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e-Tec BrasilAula 1 | Bonitas, saborosas e saudáveis – Introdução à olericultura 5 Aula 1 | Bonitas, saborosas e saudáveis – Introdução à olericultura Meta da aula Apresentar conceituações, características e peculiaridades da • atividade de exploração de hortaliças. Objetivos da aula Após o estudo desta aula, você deverá ser capaz de: 1. relacionar as definições dos termos “hortifrutigranjeiro”, “frutas, legumes e verduras” aos seus usos científico e popular; 2. avaliar, em uma situação hipotética, se uma atividade olerícola é um bom negócio ou não. Olericultura, horticultura, fitotecnia, olerá- ceas: que termos estranhos! Agropecuáriae-Tec Brasil 6 Herbáceas Designação das plantas cujos caules não possuem (ou possuem pouca) consistência rígida, de madeira. Glossário Como vimos na história em quadrinhos, em nosso dia a dia empregamos um linguajar popular. Todavia esse linguajar poderá ter significados diferentes para cada pessoa e local, daí a necessidade de se ter um linguajar único que expresse o mesmo significado para quem diz e para quem ouve. Assim é que surgiu o linguajar científico. Nesta aula, veremos o uso de linguajar popular e linguajar científico relacionado às hortaliças. Origem e significado dos termos Olericultura é um termo derivado da junção de duas palavras do latim: oleris, (substantivo), que significa “herbáceo”, e colere (verbo), que quer dizer “culti- vo”. Olericultura, portanto, é um termo técnico-científico que trata do ensino, da pesquisa e do cultivo de espécies vegetais, essencialmente herbáceas, que são destinadas à alimentação. e-Tec BrasilAula 1 | Bonitas, saborosas e saudáveis – Introdução à olericultura 7 Essas espécies vegetais são denominadas oleráceas, olerícolas ou simplesmen- te hortaliças, e quem as cultiva (ou produz) são os olericultores. Assim, todos esses termos estão corretos e são apropriados para uso no meio científico. Fonte: http://www.sxc.hu/browse.phtml?f=download& id=1154421 Imagem está sob licença: http://www.sxc. hu/help/7_2 Figura 1.1: Vegetais como a cebola, o rabanete, a salsa, a cebolinha e a alface são chamados de oleráceas ou hortaliças. Popularmente, as hortaliças têm sido denominadas “verduras” e “legumes”, substantivos pouco esclarecedores cientificamente, embora o primeiro nos remeta à vaga ideia de órgãos vegetais moles e de coloração verde (as fo- lhas) e o segundo aos demais órgãos (fruto, tubérculo, rizoma, raiz tuberosa etc.). Desse modo, comparando os termos hortaliças, legumes e verduras, o primeiro é o mais apropriado para utilização tanto no meio popular, devido à sua alta aceitação pela população, quanto no meio acadêmico e científico. E horticultura, hortifrutigranjeiro? Todas as ciências possuem uma série de áreas, divisões e subdivisões de es- tudo, dependendo do objeto investigado. A grande área responsável por estudar os cultivos, os usos e as aplicações dos vegetais na indústria e na economia doméstica é chamada “fitotecnia”. A horticultura, por sua vez, é uma divisão da fitotecnia, e esse termo deriva do hortus medieval, significando o cultivo de plantas em ambientes cercados (hortas, pomares ou jardins), como era realizado na Idade Média. Tubérculo Tipo de caule modificado que possui substâncias de reserva, geralmente subterrâneo, suculento e volumoso. Exemplo: batata. Rizoma Apesar de possuir, às vezes, aspecto de raiz, é um tipo de caule modificado, geralmente subterrâneo, horizontal e rico em substâncias de reservas. A distinção básica entre tubérculo e rizoma é a presença, neste último, de resíduos de bainhas foliares (parte da base da folha que envolve o caule, dando a impressão de segmentos (nós e entrenós). Exemplo: taro, gengibre. Raiz tuberosa É uma raiz modificada que, da mesma forma que tubérculos e rizomas, acumula substâncias de reserva. Todavia, como raiz, caracteriza-se por não apresentar gemas e, portanto, não pode ser empregada na propagação das espécies. Exemplo: cenoura, mandioquinha-salsa. Glossário Agropecuáriae-Tec Brasil 8 Assim, a horticultura estuda a produção econômica dos vegetais cultivados em áreas