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2º Modulo - aula 4 - lingua_portuguesa_concordancia_e_regencia

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IESDE Brasil S.A.
Curitiba
2010
Língua Portuguesa: 
Concordância e Regência
Elvira Lopes Nascimento
© 2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização 
por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: Jupiter Images e DPI Images
IESDE Brasil S.A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
N244 Nascimento, Elvira Lopes. / Língua Portuguesa: Concordância 
e Regência. / Elvira Lopes Nascimento.
— Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2010. 
260 p.
ISBN: 978-85-387-1397-5
1. Língua Portuguesa – Concordância. 2. Língua Portuguesa – 
Sintaxe. 3. Língua Portuguesa – Gramática. 4. Língua Portugue-
sa – Verbos. I. Título. 
CDD 469.5
Elvira Lopes Nascimento
Doutora em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São 
Paulo (USP). Mestre em Filologia e Língua Portuguesa pela USP. Especialista 
em Língua Portuguesa e Literatura pela Universidade Estadual de Londrina 
(UEL). Licenciada em Letras – Português/Inglês pela UEL.
Sumário
O objeto dos estudos linguísticos ...................................... 13
Sob o ponto de vista das manifestações linguísticas no texto situado ................. 13
O texto como unidade de ensino/aprendizagem da língua ..................................... 16
Sob o ponto de vista da língua como estrutura ............................................................ 21
Morfossintaxe ............................................................................ 31
Os estudos gramaticais ........................................................................................................... 31
As unidades linguísticas e os níveis de análise ............................................................... 34
Por que morfossintaxe ............................................................................................................ 38
Os critérios formal e sintático para a classificação morfológica ............................... 40
O estudo da Sintaxe ................................................................ 51
As leis sintáticas ......................................................................................................................... 51
O campo de atuação da Sintaxe .......................................................................................... 53
Frase e oração ............................................................................................................................. 56
A frase é uma estrutura ........................................................................................................... 59
A estrutura sintagmática do português ........................... 69
Constituintes imediatos .......................................................................................................... 69
Constituintes oracionais: os sintagmas ............................................................................. 71
Os tipos de sintagmas ............................................................................................................. 73
A estrutura do sintagma nominal ....................................................................................... 77
Síntese da estrutura do sintagma nominal ..................................................................... 78
Sintagma verbal ......................................................................................................................... 79
A significação na construção dos enunciados ............... 85
Componentes do significado ................................................................................................ 85
Ordem das palavras .................................................................................................................. 88
Ambiguidade .............................................................................................................................. 90
Redundância semântica ........................................................................................................ 94
Paráfrase sintática ..................................................................................................................... 94
Sintaxe e Semântica ..............................................................101
A ordem ......................................................................................................................................102
A ordem nas orações ..............................................................................................................103
A ordem nos sintagmas – constituintes .........................................................................108
Função semântica: os papéis temáticos .........................................................................110
Sintaxe de concordância nominal ....................................119
Relações de concordância: termo regente e termo regido ......................................119
Relações de concordância nominal: gênero e número ............................................123
Concordância nominal ..........................................................................................................124
Sintaxe de concordância verbal ........................................137
Concordância verbal ..............................................................................................................138
A abordagem tradicional da concordância verbal ......................................................139
As regras variáveis da concordância verbal: uma questão de estilo? ...................144
Estilo e concordância verbal ideológica..........................................................................146
Sintaxe de regência ...............................................................159
Os fatos sintáticos que geram os dados de análise ....................................................159
Manifestação da relação de regência...............................................................................162
Regência de alguns verbos ..................................................................................................165
Regência nominal ...................................................................................................................169
Crase: questão de sintaxe de regência ...........................179
Manifestação da relação de regência...............................................................................180
Crase: combinação e contração .........................................................................................183
