Buscar

A SOCIEDADE DE CORTE

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A Sociedade de Corte
 Na obra A Sociedade de Corte, Norbert Elias analisa a sociedade de corte do antigo regime , que ele denomina nobreza cortesã, definindo-a como uma formação social típica das monarquias absolutistas modernas e tomando como seu modelo clássico a corte francesa sob Luís XIV. Fundamentado na teoria sociológica das interdependências, o autor vislumbra a evolução das condições que gradativamente levaram a nobreza francesa a viver na corte, sob a dependência dos reis (nobreza curial ou cortesã) e esclarece as dinâmicas e tensões que animavam esse grupo social, entendido como um peculiar organismo do Estado absolutista moderno.
 Concebida no final dos anos trinta, do século passado, sob a influência do movimento chamado História Nova, a obra contempla uma abordagem sociológica que privilegia a evolução dos comportamentos, da mentalidade e das condições de dependência sócio-econômica da nobreza francesa em relação ao rei, que culminaram com a formação da nobreza cortesã, conseqüência do processo de centralização do poder monárquico. O autor também identifica a rede de interdependências que cimentava as relações na corte do antigo regime, marcada por pressões por oportunidades de poder, em meio as quais o rei mantinha o equilíbrio das tensões. Estas relações eram balizadas por uma rigorosa hierarquia e ordem de precedência, traduzidas por minucioso cerimonial que exprimia a distinção e o prestígio de cada nobre, face ao rei; relações estas, polidas e reguladas por um conjunto de normas e convenções sociais denominadas etiqueta, que servia para o rei e os nobres distinguirem-se entre si. 
 Estruturas e significados do habitat
 Segundo o autor, a gênese das cortes principescas, remonta ao final da idade média, em conseqüência das transformações que articularam a formação dos Estados e dos assuntos militares; a corte de Avignon pode ter sido o primeiro exemplo de corte moderna, por nela já se encontrarem os dois grupos de indivíduos que, nos séculos seguintes irão constituir a sociedade de corte: nobres sem outra função que servir à corte e belas mulheres (p.17). 
 O autor concebe a corte do antigo regime como um organismo social, cuja natureza peculiar decorre do caráter patrimonial do Estado absolutista. A sua peculiaridade procede de ser a monarquia absolutista um derivado altamente especializado de uma forma de governo cujo “gérmen” se situa na autoridade de um senhor no seio de uma comunidade domestica (p.19). 
 O autor define a corte como um órgão representativo das estruturas sociais do antigo regime. A sede da corte é o palácio, que também é a “casa” do rei, o qual governa o país de uma maneira que é análoga à autoridade do príncipe sobre a sua casa (p.20); logo, o reino é entendido como uma extensão de sua “casa”; as funções de rei e “dono da casa” se fundiam na pessoa do governante (p.57). Nesse sentido, o palácio do rei era símbolo da sua posição de força e o centro da vida social (p.55).
 Segundo o autor, ao tempo de Luis XIV a alta nobreza residia permanentemente na corte. No palácio de Versalhes, Luis XIV aspirava governar o país como sua propriedade pessoal (p.20); daí, o autor afirma que a vastidão de sua autoridade real manifestava-se na organização da suas funções domesticas. Versalhes, suas dimensões e suntuosidade refletiam a grandeza e poder de Luis XIV (p.56), pois no antigo regime, a hierarquia das habitações refletia a hierarquia social (p.55). Assim o título de palácio era reservado às residências de reis e príncipes, o de hôtel um nobre e o de casa a um burguês. 
 O sistema das despesas 
 Em decorrência da mentalidade de ostentação, peculiar aos valores aristocráticos, a nobreza cortesã era condicionada a destinar grande parte dos seus rendimentos ao consumo de artigos de luxo, festas, jóias, presentes, etc. Essa mentalidade esbanjadora decorria da necessidade de demonstrar opulência e liberalidade condizente com a posição hierárquica, condição essencial para atrair alianças e aumentar o prestígio. Segundo o autor, essa necessidade de ostentar acarretava freqüentemente o endividamento e a ruína econômica da nobreza de espada. Contribuiu para essa situação de endividamento e decadência econômica a interdição à nobreza de espada de exercer qualquer tipo de atividade comercial, sob pena de perder o estatuto de nobre. Obrigados a viverem das rendas de suas propriedades (gradativamente reduzidas), e dos seus cargos na corte (cargos honoríficos, pensões, postos militares e na diplomacia), essa nobreza freqüentemente era obrigada a se desfazer de suas terras, jóias, bens, etc., pois esses postos garantiam rendimentos mas, também acarretavam despesas (p.48), ao contrário da nobreza de toga, oriunda da alta burguesia, e que tinha aberta as possibilidades nos parlamentos, tribunais, administração, etc. O autor salienta que, para o aristocrata, gastar dinheiro era um meio de aumenta o seu prestígio e de aumentar suas possibilidades, ao contrário da mentalidade burguesa. 
