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Aula 1 Penal Parte Geral - Ênfase

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Direito Penal – Parte Geral 
Aula 01 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
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Sumário 
1. Orientações iniciais ................................................................................................. 2 
2. Princípios ................................................................................................................ 2 
2.1 Subsidiariedade ou Ultima Ratio ou Intervenção Mínima ............................... 2 
2.2 Ofensividade ..................................................................................................... 3 
2.3 Adequação Social .............................................................................................. 5 
2.4 Fragmentariedade ............................................................................................ 6 
2.5 Insignificância ou bagatela ................................................................................ 7 
 
 
Direito Penal – Parte Geral 
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1. Orientações iniciais 
a. BIBLIOGRAFIA DA PARTE GERAL
- Tratado de Direito Penal, volume 1, Cezar Roberto Bitencourt; 
- Curso de Direito Penal, volume 1, Paulo Queiroz; 
- Topicamente, recomendar-se-á a leitura de autores como Zaffaroni e Nucci. 
 
b. JURISPRUDÊNCIA
- Leitura constante e semanal dos informativos dos tribunais superiores. 
 
c. QUESTÕES DE PROVAS
- Recomenda-se a resolução de muitas questões. 
 
2. Princípios 
2.1 Subsidiariedade ou Ultima Ratio ou Intervenção Mínima 
O direito penal só será aplicado quando as outras esferas do ordenamento jurídico 
não forem suficientes para proteger os bens jurídicos mais importantes e necessários para a 
vida em sociedade. 
Por bem jurídico entende-se a relação de disponibilidade que se tem com algum 
direito. 
Exemplo1: vida, patrimônio, liberdade, honra, dignidade sexual, etc. 
Exemplo2: a testemunha tem obrigação de comparecer em juízo e falar o que souber 
e responder àquilo que for questionada sobre os fatos. Caso não compareça quando 
regularmente intimada (testemunha recalcitrante), será conduzida pelo oficial de justiça, 
acompanhado se for o caso de força policial (cuida-se de sanção administrativa). Para além, 
o juiz pode aplicar-lhe multa (sanção civil) e determinar-lhe o pagamento das custas 
(gasolina da viatura policial, hora de trabalho do agente policial, etc.), sem prejuízo da 
responsabilização por crime de desobediência (sanção penal). Visto isso, percebe-se que o 
legislador entendeu como necessárias várias esferas (administrativa, civil e penal) para a 
tutela da administração da justiça. 
CPP, Art. 218. Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de comparecer sem 
motivo justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade policial a sua apresentação ou 
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determinar seja conduzida por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força 
pública. 
CPP, Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa prevista no art. 453, 
sem prejuízo do processo penal por crime de desobediência, e condená-la ao pagamento 
das custas da diligência. 
 
Diferentemente, no caso da vítima/ofendido, não haverá crime de desobediência. Ao 
revés, apenas condução coercitiva. Não há se falar em violação à isonomia em razão de o 
bem jurídico tutelado (administração da justiça) ser o mesmo, porquanto a condição jurídica 
da vítima e da testemunha é diferente. Assim, debruçado sobre essa situação, o legislador 
consignou a sanção administrativa como suficiente à tutela da administração da justiça no 
caso da vítima faltosa. 
CPP, Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as 
circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa 
indicar, tomando-se por termo as suas declarações. 
§ 1º Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo, o ofendido 
poderá ser conduzido à presença da autoridade. 
 
Observação: recentemente, o STJ sumulou entendimento de que não há se cogitar 
em adequação social e, por conseguinte, exclusão da incidência do direito penal, da conduta 
de vender/expor à venda CDs e DVDs piratas. Assentou a Corte a necessidade de o direito 
repressivo ser aplicado a esse tipo de conduta, porquanto medidas administrativas e/ou civis 
são insuficientes à proteção do bem jurídico (propriedade imaterial) em tela. 
 