não extensivas. Esses produtos vegetais, dentre outros nomes já citados (hortaliças, por exemplo), são chamados popularmente de “hortifrutis”; outro termo parecido, também muito usado, é “hortifrutigranjeiros”, que se refere, além dos produtos das hortas e dos pomares, aos das granjas. É como uma subdivisão da horticultura que surgiu a nossa disciplina, a olericultura. A Figura 1.2 ilustra as divisões e subdivisões (ou ramos) da fitotecnia, de- monstrando que o termo “horticultura” engloba várias outras atividades hortícolas, dentre elas a olericultura. Grandes culturas = Grãos, fibras e estimulantes Olericultura → Hortaliças Fruticultura → Fruteiras Floricultura → Flores Fitotecnia Horticultura Jardinocultura → Plantas ornamentais Viveiricultura → Mudas em geral Condimentares → Condimentos Medicinais → Medicinais Cogumelos comestíveis → Cogumelos comestíveis Silvicultura = Espécies florestais Forragicultura = Pastagens e forrageiras Fonte: Filgueira, 2008. Figura 1.2: Divisões e subdivisões (ou ramos) da fitotecnia. e-Tec BrasilAula 1 | Bonitas, saborosas e saudáveis – Introdução à olericultura 9 Atividade 1 Atende ao Objetivo 1 Fonte:http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Whole_Foods_Market,_ Interior.jpg Licença: Creative Commons Attribution ShareAlike 3.0 Licence http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/ Você lembra que, em nossa história, lá no começo da aula, o Seu Manoel tem um mercadinho onde vende hortifrutigranjeiros? Lembra, também, que Maria prefere fazer compras na seção dos FLV do hipermercado? Agora, com base no que você leu na aula sobre as terminologias agrícolas, responda: O que será que poderemos encontrar no mercadinho do Seu Manoel e a) na seção dos FLV do hipermercado? Esses termos estão corretos?b) Agropecuáriae-Tec Brasil 10 Espécie Os biólogos possuem pelo menos três formas de definir espécies, sendo a mais usada a classificação de um grupo de indivíduos que têm características genéticas semelhantes e podem reproduzir-se entre si, gerando descendentes férteis. Cultivar (cv.) Termo derivado do inglês cultivated variety (= variedade cultivada). Recentemente, tem sido utilizado para indicar variedade com maior interesse na exploração comercial. Glossário Explorando hortaliças A atividade olerícola apresenta peculiaridades que a distingue das outras atividades fitotécnicas apresentadas na Figura 1.2, principalmente daquelas não pertencentes à horticultura. Dentre essas, temos: uso intensivo dos fatores solo, mão de obra, insumos e água;• elevada produtividade;• pequena área física ocupada;• elevada renda por área cultivada;• muito tempo despendido com colheitas, preparação e comercialização;• atividade de alto risco.• Uso intensivo dos fatores solo, mão de obra, insu- mos e água Soloa) No cultivo de hortaliças, há o uso intensivo do solo. Existem duas razões para que isso ocorra: As hortaliças apresentam, em sua maioria, um ciclo cultural relativamen-1. te curto (com duração de 3 a 4 meses; hortaliças como o rabanete, por exemplo, tem ciclo de apenas 25 dias). Há um grande número de espécies de hortaliças, e, dentro de uma mes-2. ma espécie de hortaliça, muitos cultivares adaptados às variações climá- ticas ao longo das estações do ano. e-Tec BrasilAula 1 | Bonitas, saborosas e saudáveis – Introdução à olericultura 11 A Lei de Proteção de Cultivares ao alcance de um clique Os cultivares de interesse econômico são registrados no MAPA (Mi- nistério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento), conforme a Lei nº 9.456, de 25 de abril de 1997, que instituiu a Lei de Proteção de Cultivares. Quer saber mais sobre o Serviço de Proteção de Cultivares? Acesse o endereço eletrônico http://www.agricultura.gov.br/. Após, siga estes passos: entre em “Serviços”, “Proteção de Cultivares” e fi- nalmente “Legislação”. Dessa forma, em uma mesma área de solo, poderá haver cultivo com horta- liças diversas durante todo o ano. Portanto, na exploração de hortaliças não há um ano agrícola (a produção ou safra agrícola obtida em um ano, o qual normalmente se inicia na primavera e termina no outono/inverno), mas