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Aula 10.1 Penal Parte Geral - Ênfase

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Direito Penal - Parte Geral 
 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
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Sumário 
1. Teoria do Delito (cont.) ........................................................................................... 2 
1.1 Tipo penal ......................................................................................................... 2 
1.1.1 Resultado ..................................................................................................... 3 
1.1.2 Responsabilidade jurídico-penal pelo resultado ......................................... 5 
1.1.3 Relação de Causalidade ............................................................................... 6 
1.1.3.1 Regresso ad infinitum .......................................................................... 7 
1.1.3.2 Espécies de interação do Antecedentes ............................................ 11 
1.1.4 Imputação .................................................................................................. 16 
1.1.4.1 Teoria da Causalidade Adequada ...................................................... 17 
1.1.4.2 Teoria da Imputação .......................................................................... 19 
1.1.4.2.1.1 Diminuição do risco ............................................................. 22 
1.1.4.2.1.2 Não criação de um risco juridicamente relevante ............... 23 
1.1.4.2.1.3 Risco permitido .................................................................... 24 
 
 
 
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1. Teoria do Delito (cont.) 
1.1 Tipo penal 
Dentro de tipo estuda-se: 
 Tipo objetivo: 1. ação (aula passada), nexo de causalidade (esta aula), 
resultado (esta aula) e 2. imputação (esta aula). 
 Tipo subjetivo, em que se estuda dolo + elemento subjetivo especial (aula que 
vem). 
O crime é uma ação que tem as qualidades de ser típica, ilícita e culpável. 
Na aula passada teve-se uma ideia geral dos vários sistemas de teoria do delito e viu-
se as teorias da ação, e que os vários conceitos de ação procuram dar uma ideia geral de 
ação e não da ação típica. Ou seja, os vários conceitos de ação explicam a ação lícita e 
também a ilícita. 
Com efeito, o conceito finalista e o conceito causalista explicam (ou pretendem 
explicar) a ação de interagir licitamente com outras pessoas, é um conceito que se pretende 
neutro, não antecipa as demais etapas da estrutura do delito. 
A partir da aula de hoje começa-se a estudar as demais etapas (degraus). Vale 
retomar a escada anteriormente abordada em que o crime é uma ação com as seguinte 
qualidades: tipicidade, ilicitude e culpabilidade. 
 
 
Na aula passada cuidou-se do primeiro degrau, qual seja, o conceito de ação, que é 
um conceito neutro que pretende explicar ações lícitas e ilícitas. 
Neste momento faz-se necessário analisar o segundo degrau: a tipicidade. A partir 
deste degrau estudam-se vários elementos ligados à tipicidade. 
A tipicidade é a ferramenta do princípio da legalidade. Este princípio exige que as 
condutas criminosas estejam descritas em tipos penais, estejam descritas em lei. Esta 
descrição legal (em abstrato) recebe o nome de tipo (v.g. matar alguém, subtrair coisa alheia 
ação 
típicidade 
ilicitude 
culpabilidade 
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móvel). A descrição em tipos penais é a ferramenta, a forma de operacionalizar o princípio 
da legalidade. Depois este conceito foi se sofisticando, o que será tratado mais adiante. 
Nesse sentido, tem-se que a função principal da tipicidade é atender ao princípio da 
legalidade, verificar se a ação realizada se encaixa em um tipo, dentro de uma descrição 
abstrata de conduta proibida. 
 
Os tipos penais são descrições de condutas proibidas, normalmente descrevem uma 
ação, nos crimes formais e materiais descrevem um resultado e implicitamente está descrita 
a relação de causalidade. 
TIPO: ação >>> relação de causalidade >>> resultado 
A presente aula se dedica ao estudo dos elementos do tipo penal, quais sejam, o 
resultado e a relação de causalidade. 
 
1.1.1 Resultado 
As ações existem no mundo da vida independentemente dos tipos, tanto isto é 
verdade que os conceitos de ação explicam as ações lícitas, ou seja, pré-típicas, que existem 
antes dos tipos. 
Porém, a ideia de resultado faz parte dos tipos penais isto porque, muito embora o 
resultado exista no mundo da natureza (v.g. ação de matar e o resultado morte) é o tipo 
penal quem seleciona, dentro de uma miríade de resultados na natureza, aquele que 
interessa ao Direito Penal. 
É possível que uma conduta cause uma série de resultados e que nenhum deles 
interesse ao legislador e, portanto aquele tipo penal será um tipo sem resultado, um tipo de 
mera conduta, v.g. o crime de violação de domicílio, tipo penal do art. 150, CP. O legislador 
só descreve a conduta, nenhum resultado é importante para ele, nenhum resultado precisa 
acontecer no mundo. Porém, muitos resultados podem ocorrer de uma violação de domicílio 
no mundo da vida. 
Exemplo: entrar na casa de alguém com os pés sujos de lama e sujar a casa toda é 
resultado que decorre da violação ao domicílio, assim como culposamente quebrar um 
ação 
típicidade 
ilicitude 
culpabilidade 
TIPO 
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objeto na casa. Então, pode existir uma série de resultados decorrentes da conduta de violar 
o domicílio, porém eles não interessaram ao legislador. O legislador não os considerou 
importantes, ele só considerou importante a conduta de violar domicílio, por isto é tipo de 
mera conduta. 
Veja que a seleção dos resultados importantes, ou seja, que precisam acontecer para 
que haja crime consumado, é um problema dos tipos penais e do legislador. 
Os resultados existem no mundo da vida, mas eles podem não ser selecionados pelo 
legislador como importantes para a consumação. É por isto que se estuda resultado dentro 
dos tipos e não fora como conceito de ação, conceito de ação é pré-típico, existe antes, mas 
o conceito de resultado não, porque é o tipo quem seleciona quais são os resultados 
importantes para o Direito Penal, pode ser que nenhum resultado seja importante e que ele 
na selecione nenhum como ocorre no crime de violação de domicílio. 
Daí a doutrina moderna corretamente coloca o resultado dentro da teoria dos tipos, 
é o tipo que dirá qual resultado precisa ocorrer ou não para que haja crime consumado. 
Conclusão: resultado e relação de causalidade estão dentro da teoria do tipo, 
dentro do nosso segundo degrau (tipicidade). 
Slide: 
RESULTADO 
 modificação do mundo externo que se segue à conduta 
 plano: natural 
 jurídico- ofensa ao interesse tutelado pela norma 
 localização do resultado e do nexo causal: Maurach e Zaffaroni: devem ser considerados na teoria do tipo 
 Embora a causalidade e o resultado pertençam ao mundo do ser, é 
problema jurídico a forma como o direito penal releva o resultado e a 
causalidade para o efeito da proibição legal da conduta. 
Comentário1: resultado e nexo-causal devem ser considerados dentro da teoria do 
tipo e não fora, não são conceitos pré-típicos, isto porque embora a relação e a causalidade 
pertença ao mundo do ser (aquele que existe na natureza) é problema jurídico a forma como 
o direito penal releva o resultado (dá importância a ele) e a causalidade para o efeito da 
proibição legal da conduta. 
Comentário2: a ideia de resultado admite duas explicações diferentes: a) plano 
jurídico pode-se dizer que resultado é ofensa ao bem jurídico tutelado, todo crime tem 
resultado (princípio da lesividade – é preciso existir lesão ou ameaça de lesão ao bem 
jurídico tutelado); b) plano natural ou naturalístico, resultado é modificação no mundo 
externo que se segue a conduta – alguma coisa ocorre no mundo causada pela ação, v.g. 
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sujeito enfia uma faca e a vítima morre ou fica ferida, sujeito joga um objeto no chão e ele se 
quebra – é este o resultado que interessa (o naturalístico), pois é este resultado que pode 
existir ou não nos tipos penais (os tipos de mera conduta não tem) e é este conceito de 
resultado que se usa para estudar relação de causalidade. 
Se algo muda no mundo, se esta mudança é exigida pelos tipos penais para que haja 
consumação, então é preciso estudar a relação de causalidade, v.g. foi esta ação de Antônio 
que causou esta mudança no mundo. Então, deve-se usar este conceito naturalístico de 
resultado – modificação do mundo externo que se segue à conduta – porque é importante 
para classificar os crimes em formais, materiais ou de mera conduta, para estudar relação de 
causalidade. Resultado como algo que muda no mundo. 
 Todos os crimes tem resultado? 
R. Não. Alguns tipos penais não descrevem qualquer resultado, o legislador não 
selecionou nenhum como importantes, são os tipos de mera conduta. 
 