2.2 Ofensividade 
Apenas incidirá o direito penal sobre condutas que afetem gravemente a esfera 
jurídica alheia. Tal princípio foca-se na gravidade do comportamento do agente e no nível de 
afetação do bem jurídico tutelado. 
De lembrar-se que o bem jurídico pode ser objeto de perigo ou de efetiva lesão. 
Exemplo1: quando alguém emite moeda falsa, ainda que inexista lesão específica, 
alocam-se em situação periclitante a fé pública e a moeda corrente no país (a população não 
teria confiança para realizar negociações em dinheiro). Contanto, naturalmente, que não se 
trate de falsificação grosseira (assim entendida como aquela que, de plano, tem a falsidade 
constatada). Nesse plano, ocorre crime de estelionato, cuja competência de processamento 
e julgamento é da justiça estadual (enunciado nº 79 da súmula do STJ). 
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Exemplo2: repassar uma nota de R$ 3 a um comerciante não caracteriza crime de 
estelionato. Antes, representa um crime impossível (art. 17 do CP), segundo o qual não se 
pune a tentativa quando, por absoluta impropriedade do objeto ou ineficácia absoluta do 
meio, e impossível consumar-se o crime. Trata-se de manifestação do princípio da 
ofensividade. Há quem fale cuidar-se de fato atípico (posição do professor); há quem 
defenda a ocorrência de extinção da punibilidade. 
Como desdobramento do princípio da ofensividade, apresentam-se algumas 
proibições: [1ª] incriminações de estados existenciais (punir alguém pelo que se é ou pelo 
que se sente; exemplo: revogação da mendicância como contravenção penal)12; [2ª] atos 
preparatórios: excepcionalmente, existem atos preparatórios que se caracterizam como 
crime, porque, por si sós, põem em perigo o bem jurídico tutelado. Tem, pois, relevância 
penal autônoma. Exemplifica-se com o artigo 291 do Código Penal; [3ª] condutas desviadas 
que não afetem qualquer bem jurídico. Moralmente, tais comportamentos são reprováveis 
(exemplo: prostituição em si mesma) 
INFORMATIVO Nº 722 
TÍTULO 
Art. 25 da LCP e não recepção pela CF/88 - 1 
PROCESSO RE RE 755565/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 3.10.2013. (RE-755565) - 583523 
 
ARTIGO 
O art. 25 da Lei de Contravenções Penais - LCP (Decreto-lei 3.688/41: “Art. 25. Ter 
alguém em seu poder, depois de condenado, por crime de furto ou roubo, ou enquanto 
sujeito à liberdadevigiada ou quando conhecido como vadio ou mendigo, gazuas, chaves 
falsas ou alteradas ou instrumentos empregados usualmente na prática de crime de 
furto, desde que não prove destinação legítima: Pena - prisão simples, de dois meses a 
um ano, e multa de duzentos mil réis a dois contos de réis”) não é compatível com a 
Constituição de 1988, por violar os princípios da dignidade da pessoa humana (CF, art. 
1º, III) e da isonomia (CF, art. 5º, caput e I). Essa a conclusão do Plenário, que deu 
provimento a recursos extraordinários, julgados em conjunto, e absolveu os recorrentes, 
nos termos do art. 386, III, do CPP. Discutia-se a temática relativa à recepção do 
mencionado art. 25 da LCP pelo novo ordenamento constitucional. No caso, os 
 
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 Logo depois da abolição da escravatura, muitos negros recentemente libertos, que, sequer, sabiam 
ler, não conseguiam ingressar no mercado de trabalho. Pelo fato de a economia brasileira não ter conseguido 
absorver essa mão de obra, criaram-se as contravenções penais de mendicância e vadiagem, as quais 
positivaram a punição de estados existenciais. 
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 Em outubro de 2013, o Supremo Tribunal Federal declarou a não recepção pela Constituição de 1988 
do artigo 25 da Lei das Contravenções Penais, infração penal que incriminava o porte de instrumentos 
destinados, usualmente, à prática de furtos. O legislador presumia a periculosidade do indivíduo, em cujo 
desfavor houvesse condenação pretérita por crime patrimonial, que portasse consigo instrumentos que 
pudessem ser utilizados na prática de furto. 
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recorrentes foram condenados pela posse injustificada de instrumento de emprego usual 
na prática de furto, tendo em conta condenação anterior pelo aludido crime (CP, art. 
155, §4º). Inicialmente, o Tribunal acolheu questão de ordem suscitada pelo Ministro 
Gilmar Mendes, relator, no sentido de superar o reconhecimento da prescrição da 
pretensão punitiva no RE 583523/RS, processo no qual reconhecida a repercussão geral 
da matéria. Aduziu-se que eventual declaração de incompatibilidade do preceito legal 
implicaria atipicidade da conduta, cujas consequências seriam mais benéficas ao 
recorrente do que a extinção da punibilidade pela perda da pretensão punitiva do 
Estado. RE 583523/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 3.10.2013. (RE-583523) 
 