há a maximização do uso da terra. A maximização do uso da terra tem sido possível, em especial, devido ao au- mento da mecanização nos trabalhos agrícolas. Embora interessante em ter- mos de produção de alimentos, o uso intensivo de máquinas e de equipamen- tos não bem dimensionados pode resultar em sérios problemas ambientais. Dentre esses problemas, podemos citar a perda de solo por erosão laminar em locais de maior declive. Essa erosão ocorre devido à formação do pé de grade, ou seja, de uma camada de solo impermeável à água formada pela compactação do solo. Essa camada impermeável se encontra abaixo da camada de solo revolvida pela passagem de arado, grade ou de enxada rotativa sempre à mesma profundidade. Erosão laminar Definida como a remoção de solo da superfície do terreno pela ação da água de chuva e/ou de irrigação. Glossário Agropecuáriae-Tec Brasil 12 Jo sé M ar ia B re da J ún io r Figura 1.3: Dois exemplos de erosão laminar promovida pelo uso excessivo de má- quinas agrícolas em solo de topografia acidentada. Esse solo é cultivado com horta- liças, em São José do Rio Pardo, SP. Note o pé de grade (solo compactado abaixo da camada arada). Mão de obrab) No cultivo de hortaliças são utilizados muitos tratos culturais (práticas de cultivo, como a poda, exigidas pelas culturas agrícolas) artesanais impossí- veis de serem mecanizáveis. Portanto, por serem realizados manualmente, implicam elevado gasto com mão de obra. Estima-se que, no cultivo do tomateiro, por exemplo, destinado ao consumo in natura (tomate de mesa), há um gasto médio de 800 DH/ha. Embora esse gasto com mão de obra contribua para o aumento do custo de produção, o cultivo de hortaliças se torna importante atividade no aspecto social. Isso porque, além de gerar alimentos saudáveis, também promove postos de trabalho, evitando o fluxo das pessoas para as cidades. M ar co A nt ôn io L uc in i Figura 1.4: Implantação da cultura de alho no Cerrado brasileiro. Note a grande quan- tidade de mão de obra envolvida no plantio, sendo este todo manual. DH/ha Dias Homem por hectare; 1 DH corresponde à jornada de trabalho de um dia de um trabalhador rural; ha = hectare; 1 ha corresponde à área de 10.000 m2. Glossário e-Tec BrasilAula 1 | Bonitas, saborosas e saudáveis – Introdução à olericultura 13 Insumosc) O cultivo de hortaliças envolve o uso de tecnologias avançadas com a utilização de produtos (insumos) de elevado valor. Dentre esses insumos podemos mencio- nar: uso de sementes híbridas; uso de material vegetativo propagativo de elevada sanidade; uso de defensivos agrícolas e de fertilizantes minerais e orgânicos. Em razão da resposta das oleráceas à utilização desses insumos, normalmen- te há um elevado investimento por unidade de área cultivada, resultando em alto custo de produção (observe o exemplo da Tabela 1.1). Águad) As hortaliças, pela própria definição, são essencialmente herbáceas, apre- sentando elevado conteúdo de água em seus tecidos. Em seu cultivo, é em- pregado alto número de plantas por unidade de área que, associado à ele- vada taxa de crescimento dessas espécies, proporciona alto índice de área foliar (IAF). Este alto IAF resulta em grande perda de água por transpiração. Portanto, a água é um insumo fundamental no cultivo de hortaliças; sem água para irrigação é praticamente impossível cultivá-las. A água tem se constituído em um dos fatores que mais têm limitado o cultivo de hortaliças em determinadas áreas. Além da disponibilidade em grande quan- tidade, a água deve ter qualidade aceitável para uso agrícola, principalmente no cultivo de hortaliças folhosas que, normalmente, são consumidas cruas. Fonte: http://www.sxc.hu/browse.phtml?f=download&id=573597 Imagem está sob licença: http://www.sxc.hu/help/7_2 Figura 1.5: A irrigação é fundamental no cultivo de oleráceas. Híbridas Sementes obtidas de cruzamento entre duas variedades ou cultivares, originando uma terceira variedade que apresenta características de interesse agronômico das duas variedades ou cultivares entrecruzadas. Material vegetativo propagativo de elevada sanidade Para a propagação (reprodução, multiplicação) de