Preliminares: o uso do artigo definido ............................................................................185
Preliminares: o emprego da preposição “a” ....................................................................188
Identificação do uso da crase ..............................................................................................189
Sintaxe de colocação ............................................................197
As funções sintáticas dos pronomes pessoais ..............................................................198
Posições do pronome átono junto ao verbo .................................................................200
Colocação pronominal em norma culta: 
pronomes átonos atrelados à forma simples do verbo .............................................202
Colocação pronominal em norma culta: 
pronomes átonos presos às formas compostas do verbo ........................................204
Colocação pronominal no uso coloquial da linguagem ...........................................205
Colocação pronominal: fatores ligados à sonoridade do enunciado ...................207
Pontuação .................................................................................221
A função básica dos sinaisde pontuação .......................................................................221
Quando pontuar ......................................................................................................................223
Ambiguidades de sentido e pontuação..........................................................................225
O uso da vírgula no período simples ...............................................................................227
O uso da vírgula no período composto ..........................................................................230
O uso do ponto-e-vírgula .....................................................................................................232
O uso dos dois-pontos...........................................................................................................233
O uso das reticências..............................................................................................................234
O uso do travessão ..................................................................................................................235
O uso dos parênteses .............................................................................................................235
O uso das aspas ........................................................................................................................236
Gabarito .....................................................................................243
Referências ................................................................................251
Apresentação
Ao atribuirmos ao texto uma função central para o intercâmbio comunica-
tivo realizado pelos usuários da língua, consideramos que as regras específicas de 
textualidade e textualização se apoiam nas unidades que compõem o texto – as 
frases. Estas, para comporem o texto, aceitam uma combinação múltipla de cons-
tituintes do sistema linguístico, cuja finalidade e relevância consistem em preen-
cher também uma condição de textualidade. A frase deve ser capaz de associar 
significados e sequências de sons, mas isso vai depender da escolha e do arranjo 
de seus constituintes hierarquicamente constituídos. Para isso, a frase submete- 
-se à força das leis que regem essa organização sintática, uma vez que a língua em 
uso pressupõe combinação, adaptações ao contexto de uso, observação de con-
venções sociais por parte dos seus usuários, pois os sentidos das frases só tomam 
forma nos arranjos sintagmáticos. 
Em consequência, no estudo da linguagem, não se pode sufocar o fun-
cionamento discursivo da língua, o sujeito, a história, a cognição, ignorando as-
pectos que estão interligados nos estudos linguísticos, como os sentidos e a in-
teração verbal, que dão margem a diferentes estilos e variedades de registro nos 
múltiplos contextos de uso da língua. Isso significaria um reducionismo do objeto 
– a linguagem. O enfoque para o estudo e a descrição da linguagem vai além de 
um enfoque nas estruturas formais da língua e deve caminhar em direção à lin-
guagem e seu funcionamento, articulando e harmonizando os aspectos formais 
à função, à ação, ao social e ao histórico. 
Inseridos nesse quadro da linguística moderna, organizamos os tópicos 
que constituem a disciplina Língua Portuguesa VI: Concordância e Regência. Você 
vai perceber que os fenômenos sintáticos analisados e descritos são considerados 
como desencadeadores da textualidade na superfície dos enunciados e, portanto, 
o conhecimento das estruturas e leis morfológicas e sintáticas da língua, consti-
tui um importante instrumento para o aperfeiçoamento de nossa capacidade de 
produzir textos.
Na aula 1, discute-se o objeto dos estudos linguísticos, em que se analisa 
dois pontos de vista para a abordagem, a partir do texto-discurso e da língua 
como estrutura. Na aula 2, trata-se da abrangência dos estudos através do vínculo 
Morfologia e Sintaxe, a partir de uma abordagem da Morfossintaxe e na aula 3 
estuda-se a estrutura sintagmática do português. 
Na aula 4, percorre-se os caminhos da Semântica, discutindo-se a questão 
da significação na construção dos enunciados e aspectos a ela relacionados. Na 
aula 5, enfatiza-se aspectos do sentido, correlacionando Sintaxe e Semântica para 
enfocar a ordem nos sintagmas. Na aula 6, enfoca-se a problemática que envolve 
questões de Sintaxe e Semântica, uma vez que a compreensão da relação entre 
forma, ordem e significado é princípio básico para a estruturação da língua. Na 
aula 7, o enfoque recai sobre os princípios de relacionamento e concordância 
entre as palavras na construção da frase. Na aula 8, trata-se especificamente da 
relação entre o sujeito e o verbo. 
Na aula 9, o enfoque recai sobre a integridade da construção frasal e da 
relação entre termo regido e termo regente, e, na aula 10, aborda-se os aspectos 
ligados à crase como marca formal da sintaxe de regência. Na aula 11, o objetivo 
do enfoque é o de tratar da colocação dos pronomes átonos na frase em portu-
guês. E, finalmente, na aula 12, o enfoque recai sobre as leis sintáticas, que dão ao 
usuário da língua diferentes possibilidades para a construção do ritmo do enun-
ciado através da pontuação.
Você ainda pode contar com dicas de estudo para cada um desses assun-
tos, sugestões de leituras complementares, uma farta referência que dará suporte 
a cada tema tratado e estudos linguísticos com os quais você irá praticar e testar 
os conhecimentos adquiridos. 