2.3 Adequação Social 
Direcionado precipuamente o legislador, haja vista que, de olhos postos sobre essa 
ideia, ele irá selecionar os comportamentos merecedores da incidência do direito penal por 
sua antissocialidade. Embora nem todo comportamento antissocial seja reputado por 
criminoso. 
Exemplo1: até bem pouco tempo, a “cola” em concurso público era fato atípico. Em 
2012, inseriu-se no Código Penal o artigo 311-A, tipificando-se a conduta. Manifestação 
cristalina da adequação social. O STF já havia, antes da edição do diploma alterador, 
decidido sobre a atipicidade dessa conduta. 
Percebendo as mutações sociais, o legislador passa a incriminar determinadas 
condutas e, de outro giro, a descriminalizar certos comportamentos. 
Exemplo1: introdução do artigo 313-A do CP (Inserção de dados falsos em sistema de 
informações) pela Lei 9.983 nos anos 2000. 
Exemplo2: revogação do crime de adultério pela Lei 11.106 em 2005. Inicialmente, o 
legislador da década de 1940, tamanha a reprovabilidade desse comportamento, tipificou-o 
como crime. Coetaneamente, conquanto se saiba dos malefícios desse ato para o casamento 
e para a família, sua criminalização é desnecessária, uma vez que o direito civil é plenamente 
apto a resolver as controvérsias daí advindas. 
Exemplo3: volvam-se os olhares ao enunciado nº 502 da súmula do STJ. A 
argumentação defensiva de que o comportamento de vender/expor à venda CDs e DVDs 
piratas, pelo fato de as pessoas comparem-nos, teria se tornado atípica por força da 
adequação social da conduta não convenceu a Corte, a qual assentou a tipicidade do 
comportamento quando houver materialidade e autoria. 
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Também se presta a influir na atuação do juiz o princípio da adequação social, no que 
tange à interpretação da norma penal. Sem embargo, o magistrado não pode revogar tipos 
penais com base na adequação social. 
Exemplo: rejeitar uma denúncia com base na suposta atipicidade da mantença de 
casa de prostituição (art. 229 do CP), em razão de uma pretensa adequação social dessa 
conduta. 
Observação: esse caso ocorreu na justiça estadual do Rio de Janeiro e, na mesma 
época, o STF decidiu a impossibilidade de aplicação do princípio da adequação social para 
determinar a atipicidade da mantença de casa de prostituição. 
De regra, ao reincidente veda-se a substituição da pena corporal pela pena restritiva 
de direitos. Nada obstante, se a medida for socialmente recomendável e se a reincidência 
não houver se operado em virtude do mesmo crime, poderá o magistrado proceder à 
substituição. É o que reza o artigo 44, §3º, do CP: 
CP, Art. 44, § 3º Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, 
desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e 
a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime. 
 
Nota: também dentro da adequação social, faculta-se ao magistrado a análise das 
circunstâncias de determinar regime inicial de cumprimento de pena mais gravoso que o 
positivado no Código Penal. O referido princípio incide ainda na fase de execução da pena. 
Exemplo: réu condenado à pena privativa de liberdade que se substituiu por duas 
restritivas de direitos (multa e prestação de serviços à comunidade). Esse indivíduo cumpriu 
integralmente a pena restritiva de direitos. Todavia, em virtude de um de seus filhos 
apresentar problemas cardíacos graves, não conseguiu pagar o restante da pena pecuniária. 
Designou-se audiência admonitória, na qual se comprovou essa situação. Fulcrada na 
adequação social, a magistrada extinguiu a pena de multa (a fim de que não houvesse 
inscrição em dívida ativa) e adotou medidas alternativas para o cumprimento do quantum 
faltante. 
 