1.1.2 Responsabilidade jurídico-penal pelo resultado 
 
Se um tipo descreve uma ação e um resultado, exigindo este resultado para a 
consumação, este crime será um tipo material, v.g. homicídio, a vítima tem que morrer para 
configurar o homicídio, se não morrer o crime é tentado. Nestes casos de crimes materiais 
(formais e de mera conduta não) é preciso descobrir se o réu é o responsável por aquele 
resultado, v.g. por vezes no crime de homicídio a vítima morre, porém morre de outra coisa 
que não a conduta do sujeito. 
Então o tema da aula de hoje, dentro da teoria do tipo, é a responsabilidade jurídico-
penal pelo resultado. 
Já vimos que o resultado é um elemento dos tipos penais e precisamos descobrir 
quanto alguém responderá penalmente por aquele resultado. 
tipo 
objetivo 
1ª etapa: 
ação 
relação de 
causalidade 
resultado 
2ª etapa: 
imputação 
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Até o finalismo o estudo desta responsabilidade pelo resultado, dentro do tipo penal, 
só observada o tipo objetivo, ou seja, estudava ação, relação de causalidade e resultado, 
sem adentrar no tipo subjetivo (imputação). 
Então, até o finalismo, para estudar responsabilidade jurídico-penal pelo resultado 
estudava-se apenas a relação de causalidade física. O finalismo se contentava no tipo 
objetivo com a relação de causalidade física. A partir do funcionalismo, o tipo penal foi 
enriquecido de novos elementos advindos da teoria da imputação. 
Hoje, para estudar a responsabilidade jurídico-penal pelo resultado, passa-se por 
duas etapas necessariamente: 1ª etapa é a relação de causalidade física, relação de causa e 
efeito que existe na natureza. Porém, isto não é suficiente, mesmo que se constate a relação 
de causalidade física pode ser que não haja a responsabilidade físico-penal pelo resultado, 
porque na 2ª etapa pode-se excluir a imputação. 
As duas etapas fazem parte do tipo objetivo, o estudo começa pela relação de 
causalidade física (1ª etapa), e depois parte para o estudo da imputação (2ª etapa). 
 
1.1.3 Relação de Causalidade 
É no art. 13, CP que se encontra a previsão da causalidade física: 
CP. Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a 
quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não 
teria ocorrido. (...) 
O código adotou a teoria da conditio sine qua non neste art. 13. Por esta teoria 
podemos aferir causalidade física usando um método ou procedimento da eliminação 
hipotética, através do qual é possível verificar no caso concreto relação de causalidade 
física, que é aquela que existe no mundo da natureza. 
 Como se afere causalidade física? 
Através da teoria da conditio pelo procedimento da eliminação hipotética, que será 
demonstrada através da seguinte situação-problema: 
 
 
antecedente 
A 
TIRO 
antecedente 
B 
TSUNAMI 
resultado 
C 
MORTE 
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O antecedente A (tiro) é o pesquisado, o antecedente B é uma tsunami e o resultado 
foi morte1. O operador do direito está pesquisando a conduta de uma determinada pessoa, 
quer saber se aquela conduta foi causa, então é o antecedente que está sendo pesquisado. 
Pode acontecer que este antecedente ocorreu perto/junto a outros antecedentes que 
verdadeiramente deram causa ao resultado. 
O procedimento da eliminação hipotética nos ensina que devemos elencar os 
antecedentes para então apagar hipoteticamente (mentalmente) aquele que se está 
pesquisando. Ou seja, como advogado ou como juiz da causa, o operador quer saber se o 
antecedente A (o tiro) foi a causa da morte. 
Exemplo: Imagine que este sujeito estava na praia e levou um tiro, logo após uma 
onda enorme varreu a praia e matou todos que estava lá estavam. “Apagando” o 
antecedente A (o tiro) percebe-se que o resultado morte não desaparece, porque todas as 
pessoas que estavam na praia no momento da tsunami morreram também, então a vítima 
não morreu do tiro, morreu afogada. Se ao “excluir” o antecedente pesquisado o resultado 
não desaparecer, é porque aquele antecedente não foi causa, portanto não há relação de 
causalidade física. 
Ao contrário, se ao “excluir” o antecedente o resultado também desaparecer significa 
que o antecedente foi causa do resultado. Ou seja, se não fosse o antecedente o resultado 
não teria ocorrido. É o que diz o código: “Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o 
resultado não teria ocorrido.”. Esta é a ideia do procedimento hipotético de eliminação. 
Esta é a ideia geral da causalidade física, mas há detalhes. Há vários problemas na 
teoria da conditio sine qua non, porém o principal deles o chamado regresso ad infinitum. 
 
1.1.3.1 Regresso ad infinitum 
Quando se estuda o elemento hipotético de eliminação, estuda-seo resultado 
exatamente como ele ocorreu, com todas as suas condições de tempo, modo, lugar, ou seja, 
não é o resultado morte em abstrato. 
Exemplo: “A” está passando por um despenhadeiro e vê “B” pendurado em um 
galho, o galho vai quebrar, “B” vai cair e morrer. O pendurado é um inimigo de “A” que 
então pisa na mão de “B”, que cai e morre. Será aquele resultado morte, observado naquele 
exato momento, com aquelas exatas circunstâncias que se usa para aferir a relação de 
causalidade física, ou seja, o agente deu causa física àquele resultado, pois mesmo na 
 
1
 Comentário da professora: Na verdade o estudo da teoria da causalidade é importante em alguns 
grupos de crimes, e o mais importante deles é o homicídio e a lesão corporal, ou todos aqueles que tenham o 
resultado morte. Sendo assim, os exemplos sempre giram em torno do resultado morte. 
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iminência de cair, pisou na mão de “B” como forma de fazê-lo cair. Não adianta argumentar 
que ele iria morrer dali um minuto depois quando o galho finalmente quebrasse, o que 
interessa é que “B” caiu porque alguém pisou em sua mão. 
Quando você for apagar o antecedente, o resultado que interessa é aquele resultado 
com todas as suas características. Não adianta dizer que o resultado continuaria lá porque 
ele iria morrer com a quebra do galho de qualquer jeito. Não é o resultado posterior que se 
usa para aferir causalidade física, é aquele exato resultado. 
Se alguém morre de uma facada, observa-se a facada naquele momento, com aquela 
faca em específico. No procedimento hipotético de eliminação estuda-se o resultado 
concreto exatamente como ele ocorreu, outras possibilidades que ocorreriam dali 30 
segundos não interessam, v.g. outro atirador teria matado na mesma hora, não interessa. 
Pois bem. Usando esta ideia temos um problema, que é o chamado regresso ad 
infinitum, ou seja, antecedentes muito distantes do resultado serão considerados causa 
física também. 
Exemplo: Antônio fabrica a faca, Claudio transporta a faca para a cidade do Rio de 
Janeiro, Bruno vende a faca para José em sua loja, José esfaqueia João, que vem a falecer. 
Considera-se este resultado morte exatamente como ele ocorreu, ou seja, com aquela faca. 
 