Os estudos linguísticos na área aplicada ao ensino-aprendizagem cada 
vez mais têm entendido o texto como unidade fundamental da comuni-
cação verbal. O objetivo maior das aulas de Língua Portuguesa deveria ser 
sempre ensinar e aprender o que pode ser usado, com a finalidade principal 
de melhorar a capacidade de expressão e de comunicação. Nessa perspec-
tiva, o texto assume a posição central dentro da interação verbal e a frase 
ganha importância como unidade responsável pela boa forma linguística 
desses textos: “a frase, criação indefinida, variedade sem limite, é a própria 
vida da linguagem em ação” (BENVENISTE apud SAUTCHUK, 2004). 
Sob o ponto de vista das 
manifestações linguísticas no texto situado
Com a finalidade de situar brevemente as posições adotadas pelos es-
tudiosos da linguagem no âmbito da pragmática interacional e no âmbito 
do enfoque estruturalista – gramatical – iniciaremos esta reflexão com a 
abordagem que toma a linguagem como atividade interativa e não como 
forma ou sistema.
A língua como trabalho social, histórico e cognitivo
Partindo do ponto de vista que toma a língua como um conjunto de 
práticas enunciativas e não como forma abstrata, pensamos a linguagem 
em seu funcionamento no fenômeno textual, pois consideramos impos-
sível qualquer manifestação de linguagem fora do texto produzido em 
uma enunciação. 
Nos estudos da linguagem na atualidade, essa concepção está situa-
da na chamada linguística enunciativa. Concepção esta em consonância 
O objeto dos estudos linguísticos
14
O objeto dos estudos linguísticos
com os estudos de Mikhail Bakhtin e Valentin Volochinov, autores fundamentais 
para esse quadro epistemológico. Para os autores, mesmo a mais elementar das 
enunciações humanas se “organiza fora do indivíduo pelas condições extraor-
gânicas da vida social” (BAKHTIN; VOLOCHINOV, 1929/1982, p. 107). Em nossas 
palavras, a enunciação humana é sempre um ato social, é produto da interação 
social. Vejamos essa tese dos autores:
A verdadeira substância da língua não é constituída pelo sistema abstrato de formas linguís-
ticas nem pela enunciação monológica e isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua pro-
dução, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das 
enunciações. (BAKHTIN; VOLOCHINOV, 1929/1982, p. 109)
Refletindo sobre a posição dos autores quando, na mesma obra, afirmam que 
“A língua vive e evolui historicamente na comunicação verbal concreta, não no 
sistema linguístico abstrato das formasda língua nem no psiquismo individual 
dos falantes” (BAKHTIN; VOLOCHINOV, 1929/1982, p. 121) (grifo nosso).
A “comunicação verbal concreta” configura textos – formas empíricas do uso 
da linguagem verbal, oral ou escrita, no interior de práticas sociais contextuali-
zadas histórica e socialmente. Esta perspectiva de língua/linguagem leva o ana-
lista a tomar como ponto de partida o texto na interação, associando-o, a partir 
das pistas materiais que se encontram em sua superfície, às práticas sociocul-
turais no interior das quais surgiu e que chamamos de contexto. E ao se referir 
à “comunicação verbal concreta” que “evolui historicamente”, os autores estão 
se referindo à relativa estabilidade no modo de configuração dos enunciados, 
que permite o seu reconhecimento (por exemplo, conseguimos reconhecer uma 
fábula, uma bula de remédio, em meio a outros textos). 
A interação verbal: a língua na prática social
A importância do que acabamos de discutir se deve a uma dicotomia muito 
comum entre professores de língua portuguesa quando se deparam com a di-
visão: aspectos gramaticais e/ou aspectos textuais da fala e da escrita, o que os 
leva a pensar que “o que é textual não é gramatical e que o que é gramatical não 
é textual” (TRAVAGLIA, 2003), posição com a qual não podemos concordar. 
Se partirmos da concepção de que a interação verbal é a realidade da língua, 
o enunciado concreto (que tem um autor e um interlocutor) é a unidade mínima 
da comunicação verbal. A partir desse momento, estaremos assumindo uma po-
sição da linguística enunciativa, ponto de vista do qual se estudam os fatos de 
O objeto dos estudos linguísticos
15
“fala”, ou seja, a produção concreta de enunciados por locutores na situação real 
de comunicação. 
