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Direito Penal – Parte Geral Aula 01 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 1 www.cursoenfase.com.br Sumário 1. Orientações iniciais ................................................................................................. 2 2. Princípios ................................................................................................................ 2 2.1 Subsidiariedade ou Ultima Ratio ou Intervenção Mínima ............................... 2 2.2 Ofensividade ..................................................................................................... 3 2.3 Adequação Social .............................................................................................. 5 2.4 Fragmentariedade ............................................................................................ 6 2.5 Insignificância ou bagatela ................................................................................ 7 Direito Penal – Parte Geral Aula 01 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 2 www.cursoenfase.com.br 1. Orientações iniciais a. BIBLIOGRAFIA DA PARTE GERAL - Tratado de Direito Penal, volume 1, Cezar Roberto Bitencourt; - Curso de Direito Penal, volume 1, Paulo Queiroz; - Topicamente, recomendar-se-á a leitura de autores como Zaffaroni e Nucci. b. JURISPRUDÊNCIA - Leitura constante e semanal dos informativos dos tribunais superiores. c. QUESTÕES DE PROVAS - Recomenda-se a resolução de muitas questões. 2. Princípios 2.1 Subsidiariedade ou Ultima Ratio ou Intervenção Mínima O direito penal só será aplicado quando as outras esferas do ordenamento jurídico não forem suficientes para proteger os bens jurídicos mais importantes e necessários para a vida em sociedade. Por bem jurídico entende-se a relação de disponibilidade que se tem com algum direito. Exemplo1: vida, patrimônio, liberdade, honra, dignidade sexual, etc. Exemplo2: a testemunha tem obrigação de comparecer em juízo e falar o que souber e responder àquilo que for questionada sobre os fatos. Caso não compareça quando regularmente intimada (testemunha recalcitrante), será conduzida pelo oficial de justiça, acompanhado se for o caso de força policial (cuida-se de sanção administrativa). Para além, o juiz pode aplicar-lhe multa (sanção civil) e determinar-lhe o pagamento das custas (gasolina da viatura policial, hora de trabalho do agente policial, etc.), sem prejuízo da responsabilização por crime de desobediência (sanção penal). Visto isso, percebe-se que o legislador entendeu como necessárias várias esferas (administrativa, civil e penal) para a tutela da administração da justiça. CPP, Art. 218. Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de comparecer sem motivo justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade policial a sua apresentação ou Direito Penal – Parte Geral Aula 01 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 3 www.cursoenfase.com.br determinar seja conduzida por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força pública. CPP, Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa prevista no art. 453, sem prejuízo do processo penal por crime de desobediência, e condená-la ao pagamento das custas da diligência. Diferentemente, no caso da vítima/ofendido, não haverá crime de desobediência. Ao revés, apenas condução coercitiva. Não há se falar em violação à isonomia em razão de o bem jurídico tutelado (administração da justiça) ser o mesmo, porquanto a condição jurídica da vítima e da testemunha é diferente. Assim, debruçado sobre essa situação, o legislador consignou a sanção administrativa como suficiente à tutela da administração da justiça no caso da vítima faltosa. CPP, Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações. § 1º Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo, o ofendido poderá ser conduzido à presença da autoridade. Observação: recentemente, o STJ sumulou entendimento de que não há se cogitar em adequação social e, por conseguinte, exclusão da incidência do direito penal, da conduta de vender/expor à venda CDs e DVDs piratas. Assentou a Corte a necessidade