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AS DICOTOMIAS SAUSSURIANAS

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DICOTOMIAS SAUSSURIANAS
DISCIPLINA: Elementos lógicos e linguísticos em organização e representação do conhecimento.
DICOTOMIA NA LINGUÍSTICA
A dicotomia na linguística se refere ao modo de analisar e caracterizar determinados elementos linguísticos, conforme estabelecido por Saussure. É formada por dois conceitos, que dependem um do outro para explicar os elementos linguísticos:
Sintagma e Paradigma: características da língua;
Língua e Fala: características da língua;
Significante e Significado: características do signo linguístico.
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Uma dicotomia para Saussure se refere a um par de conceitos, que são definidos um em relação ao outro (só fazem sentido quando vistos relacionados).
(PIETROFORTE, 2002)
SINTAGMA E PARADIGMA
Sintagma e Paradigma: características da língua.
Língua: “O conjunto das palavras e expressões usadas por um povo, por uma nação, e o conjunto de regras da sua gramática; idioma” (FERREIRA, 2004).
Permitem entender a seleção de elementos linguísticos que formam um enunciado.
Relações sintagmáticas verificam o uso das palavras semelhantes no enunciado.
Relações paradigmáticas permitem verificar a seleção das palavras apropriadas, mas ausentes do enunciado. (PIETROFORTE, 2002).
O Lobo e o Cordeiro
(La Fontaine)
Na água limpa de um regato,
matava a sede um Cordeiro,
quando saindo do mato,
veio um Lobo carniceiro.
 
Tinha a barriga vazia,
Não comera o dia inteiro.
– Como tu ousas sujar
a água que estou bebendo?
- rosnou o Lobo, a antegozar
o almoço. – Fica sabendo
que caro vais me pagar!
– Senhor - falou o Cordeiro
– encareço a Vossa Alteza
que me desculpeis, mas acho
que vos enganais: bebendo,
a quase dez braças abaixo
de vós, nesta correnteza,
não posso sujar-vos a água.
– Não importa. Guardo mágoa
de ti, que no ano passado,
me destrataste, fingido!
– Mas eu nem tinha nascido.
– Pois então foi teu irmão.
– Não tenho irmão, Excelência.
– Chega de argumentação.
Estou perdendo a paciência!
– Não vos zangueis, desculpai!
– Não foi teu irmão? Foi teu pai.
ou senão foi teu avô –
disse o Lobo carniceiro.
E ao Cordeiro devorou.
 
