se trata de aulas e professores: aulas chatas e sem sentido prático, professores desprepa- rados e «sem didática», autoritarismos de docentes e administradores, espaços pobres e inadequados, au- sência de meios educacionais (principalmente aces- so a computadores e internet), ausência de ativida- des culturais e passeios. Isso tudo num quadro social e econômico no qual a escolarização das * Universida- de Federal Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil. Bolsista Produtividade do CNPQ, nível 2. Correo electrónico: p.carrano@globo.com. Artículo originalmente publicado en ANTONIO FLÁVIO MOREIRA y VERA MARIA CANDAU (organiza- dores) (2008): Multiculturalismo: diferenças culturais e prácticas pedagógicas. Petrópolis (RJ): Editora Vozes. Diversia. Educación y Sociedad cuenta con la debida autorización del autor y la editorial para su publicación. Sem a pretensão de esgotar neste artigo o con- junto de fatores capazes de provocar a referida si- tuação de incomunicabilidade, procurarei trazer elementos que possam contribuir para a compreen- são dos contextos culturais de experimentação da vivência do tempo de juventude. Parto do princípio que muitos dos problemas relacionados com a baixa sinergia comunicativa entre professores/as e alunos/ as residem numa ignorância relativa da instituição es- colar e seus profissionais sobre os espaços culturais e simbólicos nos quais os jovens se encontram imersos. Numa perspectiva de compreensão da vida escolar como uma rua de mão dupla, intuo que o esforço dos educadores em compreender os sentidos de ser jovem no tempo presente pode resultar em práticas e políticas que possibilitem que os jovens encontrem sentido nos tempos e espaços escolares. Uma questão que se impõe de início neste deba- te se refere à necessária constatação de que o po- der de formação de sujeitos pela instituição escolar tornou-se significativamente relativizado pelas inúme- ras agências e redes culturais e educativas de ela- boração de subjetividades e sentidos de existência, dentre esses se destacam os meios de comunicação (não apenas os de massa mas também as mídias al- ternativas e descentralizadas), os mercados de con- sumo e os grupos de identidade. Fanfani corrobora esta compreensão ao afirmar que: Todas estas transformações na demografia, na morfologia e na cultura das novas gerações põem em crise a oferta de educação escolar. Os sintomas mais evidentes e estridentes são a exclusão e o fra- casso escolar, o mal-estar,o conflito e a desordem, a violência e as dificuldades de integração nas ins- tituições e, sobretudo, a ausência de sentido da ex- periência escolar para uma porção significativa de adolescentes e jovens latino-americanos (em espe- cial aqueles que provêm de grupos sociais excluídos e subordinados) que têm dificuldades para ingressar, progredir e se desenvolver em instituições que não foram feitas para eles (2000:2). A expansão da escolaridade para grande par- te dos jovens brasileiros não foi acompanhada dos investimentos necessários para a recepção de uma nova e numerosa geração de estudantes, notada- mente quando isso se refere aos jovens das classes populares. A inadequação tanto se refere aos baixos insu- mos materiais que se refletem na precariedade da maioria dos prédios escolares quanto nas inadequa- das articulações curriculares que não respondem às expectativas de aprendizagem e sociabilidade esco- lar almejada pelos jovens estudantes. A escola pública que abriga as classes popula- res tem se caracterizado como espaço de improvi- sação e precariedade: professores que trabalham com regime de contratação precária em lugares sem bibliotecas, laboratórios, computadores, ginásios ou auditórios e funcionários em número insuficiente para atender a demanda. Este tipo de escola que se expandiu de maneira degradada para abrigar as crianças e jovens das classes populares parece fazer da contenção da pobreza sua função principal. É neste contexto que os sujeitos da instituição es- colar necessitam articular práticas instituintes produ- toras de sentido de presença no espaço como forma de se contrapor às políticas públicas precárias que, em última instância, geram o quadro da escolariza- ção sem sentido. Uma das possibilidades de recria- ção dos sentidos de presença na escola para pro- fessores e alunos se encontra na experimentação de espaços relacionais que permitam a emergência da multiplicidade de sujeitos culturais que se encobrem sob o manto da uniformização e homogeneidade que a categoria aluno encerra. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 32 Cresce no Brasil a percepção de instituições, in- vestigadores sociais e educadores acerca da neces- sidade de pensar criticamente a relação pessoal e coletiva entre jovens e escolas. No campo da produ- ção acadêmica da pós-graduação em educação, há registros e sinais de um progressivo aumento da abordagem de temas considerados emergentes. A presença do tema juventude na produção dis- cente na pós-graduação em educação e ciências sociais no Brasil. A base de dados de 387 trabalhos (4,4%) foi selecio162 Identidades culturais juvenis e escolas nova elaboração vem buscando alargar a compreensão que o campo educacional tem da juventude. Percebidos como sujeitos de direitos e de cultura, os jovens estudantes vão deixando de ser percebidos apenas como alunos e passam a ser enxergados a partir de identidades específicas que remetem ao sensível, ao corpóreo, à expressividade cultural e estética, e às sociabilidades que se origi- nam no exterior da instituição escolar. As referên- cias extra-escolares podem ser interpretadas pela instituição como ruído e interferência negativa para o trabalho pedagógico caso a escola se feche, ou podem significar oportunidades para a criação de espaços de mediação cultural entre os diferentes mundos vividos pelos jovens alunos. Estar atento para os grupos de identidade com os quais os jovens se identificam ou dos quais fazem parte ativamente torna-se condição para o enten- dimento dos sentidos do agir dos alunos. É preciso, contudo, cuidar para desmontar as prénoções e representações dominantes sobre aquilo que julga- mos ser o jovem e a juventude. Um dos enganos mais comuns é tomarmos a nossa própria experiência de juventude para estabelecer quadros comparativos com os «jovens de hoje». O sociólogo português José Machado A necessidade de superarmos os modelos prescritivos com os quais jovens já não mais se iden- tificam; em contrapartida, assinala a importância de realizarmos um esforço para o desvendamento das sensibilidades performativas das culturas juvenis. O hip hop é um claro exemplo de cultura performativa com suas mesclagens criativas de música, com suas perfomances corporais, o grafitismo e o basquete de rua (street basket) (Pais, nada de um total de 8.867 teses e dissertações. Em linhas gerais, a categoria alu- no dá a tônica da grande maioria dos trabalhos. A partir de 1995, temas como mídia, grupos juvenis e violência alargaram o espectro sociocultural da pro- dução. Um novo estudo teve início no ano de 2007 e irá buscar perceber a produção discente na pós- -graduação, agora incluindo a área de serviço so- cial, compreendendo o período de 1999 a 2006. Um balanço preliminar no banco de teses da Capes já permite perceber a tendência de crescimento dos temas emergentes relacionados à relação juventude e aspectos sócioculturais. Com alguma atenção, para além do hip hop, cada um de nós é capaz de identificar no cotidia- no e no entorno de nossas escolas a diversidade de performances juvenis existentes e com a qual pode- remos dialogar. As culturas juvenis —entendidas como conjunto heterogêneo de expressões e práticas sóciocultu- rais— são narrativas que falam do profundo mal-estar que é ser jovem numa sociedade produtora de riscos e também das potencialidades da experiência do viver e agir coletivamente na busca de alternativas emancipatórias para a existência. São gestos, sím- bolos, formas lúdicas de sociabilidade, redes de re- lacionamento, canções e múltiplas formas de utilizar e representar o corpo aparentemente sem sentido para os «de fora» mas que dão a liga da experiência comunitária de vivência da juventude neste nosso tempo histórico. É comum que as culturas juvenis sejam tratadas apenas pela perspectiva da cultura enquanto ex- pressividade estética ou mesmo sociabilidade restrita a grupos específicos. É neste sentido que a noção de tribos juvenis em suas limitações analíticas induzin- do a pensar em jovens como ilhas de sociabilidade em seus grupos culturais de referência. A apreensão «culturalista» das culturas juvenis deixa de perceber as conexões entre sociabilidade juvenil e as estrutu- ras sociais que constituem a própria base da ação social. Assim, é preciso ter em conta a multiplicidade de fatores determinantes do «ser jovem» a expressão «sociedade de risco» se referindo aos riscos produ- zidos socialmente e que, por vezes, recaem sobre indivíduos que são levados a tolerá-los. A perda da estabilidade do emprego serve como exemplo desta relação entre risco social e individualidade. Os deno- minados «riscos de grande conseqüência» surgiram do impacto do desenvolvimento técnico-industrial sem limites sobre o homem (como produtor e consu- midor), sobre a natureza e sobre a sociedade e sua organização. Giddens identifica quatro fontes de crise nas quais enfrentamos estes riscos: o impacto do desen- volvimento social moderno sobre os ecossistemas mundiais; o desenvolvimento da pobreza em larga escala (holocausto da pobreza); as armas de destrui- ção maciça com suas possibilidades de violência co- letiva e a repressão dos direitos democráticos. Identidades culturais juvenis e escolas individual e coletivamente, tanto os positivos —gerados pelos avanços científico-tecnológicos, pelas liberdades ci- vis conquistadas pelas lutas democráticas, o maior campo de autonomia dos jovens frente aos adul- tos— quanto os fatores negativos d experiência de ser jovem. Dentre os elementos que tensionam ne- gativamente a experiência de ser jovem podem ser Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 33 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS apontados: as conseqüências da falênciado Estado como promotor de direitos, a força avassaladora dos mercados na produção de necessidades e sentidos culturais, o descrédito das instituições e atores tradi- cionais (escolas, partidos, sindicatos, igrejas, etc.), a globalização, a força dos meios de comunicação e as conexões perversas promovidas pelas redes do cri- me e das drogas. SOCIEDADES URBANAS - E IDENTIDADES MULTICULTURAIS O processo de globalização econômica e cultu- ral é tributário da historicidade do desenvolvimento da modernidade capitalista. Essa modernidade não pode ser atribuída a um único fato inaugural, ou mesmo a alguns poucos eventos históricos, por mais significativos que estes tenham sido no conjunto dos acontecimentos mun- diais. A modernização sócio-econômica como a resultante de uma multidão de processos sociais re- lacionados com as descobertas científicas, as revo- luções da indústria, as transformações demográficas, as formas de expansão urbana, os Estados nacionais, os movimentos de massa; todos impulsionados, em última instância, pelo mercado mundial capitalista, em perpétua expansão e drasticamente flutuante. Apontado como o fato marcante da modernidade, o desenvolvimento representou simultaneamente duas coisas: de um lado foi o crescimento econô- mico, impulsionado pelas transformações objetivas desencadeadas pelo mercado mundial capitalista e, por outro lado, foi um movimento que comandou impressionantes transformações subjetivas da vida in- dividual e da personalidade; verdadeiro registro do nascimento da sensibilidade moderna. O espaço urbano pode ser considerado como a referência material e simbólica de nossas socieda- des. A dimensão hege da urbanidade estende-se até mesmo aos territórios rurais, evidenciando aquilo que se considera a expressão da civilidade moderna —algo que não deixa mesmo de ser uma forma de etnocentrismo—. As cidades, especialmente as me- galópoles, entretanto, não devem ser pensadas ape- nas como espaços físicos, com características espe- cíficas no modo de ocupar o espaço, mas também como lugares onde ocorrem fenômenos expressivos que entram em tensão com as pretensões dominan- tes de racionalização da vida social. Na atualidade, torna-se importante não contra- por sociedades urbanas a sociedades rurais, centro e periferia, tal como muitas vezes foi feito, mas procurar a compreensão das maneiras como se processa a multiculturalidade ou a coexistência de múltiplas cul- turas no espaço urbano. O espaço urbano intensifica os antagonismos de interesses que se constituem por uma participação diferenciada e desigual dos processos de produção e reprodução da vida social. Isso significa dizer que a cidade não é experimentada e apropriada por todos da mesma maneira. Esse diferencial de apropriação dos recursos materiais e simbólicos da cidade pode ser apontado por um dos fatores que organizam a produção das identidades na cidade. Para visualizar esta tensão entre sujeitos situados em diferentes luga- res sociais de apropriação dos recursos urbanos bas- ta que pensemos nas desiguais condições de vida em torno dos espaços de moradia, lazer e trabalho nas cidades brasileiras. É possível pensar o espaço urbano como o lugar social que torna possível a emergência de certos fe- nômenos que evidenciam a relação entre espaços e práticas sociais, e também como ponto de tensão para onde confluem os sistemas de exploração, de dominação e hegemonia que nos remetem aos con- ceitos de poder e cultura. Não é difícil enxergar o es- paço urbano como um cenário de lutas entre com- petidores desnivelados e posicionados historicamen- te em confronto com os múltiplos poderes de enun- ciação, capazes de impor, mediante a coerção ou a sedução, as representações sobre as práticas sociais. Algumas práticas são assim consideradas legítimas e desejáveis enquanto outras são vistas como irrele- vantes ou mesmo marginais. Identidades culturais juvenis e escolas Em outras palavras, é possível afirmar que o direito à cidade não é igual para todos os seus habitantes. A organização social das cidades cria restrições geográficas e simbólicas para a constituição do livre trânsito das identidades. É neste sentido que não é possível falar de identidades apenas restringindo a análise a seus aspectos culturais. Assim, consideran- do tanto a inserção dos sujeitos nas estruturas de produção quanto o papel da cultura na elaboração das subjetividades, pode- se conceber os atores ur- banos em três grande categorias: a) os integrados à estrutura de produção; b) os disponíveis (que mesmo sem estar dentro do sistema produtivo são suscetíveis de ser recrutados); e c) os circulantes, que gravitam sem destino aparente na estrutura de produção. JOVENS ENTRE PRÁTICAS TERRITORIAIS: IDENTIDADES CULTURAIS E EDUCAÇÃO ESCOLAR A hegemonia das relações de mercado que mar- cou toda a década de 1990 e atravessou o novo sé- culo fez emergir práticas culturais produtoras de sub- jetividades intensamente privatizadas num quadro Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 34 institucional de encolhimento da esfera pública. Os jovens são peças chave e simultaneamente objetos e sujeitos do impulso de mercantilização da vida so- cial que fragmenta o tecido social em individualida- des apartadas de formas societárias mais amplas e solidárias. Nesse mesmo quadro societário de hege- monia das relações de mercado é possível, contudo, perceber a existência de práticas sociais constituti- vas de novas solidariedades e identidades coletivas juvenis. Jovens de todos os estratos sociais se envol- veram em distintas formas de participação social desde as mais tradicionais relacionadas a partidos e organizações estudantis até novas formas de mo- bilização social relacionadas com ações voluntárias de solidariedade, movimentações políticas instan- tâneas e pouco institucionais, grupos artísticos e es- portivos, redes de religiosidade pouco hierárquicas, dentre outras ações coletivas de novo tipo. Jovens das periferias das cidades se articularam em torno de identidades móveis, ambíguas e flexíveis que emergi- ram e se desenvolveram em espaços periféricos da sociedade numa resposta possível à crise estrutural do capitalismo que elevou enormemente o grau de incerteza no processo de trânsito da juventude para a vida adulta. Os jovens recebem espaços da cidade prontos e sobre eles elaboram territórios que passam a ser a ex- tensão dos próprios sujeitos: uma praça se transforma em campo de futebol, sob um vão de viaduto se im- provisa uma pista de skate; o corredor da escola —lu- gar originalmente de passagem— se faz para ponto de encontro e sociabilidade. Os diferentes territórios juvenis são também lugares simbólicos para o reco- nhecimento das identidades em comum, é em torno de determinado território que se constitui o grupo de iguais. E a identidade do grupo precisa se mostrar pu- blicamente para se manter, cada grupo cria, então, suas próprias políticas de visibilidade pública que po- dem se expressar pela roupa, a mímica corporal, um estilo musical etc. Assim, a cidade é transformada de espaço anôni- mo a território pelos jovens atores urbanos que cons- troem laços objetiváveis, comemoram-se, celebram- -se, inscrevem marcas exteriores em seus corpos que servem para fixar e recordar quem eles e elas são. Essas marcas se relacionam com processos de repre- sentação, verdadeiras objetivações simbólicas que permitem distinguir os membros dos grupos no tempo e no espaço. As marcas podem ser objetivadas no próprio corpo (uma tatuagem) ou mesmo habitar o corpo como adereço de identidade, tal como acon- tece com os bonés que se transformaram em fonte de tensão permanente em algumas escolas que não toleram seu uso, talvez por não enxergarem quees- ses são signos que representam a extensão da pró- pria subjetividade dos jovens alunos que reagem ao terem de deixar «parte de si» fora do espaço-tempo da escola. A construção das identidades pelos grupos su- põe práticas de aprendizagem. Os jovens instituem lutas simbólicas através dos compromissos cotidianos que assumem com determinado processo de identi- zação coletiva, este devendo ser considerado como algo que existe no contexto de práticas permanentes e mutantes de definição das identidades coletivas. É possível afirmar que os jovens das classes popu- lares articulam territórios próprios na ruína dos espa- ços da cidade que sobraram para eles. A relativa ig- norância dos adultos acerca da materialidade social e do simbolismo das práticas juvenis é fonte de mal- -entendidos, incompreensões e intolerâncias acerca das atitudes e silêncios dos jovens. A escola, também considerada como integrante dessa cidade em ruí- nas, experimenta conflitos, não necessariamente vio- lências, que causam ruídos na comunicação. Ao se abrir ou ser aberta por práticas coletivas juvenis que penetram em seus tempos e espaços administrativo-pedagógicos, em geral fechados e pouco tolerantes ao diverso, a escola pode se per- ceber desorganizada e despreparada ou mesmo se enxergar em situação de possibilidade de reorgani- zar seu cotidiano institucional —em geral orientado para a uniformização e o anonimato— em novo ter- ritório onde as identidades juvenis possam encontrar espaço para o diálogo. Até que ponto os jovens podem se identificar com o espaço escolar, considerá-lo interessante, e habitar uma instituição que não permite que suas culturas se realizem ou mesmo sejam visíveis? São poucas as chances de negociações entre os espaços lisos dos grupos culturais juvenis —que permi- tiriam aos jovens transitar sem as marcas prévias das instituições do mundo adulto— e os espaços estria- dos —cujas principais características seriam a ordem e o controle característicos das instituições—. Para o pesquisador português, a escola, apesar de ser um espaço onde o jovem pode gostar de estar presen- te, ainda não reconhece as culturas juvenis como possibilidade de inclusão e transformação. É exata- mente isso que tais culturas (re)clamariam: inclusão, reconhecimento e pertença. Estaríamos, então, fren- te a um paradoxo: a escola tem como uma de suas marcas históricas o conservadorismo, a manutenção das relações de poder e; as culturas juvenis, em sua maioria, têm o gosto pela mudança. O que fazer, pergunta José Machado Pais: transformamos a esco- la, ameaçando com isso as relações sociais ou silen- ciamos a juventude negando os jovens como sujeitos possuidores de culturas próprias? Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 35 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS OS JOVENS PARA ALÉM DA ESCOLA A compreensão do processo de socialização contemporânea dos jovens pode contribuir para o diálogo intergeracional no cotidiano escolar. Parto do princípio de que muitos dos problemas que os educadores enfrentam nas muitas salas de aula e es- paços escolares deste país com os jovens alunos têm origem em incompreensões sobre os contextos não escolares, os cotidianos e os históricos mais amplos, em que esses estão imersos. Dito de outra forma, torna-se cada vez mais im- provável que consigamos compreender os processos sociais educativos escolares se não nos apropriarmos dos processos mais amplos de socialização. O ponto de vista de uma sociologia não escolar da escola, ou seja, que busquemos compreender os tempos e espaços não escolares dos sujeitos jovens que estão na escola mas que não são, em última instância, da escola. O jovem aluno carrega para a instituição referências de sociabilidade e interações que se distanciam das referências institucionais que se encontram em crise de legitimação. O novo público que freqüenta a escola, sobre- tudo adolescente e jovem, passa constituir no seu interior um universo cada vez mais autônomo de inte- rações, distanciado das referências institucionais tra- zendo novamente, em sua especificidade, a neces- sidade de uma perspectiva não escolar no estudo da escola, a via não escolar [...]. A autonomização de uma sub-cultura adolescente engendra para os alunos da massificação do ensino, uma reticência ou uma oposição à ação do universo normativo escolar, ele mesmo em crise. A escola cessa lentamente de ser modelada somente pelos critérios da sociabilida- de adulta e vê penetrar os critérios da sociabilidade adolescente, exigindo um modo peculiar de com- preensão e estudo. Um dos traços mais significativos das sociedades ocidentais é que crianças e jovens passam a ser vistos como sujeitos de direitos e, especialmente os jovens, como sujeitos de consumo. A expansão da escola, a criação de mercado cultural juvenil exclusivo e a postergação da inserção no mundo do trabalho são marcas objetivas da constituição das representações sociais sobre o ser jovem na sociedade. A realização plena deste ideal de jovem liberado das pressões do mundo do trabalho e dedicado ao estudo e aos la- zeres é objetivamente inatingível para a maioria dos jovens das classes trabalhadoras. Entretanto, este ide- al-tipo de vivência do tempo juventude é, contudo, visivelmente existente no plano simbólico. A juventu- de é apenas uma palavra, trazendo a reflexão sobre a necessária relatividade histórica e social deste ci- clo de vida que não pode ser enxergado como uma coisa em si, mas que deve ser visto em seu aspecto relacional no contexto dos diferentes grupos sociais, sociedades e classes de idade. Somos sempre o jo- vem ou o velho de alguém, disse também o sociólo- go francês. Porém, «juventude» é noção produtora de sentidos e contribui para o estabelecimento de acordos e representações sociais dominantes. Três elementos dão sentido ao mundo juvenil e explicam a emergência da juventude como sujeito social: i) As inovações tecnológicas e suas repercussões na organização produtiva e simbólica da socieda- de —aumentam as expectativas e a qualidade de vida— as pessoas passam mais tempo na escola. ii) A oferta de consumo cultural a partir da emer- gência de uma nova e poderosa indústria cultural. iii) O discurso jurídico que estabelece o contrato social que prevê formas de proteção e punição aos infratores —as políticas públicas tutelares orientadas para o controle do tempo livre juvenil— a ausência de políticas que apostem na autonomia, na organi- zação e naquilo que os jovens podem fazer sozinhos e com a colaboração dos adultos. Políticas do con- trole e da percepção do jovem como um carente, um vulnerável ou perigo iminente. As passagens entre os tempos da infância, da adolescência, da juventude e vida adulta podem ser entendidas como «acordos societários». De certa for- ma, as sociedades estabelecem acordos intersubjeti- vos que definem o modo como o juvenil é conceitu- ado ou representado (condição juvenil). Em algumas sociedades os rituais de passagem para a vida adul- ta são bem delimitados e se configuram em ritos so- ciais. Em nossas sociedades urbanas, principalmente, as fronteiras encontram-se cada vez mais borradas e as passagens de época não possuem marcadores precisos. Algumas dimensões marcavam o fim da ju- ventude de e a entrada no mundo adulto: terminar os estudos, conseguir trabalho, sair da casa dos pais, constituir moradia e família, casar e ter filhos. Estas são «estações» de uma trajetória societária linear que não pode mais servir para caracterizar a «tran- sição da juventude para a vida adulta». A perda da linearidade neste processo pode ser apontada como uma das marcas da vivência da juventude na socie- dade contemporânea. Assim, é preciso ter em conta as muitas maneiras de ser jovem hoje e de viver a transição paraa vida adulta. Em conjunto com a re- presentação dominante, ou definição etária, sobre aquilo que é o tempo da juventude, os jovens vivem experiências concretas que se aproximam mais ou menos da «condição juvenil» representada como a ideal ou dominante. Em outras palavras, nem todos os jovens vivem a sua juventude como uma situação de trânsito e preparação para as responsabilidades Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 36 da vida adulta. Os educadores precisam, então, es- tar atentos à pluralidade de situações e trajetórias labirínticas que configuram um quadro múltiplo dos modos de viver a «transição da vida adulta». Isso sig- nifica dizer, por exemplo, que para jovens das classes populares as responsabilidades da «vida adulta», es- pecialmente a «pressão» para a entrada no merca- do de trabalho, chegam enquanto estes estão expe- rimentando a juventude. Os baixos níveis de renda e capacidade de con- sumo redundam na busca do trabalho como condi- ção de sobrevivência e satisfação de necessidades materiais e simbólicas para a maioria dos jovens. Isso demarca um modo particular de vivência do tempo de juventude que não se identifica com aquilo que o senso comum intui como o modelo do jovem com o direito assegurado de viver a moratória social que lhe permitiria ser liberado da necessidade do trabalho, dedicar-se à formação, aos estudos, ao associativis- mo e aos lazeres. A trajetória de busca e inserção no mundo do trabalho dos jovens, especialmente os das famílias mais pobres, é incerta, ou seja, estes ocupam as ofertas de trabalho disponíveis que, precárias e desprotegidas em sua maioria, permitem pouca ou nenhuma possibilidade de iniciar ou progredir numa carreira profissional. A informalidade é crescente à medida que se desce nos estratos de renda e con- sumo do beneficiário do emprego. O aumento da escolaridade, em geral, coincide com maiores chan- ces de conseguir empregos formais, algo decisivo para os jovens, considerando que o desemprego ju- venil no Brasil é, em média, quase três vezes maior que o do conjunto da população. PARTICIPAÇÃO JUVENIL E ESCOLARIZAÇÃO Quanto ao ensino (fundamental e médio), a situ- ação brasileira é de crescente piora nos índices de qualidade que afeta, de forma mais intensa e pre- ponderante, a rede escolar pública. As desigualda- des regionais e intra-regionais que se verificam nas es- truturas básicas da vida material também se expres- sam na diferenciação do acesso e permanência na escola, aos aparelhos de cultura e lazer e aos meios de informação, especialmente no difícil acesso dos jovens mais empobrecidos a computadores e Inter- net. Isso é algo que se configura como a face con- temporânea da histórica exclusão dos pobres aos benefícios científicos e tecnológicos nas sociedades do modo de produção capitalista, particularmente quando se consideram aqueles situados na periferia do sistema. As melhores condições de acesso à in- formação e aos bens culturais, somados à maior es- colaridade, colocam os jovens das classes altas em posições mais favoráveis à participação social, cultu- ral e política. Pesquisas apontam que a participação estudantil, por exemplo, é quantitativamente superior nos estratos que representam os jovens mais ricos e escolarizados. Para aqueles que lograram chegar ao ensino médio é acentuada a distorção idade-série que demonstra o percurso intermitente —reprova- ções, abandonos e retornos— dos jovens pobres em sua relação com a escola. É preciso considerar que o acesso aos mais altos níveis da educação escolar é elemento chave para ampliar possibilidades de par- ticipação no mundo social e também para propiciar situações de engajamento e de aprendizado ligados às próprias instituições de ensino. Além das dificuldades de acesso e permanência na escola, os jovens enfrentam a realidade de insti- tuições públicas que se orientam predominantemen- te para a oferta de conteúdos curriculares formais e considerados pouco interessantes pelos jovens. Isso implica em dizer que as escolas têm se apresentado como instituições pouco abertas para a criação de espaços e situações que favoreçam experiências de sociabilidade, solidariedade, debates públicos e ati- vidades culturais e formativas de natureza curricular ou extra-escolar. Pesquisa recente sobre a participação social e política dos jovens brasileiros revelou a percepção de alunos e alunas que dizem que a escola não abre espaços nem estimula a criação de hábitos e valores básicos estimulantes da participação. Esta situação é mais grave para os jovens pobres que praticamen- te só possuem esta instituição para o acesso a estes bens simbólicos. É possível afirmar que se encontra configurada uma nova e refinada desigualdade for- mativa entre os jovens segundo a inserção de clas- se, especialmente quanto à participação em cursos de informática, língua estrangeira, esportes, artes e cursos pré-vestibulares. A vantagem, também neste caso, pende para os jovens mais ricos e estudantes das escolas particulares. A escolarização é determi- nante para a prática da leitura; os dados da pesqui- sa acima referida informam que os jovens mais esco- larizados lêem mais, assim como estudantes de esco- las públicas lêem menos que os jovens das escolas privadas. O DESAFIO DA INTERPRETAÇÃO DOS SINAIS EMITIDOS PELOS JOVENS A descontinuidade é um traço marcante da vida individual contemporânea. O indivíduo não apenas reproduz os traços de hereditariedade e tradição de sua comunidade de origem —aliás, torna-se relevante indagar sobre os atuais sentidos da idéia de originalidade comuni- tária—, mas vive continuamente a capacidade de Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 37 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS redefinir-se. A resposta sobre o que eu sou não resul- ta apenas de um condicionante social externo, mas está associada à capacidade individual que temos de nos definirmos e nos diferenciarmos dos outros. É neste sentido que a produção e reprodução da vida social e da vida biológica estão condicionadas forte- mente à nossa capacidade de escolha. Assim, a ca- pacidade de saber escolher apresenta-se também como um desafio educativo de autoprodução de sujeitos e coletividades humanas. Do ponto de vista político é possível mesmo di- zer que uma das formas de avaliar o potencial de- mocrático de uma sociedade se encontra no rol de oportunidades que ela proporciona a cada um dos seus membros de escolher caminhos e se constituir em sujeito autônomo e emancipado. As mais recentes formulações sobre o conceito de identidade se afastam da idéia de consolida- ção de um «eu» estável que definiria em definitivo a personalidade e o campo cultural dos indivíduos tal como foi formulado na modernidade. Hoje, individu- ar-se significa muito mais se redefinir continuamente. O verdadeiro obstáculo não estaria mais na ca- pacidade ou não de mudança, mas em como as- segurar a unidade e a continuidade da história in- dividual num mundo de complexidades e alternân- cias existenciais. Os modelos estáveis de identidade que os grupos e instituições forneciam em contextos préindustriais dão lugar a um alargamento de possi- bilidades de escolhas, de construção de autonomia e possibilidades de realização de si. As possibilidades que os indivíduos têm de fazer escolhas em suas vi- das cotidianas não são, contudo, totalmente livres. Elas dependem dos vínculos que estabelecemos nas múltiplas redes existenciais que constituem o social. A construção de autonomia num contexto so- cietário de maior capacidade de escolhas frente às determinações do passado se faz no interior de fluxos sociais e comunicativos altamente carregados de es- tímulos, mensagens e informações orientadoras dos modos de ser, agir,sentir e pensar. É neste sentido que a elaboração da identidade pessoal se identifi- ca também com processos de autoconsciência que reconhecem os limites e as possibilidades de constru- ção autônoma do ser social. Em sociedades complexas o «eu» se faz múltiplo ajustando- se às mudanças rápidas a que é submeti- do. Neste sentido, um «eu múltiplo» não estaria referi- do a uma essência permanente, mas ao processo da própria identificação sucessiva. Assim, a identidade se configuraria como um sistema dinâmico definido entre possibilidades e limites que gera um campo simbólico no qual o sujeito pode conquistar a capa- cidade de intervir sobre si e reestruturar-se. No contexto de reconhecimento de identidades passíveis de constante redefinição —identização— e experimentação de multiplicidade de papéis, a vida cotidiana se apresenta como uma esfera privilegia- da de conquista de autonomia individual e de dife- rentes formas de sociabilidade mais ou menos demo- cráticas. Os jovens são a ponta do iceberg que, se com- preendida, pode explicar as linhas de força que alicerçarão as sociedades no futuro. Um dos traços mais marcantes da experiência de ser jovem hoje é perceber que se possui um campo maior de auto- nomia frente às instituições do denominado «mundo adulto» para construir seus próprios acervos e identi- dades culturais. Este campo ampliado de possibilidades é tam- bém fonte de incerteza e angústia provocada pela necessidade de decidir que caminho seguir, muitas vezes, num quadro de escassez material num mundo inflacionado de signos e símbolos de identidade. Assim, é possível dizer que há uma rua de mão dupla entre aquilo que os jovens herdam de seus pais e instituições e a capacidade de cada um construir seus próprios repertórios culturais. Em outras palavras, ser jovem é possuir um amplo campo simbólico de autonomia para se fazer sujeito a partir de escolhas não determinadas por adultos ou instituições. Um dos princípios organizadores do processo de identização contemporânea é que os sujeitos selecionam as dife- renças com as quais querem ser reconhecidos social- mente. Isso faz com que a identidade seja muito mais uma escolha do que uma imposição. É preciso, contudo, relativizar a tese da constru- ção autônoma de si mesmo. Os sujeitos se fazem e articulam suas identidades no interior de determina- dos contextos societários e históricos. Nascemos em determinada classe, cidade e país. Nosso corpo traz marcas que nos distingue posi- tiva ou negativamente na sociedade e nossos pais nos legam determinados capitais culturais mais ou menos vantajosos para a integraçã osocial. Digo isso para criticar