algumas hortaliças, como a batata e o alho, são utilizadas as partes vegetativas (tubérculo e bulbilho, respectivamente) do corpo do vegetal e não as partes reprodutivas (como a semente). Essas estruturas vegetativas podem carregar consigo micro-organismos fitopatogênicos, ou seja, que provocam doenças em plantas, e podem prejudicar a futura lavoura. Portanto, devem estar livres desses micro-organismos, o que significa apresentarem elevado grau de sanidade. IAF (índice de área foliar) Razão entre a área total das folhas da planta/área de solo disponível à planta. Glossário Agropecuáriae-Tec Brasil 14 Elevada produtividade As hortaliças apresentam elevada produtividade e são muito exigentes quan- to aos insumos já mencionados, porém respondem muito bem a eles. No Brasil, a produtividade média das mais de 50 espécies de hortaliças cul- tivadas com maior expressão é de 22,8 t ha1. O tomateiro tutorado (tomate destinado ao consumo in natura ou de mesa), por exemplo, é uma das hor- taliças mais produtivas; cultivado a campo, no Brasil, produz até 150 t ha1 (correspondendo a 10 kg/planta). Comparativamente, na Holanda, em casa de vegetação climatizada, pode alcançar até 466 t ha1 (equivalente a 25,7 kg/planta). Pequena área física ocupada Em razão das características já mencionadas nos itens “Uso intensivo dos fato- res solo, mão de obra, insumos e águas” e “Elevada produtividade”, o cultivo de hortaliças normalmente é realizado em áreas menores que 20 ha. A grande perecibilidade pós-colheita da maioria das hortaliças dificulta o armazenamen- to e gera a necessidade de venda imediata do produto colhido. Portanto, a de- manda do mercado consumidor, as características de cultivo e de conservação pós-colheita da espécie é que irão definir o tamanho da área a ser cultivada. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/1b/ Horta_150706_REFON_.jpg/800px-Horta_150706_REFON_.jpg José Reynaldo da Fonseca Imagem está sob licença GNU Free Documentation License http://commons.wikimedia.org/wiki/Commons:GNU_Free_Documen- tation_License Figura 1.6: Horta em pequena propriedade rural. Produtividade Corresponde à razão da produção (normalmente em massa)/área cultivada. Exemplo: kg m-2 (quilograma por metro quadrado); t ha-1 (tonelada por hectare) etc. Cultivo a campo Também chamado de cultivo a céu aberto, refere-se ao cultivo sem uso de proteção das plantas. Casa de vegetação climatizada Casa de vegetação, coberta acima e fechada nas laterais, com vidro ou plástico transparente. Faz uso de luz artificial e de aquecedores (no inverno) ou resfriadores (no verão), mantendo a temperatura e a luminosidade na faixa adequada para a espécie que está sendo cultivada. Perecibilidade Capacidade de alterar-se, de apodrecer. Glossárioe-Tec BrasilAula 1 | Bonitas, saborosas e saudáveis – Introdução à olericultura 15 Cultivos em hidroponia, em ambiente protegido, em sistemas de hortas (agricultura urbana) etc. contribuem para redução do tamanho médio da área cultivada com hortaliças. Elevada renda por área cultivada Embora apresente elevada produtividade, o retorno ou renda líquida por área cultivada é muito instável, pois depende da sazonalidade da oferta e da demanda do mercado consumidor. Como já dito, as hortaliças são, via de regra, muito perecíveis, e o armazenamento em condições controladas nem sempre é possível e viável economicamente, o que faz com que o produto colhido seja comercializado imediatamente. Portanto, o preço das hortaliças segue a lei de mercado (oferta x demanda), ou seja, às vezes é altamente rentável e, em outras, resulta em prejuízo (veja Tabela 1.1). Muito tempo despendido com colheitas, prepara- ção e comercialização Como já mencionado, não há ano agrícola no cultivo de hortaliças. Para muitas delas, ao contrário, há várias colheitas ao longo do ciclo de cultivo e não apenas uma colheita final, como ocorre com os cereais. Desse modo, as colheitas são parceladas (podendo ser realizadas diariamente, a cada dois ou três dias, semanalmente etc.) e podem durar semanas ou meses. A cada colheita seguem a limpeza, a classificação ou padronização, a