A interação entre um locutor (ou mais de um) e seu(s) interlocutor(es) produz 
um efeito de sentido que configura uma unidade semântica, ou seja, uma uni-
dade de uso da linguagem (um texto) e não uma unidade gramatical. Um texto 
deve produzir sentido, ou então será apenas um amontoado aleatório de ele-
mentos da língua – o que significa que o texto deve apresentar textualidade. Para 
Adam (apud BONINI, 2005) e Bronckart (2003) essa textualidade teria um nível 
microestrutural (o das unidades semânticas de base, isto é, das frases), um nível 
macroestrutural (o dos segmentos maiores constituídos pelos tipos de discurso 
que constituem o texto) e um nível superestrutural (que organiza a produção e a 
interpretação dos discursos em gêneros de texto). 
O que a interação verbal configura não é uma estrutura morfológica ou sin-
tática, é um texto estruturado em vários planos, tais como: fonológico, sintático, 
semântico e cognitivo, interdependentes e organizados no processo de enun-
ciação pelo qual se dá a interação verbal. Assim é que “A situação social mais 
imediata e o meio social mais amplo determinam completamente e, por assim 
dizer, a partir do seu próprio interior, a estrutura da enunciação” (BAKHTIN; VO-
LOCHINOV, 1929/1982, p. 113) (grifos do autor).
Percebeu por que não podemos tratar a língua como um código ou um sis-
tema de sinais autônomos, sem história e fora da realidade social dos falantes? 
A língua é muito mais que um mero sistema de formas fonológicas, sintáticas e 
lexicais. Como afirma Franchi (1992), a língua é uma atividade constitutiva com 
a qual podemos construir sentidos. Não pode ser confundida com gramática, 
ortografia ou léxico, pois ela se manifesta nos processos discursivos, concreti-
zando-se em variados gêneros de texto e recorrendo a diferentes linguagens 
(verbal e não-verbal). 
Marcuschi (2001) considera a língua como uma forma cognitiva porque com 
ela expressamos sentimentos, ideias, desejos; como uma forma de ação social, 
pois com ela podemos agir realizando coisas; e, também, como um sistema sim-
bólico, uma vez que é constituída por um conjunto de signos que pode significar 
muitas coisas, mas cujos significados não podem ficar “prisioneiros” no interior 
das estruturas morfológicas ou sintáticas, ou seja, apreendidos de forma descon-
textualizada. Para esse linguista, a atividade comum entre produtor e receptor 
engajados na interação oral ou escrita não pode ser reduzida a um simples pro-
cesso de codificação (na produção) e de decodificação (na recepção). 
16
O objeto dos estudos linguísticos
A linguagem é vista por esse linguista (que apresenta seu postulado a partir 
de uma abordagem sociointeracionista), sobretudo, como forma de ação e, nesta 
perspectiva, deve ser analisada como atividade e não como estrutura. Entretanto, 
o autor nos adverte para um problema que demanda muita reflexão: como cons-
truir uma teoria que equacione estrutura e atividade, que case adequadamente, 
por exemplo, sentença e enunciado ou sentença/enunciado/enunciação?
Essa questão nos remete para a problemática da interação social – enfoque 
que vai além dos fenômenos estruturais da língua. O estudo da interação verbal, 
mediada pela linguagem, é essencial para que possamos entender não apenas o 
funcionamento da linguagem, mas também o sujeito que se constrói na intera-
ção. Nesse quadro é que estudiosos como Bakhtin retiram a estrutura da língua 
do foco de suas reflexões para situar a linguagem na esfera de uso, em seu con-
texto sociointerativo. Esse é o ponto em que ocorre a “virada pragmática”, no 
enfoque dos estudos da linguagem, ou seja, analisam-se muito mais os usos e 
funcionamentos da língua em situações concretas do que os elementos das es-
truturas do sistema da língua. 
Atualmente, muitos linguistas têm discordado da tese de que o objeto da 
sua ciência seja o sistema, o código abstrato imune às circunstâncias de uso em 
cada situação de interação. Cada vez mais tentam descrever, no quadro dos es-
tudos linguísticos, a língua (e a gramática que a constitui) não mais como um 
objeto estático composto por estruturas do sistema, mas como manifestação 
intencional de sentido, deslocando-se o fenômeno linguístico do ponto de vista 
do sistema para o da atividade comunicativa. 
Nesse quadro, não podemos concordar com a posição estruturalista na qual 
a língua é considerada um sistema estável de formas normativamente idênticas. 