de o direito repressivo ser aplicado a esse tipo de conduta, porquanto medidas administrativas e/ou civis são insuficientes à proteção do bem jurídico (propriedade imaterial) em tela. 2.2 Ofensividade Apenas incidirá o direito penal sobre condutas que afetem gravemente a esfera jurídica alheia. Tal princípio foca-se na gravidade do comportamento do agente e no nível de afetação do bem jurídico tutelado. De lembrar-se que o bem jurídico pode ser objeto de perigo ou de efetiva lesão. Exemplo1: quando alguém emite moeda falsa, ainda que inexista lesão específica, alocam-se em situação periclitante a fé pública e a moeda corrente no país (a população não teria confiança para realizar negociações em dinheiro). Contanto, naturalmente, que não se trate de falsificação grosseira (assim entendida como aquela que, de plano, tem a falsidade constatada). Nesse plano, ocorre crime de estelionato, cuja competência de processamento e julgamento é da justiça estadual (enunciado nº 79 da súmula do STJ). Direito Penal – Parte Geral Aula 01 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 4 www.cursoenfase.com.br Exemplo2: repassar uma nota de R$ 3 a um comerciante não caracteriza crime de estelionato. Antes, representa um crime impossível (art. 17 do CP), segundo o qual não se pune a tentativa quando, por absoluta impropriedade do objeto ou ineficácia absoluta do meio, e impossível consumar-se o crime. Trata-se de manifestação do princípio da ofensividade. Há quem fale cuidar-se de fato atípico (posição do professor); há quem defenda a ocorrência de extinção da punibilidade. Como desdobramento do princípio da ofensividade, apresentam-se algumas proibições: [1ª] incriminações de estados existenciais (punir alguém pelo que se é ou pelo que se sente; exemplo: revogação da mendicância como contravenção penal)12; [2ª] atos preparatórios: excepcionalmente, existem atos preparatórios que se caracterizam como crime, porque, por si sós, põem em perigo o bem jurídico tutelado. Tem, pois, relevância penal autônoma. Exemplifica-se com o artigo 291 do Código Penal; [3ª] condutas desviadas que não afetem qualquer bem jurídico. Moralmente, tais comportamentos são reprováveis (exemplo: prostituição em si mesma) INFORMATIVO Nº 722 TÍTULO Art. 25 da LCP e não recepção pela CF/88 - 1 PROCESSO RE RE 755565/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 3.10.2013. (RE-755565) - 583523 ARTIGO O art. 25 da Lei de Contravenções Penais - LCP (Decreto-lei 3.688/41: “Art. 25. Ter alguém em seu poder, depois de condenado, por crime de furto ou roubo, ou enquanto sujeito à liberdadevigiada ou quando conhecido como vadio ou mendigo, gazuas, chaves falsas ou alteradas ou instrumentos empregados usualmente na prática de crime de furto, desde que não prove destinação legítima: Pena - prisão simples, de dois meses a um ano, e multa de duzentos mil réis a dois contos de réis”) não é compatível com a Constituição de 1988, por violar os princípios da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III) e da isonomia (CF, art. 5º, caput e I). Essa a conclusão do Plenário, que deu provimento a recursos extraordinários, julgados em conjunto, e absolveu os recorrentes, nos termos do art. 386, III, do CPP. Discutia-se a temática relativa à recepção do mencionado art. 25 da LCP pelo novo ordenamento constitucional. No caso, os 1 Logo depois da abolição da escravatura, muitos negros recentemente libertos, que, sequer, sabiam ler, não conseguiam ingressar no mercado de trabalho. Pelo fato de a economia brasileira não ter conseguido absorver essa mão de obra, criaram-se as contravenções penais de mendicância e vadiagem, as quais positivaram a punição de estados existenciais. 