 A etiqueta e a lógica do prestígio
 As sociedades do antigo regime eram rigidamente hierarquizadas; nelas a condição do individuo tinha necessidade de ser exteriorizada por meio de “signos”. Cada cortesão, desde o rei, ao duque, conde ou cavaleiro, “representava um papel” que era a expressão do seu grau hierárquico e do seu prestígio. Essa “representação” era materializada por meio da etiqueta. A etiqueta era a observância das normas sociais e do minucioso cerimonial que exprimia a posição hierárquica, o prestígio e a distinção de cada nobre, face ao rei e entre seus pares. A etiqueta exprimia-se por meio de privilégios, de formalismos, de gestos, de reverências, da precedência hierárquica, do acatamento, etc. a etiqueta desenvolveu o refinamento dos hábitos, o controle das reações afetivas, a sutileza no trato pessoal.
 O autor salienta que as particularidades na vida de corte deram ensejo a uma sociabilidade que lhe é muito peculiar: a racionalização das atitudes e comportamentos. O cortesão pautava suas relações pessoais por critérios de perda ou ganho de prestígio, de poder. Como a etiqueta tinha uma função simbólica, era preciso estar atento a todos os gestos, estar bem informado, saber o momento certo de agir (p.59). Segundo Elias, no reinado de Luis XIV essas práticas chegaram ao extremo. O deitar e o levantar do rei constituíram-se numa cerimônia de Estado (p.57). Através da etiqueta cada nobre, inclusive o rei, representava o seu papel. Estender a camisa ao rei, participar de uma das “entradas” em seu quarto tinha um valor de prestígio; nesse sentido, N. Elias concebe estes gestos simbólicos, carregados de fetiche de prestígio, como portadores significados sociais (p.60), os quais evoluíram de funções primárias (a necessidade de vestir a camisa), para funções secundarias (o ato de estender a camisa ao rei dava prestígio), que foram dignificadas para revestir-se de significado social. 
 O rei no seio da sociedade de corte
 Norbert Elias esclarece a dinâmica que regulava o funcionamento das sociedades de corte, por meio da sua teoria sociológica das interdependências (p.117), pela qual os cortesãos, incluindo o rei, estavam ligados por uma rede de interdependências. 
 O rei, o maior dos aristocratas (embora “distanciado” por sua preponderância), tinha interesse na manutenção da nobreza, porém domesticada e dependente, a qual legitimava a sua posição, pois, abolindo a nobreza, o rei poria também fim à sua “ casa” (p.91); nesse sentido, para N. Elias, a tendência da aristocracia para a sua auto-afirmação e do rei, e para o predomínio, são elos de uma mesma corrente (p.91). Como Luis XIV herdou o governo já totalmente consolidado, não precisou fazer concessões que cerceasse a sua autoridade (p.104). O rei detinha uma posição privilegiada na corte, pois enquanto todos os cortesãos sofriam pressõesvindas de baixo, de cima e dos lados, ele era o único a não ter superior hierárquico. Embora também estivesse sujeito às pressões, estas não eram convergentes, pois os potenciais de ação dos súditos, determinados pelas relações de interdependências, eram dirigidos uns contra os outros, de modo que se anulavam (p.93); assim, a instabilidade na detenção de vantagens pessoais era habilmente aproveitada pelo rei, que a alimentava; logo, ao passo que se apoiava nas rivalidades, o rei dividia e reinava (p.94). 
 Formação e evolução da sociedade de corte em França
 O autor vislumbra a gênese da sociedade de corte a partir da convergência de parte da nobreza feudal, de suas cortes locais para a corte do rei, entre os séc. XVI e XVII - curialização da nobreza. 
 Até o século XVI a França ainda estava marcada pela feudalidade, havendo um equilíbrio de poder entre o rei (suserano) e a nobreza, de forma que o poder estava disperso pelos vários centros de gravidade espalhados pelo país. Embora o rei fosse o primeiro dentre os nobres (p.122), a nobreza feudal, ainda poderosa, cultivava um forte sentimento de independência. Todavia, ao passo que o rei ampliou gradativamente a sua influência (p.123), parte dessa nobreza de espada passou a viver na corte, sob a dependência econômica do rei. Essas mudanças romperam o equilíbrio de poder no seio da nobreza, deslocando o centro de gravidade em favor do rei. Assim, a França viu nascer a sociedade aristocrática que substituiu a feudalidade (p.133).