Isso seria uma abstração científica que pode servir a certos fins teóricos e práti-
cos particulares, mas não para o estudo da língua e da linguagem em funciona-
mento na prática social. 
O texto como unidade 
de ensino/aprendizagem da língua
Não podemos ignorar uma série de aspectos que hoje são considerados 
fundamentais nos estudos linguísticos aplicados ao ensino/aprendizagem da 
língua. Os aspectos que estão ligados à linguagem na interação social lembram 
ao professor a necessidade de reflexão sobre: 
O objeto dos estudos linguísticos
17
O que é que se ensina ou se estuda quando se ensina ou se estuda língua?
A questão faz emergir tomadas de decisões quanto ao ponto de vista a ser 
adotado na elaboração de materiais didáticos, na organização de currículos, 
ementas e programas, nos procedimentos de avaliação (vestibulares, por exem-
plo), e nos cursos de formação de professores. Enfocar a língua sob o ponto de 
vista da gramática descritiva? Da gramática normativa? Nos eixos do uso (produ-
ção e leitura/compreensão)? No eixo da reflexão linguística (análise linguística)? 
No uso oral? No domínio de uma variedade linguística prestigiada socialmente? 
A partir disso surgem outros questionamentos: O ensino será do tipo pres-
critivo? Será um ensino descritivo? Ou será um ensino produtivo em torno de 
capacidades de uso? 
Dependendo das respostas dessas questões, outras surgirão sobre os objetos 
de ensino, os objetivos, a perspectiva da abordagem. Contudo, todas as respos-
tas podem ser enquadradas em uma única denominação: ensina-se ou estuda- 
-se a língua portuguesa. 
No entanto, há hoje um consenso entre linguistas teóricos e aplicados: o 
ensino de língua deve se dar por meio de textos – e essa é a orientação central 
dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua Portuguesa.Diante das mudanças na seleção e na abordagem do objeto de estudo/apren-
dizagem da língua, temos nos deparado com o problema: 
Como se pode conduzir o trabalho com a língua por meio do texto?
O texto tomado como unidade empírica dos estudos de linguagem aplicados 
ao ensino apresenta muitas possibilidades, como salienta Marcuschi (2001), ao 
preconizar um trabalho com base em textos. Veja algumas dessas possibilidades: 
a língua em seu funcionamento autêntico e não-dissimulado; �
as variantes linguísticas; �
as relações entre fala e escrita no uso real da língua; �
a organização fonológica da língua; �
os problemas morfológicos em seus vários níveis; �
18
O objeto dos estudos linguísticos
o funcionamento e a definição de categorias gramaticais; �
os padrões e a organização de estruturas sintáticas; �
o funcionamento dos processos semânticos da língua; �
a organização das intenções e os processos interacionais; �
a progressão temática e a organização tópica; �
o treinamento do raciocínio e da argumentação; �
o estudo da pontuação e da ortografia; �
os problemas residuais da alfabetização; �
o estudo dos gêneros de texto. �
O autor deixa em aberto outros possíveis enfoques pois, como ele afirma, essa 
relação não é exaustiva e nem obedece a uma ordem lógica de problematização. 
Contudo, devemos fazer uma ressalva: ainda que pensemos a linguagem 
como um conjunto de práticas sociais, cognitivas e interacionais, isso não sig-
nifica que estamos ignorando o sistema, a gramática da língua. Como afirma 
Antunes (2005, p. 85), todas as pessoas falam conforme as regras particulares da 
gramática de sua própria língua. Isso porque toda língua tem sua gramática, seu 
conjunto de regras. [...]. Quer dizer, não existe língua sem gramática.
O argumento da autora é pertinente e relevante. O problema que vemos é 
fazer da metalinguagem e da análise formal o centro do trabalho com a língua 
ou, em outra abordagem, reduzir a língua às regras gramaticais, dentro de um 
objetivo pedagógico prescritivo e normativo. Uma educação linguística deve 
estar centrada em capacidades a serem desenvolvidas nos aprendizes: o pro-
fessor deve decidir se objetiva desenvolver capacidades de linguagem para as 
práticas sociais ou desenvolver a competência para o reconhecimento da língua 
como sistema delimitado em diferentes níveis estruturais. 
A abordagem textual-discursiva da língua
Como você percebeu, estamos nos referindo a abordagens da língua que 
estão relacionadas a diferentes concepções de língua(gem). 