E para este resultado, todos estes antecedentes são causa. Apagando o antecedente 
A (fabricação daquela faca) João não teria morrido com aquela faca, o mesmo ocorre se 
apagar o antecedente B (transporte) e C (venda). Então é fato, é verdade que a teoria da 
conditio e o procedimento hipotético de eliminação, enxergam causalidade física em 
antecedentes muito distantes do resultado. 
Mas isto hoje não é mais um problema, porque no estudo da responsabilidade 
jurídico-penal pelo resultado a relação de causalidade física é só uma 1ª etapa. Dizer que a 
conduta de Claudio (antecedente B - transporte) é uma causa física da morte de João, não é 
dizer que Claudio cometeu um homicídio. É preciso passar pela 2ª etapa do tipo objetivo que 
é a imputação, o excesso da relação de causalidade física é “podado” na 2ª etapa pela teoria 
da imputação. 
 E como o finalismo resolvia isto se há 50 anos não existia a teoria da imputação? 
anteced. A 
Antônio 
fabrica a faca 
anteced. B 
Claudio 
transporta a 
faca 
anteced. C 
Bruno vende 
a faca para 
José 
anteced. D 
José 
esfaqueia 
João 
resultado E 
João morre 
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É claro que há 50 anos ninguém puniria Claudio por homicídio por vender uma faca. 
Isto era um problema na teoria, eles limitavam o regresso ad infinitum usando o dolo e a 
culpa. Como Claudio transportou a faca sem dolo e sem culpa, não responderia pelo 
resultado. Hoje em dia, a resposta é melhor, resolve-se este problema do regresso ad 
infinitum ainda dentro do tipo objetivo. 
Vou mostrar para vocês: O tipo é a descrição da conduta proibida. 
 
No momento, estuda-se a 1ª etapa, especificamente a relação de causalidade física 
(em vermelho no diagrama acima). 
Viu-se que a relação de causalidade é aferida através do procedimento hipotético de 
eliminação e que este procedimento, embora seja simples de trabalhar, leva ao problema do 
regresso ad indifintum (antecedentes muito distantes que não tem nada a ver são vistos 
como causa física do resultado). O finalismo resolvia este problema no tipo subjetivo, não 
existia a teoria da imputação (2ª etapa em verde no diagrama). 
Para o finalismo quem construía a faca, praticava o tipo objetivo de homicídio, 
porque o tipo objetivo se esgotava com a relação de causalidade física (não havia a 2ª etapa 
– teoria da imputação). 
Somente no tipo subjetivo é que se verificava que o agente agiu sem dolo e sem 
culpa e, portanto sua conduta seria atípica. 
O entendimento atual já limita isto dentro do tipo objetivo, na 2ª etapa, teoria da 
imputação. Então hoje, para Claudio existe causalidade física, porém na 2ª etapa não há 
imputação. E este é o tema da aula a partir de hoje. 
Observação. Relação de causalidade física e responsabilidade jurídico-penal pelo 
resultado só interessam nos crimes materiais. 
 
 
tipo 
objetivo 
1ª etapa: ação 
relação de 
causalidade 
resultado 
2ª etapa: 
imputação 
subjetivo dolo 
elemento 
subjetivo 
especial 
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Crimes materiais conduta + resultado = consumação 
Crimes formais conduta >> resultado 
conduta = consumação 
Crimes de mera conduta conduta = resultado 
Os crimes materiais são aqueles em que o tipo penal descreve uma conduta e 
descreve um resultado e este resultado deve acontecer para que haja crime consumado. 
Exemplo: homicídio, se a vítima não morre o crime é tentado. 
Nos crimes formais o legislador descreve uma conduta, descreve um resultado, mas 
este resultado não precisa acontecer para que haja crime consumado. Exemplo: extorsão, o 
sujeito ativo ameaça e exige a vantagem, ao fazê-lo já tem um crime consumado, não é 
necessário que a vítima dê o dinheiro efetivamente. O ato de dar o dinheiro está descrito no 
tipo penal como uma possibilidade, só não é exigido para a consumação. 
Nos tipos de mera conduta não há menção a qualquer resultado. 
Como nestes dois últimos o resultado não é necessário para a consumação, sequer 
perde-se tempo estudando a responsabilidade jurídico-penal pelo resultado. Pois é 
complicado estudar relação de causalidade física e imputação, só estudamos isto nos crimes 
materiais, naqueles em que o resultado é importante para a consumação. 
Dizer que não há responsabilidade pelo resultado faz uma diferença enorme, porque 
ao invés de ser consumado é tentado. Então nos crimes formais e de mera conduta esse 
estudo não é relevante. Na prática, também não são todos os crimes materiais que 
necessitam deste estudo, normalmente apenas os crimes relacionados ao evento morte ou 
lesão corporal (v.g. homicídio, lesão corporal,incêndio seguido de morte). 
Slide: 
RELAÇÃO DE CAUSALIDADE 
 teoria da conditio sine qua non (Von Buri) - procedimento hipotético de 
eliminação de Thyrén 
 Interessa o resultado exatamente "como ocorreu“ - o caso em concreto [se a 
vítima iria morrer 30 segundos depois por outra razão, não interessa]. 
 "regresso ad infinitum": no finalismo, é limitado pelo dolo e pela culpa [hoje em 
dia é limitado pela teoria da imputação dentro do próprio tipo objetivo]. 
 Importância - crimes materiais 
 não há causalidade naturalística na omissão, mas apenas imputação causas: 
 
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Comentário: A ideia de relação de causalidade física só existe no que diz respeito às 
ações, pois só as ações causam algo no mundo da natureza, as omissões não são causa de 
nada, v.g. mãe vê seu filho se afogando e não socorre, esta criança vai morrer, porque a 
água entra em seus pulmões e no laudo cadavérico o perito aponta o afogamento como 
causa-mortis. Ao contrário, se a causa tivesse sido uma ação da mãe, v.g. enfiar uma faca, a 
causa mortis seria a lesão por instrumento puntiforme. 
Já as omissões não podem ser causas físicas nunca, porque “do nada, nada surge”. A 
omissão é manter-se inerte diante de um curso causal que ocorre, é não impedir o curso, 
mas isto não torna aquele que se omite o agente daquele curso causal. Na omissão não se 
estuda causalidade física, na omissão só há imputação, só existe a 2ª etapa2. 
Neste aspecto o código é atécnico, o art. 13 fala em ação em omissão, mas na 
omissão não há causalidade. O CP é antigo e mistura um pouco as ideia, perceba que no 
parágrafo primeiro ele já fala corretamente em imputação. Então na omissão não há 
causalidade física, só há responsabilidade jurídico-penal pelo resultado, mas na natureza 
aquela omissão não causa nada. 
 