Onde a lei não existe, ao que parece,
a razão do mais forte prevalece.
 (PIETROFORTE, 2002)
Relações entre elementos linguísticos
 Eixo de seleção (paradigma)
 Eixo de combinação (sintagma)
Foi teu irmão
Foi teu pai
Foi teu avô
(PIETROFORTE, 2002)
Relação sintagmática – depende da linearidade da fala, mas estão relacionados simultaneamente
As palavras irmão, pai e avô são semelhantes porque são membros de uma família. Por isso, apresentam uma relação de combinação, uma relação sintagmática (pertencem a um mesmo contexto).
(PIETROFORTE, 2002)
Relação paradigmática – revela associações entre elementos linguísticos e oferece um meio de escolha de diferentes elementos a serem usados que não configuram no enunciado
A palavra teu (pronome), escrita na fábula, poderia ser substituída palavras ausentes como seu, meu, nosso, conforme a mudança de sentido do enunciado.
(PIETROFORTE, 2002)
Temos na memória diferentes pronomes, mas apenas um será escolhido para demonstrar o sentido que se quer comunicar.
As relações paradigmáticas entre elementos linguísticos ocorrem em ausência, excluem os demais elementos de uma relação, enquanto que as relações sintagmáticas ocorrem na presença de elementos relacionados.
Essas relações estão no domínio da língua (e não da fala), porque fazem parte das relações que compõem o sistema da língua.
(PIETROFORTE, 2002)
LÍNGUA E FALA
“Para Saussure, língua opõe-se a fala, porque a língua é coletiva e a fala é particular, portanto, a língua é um fato social e a fala é um fato individual. Além disso, a língua é sistemática e a fala assistemática. Pessoas da mesma língua conseguem comunicar-se porque, apesar das diferentes falas, há o uso da mesma língua” (PIETROFORTE, 2002, P. 81).
Língua – sistema de elementos linguísticos: ordem das palavras nas frases, palavras, vogais, consoantes etc.
Para Saussure, o objeto de estudo da Linguística é a língua e não a fala, porque apresenta uma estrutura, um sistema com regras, um conjunto organizado em que um elemento se define um em relação ao outro.
Por exemplo, uma fábula que contém um rei, o que faz o rei ser um rei é o fato de que ele não é um de seus súditos e nem o bobo da corte e assim por diante, segundo a totalidade do conjunto de elementos desse contexto na língua.
(PIETROFORTE, 2002)
Língua – sistema – estrutura 
Língua– conjunto organizado de elementos que se definem em relação aos demais elementos. Esses elementos são denominados de signos linguísticos.
Um signo linguístico contém duas faces, é a união do significante e significado:
Significante: imagem acústica, impressão psíquica de uma sequência articulada de sons – vogais, consoantes e semivogais;
Significado: conceito, ideia ou pensamento que serve para interpretar o mundo.
(PIETROFORTE, 2002)
A palavra lobo é um signo, que tem um conceito associado a uma sequencia de vogais e consoantes, que forma a imagem acústica /lobo/.
O conceito de lobo consiste em: mamífero carnívoro, da família canidae, que habita grandes regiões da Europa, Ásia e América do Norte.
(PIETROFORTE, 2002)
Um morfema também é um signo, porque possui um significado e um significante. Exemplo: comer (/komer/ - conceito de ingerir alimentos sólidos) possui três morfemas:
Radical com-: relacionado com o significado de alimentação.
O morfema -e: indica que o verbo está na segunda conjugação
O morfema -r: indica que o verbo está no infinitivo
(PIETROFORTE, 2002)
Saussure define a língua como um sistema de signos, em que um signo se define em relação aos demais do conjunto devido às suas diferenças.
Valor: o sentido de uma unidade definida por suas relações com outras da mesma natureza. Exemplo:
O radical de comer só tem seu valor linguístico em relação aos demais radicais, como o de beber.
O morfema –a de loba (feminino) só tem seu valor linguístico em relação ao morfema –o, de lobo (masculino), que permite estabelecer diferenças de gênero entre eles.
O valor no aspecto conceitual: uma palavra não tem significação em si, mas sim quando comparadas com valores similares, com outras palavras mesmo sendo opostas.
O valor no aspecto material: constituída apenas por relações e diferenças, as diferenças fônicas permitem distinguir uma palavra de todas as outras.
(DUBOIS, 1973)
Por meio da identidade e diferença (valor) entre signos linguísticos percebe-se:
sinonímia (palavras com o mesmo significado – bonito e belo); 
antonímia (palavras com significados opostos – alto e baixo, doce e amargo); 
polissemia (palavras com diferentes significados, dependendo do contexto – cadeira: móvel ou cargo político);
homonímia (palavras pronunciadas da mesma forma, mas com significados diferentes – acento de sinal gráfico e assento de cadeira).
Fala
Corresponde ao uso da língua – pode ser estudada separadamente dos fatos da língua.
As mudanças no sistema da língua podem vir do uso da fala.
As mudanças na produção de sons também são resultados do desenvolvimento da fala e alteram o sistema fônico. (PIETROFORTE, 2002). Exemplo:
Você: "vossa mercê", "vossemecê“ e "vosmecê".
SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO
Componentes do signo linguístico e elementos que formam o sistema da língua (PIETROFORTE, 2002).
O signo linguístico é formado por dois elementos, o significante (imagem acústica) e o significado (conceito) – Saussure.
Juntos produzem significação: permitem comunicar sobre algo e fazer com que algo seja compreendido.
Signo linguístico
Refere-se a uma realidade extralinguística – o significado corresponde a algum conceito (ideia, independente de sua forma linguística).
Não existe uma relação direta da palavra com as coisas do mundo, mas sim do significante com os conceitos. (PIETROFORTE, 2002).
Os conceitos são representações mentais de unidades de conhecimento, que contém
características de um objeto, fenômeno, ideia, processo etc.
Componentes do signo linguístico (Saussure)
Denominações correspondentes
Imagem acústica (impressão psíquica do som);
Som da palavra (língua falada);
Expressão escrita – palavra escrita (língua escrita) - Termo.
Plano de expressão (Hjelmslev).
Conceito;
Ideia;
Sentido;
Unidade de conhecimento.
Plano de conteúdo (Hjelmslev).
Significante
Significado
Características básicas do signo linguístico
Imotivado – arbitrário em relação ao significado.
Arbitrário – as palavras formam um sistema autônomo independente do que nomeiam (não existe uma razão aparente para um significante estar relacionado a um significado).
Cada língua determina seus significantes - exemplo: “mesa” (português); “table” (inglês);
Características básicas do signo linguístico
Convencional – o significado do signo depende de um contrato social (convenção) entre os falantes de uma língua natural ou de especialidade.
Exemplo de convenção do uso da língua:
Book e livro possuem o mesmo significado, mas contém significantes diferentes, determinados pelo contrato entre os falantes de diferentes línguas.
Navegar possui tanto o significado de usar e interagir com a web, como o de viajar em embarcação – o significado é determinado pelo contexto, mas também estabelecido pelos falantes de uma área específica.
Características básicas do signo linguístico
Linearidade: devido ao som (caráter auditivo) o signo linguístico se desenvolve no tempo de forma linear, sendo que os sons são produzidos um de cada vez; diferente da linguagem visual, como a pintura, que apresenta todos seus elementos de uma só vez.
Exemplo: PESCADOR.
O pescador, de Tarsila do Amaral – arte moderna
REFERÊNCIAS
DUBOIS, J et al. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 1973.
FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0. Curitiba: Positivo, 2004.
PIETROFORTE, A. V. A língua como objeto da Linguística. In: FIORIN, J. L. (Org.). Introdução à Linguística: I. Objetos teóricos. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2002.
SAUSSURE, F de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2000.
SILVA, F. M. da. As dicotomias Saussureanas e suas implicações sobre os estudos linguísticos. Inhumas, REVELLI – Revista de Educação, Linguagem e Literatura da UEG-Inhumas, v. 3, n. 2, p. 38-55, out. 2011. Disponível em: www.ueg.inhumas.com/revelli

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