embala- gem e a comercialização dos produtos colhidos. O tempo gasto, principalmen- te na comercialização fora da propriedade produtora, traz como transtorno a ausência do agricultor de sua atividade na propriedade rural. Às vezes, para evitar os prejuízos decorrentes dessa ausência, o produtor vende as hortaliças na propriedade para outro indivíduo que irá proceder à comercialização nos centros consumidores. Isso fez surgir a figura de um intermediário denomina- do “atravessador”. Diz-se que o atravessador é um mal necessário, que pode ser útil à sociedade se atuar de forma não exploratória. Hidroponia Refere-se ao cultivo sem solo, ou seja, com uso de soluções aquosas contendo os nutrientes necessários para o crescimento das plantas. Sazonalidade Variações que ocorrem ao longo das estações, épocas ou mesmo regiões. Glossário Agropecuáriae-Tec Brasil 16 Figura 1.7: Comercialização de oleráceas em área livre ou MLP (Mercado Livre do Pro- dutor) da Ceasa-MG, em Contagem. Essa área é destinada à comercialização direta entre produtores rurais e varejistas. Atividade de alto risco As espécies olerícolas são muito sensíveis a fatores abióticos (fatores climá- ticos) e bióticos (biológicos e fisiológicos) durante seu cultivo. Por terem elevado teor de umidade e alta taxa respiratória, são, como já dito, muito perecíveis e estão sujeitas à lei da oferta e da procura. O que torna essa prática arriscada financeiramente é que o custo de pro- dução é elevado e as hortaliças não são contempladas pelo preço mínimo nos programas de governo. Assim, vale a máxima: “Colheu, vendeu; não vendeu, perdeu!” Na Tabela 1.1 são apresentados dados de produtividade, custo e receita referentes à produção de alguns cereais e hortaliças no Brasil, no ano de 2008. Se observarmos detalhadamente os dados apresentados nessa tabela, poderemos visualizar muitas das características que foram mencionadas nes- ses seis itens anteriores. Um exemplo típico daquele ano foi o da batata, cuja rentabilidade dependeu da época de cultivo e da oferta. Assim, propiciou um lucro de R$ 1.713,00/ ha, no cultivo de inverno, até um prejuízo da ordem de R$ 134,00/ha, quan- do cultivada durante a época de seca. Chamam-nos a atenção também a produtividade e o custo de produção das hortaliças, que são muito mais elevados que os dos cereais. M ár io P ui at ti e-Tec BrasilAula 1 | Bonitas, saborosas e saudáveis – Introdução à olericultura 17 Cultura Produtividade t/ha Custo total Receita R$/ha Resultado* Cereais Arroz irrigado RS 6,2 3.603 3.504 -99 Milho GO 6,0 2.287 1.780 -507 Soja MS 2,6 1.319 1.575 +255 Trigo RS 2,4 1.329 941 -388 Trigo MG (irrigado) 5,1 2.892 2.550 -343 Hortaliças Alface 19,6 10.407 12.909 +2.501 Alho SC 10,0 32.794 37.900 +5.106 Batata SP inverno** 36 15.703 17.417 +1.713 Batata SP Águas 30 15.224 15.368 +143 Batata SP Seca 24 13.794 13.660 -134 Cebola SP convencional 40 16.101 26.000 +9.899 Cebola SP plantio direto 60 16.989 39.000 +22.011 Itajaí SC 35 11.863 17.500 +5.637 Cenoura MG variedade 42 25.349 36.960 +11.611 Cenoura MG hibridro 65 32.446 57.200 +24.754 Melancia (S. Francisco) 35 8.349 11.550 +3.201 Melão (Mossoró-RN) 25 13.151 15.500 +2.349 Morango (Sul MG) 30 62.992 120.000 +57.008 Pepino (SP) 44 11.542 15.576 +4.034 Agropecuáriae-Tec Brasil 18 Cultura Produtividade t/ha Custo total Receita R$/ha Resultado* Pimentão (SP) 25 19.268 19.000 -268 Tomate Indústria (GO) 85 12.976 13.175 +199 Tomate de mesa (SP) 165 45.185 64.050 +18.865 *Quando sinal “+” significa lucro; quando “–“ prejuízo. **Corresponde aos cultivos de maio a julho, de setembro a novembro e de fevereiro a abril, respectivamente. Fonte: Adaptado Agrianual (2009). Tabela 1.1: Produtividade, custo, receita e resultado (receita líquida) referente a algu- mas culturas de cereais e de hortaliças no ano de 2008 em alguns estados brasileiros com maior expressão de cultivo Atividade 2 Atende ao Objetivo 2 O Seu José, ao se deparar com a Tabela 1.1, pensou: “O morangueiro é al- tamente lucrativo; vou deixar o meu emprego estável na repartição pública e vou cultivar morango.” Será que o Seu José fará uma boa opção? Por quê? Conclusão