1.1.3.2 Espécies de interação do Antecedentes 
As espécies de interação dos antecedentes é o que a doutrina divide em causas 
absolutamente independentes e relativamente independentes. 
 
1.1.3.2.1 Causas absolutamente independentes 
Volte-se ao primeiro exemplo: 
 
Dois antecedentes são absolutamente independentes quando operam ou quando 
atuam sem se associar, quando atuam de forma paralela e isolada. No exemplo acima uma 
onda enorme, independentemente do tiro, matou aquela pessoa baleada e mais todos 
estavam na praia. Estes dois antecedentes atuaram de forma independente, paralela, 
 
2
 Comentário da Professora: Mais tarde veremos como funciona a imputação nos crimes omissivos. 
Por hora saibam que as duas etapas (causalidade física e imputação) só existem nos crimes comissivos, nos 
crimes omissivos só existe imputação, não existe causalidade física. 
antecedente 
A 
TIRO 
antecedente 
B 
TSUNAMI 
resultado 
C 
MORTE 
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isolada, eles não se associaram para produzir o resultado. Tanto é verdade que a onda 
gigante matou todo mundo que estava na praia e não apenas a pessoa que levou um tiro. 
Quando há antecedentes que operam de forma isolada, trabalha-se com o 
procedimento hipotético de eliminação para descobrir qual dos antecedentes causou o 
resultado: eliminando o tiro o resultado morte continua lá, então o antecedente tiro não foi 
causa. Agora, se ao eliminar a tsunami desaparecer o resultado morte, então a vítima 
morreu por causa do antecedente tsunami – neste caso o réu responderá por homicídio 
tentado. 
 
1.1.3.2.2 Causas relativamente independentes 
Quando os antecedentes são independentes é fácil trabalhar, porém, em muitos 
casos, estes antecedentes se associam. 
Exemplo: “A” atira em “B”, que é levado ao o hospital e lá sofre por conta de um erro 
médico o que resulta na morte de “B”. São dois antecedentes que não aturam isoladamente, 
um contou com a ajuda do outro para produzir o resultado. Para este caso, há um 
tratamento diferenciado no código3. 
Então é possível existirem causas relativamente independentes quando dois ou mais 
antecedentes se associam para produzir o resultado em conjunto: “B” não morreria apenas 
do tiro, e também não iria para o hospital se não tivesse levado o tiro. É uma associação de 
antecedentes para a produção do resultado. Estas são as causas relativamente 
independentes. 
Quando houver dois antecedentes que se associam, os dois antecedentes por se 
associarem são causas físicas do resultado. 
Exemplo: saúde frágil do sujeito “C” + facada no ombro = resultado morte. Imagine 
que esta facada não teria matado uma pessoa saudável, mas matou “C” porque ele já tinha 
uma saúde frágil. Se eliminar o antecedente “saúde frágil”, o resultado morte desaparece, 
isto porque num sujeito saudável uma facada no ombro não teria matado. Então o 
antecedente “saúde frágil” é um antecedente causal. Da mesma forma, eliminando o 
antecedente “facada no ombro” o resultado morte também desaparece. 
Nas causas relativamente independentes (aquelas em que há uma associação de 
causas para produzir o resultado) todos os antecedentes que se associam são antecedentes 
causais, pois em todos eles existe causalidade física. E é o CP nos diz é que pode não haver, 
em alguns casos, imputação. 
 
3
 Comentário da professora: Depois veremos que a teoria da imputação trabalha isto de uma forma 
melhor, mas o objetivo agora é aprender o que está no código. 
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A parte geral do CP é de 1984, é bem antiga e já admitia a ideia de imputação como 
algo diferente da causalidade física. Porém, naquela época o estudo da imputação ainda não 
estava tão desenvolvido no Brasil, já existia na Alemanha, mas não era tão difundido aqui. 
Atenção: o art. 13, § 1º, CP trata de uma hipótese em que se exclui a imputação e não a 
causalidade física. 
CP. Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a 
quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não 
teria ocorrido. 
Superveniência de causa independente (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação 
quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a 
quem os praticou. 
Nas causas relativamente independentes sempre existe causalidade física, o que o CP 
permite no art. 13, § 1º é em alguns casos excluir a imputação, pois causalidade física 
sempre vai existir. Vejamos agora quando que o CP permite excluir a imputação e depois 
veremos a teoria da imputação4. 
Na verdade o art. 13, § 1º, CP é a porta de entrada da teoria da imputação no 
ordenamento jurídico brasileiro, pois demonstra claramente que a teoria da imputação é 
compatível com o nosso ordenamento. O art. 13, § 1º, CP prevê a teoria da imputação de 
forma embrionária. 
Recapitulando: se as causas são absolutamenteindependentes resolve-se o problema 
com o procedimento hipotético de eliminação; se são relativamente independentes e as 
causas se associam para produzir o resultado, sempre existirá causalidade física para todas. 
O CP tem um tratamento embrionário para o grupo de casos com antecedentes 
relativamente independentes. 
Causas relativamente independentes: 
1) Preexistente. Exemplo: hemofilia + tiro 
2) Concomitante. Exemplo: ataque cardíaco + tiro 
3) Superveniente. Exemplo: tiro + acidente com a ambulância 
Nas causas relativamente independentes o antecedente pesquisado sempre se 
associa com outro e produz o resultado em conjunto, é uma associação de causas. Nos três 
exemplos acima o antecedente pesquisado é o tiro que a vítima levou. 
 