2 Em outubro de 2013, o Supremo Tribunal Federal declarou a não recepção pela Constituição de 1988 do artigo 25 da Lei das Contravenções Penais, infração penal que incriminava o porte de instrumentos destinados, usualmente, à prática de furtos. O legislador presumia a periculosidade do indivíduo, em cujo desfavor houvesse condenação pretérita por crime patrimonial, que portasse consigo instrumentos que pudessem ser utilizados na prática de furto. Direito Penal – Parte Geral Aula 01 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 5 www.cursoenfase.com.br recorrentes foram condenados pela posse injustificada de instrumento de emprego usual na prática de furto, tendo em conta condenação anterior pelo aludido crime (CP, art. 155, §4º). Inicialmente, o Tribunal acolheu questão de ordem suscitada pelo Ministro Gilmar Mendes, relator, no sentido de superar o reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva no RE 583523/RS, processo no qual reconhecida a repercussão geral da matéria. Aduziu-se que eventual declaração de incompatibilidade do preceito legal implicaria atipicidade da conduta, cujas consequências seriam mais benéficas ao recorrente do que a extinção da punibilidade pela perda da pretensão punitiva do Estado. RE 583523/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 3.10.2013. (RE-583523) 2.3 Adequação Social Direcionado precipuamente o legislador, haja vista que, de olhos postos sobre essa ideia, ele irá selecionar os comportamentos merecedores da incidência do direito penal por sua antissocialidade. Embora nem todo comportamento antissocial seja reputado por criminoso. Exemplo1: até bem pouco tempo, a “cola” em concurso público era fato atípico. Em 2012, inseriu-se no Código Penal o artigo 311-A, tipificando-se a conduta. Manifestação cristalina da adequação social. O STF já havia, antes da edição do diploma alterador, decidido sobre a atipicidade dessa conduta. Percebendo as mutações sociais, o legislador passa a incriminar determinadas condutas e, de outro giro, a descriminalizar certos comportamentos. Exemplo1: introdução do artigo 313-A do CP (Inserção de dados falsos em sistema de informações) pela Lei 9.983 nos anos 2000. Exemplo2: revogação do crime de adultério pela Lei 11.106 em 2005. Inicialmente, o legislador da década de 1940, tamanha a reprovabilidade desse comportamento, tipificou-o como crime. Coetaneamente, conquanto se saiba dos malefícios desse ato para o casamento e para a família, sua criminalização é desnecessária, uma vez que o direito civil é plenamente apto a resolver as controvérsias daí advindas. Exemplo3: volvam-se os olhares ao enunciado nº 502 da súmula do STJ. A argumentação defensiva de que o comportamento de vender/expor à venda CDs e DVDs piratas, pelo fato de as pessoas comparem-nos, teria se tornado atípica por força da adequação social da conduta não convenceu a Corte, a qual assentou a tipicidade do comportamento quando houver materialidade e autoria. Direito Penal – Parte Geral Aula 01 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 6 www.cursoenfase.com.br Também se presta a influir na atuação do juiz o princípio da adequação social, no que tange à interpretação da norma penal. Sem embargo, o magistrado não pode revogar tipos penais com base na adequação social. Exemplo: rejeitar uma denúncia com base na suposta atipicidade da mantença de casa de prostituição (art. 229 do CP), em razão de uma pretensa adequação social dessa conduta. Observação: esse caso ocorreu na justiça estadual do Rio de Janeiro e, na mesma época, o STF decidiu a impossibilidade de aplicação do princípio da adequação social para determinar a atipicidade da mantença de casa de prostituição. De regra, ao reincidente veda-se a substituição da pena corporal pela pena restritiva de direitos. Nada obstante, se a medida for socialmente recomendável e se a reincidência não houver se operado em virtude do mesmo crime, poderá o magistrado proceder à substituição. É o que reza o artigo 44, §3º, do CP: CP, Art. 44, § 3º Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime. Nota: também dentro da adequação social, faculta-se ao magistrado a análise das circunstâncias de determinar regime inicial de cumprimento de pena mais gravoso que o positivado no Código Penal. O referido princípio incide ainda na fase de execução da pena. Exemplo: réu condenado à pena privativa de liberdade que se substituiu por duas restritivas de direitos (multa e prestação de serviços à comunidade). Esse indivíduo cumpriu integralmente a pena restritiva de direitos. Todavia, em virtude de um de seus filhos apresentar problemas cardíacos graves, não conseguiu pagar o restante da pena pecuniária. Designou-se audiência admonitória, na qual se comprovou essa situação. Fulcrada na adequação social, a magistrada extinguiu a pena de multa (a fim de que não houvesse inscrição em dívida ativa) e adotou medidas alternativas para o cumprimento do quantum faltante. 