a tese pós-moderna do nomadismo na qual o indivíduo é o soberano construtor da própria identidade. O que somos seria apenas uma questão de força de vontade? Esta é uma verdade relativa. As oportunidades objetivas de inserção e integração social são tão es- cassas em determinadas circunstâncias que anulam, em última instância, o campo simbólico de autono- mia de determinados sujeitos desigual e inferiormente posicionados na sociedade. A construção das traje- tórias individuais com as linhas do metrô de Paris que apresentam muitas opções de rotas para o desloca- mento mas, em última instância, limitam os trajetos a Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 38 partir de linhas previamente construídas. A instituição escolar pode desempenhar um papel importante neste processo de escolhas identitárias e construção de autonomia pessoal dos jovens desde que se en- contre aberta ao diálogo com as novas gerações. Ainda que a juventude não seja um grupo social homogêneo — é por isso que falamos em juventu- des— pode-se dizer que há traços em comum na ex- periência de ser jovem. Além desse campo maior de autonomia na possibilidade de escolher a identidade pessoal e o pertencimento a grupos existe uma per- versa experiência de geração a partir da combina- ção de múltiplos fatores geradores de inseguranças no presente e incertezas frente ao futuro. É impossível dissociar a experiência da elaboração das identida- des sem levar em conta os efeitos dramáticos que a globalização e os riscos sociais imprimem tanto ao indivíduo quanto à sociedade. Há uma perversa experiência de geração com- partilhada entre os jovens de diferentes classes so- ciais: os jovens têm medo de morrer prematuramen- te, de sobrar do mercado de trabalho e de estarem desconectados do mundo. Um dos grandes desafios da contemporaneida- de passou a ser a construção da unidade social em sociedades marcadas por significativas diferenças e desigualdades pessoais e coletivas. Escutar a si e ao outro se torna, portanto, a condi- ção para o reconhecimento e a comunicação. Esta é para mim uma das mais importantes tarefas educa- tivas, hoje: educar para que os sujeitos reconheçam a si mesmos e aos outros. Isso, talvez, seja mais sig- nificativo do que ensinar conteúdos que podem ser aprendidos em muitos outros espaços. Para escutar numa relação solidária é preciso, contudo, assumir a própria identidade, entrar em relação com a diferen- ça e rejeitar as desigualdades. A questão da identi- dade pessoal e coletiva precisa ser concebida como um processo de interação e conflito. Os sujeitos, ao elegerem uma identidade colocam-se em conflito com outros que a contestam. E a solução dos confli- tos está relacionada com os recursos disponíveis aos contendores (a capacidade de ouvir posições diver- gentes e argumentar, por exemplo). A capacidade de escuta e argumentação são dois recursos funda- mentais que, quando deixam de existir, provocam situações de violência. Muitos dos conflitos entre os jovens e as instituições são provocados pelas dificul- dades de tradução dos sinais que não conseguimos decifrar. Há, portanto, uma crise de sentidos entre jo- vens, instituições e sujeitos adultos. As instituições parecem não perceber que não se pode educar ou negociar na ausência de uma lin- guagem em comum. As expressões juvenis estão voltadas para a coe- são de seus grupos de referência —aquilo que cha- mamos por vezes de referências tribais— (códigos, emblemas, valores e representações que dão senti- do ao pertencimento a grupos). É comum que esta relação com os grupos de referências entre em cho- que com os valores de instituições (especialmente a escola e a família) que insistem em pensar os jovens apenas como sujeitos em transição carentes de va- lores e referências. As mercadorias culturais conse- guem decodificar mais agilmente estes sinais para in- teragir e estabelecer vínculos (lucrativos) com as mul- ticulturalidades juvenis. A coca-cola lançou no Brasil, em 2007, peça de propaganda que exemplifica com perfeição este elogio da multireferencialidade iden- titária que encontra nos jovens seus principais prota- gonistas; na peça, um jovem se hibridiza e assume traços da identidade corporal de todos e tudo aquilo (objetos e animais, inclusive) com os quais comparti- lha o seu refrigerante. Existe uma autoridade educadora das merca- dorias culturais. A mercadoria cultural se constitui si- multaneamente processo de alienação e pertenci- mento social. Ela estabelece vínculos socioafetivos como resposta à fragmentação dos territórios sociais da cidade e perda de referenciais institucionais tra- dicionais. O processo de realização de conexões e significados sociais ocorre sem imposição explícita de significados, uma vez que a comunicação oferecida pelas mercadorias culturais não traz a marca explí- cita da autoridade. A influência educativa exercida se faz sem a carga da autoridade contextual de ou- tras formas de intercâmbio educacional, tais como aqueles encontrados na escola. Assim, a oferta de significados culturais se apresenta sem o sentido daresponsabilidade educativa. Nos circuitos de produção e circulação das mer- cadorias culturais, a intencionalidade pedagógica é diminuída e a produção de significados e valores ocorre pela inundação do ambiente cultural atra- vés dos meios eletrônicos, digitais e de mercadorias, cujo efeito é um quadro hegemônico de sedução e saturação simbólica. Ao se constituírem em matéria- -prima da produção informal dos indivíduos, as mer- cadorias culturais assumem uma dupla face, sendo simultaneamente autênticas e inautênticas. Elas pro- põem aproximações e as fazem sob a perspectiva do distanciamento proporcionado pelo individualis- mo. Os grupos de cultura e lazer da juventude neces- sitam ser discutidos em seus próprios contextos de elaboração cultural. As culturas da juventude não são unicamente modernas ou tradicionais; eruditas ou populares; de- mocráticas ou antidemocráticas; locais ou globais. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 39 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Elas são híbridas; sincréticas; de fronteira; intercultu- rais. As culturas são produtoras e também produto da complexidade social das cidades contemporâneas. Neste sentido é possível reconhecer que o poder da indústria cultural e suas mercadorias é projetado e também negociado nas subjetividades que se (re) constroem permanentemente nos diferentes territó- rios das cidades: territórios de disputas e possibilida- des de escolhas para os jovens individualmente e em seus conjuntos de ação coletiva. O capitalismo continua a «fabricar» corpos e sub- jetividades citadinas; entretanto esse processo não ocorre de forma mecânica, unilateral e desprovido de resistências e re-elaborações por parte dos sujei- tos. É neste sentido que há uma sensível, porém signi- ficativa, distinção entre reconhecer a influência real das mercadorias na reprodução ideológica e cul- tural dos grupos de juventude e considerar o jovem como um «idiota cultural», condenado a mimetizar a mesmice das mensagens emanadas por centros de controle das indústrias culturais. Um dos desafios lançados aos educadores nas escolas hoje é o de contribuir para o aumento do campo de reflexão dos jovens alunos em relação à influência das mercado- rias culturais na formação de suas subjetividades. A busca por compreender o sujeito da apren- dizagem não apenas como um aluno —objeto de aprendizagens—, mas, sim, como um sujeito cultu- ral íntegro —portador de determinada experiência cultural— traz a questão do corpo para o centro do processo educativo. O trabalho corporal na escola precisa ser encarado não como técnica de contro- le disciplinar ou ferramenta acessória de rendimen- to escolar, mas como política de reconhecimento de si e de comunicação com o outro. A educação da juventude na escola deveria ser pensada, então, como uma estratégia de libertação dos sentidos. A escola pode ser também espaço para que os jovens desaprendam os valores da sociedade de consumo. Em geral, acredita-se que a escola deva ser o lugar de aprendizagens de coisas e, de fato, ela o é; entre- tanto, deveria ser também o espaço-tempo cultural onde crianças e jovens seriam estimulados a desa- prender (desdicere), ou questionar, os vários condi- cionamentos sociais que nos afastam da aquisição da autoconsciência e da solidariedade. A racionali- dade das nossas pedagogias quer nos fazer crer que a aprendizagem restringe-se apenas a saberes situ- ados fora de nosso corpo. Deveria haver hierarquia de importância entre aquilo que o aluno sabe sobre os conhecimentos científicos e aquilo que ele sabe, sente e representa sobre si mesmo? Realizar a leitura crítica das mensagens emitidas pela publicidade—de mercados e governos— é uma das aprendizagens mais significativas que as escolas podem promover em conjunto com seus jovens alu- nos. As escolas poderiam, desta forma, educar para o desenvolvimento de novas formas de olhar basea- das na capacidade da interpretação —e também de destruição simbólica— dos signos produzidos pe- los diferentes centros de poder e condicionamento das subjetividades. ARTICULANDO CURRÍCULOS E ESPAÇOS-TEMPOS ESCOLARES CULTURALMENTE SIGNIFICATIVOS Aprender a trabalhar com as experiências pré- vias dos jovens alunos é compreender que estes são sujeitos culturais e portadores de biografias originais e não apenas alunos de uma dada instituição. O mito da intencionalidade pedagógica como a viga mestra da educação não permite a emergência dos acasos significativos, das surpresas reveladoras, da escuta do outro e nem permite que alunos e profes- sores corram o risco da experimentação e elaborem projetos coletivamente. Os jovens, mesmo aqueles das periferias onde ci- dade não rima com cidadania, são mais plurais do que aquilo que a instituição escolar normalmente in- tui ou deseja perceber. As escolas esperam alunos e o que lhes chega são sujeitos de múltiplas trajetórias e experiências de vivência do mundo. São também jovens aprisionados no espaço e no tempo —presos em seus bairros periféricos e com enormes dificulda- des para articularem projetos de futuro—. Sujeitos que, por diferentes razões, têm pouca experiência de circulação pela cidade e se beneficiam pouco ou quase nada das atividades e redes culturais públi- cas ofertadas em espaços centrais e mercantilizados das cidades. Em geral, são jovens que vivem em bairros violen- tados onde a força bruta —o ethos do macho— é a chave organizadora da experiência pública e da resolução de conflitos. Talvez seja possível pensar as possíveis reorganizações curriculares não apenas como estratégias funcionais de favorecer o ensino- -aprendizagem, mas como políticas educativas e culturais que permitam reorganizar espaços e tem- pos de compartilhamento de saberes, ampliar a ex- periência social pública e o direito de todos às rique- zas materiais e simbólicas das cidades. Por que não pensar o currículo como tabuleiro de xadrez, em que algumas peças se movem com alguma previsibilidade e linearidade e outras peças como cavalos, reis e rainhas fazem movimentos sur- preendentes? Esta é uma metáfora de crítica aos currículos rígidos e uniformizadores que tentam co- municar e fazer sentido para sujeitos de múltiplas ne- cessidades e potencialidades. É assim que enxergo o desafio cotidiano de organização de currículos flexí- Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 40 veis capazes de comunicar aos sujeitos concretos da escola sem que com isso se abdique da busca de inventariar permanentemente a unidade mínima de saberes em comum que as escolas devem socializar. Experiências educativas diversas demonstram a importância da incorporação de saberes e práticas culturais dos alunos na articulação dos conteúdos curriculares e também na busca do estabelecimento de uma ordem escolar que se faça em relação de diálogo com os grupos juvenis. No âmbito das práticas culturais, chama a aten- ção para a centralidade que os estilos rap e funk assumem como forma de sociabilidade na vida de jovens das classes populares. Estes estilos musicais têm possibilitado práticas, re- lações e símbolos por meio dos quais os jovens criam espaços próprios que se transformam em referências na elaboração e vivência da sua condição juvenil, além de proporcionar a construção de uma auto- -estima e identidades positivas. Para além das expressividades estéticas, o reco- nhecimento do potencial criador das experiências coletivas juvenis também favorece práticas produ- toras de sentido naqueles conteúdos curriculares das consideradas disciplinas «duras» (física, química e matemática, por exemplo). Testemunho de casos de sucesso no desenvolvimento de projetos colabo- rativos para a aprendizagem de física no ensino mé- dio partindo do princípio do protagonismojuvenil na criação de situações problemas, escrita de roteiros e simulações para a internet com a colaboração de alunos universitários. Numa escola da rede estadual da região metro- politana do Rio de Janeiro, presenciei interessante processo de negociação da direção escolar com o grêmio estudantil em relação ao uso do uniforme obrigatório para os alunos do ensino médio. Na «ne- gociação», entre a autoridade escolar e a coletivi- dade juvenil representada pelo grêmio, chegou-se a interessante solução da confecção de uma nova camiseta para a escola elaborada pelos alunos em quatro cores diferentes de forma a permitir a variabi- lidade e a diversidade de estilos demandada pelos estudantes sem que com isso se perdesse a identida- de institucional requerida e a praticidade que o uso de uma camiseta uniforme traz. Os exemplos acima não são modelos a serem adotados, nem buscam negar o sentido da respon- sabilidade docente no planejamento pedagógico (a intenção e o plano), e na administração esco- lar. Enunciá-los é uma forma de elogiar práticas de escuta, atenção e diálogo que podem nos lançar para o plano dos afetos, das trocas culturais, de sa- beres compartilhados e compromissos políticos com a instituição escolar estabelecidos entre sujeitos de diferentes experiências, idades e responsabilidades sociais. Algumas experimentações que reinventam o cotidiano escolar e pesquisas têm narrado que são aqueles espaços, tempos, sujeitos e práticas nos quais os alunos e alunas se reconhecem que lhes for- talecem o sentido de presença na instituição escolar. POSSIBILIDADES DE VIVÊNCIA CRÍTICA E EMANCIPADA DO LAZER; O lazer, na Constituição da República Federativa do Brasil, é considerado um direito social de todo ci- dadão, assim como, a educação, a saúde, o traba- lho, a moradia, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. Torna-se importante, então, pesquisar a atenção dada ao lazer pela educação escolar, a partir dos documentos que estabelecem as orientações, refe- renciais e parâmetros da educação básica brasileira. A educação básica, de acordo com a Lei de Di- retrizes e Bases da Educação Nacional brasileiro, é formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Assim, a partir da análise de documentos oficiais da educação básica brasileira, objetivou-se desta- car os trechos que fazem referência ao lazer. A ên- fase aos documentos específicos do componente curricular Educação Física, se justifica, por ser este, um dos responsáveis pelo desenvolvimento do tema na escola. Os documentos analisados foram os seguintes: • Referencial curricular nacional para a edu- cação infantil – volume 3: conhecimento de mundo; • Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física – ensino de primeira à quarta série; • Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física – ensino de quinta a oitava séries; • Orientações curriculares para o ensino mé- dio: volume 1 – Linguagens, códigos e suas tecnolo- gias; • Proposta curricular do Estado de São Paulo: Educação Física. A apresentação dos resultados obtidos, seguindo a seqüência acima, está dividida em cinco partes: I. O lazer no Referencial curricular nacional para a educação infantil – volume 3: conhecimento de mundo, da Secretaria de Educação Fundamental (Ministério da Educação e do Desporto – Brasil); II. O lazer nos Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física – ensino de primeira à quarta série, da Secretaria de Educação Fundamental (Ministério da Educação e do Desporto – Brasil); III. O lazer nos Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física – ensino de quinta a oitava séries, da Secretaria de Educação Fundamental (Ministério da Educação e do Desporto – Brasil); Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 41 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS IV. O lazer nas Orientações curriculares para o ensino médio: volume 1 – Linguagens, códigos e suas tecnologias, da Secretaria de Educação Básica (Mi- nistério da Educação – Brasil); V. O lazer na Proposta curricular do Estado de São Paulo: Educação Física, da Secretaria de Educa- ção (Estado de São Paulo – Brasil). Vale ressaltar que, a palavra lazer estará desta- cada, da seguinte forma: LAZER. I. O lazer no Referencial curricular nacional para a educação infantil – volume 3: conhecimento de mundo, da Secretaria de Educação Fundamental (Ministério da Educação e do Desporto – Brasil) “As práticas culturais predominantes e as possibi- lidades de exploração oferecidas pelo meio no qual a criança vive permitem que ela desenvolva capa- cidades e construa repertórios próprios. Por exemplo, uma criança criada num bairro em que o futebol é uma prática comum poderá interessar-se pelo espor- te e aprender a jogar desde cedo. Uma criança que vive à beira de um rio utilizado, por exemplo, como forma de LAZER pela comunidade provavelmente aprenderá a nadar sem que seja preciso entrar numa escola de natação, como pode ser o caso de uma criança de ambiente urbano. Habilidades de subir em árvores, escalar alturas, pular distâncias, certa- mente serão mais fáceis para crianças criadas em locais próximos à natureza, ou que tenham acesso a parques ou praças”. Orientações didáticas “O professor deve eleger temas que possibilitem tanto o conhecimento de hábitos e costumes socio- culturais diversos quanto a articulação com aqueles que as crianças conhecem, como tipos de alimenta- ção, vestimentas, músicas, jogos e brincadeiras, brin- quedos, atividades de trabalho e LAZERetc. Assim, as crianças podem aprender a estabelecer relações entre o seu dia-a-dia e as vivências socioculturais, históricas e geográficas de outras pessoas, grupos ou gerações”. II. O lazer nos Parâmetros curriculares nacio- nais: Educação Física – ensino de primeira à quarta série, da Secretaria de Educação Fundamental (Mi- nistério da Educação e do Desporto – Brasil). Apresentação “O trabalho de Educação Física nas séries iniciais do ensino fundamental é importante, pois possibilita aos alunos terem, desde cedo, a oportunidade de desenvolver habilidades corporais e de participar de atividades culturais, como jogos, esportes, lutas, gi- násticas e danças, com finalidades deLAZER, expres- são de sentimentos, afetos e emoções”. A Educação Física como cultura corporal “Assim, a área de Educação Física hoje contem- pla múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade a respeito do corpo e do movimen- to. Entre eles, se consideram fundamentais as ativida- des culturais de movimento com finalidades de LA- ZER, expressão de sentimentos, afetos e emoções, e com possibilidades de promoção, recuperação e manutenção da saúde. Trata-se, então, de localizar em cada uma dessas manifestações (jogo, esporte, dança, ginástica e luta) seus benefícios fisiológicos e psicológicos e suas possibilidades de utilização como instrumentos de comunicação, expressão, LAZER e cultura, e formular a partir daí as propostas para a Educação Física escolar”. Cultura corporal e cidadania “O LAZER e a disponibilidade de espaços para ati- vidades lúdicas e esportivas são necessidades bási- cas e, por isso, direitos do cidadão. Os alunos podem compreender que os esportes e as demais ativida- des corporais não devem ser privilégio apenas dos esportistas ou das pessoas em condições de pagar por academias e clubes. Dar valor a essas atividades e reivindicar o acesso a elas para todos é um posicio- namento que pode ser adotado a partir dos conhe- cimentos adquiridos nas aulas de Educação Física”. Objetivos gerais de Educação Física no ensino fundamental “Espera-se que ao final do ensino fundamental os alunos sejam capazes de: • conhecer, organizar e interferir no espaçode forma autônoma, bem como reivindicar locais adequados para promover ativi- dades corporais de LAZER, reconhecendo-as como uma necessidade básica do ser humano e um direito do cidadão”. OS CONTEÚDOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL Critérios de seleção e organização dos conteú- dos “Com a preocupação de garantir a coerência com a concepção exposta e de efetivar os objeti- vos, foram eleitos os seguintes critérios para a seleção dos conteúdos propostos: • Relevância social. Foram selecionadas práticas da cultura corporal que têm presença marcante na sociedade brasileira, cuja aprendizagem favorece a ampliação das capacida- des de interação sociocultural, o usufruto das possibi- lidades de LAZER, a promoção e a manutenção da saúde pessoal e coletiva”. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 42 Conhecimentos sobre o corpo “Este bloco diz respeito aos conhecimentos e conquistas individuais que subsidiam as práticas cor- porais expressas nos outros dois blocos e dão recursos para o indivíduo gerenciar sua atividade corporal de forma autônoma. O corpo é compreendido como um organismo integrado e não como um amontoado de “partes” e “aparelhos”, como um corpo vivo, que interage com o meio físico e cultural, que sente dor, prazer, alegria, medo, etc. Para se conhecer o corpo abordam-se os conhecimentos anatômicos, fisiológi- cos, biomecânicos e bioquímicos que capacitam a análise crítica dos programas de atividade física e o estabelecimento de critérios para julgamento, esco- lha e realização que regulem as próprias atividades corporais saudáveis, seja no trabalho ou no LAZER. São tratados de maneira simplificada, abordando- -se apenas os conhecimentos básicos. No ciclo final da escolaridade obrigatória, podem ser ampliados e aprofundados. É importante ressaltar que os conteú- dos deste bloco estão contextualizados nas ativida- des corporais desenvolvidas”. Critérios de avaliação de Educação Física para o segundo ciclo “Valorizar e apreciar diversas manifestações da cultura corporal, identificando suas possibilidades de LAZER e aprendizagem. Pretende-se avaliar se o aluno reconhece que as formas de expressão de cada cultura são fontes de aprendizagem de dife- rentes tipos de movimento e expressão. Espera-se também que o aluno tenha uma postura receptiva, não discrimine produções culturais por quaisquer ra- zões sociais, étnicas ou de gênero”. Apreciação/crítica “É possível que uma pessoa goste de praticar um ou outro esporte, fazer uma ou outra atividade física; entretanto, apreciar é algo que todos podem fazer e amplia as possibilidades de LAZER e diversão. A crítica está bastante vinculada à apreciação; en- tretanto, trata-se de uma avaliação mais voltada à questão da mídia”. “Nesse sentido, o professor pode questionar a forma como os meios de comunicação apresentam padrões de beleza, saúde, estética, bem como as- pectos éticos. Assim, pode, por exemplo, fazer leitu- ras dos cadernos esportivos e discutir termos como “inimigos”, “guerra”, “batalha de morte”, que são empregados para descrever jogos entre dois times ou seleções e quais as implicações dessa utilização. Pode também pesquisar os tipos físicos em evidência nas propagandas, novelas, etc., e sua relação com o consumo de produtos e serviços”. III. O lazer nos Parâmetros curriculares nacio- nais: Educação Física – ensino de quinta a oitava sé- ries, da Secretaria de Educação Fundamental (Minis- tério da Educação e do Desporto – Brasil). Apresentação “O trabalho de Educação Física nas séries finais do ensino fundamental é muito importante na me- dida em que possibilita aos alunos uma ampliação da visão sobre a cultura corporal de movimento, e, assim, viabiliza a autonomia para o desenvolvimen- to de uma prática pessoal e a capacidade para in- terferir na comunidade, seja na manutenção ou na construção de espaços de participação em ativida- des culturais, como jogos, esportes, lutas, ginásticas e danças, com finalidades de LAZER, expressão de sentimentos, afetos e emoções. Ressignificar esses elementos da cultura e construí-los coletivamente é uma proposta de participação constante e respon- sável na sociedade”. Educação Física e a cultura corporal de movi- mento “Entre essas possibilidades e necessidades po- dem-se incluir motivos militares, relativos ao domínio e ao uso de espaço; motivos econômicos, que dizem respeito às tecnologias de caça, pesca e agricultura; motivos de saúde, pelas práticas compensatórias e profiláticas. Podem-se incluir, ainda, motivos religio- sos, no que se referem aos rituais e festas; motivos ar- tísticos, ligados à construção e à expressão de idéias e sentimentos; e por motivações lúdicas, relaciona- das ao LAZER e ao divertimento. Algumas práticas com motivos de caráter utilitário relacionam-se mais diretamente à realidade objetiva com suas exigên- cias de sobrevivência, adaptação ao meio, produ- ção de bens, resolução de problemas e, nesse sen- tido, são conceitualmente mais próximas do traba- lho. Outras, com motivos de caráter eminentemente subjetivo e simbólico, são realizadas com fim em si mesmas, por prazer e divertimento. Estão mais pró- ximas do LAZER e da fantasia, embora suas origens, em muitos casos, estejam em práticas utilitárias. Por exemplo, a prática do remo, da caça e da pesca por LAZER e não por sobrevivência, o caminhar como passeio e o correr como competição e não como forma de locomoção. Assim, às atividades desse se- gundo agrupamento pode-se atribuir o conceito de atividade lúdica, de certo modo diferenciada do tra- balho”. “Trata-se, portanto, de localizar em cada uma dessas modalidades (jogo, esporte, dança, ginástica e luta) seus benefícios humanos e suas possibilidades Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 43 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS de utilização como instrumentos de comunicação, expressão de sentimentos e emoções, de LAZER e de manutenção e melhoria da saúde. E a partir deste recorte, formular as propostas de ensino e aprendiza- gem da Educação Física escolar”. Educação Física e cidadania “O LAZER e a disponibilidade de espaços públicos para as práticas da cultura corporal de movimento são necessidades essenciais ao homem contempo- râneo e, por isso, direitos do cidadão. Os alunos po- dem compreender que os esportes e as demais ativi- dades corporais não devem ser privilégio apenas dos esportistas profissionais ou das pessoas em condições de pagar por academias e clubes. Dar valor a essas atividades e reivindicar o acesso a centros esportivos e de LAZER, e a programas de práticas corporais diri- gidos à população em geral, é um posicionamento que pode ser adotado a partir dos conhecimentos adquiridos nas aulas de Educação Física. No âmbito da Educação Física, os conhecimentos construídos devem possibilitar a análise crítica dos valores sociais, como os padrões de beleza e saúde, desempenho, competição exacerbada, que se tornaram dominan- tes na sociedade, e do seu papel como instrumento de exclusão e discriminação social. A atuação dos meios de comunicação e da indústria do LAZER em produzir, transmitir e impor esses valores, ao adotar o esporte-espetáculo como produto de consumo, torna imprescindível a atuação da Educação Física escolar. Esta deve fornecer informações políticas, his- tóricas e sociais que possibilitem a análise crítica da violência, dos interesses políticos e econômicos, do doping, dos sorteios e loterias, entre outros aspectos. O vínculo direto que a indústria cultural e do LAZER es- tabelece entre o acesso aos conhecimentos da cul- tura corporal de movimento e o consumo de produ- tos deve ser alvo de esclarecimento e reflexão”. Valores e conceitos “A prática de jogos, esportes,lutas, danças e gi- násticas é considerada, no senso comum, como sinô- nimo de saúde. Essa relação direta de causa e efeito linear e incondicional é explorada e estimulada pela indústria cultural, do LAZER e da saúde ao reforçar conceitos e cultivar valores, no mínimo questionáveis, de dieta, forma física e modelos de corpo ideais. Atre- lada a essas premissas inevitavelmente carregadas de valores ideológicos e a interesses econômicos, a prática da atividade física é vinculada diretamente ao consumo de bens e de serviços (equipamentos, academias, espaços deLAZER, complementos ali- mentares, prescrições de treinamento), citada como método infalível no combate ao uso abusivo de ál- cool, fumo e drogas, e como recurso de integração social do jovem e do adolescente”. “Além disso, deve-se ressaltar que grande parte das informações conceituais disponíveis no ambiente sociocultural relativas às práticas da cultura corporal de movimento dizem respeito ao exercício profissio- nal dessas atividades, com enfoques e valores muitas vezes contraditórios que contribuem para a constru- ção tanto de uma imagem distorcida do exercício profissional de esportes, lutas, danças e ginástica, como numa referência equivocada para o cotidia- no do cidadão comum. Considerando a força que a cultura de massa consegue imprimir na constituição/ geração de modelos de comportamentos e atitudes, resultam dessas distorções, por exemplo no plano ins- titucional, a manipulação demagógica de poderes públicos, na prestação de serviços de LAZER e pro- gramas de atividade física, e o uso de instituições pú- blicas de pesquisa na geração de tecnologia e co- nhecimento a serem utilizados pelo setor privado. No plano pessoal, da vida cotidiana do cidadão, abre- -se um espaço que favorece os modismos, o consu- mismo exacerbado ou a impossibilidade de acesso, a anorexia entre adolescentes, a exclusão calcada em estereótipos e padrões corporais, no comércio clan- destino de anabolizantes, entre outros. Nesse sentido, para além do suporte de informações de caráter científico e cultural, é responsabilidade da Educação Física escolar diversificar, desmistificar, contextualizar, e, principalmente, relativizar valores e conceitos da cultura corporal de movimento. Assim, o aprendizado das relações entre a prática de atividades corporais e a recuperação, manutenção e promoção da saú- de deve incluir o sujeito e sua experiência pessoal ao considerar os benefícios, os riscos, as indicações e as contra-indicações das diferentes práticas da cultura corporal de movimento e as medidas de seguran- ça no seu exercício. O cotidiano postural, o tipo de trabalho físico exercido, os hábitos de alimentação, sono, LAZER e interação social, o histórico pessoal de relações com as atividades corporais constituem um sujeito real que deve ser considerado na formulação de qualquer programa de saúde que envolva ativi- dade física”. Procedimentos “Principalmente nas zonas urbanas, as atuais condições socioeconômicas, como o desemprego crescente, a informatização e automatização do trabalho, a urbanização descontrolada e o consu- mismo, favorecem a formação de um ambiente em que o cidadão convive com a poluição, a violência, a deterioração dos espaços públicos de LAZER e a Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 44 falta de tempo para a atividade física e convívio so- cial. Esse contexto contribui para a geração de um estilo de vida caracterizado pelo sedentarismo, pelo estresse e pela alimentação inadequada, resultan- do num crescente aumento de mortes por doenças cardiovasculares. Essa situação, somada à falta de infra-estrutura pública para atividades corporais, transforma as horas diante da televisão em uma das poucas opções de LAZER para a maioria da popu- lação, especialmente para crianças e adolescentes, o que leva à diminuição da atividade motora, ao abandono da cultura de jogos infantis e à substitui- ção da experiência de praticar atividades pela de assistir passivamente às práticas da cultura corporal de movimento”. “Na escola, a Educação Física pode fazer um trabalho de pesquisa e cultivo de brincadeiras, jo- gos, lutas e danças produzidos na cultura popular, que por diversas razões correm o risco de ser esque- cidos ou marginalizados pela sociedade. Pesquisar informações sobre essas práticas na comunidade e incorporá-las ao cotidiano escolar, criando espaços de exercício, registro, divulgação e desenvolvimento dessas manifestações, possibilita ampliar o espectro de conhecimentos sobre a cultura corporal de mo- vimento. Dessa forma, a construção de brinquedos, a prática de brincadeiras de rua dentro da escola, a inclusão de danças populares de forma sistemática - e não apenas eventual - nas festas e comemorações contribuem para a construção de efetivas opções de exercício de LAZER cultural e para o diálogo en- tre a produção cultural da comunidade e da escola. A intensa veiculação pela mídia e o caráter quase universal de determinadas modalidades esportivas, como o futebol, o vôlei, o basquete, o boxe e o atle- tismo, permitem a apreciação e a comparação de estilos e maneiras de praticá-las, relacionando-as a diversos grupos sociais e culturais. No caso da dança, é possível questionar as distorções decorrentes da massificação, da banalização e do caráter compe- titivo impostos pela indústria do LAZER e do turismo, em manifestações como o samba e a capoeira, por exemplo”. Meio ambiente “Na sociedade contemporânea assiste-se ao cul- tivo de atividades corporais praticadas em ambien- tes abertos e próximos da natureza. São exemplos dessa valorização o surfe, o alpinismo, o bice-cross, o jet-ski, entre os esportes radicais; e o montanhismo, as caminhadas, o mergulho e a exploração de ca- vernas, entre as atividades de LAZER ecológico. Se por um lado é possível perceber nessas práticas uma busca de proximidade com o ambiente natural, tam- bém é necessário estar atento para as conseqüên- cias da poluição sonora, visual e ambiental que essas atividades podem causar. As características básicas de algumas dessas modalidades, como o individua- lismo, a busca da emoção violenta (adrenalina), a necessidade de equipamentos sofisticados e caros, devem ser discutidas e compreendidas no contexto da indústria do LAZER. Ou seja, é ingênuo pensar que apenas a prática de atividades junto à natureza, por si só, é suficiente para a compreensão das questões ambientais emergentes. Embora possa existir, en- tre os adeptos dessas modalidades, o envolvimento com as questões ambientais, o que determinará o ní- vel reflexivo sobre uma ou outra questão ambiental é a reflexão crítica e atenta realizada pelos praticantes de cada atividade”. Para quem ensinar? “É interessante refletir e considerar a qualidade e a quantidade de experiências de aprendizagem oferecidas pela escola, em relação com o meio sociocultural vivido pelo aluno fora dela, no qual é bombardeado pela indústria de massa da cultura e do LAZER com falsas necessidades de consumo, carregado de mitos de saúde, desempenho e bele- za, de informações pseudocientíficas e falácias. Em suma, uma sociedade que promete para muitos e viabiliza para poucos”. O exercício de soluções por prazer funcional e de manutenção “É fundamental que no cotidiano escolar se ga- rantam as condições para o usufruto dos conheci- mentos resultantes dessas vivências, que se dê desti- no à produção dos alunos. Da valorização dessa utili- zação de conhecimentos, no plano pessoal e grupal, pode derivar a prática sistemática para a manuten- ção e a promoção da saúde, e como recurso para o uso do tempo disponível para o LAZER, tanto dentro como fora da escola”. Curso noturno “A seleção dos conteúdos e a distribuição dasatividades desenvolvidas pela área para o curso no- turno, em função das características do curso e do grupo, devem receber uma atenção especial. Mais do que qualquer outro contexto, cabe em relação aos cursos noturnos um esforço para a otimização na transmissão dos conteúdos listados como relevantes. Cabe, no momento, uma reflexão sobre o papel so- cial da Educação Física: • validar e instrumentalizar o LAZER, resgatando o prazer enquanto aspecto fun- damental para a Saúde e melhoria da qualidade de vida;”. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 45 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Objetivos gerais para o ensino fundamental “Espera-se que, ao final do ensino fundamental, os alunos sejam capazes de: • conhecer, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, bem como reivindicar locais adequados para promover ativida- des corporais de LAZER, reconhecendo-as como uma necessidade do ser humano e um direito do cidadão, em busca de uma melhor qualidade de vida”. EDUCAÇÃO FÍSICA PARA TERCEIRO E QUARTO CICLOS Critérios de seleção dos conteúdos Relevância social “Foram selecionadas práticas da cultura corpo- ral de movimento que têm presença marcante na sociedade brasileira, cuja aprendizagem favorece a ampliação das capacidades de interação sociocul- tural, o usufruto das possibilidades de LAZER, a promo- ção da saúde pessoal e coletiva”. Atitudes: conhecimento sobre o corpo; esportes, jogos, lutas e ginásticas; atividades rítmicas e expres- sivas “Disposição para aplicar os conhecimento ad- quiridos e os recursos disponíveis na criação e adap- tação de jogos, danças e brincadeiras, otimizando o tempo disponível para o LAZER”. Diversidade “A cultura corporal de movimento se caracteriza, entre outras coisas, pela diversidade de práticas, ma- nifestações e modalidades de cultivo. Trata-se de um espectro tão amplo e complexo, que é quase impos- sível sistematizá-lo conceitualmente de forma abran- gente. De qualquer forma, é esse universo de infor- mações que chega ao jovem e ao adolescente da mídia, de forma sedutora, fragmentada, manipulada por interesses econômicos e por valores ideológicos. Dessa realidade a Educação Física escolar não pode fugir nem alienar-se, pois é impossível negar a força que a indústria da cultura e do LAZER exerce na ge- ração de comportamentos e atitudes”. “No entanto, a Educação Física e a escola de maneira geral não precisam confinar-se em seus mu- ros. O diálogo permanente com a comunidade pró- xima pode ser cultivado franqueando espaço para o desenvolvimento de produções relativas ao LAZER, à expressão e à promoção da saúde, assim como ultrapassando os muros escolares na busca de in- formações e produções desta natureza. A escola pode buscar na comunidade pessoas e instituições que dominem conhecimentos relativos a práticas da cultura corporal e trazê-las para o seu interior. Aca- demias de capoeira, escolas de samba, grupos de danças populares, sindicatos e associações de clas- se que cultivem práticas esportivas são freqüentados pelos próprios alunos e podem estabelecer um diálo- go permanente com a instituição escolar”. “Ensinar e aprender a cultura corporal de movi- mento envolve a discussão permanente dos direitos e deveres do cidadão em relação às possibilidades de exercício do LAZER, da interação social e da pro- moção da saúde. Envolve, portanto, também o en- sino de formas de organização para a reivindicação junto aos poderes públicos de equipamentos, espa- ços e infra-estrutura para a prática de atividades”. Aprendizagem específica “Nos ciclos finais do ensino fundamental, vão se consolidando possibilidades e necessidades de aprendizagem cada vez mais específicas, em fun- ção de as condições cognitivas, afetivas e motoras dos alunos permitirem cada vez mais um distancia- mento do próprio objeto de ensino. Ou seja, perce- be-se com nitidez que, embora se trate de instrumen- tos para o LAZER e a recreação, as práticas da cul- tura corporal de movimento podem constituir-se em objetos de estudo e pesquisa sobre o homem e sua produção cultural. A aula de Educação Física, além de ser um momento de fruição corporal, pode se configurar num momento de reflexão sobre o corpo, a sociedade, a ética, a estética e as relações inter e intrapessoais”. Objetivos para terceiro e quarto ciclos “Espera-se que ao final do quarto ciclo os alunos sejam capazes de: • conhecer, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, bem como reivindi- car locais adequados para promoção de atividades corporais e de LAZER, reconhecendo-as como uma necessidade do ser humano e um direito do cidadão em busca de uma melhor qualidade de vida”. Atitudes: Conhecimento sobre o corpo; Esportes, jogos, lutas e ginásticas; Atividades rítmicas e expres- sivas “Valorização dos jogos recreativos e das danças populares como forma de LAZER e integração social. • Predisposição para aplicar os fundamentos adqui- ridos e os recursos disponíveis na criação e adapta- ção de jogos, danças e brincadeiras (mímicas e re- presentações), otimizando o tempo deLAZER”. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 46 Critérios de avaliação “Valorizar a cultura corporal de movimento. Pre- tende-se avaliar se o aluno conhece, aprecia e des- fruta de algumas das diferentes manifestações da cultura corporal de movimento de seu ambiente e de outros, relacionando-as com o contexto em que são produzidas, e percebendo-as como recurso para a integração entre pessoas e entre diferentes gru- pos sociais. Se reconhece nas atividades corporais e de LAZER, uma necessidade do ser humano e um direito do cidadão”. ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS Mídia, apreciação e crítica “É possível que uma pessoa goste de praticar um ou outro esporte, fazer uma ou outra atividade cor- poral. Entretanto, apreciar é algo que todos podem fazer e que amplia as possibilidades de LAZER e di- versão”. IV. O lazer nas Orientações curriculares para o ensino médio: volume 1 – Linguagens, códigos e suas tecnologias, da Secretaria de Educação Básica (Mi- nistério da Educação – Brasil). 1. Sobre o aspecto legal “I - a Estética da Sensibilidade, que deverá subs- tituir a da repetição e padronização, estimulando a criatividade, o espírito inventivo, a curiosidade pelo inusitado, e a afetividade, bem como facilitar a constituição de identidades capazes de suportar a inquietação, conviver com o incerto e o imprevisí- vel, acolher e conviver com a diversidade, valorizar a qualidade, a delicadeza, a sutileza, as formas lúdicas e alegóricas de conhecer o mundo e fazer do LAZER, da sexualidade e da imaginação um exercício de li- berdade responsável”. 2. Identidade: Educação Física como compo- nente curricular “Os alunos, por sua vez, não deixaram de utilizar o tempo/espaço desse componente curricular de di- versas maneiras, tais como: relaxamento das tarefas demandadas por outras disciplinas; tempo e espaço de encontro com os amigos; possibilidade de reali- zação de suas práticas deLAZER; momento de ócio, etc.” 3. O lugar da Educação Física nas escolas de ensino médio “Dessa forma, a Educação Física no currículo es- colar do ensino médio deve garantir aos alunos: • participação efetiva no mundo do trabalho no que se refere à compreensão do papel do corpo no mun- do da produção, no que tange ao controle sobre o próprio esforço e do direito ao repouso e ao LAZER;” 4. Alguns temas para práticas corporais nas escolas de ensino médio “Temas específicos da Educação Física: Possibili- dades de vivência crítica e emancipada do LAZER” “Os conteúdos Ginástica, Esporte, Jogos, Lutas e Dança como saberes construídos pela humanidade podem ser palco de abordagem dos mais diferentes temas:gênero, práticas corporais em espaços públi- cos, entre outros. Além disso, cada um desses conte- údos possui uma vinculação social com a realidade atual, tal como a vinculação do esporte à indústria cultural e à produção do espetáculo televisivo e venda de produtos. A dança, por sua vez, também possui vinculações étnicas, culturais e históricas, bem como relações de gênero a serem discutidas na es- cola”. V. O lazer na Proposta curricular do Estado de São Paulo: Educação Física, da Secretaria de Educa- ção (Estado de São Paulo – Brasil). • Proposta Curricular do Estado de São Paulo para a disciplina de Educação Física • Ensino Fundamental – Ciclo II e Ensino Médio • Concepção da disciplina: Educação Física – uma perspectiva cultural “A despeito disso, pequena proporção da popu- lação pratica esportes e exercícios físicos de modo sistemático. O estilo de vida gerado pelas novas con- dições socioeconômicas (urbanização descontrola- da, consumismo, desemprego, informatização e au- tomatização do trabalho, deterioração dos espaços públicos de LAZER, violência, poluição) favorece o sedentarismo e o recolhimento aos espaços privados (doméstico, por exemplo) ou semiprivados (shopping centers, por exemplo)”. • O trato com os conteúdos do Ensino Médio “LAZER e Trabalho: os conteúdos da Educação Física devem ser incorporados pelos alunos como possibilidades de LAZER em seu tempo escolar e pos- terior a ele, de modo autônomo e crítico; além disso, a Educação Física deve propiciar a compreensão da importância do controle sobre o próprio esforço físico e o direito ao repouso e LAZER no mundo do traba- lho. Esses eixos temáticos permitem, por exemplo, o tratamento dos seguintes temas: preconceito racial nos esportes, discriminação contra pessoas com defi- ciências em atividades esportivas, o papel das mídias na construção de padrões de beleza corporal, os vá- rios significados atribuídos ao corpo, relações entre exercício físico e saúde, o LAZER na vida cotidiana e muitos outros”. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 47 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 3a Série • 3º Bimestre • LAZER e trabalho “O LAZER como direito do cidadão e dever do Estado: – Possibilidades de LAZER na cultura de mo- vimento; – O esporte como prática de LAZER nas dimensões estética (presencial e televisiva), comu- nitária e de entretenimento; – Fatores limitadores de acesso ao LAZER. – LAZER e ginástica nas empresas: benefícios e controvérsias”. • 3a Série • 4º Bimestre • LAZER e trabalho “Espaços, equipamentos e políticas públicas de LAZER: O LAZER na comunidade escolar e em seu entorno: espaços, tempos, interesses, necessidades e estratégias de intervenção”. MITOS E VERDADES SOBRE OS CORPOS MASCULINO E FEMININO NA SOCIEDADE ATUAL; Será visto por intermédio deste uma explanação mais profunda sobre gênero sexual, que se refere à identidade adotada ou atribuída a uma pessoa de acordo com seus genitais, psicologia ou seu papel na sociedade. A definição é uma extensão da ex- pressão papel de gênero, que é usada para significar tudo o que a pessoa diz ou faz para evidenciar a si mesma como homem ou mulher. Elementos de tais papéis incluem vestimenta, modo de falar, gestos, profissão e outros fatores que não são limitados pelo sexo biológico. Aqui, será visto um pouco das novas possibilida- des de classificação para a identidade sexual. Como por exemplo, os bissexuais, que são pessoas que se identificam com o gênero comumente associado ao sexo no qual nasceram e sentem atração tanto por homens quanto por mulheres; os transgêneros que fazem intervenções corporais para aproximar o sexo biológico do sexo ao qual eles sentem pertencer; os cross-dressing e os travestis que realizam a prática de se vestir como o sexo oposto - ou de produzir-se in- teiramente como ele, como fazem as drag queens; os transexuais que recorrem às cirurgias de mudan- ça de sexo para corresponder integralmente ao sexo oposto; os assexuais que não sentem atração sexual por nenhum dos sexos; e os pansexuais que são pes- soas que se sentem atraídas por todos independen- temente de seu gênero. • Sexualidade Humana A sexualidade humana é composta de forma muito complexa, porém é possível resumir essa com- plexidade em termos mais compreensíveis. Assim sendo, a identidade sexual de uma pessoa é basica- mente composta pela orientação sexual, pelo gêne- ro e também pelo sexo. A orientação sexual é o aspecto psicológico e diz respeito à atração sexual e afetiva em relação a ou- tras pessoas, ela é definida tendo como base o sexo pelo qual o indivíduo sente desejo. Gênero por sua vez, é um conceito de fundo cultural e histórico, por se tratar de uma construção social. Compreende por serem papéis e condutas sociais que são comumen- te associadas ao masculino e ao feminino, podemos perceber o sentido de gênero desde a infância, onde as pessoas são ensinadas sobre uma série de valores e hábitos de acordo com seu sexo biológico. A sensação de pertencimento ao gênero masculi- no ou feminino percebida pelas pessoas durante a vida é chamada de identidade de gênero. Por fim, o sexo é o aspecto biológico da identidade sexual e é determinado pelas características físicas que diferen- ciam homens e mulheres, desde os órgãos do sistema reprodutor até as características sexuais secundárias, como barba e seios. • Bissexuais Os bissexuais são pessoas que se identificam com o gênero comumente associado ao sexo no qual nasceram e sentem atração tanto por homens quan- to por mulheres. O mito de que, em princípio, todas as pessoas são bissexuais tem origem em uma leitura superficial dos estudos freudianos. “Posto em termos simples, Freud postulou que cada um tem dentro de si aspectos femininos e masculinos”. (Elizabeth Zam- brano, 2010). • Transgêneros Existem pessoas que apesar de serem biologica- mente homens ou mulheres, se identificam com o gênero culturalmente associado ao sexo oposto ao seu, como se tivessem nascido com o corpo troca- do. É assim que são os transgêneros, eles fazem in- tervenções corporais para aproximar o sexo biológi- co do sexo ao qual eles sentem pertencer. Por não se considerarem completamente pertencentes ao sexo oposto, travestis realizam modificações corpo- rais parciais: não trocam de sexo, mas podem colo- car próteses de silicone, por exemplo. Transgêneros também são aqueles que, apesar de não se identifi- carem com seu sexo biológico, optam por não fazer nenhuma alteração física, podendo, por exemplo, se limitar a usar as roupas do outro sexo. • Cross-dressing É de forma incorreto comumente associado aos transgêneros, no entanto, não se trata de uma orien- tação ou um gênero sexual. É apenas a prática de se vestir como o sexo oposto - ou de produzir-se intei- ramente como ele, como fazem as drag queens. Em tese, o cross-dressing pode ser praticado por ambos os sexos; porém, a expressão normalmente designa o hábito de homens que se vestem como mulheres, pelo simples fato de não estarmos acostumados a Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 48 esse cruzamento de vestuário. A diferença entre os cross-dressers e os transgêneros é o cross-dressing é praticado apenas ocasionalmente. • Travestis A definição está associada ao ato ou efeito de travestir-se, ou seja, de vestir-se ou com roupas do sexo oposto. O termo eonismo é utilizado de forma mais específica e é associado ao travestismo mascu- lino, inclusive com a adoção de maneiras femininas. Os travestis realizam modificações corporais parciais, como por exemplo, não trocam de sexo, mas podem colocar próteses de silicone. • Transexuais Os transexuais são aqueles que recorrem às ci- rurgias de mudançade sexo para corresponder in- tegralmente ao sexo oposto. É importante observar que a transexualidade ainda é considerada um transtorno de identidade de gênero e necessita des- se diagnóstico médico para viabilizar a mudança de sexo, o que dificulta a obtenção da cirurgia por mui- tas pessoas. • Assexuais São pessoas que, independente do sexo ou do gênero, não sentem atração sexual por nenhum dos sexos, e mesmo assim podem manter um envolvi- mento afetivo e romântico. De uma maneira geral, as pessoas invariavelmente se sentem atraídas por outras; desse ponto de vista, a assexualidade pode ter origem em uma criação repressora, que não per- mite a expressão sexual, ou simplesmente em uma baixa libido. • Panssexuais Os pansexuais são pessoas que se sentem atra- ídas por todos independentemente de seu gênero, seja ele cis ou trans. A adoção do termo pretende escapar da divisão binária imposta pelo conceito de bissexualidade, pois são pessoas que não limitam a atração ao sexo da pessoa, por isso se sentem atraí- das por uma variedade maior de gêneros. O mito de pansexualidade como orientação sexual de alguém que se sente atraído por tudo - pessoas, animais, ob- jetos - revela uma má interpretação do real conceito pelo senso-comum. • Intersexualidade O termo intersexual normalmente é usado para descrever a figura que antes era chamada de her- mafrodita, são pessoas que nascem com a genitália indefinida ou apresentando os dois genitais, causan- do uma ambiguidade sexual. A substituição do termo hermafrodita, que tem origem na mitologia grega, deu-se porque a palavra pressupõe que a pessoa tenha os dois sexos no mesmo corpo. Isso raramente acontece: em grande parte dos casos, apenas um dos genitais é funcional. A indefinição do sexo é o que difere os intersexuais dos transexuais, que nas- cem com a genitália perfeitamente formada. A apro- ximação da intersexualidade com o movimento LGBT acontece por essa minoria apresentar uma identida- de de gênero que se afasta do convencional. • Antigas práticas A relação entre pessoas do mesmo sexo não é um fenômeno recente. Registros históricos documen- tam que a homossexualidade era uma prática co- mum em muitas regiões do planeta desde a Antigui- dade. Na Grécia e Roma Antiga, os relacionamentos homossexuais se davam principalmente entre ado- lescentes e homens mais velhos, e faziam parte de um processo de formação pessoal dos futuros cida- dãos. No entanto, durante séculos, não existiu sequer uma palavra que descrevesse uma pessoa atraída por outras do mesmo sexo. A homossexualidade exis- tia, mas não o ser homossexual. O que havia eram comportamentos tipificados, não identidades. • Surgimento do termo O termo homossexual surgiu no final do século XIX, época em que surgiram os primeiros estudos so- bre identidade sexual. Ele foi cunhado em 1869 pelo médico húngaro Karl-Maria Benkert como uma cate- goria médica que incluía pessoas que apresentavam comportamentos considerados moralmente inacei- táveis para a época, até então chamados por pede- rastas em alusão aos antigos gregos. Em vários países da Europa, como a Inglaterra, as práticas homosse- xuais foram ilegais durante muito tempo: até mesmo o escritor Oscar Wilde foi mandado para a prisão acusado do crime de sodomia. Quando foi criada, mais do que uma classificação, a palavra “homosse- xual” era um diagnóstico que isentava as pessoas de culpa - o que, gradualmente, fez com que a homos- sexualidade deixasse de ser considerado crime em boa parte do mundo. • CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho dedicou-se à análise do assunto gênero sexual, que se refere à identidade adotada ou atribuída a uma pessoa de acordo com seus ge- nitais, psicologia ou seu papel na sociedade. Tam- bém foram tratadas as possibilidades de classifica- ção para a identidade sexual, como bissexualidade, transgêneros, cross-dressing, travestis, transexuais, assexuais e pansexuais. Alguns pontos históricos tam- bém foram relacionados, tudo isso com o objetivo de aprofundar os conhecimentos sobre gênero e identi- dade, que são assuntos tão presentes na atualidade. EXERCÍCIO FÍSICO E SAÚDE; Em qualquer idade, o exercício físico tem um pa- pel importante na saúde, no bem estar e na criação de estilos de vida mais saudáveis. Traz muitos benefí- cios aos sistemas respiratórios e cardiovasculares, for- talece os músculos. E bom para regularizar o intestino, baixar o colesterol, perder peso e muitas outras. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 49 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS É recomendado para todas as idades, sendo que para os idosos é sempre melhor consultar um medico antes de começar a rotina dos exercícios físicos. Para um bom desenvolvimento e crescimento, começar a atividade física desde criança é o ideal. Jovens e adultos levam uma vida mais tranquila e saudável quando tem o habito de se exercitarem. O importante é sempre fazer o que gosta an- dar ou correr, qualquer exercício é bom, ainda mais quando combinado a uma alimentação nutritiva. Principalmente para quem quer perder peso, um bom exercício aeróbico e refeições balanceadas são necessários para tal mérito. Um ponto é não fazer exercício nem quando estiver em jejum e nem com o estomago cheio. A atividade física não deverá ser esgotante ou dolorosa para ser eficaz, mas devera sempre ser pra- ticada de uma forma regular. * Exercício Físico Exercício físico é qualquer atividade física que mantém ou aumenta a aptidão física em geral e tem o objetivo de alcançar a saúde e também a recre- ação. A razão da prática de exercícios inclui: o re- forço da musculatura e do sistema cardiovascular; o aperfeiçoamento das habilidades atléticas; a perda de peso e/ou a manutenção de alguma parte do corpo. Para muitos médicos e especialistas, exercí- cios físicos realizados de forma regular ou frequente estimulam o sistema imunológico, ajudam a prevenir doenças (como cardiopatia, doenças cardiovascu- lares, diabetes tipo dois, etc.) moderam o colesterol, ajudam a prevenir a obesidade, e outras coisas. Além disso, melhoram a saúde mental e ajudam a prevenir a depressão. Todo exercício físico deve ser sempre realizado sob a orientação de um profissional ou cen- tro esportivo qualificado, pois a prática de esportes somente nos permite atingir os objetivos esperados quando é devidamente orientada. A prática regular de atividades físicas é essen- cial para garantir uma vida saudável e a recomen- dação é de que sejam feitos pelo menos 150 minu- tos por semana. No entanto, é grande o número sedentários. Segundo um levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) di- vulgado em dezembro de 2014, 46% dos brasileiros não fazem atividade física suficiente. Esse percentual diminui à medida em que as pessoas ficam mais velhas, ou seja, com o passar do tempo pratica-se ainda menos exercícios. En- tre 18 e 24 anos, 35,3% das pessoas fazem alguma atividade. De 25 a 39 anos, 25,5%. De 40 a 59 anos, 18,3%. E, aos 60 anos ou mais, apenas 13,6%. (https://www.bolsademulher.com/corpo/top-10-exerci- cios-fisicos-que-fazem-bem-a-saude-e-ajudam-a-emagrecer) * Benefícios de exercícios físicos Além dos benefícios físicos e para a saúde - di- minuição do percentual de gordura, aumento da massa magra e da resistência muscular, redução da frequência cardíaca, ganho de condiciona- mento físico e prevenção de lesões e vícios de postura - a prática constante de atividade física também pode ajudar a combater a depressão. (ht- tps://www.bolsademulher.com/corpo/top-10-exer- cicios-fisicos-que-fazem-bem-a-saude-e-ajudam-a- -emagrecer) O exercício físico é um componente do moderno estilo de vida que nas suas distintas modalidades tais como ginástica, desporto e educação física cons- tituematividades vitais para a saúde, a educação, a recreação e o bem-estar do ser humano, a práti- ca do desporto e os exercícios físicos podem fazer pelos Homens o que não poderiam fazer milhões de médicos. A prolongação da vida e a terapia contra numerosas enfermidades são os principais benefícios do exercício físico. * Exercícios físicos na vida adulta O ideal para a saúde é que o exercício físico se torne um hábito na [infância] ou na adolescência, para não haver dificuldades de integrá-la à vida. Um dos principais problemas relacionados a essa adaptação é a falta de tempo, que cria os “atletas de final de semana”. Praticar atividade física somen- te aos finais de semana pode não ser bom à própria saúde. É necessário um ritmo correto entre exercício e descanso. O recomendado é que, para cada dia de exercício, seja dado um dia de descanso, princi- palmente para as pessoas que se iniciam. As consequências do sedentarismo para a saúde do homem são nefastas e bem conhecidas: maior ris- co de aterosclerose e suas consequências (angina, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral), aumento da obesidade, aparição de problemas como: hipertensão arterial, diabetes, osteoporose, dislipidemia, doença pulmonar obstrutiva crônica, asma, depressão, ansiedade, além de aumento do risco de afecções osteomusculares e de alguns tipos de câncer de cólon e de câncer de mama. EFEITOS GERAIS CÉREBRO O exercício físico não é somente bom para a saú- de física, mas também ajudar seu cérebro a traba- lhar melhor. Muitos praticantes de atividades físicas Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 50 ou esportivas relatam que depois do exercício, eles sentem-se capazes de pensar melhor. Por outro lado, muitas pessoas não praticantes de exercícios físicos não concordam com esse fato, porque depois da atividade física eles se sentem esgotados e incapa- zes de realizar suas atividades diárias normalmente. De fato os dois grupos estão certos. O QUE ACONTECE: O exercício físico aeróbio de intensidade mo- derada provoca a liberação de hormônios e neu- rotransmissores (substâncias químicas presentes no cérebro) envolvidos em vários processos cognitivos, como a memória e aprendizagem. Existem várias evidências científicas mostrando que o exercício físico pode melhorar a capacidade de uma pessoa em raciocinar melhor. Mas também existem evidências que mostram que a fadiga e o excesso de treinamento físico não provocam esse efeito positivo. O exercício realizado de forma ade- quada melhora o estado de humor, o bem-estar, a ansiedade e depressão, assim como ajuda o indiví- duo a lidar melhor com o estresse. Um estudo na Universidade de Geórgia – USA, re- visou publicações dos últimos 30 anos sobre os efeitos do exercício no cérebro e demonstrou que o exer- cício físico fornece muitos benefícios para a saúde mental, isto é, o exercício afeta de forma positiva o desempenho de várias tarefas mentais. Portanto, qual tipo de exercício poderá melho- rar esse desempenho? Diferentes testes psicológicos e mentais mostraram que o exercício aeróbio apre- senta melhores resultados quanto à capacidade de resolver problemas e tomar decisões mais rápidas e precisas. O exercício físico aeróbio de intensidade moderada provoca a liberação de hormônios e neu- rotransmissores (substâncias químicas presentes no cérebro) envolvidos em vários processos cognitivos, como a memória e aprendizagem. No entanto, apesar desses estudos serem mui- to estimulantes e promissores, ainda existem muitas questões a serem respondidas. Por exemplo, não se sabe ao certo qual seria a duração dos benefícios do exercício após a interrupção de um programa de treinamento físico ou mesmo qual seria a quantidade de exercício necessária para recuperar os benefícios adquiridos. De toda forma, o exercício físico adequado pode aprimorar não somente os aspectos relacionados ao desempenho mental, assim como reduzir os riscos do déficit da cognição relacionada à idade. BENEFÍCIOS: Proporciona sensação de bem estar. Melhora a autoestima. Reduz sintomas depressivos e ansiosos. Melhora o controle do apetite. PORQUE ACONTECE: A atividade física estimula a liberação de subs- tâncias que “melhoram” o funcionamento do siste- ma nervoso central. PULMÕES A atividade física, como o exercício aeróbico, mostra-se como o componente mais eficaz na rea- bilitação pulmonar por meio de exercícios resistivos e respiratórios, além de ambos associados. CORAÇÃO Manter o coração em boa forma é um trabalho diário, constante e necessário, como receitam os médicos e manda o bom senso. As academias de gi- nástica estão em cada esquina e as dicas sobre exer- cícios e cuidados com o coração inundam revistas, internet, TV e qualquer outro meio de comunicação. Mesmo com tanto estímulo, e apesar da informação abundante, manter o coração em perfeita saúde, ainda que seja simples, pode requerer uma atenção especial e alguns cuidados específicos e individuais. Toda atividade física deve ser realizada com cautela, pois, em excesso, pode trazer prejuízos ao organismo. O mais seguro é iniciar uma atividade su- avemente e ir aumentando a frequência e a inten- sidade gradativamente, de acordo com a adapta- ção do corpo ao exercício realizado. Além disso, por precaução, convém consultar um médico antes de começar a pedalar, correr, nadar ou caminhar a fim de obter condicionamento físico. Ou seja, é impor- tante que cada pessoa inicie com cuidado especial sua série de exercícios físicos, levando em conta que seus metabolismo e ritmo cardíaco são específicos e, portanto, não necessariamente o que se aplica ao vizinho vai se aplicar também a você. Ou, nas pa- lavras no Dr. Grava: “Não existe prescrição médica para atividade física saudável, pois depende de cada indivíduo, altura, peso, idade, história pregressa de lesões. O que é bom e saudável para uma pes- soa pode ser extremamente exaustivo para outra”. Mas não basta simplesmente ir ao médico, criar uma série de exercícios, matricular-se em uma academia e achar que, assim, já está cumprindo sua parte no cuidado com o coração. Uma pesquisa australiana, publicada no periódico Circulation no início de 2010, analisou o risco de mortalidade relacionado ao tem- po em que as pessoas ficam inativas. A conclusão foi de que, mesmo quem tem a prática de exercícios como hábito, pode correr algum risco cardíaco se for muito sedentário no restante do tempo. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 51 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS O QUE ACONTECE: A atividade física ajuda a melhorar a saúde car- díaca e pode reverter alguns fatores de risco para es- ses agravos. Como toda musculatura, o coração se fortalece com a prática de atividade física, de forma que consegue bombear mais sangue para o orga- nismo a cada batimento, alcançando um nível alto de desempenho sem tanto estresse. Nos indivíduos que se exercitam, a frequência cardíaca de repouso é mais baixa, pois é necessário menor esforço para bombear o sangue Qualquer nível de atividade física traz benefício cardiovascular, embora se saiba que quanto mais intensa é a prática maior o benefício. O benefício existe até mesmo para os pacientes com doença cardíaca que, entretanto, necessitam de avaliação cardiológica antes de iniciar o programa. PORQUE ACONTECE: A atividade física estimula uma melhor vasculari- zação (aumento da irrigação de sangue para o pró- prio coração), o que garante melhor funcionamento do órgão. Reduz fatores de risco para artérias coro- nárias - como pressão arterial e colesterol. O exercício físico ajuda a reduzir os níveis de co- lesterol e triglicérides, diminui a inflamação das arté- rias, auxilia na perda depeso e a manter os vasos sanguíneos abertos e flexíveis. Em comparação aos indivíduos sedentários, aqueles que se exercitam regularmente apresentam um risco 45% menor de desenvolver aterosclerose coronariana. Além disso, contribui para manter a normalidade do fluxo sanguí- neo e da pressão arterial. BENEFICIOS Melhora o funcionamento do coração (para um mesmo esforço, o trabalho cardíaco passa a ser me- nor). Aumenta a resistência aos esforços físicos e ao estresse. Reduz doenças cardíacas (angina, infarto, arritmias, insuficiência etc). Aumenta a sobrevida até mesmo nas pessoas que já tiveram um infarto. MUSCULOS A prática regular de exercícios físicos acompa- nha-se de benefícios que se manifestam sob todos os aspectos do organismo. Do ponto de vista músculos, ela auxilia na melhora da força e do tônus muscular e da flexibilidade. Toda vez que você anda, corre, mastiga, pisca, sorri, dança ou faz qualquer movimento, vários mús- culos de seu corpo entram em ação! Temos mais de 600 espalhados pelo corpo— das pálpebras ao de- dinho do pé- e todos agem em conjunto para tudo funcionar direito. E todos são muito importantes. FLEXIBILIDADE TOTAL: Para permitir diferentes movimentos, temos mús- culos que são superflexíveis, como os que ficam na língua. Ao realizar atividades físicas, exercitamos nossos músculos fazendo o contrair e isto faz com que haja uma maior necessidade de sangue para nutri-los, acelerando o ritmo do coração e da respiração, o metabolismo altera-se, enfim, todo o corpo entra em ação quando nos movimentamos. E estas alterações são benéficas e necessárias para um bom funciona- mento orgânico. O QUE ACONTECE: A atividade estimula o desenvolvimento das fi- bras musculares que compõe os diversos músculos do corpo. PORQUE ACONTECE: Os músculos são formados por fibras, compostas de células de vários tipos. Eles recebem sinais do cé- rebro que indicam quando devem se contrair ou re- laxar. BENEFICIOS: Fortalece a massa muscular e aumenta a flexibili- dade. A atividade física estimula o desenvolvimento das fibras musculares que compõe os diversos mús- culos do corpo. OSSOS Atividade física é um fator essencial para a saúde dos ossos. Os benefícios dos exercícios para o esque- leto têm se manifestado por todo o ciclo de vida. A saúde dos ossos, articulações e músculos são importantes para a capacidade de fazer atividades sem limitações físicas. Prevenção óssea, articular e muscular é essencial com o aumento da idade. Estudos mostram que a diminuição frequente na PRODUÇÃO E RECEPÇÃO DE TEXTOS ARTÍSTICOS: INTERPRETAÇÃO E REPRESENTAÇÃO DO MUNDO PARA O FORTALECIMENTO DOS PROCESSOS DE IDENTIDADE E CIDADANIA Densidade óssea que ocorre durante o envelhe- cimento pode ser retardada com atividade física re- gular. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 52 Construir ossos fortes e saudáveis é também im- portante para as crianças e adolescentes; auxiliar a manter ou mesmo promover um modesto aumento na densidade óssea em adultos; auxilia na diminui- ção da perda de massa óssea devido à idade em adultos mais velhos. O QUE ACONTECE: Exercícios podem: afetar positivamente o pico de massa óssea e crianças e adolescentes; auxiliar a manter ou mesmo promover um modesto aumento na densidade óssea em adultos; auxiliar na diminui- ção da perda de massa óssea devida à idade em adultos mais velhos. PORQUE ACONTECE: Estimula a proliferação dos chamados osteoblas- tos (células que contribuem para o crescimento do tecido ósseo). * Qual o melhor exercício? Pesquisadores da Universidade de Stanford estu- dam a relação entre a atividade física e a redução do colesterol. E comprovaram que os níveis de co- lesterol dos praticantes de corrida eram melhores, se comparados aos dos sedentários. Isso porque a cor- rida é um exercício aeróbio, benéfico para sistema cardiorrespiratório. Não há um exercício melhor que o outro, tudo depende de quem vai praticar. “A melhor escolha é sempre por uma atividade física que proporcione prazer”, garante. Muitas vezes optar por exercícios da moda ou que pareçam mais eficazes pode não ter o mesmo efeito do que uma simples caminhada, desde que a pessoa sinta-se bem durante a prática. Começar pela caminhada é uma boa pedida para quem é sedentário. Essa atividade não requer grande nível de condicionamento físico, tampouco equipamentos ou acessórios sofisticados. Outra van- tagem é que da caminhada é possível evoluir para esportes que exijam mais preparo, como a corrida. * Exemplo de um programa de exercícios Tipo de exercício Ginástica aeróbica ou levantamento de pesos (você escolhe!) A ginástica aeróbia é mais eficaz para aumentar o HDL. A musculação é mais eficaz para reduzir o LDL. Intensidade Entre 75% a 85% da frequência cardíaca máxima ou do nível 3 e 4 (entre 10 na escala subjetiva de esforço (escala de Borg.), para a ginástica aeróbica. Para musculação, o programa deverá seguir a capacidade do indivíduo Frequência Pelo menos quatro vezes por semana para os ae- róbios. Pelo menos três vezes por semana para os anae- róbios (musculação). Lembrando que a medicina do esporte estuda a adaptação do corpo humano e sua saúde aos exer- cícios físicos, mas é o professor de educação física o único profissional capacitado a avaliar, organizar e acompanhar a evolução de uma pessoa frente a qualquer tipo de treinamento. * O segredo é a regularidade O mais importante para aderir a um programa de atividade física é a regularidade. Só assim é possível ter bons resultados. A OMS recomenda 30 minutos de atividade físi- ca, praticada no maior número de dias por semana, sempre reservando pelo menos um para o descan- so. Esse tempo pode ser fracionado ao longo do dia, como em três sequências de 10 minutos. O acompanhamento de um especialista no es- porte é recomendado para orientar quanto à inten- sidade, descanso e alimentação para garantir a se- gurança. Independentemente do objetivo - seja perder peso, deixar o sedentarismo ou melhorar os níveis de colesterol - o primeiro passo antes de iniciar uma ativi- dade física é passar por um checkup médico. Com uma avaliação médica em mãos é possí- vel saber qual o nível de condicionamento físico e, a partir dessa informação, procurar a atividade mais adequada. CONCLUSÃO Quando o ritmo de movimentação do corpo aumenta para o recomendável por especialistas, os órgãos sofrem efeitos. O coração é o principal bene- ficiado, pois todo o ciclo de uma vida sedentária cria problemas para ele. Assim que eles são excluídos, o peso, a cintura abdominal e o colesterol ruim dimi- nuem e a pressão arterial passa a ser mais controla- da. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 53 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Tudo isso faz bem ao coração. No entanto, o le- que de benefícios não termina. Os músculos do corpo ficam mais firmes, a coordenação motora ganha me- lhora, os ossos passam a absorver mais o cálcio inge- rido pelo organismo, o que motiva seu fortalecimen- to. Além disso, quem se exercita e segue uma dieta balanceada é capaz de manter o peso ou perdê-lo com mais facilidade. A respiração fica mais eficiente, melhorando a capacidade pulmonar e aumento na capacidade de consumo de oxigênio. Qualquer pessoa pode se beneficiar dos efeitos da atividade física. Os resultados favoráveis são simila- res para os adultos de várias idades, incluindo idosos, bem como para os adultos de várias raças e etnias. O CORPO E A EXPRESSÃO ARTÍSTICA E CULTURAL; A tradição intelectual do ocidente foi marcada pela dissociação entre o corpo e a mente, a persona- lidade e a natureza, o intelecto e o senso de sentimen- to e de intuição.Esta dissociação vem impregnando toda e qualquer abordagem de vida adotada pelo homem ocidental: intelectual, religiosa, econômica ou política. A cultura ocidental icentivou-nos a cultivar o inte- lecto, desde o tempo de Platão e de São Paulo até o século XX, organizando-nos pelo uso de conceitos es- táticos da natureza. A ciência tratou de partes isola- das, compartimentalizadas, esgotando seus recursos reducionistas e tornando-se até uma ameaça mun- dial em muitas de suas invenções. Descartes introduziu uma rigorosa separação da mente e do corpo a partir da ideia que o corpo é uma máquina que pode ser entendida em termos da organização e funcionamento de suas peças (mode- lo biomecânico. Mente e corpo pertenciam a dois domínios paralelos e diferentes, podendo ser estuda- dos sem referência ao outro. O corpo era governado por leis mecânicas, mas a mente (ou alma) era livre e imortal. A nossa herança cultural acostumou a pensar o homem a partir do espírito, dualisticamente, onde o valor nobre, supremo reserva-se à parte espiritual e à dimensão corpórea fica com uma função de serviçal. Em suas análises sobre as relações de poder nas sociedades e em várias épocas percebe de forma diferente a questão corpórea. Entende que o corpo, ao longo dos séculos XVIII, XIX e início do XX, sofreu um forte investimento do poder. Afasta ele a tese de que o poder, nas sociedades burguesas e capitalistas teria negado a realidade do corpo em proveito da alma, da consciência, da idealidade. Argumenta para tal que nada é mais material, nada mais físico, mais cor- poral do que o exercício do poder. “O corpo humano entra numa maquinaria de po- der que o esquadrinha, o desarticula e o recompõe. Uma ‘anatomia política’ que é igualmente uma ‘me- cânica do poder’ está nascendo; ela define como se pode ter domínio sobre o corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se quer, mas para que operem como se quer, com as técnicas, segundo a rapidez e a eficácia que se determina”. Entende que a coerção disciplinar estabelece no corpo o elo coercitivo entre a aptidão aumenta- da e uma dominação acentuada, da mesma forma como a exploração econômica separa a força e o produto do trabalho. Já vislumbrava os efeitos de uma sociedade onde o corpo humano reduziu-se ao número, onde a visibilidade da carne fora cada vez mais encadeada ao lucro invisível e impiedoso, mo- tor da sociedade moderna. A partir da segunda metade do século XX as sociedades industriais elaboraram novas formas de exercerem o poder sobre o corpo, mais tênues e su- tis, camufladas por um discurso de culto ao corpo, de “descoberta” corporal. Sabendo que cada cultura impõe aos indivíduos o uso determinado do seu cor- po, precisamos buscar elementos reflexivos que au- xiliem na interpretação e decodificação dos ‘signos sociais’ que constantemente impregnam-se no cor- po. Para esta reflexão considero necessário tecer co- mentário sobre as abordagens conceituais do corpo. Historicamente registram-se três momentos con- ceituais. No primeiro momento o corpo inspirava-se em três perspectivas básicas, quais sejam: distinção entre o corpo e a alma; relação com as divindades e a imortalidade; e pela diferença entre o homem e o animal. Em Platão, o corpo era o vilão da estrutu- ra ontológica do homem, símbolo da decadência e uma fonte de vícios e males. Acreditava-se ter sido o corpo colocado no homem como castigo e como um perigo constante para sua evolução. A modernidade marca o segundo momento, sen- do o corpo caracterizado por duas atitudes básicas: de libertação das influências teológicas e de vincu- lação às questões epistemológicas, relacionando-o as possibilidades e a validade do conhecimento hu- mano. Descartes foi quem inaugurou esta virada nas questões corpóreas seguido por Kant, Hurssel, Apel, Pascal, e Rhum, dentre outros. Em ambos os momentos, o corpo continuou um humilde servo no palácio das ciências, submetido aos modelos teóricos, pois para a ciência e a téc- nica o corpo só obedecia e marchava. Foi por esta manipulação e dominação na utilização do corpo como ‘objeto’ que se tornou possível a consciência do próprio corpo. Assim chega-se ao terceiro mo- mento, onde se observa uma reflexão filosófica con- temporânea preocupada em aprender a sabedoria Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 54 do corpo, visualizando-o como um organismo vivo, pois ao dispor do seu corpo, o sujeito é sujeito da sua ação e da sua percepção, manifestada no mundo por sua própria corporeidade. Este corpo descoberto é social, real, onde a cons- ciência do próprio corpo se deu por efeito do inves- timento do corpo pelo poder: a ginástica, os exercí- cios, o desenvolvimento muscular, a nudez, a exal- tação do corpo belo ... resultando no investimento do corpo contra o poder, sendo ele, nesta dialética, sujeito e objeto de transformação. O corpo tem sempre uma linguagem de trans- gressão ou afirmação, sendo importante por reformu- lar, explicitar, colocar questões que às vezes a fala é incapaz de expressar. A existência humana então não só passa pelo corpóreo como o supõe, devendo ser ele entendido na riqueza de sua totalidade que se transforma na sua dimensão humana e histórica. Penetrar dialeticamente no corpóreo significa, recu- perar as condições e relações em que os fenômenos se realizam, recuperar seus movimentos sociais. Necessita-se reconhecer que o homem é defini- do pelo seu corpo, sendo ao mesmo tempo seu dono e sua expressão, organizando-o pelo movimento. Movimento que se torna gesto, gesto que fala, que instaura presença expressiva e única, comunicativa e criadora, ou presença mecânica e reprodutiva, in- tegra uma totalidade, indo desde a expressão dos sentimentos até o gesto mecânico, sem vida. É inegável que a motricidade constitui-se e se constrói ao longo da história da humanidade, tanto pela relação dos antropóides com a natureza, quan- to entre si, na produção e consumo dos bens social- mente necessários a sua sobrevivência, no trabalho, na construção de sua organização social. A maturação do indivíduo não se limita portanto só ao contexto biológico; ela é também dependente do contexto histórico e cultural (mundo dos valores humanos). Deste modo, torna-se claro que o movi- mento humano apresenta-se sob a forma sociológi- ca por provocar a transição de uma interioridade e modificar o ambiente dos outros e dos objetos. Antes da primeira pedra ter sido talhada pela mão humana transformando-a em um objeto cor- tante, certamente passou-se períodos aos quais o período histórico que se conhece surge como insigni- ficante. Porém, o passo decisivo havia sido dado - a mão libertara-se; e por conseguinte, o corpo todo. O movimento, ou seu significado, abriu o processo de distanciamento do homem em relação aos demais seres vivos. Neste estudo estou a considerar o movimento determinado no espaço e no tempo, o movimento que se constrói na relação do homem com suas con- dições objetivas de vida, o movimento social, não podendo portanto, ser compreendido isolado da sua história. A motricidade enquanto universo em cons- trução, as relações humanas, a visão, a vontade, a atividade, o amor, ..., todos os órgãos e expressões de sua individualidade são órgãos vinculadamente sociais por seu comportamento, ou na relação com o objetivo de apropriação da realidade humana. É preciso compreender o movimento no contexto de suas dimensões reais, históricas, sociais, pois o homem não nasceu pulando, correndo, saltando..., o movi- mento tem sua história e precisamos contá-la, refletir suas constancias e transformações, recriá-la. Assim chega-se à Educação Física, prática social, milenar, portadora de uma forte carga cultural por tratar das manifestaçõesexpressivas da cultura cor- poral, desenvolvidas ao longo da história da huma- nidade. O conhecimento próprio desta prática pe- dagógica se faz necessário para o entendimento da realidade atual, porém torna-se imprescindível um tratamento pedagógico em relação a sua prática cotidiana e à eleição e definição de seu objeto de estudo. Presencia-se a prática pedagógica da Educa- ção Física brasileira consubstanciada no paradigma da aptidão física. Estes autores relatam a hegemonia do entendimento da Educação Física sobre o prisma da aptidão física, referenciada até como sendo a solução para casos epidêmicos e anti-higiênicos em um determinado momento histórico do Brasil, sofren- do também influencias diretas do militarismo e da competição própria do nosso modo de produção, bem como a consideração do corpo como objeto a ser manipulado, exercitado, medido, avaliado, se- lecionado. Seu objeto de estudo nesta perspectiva é o de- senvolvimento da capacidade física para a produ- ção de homens máquinas, corpos dóceis, submissos e obedientes, corpos produtivos e passivos. Este para- digma que está em vigor até hoje é inclusive respal- dado pela legislação vigente (decreto-lei 69450/71). Nos anos oitenta presenciamos um repensar de sua prática pedagógica, uma crítica às posições ‘acríticas’ assumidas por seus intelectuais e uma re- flexão acerca da prática mecânica e reprodutora de suas aulas. A partir dessa ebulição, surge novas propostas, novas perspectivas de entendimento da Educação Física enquanto prática pedagógica de- sencadeando novas teorias, dentre elas cito a que considero mais pertinente para auxiliar na construção de uma nova prática pedagógica para a Educação Física, qual seja, o paradigma da cultura corporal, a perspectiva do conflito. Nesta concepção a Educação Física tem como objeto de estudo temas inerentes a cultura corporal, que a compõe historicamente: jogo, ginástica, dan- Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 55 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS ça, esporte, porém tendo um tratamento pedagógi- co diferenciado da anterior, por considerar o homem como sujeito histórico social, definindo que a consci- ência corporal se dá pela compreensão a respeito dos signos sociais tatuados em seu corpo. Esses são signos coletivos e diferenciados conforme a sua situ- ação de classe. Esta compreensão e superação é condição para participarmos do processo de construção do nosso tempo e da elaboração de novos signos a serem gravados em nosso corpo. Para tal, sua prática pe- dagógica não camufla o conflito, mas age a partir dele, com ele, tentando a sua superação para a ela- boração de novos conflitos e novamente sua supe- ração ... Através dos estudos empreendidos, arrisco-me a afirmar que uma Educação Física realmente preocu- pada com o ser humano deve considerar os conflitos sociais, o homem em sua historicidade, as dimensão cultural das expressões da motricidade humana e o sentir, pensar e agir como totalidade dialética do ser, pois as sinergias musculares que caracterizam o mo- vimento humano serão tanto mais ricas quanto mais trouxerem em seu bojo uma expressão significativa da própria vida; senão, tornam-se gestos mecânicos em nada diferentes dos de um robô, ou de uma ou- tra máquina qualquer. Ampliar esta significação pa- rece-me também (e não só) ser papel da Educação Física. Assim, percebe-se que no contexto de nossa so- ciedade, por diversos fatores, descuidou-se do cor- po, utilizando-o sem conhecer o seu funcionamento, desestimulando suas potencialidades, fragmentan- do-o. Acredito que numa perspectiva de formação inacabada, o corpo não deve ser apenas um objeto constantemente julgado e discriminado, desconside- rando-se sua natureza dialética. O corpo não pode ser apenas uma peça na engrenagem social, cum- prindo sua função de produtor, reprodutor e consu- midor de uma política coercitiva. Deve sim ser considerado em todas as suas di- mensões, descortinando suas possibilidades e traba- lhando seus limites. Deve-se compreendê-lo como uma parte individual e coletiva do todo social na sua dimensão humana, lidar com eles sem tirar-lhes suas características pessoais, sem “moldar-lhes”, mas des- cobrindo todos os canais para viver prazerosamente (seriamente) a vida, com tarefas individuais e cole- tivas, políticas e pedagógicas, corpóreas e sociais, pois é dialeticamente que o real se manifesta. Faz-se necessário entender que o movimento hu- mano traduz a maneira de ser do indivíduo no mun- do, indivíduo este marcado por sua realidade social (marcas tatuadas em seu corpo, e que chega-se ao movimento criador através da vivência reflexiva que gera a consciência, de uma vivência humanizada onde ele se considere construtor de seu tempo e de sua história. Para tanto, penso que a Educação Física precisa assumir-se como preocupada com o ser total, com a formação desse indivíduo social, considerando o movimento uma forma do ser humano ser sempre mais, cultivando a criatividade, a curiosidade episte- mológica do ser humano, definindo a aprendizagem não como absorção, mas como exploração curiosa e rigorosa do seu mundo social, apropriando-se dele, para que possa intervir no mesmo e transformá-lo. Necessita-se para tal, mudar o eixo educativo, re- fletir as questões sociais e políticas nas manifestações da cultura corporal, mudar da alienação, opressão e docilização dos corpos, para a libertação do ser, pois uma educação que não considera a historicidade, as expressões motoras, as contradições e injustiças sociais, ou seja a contextualização e a compreensão do cidadão em seu meio e do seu ser cidadão, cas- tra as possibilidades deles se tornarem produtores cul- turais e agentes de seu tempo e de sua história, não devendo nem ser considerada educação. O CORPO NO MUNDO DOS SÍMBOLOS E COMO PRODUÇÃO DA CULTURA; Sobre o corpo é possível perceber que ele vem sendo tematizado e discutido por diferentes institui- ções sociais e nas mais diversas formas de cultura, pensamento e conhecimento, como, por exemplo, a Religião, a Ciência, a Arte e a Educação. É certo que falar sobre o corpo é algo antigo. Da mesma for- ma que refletir sobre os padrões de beleza impostos, bem como a beleza enquanto busca constante do ser humano, não é novidade. Compreendemos que falar sobre o corpo e a beleza na Educação e na Educação Física não é novidade. É comum ouvirmos em eventos das áreas que o corpo está inflaciona- do, fato de que o autor discorda. Concordamos com ele, haja vista as histórias contadas em torno desse fenômeno na área parecerem ser histórias sem cor- po, pelo menos o corpo enquanto elemento essen- cial de nossa existência. Do mesmo modo, há mui- tos escritos sobre o corpo; haveria ainda algo a ser dito? Talvez não, diz ela. No entanto, para a autora, paradoxalmente ainda há a impressão de que falta muito a ser realizado quando se trata de corpo, nas práticas educativas, especialmente como condição existencial. Diante disso, compreendemos que a Edu- cação continua sendo um espaço profícuo em que os sentidos e as concepções do corpo e da beleza vêm sendo discutidos e refletidos. Não obstante, en- contra-se o corpo como fonte fecunda de conduzir e reconvocar o homem para além dos conhecimen- Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 56 tos objetivistas. Em outras palavras: “No campo do conhecimento do corpo, coloca-se um reexame e reinvestimento dos modelos existentes, como condi- ção para se criar novos materiais ou novos meios de expressão”. Nesse sentido, a universidade, enquanto lugar de reflexão, crítica, debate, construção e produção de conhecimento, possibilita ao homem o que há de mais grandioso nela, ou seja, pôr o ser humano diante da dúvida, diantede questionamento e de um processo que se constrói pelos erros, pela nega- ção, por rupturas, continuidades e, sobretudo, por conhecimento. Encontramos nos trabalhos de disser- tações um campo empírico de investigação vasto e privilegiado para compreender quais são os co- nhecimentos abordados na produção científica. É certo que esta não possui uma verdade absoluta e inquestionável, mas busca refletir os saberes que são veiculados na vida social. Logo, as produções de co- nhecimento advindas das universidades, ao transitar entre a cultura social e científica, são capazes de re- ligar os discursos da ciência à sociedade. Sobre isso, a produção do discurso é controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certos procedimentos, que se desloca constantemente, construindo verda- des. Como ele mesmo esclarece: “O discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os siste- mas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar.” Nessa perspectiva, compreendemos que os trabalhos dis- sertativos nos fornecem elementos significativos para perceber as concepções de corpo e de beleza que têm sido discutidas na produção científica na área, neste trabalho especificamente na área de Educa- ção Física. Sendo assim, partindo da multiplicidade de sentidos que envolvem o corpo e a beleza, bus- camos as implicações que essa discussão traz para a área da Educação Física a partir de alguns ques- tionamentos: Quais concepções de corpo e bele- za têm sido discutidas na produção acadêmica da Educação Física, em nível de mestrado? Qual a rela- ção entre os significados do corpo e da beleza iden- tificados nas produções analisadas e os modelos de beleza na Educação Física? Imersos nesses questio- namentos, temos como objetivos dessa investigação: identificar e analisar as concepções de corpo e de beleza na produção acadêmica da Educação Físi- ca, em nível de mestrado, considerando a frequên- cia dos sentidos encontrados; discutir sobre os signifi- cados do corpo e da beleza encontrados nas disser- tações defendidas nos Programas de Pós-graduação em Educação Física e a relação que estabelecem com o pensamento sobre corpo e beleza nessa área de conhecimento. Entendemos que essa pesquisa mostra-se necessária, devido à grande recorrência na produção do conhecimento que trata do corpo e da beleza. E, principalmente, porque há uma ausên- cia de estudos que discutem as produções científicas já existentes em nível de mestrado. Assim, confirma-se a importância que essa proposta assume, haja vista a beleza necessitar ser continuamente indagada e refletida, especialmente nos espaços de formação e produção do conhecimento. Para produção dos dados do nosso estudo, optamos pelo caráter meto- dológico a pesquisa de natureza qualitativa, tendo a Análise de Conteúdo proposta para tratamento dos dados, privilegiando como técnica a proposta de análise temática. A Análise de Conteúdo enquanto método investigativo busca desvendar os sentidos escondidos e os significados latentes, que só podem surgir depois de uma observação crítica e criteriosa. Isto é, afastar-se dos perigos da compreensão espon- tânea, despistando impressões iniciais, desconfiando do que é familiar e, portanto, indo além das aparên- cias. Para tanto, buscamos constatar quais concep- ções de corpo e beleza têm sido discutidas na pro- dução acadêmica da Educação Física, em nível de mestrado, compreendendo a disparidade de infor- mações e buscando o que nelas existe em comum. A partir disso, foi possível interpretar os significados que emergiram dos trabalhos analisados, possibilitando a sua compreensão com rigor e cuidado. Iniciamos com uma leitura flutuante, em que o pesquisador deixa se invadir por percepções, ideias e impressões. Dessa maneira, estabelecemos os primeiros contatos com o material a ser analisado, tendo como foco de análise os resumos das dissertações. Feito um levanta- mento geral 1 e quantificados os dados, priorizamos para a nossa análise e reflexão os trabalhos de dis- sertação na área de Educação Física. Desse modo, nosso corpus de análise inicial foi composto por 11 dissertações da área de Educação Física, publicadas no Banco de Teses da Capes, mais especificamen- te nos anos de 2004 a 2008, selecionadas a partir da temática corpo e beleza. A escolha por investigar especialmente as dissertações publicadas entre os anos de 2004 e 2008, foi determinado por esse pe- ríodo abranger os anos com maior recorrência nas produções. Quanto a isso, os números das produções científicas na área de Educação Física comprovam que há um aumento com o passar do tempo, espe- cialmente nos últimos 5 anos investigados 3. Nesse percurso, das 11 dissertações previstas para essa in- vestigação só foi possível analisar 8, às quais tivemos acesso. Logo, o corpus de análise para as nossas re- flexões é composto por 8 dissertações produzidas nos Programas de Pós-Graduação em Educação Física, publicadas no Banco de Teses da CAPES no perío- do de 2004 a 2008, selecionadas a partir da temática Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 57 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS corpo e beleza. Iniciamos com uma leitura flutuante, tendo como foco de análise os resumos das disserta- ções disponibilizados no Banco de Teses da Capes. Na seqüência, passamos para a leitura integral do material disponível, buscando identificar em cada trabalho, quais eram as concepções de corpo e de beleza presentes. Feito isso, extraímos as unidades de registro das dissertações, selecionando citações que revelavam as concepções de corpo e de beleza. A etapa seguinte foi a produção dos núcleos de sentido, nas quais foi possível agrupar as unidades de registros e os núcleos de sentido pela articulação das reflexões que havia nos trabalhos. Organizadas as unidades de registros e os núcleos de sentido, pas- samos à categorização, identificando o que os tra- balhos têm em comum com outros. Assim, agrupa- mos os núcleos do sentido pela frequência de ideias, compondo as categorias temáticas da pesquisa, os quais priorizaremos para nossas reflexões, a saber: Corpo, Beleza e Cultura. Sendo assim, as linhas que seguem almejam refletir essa categoria temática, re- lativa às reflexões sobre o Corpo e à Beleza. Corpo, Beleza e Cultura A partir do corpus de análise, é pos- sível configurar argumentos em torno das concep- ções de corpo e de beleza presentes na produção científica da Educação Física. Considerando isso, destacamos que a área tem discutido o corpo a par- tir de um diálogo que recusa as dicotomias e os de- terminismos entre natureza e cultura. Nesse contexto, apresentaremos nas linhas que seguem essa con- cepção encontrada, na perspectiva de discutir os fenômenos corpo, natureza e cultura em sua relação com a beleza numa vivência sensível do humano. O corpo enquanto território da humanidade, emblema da existência e materialidade da vida, é um verda- deiro arquivo vivo e fonte inesgotável de sedução. Ele revela experiências, sentimentos, memórias e mo- vimentos que o constitui enquanto elemento único e coletivo, singular e plural. Ao ser marcado pelos va- lores e pelas relações sociais, o corpo é influenciado pelo contexto cultural em que está inserido. Sendo assim, é possível pensá-lo numa relação polissêmica e social, portanto cultural. Embasados nisso, os fundamentos que alicerçam as compreensões de corpo e de beleza de algumas dissertações inserem-se nesse contexto de reflexões, compreendendo o corpo pela sua condição cultural. Essas dissertações apresentam a cultura como um fa- tor indispensável para a compreensão do corpo e da beleza, reconhecendo que o indivíduo é marcado pelo contexto cultural em que vive: “O corpo e o uso que se faz dele é uma construção cultural dotadade sentidos e significados.” Pautado nisso, é possível per- ceber em algumas dissertações a compreensão do corpo como lugar de inscrição da cultura, como na citação que segue: “Os códigos culturais estão inscri- tos no corpo, que, por sua vez, sinalizam o conjunto de regras, normas e valores do grupo, fornecendo uma via de acesso à estrutura social. Nesse sentido, as dis- sertações em sua maioria, compreendem que o nos- so corpo e todas as formas de representação huma- na são constituí- dos de preceitos culturais e sociais, o que nos faz entender que o corpo traz os registros da cultura de que faz parte, como podemos perceber nesta citação: “Os aparatos de um gesto podem ser mecânicos, anatômicos, mas o que ele representa é simbólico e, portanto, cultural.” E de fato, tudo no homem faz parte de um sistema de valores que são próprios de um grupo social, aspectos biológicos que se declinam social e culturalmente, implicando na condição humana diferenças tanto coletiva, quanto individual. Dessa forma, nas dissertações analisadas o corpo é pensado nas relações entre o biológico e o cultural, pautado por saberes socialmente constru- ídos: “Nossas gestualidades mais simples e comuns são dota- das de significados culturais.” Diante disso, entendemos que toda modificação corporal é per- meada por um imenso leque de significações biológi- cas, culturais e sociais: “o corpo expressa a história in- dividual e a história acumulada de uma sociedade”. Sendo assim, há que se considerar as diversas ideias de beleza existentes em nosso planeta, assim como as singularidades pessoais, culturais e históricas, haja vista os valores sociais, históricos e culturais serem fundamentais para compreendermos que o modo como cada ser humano percebe a beleza é eminen- temente variável e reconstruído a partir do local e da época em que ele está inserido. Nesse pensamen- to, observamos que algumas das dissertações ana- lisadas apontam para a problematização e reflexão acerca das especificidades culturais, reconhecendo que os padrões de beleza são determinados cultural- mente. Um exemplo desse discurso por ser dado na citação a seguir: Se o corpo é o local privilegiado de impressão das possibilidades, das regras e restrições de uma sociedade, é o próprio corpo que transforma e é transformado dentro desse contexto, através de uma educação dos gestos, das posturas dentro de cada grupo social. A própria forma como é concebido, os padrões de beleza, os cuidados com o corpo são ex- tremamente distintos entre as culturas. (FERNANDES, 2004, p. 52) Destarte, os trabalhos dissertativos citados estão embasados na ideia de reconhecer o corpo através de seu entrelaçamento com a experiência vivida e na impossibilidade de separá-lo dos valores e das condutas sociais, como podemos perceber no pró- ximo relato: Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 58 Pela interferência da cultura local, o corpo é construído e avaliado, de acordo com os preceitos regionalizados [...] os indivíduos envolvidos cultural- mente estão sujeitos a atenderem apelos culturais [...] Os indivíduos são classificados de acordo com pa- drões do momento ou cultura que são subjetivos, por serem parte de cada elemento da sociedade que cultua aquela for- ma de beleza e não outra. (CALA- BRESI, 2004, p. 79-103). Desse modo, compreendemos que o homem constrói seus valores, suas condutas e seus concei- tos a partir de um contexto sociocultural próprio. Essa compreensão pode ser evidenciada no contexto re- ligioso dos indivíduos, pois sendo a religião uma das referências de educação do homem, ela determina as ações e os comportamentos dos indivíduos. En- tendemos que o contexto religioso discutido em um dos trabalhos (RIGONI, 2008) apresenta essa relação sociocultural à qual nos referimos, como segue a ci- tação: A educação religiosa interfere e, por vezes, deter- mina as ações e os comportamentos dos indivíduos, o que se aplica, também, ao uso e à construção do corpo do fiel. Isto se deve a um conjunto de atitudes permitidas ou não, ensinadas ou não, de acordo com as crenças de cada religião. (RIGONI, 2008, p. 13) Desse modo, compreendemos que o contexto re- ligioso enquanto parte da cultura de um povo influen- cia na educação corporal e nos usos do corpo dos indivíduos, especialmente no que se refere à concep- ção de beleza do corpo feminino, como corroboram esses discursos: Diante desta sociedade do “consumo da bele- za”, é difícil imaginar que alguém fique - ou tente fi- car- de fora na luta para alcançar os padrões corpo- rais tidos como perfeitos. O fato é que existem muitas mulheres que ficam. Estas mulheres ainda carregam consigo o peso da moral religiosa e optam por viver e “consumir” um corpo de outra forma, a forma di- tada pelo seu grupo religioso. Em nossa sociedade, os “modelos” de corpo também são, de certa forma, padronizados, mas não pela sociedade da beleza e, sim, por um grupo religioso. (RIGONI, 2008, p. 53) Diante disso, compreendemos que o corpo se comunica, exprime e revela uma gama de emoções numa constante e indubitável relação com o mun- do. De acordo com Merleau-Ponty (2006) tudo nos é acessível através do corpo; o mundo nos é revelado pelos nossos sentidos e pela experiência de vida. Já dizia o filósofo que tudo o que sabemos do mundo sabemos a partir de nossas experiências pessoais. Esse pensamento aponta para o corpo em suas relações com o mundo, a partir de suas experiências vividas, para além de uma propriedade física, anatômica ou fisiológica, como a própria definição do ser humano. Assim, sendo a beleza vivenciada nas múltiplas rela- ções que envolvem o homem e o mundo, é necessá- rio pensá-la como fonte inesgotável de significações e campo aberto aos sentidos, superando os valores e os padrões corporais. Nesse contexto, sem neces- sariamente referenciar o filósofo Maurice Merleau- -Ponty, alguns trabalhos trazem essa compreensão do corpo numa relação de inerência com o mundo, a exemplo da seguinte citação: “O corpo é também o resultado de uma história pessoal e coletiva, inte- grado com a natureza, o meio ambiente e o corpo de outras pessoas” (CORRÊA, 2005, p. 33). A partir dis- so, é possível perceber que para os autores não há apenas uma concepção, um conjunto de coisas ou uma configuração padrão para a beleza. Logo, para eles a concepção de beleza pode ser diversa em uma mesma representação, em um mesmo corpo ou numa mesma situação perceptiva. Nesse pensa- mento recorremos a Nóbrega (2008) que, ao falar do olho como metáfora do corpo na pintura, pautada nas ideias de Merleau Ponty, acrescenta que: “Assim como na obra de arte, os olhares que se entrecruzam diante dos conceitos, das noções, das estratégias são permeados de sensibilidade e provocam múltiplos sentidos.” (NÓBREGA, 2008, p. 399). Nessa conjectu- ra, nos apoiamos também nas reflexões de Merleau Ponty, que, ao tecer reflexões sobre a relação do pin- tor com seu corpo, fornece-nos elementos significa- tivos para o nosso pensamento sobre o corpo. Diz o filósofo: “[...] é preciso reencontrar o corpo operante e atual, aquele que não é uma porção do espaço, um feixe de funções, que é um trançado de visão de movimento.” (MERLEAU-PONTY, 2004, p. 16). De fato, as dissertações analisadas, consideram a vivência da beleza como uma possibilidade de envolvimento e aguçamento dos sentidos para além dos modelos ou das informações contidas no objeto. Portanto, a be- leza é compreendida na relação de imanência entre o sujeito e o objeto e na troca recíproca entre estes, em que novas interpretações são possíveis, advindas de experiências já vividas. E, assim consiste o enig- ma da beleza. Ela produz sentidos que não podem ser aferidos, significações que não podem ser prede-terminadas, pois o visível e o invisível nessa situação consiste naquilo que olhamos e indubitavelmente so- mos afetados. Sobre essa cumplicidade do vidente com o visível, em que as posições de sujeito e objeto se alternam e se entrelaçam simultaneamente, não sabendo mais quem vê e quem é visto, diz-nos Merle- au-Ponty (2004, p. 17): O enigma consiste em meu corpo ser ao mesmo tempo vidente e visível. Ele, que olha todas as coi- sas, pode também se olhar, e reconhecer no que vê então o “outro lado” de seu poder vidente. Ele se vê vidente, ele se toca tocante, é visível e sensível para si mesmo. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 59 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Tomando as palavras do autor aqui referidas, so- mos levados à compreensão do corpo para além dos modelos, padrões e formas que lhe são impostos. O corpo não como uma mera formação biológica, mas como fonte visível e sensível, pincelado por es- critos e marcas em sua existência. Assim, diante do processo de “normalização” e padronização do cor- po, as dissertações analisadas, alertam para a neces- sidade da crítica e da relatividade dos dados da ci- ência, criticando a universalização das formas, aten- tando para as histórias e cultura do corpo, que lhe fornecem o substrato de sua existência. De acordo com Silva (2001), o corpo, ao ser formulado em bases estatísticas e medidas padronizadas, é generalizado pelos profissionais vinculados às ciências biomédicas, indicando uma tendência de mundialização desse referencial de corpo. Para a autora, ainda que o uso das medidas e avaliações apresente um referencial de corpo a ser atingido, em suas compleições físicas, há condições objetivas que não permitem atingir esse corpo considerado ideal. Como asseguram suas palavras: “[...] o modelo de corpo proposto pela ci- ência é um corpo inexistente, porque ninguém cor- responde às estatísticas vigentes.” (SILVA, 2001, p. 91). Corroborando esse pensamento, na crítica à padro- nização do corpo, enfocada pelas tabelas de men- suração e avaliação corporal, destacamos o discur- so a seguir: Basicamente, as tabelas de base utilizadas apre- sentam poucas possibilidades: estar dentro de um padrão considerado “normal”, “acima do peso” ou “abaixo do peso”. Esses procedimentos acabam desconsiderando as especificidades biológicas, geo- gráficas e culturais dos indivíduos [...] Padrões de be- leza que, no entanto, podem nem ser alcançados. (FERNANDES, 2004, p. 40-43). De fato, as experiências, as vivências, os concei- tos e as concepções perpassam nosso corpo, entre- laçando o mundo biológico e cultural. E isso pode ser evidenciado nos trabalhos dissertativos, como nos mostram os discursos a seguir: “O corpo é o lu- gar onde se opera a simbiose entre o biológico e o cultural [...] uma construção histórica – logo, múltipla, polissêmica e plural” (VASCONCELOS, 2005, p. 91). Sendo o homem uma construção tanto biológica quanto cultural, seria muito difícil traçar uma linha e separar o que nele é biológico ou cultural, singular ou universal. Corroborando esse pensamento, Por- pino (2006, p.20) acrescenta: “Somos, ao mesmo tempo, cultura e natureza, corpo e espírito, razão e emoção, numa simbiose que não pode ser desfeita.” Recorremos ainda ao etnólogo Claude Lévi-Strauss (1976), que, ao questionar a fronteira entre natureza e cultura, reflete sobre inseparabilidade entre ambas. Para o autor não é possível distinguir no homem onde começa a natureza ou a cultura, assim como onde uma se transforma na outra, mas somente como elas se complementam. Diante disso, corpo, natureza e cultura são interdependentes e se interpenetram, ex- pressando no homem um imbricar simultâneo entre o biológico e o cultural. Portanto, não há como distin- guir no homem o dado e o criado, o hereditário ou o inato, já que tudo no homem é dado e construí- do simultaneamente. (MERLEAU-PONTY, 2004). Nessa perspectiva, observamos, nas produções do conhe- cimento de Educação Física analisadas, que essa re- lação entre natureza e cultura é uma compreensão recorrente no trato do conhecimento da área e do corpo. Percebemos que as produções analisadas afastam-se das discussões nas quais o corpo é visto prioritariamente sob o aspecto biológico e das anti- nomias entre o orgânico e o cultural, reconhecendo o corpo humano a partir da união de ambos. Sendo assim, destacamos que as concepções de corpo e de beleza presentes na produção analisada, ao pau- tarem-se nessa relação, avançam no conhecimento sobre o corpo, mesmo diante do forte avanço histó- rico que a Educação Física passou. A área, ao per- ceber que corpo, natureza e cultura interpenetram- -se simultaneamente, avança para além do aspecto objetivista, reconhecendo tanto as diversidades indi- viduais e culturais como a possibilidade de diálogo entre os seres humanos. Um conhecimento sobre o corpo que ultrapassa a racionalidade instrumental e os determinismos humanos, configurando possibilida- des de novas formas de ser, de vi- ver e de vivenciar o belo. Diante da convergência do pensamento dos au- tores tematizados que problematizam a visão dicotô- mica do corpo, pensamos que a Educação Física, ao perceber que os esquemas simbólicos e inatos se in- terpenetram intrinsecamente, redimensiona as con- cepções tradicionais da área a partir da compreen- são de um corpo vivo, que, em vez de fragmenta- do, é uma unidade existencial. Essa compreensão aponta para outra perspectiva de corpo e beleza na área, que não se reduz às concepções universalizan- tes nem a um modelo único, mas que, reconhecen- do seus limites e possibilidades, é capaz de refazer sentidos próprios para a vida e a existência humana. Considerações finais Compreendemos que, em- bora a produção analisada não represente a área como um todo, as dissertações como forma de co- municar os saberes, a produção e o pensamento da área, nos fornecem elementos significativos para perceber que elas imputam a compreensão de que o conhecimento sobre o corpo e a beleza na Educa- ção Física avançou. E que os discursos outrora pau- tados na objetivação e no determinismo humano aparecem como referenciais históricos da área, que Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 60 podem ser amplamente questionados e redimensio- nados. Dessa forma, no campo de significações des- vendado pelo corpo e pela beleza na Educação Físi- ca, expõe-se um leque de sentidos conferidos a esses fenômenos, a partir da construção de saberes que perpassam o conhecimento epistemológico da área. Com base nas dissertações analisadas, constatamos que as concepções de corpo e de beleza discutidas atualmente na Educação Física são permeadas por reflexões que compreendem o corpo também pela sua condição cultural, apresentando a cultura como um elemento imprescindível para a compreensão do corpo. A produção acadêmica da Educação Física apresenta e reconhece a cultura como via de aces- so necessária para o conhecimento humano. Desse modo, o homem não é entendido isoladamente, mas como um tecido marcado pelas coisas do mundo, instituindo níveis de ordem simbólica, transformando o entorno, criando e recriando culturas. Nos traba- lhos investigados, o corpo aparece como evidência da existência humana, constituído por uma dimen- são de sentidos e valores conferidos no mundo. O conhecimento sobre o corpo, nesse sentido, não é visto apenas,como um mero receptor isolado do mundo, pois, como corrobora Nó- brega (2008), o corpo é feito do mesmo estofo do mundo. Logo, o ho- mem, nos discursos investigados, está pautado na condição de sujeito de uma cultura representada por um leque de signos e símbolos dentro de uma so- ciedade, sendo também reconhecido como cultural. Desse modo, pensando na imanência entre naturezae cultura presente na existência humana, o fenôme- no corpo atuando no mundo da experiência vivida revela e engloba singularidades sobre a aparência e a estética como uma experiência sensível, aberta e inacabada. Nesse sentido, os trabalhos investigados afirmam que as concepções de beleza são determi- nadas pelos valores e códigos de um grupo social, embora os sujeitos apresentem possibilidades diver- sas para o belo, advindas de experiências já vividas. Percebemos, também, nas dissertações analisadas, que o corpo humano é reconhecido por sua inscri- ção biológica e cultural, e que suas escolhas, além de serem pautadas por contextos sociais, expressam sentidos diferenciados. O entrelaçamento entre os códigos biológicos e culturais são evidenciados nas discussões como próprio da dimensão corpórea. Os autores reconhecem que a vida humana não se re- duz aos condicionantes biológicos, tampouco aos condicionantes culturais. Ao contrário, apontam a ideia de ruptura entre o biológico e o cultural, bem como do determinismo só natureza ou só cultura, reconhecendo o corpo humano como biocultural, em que natureza e cultura constituem a existência humana num processo imanente e ininterrupto, pois ambos são codependentes. Portanto, foi possível ob- servar que a compreensão do corpo e da beleza na área vem sendo ressignificada ao admitir outras con- cepções estéticas de belo, sobretudo relacionadas às singularidades expressas no corpo humano e na cultura em que o indivíduo está inserido, o que repre- senta o avanço ocorrido na área no trato do conhe- cimento do corpo e da beleza. Diante do exposto, pensamos que a Educação Física em seu contexto educativo, pode contribuir para um olhar crítico fren- te aos valores que permeiam a sociedade, frente às constantes mudanças nos conceitos de beleza, pos- sibilitando outros sentidos nas questões relativas ao corpo e a beleza. Tendo em vista que a sociedade pode influenciar de maneira significativa a visão de corpo e de be- leza, é necessário que a Educação Física, possibilite intervenções numa perspectiva crítica, tendo como referência a necessidade de produzir diversos olhares para a beleza, para além do conceito clássico impos- to como modelo na sociedade. Para tanto, enten- demos que os professores da área constituem parte fundamental para que esses discursos, ao chegarem aos campos educacionais, possibilitem diálogos e re- flexões acerca do corpo e da beleza, a fim de pro- duzir indivíduos críticos frente aos sentidos corporais que permeiam na sociedade, capazes de enxergar o belo, pre- sente nos gestos simples, nas formas des- torcidas, no corpo imperfeito, nas histórias, na vida, na unidade e na complexidade dos corpos, compre- endendo-o no imbricar do sensível com o sentido, do que é visto e ao mesmo tempo visível. Afinal, a beleza é, antes de tudo e após tudo, contemplação da vida e modo de existência. PRÁTICAS CORPORAIS E AUTONOMIA; Como entender o corpo? O que pensar de quem pratica nele modificações agressivas ou estranhas à chamada “normalidade”? Como julgar o que, de fato, pode ser considerado normal? Possivelmen- te nunca se chegará a um entendimento definitivo e incontestável do que é normal. No entanto, se for possível conseguir entender as motivações do outro, mesmo que estas não sejam agradáveis ao olhar, po- de-se deixar de estranhar muita coisa. Tzvetan Todo- rov ajuda a pensar a respeito: “Podem-se descobrir os outros em si mesmo, e perceber que não se é uma substância homogênea, e radicalmente diferente de tudo o que não é si mesmo; eu é um outro. Mas cada um dos outros é um eu também, sujeito como eu. So- mente meu ponto de vista, segundo o qual todo está lá e eu estou só aqui, pode realmente separá-los e distingui-los de mim.” Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 61 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Especificamente sobre as modificações corporais geradas por tatuagens e piercings, muitas são as es- peculações em torno de questões que tratam, em geral, de quais seriam as motivações que levariam uma pessoa a fazer esse tipo de escolha. Para Toni Marques, não é possível determinar apenas uma causa ou efeito social, cultural ou artístico, capaz de levar uma pessoa a se tatuar. Para ele, não exis- te um mecanismo de compensação ou um sinal de regressão da personalidade de quem se tatua, con- forme sugeriam estudos a respeito da psicologia da tatuagem realizados no último século. Nos dias atu- ais, cada pessoa tem o direito de se sentir bonita da maneira que quiser, mesmo que isso venha a agredir visualmente o outro. Marques vai além: “O sujeito ad- quire identidade se tatuando ou se tribalizando de qualquer forma, em ato ou pensamento. É a certeza mágica da identidade: tatuei-me, agora sou eu.” Mesmo que não se perceba, as decisões a res- peito do corpo são mediadas pelos valores sociais. Quando alguém faz uso de alguma modificação cor- poral, seja ela invasiva (aquelas que mudam irrever- sivelmente o corpo: tatuagens e piercings e escarifi- cações, alongamento dos lóbulos, cirurgias estéticas e de mudança de sexo, implantes de próteses) ou não invasiva (aquelas que o organismo é capaz de regenerar: cortes ou alongamento de cabelos, ma- quiagens faciais, depilações, clareamento dental, no geral modificações estéticas) quer, de alguma for- ma adequar-se aos padrões vigentes para, de certo modo, fazer valer sua posição social. Cada indivíduo utiliza a modificação corporal de sua escolha para assim ser inserido em um grupo ao qual se identifica. Com a popularização da tatuagem no início dos anos 80 e do piercing na metade dos anos 90, gerou- -se um fenômeno associado à busca de novas men- talidades e conceitos sobre corpo e identidade. A partir de então um grupo de pessoas cada vez mais numeroso e diferente entre si, passou a utilizar esses tipos de modificações corporais. A esse fenômeno deu-se o nome de body art, ou arte corporal. Segun- do Kênia Kemp: “[...] são tentativas de expressar ou afirmar identidades, autoafirmação da individualida- de, tentativas pessoais de facilitar o convívio social através do sentimento de autoestima, investimento no capital físico para atender ao mercado da be- leza. [...] os indivíduos que se julgam movidos por pretensas necessidades pessoais são na verdade um reflexo de condições culturais idênticas, pois são res- postas de nossa época e, portanto, de uma mesma mentalidade que as permite surgir.” Pode-se exemplificar o uso de intervenções cor- porais relacionadas à manifestação cultural, utilizan- do dois tipos de indivíduos: o da sociedade urbano- -industrial e o da sociedade tradicional. O primeiro usa de seu corpo para expressar sua identidade. Para esse indivíduo, o corpo é produto e produtor da sociedade, podendo ser entendido como uma espé- cie de autodeterminação ou como símbolo de sua resistência às regras sociais. David Le Breton ajuda a entender melhor: “O corpo não é mais apenas, em nossas sociedades contemporâneas, a determina- ção de uma identidade intangível, a encarnação irredutível do sujeito, o ser-no-mundo, mas uma cons- trução, uma instância de conexão, um terminal, um objeto transitório e manipulável suscetível de muitos emparelhamentos. O corpo, dessa forma, torna-se mais um instru- mento de expressão do indivíduo dentro do todo, que é a sociedade. Com a ajuda dele, cada um de- monstra aos outros sua maneira de ver e reagir ao mundo, passa a se fazer entender não apenas gestu- almente, mas utiliza suas pele e carne para informar aos demais seu entendimento sobre as coisas ao seu redor e sobre si mesmo. Diferentemente, o indivíduo inserido em uma sociedade tradicional, faz uso de seu corpo como mais um meio pelo qual representa sua relação com a natureza e a sociedade. Kênia Kemp ressalva que, independentementedo tipo de cultura a qual o indivíduo está integrado, o corpo é parte e expressão de sua condição de ser humano. Seus pensamentos trabalham como ordenadores do mundo que vê, e é seu corpo que possibilita suas re- lações com os demais indivíduos e com a sociedade em geral.A cultura, como outros fenômenos sociais, não pode ser entendida separadamente, já que tudo se interliga e se relaciona dentro da mesma ló- gica de cada sociedade. A tentativa de compreen- der o corpo é, portanto, a tentativa de compreender melhor a sociedade. São justamente as diferenças em relação aos outros indivíduos que fazem com que cada um per- ceba sua identidade. O modo de lidar com o cor- po não só ajuda a intensificar essas diferenças como também faz transparecer socialmente a condição de cada um. Intencionalmente ou não, são inscritos nos corpos dos indivíduos elementos sociais, como expressões, posturas e gestos ou interferências, ador- nos e indumentárias. O fato de cada ser humano ser diferente entre si e, cada vez mais, ir em busca dessas diferenças é o que, contraditoriamente, faz com que todos sejam iguais. A percepção de que o outro, mesmo diferen- te de si, também reage aos meios sociais de maneira singular, como indivíduo que é, pode ajudar a deli- mitar o que é desigualdade e o que é preconceito. O corpo torna-se objeto de representação concre- ta do que, antes, era apenas subjetivo: o direito de cada um ser dono de si da maneira que é ou que pretende ser. Assim, em tese, cada sujeito passaria, indiscriminadamente, a ter direitos plenos sobre seu corpo, como (supostamente) tem também de sua mente e de seus sentimentos. Ao alcançar essa finali- dade, seria um indivíduo único e completo. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 62 CONDICIONAMENTOS E ESFORÇOS FÍSICOS; Princípios Básicos e Efeitos do Treinamento Físico Os princípios do treino desportivo são basicamente seis, havendo diferenciações pessoais de autores que lidam com o treinamento, afirmando ainda mais a necessidade de aprofundamento nos meios teóricos para o controle prático dos treinos. Treinamento desportivo como estrutura lógica é a organização para a aplica- ção dos métodos científicos de treinamento, que visam por meio de mecanismos pedagógicos, atingir o mais alto rendimento humano, nos aspectos e características técnicas, físicas, psicológicas, sociais e espirituais do indivíduo ou equipe. “O treinamento, já aceito há algum tempo como ciência, tem sua posição científica reforçada com referências consideradas essenciais para todos os que buscam o alto rendimento atlético”. Tubino. Toda e qualquer atividade necessita de normas para uma conduta racional de aplicação. No caso do treinamento desportivo e musculação particularmente, algumas normas e regras foram sendo criadas ou desenvolvidas com base em princípios relacionados com a constituição física humana e com as respostas orgânicas aos estímulos aplicados. Os princípios do treino desportivo são basicamente seis e abaixo escalo- nados. Há diferenciações pessoais de autores que lidam com o treinamento, afirmando ainda mais a neces- sidade de aprofundamento nos meios teóricos para o controle prático dos treinos. É comum o surgimento de subdivisões dentro de algum dos princípios do treinamento, situação esta que será visualizada em alguns parágrafos abaixo. 1. Princípio da individualidade biológica 2. Princípio da adaptação 3. Princípio da sobrecarga 4. Princípio da continuidade/reversibilidade 5. Princípio da interdependência volume X intensidade 6. Princípio da especificidade dos movimentos Princípios específicos da musculação: A musculação possui particularidades no momento da aplicação prática dos trabalhos, que estão sempre vinculadas aos princípios do treinamento desportivo. Os princípios do treino neste caso são singularmente aplicados de maneira mais qualificada e, encampando basicamente a individualidade biológica, a sobrecarga* e a especificidade dos movimentos. A estruturação das sequen- cias de exercícios, tornou-se um conceito paralelo e considerado, como sendo um principio do treinamento exclusivo dos trabalhos contra resistência. Princípio da individualidade biológica: Cada ser humano possui estruturas físicas e psicológicas indivi- dualizadas ou diferenciadas dos demais, sugerindo que cada um de nós seja um ser único. O ser humano é a união entre as características do genótipo (carga genética recebida) com o fenótipo (carga geral de elementos que são adicionados ao indivíduo após o nascimento) que criam o suporte de individualização humana. Abaixo no quadro 01 encontra-se algumas características do genótipo e do fenótipo. Quadro 01 Genótipo Fenótipo Estatura Habilidades motoras e esportivas Biótipo ou estrutura corporal Nível intelectual Aptidões físicas e intelectuais Consumo máximo de oxigênio e limiar anaeróbio Força máxima Percentual de fibras musculares Composição corporal Percentual dos tipos de fibras musculares As respostas ao treinamento aplicado são determinadas por características hereditárias associadas às influências do meio ambiente. Buscamos continuamente o aperfeiçoamento das características técnico es- portivas da forma mais específica e individualizada possível. Quanto mais o treino aproximar-se das carac- terísticas positivas de respostas individuais, maiores serão as performances alcançadas. Cada ser humano Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 63 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS é único e por este motivo necessita de um direcio- namento personalizado para o treinamento visando o alto rendimento físico e desportivo. É inadmissível a padronização de qualquer forma de treinamento, para grupos inteiros de indivíduos. O genótipo ca- racteriza os potenciais, a predisposição inata ou ap- tidão. As habilidades são parte do fenótipo ou das características possíveis de serem incorporadas ao in- divíduo. Os profissionais da Educação físicas são bem familiarizados com os termos Aptidão e habilidade. Entendemos por aptidão didaticamente expon- do, como sendo os potenciais ou as qualidades ina- tas do homem, que são expressas continuamente por meio da predisposição e do talento. Como exemplos citamos a aptidão de força muscular máxima, a apti- dão de resistência cardiovascular máxima, flexibilida- de e velocidade máxima atingível. “Evidentemente o treinamento físico não melhora a capacidade de desempenho além daquele limite preestabelecido pelo genótipo”. Hollmann & Hettinger. As habilida- des referem-se aos elementos que são adquiridos ou aprendidos ao longo do tempo de vida, somando- -se e formando um quadro de experiências. O ato de jogar ou praticar esportes, são transmitidos aos in- divíduos por meio de treinos e repetições contínuos, e são bons exemplos do que sejam as habilidades. “As condições neuromusculares, psico-cognitivas e anâtomo-biomecânicas que são herdadas carac- terizam de uma forma geral a aptidão. Um desen- volvimento muito acima da média dessas condições denomina-se talento”. (Geese & Hillebrecht). “Pode- -se dizer que os potenciais são determinados geneti- camente e as capacidades ou habilidades expressas são decorrentes do fenótipo”. Dantas). Princípio da adaptação: O princípio da adapta- ção do organismo ao treinamento possui particula- ridades relacionadas com o nível de estímulo a ele aplicado. Durante a aplicação de estímulos de trei- namento sobre o organismo deparamo-nos com o conceito de síndrome de adaptação geral (SAG), a qual possui fases correlacionadas com os estímulos ou stresses. Os stresses podem ser de ordem física, bioquímica e mental. A síndrome de adaptação ge- ral possui três fases distintas abaixo escalonadas. 1. Excitação ou choque - a presente fase poderá provocar dores e por este motivo queda momentâ- nea norendimento provocando um período de rea- ção de alarme no organismo. 2. Resistência ou adaptação - esta fase tende a provocar uma adaptação ao estímulo aplicado com elevação no rendimento. 3. Exaustão ou cansaço - nesta fase o corpo não responde positivamente aos estímulos por já estar adaptado, possivelmente haverá queda de rendi- mento nos casos de treinamento excessivo. Há o risco de lesões temporárias ou permanentes. Nos casos em que o estímulo seja muito fraco este não produzirá adaptação satisfatória, e será classifi- cado como estímulo Débil. Os estímulos de baixa in- tensidade que apenas excitam o organismo e não produzem adaptações posteriores são classificados como Médios. Os estímulos Fortes são exatamente aqueles que proporcionam as adaptações mais se- guras, plenas e prolongadas. Busca-se no treinamen- to consciente e organizado, na maior parte do tem- po, exatamente a manutenção desta forma de es- tímulo. Os estímulos Muito Fortes acarretam sensíveis danos ao organismo e podem seguramente causar lesões, se não forem extremamente controlados por meio de testes periódicos e avaliações generalizadas prévias relacionadas ao estado biológico maturacio- nal e também psicológico do indivíduo. Os conceitos acima descritos, trazem consigo um alerta e a base para que sejamos cautelosos no momento da aplicação de sobrecargas no organis- mo durante os treinamentos. A busca incessante por combinações ideais de alternância entre os estímulos Médios e Fortes, são a base para o sucesso do trei- namento. Saber em qual momento elevar o estímulo e ou reduzi-lo é a chave para as portas do alto ren- dimento. A utilização de estímulos Muito Fortes é ne- cessária para a ultrapassagem das barreiras que sur- gem no decorrer dos treinamentos dos atletas de alto nível. Não devemos utilizar treinamentos nesta faixa de estímulo por mais de um ciclo (microciclo de cho- que) ou seja mais do que sete dias, e muito menos utiliza-lo com atletas ou praticantes novatos. Um ci- clo de treinamento de 3 a 4 anos consecutivos(lei dos quatro anos), faz-se necessário antes de arriscar estes níveis tão elevados de cargas nos treinos. Não de- vemos esquecer que grandes performances atléticas são alcançadas após 8 a 12 anos de treinos intensi- vos e sistemáticos. Abaixo no quadro 02 apresenta-se uma proposta classificatória com as condições de in- tensidade e carga adicional referente aos estímulos proveniente do treinamento contra resistência. Quadro 02 Condições de intensidade Carga adicional Estímulo Máxima 100% Muito forte Submáxima 99% a 90% Muito forte Grande 1º subzona 89% a 80% Forte Grande 2º subzona 79% a 70% Forte Moderada 1º subzona 69% a 60% Forte Moderada 2º subzona 59% a 50% Médio Pequena 1º subzona 49% a 40% Médio Pequena 2º subzona 39% a 30% Fraco Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 64 O organismo humano responde de maneira diferenciada a cada estímulo a ele aplicado. O estresse vivi- do quotidianamente no meio ambiente, produz interferências que devem ser consideradas em conjunto aos estímulos do treino. As respostas aos treinamentos podem ser negativas caso haja influência do meio sem um adequado controle do treinador. As respostas aos estímulos psíquicos e sociais são relevantes sobre a perfor- mance. As atitudes psicológicas negativas como ansiedade, angustia, confiança excessiva, depressão etc, e fatores sociais como o abuso de bebidas alcóolicas, festas, excessos sexuais, tabagismo e outros, necessitam estar sob controle do treinador. A individualidade deverá possuir grande atenção aos períodos de adapta- ção, como exemplo citamos as crianças e os adolescentes, que possuem um estado de predisposição para adaptarem-se mais facilmente aos estímulos de treino com predominância de volume alto com intensidade moderada a baixa. Em muitos casos surgem quedas sobre o rendimento biológico, sem uma explicação plausível. Quando após uma minuciosa pesquisa dos hábitos de vida, surge o diagnóstico preciso de excesso de atividades paralelas, que são degradantes sobre as respostas do treinamento. A falta de repouso adequado e maus hábitos alimentares são exemplos clássicos. O estresse no treinamento é necessário. As situações de estresse no cotidiano são pouco prováveis de serem eliminadas. Resta ao treinador para que haja uma adaptação plena do organismo de seu educando, concentrar esforços e atenção, aos fatores que podem estar con- duzindo o organismo a um estado de treinamento excessivo quer sejam eles durante as sessões de treino ou durante as horas fora do âmbito de controle técnico. Princípio da sobrecarga: Relaciona-se à aplicação das cargas de trabalho. O presente princípio está intimamente ligado ao treinamento diário do indivíduo em sala de aula, assim como possui estreita relação com o princípio da adaptação e com o princípio da continuidade. Após a aplicação de uma sobrecarga de treinamento o organismo necessita repor novamente a energia utilizada e reconstituir as estruturas desgas- tadas, para que no ato da aplicação das sobrecargas futuras o organismo esteja em condições favoráveis para receber um novo estímulo, com intensidade igual ou superior ao anterior aplicado. O fenômeno da supercompensação aplicado aos mecanismos energéticos orgânicos, caracteriza-se por promover o arma- zenamento a níveis ligeiramente acima daquele encontrado durante o início do treinamento. As reservas energéticas estarão, após uma relação equilibrada entre repouso e reposição alimentar adequada, com um superávit ou estoque extra de energia, para ser utilizada prontamente no próximo treinamento. Sabendo-se da possibilidade da supercompensação, procura-se ampliar a intensidade das cargas de treinamento sempre que possível, visando provocar maiores volumes nos estoques energéticos, por meio de treinamentos periódicos com características específicas, contínuas, crescentes, variadas, assim como exatas. O tempo que levará para o organismo repor energia e estocá-la em suas reservas, esta intimamente rela- cionado com a sobrecarga imposta, abaixo no quadro 03a encontra-se o período para a recuperação das fontes energéticas utilizadas durante um treinamento máximo. No quadro 03b encontra-se uma classificação relacionada às carga de treinamento em uma sessão. Quadro 03 a. Sobrecarga de característica máxima Fonte energética Anaeróbia láctica (ATP-PC) Anaeróbia láctica (Glicogênio) Aeróbia alática (glicogênio e gorduras) Recuperação 3 a 5 minutos 15 minutos a 2 horas 2 a 3 dias Quadro 03 b. Carga de treinamento por sessão Tempo para restauração Extrema Maior que 72 horas Grande De 48h a 72h Substancial De 24h a 48h Média De 12h a 24h Pequena Menor que 12 horas Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 65 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Nos trabalhos contra resistência é fundamental a escolha das cargas exatamente dentro dos objetivos predeterminados, ou seja os percentuais de carga devem estar dentro dos padrões relacionados ao desen- volvimento da qualidade física alvo. Cada carga imposta ao organismo produz respostas metabólicas, físicas e psicológicas específicas e em comum acordo com a intensidade imposta. Sobrecargas contra resistência (musculação) produzem modificações principalmente sobre a estrutura protéica e metabolismo glicolítico ou anaeróbio da fibra muscular principalmente as do tipo IIb e IIa, em contrapartida treinos cíclicos e contínuos de baixa e média intensidade, estimulam melhorias sobre os aspectos metabólicos aeróbios, sobre as fibras musculares do tipo I, e sobre o sistema cárdio-pulmonar e circulatório. Verifica-se desta forma uma caracte- rística básica para o surgimento do princípio da carga específica. As sobrecargas de treinamento, podem ser classificadas como sobrecarga estimulante, sobrecargade manutenção ou sobrecarga de destreinamento. A sobrecarga estimulante é sempre mais elevada que o nível neutro e produz adaptações sobre o organismo. A sobrecarga de manutenção é aquela onde o nível está dentro da zona neutra (compreende-se como zona neutra a sobrecarga que não produz modificações significativas nem positivas, nem negativas sobre o organismo do atleta) e por este motivo não estimula melhorias sobre o organismo, havendo apenas a manutenção do estado de treinamento. A sobrecarga de destreinamento localiza-se abaixo da zona neutra e impossibilita a manutenção ou elevação de um estado de treinamento, desta forma identifica-se um decréscimo no rendimento. Verifica-se uma queda na condi- ção física mais acentuada nos primeiros dias de sobrecargas de destreinamento, quando estas situam-se em limiares próximos aos de repouso. O conceito de sobrecarga considera apenas as cargas de trabalho, que impõem aos sistemas orgânicos e tecidos corporais, um estímulo acima daquele limite, ao qual o organismo já esteja acostumado. Neste caso, seguindo-se o conceito proposto no presente parágrafo, os estímulos que provocam destreinamento não seriam classificados como sobrecargas e sim como estímulos débeis. Forçosamente devemos empregar a estas condições que propiciam ao estado de destreinamento, o conceito de princípio da reversibilidade. Este princípio será abordado juntamente com o princípio da continuidade. Abaixo no quadro 04 encontram- -se os percentuais de cargas relacionados para o treinamento das valências físicas. Quadro 04. Valência física Repetições Grupos % de cargas Força pura 1 a 3 4 a 6 90 a 100 Força dinâmica 4 a 10 3 a 6 70 a 89 Força explosiva 11 a 15 3 a 6 60 a 69 Resistência de força muscular localizada 16 a 20 2 a 4 50 a 59 Busca-se na aplicação das cargas o momento mais propício e exato em que o organismo esteja em seu mais alto nível de recuperação física e psicológica. Esta forma de aplicação das cargas é uma das variáveis que buscamos frequentemente para elevar continuamente o nível de rendimento. Esta forma de manipula- ção das cargas é também aceita como um principio relacionado ao treinamento desportivo e conceituado como princípio da sucessão exata das cargas. Há uma grande dificuldade em predeterminar o exato estado de recuperação orgânico individual, por este fato devemos estar continuamente indagando com os nossos alunos sobre sensações subjetivas relacionadas ao estado de ânimo, sono, cansaço ou dores, que podem ser de grande ajuda na determinação de uma recuperação plena do organismo. Períodos muito curtos ou prolongados de inatividade, podem produzir as reações citadas. A recuperação plena do organismo poderá ocorrer em momentos diferenciados, e em relação direta aos fatores exógenos e intensidade do treinamento, vide quadro 03b, como sono adequado, alimentação balanceada e suficiente volume calórico, estímulo ou sobrecarga muito forte e periódica etc. Para um con- trole mais racional deve-se fazer uso constante dos testes para a determinação do estado atual de desem- penho, e avaliar a evolução/involução do mesmo em relação ao estado de desempenho no início de cada mesociclo de treino. A comparação dos resultados pode ser a luz para o acerto das sobrecargas que visam a elevação máxima da qualidade física alvo, e principalmente dentro do tempo previsto para o desempenho máximo. As cargas de trabalho devem ser contínuas e variadas na medida do possível. A manutenção desta forma de dosagem de cargas é o princípio da aplicação contínua das cargas. Cargas contínuas (estímulo de treino permanente) criam a condição de treinamento crônico ou prolongado e estão diretamente relacionadas ao acumulo de experiências motoras, que após serem assimiladas ao longo dos anos, serão perdidas na mesma Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 66 proporção em que foram adquiridas em caso de in- terrupção do treino, assim como, a recuperação será mais rápida após a retomada dos trabalhos, mesmo que em condições de intensidade inferiores. Durante o período programado de transição do treinamento, não deve ser permitido ao atleta excluir-se dos trei- nos por longos períodos, é preferível a redução dos trabalhos em termos de volume, para que não seja atingido o destreinamento, o qual ocorre com longos períodos de inatividade. Pelo motivo exposto acima, deve-se programar os treinamentos com antecedência suficiente, para que sejam inclusos períodos mínimos de inatividade durante todo o ciclo de treinamento. A mesma re- gra é válida não só para o período de treinamento competitivo, mas também para todo o ciclo da vida humana. Não devemos manter os percentuais de treinamento em níveis permanentes e muito menos as cargas serem fixas. A aplicação do princípio das cargas variáveis ou variadas, é para que não haja uma estabilização e acomodação (queda) e seja um estímulo permanente ao desenvolvimento do es- tado de treinamento. Para que o estímulo de cargas torne-se permanente e crescente há uma variação entre estímulos fortes, médios, e muito fortes, este últi- mo no caso de atletas de elite. Saber manipular com exatidão as cargas de trabalho intenso e recupera- tivo faz a diferença no produto final do treinamento. Os ciclos de treinamentos divididos e organiza- dos em microciclos de choque, ordinário e recupe- rativo, criam as condições para um maior controle e menor erro sobre a aplicação de cargas elevadas e intermediárias. A utilização de um ciclo de treino ordinário com intensidade de estímulo forte é bem tolerado durante 04 a 06 semanas consecutivas. Su- cessivamente a este período, aplicamos um trabalho com cargas de estímulo médio durante 04 semanas seguida de 2 a 4 semanas com estímulo muito forte (neste caso as séries dos exercícios na musculação são repetidas no máximo duas vezes na semana). Outra maneira de variação nas cargas de treina- mento para iniciantes é o treinamento em 4 semanas com estímulos médios, 4 semanas com estímulo forte e assim continuamente, até que identifique-se o ini- cio da estabilização no rendimento, com as cargas de estímulo forte. A partir deste momento começa- mos a mesclar estímulos muito forte, durante ciclos de treinamentos curtos de 1 semana, com estímulos fracos ou recuperativos de 1 a 2 semanas. Como observado no parágrafo anterior as car- gas possuem características diferenciadas, não sen- do iguais mesmo durante o treino contínuo, pelo fato de os atletas submeterem-se a competições com fa- ses distintas de polimento e destreino programado. Por estes motivos expostos surgiu o princípio da carga periódica. As sobrecargas devem ser programadas com antecedência no plano geral de treinamento em ordem direta com as competições alvo, feito isto saberemos com exatidão os momentos oportu- nos para a aplicação das sobrecargas específicas, visando o desenvolvimento da qualidade física mais importante para o presente momento. O estado de treinamento ideal deverá ser atingido em comum acordo com práticas de sobrecargas adequadas de treinamento e no período exato para a sua utili- zação. Caso as cargas de treinamento sejam de in- tensidade muito forte nos períodos iniciais ou mesmo débil durante a fase competitiva, as respostas orgâni- cas positivas para o sucesso no desenvolvimento das mais altas performances não serão atingidas. Princípio da continuidade/reversibilidade As modificações induzidas pelo treinamento são transitórias ou passageiras. Todas as características secundárias adquiridas por meio do treino, perdem-se e retornam aos limites iniciais pré treinamento, após determinado período de inatividade. Pelo motivo exposto há sempre a necessidade de manutenção do treinamento em níveis contínuos para a manuten- ção de um estado de treinamento mais elevado. A perda nos níveisde adaptação adquiridos no treino estão intimamente relacionados ao período de tem- po em que foram adquiridos. Como regra “quanto mais longo o período de treinamento mais longo será o período de destreino. Toda aquisição que se ganha lentamente e em um tempo prolongado mantém-se com mais facilidade e perde-se com mais lentidão do que as aquisições conseguidas rapidamente e em um tempo curto. Alguns aspectos morfológicos e funcionais como no caso das adaptações anaeróbias que perdem-se mais rapidamente do que as adaptações aeróbias e de força máxima. A hipertrofia muscular é tanto quanto vagarosa em sua evolução durante o treino quanto no destreinamento. A redução da força du- rante o destreino dá-se em uma velocidade inferior quando comparada com o tempo para aquisição no treino. Vale lembrar, que os níveis de força mus- cular em períodos curtos de destreino, permanecem um pouco acima daqueles encontrados no pré trei- namento. Para evitar uma drástica perda nos níveis de força alcançados, e criando condições para pre- servar um declínio mais vagaroso da mesma, deve- -se programar períodos curtos de trabalhos contra resistência. A atitude de criar microciclos breves de treinamento de força, visando uma manutenção sa- tisfatória da força com menor perda momentânea, faz-se lógica, necessária e econômica, assim como aproveita de maneira otimizada os efeitos residuais do treinamento. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 67 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Para a manutenção ou preservação da força durante um breve período de destreino ou manutenção, deve-se trabalhar contra resistência duas vezes por semana, salientamos que estas cargas de trabalhos pos- suem baixo volume mas com intensidade elevada nos casos de atletas de elite e praticantes assíduos. A escolha dos exercícios torna-se valiosa, e é imprescindível a presença dos exercícios principais no caso de atletas de elite. Dá-se preferência aos exercícios multiarticulares e de grandes massas musculares, exceto nos casos específicos esportivos. Princípio da interdependência volume X intensidade O presente princípio baseia-se na relação ótima de aplicação do volume e da intensidade no treinamen- to, comumente sempre que o volume de treino eleva-se reduz-se a intensidade. Como regra geral de segu- rança dá-se prioridade ao volume nas primeiras modificações do treino, em seguida eleva-se a intensidade. Entendemos como volume a quantidade de treinamento, caracterizada por toda mudança ou modificação relacionada ao número de repetições por série de exercícios, número de exercícios em cada série ou se- quência, número de grupos, número de treinos diários, semanais e mensais do macrociclo. A intensidade é reconhecida como a qualidade do treinamento, possui estreita relação com as manipulações sobre a sobre- carga de trabalho(percentual de cargas), intervalos de repouso, velocidade de execução dos gestos etc. O volume de treinamento na atualidade encontra um lugar de destaque tão alto quanto a intensidade. Em alguns esportes é elemento determinante do sucesso esportivo, e relacionado diretamente com a quan- tidade de treinamento alcançado no decorrer da preparação do atleta. Como exemplo os esportes de resistência (maratona, esqui de fundo, triatlon etc.) fazem parte desse seleto grupo. “Elevar o volume de treinamento é uma necessidade para qualquer desporto ou evento aeróbio”. “Uma característica adicional de treinamento, importante sob o ponto de vista prático, é o alto volume de treinamento ou a quantidade total de peso levantado durante uma sessão de treinamento”. A intensidade do treinamento é prioritária e inerente aos esportes de força e velocidade, por este motivo há uma grande preocupação com o controle das sobrecargas empregadas no cotidiano. Para que haja um acompanhamento periódico sobre a intensidade aplicada no treinamento de força, devemos utilizar o calculo do coeficiente de intensidade por meio da equação. Coeficiente de intensidade em % = (média de peso levantado Kg x 100) / Soma (cargas máximas) do desempenho atlético Kg. Busca-se excepcional- mente no treinamento atual, a manutenção dos treinos de atletas de elite, um alto volume associado a uma intensidade também elevada. A presente forma de estímulo só deve ser utilizada durante períodos breves de treinos, e visam principalmente ultrapassar os limites de estagnação ou estabilização da performance física. “A elevação contínua do volume de treinamento é provavelmente uma das mais altas prioridades do treinamento contemporâneo”. No quadro 05 encontra-se um modelo imaginário de mesociclo, com os microciclos de intensidade e volume elevados de treinamento. Quadro 05 Mesociclo específico Percentual de cargas Semanas Microciclos Volume Intensidade 1º Choque Alto Alta 2º Recuperativo Moderado Moderada 3º Choque Alto Alta 4º Recuperativo Moderado Moderada A aplicação de um estímulo de treinamento provoca sobre o organismo uma resposta especifica e re- lacionada diretamente à forma de exercício utilizado. Treinamento de força provoca adaptações sobre os mecanismos neuromusculares, específicos das fibras musculares que foram solicitadas nos treinos. Contraria- Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 68 mente, os exercícios de resistência provocam adap- tações musculares sobre as mitocôndrias e capilares para elevar a capacidade de gerar energia aeróbia. A própria flexibilidade possui elementos relacionados com as respostas esperadas do treinamento. O treina- mento de flexibilidade deve ser o mais próximo possí- vel da realidade do esporte praticado, ou seja, a po- sição do movimento no treino poderá trazer respostas diferenciadas caso não esteja adequada à posição normalmente utilizada durante a prática esportiva. Os fusos musculares reagem de maneira semelhante àquela já habituada (treinada) e a cada novo pro- cesso de utilização diferenciado, este deve ser ajusta- do ou regulado mediante a nova exigência motora. Mesmo nas atividades com a mesma caracterís- tica de movimento e energética, obtêm-se respos- tas diferentes, e em comum acordo com a exigên- cia motora aplicada. As modificações induzidas por treinamento de corrida e ciclismo, sobre o limiar de lactato sangüíneo. Foram comparadas amostras por meio de testes realizados no início e no final do tempo de treinamento. Os testes foram realizados em tapete rolante e bicicleta. Respectivamente os resultados fo- ram: o treinamento de corrida aumentou 58%, e ele- vou em 20% os resultados dos testes na esteira e na bicicleta. O treinamento de ciclismo elevou em 39% os resultados na bicicleta e sem nenhuma melhoria no limiar na esteira. “A transferência dos ganhos de treinamento pode diferir significativamente, mesmo em exercícios muito similares”. Há a possibilidade de possibilitarmos melhorias sobre a endurance intensa, quando esta for treinada paralelamente e principalmente em dias alternados com a força muscular, neste caso detectamos uma transferência positiva da forma de treinamento e não da especificidade do treino, justificando a utilização momentânea do Cross training neste caso em parti- cular. Necessitamos ainda de mais pesquisas relacio- nadas à possível síndrome de transferencia positiva para varias atividades de treinamento cruzado ou combinado. Como exemplo clássico da especificida- de do movimento temos naturalmente uma diferen- ça no desenvolvimento da força, relacionada com cada angulo do arco do jogo articular. Por este fato, um treinamento voltado apenas para o desenvolvi- mento das qualidades físicas específicas do esporte, torna-se pouco produtivo ou potencialmente inferior, caso não seja associado aos movimentos e gestos es- pecíficos esportivos. A biomecânica esportiva possuielementos determinantes no momento da escolha dos exercícios, para serem introduzidos e treinados a cada período do programa geral de treinamento . Nadadores devem destinar a maior parte do tempo do treinamento, realizando e aperfeiçoando o nado propriamente dito, corredores devem correr e assim logicamente os outros esportes devem fazer o mesmo, na aplicação dos gestos e das técnicas ine- rentes ao esporte. Na escolha dos exercícios para o desenvolvimento dos jovens atletas, quase todos os exercícios são benéficos, e proporcionam melhorias da performance, devendo ser usados na formação física de base ou geral durante os primeiros anos de desenvolvimento esportivo. À medida que o atleta aproxima-se de seu limite máximo geneticamente determinado, e passa a competir rotineiramente bus- cando a superação de recordes, surge a necessida- de de otimizar a escolha dos exercícios, para que os mesmos sejam produtivos na elevação do estado de treinamento. A complexidade do exercício torna-o cada vez mais estressante. À medida que os exercícios comple- xos são introduzidos no treinamento, de forma lenta e gradual passam a ser melhor compreendidos e assimi- lados por parte do organismo do atleta, tornando-se mais plástico e até certo ponto realizado de modo intuitivo. As exigências para o treino de alta comple- xidade técnica são inerentes aos esportes competiti- vos. Os treinamentos técnicos devem ser precedidos por período de repouso pleno, para que a assimila- ção pelo sistema nervoso central dos engramas mo- tores dos gestos, seja facilitada e não possua interfe- rências geradas principalmente por cansaço extremo ou má adaptação. “A transferência do ganho de treinamento é bai- xa em bons atletas; para iniciantes quase todos exer- cícios são úteis”. Os exercícios para desenvolvimento da velocida- de de deslocamento, da força explosiva e coorde- nação motora, devem ser introduzidos no início da sessão de treinamento, exceto nos casos em que visa- -se a capacidade de resistência ou manutenção da eficiência dos gestos sobre estresse ou fadiga com- petitiva. Princípio da estruturação das sequencias de exer- cícios: Esse princípio é responsável pela criação ou montagem das séries ou sequências de exercícios, na forma de aplicação prática durante os treinos con- tra resistência. Em função direta com os períodos ou fases de treinamento, deve-se selecionar e utilizar as sequências mais específicas e ou indicadas para com a realidade momentânea do condicionamento ou estado de treinamento do aluno/atleta. Abaixo esta- rão enumeradas algumas das possíveis divisões, que podem ser utilizadas no ato da confecção das séries ou sequências de exercícios. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 69 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 1. Sequência Simples ou alternada por articula- ção: realiza-se um exercício em uma região articular, o próximo será executado em outra região distinta e após repouso predeterminado. Alterna-se progressi- vamente os exercícios durante a realização de toda a sequência. Utiliza-se esta forma de treinamento principalmente para os iniciantes, objetivando por meio da alternância dos grupos musculares não ele- var demasiadamente o nível de fadiga local. Os trei- namentos visando força máxima, força explosiva e força dinâmica são beneficiados quando há pouca ou nenhuma fadiga acentuada no momento da re- alização da exigência motora. 2. Sequência Básica: dá-se ênfase aos exercícios que envolvam os grandes grupos ou cadeias mus- culares, especificamente exercícios biarticulares. A inclusão dos exercícios que envolvam os músculos de característica de sustentação corporal como coxas, glúteos, lombares, abdominais, dorsais superiores e ombros, devem sempre estar presentes nesta série, caso não haja impedimentos de ordem anatomopa- tológica, para a inclusão dos mesmos. 3. Sequência Prioritária: a escolha dos exercícios dá-se frente a uma exigência específica sobre um grupamento ou região muscular previamente sele- cionado. Neste exemplo os exercícios são aglome- rados em função da característica de atuação do mesmo grupo muscular sobre os movimentos. 4. Sequência Parcelada: os exercícios são dis- postos em series distintas e divididos ou distribuídos ao longo do dia (manhã, tarde , noite) ou durante a semana de treino. Treinos ao longo do dia são basi- camente utilizados por halterofilistas. A forma parce- lada semanalmente é alvo principal dos culturistas, por proporcionar maior período de repouso entre as solicitações dos grupos musculares selecionados em cada série. A presente série também poderá ser uti- lizada nos trabalhos da musculação atual, nos casos daquelas pessoas que treinam a partir de 3 dias na semana, deve-se dividir a série com muita atenção garantindo que os músculos sejam solicitados no mí- nimo ideal de duas vezes durante a semana. 5. Sequência Seletiva: faz-se a seleção de exer- cícios de característica biarticular ou multiarticular, com esse treinamento visa-se atingir estados de fadi- ga extremos sobre os músculos selecionados. Ao final da realização do número de repetições predetermi- nados para cada grupo, aplica-se duas contrações de caráter estático ou isométrico em torno de 08 a 10 segundos. Esta maneira de montagem e execu- ção dos exercícios deve ser encorajada apenas aos alunos experientes ou em fase de treinamento espe- cífico. 6. Sequência Associada à articulação adjacen- te: o segundo exercício é composto pela articulação que foi utilizada durante o primeiro exercício, e adi- cionada a uma articulação próxima ou adjacente, visando a manutenção máxima do fluxo sanguíneo na região articular promovendo uma maior vascula- rização por meio de uma elevada hiperemia local. 7. Sequência Alternada por origem e inserção muscular: esta forma de ordenação é aplicada uti- lizando-se os exercícios que envolvem cadeias mus- culares de característica biarticular. Comumente haverá alternância entre o trabalho inicial ser sobre a origem ou a inserção, não havendo uma regra es- pecifica determinante. 8. Sequência Continuada, bombeada ou locali- zada por articulação: há uma exploração “máxima” dos movimentos permitidos por uma articulação. A forma de montagem da série geralmente utiliza mo- vimentos ou músculos opostos sobre a mesma arti- culação ou seja agonista/antagonista, podendo-se aplicar ou excluir os intervalos de recuperação entre os exercícios opostos. A característica de manuten- ção da hiperemia muscular no membro utilizado é objetivada da mesma forma que a série do parágra- fo anterior. Os princípios do treinamento desportivo e mus- culação são inter-relacionados, e não há a possibi- lidade de exclusão de algum. Sempre um princípio estará em conformidade com os outros, e caso não sejam respeitados e dentro de uma lógica ou contro- le racional, cria-se com esta atitude de negligência, as condições exatas para a instalação de lesões e ou mesmo, não atingir o maior rendimento individual predeterminado geneticamente. Conhecer e domi- nar os princípios básicos do treinamento desportivo e musculação, assim como, aplica-los coerentemente, é parte integrante de um conjunto de situações reais que devem sempre nortear os caminhos de um trei- nador. O professor deve estar preparado e fundamenta- do nos princípios teóricos acima expostos, para trilhar seguro e cientificamente alicerçado, e assim obter sucesso, por meio do controle sobre os mecanismos fisiológicos, psicológicos e sociais, que incidem sobre as respostas orgânicas. O controle sobre as respostas do organismo aos treinos aplicados, é decisivo para elevar de forma segura o estado de treinamento dos educandos. Sempre que for alcançado um degrau a mais na escada que conduz ao equilíbrio entre a condição física, psíquica, social e espiritual,obtere- mos por meio deste degrau a certeza do cumprimen- to da tarefa técnico/profissional da Educação Física. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 70 O ESPORTE; Trata-se de uma prática metódica, individual ou coletiva, de jogo ou qualquer atividade que deman- de exercício físico e destreza, com fins de recreação, manutenção do condicionamento corporal e da saúde e/ou competição; desporte, desporto. Jamais devemos associar a palavra “Esporte” exclusivamente a atividades físicas uma vez que o xadrez é considerado um esporte e nele a principal atividade que desenvolvemos é a atividade mental. Nos dias atuais, temos observado um aumento con- siderável nas discussões sobre as metodologias de ensino-aprendizagem dos desportos; nos jogos des- portivos coletivos, inúmeros são os assuntos a serem debatidos. Nossa intenção, neste capítulo, refere-se ao diálogo relacionado ao desenvolvimento esporti- vo, entendido como processo de ensino, que ocorre desde que a criança inicia-se na atividade esportiva, até sua dedicação exclusiva em uma modalidade. Objetivamos abranger os assuntos pertinentes ao en- sino de habilidades e competências tático-cognitivas e também considerações sobre o desenvolvimento das capacidades físicas e dos jogos desportivos co- letivos por intermédio dos estudos em pedagogia do esporte. Os jogos desportivos coletivos são constituídos por várias modalidades esportivas - voleibol, futsal, fu- tebol, handebol, polo aquático, basquetebol - entre outros e, desde sua origem, têm sido praticados por crianças e adolescentes dos mais diferentes povos e nações. Sua evolução é constante, ficando cada vez mais evidente seu caráter competitivo, regido por regras e regulamentos (Teodorescu). Por outro lado, os autores da pedagogia do esporte também têm constatado a importância dos jogos desportivos coletivos para a educação de crianças e adolescen- tes de todos os segmentos da sociedade brasileira, uma vez que sua prática pode promover interven- ções quanto à cooperação, convivência, participa- ção, inclusão, entre outros. A pedagogia do esporte busca estudar esse pro- cesso, e as ciências do esporte, em suas diferentes dimensões, identificaram vários problemas, os quais serão balizadores deste estudo: busca de resultados em curto prazo; especialização precoce; carên- cia de planejamento; fragmentação do ensino dos conteúdos; e aspectos relevantes, que tratam da compreensão do fenômeno na sua função social. Assim sendo, o ensino dos jogos desportivos coletivos deve ser concebido como um processo na busca da aprendizagem. Esse pensamento faz-nos refle- tir acerca da procura por pedagogias que possam transcender as metodologias já existentes, a fim de inserir, no processo de iniciação esportiva, métodos científicos pouco experimentados. Dessa forma, é de fundamental importância discutirmos a pedagogia da iniciação esportiva, com o respaldo teórico de es- tudiosos do assunto. Vários autores apresentam propostas, visando dis- cutir o ensino dos esportes. No caso dos jogos despor- tivos coletivos, verificamos aumento crescente no di- álogo, almejando a busca de novos procedimentos pedagógicos, com vistas a facilitar o aprendizado. Mertens & Musch apresentam uma proposta para o ensino dos jogos coletivos, tomando como referên- cia a ideia do jogo, no qual as situações de exercí- cios da técnica aparecem claramente nas situações táticas, simplificando o jogo formal para jogos redu- zidos e relacionando situações de jogo com o jogo propriamente dito. Essa forma de jogo deve preser- var a autenticidade e a autonomia dos praticantes, respeitando-se o jogo formal. Sendo assim, deve-se manter as estruturas específicas de cada modalida- de; a finalização, a criação de oportunidades para o drible, passe, e lançamentos nas ações ofensivas. O posicionamento defensivo é generalizado e almeja- -se dificultar a organização ofensiva dos adversários, principalmente nas interceptações dos passes, esta- belecendo uma dinâmica entre as fases de defesa- -transição-ataque. Bayer afirma coexistir duas correntes pedagó- gicas de ensino para os jogos desportivos coletivos: uma utiliza os métodos tradicionais ou didáticos, de- compondo os elementos (fragmentação), na qual a memorização e a repetição permitem moldar a criança e o adolescente ao modelo adulto. A outra corrente destaca os métodos ativos, que levam em conta os interesses dos jovens e que, a partir de situ- ações vivenciadas, iniciativa, imaginação e reflexão possam favorecer a aquisição de um saber adapta- do às situações causadas pela imprevisibilidade. Essa abordagem pedagógica, chamada de pedagogia das situações, deve promover aos indivíduos a coo- peração com seus companheiros, a integração ao coletivo, opondo-se aos adversários, mostrando, ao aprendiz, as possibilidades de percepção das “situ- ação de jogo”, interferindo na tomada de decisão, elaborando uma “solução mental”, buscando resol- ver os problemas que surgem com respostas motoras mais rápidas, principalmente nas interceptações e antecipações, frente às atividade dos adversários. Ainda nesse raciocínio, Gallahue e Osmum apre- goam uma abordagem desenvolvimentista, que, ao ensinar as habilidades motoras (técnicas) para a fai- xa etária de 7- 10 anos, a aprendizagem deve ser to- talmente aberta, ou seja, os conteúdos do ensino são aplicados pelo professor e praticados pelos alunos, sem interferência e correções dos gestos motores. Para a faixa etária de 11- 12 anos, o ensino é parcial- mente aberto, isto é, há breves correções na técnica dos movimentos. Na faixa de 13- 14 anos, o ensino é parcialmente fechado, pois inicia-se o processo de especificidade dos gestos de cada modalidade na Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 71 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS procura da especialização desportiva, e somente após os 14 anos de idade deve acontecer o ensino totalmente fechado, específico de cada modalida- de coletiva, e também o aperfeiçoamento dos siste- mas táticos que cada modalidade necessita. Enten- demos que, nessa forma de ensino-aprendizagem, a técnica (habilidade motora) estará sendo desenvol- vida em situações que acontecem na maior parte do tempo nos jogos coletivos. Isso nos faz crer que a assimilação por parte dos alunos/atletas seja be- neficiada, e, posteriormente, a prática constante po- derá predispor a especialização dos gestos motores que permanecerão para o resto da vida. Nesse contexto, Greco sugere o ensino através do método situacional, em situações de 1x0-1x1- 2x1, em que as situações 1, isoladas dos jogos, são aprendidas com números reduzidos de praticantes. Este autor também defende que a técnica desporti- va é praticada na iniciação aos conceitos da tática, ou seja, aliando o “como fazer” à “razão de fazer”. Não se trata de trabalhar os conteúdos da técnica apenas pelo método situacional, mas sim de utilizá- -lo como um importante recurso, evitando o ensino somente pelos exercícios analíticos, os quais, como vimos anteriormente, podem não garantir suces- so nas tomadas de decisão frente às situações, por exemplo, de antecipação, que ocorrem de forma imprevisível nos jogos desportivos coletivos. Gargan- ta, nos estudos sobre pedagogia do esporte, enume- ra duas abordagens pedagógicas de ensino: a pri- meira é mecanicista, centrada na técnica, na qual o jogo é decomposto em elementos técnicos: passe, drible, recepção, arremesso. Os gestos são aprimora- dos, especializados, e suas consequências mostram o jogo pouco criativo, com comportamentos estereo- tipados e problemas na compreensão do jogo, com leituras deficientes do ponto de vista tático. As situ- ações problema ocasionadas pelas reais situações de jogo, são pobres e podemprovocar desvios na evolução do aluno/atleta. A segunda abordagem de Garganta é a das combinações de jogo contidas na tática por intermé- dio dos jogos condicionados, voltados para o todo, nos quais as relações das partes são fundamentais para a compreensão do jogo, facilitando o processo de aprendizagem da técnica. O jogo é decomposto em unidades funcionais sistemáticas de complexida- de crescente, nas quais os princípios do jogo regulam a aprendizagem. As ações técnicas são desenvolvi- das com base nas ações táticas, de forma orientada e provocada. Cabe-nos ressaltar que, nesse contex- to, o objetivo principal é a iniciação aos jogos des- portivos coletivos, nos quais acontecem os primeiros contatos das crianças e adolescentes com as ativi- dades desportivas. Dessa forma, as fases seguintes não devem limitar-se exclusivamente a esse método, ou seja, tornam-se necessárias outras possibilidades de ensino, que contemplaremos mais adiante. Em relação à pedagogia da iniciação esportiva, Paes arrola experiências práticas em situações de jogo, também em 1x1-2x2-3x3, e ainda o “jogo pos- sível” como uma possibilidade de ensinar jogos des- portivos coletivos, pois o mesmo pode propiciar aos alunos o conhecimento e a aprendizagem dos fun- damentos básicos das modalidades coletivas, con- siderando seus valores relativos e absolutos, e tam- bém aprenderem de acordo com suas possibilidades materiais (locais de aprendizagem). Almeja-se, nesse procedimento, a motivação por parte dos alunos ou praticantes, para que os mesmos tomem gosto e possam usufruir a prática desportiva, como beneficio para melhor qualidade de vida, caso seus talentos pessoais não despertem o sucesso atlético. Cabe-nos ressaltar que, desde que a criança ini- cia a prática sistematizada de treinamento na escola ou no clube, não é garantida sua formação atléti- ca simplesmente por seus domínios técnico-táticos. Deve-se levar em consideração sua totalidade, sua vida; física, social, mental e espiritual. Caso a crian- ça opte pela especialização em uma determinada modalidade, pode utilizar-se de tais conhecimentos, fortalecendo o direcionamento na busca de rendi- mentos superiores. Torna-se valioso também, o cuida- do do técnico em diagnosticar, durante a prática, quais crianças e adolescentes necessitam mais de um ou outro estímulo, a fim de promover um melhor ambiente de aprendizagem. Até esse momento, dis- cutimos assuntos que tratam de questões relaciona- das ao ensino das habilidades e capacidades tático- -cognitivas, embasados nos autores até aqui citados, os quais referem-se à pedagogia da iniciação nos jogos desportivos coletivos. Com base nas discussões anteriores sobre os procedimentos de ensino dos jo- gos desportivos coletivos, em uma pedagogia volta- da para a iniciação esportiva, entendemos que há necessidade de estabelecer uma diferenciação da aprendizagem dos conteúdos durante o processo. Dessa forma, mostramos, a seguir, como ocorre, no processo de desenvolvimento, a etapa de inicia- ção esportiva e suas fases de desenvolvimento, bem como a aplicação dos conteúdos de ensino, haja vista que deve haver uma organização pedagógica dos conteúdos em suas respectivas fases. Etapa de iniciação esportiva e suas fases de de- senvolvimento Nos dias atuais, para atingir resultados desporti- vos superiores, os atletas dedicam-se à atividade es- portiva durante muitos anos de suas vidas. Por isso, tornou-se necessária uma subdivisão metodológica rigorosa em longo prazo, relacionada à preparação dos atletas, na qual as etapas e fases não têm prazos definidos de início e finalização, pois dependem não Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 72 só da idade, mas também do potencial genético do esportista e do ambiente no qual ele está inserido, das particularidades de seu crescimento, maturação, desenvolvimento, da qualidade dos técnicos, entre outros, e também das características de cada modalidade escolhida. Toda proposta que visa ao planejamento da prática do esporte em seus diferentes significados prioriza o desenvolvimento dos seus praticantes em etapas e fases que percorrem desde a iniciação até o profissionalismo. Destacamos, neste capítulo, alguns autores que demonstraram essa preocupação: Hahn (1989), Kreb’s (1992), Zakharov e Gomes (1992), Gallahue e Os- mun (1995), Filin (1996), Matveev (1997), Greco (1998), Weineck (1999), Schimitd (2001) e Paes (2001). A etapa de iniciação nos jogos desportivos coletivos é um período que abrange desde o momento em que as crianças iniciam-se nos esportes até a decisão por praticarem uma modalidade. Desta maneira, os conteúdos devem ser ensinados respeitando-se cada fase do desenvolvimento das crianças e dos pré-ado- lescentes. Sendo assim, optamos por dividir a etapa de iniciação esportiva em três fases de desenvolvimento: a) fase iniciação esportiva I; b) fase de iniciação esportiva II; e c) fase de iniciação esportiva III, sendo que cada fase possui objetivos específicos para o ensino formal e está de acordo com as idades biológica, esco- lar, cronológica e com as categorias disputadas nos campeonatos municipais e estaduais, diferenciando-se de modalidade para modalidade. No quadro 1, visualizamos essas características, com um exemplo para as disputas nos campeonatos de basquetebol no ensino não formal. Quadro 1. Periodização do processo de ensino para os jogos desportivos coletivos na etapa de iniciação esportiva, com um exemplo para o Basquetebol. Fase de iniciação esportiva I: A fase de iniciação esportiva I corresponde da 1.ª à 4.ª séries do ensino fundamental, atendendo crianças da primeira e segunda infância, com idades entre 7 e 10 anos. O en- volvimento das crianças nas atividades desportivas deve ter caráter lúdico, participativo e alegre, a fim de oportunizar o ensino das técnicas desportivas, estimulando o pensamento tático. Todas as crianças devem ter a possibilidade de acesso aos princípios educativos dos jogos e brincadeiras, influenciando positivamente o processo ensino-aprendizagem. Compreendemos que se deve evitar, nos jogos desportivos coletivos, as competições antes dos 12 anos, as quais exigem a perfeição dos movimentos ou gestos motores e também grandes soluções táticas. Paes pontua que, no processo evolutivo, essa fase - participação em atividades variadas com caráter recreativo - visa à educação do movimento, buscando-se o aprimoramento dos padrões motores e do rit- mo geral por meio das atividades lúdicas ou recreativas. Hahn propõe, com base nos estudos de Grosser, o desenvolvimento das capacidades coordenação, velocidade e flexibilidade, pois esse é o período propício para o início de desenvolvimento. As crianças encontram-se favorecidas, aproximadamente entre 7 a 11 anos, em função da plasticidade do sistema nervoso central, e as atividades devem ser desenvolvidas sob diversos ângulos: complexidade, variabilidade, diversidade e continuidade durante todo o seu processo de desenvolvimento. Weineck pontua que as crianças dessa faixa etária 7 a 11 anos demonstram grande de- terminação para as brincadeiras com variação de movimentos e ocupam-se de um percentual significativo de jogos, que formam de maneira múltipla. Esse fato nos faz acreditar, que se deve proporcionar então, um ambiente agradável para que o desenvolvimento ocorra sem maiores prejuízos, ou seja, as crianças devem aprimorar o padrão de movimento cuja execução objetiva apenas a estimulação para que, assim, a criança construa o seu próprio repertório motor, sem nenhuma sobrecarga. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 73 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Desta maneira, ao relacionar a participação da criança em atividades motoras na infância, consta- tou-se que as mesmas gostavam de brincar, o que pode ser comprovadonos estudos de Vieira e Oli- veira, os quais, ao entrevistar talentos da modalida- de de atletismo e basquetebol, confirmaram que os atletas, quando crianças, gostavam de caçar, brin- car de super-herói, cabo de guerra, amarelinha, de- monstrando, assim, interesse pelas atividades lúdicas. Nesse contexto, Greco e Paes afirmam que a função primordial é assegurar a prática no processo ensino- -aprendizagem, com valores e princípios voltados para uma atividade gratificante, motivadora e per- manente, reforçada pelos conteúdos desenvolvidos pedagogicamente, respeitando-se as fases sensíveis do desenvolvimento, com carga horária suficiente para não prejudicar as demais atividades como o descanso, a escola, a diversão, dentre outras; caso contrário, será muito difícil atingir os objetivos em cada fase do período de desenvolvimento infantil. Oliveira corrobora com essa tese ao afirmar que, nessa fase, as principais tarefas são os gestos motores, necessários à vida, e deve-se procurar assegurar o desenvolvimento harmonioso do organismo por meio de atividades como escalonamento, saltos, corridas, lançamentos, natação etc., não se devendo, nesse período, apressar a especialização desportiva. Os ini- ciantes praticam aproximadamente 150 a 300 horas anuais, sendo que o trabalho geral deve predominar em relação às cargas específicas. Isso significa que a especialização precoce, nesse momento, pode não ser adequada. Os conteúdos desenvolvidos nes- sa fase, em conformidade com Paes, devem ser o domínio do corpo, a manipulação da bola, o drible, a recepção e os passes, podendo utilizar-se do jogo como principal método para a aprendizagem. Con- cordamos com o autor e sugerimos ainda o lança- mento, o chute, o saque, o arremesso, quicar e cor- tar, típicos dos jogos desportivos coletivos. Os espa- ços, todavia, podem ser reduzidos, para adequar as capacidades físicas das crianças; e os alvos podem ser menores, a exemplo do gol do futsal, do futebol, do handebol; e nos casos do basquetebol e do vo- leibol, a tabela, o aro e a rede podem ser com al- turas menores. Essas modificações também podem ser feitas em outros jogos e brincadeiras. Acreditamos que, com isso, as crianças poderão motivar-se para a prática em função do aumento das possibilidades. Em relação aos jogos desportivos coletivos, as ati- vidades lúdicas em forma de brincadeiras e peque- nos jogos podem contribuir para desenvolver, nas crianças, as capacidades físicas, tais como a coor- denação, a velocidade e a flexibilidade - propícias nessa fase - e também habilidades básicas para fu- turas especializações, como agilidade, mobilidade, equilíbrio e ritmo. Deve-se evitar a apreensão com a execução errônea do gesto técnico, pois cada for- ma diferente de movimento em relação ao modelo técnico pode ser aceita, deixando para a fase pos- terior as cobranças em relação à perfeição dos ges- tos motores. A educação física escolar tem função primordial nessa fase, aumentando a quantidade e a qualidade das atividades, visando a ampliar a ca- pacidade motora das crianças, a qual poderá faci- litar o processo de ensino-aprendizagem nas demais fases. De qualquer modo, seja na escola ou no clube, a efetividade da preparação e da formação geral que constituirão a educação geral dos atletas no fu- turo só poderá ser maximizada na interação profes- sor/técnico, escola, aluno/atleta e demais indivíduos que têm influência no desenvolvimento dos jovens. Sendo assim, o sucesso da educação das crian- ças e adolescentes depende muito da capacidade do professor/treinador e de cada cenário onde o trabalho é desenvolvido. A literatura especializada do treinamento infantil demonstra que, nessa fase, devem-se observar as condições favoráveis para o desenvolvimento de todas as capacidades e quali- dades na aplicação dos conteúdos do ensino, por meio de uma ação pedagógica sistematizada. Fase de iniciação esportiva II: A fase de inicia- ção esportiva II é marcada por oportunizar os jovens à aprendizagem de várias modalidades esportivas, atendendo crianças e adolescentes da 5ª à 7ª séries do ensino fundamental, com idades aproximadas de 11 a 13 anos, correspondente à primeira idade pube- ral. Partindo do princípio de que a fase de iniciação desportiva I visa à estimulação e à ampliação do vo- cabulário motor por intermédio das atividades varia- das específicas, mas não especializadas de nenhum esporte, a fase de iniciação esportiva II dá início à aprendizagem de diversas modalidades esportivas, dentro de suas particularidades. Aprendizagem diversificada de modalidades es- portivas Abordaremos, nesse momento, a importância da diversificação, ou seja, a prática de várias mo- dalidades esportivas que contribui para futuras espe- cializações. Defendemos, também, a diversificação dos conteúdos de ensino em uma modalidade, evi- tando, todavia, a repetição dos mesmos, repetição essa que leva à estabilização da aprendizagem, em- pobrecendo o repertório motor dos praticantes. Em relação à diversificação e à aprendizagem de vá- rias modalidades esportivas, Bayer entende que, em nível de aprendizagem, o “transfer” é admitido, ou seja, a transferência encontra-se facilitada logo que Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 74 um jogador a perceba na estrutura dos jogos des- portivos coletivos. Assim, os praticantes transferem a aprendizagem de um gesto como o arremessar ao gol no handebol, a cortada do voleibol ou o arremes- so da cesta no basquetebol. Trata-se, então, de isolar estruturas semelhantes que existem em todos os jogos coletivos desportivos para que o aprendiz reproduza, compreenda e delas aproprie-se. Entretanto, o autor adverte: “ter a experiência duma estrutura não é re- cebê-la passivamente, é vivê-la, retomá-la e assumi- -la, reencontrando seu sentido constantemente”. De acordo com a literatura, os iniciantes devem participar de jogos e exercícios, advindos dos espor- tes específicos e de outros, que auxiliem a melhorar sua base multilateral e no preparo com a base diver- sificada para o esporte escolhido. As competições devem ter caráter participativo e podem ser estru- turadas para reforçar o desenvolvimento das capa- cidades coordenativas e das destrezas, melhorando a técnica do movimento competitivo, vivenciando formações táticas simples. No entanto, ainda não se deve objetivar o produto final (resultado) nesse momento. Deve-se buscar, na iniciação esportiva, a aprendizagem diversificada e motivacional, visan- do ao desenvolvimento geral. Essa fase caracteriza a passagem da fase da iniciação esportiva I para a fase de iniciação desportiva II, na qual se confe- re muita importância à auto-imagem, socialização e valorização, por intermédio dos princípios educativos na aprendizagem dos jogos coletivos. Nesse período, consolida-se o sistema de pre- paração em longo prazo, pois é importante não se perder tempo para evitar a estabilidade da apren- dizagem. Para Weineck, além da ótima fase para aprender, na qual as diferenças em relação à fase anterior são graduais e as transições são contínuas, as capacidades coordenativas dão base para futu- ros desempenhos. Por outro lado, deve se evitar a es- pecialização precoce, como afirma Vieira, haja vista que esta pode levar ao abandono do esporte, sem contar que o resultado precoce nas fases inferiores pode, além de promover o abandono, influenciar na formação da personalidade das pessoas, levando-as a atividades inseguras, tornando-as até inconscien- tes de seu papel perante a sociedade. Em se tratando de evitar a especialização pre- coce, concordamos com Paes, o qual assinala essa fase como generalizada, na qual pretende-se a aqui- sição das condições básicas de jogo ao lado de um desenvolvimento psicomotorintegral, possibilitando a execução de tarefas mais complexas. Essa fase, porém, não deverá ser utilizada para a firmação obrigatória da especialização desportiva dos atletas. Neste sentido, Gallahue pondera que esse momento é importante para os aprendizes passarem do está- gio de transição para o de aplicação, ou seja, apren- der com relativa instrução do professor a liberdade dos gestos técnicos. Vieira corrobora com essa ideia, afirmando que, nessa fase, a atenção está direcio- nada para a prática bem como para as condições de promover o refinamento da destreza, planejando situações práticas progressivamente mais complexas, ressaltando que o sistema de ensino é parcialmente aberto, no qual as atividades são também parcial- mente definidas pelo professor/ técnico. De qualquer forma, todas as fases estão em es- treita interdependência; as fases posteriores são es- truturadas nas anteriores. Essa importância é discuti- da por Gomes quando aponta que o ex-campeão do mundo, M.Gross, praticou, paralelamente à na- tação, futebol, tênis, cross-country e as técnicas de natação eram realizadas por meio de jogos pré-sele- cionados, melhorando a capacidade coordenativa antes da especialização e do sucesso na natação. Segundo Paes, os conteúdos de ensino a serem minis- trados nessa fase são os conceitos técnicos e táticos dos desportos: basquetebol, futebol, futsal, voleibol e handebol, nos quais devem ser contemplados, além desses conteúdos, finalizações e fundamentos es- pecíficos. Em nosso ponto de vista, deve-se, ainda, trabalhar os exercícios sincronizados e o “jogo”, que ainda deve tomar a maior parte do tempo nos trei- namentos. Como o tempo maior de trabalho é dedi- cado a enfatizar o jogo, o ensino-aprendizagem con- templa as regras; estas, portanto, devem ser simplifi- cadas, nas quais a tática “razão de fazer” contribui para a aprendizagem da técnica “modo de fazer” e vice-versa. Teodorescu afirma que os aspectos físicos do de- senvolvimento morfofisiológico e funcional podem ser desenvolvidos com as influências positivas do jogo no processo de aprendizagem e prática. Deve- -se, então, apropriar-se do aumento da intensidade nas aulas e nos treinamento em relação aos espaços dos jogos, visando ao desenvolvimento da capaci- dade aeróbia, base para outras capacidades. A ve- locidade de reação, mudança de direção e parada brusca, já desde a fase anterior, deve ser aprimora- da, melhorando o controle do corpo. A flexibilidade deve ser desenvolvida de forma agradável, sempre antes das sessões de treinamento, pois se alcançam, nessa fase, períodos ótimos de sensibilidade de de- senvolvimento. O tempo dedicado ao treinamento, segundo Gomes, gira em torno de 300 a 600 horas anuais, das quais apenas 25% do tempo é dedica- do a conteúdos específicos e 75% aos conteúdos da preparação geral. Nos conteúdos de ensino, a ênfase deve se dar no desenvolvimento da destreza e habilidades moto- ras, sem muita preocupação para as performances de vitórias, haja vista que a capacidade de supor- tar as experiências nos jogos na infância e início da Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 75 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS adolescência é facilitada pela compreensão simpli- ficada das regras e pelo valor relativo dos resultados das ações e não simplesmente pelos títulos a serem alcançados. No processo de formação esportiva, além dos dirigentes, pais e árbitros, o técnico é o res- ponsável pela estruturação do treinamento. Ele deve conhecer os fatores que envolvem a iniciação espor- tiva e a especialização dos jovens praticantes, contri- buindo decisivamente na existência de um ambiente formativo-educativo na prática esportiva (Mesquita). Dessa forma, o esporte, como conteúdo peda- gógico na educação formal e não formal, deve ter caráter educativo (Paes). O apoio familiar, as ne- cessidades básicas, motivação, as competições, as possibilidades de novos amigos e as viagens são mo- tivos pelos quais muitos adolescentes continuam na prática esportiva após a aprendizagem inicial. Deste modo, a fase de iniciação esportiva II requer uma instrução com base no modelo referente ao esporte culturalmente determinado. Neste sentido, torna-se imprescindível, para a prática dos jogos desportivos coletivos, uma sistematização dos conteúdos perio- dizados pedagogicamente, no qual o professor/téc- nico desempenha papel fundamental no processo de aprendizagem e na busca do rendimento. Nessa fase, a escola é o melhor local para a aprendizagem, pois, são inúmeros os motivos no qual crianças e ado- lescentes procuram os desportos, entre eles: encon- trar e jogar com outros garotos, diversão, aprender a jogar e ainda na escola, o professor terá controle da frequência e da idade dos alunos, facilitando as inter- venções pedagógicas. No âmbito informal, como no clube desportivo, isso pode não ocorrer, mas a fun- ção do professor/técnico do clube deve propiciar à criança o mesmo tratamento pedagógico que esta recebe na escola, para facilitar o desenvolvimento dos alunos/atletas. Fase de iniciação esportiva III: Entendemos que, nesse momento do processo, a iniciação esportiva III é a fase que corresponde à faixa etária aproxima- da de 13 a 14 anos, às 7ª e 8ª séries do ensino fun- damental, passando os atletas pela pubescência. Enfatizamos o desenvolvimento dessa fase, para os alunos/atletas, a automatização e o refinamento dos conteúdos aprendidos anteriormente, nas fases de iniciação esportiva I e II, e a aprendizagem de novos conteúdos, fundamentais nesse momento de desen- volvimento esportivo. Nessa fase do processo, o jovem procura, por si só, a prática de uma ou mais modalidades esporti- vas por gosto, prazer, aplicação voluntária e pelo su- cesso obtido nas fases anteriores. Neste sentido, os atributos pessoais parecem ser fundamentais para o aperfeiçoamento das capacidades individuais. A idade e o biótipo, além da motivação, são carac- terísticas determinantes para a opção por uma ou outra modalidade na busca da automatização e refinamento da aprendizagem dos conteúdos das fases anteriores, buscando a fixação em uma só mo- dalidade. Weineck reconhece que a seleção dos atletas adolescentes é feita com base nas dimen- sões corporais e na qualificação técnica, além dos parâmetros fisiológicos e morfológicos. As condições antropométricas, além dos fatores afetivos e sociais, exercem uma influência significativa na detecção de futuros talentos. Desta forma, a preparação das capacidades técnico-táticas recebe uma parte rele- vante do treinamento, contudo, consideramos o seu desenvolvimento dos atletas aliado a outros fatores, como o desenvolvimento das capacidades físicas. O objetivo é desenvolver, de forma harmônica, todas as capacidades, preparando os adolescentes para a vida e para posteriores práticas especializadas. Gallahue pontua que, nessa fase, acontece a passagem do estágio de aplicação para a estabiliza- ção, a qual fica para o resto da vida. Nesse contexto, Vieira (1999) afirma que ocorre, nessa fase da apren- dizagem, um ensino por sistema parcialmente fecha- do (prática). Assim, o plano motor que caracteriza o movimento a ser executado, bem como as demais condições da tarefa, já estão prioritariamente defi- nidos, e almeja-se o aperfeiçoamento. Isso significa que, a partir da aprendizagem de múltiplas modali- dades, a prática motora é uma atividade específica. Quer dizer, cada modalidade desportiva coletiva, requer dos indivíduos alguns requisitos relacionados à demandas específicas das tarefas solicitadas. O fenômeno, aqui, é a automatização do movimen- to, isto é, todas as aquisições que aconteceram de forma consciente e com muito gasto de energia po- dem, agora, ser executadas no subconsciente, com menor gasto energético, ou seja, deforma automa- tizada. Em relação aos conteúdos de ensino, Paes, em sua abordagem escolar, propõe que, além das ex- periências anteriores, sejam apreendidas pelos atle- tas, sejam: as situações de jogo, e sistemas ofensivos como também os exercícios sincronizados, cujo prin- cipal objetivo é proporcionar aos alunos a execução e a automatização de todos os fundamentos apren- didos, isolando algumas situações de jogo. Com base nesse pensamento, deve-se iniciar as organizações táticas, ofensivas e defensivas sem muitos detalhes. As “situações de jogo” devem ser trabalhadas em 2x1, 2x2, 3x3 e 4x3, possibilitando aos alunos/atletas a oportunidade de praticar os fundamentos apren- didos em situações reais de jogo, com vantagem e desvantagem numérica. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 76 Outro conteúdo específico nessa fase é a “tran- sição”, entendida como contra-ataque nos jogos desportivos coletivos. Paes define essa fase “como a passagem da ação defensiva para a ação ofensiva” (Paes). Constatamos que a evolução técnica e táti- ca e as mudanças na regras do jogo transformaram a transição ou contra-ataque em objeto de estudo de várias escolas esportivas em todo o mundo. Assim, deve-se dar atenção especial aos aspectos funda- mentais que envolvem o treinamento da transição ao ensinar esportes para adolescentes, pois estes aspec- tos, desenvolvidos com vantagem e desvantagem numérica, podem aperfeiçoar em reais situações de jogo a técnica, a tática, o físico e o psicológico dos alunos/atletas na busca da maestria, ou seja, da au- tonomia e do conhecimento teórico e prático sobre o contexto dos jogos. Em relação às habilidades mo- toras, a fase de automatização e refinamento enfa- tiza a prática do que foi aprendido e acrescenta as situações de jogo, transição (contra-ataque) e siste- mas táticos de defesa e ataque, os quais, aliados à técnica, visam ao aperfeiçoamento das condições gerais da formação do atleta, na qual os conteúdos de ensino equilibram-se entre exercícios e jogos com o objetivo de ensinar habilidades “técnicas específi- cas”, que são o modo de fazer aliado à “tática espe- cífica”, a razão de fazer. Para uma melhor compreensão sobre a tática, Konzag a divide em individual e de grupo, tanto no ataque quanto na defesa. Bota e Evulet acrescentam que a tática de equipe é ações coletivas, indicando os princípios de ações ofensivas que estão nas bases dos sistemas dos jogos desportivos coletivos; posicio- namento rápido, contra ataque, ataque e defesa. As ações táticas em grupos entre dois e três atacantes ou defensores com e sem bola são subordinações dos princípios do jogo. As ações individuais com e sem bola são utilizadas somente por jogadas de um só jogador. O desenvolvimento das capacidades físi- cas deve acontecer logo que a criança inicia as ati- vidades em forma de brincadeiras nas ruas ou jogos recreativos na pré-escola e na 1.ª à 4.ª série do ensino fundamental, e também a partir do momento que entra na 5.ª e 6.ª séries, nos jogos coletivos desportivos específicos. O próprio jogo coletivo, por meio de seus conteúdos, tem a finalidade de aperfeiçoar a velo- cidade de reação, a coordenação, a flexibilidade e a capacidade aeróbica dos pré-adolescentes. Isso se torna necessário para um desenvolvimento físico generalizado através de exercícios e jogos. Na fase de automatização e refinamento dos fundamentos - exercícios sincronizados e sistemas aprendidos - e o desenvolvimento das capacidades físicas, volta-se para o aperfeiçoamento do que já foi conseguido anteriormente, fortalecendo a estrutura física, destacando as capacidades físicas específicas de um determinado esporte; como exemplo, a resis- tência de velocidade, muito utilizada no basquete- bol, futsal, futebol entre outros. No caso das habilida- des (técnicas), como exposto anteriormente, os jogos e as brincadeiras, nas fases de iniciação desportiva I e II, objetivam à aprendizagem da manipulação de bola, passe-recepção, entre outras, e no domí- nio corporal, a agilidade, mobilidade, ritmo e equi- líbrio; dando início à formação tática e ao aperfei- çoamento das capacidades físicas - coordenação, flexibilidade e velocidade - que constituem as bases para a fase de iniciação esportiva III, a qual possui, como conteúdos, a automatização e o refinamen- to da aprendizagem, preparando os alunos/atletas para a especialização. Na fase iniciação esportiva III, a automatização e o refinamento da aprendizagem inicial possibilitam ao praticante optar por uma outra modalidade após as experiências vividas e depois da aprendizagem de várias modalidades esportivas. Acreditamos que os movimentos desorganizados aos poucos vão se coordenando, e os jovens, por sua própria natureza e interesse, vão se decidindo em qual modalidade se especializarão. Nesse período do processo de desenvolvimento, os técnicos de cada modalidade utilizam suas experiências e competência profissional como instrumento de seleção esportiva. Outras pos- sibilidades são necessárias para auxiliar os técnicos, como o apoio dos pais, das prefeituras, dos estados, das instituições, federações e confederações, a fim de promover os talentos (Oliveira). Acreditamos que a iniciação nos jogos desporti- vos coletivos deva ser entendida pelos agentes es- portivos: técnicos, dirigentes, etc, como um processo que inicia-se logo que as crianças tem suas primeiras vivencias com os jogos até o final dos quatorze anos, período este que torna -se necessário a especializa- ção em uma modalidade quando as vistas é a forma- ção do atleta. Esse processo chamado de etapa de iniciação esportiva deve constituir-se de fases e sua constituição acontece com as experiências dos pra- ticantes, aliada a um projeto pedagógico onde os conteúdos do ensino das habilidades e o desenvolvi- mento das capacidades motoras, ocorram de forma diversificada, motivadora oportunizando a participa- ção e a aprendizagem do maior número possível de praticantes principalmente nas agencias formais de ensino, com base no método de jogo, dentro da es- pecificidade de cada modalidade praticada pelas crianças e adolescentes, possibilitando um ótimo de- senvolvimento da aprendizagem motora, dando ba- ses para as futuras especializações nas modalidades escolhidas pelos próprios praticantes. Especialização esta que acontecerá após quatorze anos de idade. Texto adaptado de Valdomiro de Oliveira e Roberto Rodrigues Paes. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 77 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS História das Modalidades: Atletismo, Futebol, Vô- lei, Basquete, Handebol, Futsal Atletismo O atletismo é um conjunto de esportes consti- tuído por três modalidades: corrida, lançamentos e saltos. De modo geral, o atletismo é praticado em es- tádios, com exceção de algumas corridas de longa distância, praticadas em vias públicas ou no campo, como a maratona. O romano Juvenal sintetizou na expressão “mens sana in corpore sano” a própria filo- sofia do esporte. História O atletismo é a forma organizada mais antiga de esporte. As primeiras reuniões organizadas da história foram os Jogos Olímpicos, que iniciaram os gregos no ano 776 a.C. Durante anos, o principal evento olímpi- co foi o pentatlo, que compreendia lançamentos de disco, salto em comprimento e corrida de obstácu- los. Os romanos continuaram celebrando as provas olímpicas depois de conquistar a Grécia no ano 146 a.C. No ano 394 da nossa era o imperador romano Teodósio aboliu os jogos. Durante oito séculos não se celebraram competições organizadas de atletismo. Restauram-se na Inglaterra em meados do século XIX, e então as provas atléticas converteram-se gra- dualmente no esporte favorito dos ingleses. Em 1834 umgrupo de entusiastas desta naciona- lidade alcançou os mínimos exigíveis para competir em determinadas provas. Também no século XIX se realizaram as primeiras reuniões atléticas universi- tárias entre as universidades de Oxford e Cambrid- ge (1864), o primeiro encontro nacional em Londres (1866) e o primeiro encontro amador celebrado nos Estados Unidos em pista coberta (1868). O atletismo posteriormente adquiriu um grande seguimento na Europa e América. Em 1896 iniciaram-se em Atenas os Jogos Olímpicos, uma modificação restaurada dos antigos jogos que os gregos celebravam em Olímpia. Mais tarde os jogos celebraram-se em vá- rios países com intervalos de quatro anos, exceto em tempo de guerra. Em 1912 fundou-se a Associação Internacional de Federações de Atletismo. Com sede central de Londres, a associação é o organismo reitor das competições de atletismo a escala internacio- nal, estabelecendo as regras e dando oficialidade às melhores marcas mundiais obtidas pelos atletas. O atletismo surgiu nos Jogos Antigos da Grécia. Des- de então, o homem vem tentando superar seus mo- vimentos essenciais como caminhar, correr, saltar e arremessar. Na definição moderna, o atletismo é um espor- te com provas de pista (corridas rasas, corridas com barreiras ou com obstáculos, saltos, arremesso, lan- çamentos e provas combinadas, como o decatlo e heptatlo); corridas de rua (nas mais variadas dis- tâncias, como a maratona e corridas de montanha); provas de cross country (corridas com obstáculos naturais ou artificiais); e marcha atlética. Considera- do o esporte-base, por testar todas as característica básicas do homem, o atletismo não se limita somen- te à resistência física, mas integra essa resistência à habilidade física. Comporta três tipos de provas, dis- putadas individualmente que são as corridas, os sal- tos e os lançamentos. Conforme as regras de cada jogo, as competições realizadas em equipes somam pontos que seus membros obtêm em cada uma das modalidades. As corridas rasas de velocidade e re- vezamento são antigas. As corridas com obstáculos, que podem ser naturais ou artificiais, juntamente com as corridas de “sabe”, que os ingleses chamam de “steeple chass”, foram idealizadas tendo como mo- delo as corridas de cavalos. A maratona, a mais famosa das corridas de resis- tência, baseia-se na legendária façanha de um sol- dado grego que em 490 A C. Correu o campo de ba- talha das planícies de Maratona até Atenas, numa distância superior a 35 km, para anunciar a vitória dos gregos sobre os persas. Uma vez cumprida a missão, caiu morto. As maratonas modernas exigem um per- curso ainda maior: 42.192 m. Nos primórdios de nos- sa civilização, começa a história do atletismo. O ho- mem das cavernas, de forma natural, praticava uma série de movimentos, nas atividades de caça, em sua defesa própria etc. Ele saltava, corria, lançava, enfim desenvolvia uma série de habilidades relacionadas com as diversas provas de uma competição de atle- tismo. Podemos verificar que as provas de atletismo são atividades naturais e fundamentais do homem: o andar, o correr, o saltar e o arremessar. Por esta razão, é considerado o atletismo o “esporte base” e suas provas competitivas compõem-se de marchas, corridas, saltos e arremessos. Além disso, o desenvol- vimento dessas habilidades são necessárias à prática de outras modalidades esportivas. Por exemplo, podemos observar uma jogadora em atividade numa partida de futebol, basquete ou voleibol. Durante o jogo, ele anda, outras vezes, cor- re, salta e pratica arremessos. Por isso, um jogador de futebol, basquete ou voleibol procura sempre desen- volver essas habilidades que são “base” dos conjun- tos de atividade física do praticante dessas moda- lidades. A história do atletismo é muito bonita, pois que se inicia com a própria história da humanidade, quando o homem primitivo praticava suas atividades Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 78 naturais para sobrevivência. Chega mesmo a se con- fundir com a mitologia, quando observamos o perío- do da Antiguidade Clássica, com os Jogos Olímpicos que deram origem aos atuais Jogos Olímpicos da Era Moderna, que trazem como reminiscência cultu- ral mais marcante a figura de Discóbulo de Miron. O atletismo, sob forma de competição, teve sua origem na Grécia. A palavra atletismo foi derivada da raiz grega, “ATHI, competição”, o princípio do heroísmo sagrado grego, o espírito de disputa, o ideal do belo etc. – o que se chamou de espírito agonístico. Surgi- ram então as competições que foram perdendo o caráter de religiosidade e assumindo exclusivamente o caráter esportivo. Corridas: As corridas são, em certo sentido, as for- mas de expressão atlética mais pura que o homem já desenvolveu. Embora exista algo de estratégia e uma técnica implícita, a corrida é uma prática que envolve basicamente o bom condicionamento físico do atleta. As corridas dividem-se em curta distância ou velocidade (tiro rápido), que nas competições ofi- ciais vão de 100, 200 e os 400 metros inclusive; mé- dia distância ou de meio fundo (800 metros e 1 500 metros); e longa distância ou de fundo (3 000 metros ou mais, chegando até às ultramaratonas). Podem ser divididas também de acordo com a existência ou não de obstáculos (barreiras) colocados no per- curso. Organizam-se ainda corridas de cross country ou um “corta-mato” de campo e de montanha. Em pista podemos ainda assistir a corridas de barreiras. e de obstáculos. Nas corridas de curta distância, a explosão muscular na largada é determinante no re- sultado obtido pelo atleta. Por isso, existe um posicio- namento especial para a largada, que consiste em apoiar os pés sobre um bloco de partida (fixado na pista) e apoiar o tronco sobre as mãos encostadas no chão (posição de quatro apoios). São frequentes as falsas partidas, quando o atleta sai antes do tiro de partida, que é o sinal dado para começar a prova. Qualquer atleta que dê uma falsa partida será des- classificado. Contudo, nas provas combinadas (ex decatlo) cada atleta tem direito a uma falsa partida. Nas provas mais longas a partida não tem um pa- pel tão decisivo, e os atletas saem para a corrida em uma posição mais natural, em pé, sem poder colocar as mãos no chão. Maratona: A maratona é uma corrida de longa distância ou de fundo, realizada parcialmente ou to- talmente fora do estádio, ou seja em estrada. A dis- tância que, segundo a lenda, teria percorrido um sol- dado grego, Filípides, para anunciar que os helenos haviam vencido uma batalha contra os persas era superior a 35 km. O trecho teria sido entre a planície de Maratona (o local da batalha) até a cidade de Atenas. A maratona é uma prova que envolve gran- de resistência física, sendo seu percurso estabeleci- do em 42 quilômetros e 195 metros (aceite tolerância por excesso de + 42 metros). Lançamentos: As disciplinas oficiais de lançamen- to envolvem o arremesso de peso, o lançamento de martelo, o lançamento de disco e lançamento do dardo. O arremesso no Brasil lançamento em Por- tugal de peso consiste no arremesso de uma esfera metálica que pesa 7,26 kg para os homens adultos e 4 kg para as mulheres. O martelo é similar a essa esfera, mas possui um cabo, o que permite imprimir movimento linear à esfera e assim atingir uma distân- cia maior. Já o disco é um pouco mais leve, pesando 1 quilograma para as mulheres e 2 quilogramas para os homens. E o dardo pesa 600 gramas para as mu- lheres e 800 gramas para os homens. Os lançamentos são executados dentro de áreas limitadas, são círcu- los demarcado no solo para o arremesso ou lança- mento de peso, de martelo e disco, e antes de uma linha demarcada no solo para o lançamento do dar- do. A partir dessas marcas é que é contada a distân-cia dos lançamentos. Normalmente as competições envolvem várias tentativas por parte dos atletas, que aproveitam as melhores marcas obtidas nessas ten- tativas. As provas de lançamento são normalmente praticadas no espaço interior à pista das corridas. A origem desta atividade é também irlandesa, pois nos jogos Tailteanos, no início da Era de Cristo, os celtas disputavam uma prova de arremesso de pedra que pelas descrições se assemelhavam à pro- va atual. Aliás, é interessante notar que na Penínsu- la Ibérica, nas províncias onde ainda se encontram concentrações humanas etnicamente celtas, Galiza na Espanha e Trás-os-Montes em Portugal, ainda se disputa uma competição chamada de “arremesso do calhau”, que se assemelha ao nosso moderno ar- remesso do peso. De qualquer forma, a codificação da prova, tal como ela é hoje, é totalmente britâni- ca, inclusive o peso do implemento, 7,256 kg, corres- pondente a 16 libras inglesas, que era precisamente o que pesavam os projéteis dos famosos canhões bri- tânicos do início do século XIX. As primeiras marcas registradas pertencem ao inglês Herbert Williams, que em Londres, em 28 de maio de 1860, lançou o peso a 10,91 m, e o da Era IAAF ao americano Ralph Rose, que em 21 de agosto de 1909 arremessou 15,54 m em São Francisco. William Parry O’ Brien revolucionou esta prova, criando um novo estilo, no qual o atle- ta começa o movimento de costas para o local do arremesso. Parry O’ Brien venceu os Jogos Olímpicos de Helsinque e Melbourne, ganhou a prata em Roma e ainda se classificou em 4º lugar em Tóquio 12 anos depois de iniciar a sua carreira olímpica. Foi também o primeiro atleta a vencer mais de 100 competições Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 79 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS consecutivas. No Brasil, o primeiro recorde reconhe- cido foi do atleta E. Engelke, vencedor do primeiro Campeonato Brasileiro de 1925, com a marca de 11,81 metros. Saltos: As provas de salto podem ser divididas em provas de salto vertical e de salto horizontal. Dentre as provas de salto vertical, temos o salto em altura e o salto com vara. As provas de salto horizontal envol- vem o salto em distância chamado também de sal- to em comprimento e o salto triplo ou triplo salto. Os atletas tomam impulso numa pequena pista de ba- lanço, objetivando maior distância no salto. O salto em altura, que tem por objetivo ultrapassar uma bar- ra horizontal (fasquia), é realizado mediante tentati- vas. A fasquia é colocada em determinada altura à qual os atletas devem tentar saltar. Se conseguirem, os atletas progridem para a próxima altura a que os Juízes colocarem a fasquia. Qualquer atleta que rea- lize três derrubes da fasquia (3 ensaios nulos), será im- pedido de continuar, sendo creditado com a marca correspondente à maior altura em que conseguiu re- alizar um ensaio válido. O salto com vara funciona do mesmo modo, mas neste salto, o atleta tem o apoio de uma vara. Em ambos os saltos, há um colchão para amortecer a queda do atleta após o salto. Atleta na prova de salto em distância ou salto em comprimento. No salto em distância e no salto triplo / triplo salto, o atleta faz sua aterrissagem numa caixa de areia. Há uma tábua de chamada na pista que indica o limite máximo de corrida de balanço antes do salto; caso o atleta ultrapasse ou toque nessa marca, realizará um ensaio nulo. Caso tenha saltado antes da tábua de chamada, a distância do ensaio será considerada apenas entre o limite na tábua de chamada até o local onde aterrissou. É importante destacar que vale o ponto de aterrissagem mais pró- ximo à tábua de chamada. Provas combinadas: Algumas competições es- portivas envolvem uma combinação de várias mo- dalidades, no intuito de consagrar um atleta mais completo. As provas oficiais do decatlo (para os ho- mens) e do heptatlo (para as mulheres) combinam corridas, saltos e lançamentos. Os atletas pontuam de acordo com as suas marcas nas provas individuais (tendo por base uma tabela de conversão de mar- cas por pontos), e esses pontos são somados para definir o vencedor. A pista: a pista de corrida normalmente contém 8 raias, cada uma com 1 metro e 22 centímetros que são os caminhos pelos quais os atletas devem correr. Deste modo, a largura da pista é de no mínimo 10 metros, com algum espaço além das raias interna e externa. Uma pista oficial de atletismo é constituída de duas retas e duas curvas, possuindo raias concên- tricas; tem o comprimento de 400 metros na raia in- terna (mais próxima ao centro). A raia mais externa é mais longa, possuindo 449 metros. Nas corridas de curta distância, os atletas devem permanecer nas raias a partir das quais largaram. Nas corridas de mé- dia e longa distância, os atletas não precisam correr nas raias, e geralmente se encaminham para a raia mais interior, evitando percorrer distâncias maiores. A pista Coberta: Terá de se situar num recinto completamente fechado, coberto e provido de ilu- minação, aquecimento e ventilação, que lhe dê condições satisfatórias para a competição. O local deverá incluir uma pista oval com 200 metros; uma pista reta para as corridas de velocidade (60 metros) e de barreiras; pistas de balanço e áreas de queda parasaltos. Deverá dispor-se, para além disso, de um círculo e sector de queda para o lançamento do peso, sejam eles permanentes ou temporários. Todas as pistas, pistas de balanço ou áreas de chamada, terão de estar cobertas com um material sintético ou ter uma superfície de madeira. As de material sinté- tico deverão, preferencialmente, permitira utilização de bicos de 6 mm nos sapatos dos atletas. Os respon- sáveis pelo local poderão autorizar dimensões alter- nativas, notificando os atletas acerca dessa permis- são quanto à dimensão dos bicos. Problemas com o vento: Em provas de saltos em distância e corridas curtas, os recordes só são válidos se o vento que estiver a favor não ultrapassar a mar- ca de 2 metros por segundo. Nas corridas longas, o vento não influi decisivamente, pois o atleta pega também lufadas de frente quando faz uma curva e muda de direção. Futebol Não é certa nem isenta de polémica a atribui- ção a uma cultura ou país da invenção do futebol. Sabe-se entretanto que as primeiras manifestações do chamado football (do inglês foot, pé; e ball, bola) surgiram entre 3.000 e 2.500 a.C., na China. O Tsu-Chu: Durante a dinastia do imperador Huang-ti, era costume chutar os crânios dos inimigos derrotados. Os crânios, que mais tarde viriam a ser substituídos por bolas de couro, tinham que ser chu- tados pelos soldados chineses por entre duas esta- cas cravadas no chão, no primeiro indício de traves. O esporte era chamado de tsu-chu, que em chinês, significa (tsu) uma “bola recheada feita de couro” (chu). O esporte foi criado para fins de treinamento militar, por Yang-Tsé, integrante da guarda do Impe- rador, na dinastia Xia, em 2.197 a.C. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 80 O Kemari: Significando ‘pontapear a bola (ke = chutar, mari = bola) é uma variação do tsu-chu com origem no Japão. Ao contrário do desporto chinês, as mulheres não podiam participar do kemari. E di- fundido pelos imperadores Engi e Tenrei, e era proi- bido qualquer contacto corporal. O campo (kakari) era quadrado e cada lado havia uma árvore: cere- jeira (sakura), salgueiro (yana-gi), bordo (kaede) e pinheiro (matsu). Os jogadores (mariashi, de mari = bola e ashi = pé) eram oito. Esse jogo era mais um ritual religioso do que propriamente um esporte, an- tes de se iniciar era realizada uma celebração para abençoar a “bola” que simbolizava o Sol e era cria- da artesanalmente com bambu. O Epyskiros: A primeira referência ao epyskiros vem do livro Sphairomachia,de Homero, um livro grego só sobre esportes com bolas. Nele é citado o epyskiros, um esporte disputado com os pés, num campo retangular, por duas equipes de nove joga- dores. O número desses, porém, podia mudar de acordo com as dimensões do campo. Podia-se ter até 15 jogadores de cada lado, como acontecia no século I a.C. em Esparta. A bola era feita de bexiga de boi e recheada com ar e areia, que deveria ser arremessada para as metas, no fundo de cada lado do campo. Os sacrifícios Maias: Entre os anos de 900 e 200 a.C., na Península de Iucatã, atual México, os maias praticavam um jogo (pok ta pok) com os pés e as mãos. O objetivo do jogo era arremessar a bola num furo circular no meio de seis placas quadradas de pedras. Na linha de fundo havia dois templos, onde o atirador-mestre (o equivalente ao capitão da equi- pe) do grupo perdedor era sacrificado. O Harpastum: Descendente do epyskiros, o har- pastum foi um esporte praticado por volta de 200 a.C. no Império Romano. O harpastum era disputado num campo retangular, divido por uma linha e com duas linhas como meta. A bola, feita de bexiga de boi, era chamada de follis. O harpastum era um exer- cício militar, o que fazia uma partida poder durar ho- ras. Com as conquistas romanas, ele foi difundido por outras regiões da Europa, da Ásia Menor e do Norte da África. O Soule: Durante a Idade Média, na região onde atualmente fica a França, foi criado o soule, uma ver- são do harpastum, introduzido pelos romanos entre os anos de 58 e 51 a.C.. As regras do soule variavam de região à região. Seu nome também, onde era chamado de choule na Picardia. O soule foi um es- porte da realeza, praticado pela aristocracia. O rei Henrique II da França, proibiu o jogo, pois o mesmo era violentíssimo e barulhento. Sendo assim, criou a lei que decretava a proibiçao desse esporte, e aqueles que o praticassem poderiam ir até para a prisão. O Calcio Fiorentino: Não é por acaso que os ita- lianos chamam hoje o futebol de calcio. O desporto foi criado em Florença, e por isso, chamado de cal- cio fiorentino. As regras só foram estabelecidas em 1580, por Giovanni di Bardi. O jogo passou a ser ar- bitrado por dez juízes, e a bola podia ser impulsada com os pés ou as mãos, e precisava ser introduzida numa barraca armada no fundo de cada campo. Não havia limite de jogadores (levando-se em conta o tamanho do campo, claro), por isso a necessidade de tantos juízes. O desporto se espalhou rapidamen- te por todo país, e hoje é uma festa anual em várias cidades da Itália. O Football: O primeiro registro de um desporto se- melhante ao futebol atual nos territórios bretões vem do livro Descriptio Nobilissimae Civitatis Londinae, de Willian Fitztephe, em 1175. A obra cita um jogo (se- melhante ao soule) durante a Schrovetide (espécie de Terça-feira Gorda), em que habitantes de várias cidades inglesas saíram à rua chutando uma bola de couro para comemorar a expulsão dos dinamar- queses. A bola simbolizava a cabeça de um invasor. Por muito tempo o futebol foi meramente um festejo para os ingleses. Lentamente o desporto passou a fi- car cada vez mais popular. Tanto que, no século XVI, a violência do jogo era tamanha, que o escritor Philip Stubbes escreveu certa vez: “Um jogo bárbaro, que só estimula a cólera, a inimizade, o ódio e a malícia.” - O que de fato, era verdade. Era comum no des- porto pernas partidas, roupas rasgadas ou dentes ar- rancados. Há noticias até de acidentes fatais, como a de um jogador que se afogou ao pular de uma ponte para apanhar a bola. Houve também muitos assassinatos devido a rivalidade entre equipes. Por isso, o desporto ficou conhecido como , “futebol de massa”. Em 1700, foram proibidas as formas violentas do futebol. O desporto, então, teve que mudar, e foi ganhando aspectos mais modernos. Em 1710, as es- colas de Covent Garden, Strand e Fleet Street passa- ram a adotar o futebol como atividade física. Com isso, depressa ganhou novos adeptos, que saíram de desporto como o tiro desportivo e a esgrima. Com a difusão do desporto pelos colégios do país, o proble- ma passou a ser os diferentes tipos de regra em cada escola. Duas regras de diferentes colégios ganharam destaque na época: um jogo só com o uso dos pés, e o outro com o uso dos pés e das mãos. Cria-se, assim, o football e o rugby, em 1846. O futebol é um dos es- portes mais populares no mundo. Praticado em cen- tenas de países, este esporte desperta tanto interesse Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 81 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS em função de sua forma de disputa atraente. Em- bora não se tenha muita certeza sobre os primórdios do futebol, historiadores descobriram vestígios dos jogos de bola em várias culturas antigas. Estes jogos de bola ainda não eram o futebol, pois não havia a definição de regras como há hoje, porém demons- tram o interesse do homem por este tipo de esporte desde os tempos antigos. O futebol tornou-se tão po- pular graças a seu jeito simples de jogar. Basta uma bola, equipes de jogadores e as traves, para que, em qualquer espaço, crianças e adultos possam se divertir com o futebol. Na rua, na escola, no clube, no campinho do bairro ou até mesmo no quintal de casa, desde cedo jovens de vários cantos do mundo começam a praticar o futebol. Origens do futebol na China Antiga: Na China Antiga, por volta de 3000 a.C, os militares chineses praticavam um jogo que na verdade era um treino militar. Após as guerras, formavam equipes para chu- tar a cabeça dos soldados inimigos. Com o tempo, as cabeças dos inimigos foram sendo substituídas por bolas de couro revestidas com cabelo. Formavam- -se duas equipes com oito jogadores e o objetivo era passar a bola de pé em pé sem deixar cair no chão, levando-a para dentro de duas estacas fincadas no campo. Estas estacas eram ligadas por um fio de cera. Origens do futebol no Japão Antigo: No Japão Antigo, foi criado um esporte muito parecido com o futebol atual, porém se chamava Kemari. Praticado por integrantes da corte do imperador japonês, o ke- mari acontecia num campo de aproximadamente 200 metros quadrados. A bola era feita de fibras de bambu e entre as regras, o contato físico era proibido entre os 16 jogadores (8 para cada equipe). Historia- dores do futebol encontraram relatos que confirmam o acontecimento de jogos entre equipes chinesas e japonesas na antiguidade. Origens do futebol na Grécia e Roma: Os gregos criaram um jogo por volta do século I a.C que se cha- mava Episkiros. Neste jogo, soldados gregos dividiam- -se em duas equipes de nove jogadores cada e joga- vam num terreno de formato retangular. Na cidade grega de Esparta, os jogadores, também militares, usavam uma bola feita de bexiga de boi cheia de areia ou terra. O campo onde se realizavam as par- tidas, em Esparta, eram bem grandes, pois as equi- pes eram formadas por quinze jogadores.Quando os romanos dominaram a Grécia, entraram em conta- to com a cultura grega e acabaram assimilando o Episkiros, porém o jogo tomou uma conotação muito mais violenta. O futebol na Idade Média: Há relatos de um es- porte muito parecido com o futebol, embora usava- -se muito a violência. O Soule ou Harpastum era pra- ticado na Idade Média por militares que dividiam-se em duas equipes : atacantes e defensores. Era per- mitido usar socos, pontapés, rasteiras e outros golpes violentos. Há relatos que mostram a morte de alguns jogadores durante a partida. Cada equipe era for- mada por 27 jogadores, onde grupos tinham funções diferentes no time: corredores, dianteiros, sacadores e guarda-redes. Na Itália Medieval apareceu um jogo denominado gioco del calcio. Era praticado em praças e os 27 jogadores de cada equipe deve- riam levar a bola até os dois postes que ficavam nos doiscantos extremos da praça. A violência era muito comum, pois os participantes levavam para campo seus problemas causados, principalmente por ques- tões sociais típicas da época medieval. O barulho, a desorganização e a violência eram tão grandes que o rei Eduardo II teve que decretar uma lei proibindo a prática do jogo, condenando a prisão os pratican- tes. Porém, o jogo não terminou, pois integrantes da nobreza criaram um nova versão dele com regras que não permitiam a violência. Nesta nova versão, cerca de doze juízes deveriam fazer cumprir as regras do jogo. O futebol chega à Inglaterra: Pesquisadores con- cluíram que o gioco de calcio saiu da Itália e chegou a Inglaterra por volta do século XVII. Na Inglaterra, o jogo ganhou regras diferentes e foi organizado e sistematizado. O campo deveria medir 120 por 180 metros e nas duas pontas seriam instalados dois arcos retangulares chamados de gol. A bola era de couro e enchida com ar. Com regras claras e objetivas, o futebol começou a ser praticado por estudantes e filhos da nobreza inglesa. Aos poucos foi se populari- zando. No ano de 1848, numa conferência em Cam- bridge, estabeleceu-se um único código de regras para o futebol. No ano de 1871 foi criada a figura do guarda-redes (goleiro) que seria o único que po- deria colocar as mãos na bola e deveria ficar próxi- mo ao gol para evitar a entrada da bola. Em 1875, foi estabelecida a regra do tempo de 90 minutos e em 1891 foi estabelecido o pênalti, para punir a falta dentro da área. Somente em 1907 foi estabelecida a regra do impedimento. O profissionalismo no futebol foi iniciado somente em 1885 e no ano seguinte seria criada, na Inglaterra, a International Board, entidade cujo objetivo principal era estabelecer e mudar as re- gras do futebol quando necessário. No ano de 1897, uma equipe de futebol inglesa chamada Corinthians fez uma excursão fora da Europa, contribuindo para difundir o futebol em diversas partes do mundo. Em 1888, foi fundada a Football League com o objetivo de organizar torneios e campeonatos internacionais. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 82 No ano de 1904, foi criada a FIFA (Federação Inter- nacional de Futebol Association) que organiza até hoje o futebol em todo mundo. É a FIFA que organi- za os grandes campeonatos de seleções (Copa do Mundo) de quatro em quatro anos. A FIFA também organiza competições entre clubes, um exemplo, é o Mundial de Clubes da Fifa, o primeiro foi em 2000 com o Corinthians do Brasil, levando a Taça, entre outros. Futebol no Brasil: Nascido no bairro paulistano do Brás, Charles Miller viajou para Inglaterra aos nove anos de idade para estudar. Lá tomou contato com o futebol e, ao retornar ao Brasil em 1894, trouxe na bagagem a primeira bola de futebol e um conjunto de regras. Podemos considerar Charles Miller como sendo o precursor do futebol no Brasil. O primeiro jogo de futebol no Brasil foi realizado em 15 de abril de 1895 entre funcionários de empresas inglesas que atuavam em São Paulo. Os funcionários também eram de origem inglesa. Este jogo foi entre Funcio- nários da Companhia de Gás X Cia. Ferroviaria São Paulo Railway. O primeiro time a se formar no Brasil foi o São Paulo Athletic Club (SPAC), fundado em 13 de maio de 1888. No início, o futebol era praticado apenas por pessoas da elite, sendo vedada a partici- pação de negros em times de futebol. Vôlei Voleibol (chamado frequentemente no Brasil de Vôlei e em Portugal de Vólei) é um desporto pratica- do numa quadra dividida em duas partes por uma rede, possuindo duas equipes de seis jogadores em cada lado. O objetivo da modalidade é fazer passar a bola sobre a rede de modo a que esta toque no chão dentro da quadra adversária, ao mesmo tem- po que se evita que os adversários consigam fazer o mesmo. O voleibol é um desporto olímpico, regulado pela Fédération Internationale de Volleyball (FIVB). História: O vôlei foi criado em 9 de fevereiro de 1895 por William George Morgan nos Estados Unidos. O objetivo de Morgan, que trabalhava na “Associa- ção Cristã de Moços” (ACM), era criar um esporte de equipes sem contato físico entre os adversários, de modo a minimizar os riscos de lesões. Inicialmente jo- gava-se com uma câmara de ar da bola de basque- tebol e foi chamado Mintonette, mas rapidamente ganhou popularidade com o nome de volleyball. O criador do voleibol faleceu em 27 de dezembro de 1942 aos 72 anos de idade. Em 1947 foi fundada a Federação Internacional de Voleibol (FIVB). Dois anos mais tarde foi realizado o primeiro Campeonato Mundial de Voleibol. Na ocasião só houve o evento masculino. Em 1952, o evento foi estendido também ao voleibol feminino. No ano de 1964 o voleibol pas- sou a fazer parte do programa dos Jogos Olímpicos, tendo-se mantido até a atualidade. Recentemente, o voleibol de praia, uma modalidade derivada do voleibol, tem obtido grande sucesso em diversos pa- íses, nomeadamente no Brasil e nos Estados Unidos. Nos esportes coletivos, a primeira medalha de ouro olímpica conquistada por um país lusófono foi obtida pela equipe masculina de vôlei do Brasil nos Jogos Olímpicos de Verão de 1992. A proeza se repetiu nos Jogos Olímpicos de Verão de 2004 e nos Jogos Olím- picos de Verão de 2008 foi a vez da seleção brasileira feminina ganhar a sua primeira medalha de ouro em Olimpíadas. Regras: Para se jogar voleibol são necessários 12 jogadores divididos igualmente em duas equipes de seis jogadores cada. As equipes são divididas por uma rede que fica no meio da quadra. O jogo come- ça com um dos times que devem sacar. Logo depois do saque a bola deve ultrapassar a rede e seguir ao campo do adversário onde os jogadores tentam evi- tar que a bola entre no seu campo usando qualquer parte do corpo (antes não era válido usar membros da cintura para baixo, mas as regras foram muda- das). O jogador pode rebater a bola para que ela passe para o campo adversário sendo permitidos dar três toques na bola antes que ela passe, sempre alternando os jogadores que dão os toques. Caso a bola caia é ponto do time adversário. O jogador pode encostar na rede (desde que não interfira no andamento do jogo), exceto na borda superior, caso isso ocorra o ponto será para o outro time. O mesmo jogador não pode dar 2 ou mais toques seguidos na bola, exceção no caso do toque de Bloqueio. O campo: É retangular, com a dimensão de 18 x 9 metros, com uma rede no meio colocada a uma altura variável, conforme o sexo e a categoria dos jo- gadores (exemplo dos seniores e juniores: masculino -2,43 m; femininos 2,24 m). Há uma linha de 3 metros em direção do campo para a rede, dos dois lados e uma distância de 6 metros até o fim da quadra. Fazendo uma quadra de extensão de 18 metros de ponta a ponta e 9 metros de lado a lado. A equipe: É constituída por 12 jogadores: -6 joga- dores efetivos -6 jogadores suplentes -Até 2 líberos. Equipamento Campo de Voleibol: As partidas de voleibol são confrontos envolvendo duas equipes disputados em ginásio coberto ou ao ar livre conforme desejado. O campo mede 18 metros de comprimento por 9 de largura (18 x 9 metros), e é dividido por uma linha central em um dos lados de nove metros que consti- tuem as quadras de cada time. O objetivo principal Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 83 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS é conquistar pontos fazendo a bola encostar na sua quadra ou sair da área de jogo após ter sido tocada por um oponente. Acima da linha central, é postada uma rede de material sintético a uma altura de 2,43 m para homens ou 2,24 m para mulheres (no caso de competições juvenis, infanto-juvenis e mirins, as alturas são diferentes). Cada quadra é por sua vez dividida em duasáreas de tamanhos diferentes (usu- almente denominadas “rede” e “fundo”) por uma li- nha que se localiza, em cada lado, a três metros da rede (“linha de 25 metros”). No voleibol, todas as linhas delimitadoras são con- sideradas parte integrante do campo. Deste modo, uma bola que toca a linha é considerada “dentro” (válida), e não “fora” (inválida). Acima da quadra, o espaço aéreo é delimitado no sentido lateral por duas antenas postadas em cada uma das extremida- des da rede. No sentido vertical, os únicos limites são as estruturas físicas do ginásio. Caso a bola toque em uma das antenas ou nas estruturas físicas do ginásio, o ponto vai automaticamente para o oponente do último jogador que a tocou. A bola empregada nas partidas de voleibol é composta de couro ou couro sintético e mede aproximadamente 65 cm de perí- metro. Ela pesa em torno de 270g e deve ser inflada com ar comprimido a uma pressão de 0,30 kg/cm². Estrutura: Ao contrário de muitos esportes, tais como o futebol ou o basquetebol, o voleibol é jo- gado por pontos, e não por tempo. Cada partida é dividida em sets que terminam quando uma das duas equipes conquista 25 pontos. Deve haver tam- bém uma diferença de no mínimo dois pontos com relação ao placar do adversário - caso contrário, a disputa prossegue até que tal diferença seja atingi- da. O vencedor será aquele que conquistar primei- ramente três sets. Como o jogo termina quando um time completa três sets vencidos, cada partida de voleibol dura no máximo cinco sets. Se isto ocorrer, o último recebe o nome de tie-break e termina quando um dos times atinge a marca de 15, e não 25 pon- tos. Como no caso dos demais, também é necessária uma diferença de dois pontos com relação ao pla- car do adversário. Cada equipe é composta por doze jogadores, dos quais seis estão atuando na quadra e seis perma- necem no banco na qualidade de reservas. As subs- tituições são limitadas: cada técnico pode realizar no máximo seis por set, e cada jogador só pode ser substituído uma única vez - com exceção do líbero - devendo necessariamente retornar à quadra para ocupar a posição daquele que tomara originalmen- te o seu lugar. Os seis jogadores de cada equipe são dispostos na quadra do seguinte modo. No sentido do comprimento, três estão mais próximos da rede, e três mais próximos do fundo; e, no sentido da lar- gura, dois estão mais próximos da lateral esquerda; dois, do centro da quadra; e dois, da lateral direita. Estas posições são identificadas por números: com o observador postado frente à rede, aquela que se localiza no fundo à direita recebe o número 1, e as outras seguem-se em ordem crescente conforme o sentido anti-horário. O jogo Posicionamento e rotação: No início de cada set, o jogador que ocupa a posição 1 realiza o saque, e, acerta a bola com a mão tencionando fazê-la atravessar o espaço aéreo delimitado pelas duas antenas e aterrissar na quadra adversária. Os opo- nentes devem então fazer a bola retornar tocando-a no máximo três vezes, e evitando que o mesmo joga- dor toque-a por duas vezes consecutivas. O primeiro contato com a bola após o saque é denominado re- cepção ou passe, e seu objetivo primordial é evitar que ela atinja uma área válida do campo. Segue-se então usualmente o levantamento, que procura co- locar a bola no ar de modo a permitir que um ter- ceiro jogador realize o ataque, ou seja, acerte-a de forma a fazê-la aterrissar na quadra adversária, con- quistando deste modo o ponto. No momento em que o time adversário vai ata- car, os jogadores que ocupam as posições 2, 3 e 4 podem saltar e estender os braços, numa tentativa de impedir ou dificultar a passagem da bola por so- bre a rede. Este movimento é denominado bloqueio, e não é permitido para os outros três atletas que compõem o restante da equipe. Em termos técni- cos, os jogadores que ocupam as posições 1, 6 e 5 só podem acertar a bola acima da altura da rede em direção à quadra adversária se estiverem no “fundo” de sua própria quadra. Por esta razão, não só o blo- queio torna-se impossível, como restrições adicionais se aplicam ao ataque. Para atacar do fundo, o atle- ta deve saltar sem tocar com os pés na linha de três metros ou na área por ela delimitada; o contato pos- terior com a bola, contudo, pode ocorrer no espaço aéreo frontal. Após o ataque adversário, o time procura inter- ceptar a trajetória da bola com os braços ou com outras partes do corpo para evitar que ela aterrisse na quadra. Se obtém sucesso, diz-se que foi feita uma defesa, e seguem-se novos levantamento e ataque. O jogo continua até que uma das equipes cometa um erro ou consiga fazer a bola tocar o campo do lado oponente. Se o time que conquistou o ponto não foi o mesmo que havia sacado, os jogadores devem deslocar-se em sentido horário, passando a ocupar a próxima posição de número inferior à sua na quadra (ou a posição 3, no caso do atleta que ocupava a posição 4). Este movimento é denomina- do rodízio. Línguagens, Códigos e suas Tecnologias ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 84 Líbero: O líbero é um atleta especializado nos fundamentos que são realizados com mais frequên- cia no fundo da quadra, isto é, recepção e defesa. Esta função foi introduzida pela FIVB em 1998, com o propósito de permitir disputas mais longas de pon- tos e tornar o jogo deste modo mais atraente para o público. Um conjunto específico de regras se aplica exclusivamente a este jogador. O líbero deve utilizar uniforme diferente dos demais, não pode ser capitão do time, nem atacar, bloquear ou sacar. Quando a bola não está em jogo, ele pode trocar de lugar com qualquer outro jogador sem notificação prévia aos árbitros, e suas substituições não contam para o limite que é concedido por set a cada técnico. Por fim, o líbero só pode realizar levantamentos de toque do fundo da quadra. Caso esteja pisando sobre a linha de três metros ou sobre a área por ela delimitada, deverá exercitar somente levantamentos de man- chete, pois se o fizer de toque por cima (pontas dos dedos) o ataque deverá ser executado com a bola abaixo do bordo superior da rede. Pontos: Existem basicamente duas formas de marcar pontos no voleibol. A primeira consiste em fa- zer a bola aterrissar sobre a quadra adversária como resultado de um ataque, de um bloqueio bem suce- dido ou, mais raramente, de um saque que não foi corretamente recebido. A segunda ocorre quando o time adversário comete um erro ou uma falta. Diver- sas situações são consideradas erros: - A bola toca em qualquer lugar exceto em um dos doze atletas que estão em quadra, ou no campo válido de jogo (“bola fora”). - O jogador toca consecutivamente duas vezes na bola (“dois toques”). - O jogador empurra a bola, ao invés de acertá- -la. Este movimento é denominado “carregar ou con- dução”. - A bola é tocada mais de três vezes antes de re- tornar para o campo adversário. - A bola toca a antena, ou passa sobre ou por fora da antena em direção à quadra adversária. - O jogador encosta na borda superior da rede. - Um jogador que está no fundo da quadra reali- za um bloqueio. - Um jogador que está no fundo da quadra pisa na linha de três metros ou na área frontal antes de fazer contato com a bola acima do bordo superior da rede (“invasão do fundo”). - Postado dentro da zona de ataque da quadra ou tocando a linha de três metros, o líbero realiza um levantamento de toque que é posteriormente ata- cado acima da altura da rede. - O jogador bloqueia o saque adversário. - O jogador está fora de posição no momento do saque. - O jogador saca quando não está na posição 1. - O jogador toca a bola no espaço aéreo acima da quadra adversária em uma situação que não se configura como um bloqueio (“invasão por cima”). - O jogadortoca a quadra adversária por bai- xo da rede com qualquer parte do corpo exceto as mãos ou os pés (“invasão por baixo”). - O jogador leva mais de oito segundos para sacar - No momento do saque, os jogadores que estão na rede pulam e/ou erguem os braços, com o intuito de esconder a trajetória da bola dos adversários. Esta falta é denominada screening - Os “dois toques” são permitidos no primeiro con- tato do time com a bola, desde que ocorram em uma “ação simultânea” - a interpretação do que é ou não “simultâneo” fica a cargo do arbitro. - A não ser no bloqueio. O toque da bola no blo- queio não é contabilizado. - A invasão por baixo de mãos e pés é permitida apenas se uma parte dos membros permanecer em contato com a linha central. Fundamentos: Um time que deseja competir em nível internacional precisa dominar um conjunto de seis habilidades básicas, denominadas usualmente sob a rubrica “fundamentos”. Elas são: saque, passe, levantamento, ataque, bloqueio e defesa. A cada um destes fundamentos compreende um certo nú- mero de habilidades e técnicas que foram introduzi- das ao longo da história do voleibol e são hoje consi- deradas prática comum no esporte. Saque ou serviço: O saque ou serviço marca o iní- cio de uma disputa de pontos no voleibol. Um joga- dor posta-se atrás da linha de fundo de sua quadra, estende o braço e acerta a bola, de forma a fazê-la atravessar o espaço aéreo acima da rede delimita- do pelas antenas e aterrissar na quadra adversária. Seu principal objetivo consiste em dificultar a recep- ção de seu oponente controlando a aceleração e a trajetória da bola. Existe a denominada área de sa- que, que é constituída por duas pequenas linhas nas laterais da quadra, o jogador não pode sacar de fora desse limite. Um saque que a bola aterrissa direta- mente sobre a quadra do adversário sem ser tocada pelo adversário - é denominado em voleibol “ace”, assim como em outros esportes tais como o tênis. No voleibol contemporâneo, foram desenvolvidos muitos tipos diferentes de saques: - Saque por baixo ou por cima: indica a forma como o saque é realizado, ou seja, se o jogador acer- ta a bola por baixo, no nível da cintura, ou primeiro lança-a no ar para depois acertá-la acima do nível do ombro. A recepção do saque por baixo é usual- mente considerada muito fácil, e por esta razão esta Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 85 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS técnica não é mais utilizada em competições de alto nível. Jornada nas estrelas: um tipo específico de sa- que por baixo, em que a bola é acertada de forma a atingir grandes alturas (em torno 25 metros). O au- mento no raio da parábola descrito pela trajetória faz com que a bola desça quase em linha reta, e em velocidades da ordem de 70 km/h. Popularizado na década de 1980 pela equipe brasileira, especialmen- te pelo ex-jogador Bernard Rajzman, ele hoje é con- siderado ultrapassado, e já não é mais empregado em competições internacionais. - Saque com efeito: denominado em inglês “spin serve”, trata-se de um saque em que a bola ganha velocidade ao longo da trajetória, ao invés de per- dê-la, graças a um efeito produzido dobrando-se o pulso no momento do contato. - Saque flutuante ou saque sem peso: saque em que a bola é tocada apenas de leve no momento de contato, o que faz com que ela perca velocidade repentinamente e sua trajetória se torne imprevisível. - Viagem ao fundo do mar: saque em que o jo- gador lança a bola, faz a aproximação em passadas como no momento do ataque, e acerta-a com força em direção à quadra adversária. Supõe-se que este saque já existisse desde a década de 1960, e tenha chegado ao Brasil pelas mãos do jogador Feitosa. De todo modo, ele só se tornou popular a partir da se- gunda metade dos anos 1980. - Saque oriental: o jogador posta-se na linha de fundo de perfil para a quadra, lança a bola no ar e acerta-a com um movimento circular do braço opos- to. O nome deste saque provém do fato de que seu uso contemporâneo restringe-se a algumas equipes de voleibol feminino da Ásia. Passe: Também chamado recepção, o passe é o primeiro contato com a bola por parte do time que não está sacando e consiste, em última análise, em tentativa de evitar que a bola toque a sua quadra, o que permitiria que o adversário marcasse um ponto. Além disso, o principal objetivo deste fundamento é controlar a bola de forma a fazê-la chegar rapida- mente e em boas condições nas mãos do levanta- dor, para que este seja capaz de preparar uma jo- gada ofensiva. O fundamento passe envolve basica- mente duas técnicas específicas: a “manchete”, em que o jogador empurra a bola com a parte interna dos braços esticados, usualmente com as pernas fle- xionadas e abaixo da linha da cintura; e o “toque”, em que a bola é manipulada com as pontas dos de- dos acima da cabeça. Quando, por uma falha de passe, a bola não permanece na quadra do jogador que está na recepção, mas atravessa por cima da rede em direção à quadra da equipe adversária, diz- -se que esta pessoa recebeu uma “bola de graça”. Manchete: É uma técnica de recepção realizada com as mãos unidas e os braços um pouco separa- dos e estendidos, o movimento da manchete tem início nas pernas e é realizado de baixo para cima numa posição mais ou menos cômoda, é importante que a perna seja flexionada na hora do movimento, garantindo maior precisão e comodidade no movi- mento. Ela é usada em bolas que vem em baixa altu- ra, e que não tem chance de ser devolvida com o to- que. É considerada um dos fundamentos da defesa, sendo o tipo de defesa do saque e de cortadas mais usado no jogo de voleibol. É uma das técnicas essen- ciais para o líbero mas também é empregada por alguns levantadores para uma melhor colocação da bola para o atacante. Levantamento: O levantamento é normalmen- te o segundo contato de um time com a bola. Seu principal objetivo consiste em posicioná-la de forma a permitir uma ação ofensiva por parte da equipe, ou seja, um ataque. A exemplo do passe, pode-se distinguir o levantamento pela forma como o joga- dor executa o movimento, ou seja, como “levanta- mento de toque” e “levantamento de manchete”. Como o primeiro usualmente permite um controle maior, o segundo só é utilizado quando o passe está tão baixo que não permite manipular a bola com as pontas dos dedos, ou no voleibol de praia, em que as regras são mais restritas no que diz respeito à infração de “carregar”. Também costuma-se utilizar o termo “levantamento de costas”, em referência à situação em que a bola é lançada na direção oposta àquela para a qual o levantador está olhando. Quando o jogador não levanta a bola para ser atacada por um de seus companheiros de equipe, mas decide lan- çá-la diretamente em direção à quadra adversária numa tentativa de conquistar o ponto rapidamente, diz-se que esta é uma “bola de segunda”. Ataque: O ataque é, em geral, o terceiro conta- to de um time com a bola. O objetivo deste funda- mento é fazer a bola aterrissar na quadra adversária, conquistando deste modo o ponto em disputa. Para realizar o ataque, o jogador dá uma série de passos contados (“passada”), salta e então projeta seu cor- po para a frente, transferindo deste modo seu peso para a bola no momento do contato. - Ataque do fundo: ataque realizado por um jo- gador que não se encontra na rede, ou seja, por um jogador que não ocupa as posições 2-4. O atacante não pode pisar na linha de três metros ou na parte frontal da quadra antes de tocar a bola, embora seja permitido que ele aterrisse nesta área após o ataque. - Diagonal ou Paralela: indica a direção da tra- jetória da bola no ataque, em relação às linhas la- terais da quadra. Uma diagonal de ângulo bastante Línguagens, Códigos e suas TecnologiasENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 86 pronunciado, com a bola aterrissando na zona fron- tal da quadra adversária, é denominada “diagonal curta”. - Cortada ou Remate: refere-se a um ataque em que a bola é acertada com força, com o objetivo de fazê-la aterrissar o mais rápido possível na quadra ad- versária. Uma cortada pode atingir velocidades de aproximadamente 200 km/h. - Largada: refere-se a um ataque em que jogador não acerta a bola com força, mas antes toca-a leve- mente, procurando direcioná-la para uma região da quadra adversária que não esteja bem coberta pela defesa. - Explorar o bloqueio: refere-se a um ataque em que o jogador não pretende fazer a bola tocar a quadra adversária, mas antes atingir com ela o blo- queio oponente de modo a que ela, posteriormente, aterisse em uma área fora de jogo. - Ataque sem força: o jogador acerta a bola mas reduz a força e conseqüentemente sua aceleração, numa tentativa de confundir a defesa adversária. - Bola de xeque: refere-se à cortada realizada por um dos jogadores que está na rede quando a equi- pe recebe uma “bola de graça” (ver passe, acima). Bloqueio: O bloqueio refere-se às ações execu- tadas pelos jogadores que ocupam a parte frontal da quadra (posições 2-3-4) e que têm por objetivo impedir ou dificultar o ataque da equipe adversária. Elas consistem, em geral, em estender os braços aci- ma do nível da rede com o propósito de interceptar a trajetória ou diminuir a velocidade de uma bola que foi cortada pelo oponente. Denomina-se “blo- queio ofensivo” à situação em que os jogadores têm por objetivo interceptar completamente o ataque, fazendo a bola permanecer na quadra adversária. Para isto, é necessário saltar, estender os braços para dentro do espaço aéreo acima da quadra adversá- ria e manter as mãos viradas em torno de 45-60° em direção ao punho. Um bloqueio ofensivo especial- mente bem executado, em que bola é direcionada diretamente para baixo em uma trajetória pratica- mente ortogonal em relação ao solo, é denominado “toco”. Um bloqueio é chamado, entretanto, “defensi- vo” se tem por objetivo apenas tocar a bola e deste modo diminuir a sua velocidade, de modo a que ela possa ser melhor defendida pelos jogadores que se situam no fundo da quadra. Para a execução do blo- queio defensivo, o jogador reduz o ângulo de pene- tração dos braços na quadra adversária, e procura manter as palmas das mãos voltadas em direção à sua própria quadra. O bloqueio também é classifica- do, de acordo com o número de jogadores envolvi- dos, em “simples”, “duplo” e “triplo”. Defesa: A defesa consiste em um conjunto de técnicas que têm por objetivo evitar que a bola to- que a quadra após o ataque adversário. Além da manchete e do toque, já discutidos nas seções rela- cionadas ao passe e ao levantamento, algumas das ações específicas que se aplicam a este fundamento são: - Peixinho: o jogador atira-se no ar, como se es- tivesse mergulhando, para interceptar uma bola, e termina o movimento sob o próprio abdômen. - Rolamento: o jogador rola lateralmente sobre o próprio corpo após ter feito contato com a bola. Esta técnica é utilizada, especialmente, para minimi- zar a possibilidade de contusões após a queda que é resultado da força com que uma bola fora cortada pelo adversário. - Martelo: o jogador acerta a bola com as duas mãos fechadas sobre si mesmas, como numa ora- ção. Esta técnica é empregada, especialmente, para interceptar a trajetória de bolas que se encon- tram a uma altura que não permite o emprego da manchete, mas para as quais o uso do toque não é adequado, pois a velocidade é grande demais para a correta manipulação com as pontas dos dedos. - Posição de expectativa: Estratégia ou tática adotada antes do saque adversário de posiciona- mento da defesa, podendo ser no centro ou anteci- pado em uma das metadas da quadra. Principais competições: Organizadas pela fede- ração internacional (FIVB), as principais competições de voleibol são torneios internacionais que podem ser divididos em dois grupos: grandes eventos que ocorrem em ciclos de quatro anos e eventos anuais, criados a partir da década de 1990. De menor impor- tância, mas igualmente tradicionais, são os torneios organizados por cada uma das cinco grandes con- federações continentais. Por fim, diversas federações possuem torneios e ligas nacionais, que ganham em prestígio de acordo com o volume de capital inves- tido e a qualidade dos atletas envolvidos. Entre as principais competições de voleibol, destacam-se: Internacionais - Torneio Olímpico de Voleibol: a cada quatro anos, desde 1964. - Campeonato Mundial de Voleibol: a cada qua- tro anos, desde 1949 (homens) e 1952 (mulheres). - Copa do Mundo: a cada quatro anos, desde 1965 (homens) e 1973 (mulheres). - Liga Mundial: anualmente, desde 1990. - Grand Prix: anualmente, desde 1993. - Copa dos Campeões de Voleibol: a cada qua- tro anos, desde 1993. Nacionais - Superliga Brasileira de Voleibol (Brasil). Línguagens, Códigos e suas Tecnologias 87 ENEM - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS BASQUETE O basquetebol (basquete (português brasileiro) ou básquete (português europeu)) ou bola ao cesto é um desporto coletivo inventado em 1891 pelo pro- fessor de Educação Física canadense James Nais- mith, na Associação Cristã de Moços de Springfield (Massachusetts), Estados Unidos. É jogado por duas equipes de 5 jogadores, que têm por objetivo passar a bola por dentro de um cesto colocado nas extre- midades da quadra, seja num ginásio ou ao ar livre. Os aros que formam os cestos são colocados a uma altura de 3 metros e 5 centímetros. Os jogadores po- dem caminhar no campo desde que driblem (batam a bola contra o chão) a cada passo dado. Também é possível executar um passe, ou seja, atirar a bola em direção a um companheiro de equipe. O basquete- bol é um desporto olímpico desde os Jogos Olímpicos de Verão de 1936 em Berlim. O nome vem do inglês basketball, que significa literalmente “bola na cesta”. É um dos desportos mais populares do mundo. História: Em Dezembro de 1891, o professor de educação física canadense James Naismith, do Springfield College (então denominada Associação Cristã de Moços), em Massachusetts, Estados Unidos, recebeu uma tarefa de seu diretor: criar um espor- te que os alunos pudessem praticar em um local fe- chado, pois o inverno costumava ser muito rigoroso, o que impedia a prática do Beisebol e do Futebol Americano. James Naismith logo descartou um jogo que utilizasse os pés ou com muito contato físico, pois poderiam se tornar muito violentos devido às carac- terísticas de um ginásio, local fechado e com piso de madeira. Logo escreveu as treze regras básicas do jogo e pendurou um cesto de pêssegos a uma altu- ra que julgou adequada: 10 pés, equivalente a 3,05 metros, altura que se mantém até hoje; já a quadra possuía, aproximadamente, metade do tamanho da atual. Em contraste com as redes de basquete moder- no, esta cesta de pêssegos manteve a sua parte infe- rior, e as bolas tinham que ser retiradas manualmente após cada “cesta” ou ponto marcado, o que provou ser ineficaz. Dessa forma, um buraco foi perfurado no fundo da cesta, permitindo que as bolas fossem re- tiradas a cada vez com uma longa vara. Os cestos de pêssegos foram utilizados até 1906, quando foram finalmente substituídos por aros de metal com encos- to. Uma outra alteração foi feita logo cedo, de forma que a bola apenas passasse pela cesta, abrindo ca- minho para o jogo que conhecemos hoje. Uma bola de futebol foi usada para acertar as cestas. Sempre que uma pessoa arremessava uma bola na cesta, sua equipe ganharia um ponto. A equipe com o maior número de pontos ganhava o jogo. As cestas foram originalmente pregadas ao balcão do mezani-