4
 Comentário da Professora: O tratamento que o CP dá é um tanto quanto tosco, porque é antigo, hoje 
com a teoria da imputação resolve-se melhor o caso do § 1º e muitos outros. Porém, é permitido utilizar-se do 
raciocínio do art. 13, § 1º, CP, chegar-se-á ao mesmo resultado da teoria da imputação, porém o tratamento do 
§ 1º é um caminho menos seguro. De toda forma, temos a obrigação de conhecer este § 1º. 
Direito Penal - Parte Geral 
 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
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Na hipótese1 (preexistente) o tiro se associa a um antecedente que já existia antes do 
tiro. O exemplo clássico é a hemofilia, a vítima tem uma saúde frágil e leva o tiro. 
Na hipótese2 (concomitante) o antecedente causal acontece de forma concomitante 
com algo que contribui para o resultado. Exemplo: “A” atira em “B” que sobre um ataque 
cardíaco e morre. 
Na hipótese3 (superveniente) realiza-se o antecedente causal e ele se associa a algo 
que ocorre depois. 
Em todas as três hipóteses existem causalidade física, pois em todas eliminando o 
antecedente “tiro” o resultado morte desaparece. Ora, a vítima é hemofílica, mas não morre 
só por causa da hemofilia, então o tiro é causa. Não fosse o tiro a vítima não teria se 
assustado e não teria tido o ataque cardíaco. Não fosse o tiro a pessoa não estaria dentro da 
ambulância que se acidentou matou o ferido. Em todas estas hipóteses, “apagando” o 
antecedente “tiro”, o resultado morte desaparece demonstrando que existe causalidade 
física. 
O CP só exclui a imputação (não a causalidade física) na hipótese3 “causas 
relativamente independentes supervenientes”, o CP não trabalha com as hipóteses de 
causas preexistente e concomitantes, nestas haverá causalidade física e imputação. Como já 
dito, o art. 13, § 1º, CP é apenas uma porta de entrada para a teoria da imputação. 
CP. Art. 13. § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a 
imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, 
imputam-se a quem os praticou. 
Então o art. 13, § 1º não trata nem de causas preexistentes nem de causas 
concomitantes, trata apenas de algumas causas relativamente independentes 
supervenientes. A teoria da imputação é mais abrangente e mais avançada, isto quer dizer 
que a limitada redação do art. 13, § 1º, CP não impede que a teoria da imputação trabalhe 
as hipóteses de causas relativamente independentes preexistentes e concomitantes. 
Agora veja-se em quais as hipóteses de causas supervenientes a imputação ficará 
excluída para o CP. Já viu-se que também não serão todas as causas supervenientes que 
excluem a imputação, só algumas. Causa superveniente relativamente independente: 
1) Que “por si só” levam ao resultado 
2) Que se associa à primeira causa no momento do fato 
O tratamento do código a este grupo de casos é embrionário, não se utilizando de 
palavras muito precisas, a tentativa aqui é transformar esta previsão do Código palatável, 
explicar de forma didática o que é obscuro. Estes casos são tratados dentro da teoria da 
imputação por fórmulas muito mais precisas (nexo de risco), mas tentaremos entender o § 
1º na sua formulação imprecisa e obscura. 
Direito Penal - Parte Geral 
 
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O art. 13, § 1º, CP tem por objetivo trabalhar os cursos causais extraordinários, mas 
só uma parte deles, só as causas relativamente independentes. São aqueles cursos causais 
imprevisíveis para os quais não seria justo imputar o resultado ao agente. 
Exemplo: a vítima leva um tiro, chega ao hospital e o recinto pega fogo, são hipóteses 
imprevisíveis e extraordinárias. 
O código diz no § 1º que “A superveniência de causa relativamente independente 
exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado” – a formula por si só já é 
obscura, pois se as causas são relativamente independentes se associam e nenhuma delas 
gera o resultado por si só. 
Assim, é possível gerar um determinado antecedente causal e a ele se suceda outro 
que no momento do fato não conte com a contribuição da primeira causa, v.g. a vítima leva 
um tiro e vai para o hospital e lá há um incêndio que mata a vítima e a enfermeira, o 
atendente e etc. Então o tiro não contribuiu para o resultado morte no momento fato, todas 
as pessoas que ali estavam morreram queimadas. Claro, contribuição existe, pois se não 
fosse o tiro a vítima não teria sido levada ao hospital, não estaria ali e não teria morrido 
queimada, mas no momento do fato o curso causal não contou com a contribuição primeira 
gerada pelo agente do tiro. 
Ao contrário, quando o segundo antecedente causal conta com a contribuição do 
primeiro antecedente no momento do fato, não se exclui a imputação. 
Exemplo: se o médico no momento da cirurgia realiza o procedimento de forma 
imperfeita e a vítima morre, mas morre pelo agravamento do quadro clínico, temos a 
contribuição do tiro no momento do fato. 
Em resumo as possibilidades são: 
Possibilidade1: que esta causa superveniente gere o resultado por si só no momento 
do fato, ou seja, sem a contribuição da primeira causa naquele momento, a contribuição 
existe porque se não, não seriam causas relativamente independentes, mas naquele 
momento, quem estivesse ali com tiro ou sem o tiro teria morrido também, v.g. vítima leva o 
tiro e é colocada dentro da ambulância e o veículo bate num caminhão no trajeto, quem 
estivesse naquela ambulância teria morrido também, o tiro não contribuiu no momento do 
fato. Aqui nesta possibilidade exclui-se a imputação e aí quem deu o tiro responde por 
tentativa. 
Possibilidade2: quando a causa superveniente conta com a contribuição da primeira 
causa no momento do fato não se exclui a imputação, v.g. uma operação médica imperfeita 
em que o tiro continua a produzir seus efeitos e mata a pessoa, o médico não consegue 
retirar a bala e a vítima morre. Aqui há a imputação normal. 
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Esta é a ideia do § 1º do art. 13, CP. Passa-se agora à teoria da imputação na qual 
veremos que este grupo de casos (vistos acima) é muito melhor trabalhado. 
 
1.1.4 Imputação 
 
O tipo objetivo é aquilo que precisa acontecer no mundo e tipo subjetivo é aquilo 
que sujeito precisadesejar. 
Até o finalismo o tipo penal objetivo simplesmente descrevia ações, resultados (nos 
crimes materiais ou formais) e relação de causalidade. 
Com o funcionalismo houve a retomada dos valores no Direito Penal, os juízos 
valorativos (e não apenas dados da realidade, ou da natureza) passaram a ser muito 
importantes também. O que o funcionalismo fez foi inserir novos elementos dentro do tipo 
penal: são os elementos relacionados à teoria da imputação. 
O funcionalismo se baseia no princípio geral de que o Direito Penal só serve para 
proteger bem jurídico de condutas lesivas ou arriscadas (princípio da lesividade). 
A ideia de lesividade é a ideia básica do Direito Penal Moderno. Protege-se o bem 
jurídico punindo condutas lesivas, perigosas ou arriscadas. Com base nesta ideia do risco, o 
funcionalismo introduziu dois novos elementos no tipo objetivo para estudar a imputação, 
quais sejam: a) criação de um risco desaprovado e b) materialização/realização do risco no 
resultado. 
 
tipo 
objetivo 
1ª etapa: ação 
relação de 
causalidade 
resultado 
2ª etapa: 
imputação 
subjetivo dolo 
elemento 
subjetivo 
especial 
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Hoje para que o tipo objetivo se complete e a conduta seja dita típica, não basta 
constatar este dado da natureza que é a relação de causalidade, pois isto será apenas uma 
primeira etapa, na segunda etapa (imputação) ocorre valoração puramente. Os dados da 
natureza já foram observados antes ao estudar resultado, relação de causalidade e ação. 
Na 2ª etapa (imputação) faz-se uma valoração, avaliar se apesar de existir relação de 
causalidade física, como existe para quem fabrica uma faca usada num homicídio, se é 
conveniente punir. Será feito um juízo de valor, se é justo, se é conveniente, se é político-
criminalmente punir neste caso. 
A teoria imputação insere novos elementos no tipo objetivo que não existiam antes e 
no tipo objetivo de todos os crimes, e estes elementos tem natureza valorativa, são 
elementos normativos. 
Já se estudou ação, o resultado e a relação de causalidade (art. 13, caput, CP). Viu-se 
também um fragmento da imputação tratado no art. 13, § 1º, CP, que é um pedacinho 
embrionário. Convém então estudar a teoria da imputação propriamente, porém antes é 
preciso conhecer um antecedente da teoria da imputação, a teoria da causalidade 
adequada. 
 