2.4 Fragmentariedade Possui o direito penal fragmentária, porque, de toda a gama de condutas e bens jurídicos tutelados pelo ordenamento jurídico, ocupar-se-á de pequenos fragmentos. A fragmentariedade é um consectário lógico dos três princípios anteriores. Direito Penal – Parte Geral Aula 01 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 7 www.cursoenfase.com.br 2.5 Insignificância ou bagatela Relaciona-se com os princípios anteriores e, de certa maneira, combina-os todos. O legislador penal erige o bem jurídico digno de proteção. Após isso, cria a norma correspondente para tanto, seja ela protetiva, seja mandamental. Com vistas a efetivá-la, engendra um diploma legal (princípio da legalidade). No fim desse percurso, encontra-se o magistrado, o qual confecciona a adequação do fato à lei, quando, então, dá-se a tipicidadeformal. É preciso, ainda, verificar a antinormatividade (contrariedade à norma protetiva) desse comportamento formalmente típico. Dentro dessa visão, conduta que não é antinormativa não é típica; eis o ponto onde habita a teoria da imputação objetiva para a qual se o comportamento visa a evitar um dano maior não pode imputar ao agente a responsabilidade pelo dano menor. Exemplo1: cirurgião que realiza a imputação de membro de alguém almejando evitar uma infecção generalizada. Exemplo2: ao mesmo tempo em que o ordenamento prevê a obrigatoriedade de o policial prender alguém em flagrante delito tipifica como crime o cerceamento da liberdade de alguém. Dando-se tal conflito, imperiosa se faz uma ponderação, a partir da qual prevalecerá a norma que determina o cumprimento do dever. Eis a razão pela qual a conduta do policial não será antinormativa. Com isso, percebe-se um claro esvaziamento das excludentes da ilicitude, da teoria da conditio sine qua non, etc. Por derradeiro, o juiz analisará se houve perigo ou efetiva lesão ao bem jurídico tutelado. A norma existe para preservar o bem jurídico. Daí, se inexistiu lesão ou perigo de lesão a ele, obsta-se a que se aplique o direito penal. É nesse ponto que surge o princípio da insignificância. Remete-se à leitura do artigo 5º, inciso XXXV, da CRFB, no qual consta que a lei não poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário a lesão ou ameaça de lesão a direito. Em interpretação a contrariu sensu desse dispositivo constitucional, infere-se que o Judiciário não subsumirá à lei condutas que não tenham causado lesão ou ameaça de lesão a direitos (bem jurídicos protegidos). Essa ideia de insignificância radica-se no direito romano, no qual vigia o brocardo de minimis non curat praetor (o ínfimo/insignificante não será objeto de apreciação pelo magistrado; a conduta será atípica). Tal teoria é a proposta da tipicidade conglobante. Em que pese isso não ser unanimidade, o princípio da insignificância vem sendo bastante utilizado pelos tribunais superiores. Direito Penal – Parte Geral Aula 01 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 8 www.cursoenfase.com.br Observação: hodiernamente, o princípio da insignificância é reconhecido como causa supralegal de exclusão da tipicidade.3 Abaixo, listam-se os vetores dos quais se valem as Cortes superiores para manejá-lo. Inexpressividade da lesão jurídica provocada O furto privilegiado, ao contrário do que ocorre no CPM, consubstancia-se, no Código Penal, em atenuante de pena. A jurisprudência passou a distinguir o ínfimo (inexpressividade da lesão jurídica provocada; o bem jurídico não é afetado e nem colocado em risco. A aferição será casuística, levando-se em consideração o patrimônio da pessoa vitimada) do pequeno valor (alcançado por critério objetivo, consubstanciado no valor do bem, e por critério subjetivo, que consiste no valor que o bem possui para a vítima). Exemplo: uma bicicleta usada avaliada em R$ 50 tem