2.4 Fragmentariedade 
Possui o direito penal fragmentária, porque, de toda a gama de condutas e bens 
jurídicos tutelados pelo ordenamento jurídico, ocupar-se-á de pequenos fragmentos. A 
fragmentariedade é um consectário lógico dos três princípios anteriores. 
 
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2.5 Insignificância ou bagatela 
Relaciona-se com os princípios anteriores e, de certa maneira, combina-os todos. 
O legislador penal erige o bem jurídico digno de proteção. Após isso, cria a norma 
correspondente para tanto, seja ela protetiva, seja mandamental. Com vistas a efetivá-la, 
engendra um diploma legal (princípio da legalidade). 
No fim desse percurso, encontra-se o magistrado, o qual confecciona a adequação do 
fato à lei, quando, então, dá-se a tipicidadeformal. É preciso, ainda, verificar a 
antinormatividade (contrariedade à norma protetiva) desse comportamento formalmente 
típico. Dentro dessa visão, conduta que não é antinormativa não é típica; eis o ponto onde 
habita a teoria da imputação objetiva para a qual se o comportamento visa a evitar um dano 
maior não pode imputar ao agente a responsabilidade pelo dano menor. 
Exemplo1: cirurgião que realiza a imputação de membro de alguém almejando evitar 
uma infecção generalizada. 
Exemplo2: ao mesmo tempo em que o ordenamento prevê a obrigatoriedade de o 
policial prender alguém em flagrante delito tipifica como crime o cerceamento da liberdade 
de alguém. Dando-se tal conflito, imperiosa se faz uma ponderação, a partir da qual 
prevalecerá a norma que determina o cumprimento do dever. Eis a razão pela qual a 
conduta do policial não será antinormativa. Com isso, percebe-se um claro esvaziamento das 
excludentes da ilicitude, da teoria da conditio sine qua non, etc. 
Por derradeiro, o juiz analisará se houve perigo ou efetiva lesão ao bem jurídico 
tutelado. A norma existe para preservar o bem jurídico. Daí, se inexistiu lesão ou perigo de 
lesão a ele, obsta-se a que se aplique o direito penal. É nesse ponto que surge o princípio da 
insignificância. 
Remete-se à leitura do artigo 5º, inciso XXXV, da CRFB, no qual consta que a lei não 
poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário a lesão ou ameaça de lesão a direito. Em 
interpretação a contrariu sensu desse dispositivo constitucional, infere-se que o Judiciário 
não subsumirá à lei condutas que não tenham causado lesão ou ameaça de lesão a direitos 
(bem jurídicos protegidos). 
Essa ideia de insignificância radica-se no direito romano, no qual vigia o brocardo de 
minimis non curat praetor (o ínfimo/insignificante não será objeto de apreciação pelo 
magistrado; a conduta será atípica). 
Tal teoria é a proposta da tipicidade conglobante. Em que pese isso não ser 
unanimidade, o princípio da insignificância vem sendo bastante utilizado pelos tribunais 
superiores. 
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Observação: hodiernamente, o princípio da insignificância é reconhecido como 
causa supralegal de exclusão da tipicidade.3 Abaixo, listam-se os vetores dos quais se valem 
as Cortes superiores para manejá-lo. 
 
 Inexpressividade da lesão jurídica provocada 
O furto privilegiado, ao contrário do que ocorre no CPM, consubstancia-se, no Código 
Penal, em atenuante de pena. A jurisprudência passou a distinguir o ínfimo (inexpressividade 
da lesão jurídica provocada; o bem jurídico não é afetado e nem colocado em risco. A 
aferição será casuística, levando-se em consideração o patrimônio da pessoa vitimada) do 
pequeno valor (alcançado por critério objetivo, consubstanciado no valor do bem, e por 
critério subjetivo, que consiste no valor que o bem possui para a vítima). 
Exemplo: uma bicicleta usada avaliada em R$ 50 tem pequeno valor. Todavia, não 
será uma lesão ínfima caso pertença a um trabalhador assalariado que a utilize para 
deslocar-se do trabalho para a residência. In casu, o magistrado, em vez de aplicar a 
insignificância, pode reconhecer o furto privilegiado. 
Conclusão: em sendo expressiva a lesão, não há se falar em insignificância. 
 