 
1.1.4.1 Teoria da Causalidade Adequada 
A teoria da conditio sine qua non trabalha causalidade física, não trabalha imputação. 
Imputação pressupõe um juízo de valor e valorações têm natureza jurídica, a teoria da 
tipo 
objetivo 
1ª etapa: ação 
relação de 
causalidade 
resultado 
2ª etapa: 
imputação 
a) criação de um 
risco 
desaprovado 
b) materialização 
do risco no 
resultado 
subjetivo dolo 
elemento 
subjetivo 
especial 
teoria da 
conditio 
sine qua 
non 
teoria da 
causalidade 
adequada 
teoria da 
imputação 
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conditio só afere causalidade física que é essa que existe na natureza, é a mesma estudada 
na física, na biologia, a causalidade física. 
Viu-se que a causalidade física sozinha leva a resultados exagerados dentro do Direito 
Penal, não se pode pegar a “forma de pensar” das ciências naturais e jogar para dentro do 
Direito Penal sem “podá-la”, porque isto geraria injustiças e uma série de problemas ficará 
sem solução (regresso ad infinitum, cursos causais extraordinários). 
Exemplo: o baleado que foi parar no hospital e morreu queimado, quem atirou 
responderia por homicídio consumado se não limitar, enquanto que o justo seria puni-lo 
pela tentativa. No exemplo do acidente da ambulância é a mesma coisa. Então a ideia da 
conditio sine qua non é correta, mas não pode ser transplantada para o Direito Penal pura e 
simplesmente, precisa ser limitada. 
Uma primeira forma de se podar a ideia de conditio (sem ser pelo dolo ou culpa 
como fez o finalismo) foi a ideia de causalidade adequada. 
A teoria da causalidade adequada pretendia cuidar dos cursos causais extraordinários 
(v.g. o incêndio do hospital no art. 13, § 1º, CP e o acidente na ambulância), esta teoria 
pretendia excluir a responsabilidade, porque falava em causalidade, pretendia excluir a 
causalidade sempre que o curso causal fosse imprevisível. 
Os méritos desta ideia: tentar resolver estes problemas no plano objetivo e não como 
fazia o finalismo, que só resolvia estes problemas no tipo subjetivo. 
Demérito desta teoria: 
- 1º problema: confundir causalidade física com imputação, que são dois planos 
diferentes, pretendia unir num mesmo raciocínio causalidade física, que é algo do mundo da 
natureza, com juízo de valor, com imputação e isto foi problema. 
- 2º problema: não deu um critério preciso para trabalhar com os cursos causais 
extraordinários. A teoria da imputação consertou isto. 
A teoria da causalidade adequada é uma semente da teoria da imputação, ela serviu 
para mostrar que o problema dos cursos causais extraordinários tinham que ser trabalhados 
no tipo objetivo e que tínhamos que afasta a imputabilidade destes resultados imprevisíveis. 
No plano da causalidade física estuda-se a teoria da conditio sine qua non, método da 
eliminação hipotética, apenas se esta análise (da 1ª etapa) demonstrar que existe 
causalidade física, é que poderá partir para a análise da imputação (2ª etapa) e aí o 
interprete poderá “podar”, restringir os excessos da causalidade física. 
É preciso sempre passar pelas duas etapas no caso de ação (causalidade física – art. 
13, caput, CP). Se houver causalidade física, então entrará na segunda etapa que é a 
imputação. 
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1.1.4.2 Teoria da Imputação 
 
A teoria da imputação introduziu novos elementos no tipo objetivo, novos elementos 
valorativos, novos juízos de valor. 
A partir de agora em todos os tipos penais, além de trabalhar com as ideias de ação 
resultado e causalidade, trabalha-se com estas duas ideias: (1) criação de um risco 
desaprovado e (2) materialização do risco no resultado. 
Quando se estuda a 1ª etapa (criação de um risco desaprovado) analisa-se a própria 
tipicidade da conduta, se uma conduta não cria risco, será atípica, não há nem tentativa. 
Se uma conduta cria risco, mas ele não se materializa no resultado, aí sim haverá 
tentativa. A ideia da “criação de um risco” precisa existir em todos os tipos penais (até nos 
crimes de mera conduta) porque sem ela a conduta é atípica. Quando cria-se um risco que 
não se materializa no resultado, haverá tentativa. 
Estuda-se a teoria da imputação seguindo as etapas: 1) a criação da teoria de um 
risco e 2) a materialização do risco no resultado. Porém, antes de falar destas duas etapas, 
vou repise-se novamente na ideia geral da imputação e na sua relação com o funcionalismo 
do Roxin. 
Slide: 
Teoria da imputação objetiva do resultado 
• além da simplesrelação de causalidade, exige uma relação de risco. [isto é 
um juízo de valor] 
• [a partir do funcionalismo e da teoria da imputação] O tipo objetivo não se 
esgota mais nos elementos ação, resultado e relação de causalidade. A 
teoria da imputação criou outros dois elementos para o tipo objetivo: 
• a criação de um risco juridicamente desaprovado; 
• a realização deste risco no resultado. 
tipo 
objetivo 
1ª etapa: ação 
relação de 
causalidade 
resultado 
2ª etapa: 
imputação 
a) criação de um 
risco 
desaprovado 
b) materialização 
do risco no 
resultado 
subjetivo dolo 
elemento 
subjetivo 
especial 
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A conexão da teoria da imputação com o funcionalismo, diferentemente do 
finalismo, é a de que não bastam as categorias do mundo do ser (causalidade e ação) para 
resolver os problemas do Direito Penal. 
Para resolvê-los são necessários juízos de valor que no funcionalismo do Roxin, 
partem de algumas diretrizes gerais importantes. A primeira diretriz geral é a ideia de 
lesividade, o Direito Penal é uma ferramenta que protege bens jurídicos de condutas 
perigosas ou arriscadas daí a ideia de risco que foi introduzida dentro dos tipos objetivos. 
Então a teoria da imputação5 é um filhote, é uma cria do funcionalismo, porque não 
se contenta com um dado da natureza (relação de causalidade) para afirmar a tipicidade 
objetiva, precisa-se de algo a mais, precisa-se de juízo de valor mais complexo. Assim, não é 
qualquer juízo de valor, apenas aqueles que tenham a missão principal que é proteger bens 
jurídicos. 
O funcionalismo idealizou elementos relacionados à ideia de risco. 
O primeiro é a “criação de um risco desaprovado”. Se uma conduta não cria risco, 
será atípica, mesmo que tenha dado causa física ao resultado. Uma conduta pode ser causa 
física de um resultado (pode existir relação de causalidade física), mas se ela não cria um 
risco desaprovado, ela é atípica. 
 
1.1.4.2.1 Criação de um risco desaprovado 
A teoria da imputação é uma cria do funcionalismo que introduziu elementos 
valorativos no tipo objetivo. Veja-se primeiro a etapa “criação de um risco”, lembrando que 
se uma conduta que não cria risco é atípica. 
 Como avaliar se uma conduta cria um risco desaprovado? 
É preciso criar uma alegoria mental, fingir que alguém está assistindo a conduta 
enquanto ela é realizada. Este terceiro observador irá avaliar se há risco ou não para o bem 
jurídico. 
Exemplo: “B” quer matar o seu tio e compra para uma passagem de avião na TAM, 
torcendo para que o avião caia e para que ele morra no acidente. E então o avião cai no 
meio do Atlântico e o tio morre. Existe ação (comprar a passagem), existe resultado (a morte 
do tio) e existe relação de causalidade física, pois se “B” deixasse de comprar a passagem, o 
tio não estaria dentro do avião e não morreria no acidente. 
 