pequeno valor. Todavia, não será uma lesão ínfima caso pertença a um trabalhador assalariado que a utilize para deslocar-se do trabalho para a residência. In casu, o magistrado, em vez de aplicar a insignificância, pode reconhecer o furto privilegiado. Conclusão: em sendo expressiva a lesão, não há se falar em insignificância. Mínima ofensividade da conduta. Rememore-se o princípio da ofensividade, o qual determina que as condutas que afetem a esfera jurídica alheia de forma irrelevante não merecem a reprimenda pelo direito penal. Nesse ponto, analisa-se o grau de ofensividade da conduta do agente. Inexistência de periculosidade social da ação Remonta-se ao princípio da adequação social, que, embora não possa ser utilizado para revogar tipos penais, pode ser manejado pelo magistrado para interpretação da lei penal. 3 O anteprojeto do novo CP incorporou ao texto legal o mencionado princípio. Curiosamente, o Direito Penal Militar, que não é muito simpático ao princípio da insignificância, prevê hipótese legal de exclusão da tipicidade. Faculta-se ao juiz, se a coisa for de pequeno valor (1/10 do salário mínimo vigente, de acordo com o CPM), reconhecer a conduta como infração disciplinar, hipótese na qual rejeitará a denúncia e remeterá os autos à autoridade militar competente para aplicação da sanção. Direito Penal – Parte Geral Aula 01 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 9 www.cursoenfase.com.br Com base na ausência de repercussão social da ação deflagrada pelo agente, viável a caracterização do fato como atípico, mediante, logicamente, a aferição dos outros vetores. Exemplo: pesca de camarões, cuja totalidade não chegava a um quilo, no período de defeso com rede proibida. Em que pese a ofensividade, esta é mínima. Note-se, ainda, que o caso foi um fato isolado. Se esse indivíduo conclamasse toda a colônia para realizar a pesca, sua conduta seria socialmente perigosa. Concluindo, na hipótese aventada, não se exige a incidência do Direito Penal, haja vista a solução da problemática pelo direito ambiental. Observação1: a reincidência por si só não afasta o princípio da insignificância. Observação2: a reiteração da conduta repele esse princípio, ao que se chama de habitualidade no sentido impróprio, quando o indivíduo é dedicado à atividade criminosa, ocasionando, assim, periculosidade social. Ainda que o fato isolado tenha gerado inexpressiva lesão (ínfimo valor) e sua ofensividade seja mínima (cometido sem violência ou grave ameaça). Exemplo: subtração de R$ 10 de um transeunte abastado por um indivíduo que, costumeiramente, comete pequenos delitos no centro da cidade. Reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento A inserção desse vetor de aplicação do princípio da insignificância no anteprojeto do Código Penal foi motivo de críticas por parte da doutrina. Argumentou-se sobre a impropriedade de incorpora-se a reprovabilidade (criação doutrinária), sinonímia de culpabilidade, ao texto legal. Essa ideia origina-se no funcionalismo, no qual se labora com as funções do direito penal e da pena. E isso suscita algumas posições de certa forma absurdas. Exemplifica-se com o sujeito que praticou crime e, após, ficou tetraplégico. Sugerem os funcionalistas a extinção da pena, pois, por o sujeito estar tetraplégico, não cumprirá sua função em seu caráter retributivo (castigo). Não terá, também, o condão de cumprir o caráter preventivo geral (relativo à sociedade) e especial (relativo ao indivíduo; evitar que ele cometa novos crimes). Tal pena, pela ótica do funcionalismo, resta esvaziada. Como o grau de reprovabilidade é mínimo (caráter retributivo), a pena fica esvaziada. Observação1: a jurisprudência consolidada dos tribunais superiores admite a incidência do princípio da insignificância nos crimes ambientais, os quais, em sua maioria, consubstanciam-se em infrações de menor potencial ofensivo. Observação2: atualmente, os tribunais superiores não aplicam esse princípio para os usuários flagrados com pequeníssima quantidade de entorpecentes. Esse é o entendimento Direito Penal – Parte Geral Aula 01 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-sea complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 10 www.cursoenfase.com.br prevalente no STF e pacífico no STJ. Argumenta-se que é justamente a pequena quantidade dos estupefacientes que caracteriza a conduta como porte (art. 28 da Lei 11.343/2006) e não tráfico (art. 33 da Lei 11.343/2006), sendo vedado, portanto, valer-se de uma elementar do tipo para tornar atípica determinada conduta. Isso seria um contrassenso. Ademais, o bem jurídico tutelado (saúde pública) é exposto ao risco já quando o usuário porta a droga para consumo pessoal. Observação3: em regra, crimes contra administração pública não admitem o princípio da insignificância, por conta do bem jurídico sob proteção. Eventual e topicamente, a jurisprudência tem-no aplicado. Exemplo: prefeito que usou máquinas públicas para fazer obras em sua residência. O ministro Gilmar Mendes, relator, votou pela aplicação. Arguiu que, nas cidades do interior, é comum a cessão de equipamentos para serviços particulares, mediante o pagamento do combustível das máquinas. Por isso, o prefeito agiu tal como os demais cidadãos. Assim, essa conduta foi insignificante.4 Observação4: de regra, peculato não admite o princípio da insignificância, uma vez que, além do patrimônio, coloca-se em xeque a moralidade da administração. O STF já aplicou esse princípio ao caso de funcionários que levaram para suas residências luminárias, denominadas de velhas e inservíveis pela administração pública, de determinada repartição e deixadas em depósito para serem descartadas. Considerou-se que a aplicação de sanção administrativa seria adequada à hipótese, tendo em vista que as luminárias iriam ser jogadas fora e a conduta dos agentes teve reduzidíssimo grau de reprovabilidade, etc. Observação5: todos os crimes tributários permitem a extinção da punibilidade mediante o pagamento do tributo (art. 83 da Lei 9.430/96). Tecem-se críticas a esses delitos, os quais, nos dizeres de alguns, consubstanciam-se em verdadeiro mecanismo governamental de coerção ao pagamento dos tributos. Alguns setores do Ministério Público Federal, por exemplo, têm entendimento acerca a subsistência da fraude perpetrada, ainda que se extinga a punibilidade do delito tributário. No caso do descaminho, o pagamento do tributo (e das obrigações acessórias) não extingue a punibilidade. Nesse contexto, o STF aplicou o princípio da insignificância nesse crime. Valeu-se da Lei 10.522/2002. Segundo o artigo 18, dívidas sequer seriam inscritas. Por sua vez, orienta o artigo 20 o arquivamento dos autos, sem baixa, de débitos no valor de até R$ 10.000,00 (não seria compensatório à Fazenda Pública movimentar a máquina judiciária para recebê-lo). Recentemente, tais valores foram alterados para, respectivamente, R$ 1.000,00 e R$ 20.000,00. Pois bem. Em 2008, o STF, logo depois seguido pelo STJ, decidiu que se o valor do tributo, e das obrigações acessórias, não ultrapassasse os R$ 10.000,00, o comportamento era insignificante 4 É preciso tomar cuidado com o fato de que nem todas as decisões emanadas de alguns ministros da Corte refletem o posicionamento majoritário do STF. Sobretudo nas ações penais originárias. Direito Penal – Parte Geral Aula 01 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 11 www.cursoenfase.com.br (inexpressividade da lesão jurídica provocada). Imperiosa a aferição dos outros três vetores para se proceder à aplicação do princípio, pois, se o indivíduo elegera o descaminho como meio de vida e, assim, tornou-se abastecedor de mercados informais, sua conduta seria perigosa socialmente, motivo por que merecerá reprimenda do direito penal. Por derradeiro, cumpre salientar a discordância dalguns ministros (Marco Aurélio e Carmem Lúcia) com o valor de R$ 10.000,00 como insignificante, para os quais insignificante é, na verdade, a quantia de R$ 100,00 (quando sequer se inscreve o valor em dívida ativa). Observação7: tendo em vista a atualização dos valores, o professor Marcelo Uzeda raciocina a necessidade de se repensar o tema, porquanto R$ 20.000,00 é uma quantia considerável para ser considerada insignificante.
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