Vimos nesta aula que a olericultura é um ramo da fitotecnia dedicado ao cultivo de hortaliças. Essa atividade apresenta particularidades que a distin- guem das demais atividades fitotécnicas, tais como uso intensivo dos fatores solo, mão de obra, água e insumos, ocupação de pequena área cultivada e elevada produtividade. Há também dificuldades na produção devido à sus- cetibilidade a fatores bióticos e abióticos e dificuldades na comercialização, o que torna a atividade de alto risco financeiro. e-Tec BrasilAula 1 | Bonitas, saborosas e saudáveis – Introdução à olericultura 19 Resumo Olericultura significa cultivo de hortaliças. É um termo utilizado na ciên-• cia que trata do ensino, da pesquisa e do cultivo de espécies herbáceas, que são as oleráceas, olerícolas ou simplesmente hortaliças. Oleráceas, olerícolas ou hortaliças são espécies vegetais essencialmente • herbáceas destinadas à alimentação. O profissional que as cultiva ou pro- duz é chamado olericultor. Verduras, legumes, hortifrutigranjeiros, hortigranjeiros e hortifrutis são • vocábulos populares relacionados às hortaliças que, juntamente com a sigla FLV (frutas, legumes e verduras), são imprecisos e pouco esclarece- dores. A atividade de exploração de hortaliças é de alto risco financeiro, devi-• do à suscetibilidade das oleráceas a fatores abióticos e bióticos durante seu cultivo, alta perecibilidade pós-colheita, custo de produção elevado e ausência de preço mínimo, sendo os preços determinados pela lei de mercado (oferta e procura). Informações sobre a próxima aula Na próxima aula, falaremos sobre as formas ou tipos de exploração de horta- liças, enfocando a área e espécies cultivadas, o nível de tecnificação, volume e destino da produção. Respostas das atividades Atividade 1 Espera-se encontrar no mercadinho do Seu Manoel hortaliças, frutas e a) produtos da granja (ovos e animais). Na seção dos FLV do hipermercado, espera-se encontrar frutas, legumes e verduras. O prefixo horti se refere a hortícola, da horticultura. Como visto na b) Figura 1.2, a horticulturaé atividade ampla que engloba outras ativi- dades além daquelas que se referem à ciência do cultivo das hortaliças Agropecuáriae-Tec Brasil 20 (olericultura) e das fruteiras (fruticultura). Portanto, o mais apropriado seria hortaliças e frutas ou simplesmente produtos hortícolas. “FLV” se refere a frutas, legumes e verduras. É uma sigla muito utilizada nos hipermercados, desde a década de 1990. Todavia, não é apropriada, pois legumes e verduras são termos pouco esclarecedores. A sigla FH (frutas e hortaliças) seria mais apropriada. Atividade 2 Como vimos no item “Atividade de alto risco”, a atividade empresarial ole- rícola é de alto risco financeiro. Isso se deve à suscetibilidade das oleráceas a fatores abióticos e bióticos durante o cultivo, à alta perecibilidade pós- colheita e ao custo de produção elevado. Somam-se a esses a ausência de preço mínimo determinado pelo governo e o fato de os preços seguirem a lei da oferta e da procura. Portanto, o Seu José deverá proceder a uma análise profunda do mercado e se cercar de técnicos qualificados para tomar uma decisão consciente. Referências bibliográficas AGRIANUAL 2009: anuário estatístico da agricultura brasileira. São Paulo: FNP, 2009. 497p. BRASIL. Lei nº 9.456, de 25 de abril de 1997. Institui a Lei de Proteção de Cultivares e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 8 abr. 1997. FILGUEIRA, F. A. R. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. Viçosa, MG: Editora UFV. 2008. 421 p. FONTES, P. C. R. (Ed.). Olericultura: teoria e prática. Visconde do Rio Branco: Suprema, 2009. 486 p. Sites recomendados ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE HORTICULTURA. Disponível em: <http://www.abhorticultura. com.br/>. Acesso em: 2 nov. 2009. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuário e Abastecimento. Agricultura. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/>. Acesso em: 2 nov. 2009. ______. Embrapa hortaliças. Disponível em: <http://www.cnph.embrapa.br/>. Acesso em: 2 nov. 2009.
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