 No reinado de Francisco I (1515-1547), o último rei cavaleiro, o autor vislumbra a transição da feudalidade para a aristocracia de corte, a vitória da realeza sobre a nobreza. Ele criou, a par da antiga nobreza fundiária, cuja hierarquia correspondia à hierarquia dos feudos, uma nova titulatura nobiliárquica que ia do simples nobre ao príncipe e par de França. Sob Henrique IV (1594-1610), o autor observa uma nova fase na construção do absolutismo francês, agora com a vitória da realeza sobre as demais camadas sociais (p.139). Para o autor é significativa a composição heterogênea dos grupos que o apoiaram durante as guerras de religião (grupos protestantes, parte da nobreza católica e membros da alta burguesia). Essa componente burguesa, segundo o autor, elucida a existência de “agrupamentos burgueses” bastante ricos e numerosos para oporem uma resistência tenaz às reivindicações de predomínio da nobreza; nesse sentido, o autor esclarece que até o reinado de Henrique IV ainda havia espaço para novos grupos na estrutura do estado francês. Esse antagonismo entre os dois grupos sociais deu ensejo ao rei, situado aparentemente a igual distancia dos dois, resultando daí, uma situação de equilíbrio marcado por tensões, pelo qual o rei governava. O reinado de Luis XIV (1643-1715) alcançou, segundo o autor, o momento em que o equilíbrio das tensões entre nobreza e burguesia “cristalizou-se”, destacando a evidente preeminência do rei e o auge da civilização de corte. O rei governava de forma absoluta, porque qualquer das camadas rivais, nobreza ou burguesia, precisava dele para proteger-se das pressões da outra. 
 Curialização e romantismo aristocrático 
 Por força das circunstâncias que levaram, na França, à convergência de parte da nobreza para a corte do rei, convertendo-se em nobreza cortesã ou curial (p.203), muitos membros da aristocracia afastaram-se das suas terras, onde levavam uma vida muito próxima à natureza, dos campos e pastos, fato que teve importância na origem do romantismo aristocrático. Segundo N. Elias, a curialização da nobreza, fez parte, de um conjunto de movimentos que afastaram os produtores de suas terras, gerando um fenômeno de desenraizmento e de alienação (p.184). Ainda segundo Elias, os homens e as mulheres dessa geração evocaram, na corte onde passaram a viver, a vida do campo e as paisagens da sua infância com inflexões de nostalgia; mais tarde, terminada a curialização da nobreza, e numa época em que os cortesãos ostentavam o seu desprezo pela nobreza rural, a vida no campo continuará a exercer uma atração nostálgica; o passado era idealizado, com a valorização da vida no campo, dando origem a uma corrente cultural que o autor chama de correntes românticas de corte. Freqüentemente a vida no campo era apresentada como símbolo da vida livre, da inocência perdida, da simplicidade natural e confrontada com a vida na corte, com suas pressões, sua hierarquia complicada e a necessidade de autodomínio. Segundo o autor, esses temas pastoris e campestres, inseridos em certas manifestações culturais, como a literatura e a moda, serviam como uma máscara idealizada para a nobreza (p.184). Enfim, Elias concebe as correntes românticas de corte como parte das reações psíquicas aos progressos da integração estatal e da urbanização (p.187). É importante ressaltar que, as correntes românticas da aristocracia de corte, que apreciavam os heróis dos romances de cavalaria, e um pouco mais tarde os temas pastoris, cultuavam imagens idealizadas de figuras contemporâneas, mas não no sentido de degradar o presente e restaurar o passado (p.193), contrariamente aos movimentos românticos burgueses do século XIX, cuja idealização romântica tendia a ver o presente como uma degradação do passado, encarando o futuro com vistas ao restabelecimento de um passado mais belo, mais puro e maravilhoso (p.191); este dilema específico pode ser considerado, segundo o autor, como o conflito fundamental da experiência romântica (burguesa). Para N. Elias, o que identifica uma atitude humana ou os seus produtos culturais, como românticos, é a expressão do dilema, perante o qual se encontram as camadas superiores, desejosas de romper as cadeias, sem por em perigo a ordem social estabelecida, garantia dos seus privilégios, sem comprometer as bases de sua filosofia social e da sua razão de vida (P.186). 
REF, BIBLIOGRÁFICA: A SOCIEDADE DE CORTE, NORBERT ELIAS, ED. ESTAMPA, LISBOA, 1987.

Continue navegando