 Mínima ofensividade da conduta. 
Rememore-se o princípio da ofensividade, o qual determina que as condutas que 
afetem a esfera jurídica alheia de forma irrelevante não merecem a reprimenda pelo direito 
penal. 
Nesse ponto, analisa-se o grau de ofensividade da conduta do agente. 
 
 Inexistência de periculosidade social da ação 
Remonta-se ao princípio da adequação social, que, embora não possa ser utilizado 
para revogar tipos penais, pode ser manejado pelo magistrado para interpretação da lei 
penal. 
 
3
 O anteprojeto do novo CP incorporou ao texto legal o mencionado princípio. Curiosamente, o Direito 
Penal Militar, que não é muito simpático ao princípio da insignificância, prevê hipótese legal de exclusão da 
tipicidade. Faculta-se ao juiz, se a coisa for de pequeno valor (1/10 do salário mínimo vigente, de acordo com o 
CPM), reconhecer a conduta como infração disciplinar, hipótese na qual rejeitará a denúncia e remeterá os 
autos à autoridade militar competente para aplicação da sanção. 
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Com base na ausência de repercussão social da ação deflagrada pelo agente, viável a 
caracterização do fato como atípico, mediante, logicamente, a aferição dos outros vetores. 
Exemplo: pesca de camarões, cuja totalidade não chegava a um quilo, no período de 
defeso com rede proibida. Em que pese a ofensividade, esta é mínima. Note-se, ainda, que o 
caso foi um fato isolado. Se esse indivíduo conclamasse toda a colônia para realizar a pesca, 
sua conduta seria socialmente perigosa. Concluindo, na hipótese aventada, não se exige a 
incidência do Direito Penal, haja vista a solução da problemática pelo direito ambiental. 
Observação1: a reincidência por si só não afasta o princípio da insignificância. 
Observação2: a reiteração da conduta repele esse princípio, ao que se chama de 
habitualidade no sentido impróprio, quando o indivíduo é dedicado à atividade criminosa, 
ocasionando, assim, periculosidade social. Ainda que o fato isolado tenha gerado 
inexpressiva lesão (ínfimo valor) e sua ofensividade seja mínima (cometido sem violência ou 
grave ameaça). 
Exemplo: subtração de R$ 10 de um transeunte abastado por um indivíduo que, 
costumeiramente, comete pequenos delitos no centro da cidade. 
 
 Reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento 
A inserção desse vetor de aplicação do princípio da insignificância no anteprojeto do 
Código Penal foi motivo de críticas por parte da doutrina. Argumentou-se sobre a 
impropriedade de incorpora-se a reprovabilidade (criação doutrinária), sinonímia de 
culpabilidade, ao texto legal. 
Essa ideia origina-se no funcionalismo, no qual se labora com as funções do direito 
penal e da pena. E isso suscita algumas posições de certa forma absurdas. Exemplifica-se 
com o sujeito que praticou crime e, após, ficou tetraplégico. Sugerem os funcionalistas a 
extinção da pena, pois, por o sujeito estar tetraplégico, não cumprirá sua função em seu 
caráter retributivo (castigo). Não terá, também, o condão de cumprir o caráter preventivo 
geral (relativo à sociedade) e especial (relativo ao indivíduo; evitar que ele cometa novos 
crimes). Tal pena, pela ótica do funcionalismo, resta esvaziada. 
Como o grau de reprovabilidade é mínimo (caráter retributivo), a pena fica esvaziada. 
Observação1: a jurisprudência consolidada dos tribunais superiores admite a 
incidência do princípio da insignificância nos crimes ambientais, os quais, em sua maioria, 
consubstanciam-se em infrações de menor potencial ofensivo. 
Observação2: atualmente, os tribunais superiores não aplicam esse princípio para os 
usuários flagrados com pequeníssima quantidade de entorpecentes. Esse é o entendimento 
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prevalente no STF e pacífico no STJ. Argumenta-se que é justamente a pequena quantidade 
dos estupefacientes que caracteriza a conduta como porte (art. 28 da Lei 11.343/2006) e não 
tráfico (art. 33 da Lei 11.343/2006), sendo vedado, portanto, valer-se de uma elementar do 
tipo para tornar atípica determinada conduta. Isso seria um contrassenso. Ademais, o bem 
jurídico tutelado (saúde pública) é exposto ao risco já quando o usuário porta a droga para 
consumo pessoal. 
Observação3: em regra, crimes contra administração pública não admitem o princípio 
da insignificância, por conta do bem jurídico sob proteção. Eventual e topicamente, a 
jurisprudência tem-no aplicado. Exemplo: prefeito que usou máquinas públicas para fazer 
obras em sua residência. O ministro Gilmar Mendes, relator, votou pela aplicação. Arguiu 
que, nas cidades do interior, é comum a cessão de equipamentos para serviços particulares, 
mediante o pagamento do combustível das máquinas. Por isso, o prefeito agiu tal como os 
demais cidadãos. Assim, essa conduta foi insignificante.4 
Observação4: de regra, peculato não admite o princípio da insignificância, uma vez 
que, além do patrimônio, coloca-se em xeque a moralidade da administração. O STF já 
aplicou esse princípio ao caso de funcionários que levaram para suas residências luminárias, 
denominadas de velhas e inservíveis pela administração pública, de determinada repartição 
e deixadas em depósito para serem descartadas. Considerou-se que a aplicação de sanção 
administrativa seria adequada à hipótese, tendo em vista que as luminárias iriam ser jogadas 
fora e a conduta dos agentes teve reduzidíssimo grau de reprovabilidade, etc. 
Observação5: todos os crimes tributários permitem a extinção da punibilidade 
mediante o pagamento do tributo (art. 83 da Lei 9.430/96). Tecem-se críticas a esses delitos, 
os quais, nos dizeres de alguns, consubstanciam-se em verdadeiro mecanismo 
governamental de coerção ao pagamento dos tributos. Alguns setores do Ministério Público 
Federal, por exemplo, têm entendimento acerca a subsistência da fraude perpetrada, ainda 
que se extinga a punibilidade do delito tributário. No caso do descaminho, o pagamento do 
tributo (e das obrigações acessórias) não extingue a punibilidade. Nesse contexto, o STF 
aplicou o princípio da insignificância nesse crime. Valeu-se da Lei 10.522/2002. Segundo o 
artigo 18, dívidas sequer seriam inscritas. Por sua vez, orienta o artigo 20 o arquivamento 
dos autos, sem baixa, de débitos no valor de até R$ 10.000,00 (não seria compensatório à 
Fazenda Pública movimentar a máquina judiciária para recebê-lo). Recentemente, tais 
valores foram alterados para, respectivamente, R$ 1.000,00 e R$ 20.000,00. Pois bem. Em 
2008, o STF, logo depois seguido pelo STJ, decidiu que se o valor do tributo, e das obrigações 
acessórias, não ultrapassasse os R$ 10.000,00, o comportamento era insignificante 
 
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 É preciso tomar cuidado com o fato de que nem todas as decisões emanadas de alguns ministros da 
Corte refletem o posicionamento majoritário do STF. Sobretudo nas ações penais originárias. 
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(inexpressividade da lesão jurídica provocada). Imperiosa a aferição dos outros três vetores 
para se proceder à aplicação do princípio, pois, se o indivíduo elegera o descaminho como 
meio de vida e, assim, tornou-se abastecedor de mercados informais, sua conduta seria 
perigosa socialmente, motivo por que merecerá reprimenda do direito penal. Por 
derradeiro, cumpre salientar a discordância dalguns ministros (Marco Aurélio e Carmem 
Lúcia) com o valor de R$ 10.000,00 como insignificante, para os quais insignificante é, na 
verdade, a quantia de R$ 100,00 (quando sequer se inscreve o valor em dívida ativa). 
Observação7: tendo em vista a atualização dos valores, o professor Marcelo Uzeda 
raciocina a necessidade de se repensar o tema, porquanto R$ 20.000,00 é uma quantia 
considerável para ser considerada insignificante.

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