5
 Bibliografia indicada para estudar teoria da imputação: Luis Greco, Um Panorama da Teoria da 
imputação, Editora RT. Observação. O mesmo autor chegou a traduzir os escritos de Roxin sobre funcionalismo. 
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Confirmada a primeira etapa, passe-se à segunda, a imputação. O terceiro 
observador acompanha a conduta enquanto é realizada e antes do resultado acontecer 
(afinal se avaliar a conduta após o resultado, qualquer um diria que é uma conduta 
perigosa). Mesmo que ele conheça a intenção homicida do sobrinho, o terceiro observador 
não encontrará nenhum risco objetivo à vida do tio. A conduta de comprar a passagem, 
mesmo que com intenção homicida, mesmo sendo causa física do resultado, é uma conduta 
atípica. O resultado é atipicidade, não há nem tentativa. 
É possível resolver todos os problemas do regresso ad infinitum com a ideia de 
“criação de um risco” vista acima. O terceiro observador poderá constatar que: a) quem 
fabrica uma faca de cozinha não cria um risco desaprovado; b) quem transporta esta faca 
também não; c) quem vende esta faca também não cria risco desaprovado. Todas estas 
condutas já são objetivamente atípicas para a teoria da imputação, não se precisa sequer 
chegar ao tipo subjetivo. 
Dizemos que o terceiro observador faz uma avaliação do risco ex ante, antes do 
resultado, por isto frisou-se “enquanto a conduta é realizada”, esta análise nunca pode ser 
ex post, depois do resultado. 
Então o terceiro observador faz uma avaliação da criação do risco que é ex ante, ou 
seja, antes do resultado e tem acesso a eventuais conhecimentos especiais de que o autor 
disponha. 
Exemplo: o autor (o sobrinho) vai ao aeroporto comprar a passagem e antes passa no 
banheiro, lá ele escuta uma conversa entre dois terroristas combinando a colocação uma 
bomba em um determinado avião dois dias depois. De posse deste conhecimento especial, o 
sobrinho compra para o tio uma passagem naquele avião, no voo que ele soube que 
terroristas colocarão uma bomba. Quando o terceiro observador avaliar a conduta do 
sobrinho para dizer se é arriscada ou não, terá acesso a eventuais conhecimentos especiais 
do agente. 
Verificando-se que o sobrinho está comprando uma passagem de avião para o tio 
num avião que haverá uma bomba, conclui-se que realmente há a criação de um risco. E 
esta é uma diferença entre a concepção do Roxin e do Jacobs. 
Para Roxin quando se avalia a tipicidade da conduta e a criação de um risco, tem-se 
acesso a eventuais conhecimentos especiais do agente. 
Slide: 
• 1ª etapa: criação de um risco juridicamente desaprovado 
• O Direito Penal, para proteger bens jurídicos e cumprir sua função preventiva, só 
pode proibir ações ex ante perigosas. [ou seja, são ações percebidas como 
perigosas enquanto são realizadas] 
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• Análise ex ante, levando-se em conta os conhecimentos do observador objetivo, 
bem como os conhecimentos especiais de que o autor eventualmente disponha. 
[o observador hipotético irá acompanhar a conduta enquanto ela é realizada, 
antes do resultado (ex ante) ele tem acesso a tudo que acontece e mais aos 
conhecimentos especiais do agente.] 
Esta é a ideia geral da avaliação da “criação de um risco”. Se não há a criação de 
risco, a conduta é atípica. 
Esta ideia geral pode ser dividida em três, existem três grupos de casos em que a 
conduta é atípica porque não há a criação de um risco. 
 
Nestas três hipóteses (em vermelho no organograma) a conduta será atípica. 
 
1.1.4.2.1.1 Diminuição do risco 
Se na hipótese da conduta não criar risco, a mesma é atípica, com muito mais razão 
será atípica se a sua conduta diminui uma linha de riscos já existente e não criada pelo 
agente. 
Exemplo: uma pedra imensa está caindo na cabeça de “B” e então “A” empurra a 
pedra e esta ao invés de esmagar a vítima cai no seu dedo mindinho e causa uma lesão 
corporal. “A” agiu (ação de empurrar a pedra), existe resultado(lesão no dedinho mindinho), 
existe relação de causalidade física entre a ação e aquele resultado, pois se não fosse a sua 
ação o resultado não ocorreria como ele ocorreu. Mesmo que diminuindo um risco, “A” deu 
causa física para aquele resultado, pois contribuiu para a forma como o resultado ocorreu. 
Ocorre que a interferência na linha de risco já existente foi para diminuir este risco. 
Daí tem-se uma conduta atípica, pois o risco afastado foi o de morte. 
 Mas não poderia resolver esta situação através do estado de necessidade? 
Responsabilidade 
jurídico-penal 
pelo resultado 
1. Relação de 
causalidade física 
2. Imputação 
Criação de um 
risco desaprovado 
diminuição do 
risco 
não criação do 
risco 
risco permitido 
Materialização do 
risco 
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É verdade, poderia ser resolvido no estado de necessidade, porém se é possível 
resolver isto na tipicidade, não faz sentido resolver na ilicitude. Não precisa deixar a análise 
chegar na ilicitude, se de plano, pode-se dizer que a conduta é atípica. 
Atenção: Não confundir a diminuição do risco com a substituição de um risco por 
outro, que não será hipótese de atipicidade. 
Exemplo1: a mesma pedra está caindo na cabeça de “B”, mas “A” ao invés de 
deslocar o curso desta pedra, empurre “B” para salvá-lo. Afastou a vítima daquela linha de 
risco, mas criou outra linha de risco, pois com o empurrão a vítima caiu e quebrou a perna. 
Isto não é diminuição de risco. Isto é só estado de necessidade. 
Para ser diminuição de risco é preciso atuar naquela linha de risco já criada e diminuir 
aquele risco anteriormente criado. Substituiu aquele risco por outro (v.g. a pessoa quebra a 
perna, mas pelo menos não morre esmagada) não é diminuição de risco, isto pode ser um 
estado de necessidade se for com intuito de salvar, se gerar um resultado menos lesivo. 
Exemplo2: “B” está prestes a entrar num avião no qual há uma bomba instalada por 
terroristas. “A” não sabe da bomba, e por raiva atira na perna de “B”, que por conta do 
ferimento deixa de entrar no avião. Ou seja, “B” estava destinado a morrer no avião, mas no 
lugar deste resultado leva um tiro na perda e não morre. Ora, isto não tem nada a ver com 
diminuição do risco, pois “A” criou uma nova linha risco, que por sorte salvou a vida de “B”, 
mas nada tem a ver com diminuição de risco. E neste caso, nem estado de necessidade será, 
será realmente lesão corporal consumada. 
Em resumo: para ser diminuição de risco e a conduta deve ser atípica é preciso atuar 
naquela linha de risco. 
Slide: 
• toma em conta 3 situações: 
• 1) a diminuição do risco deve ocorrer sem a criação, ao mesmo tempo, de 
novos riscos. Pressupõe a redução de uma mesma linha de risco. Não vale 
a substituição de um risco por outro (pode ser estado de necessidade). A 
diminuição do risco se avalia ex-ante [enquanto a conduta é realizada e 
não ex post] 
 
1.1.4.2.1.2 Não criação de um risco juridicamente relevante 
Aqui se aplica a ideia geral do terceiro observador com um detalhe: a ideia de risco 
insignificante. Por vezes cria-se um risco, mas ele é tão pequeno que será irrelevante para o 
direito penal. Aqui é possível inserir o próprio princípio da insignificância dentro da ideia 
geral da teoria da imputação. 
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Exemplo: uma cidade corre o risco de inundação, pois uma represa está prestes a 
romper. Se “A” vai até lá e deposita com um conta-gotas cinco gotinhas de água na represa, 
contribui causalmente para o resultado, porém o risco criado é insignificante, e então a 
conduta será atípica. 
Então, neste grupo trabalha-se todas as hipóteses em que não há a criação de risco e 
também as hipóteses de criação de risco insignificante. Ambos os casos geram a atipicidade 
da conduta. 
 
1.1.4.2.1.3 Risco permitido 
Veja que nesta primeira etapa da imputação (criação de um risco) exige a criação de 
um risco desaprovado. Não é qualquer criação de risco que transforma a conduta em típica, 
é apenas o risco desaprovado, um risco que seja valorado negativamente pelo Direito. 
Assim, o risco insignificante não é criação de risco típica, da mesma forma, o risco 
permitido pelo ordenamento jurídico não é risco desaprovado (conduta será atípica 
também). 
Na expressão “criação de um risco desaprovado” a palavra “desaprovado” é a porta 
de entrada de uma série de valorações importantes. O risco relevante aqui é o valorado 
negativamente e em várias hipóteses se cria um risco que não é desaprovado, que é 
permitido e que, portanto gera uma conduta atípica. 
A conduta é atípica na diminuição do risco, quando a conduta não cria risco, quando 
a conduta é insignificante e finalmente, quando o agente cria um risco permitido pelo 
Direito, sua conduta será atípica também. 
Exemplo: dirigir automóvel, voar de avião, fazer cirurgia, atividades esportivas. Todas 
condutas arriscadas cujo risco é permitido, porque são condutas importantes para a 
interação social. Tudo isto cabe dentro da ideia de risco permitido, são todas as atividades 
do dia-a-dia que possuem uma margem de risco, mas que são tão importantes que são 
permitidas e por vezes, fomentadas. 
É possível que se atue dentro da margem de risco permitida, tomando todos os 
cuidados, em atividades altamente regulamentadas e ainda assim alguma coisa de errado 
acontecer. 
Exemplo: transporte aéreo, tudo estava correto com a aeronave, mas houve uma 
intempérie da natureza que causou uma fatalidade, é um risco permitido. Ora, ao viajar de 
avião o passageiro está ciente de que há uma margem de risco, mesmo que a companhia 
aérea tenha feito tudo corretamente. Nesta mesma lógica são os exemplos: dirigir 
automóvel, cirurgias, fábricas com caldeiras. 
Direito Penal - Parte Geral 
 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
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A conduta será atípica se o agente criar um risco dentro da margem de risco 
permitido, pois obedeceu todas as regras de cuidado, neste caso a conduta é atípica porque 
o risco não é desaprovado. 
Aqui encaixa-se uma série de situações que antigamente a doutrina trabalhava de 
forma diferenciada na teoria do delito (exercício regular do direito, tipicidade conglobante 
do Zaffaroni), mas tudo dá para ser resolvido com risco permitido, risco insignificante, 
diminuição de um risco. 
Slide: 
 2) a não criação de um risco juridicamente relevante [ou desaprovado]: risco 
insignificante e risco pequeno, dada a utilidade social da conduta. 
 3) o risco permitido - o autor cria um risco juridicamente relevante, que porém é 
permitido- meios de transporte, indústrias, esportes arriscados, tratamentos 
médicos nos limites da lex artis. 
 O princípio da confiança 
 
Dentro do risco permitido é preciso trabalhar com o princípio da confiança. 
Antigamente este princípio era usado apenas para os crimes culposos, hoje em dia não, a 
teoria da imputação tragou o princípio da confiança para dentro do tipo objetivo de todos oscrimes6. 
Princípio da confiança serve para pensarmos melhor naquelas atividades humanas 
que demandam uma atuação conjunta. Nestas atividades o agente não precisa a todo tempo 
antever que a outra pessoa fará algo de errado. Ser uma pessoa cuidadosa é imaginar que 
cada um realizará cuidadosamente o seu papel, v.g. não precisa ser um “paranoico” que fica 
o tempo todo considerando as hipóteses de acidentes no trânsito, ou que alguém fará algo 
de errado e precisará tomar conta. 
Para o Direito Penal, atua de forma cuidadosa aquele que nestas atividades conjuntas 
imagina que cada um cumprirá o seu papel. Para ser cuidadoso no Direito Penal não precisa 
estar o tempo todo cuidando dos demais nestas atividades conjuntas. 
O princípio da confiança estabelece que: atua de forma cuidadosa aquele que confia 
em que os demais nessas atividades conjuntas realizarão os seus papeis cuidadosamente. 
Duas exceções: 
 
6
 Comentário da Professora: A teoria da imputação na verdade, engoliu a teoria dos crimes culposos, 
tudo que antigamente se estudava dentro dos crimes culposos, hoje a teoria da imputação permite que 
estudemos para todos os tipos penais. Então, sobrará pouco para estudar dentro da teoria dos crimes culposos, 
porque quase tudo já terá sido visto na teoria da imputação. 
 
Direito Penal - Parte Geral 
 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
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Exceção1. Se o outro está dando mostras claras de que não merece a confiança. 
Exemplo1: “A” está dirigindo e aparece “B” desgovernado dirigindo em ziguezague pela pista, 
por óbvio “A” não poderá confiar na conduta de “B” e deverá se afastar. Neste caso, se “A” 
confiar que “B” cumprirá o seu papel, está sendo descuidado também. Exemplo2: o 
anestesista chega bêbado para trabalhar, o cirurgião não poderá confiar. 
Exceção2. Se o agente tem o dever de fiscalizar. Exemplo1: em cirurgias é possível que 
as atuações sejam independentes e paralelas, como é o caso da anestesista e da obstetra, a 
anestesista não tem a função de fiscalizar a obstetra, pode até não confiar nele se ele chegar 
bêbado, isto é mostra clara de que não merece confiança. Agora, imagina que a obstetra 
seja uma professora de universidade que está ensinando os residentes a fazer um parto, aí 
ela não pode dizer que confia nos alunos, ela tem a obrigação de fiscalizar. 
De forma geral, salvo estas duas exceções, nas atuações em conjunto o agente atua 
de forma cuidadosa dentro do risco permitido se acredita que cada um cumprirá o seu 
papel. 
 
Observação. Próxima aula ponto 1.1.4.2.2. Materialização do risco no resultado.

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