O objeto dos estudos linguísticos
19
A conscientização do professor de língua é importante, uma vez que o en-
foque didático vai depender da natureza do objeto de ensino-aprendizagem, 
qualquer que seja ele: 
a língua considerada em seu contexto de uso, nesse caso, os textos e os �
seus níveis de organização são objeto de estudo; ou 
a língua funcionando como um sistema de regras com sua fonologia, morfo- �
logia, sintaxe, léxico e semântica sem indagação sobre os seus usos sociais.
Bronckart (2003), dentro de uma perspectiva textual para o ensino de língua, 
lembra que os textos são um objeto legítimo de estudo e que a análise de seus 
níveis de organização permite trabalhar a maioria dos problemas relativos à 
língua em todos os seus aspectos. O autor apresenta três níveis superpostos que 
definem o que ele, metaforicamente, denomina de folhado textual.
A proposta do autor representa uma boa contribuição por se prestar adequa-
damente à nossa necessidade metodológica de desvendar a trama pela qual se 
dá a organização dos textos. Por ela, temos uma visão geral daquilo que pode 
constituir o objeto que desejamos enfocar no estudo da linguagem, ou seja, em 
qual “camada” do folhado textual se encontra a questão que desejamos abordar. 
Qualquer que seja o objeto de estudo (no nível da microssintaxe ou da macros-
sintaxe), ele estará sempre lá, na relação de interdependência que todos os ele-
mentos mantêm entre si e entre as representações do produtor sobre o contexto 
de produção. 
No que se refere ao folhado que constitui a arquitetura interna dos textos, 
Bronckart (2003), considera três níveis:
A infraestrutura geral � do texto – que compreende os tipos de discurso 
(narrar/expor) e os tipos de sequências (narrativa, descritiva, argumentati-
va, explicativa, injuntiva e dialogal).
Os � mecanismos de textualização – compreendendo a conexão, a coe-
são verbal e a coesão nominal.
Os mecanismos enunciativos � – nesta camada do folhado se localizam as 
questões pertinentes às vozes e às modalizações. 
Por ora, fiquemos apenas na camada dos mecanismos de textualização: 
aqui as marcas de textualização são observáveis tanto no nível da microssinta-
20
O objeto dos estudos linguísticos
xe quanto no nível da macrossintaxe, ou seja, o texto coeso, tecido, articulado, 
“amarrado” pelos mecanismos de textualização que lhe dão coesão. 
Assim, para Bronckart, (2003), os três níveis da arquitetura textual resultam 
das operações de linguagem acionadas pelo produtor de um texto oral ou 
escrito em determinadas condições externas de produção de linguagem, que 
envolvem, por um lado, a situação de ação (as representações sobre o contexto 
físico, social e subjetivo de seu agir, sobre suas próprias capacidades e sobre 
o conteúdo temático mobilizado). Do outro lado, essas condições externas 
envolvem a preexistência de espécies de texto que ele deve selecionar para a sua 
ação de linguagem – gêneros textuais – que implicam operações de linguagem 
específicas para a sua textualização. 
Essa articulação da abordagem das condições externas de produção e da ar-
quitetura interna dos textos permite mostrar que as operações de linguagem 
são determinadas pelas representações sociais relativas às atividades de lin-
guagem em uma esfera de comunicação humana, mas deixam aos produtores 
certa margem de decisão e liberdade para a escolha adequada dos mecanismos 
de textualização que atendam às especificidades intencionais e interacionais 
(BARROS; NASCIMENTO, 2007).
Isso significa que as pessoas, para exercer a linguagem, para usar a língua 
e para produzir sentidos devem manter o cuidado com a adequação social do 
produto linguístico em conformidade com as suas representações da situação 
de produção.
Como afirma Neves (2000, p. 53), “só haverá exercício pleno da linguagem se 
as escolhas e arranjos estiverem adaptados às condições de produção, incluin-
do os participantes do ato linguístico”. Para a autora, quanto mais a interpreta-
ção estiver próxima da intenção, mais bem sucedida terá sido a comunicação, 
incluindo-se até a possibilidade de que a intenção tenha sido uma interpretação 
ambígua. Dentro dessa “moldura pragmática que governa a interação”, afirma 
a autora que o que se faz é produzir sentido, tanto quem produz o enunciado 
quanto quem o recebe. 
Dessa forma, o que fazemos em relação à gramática da língua é:
ficarmos submissos a um � núcleo duro que governa a parte estrutural dos 
arranjos;
O objeto dos estudos linguísticos
21
manejarmos um conjunto de decisões entre os possíveis, com as quais �
ajustamos nossas produções para compor sentido, para obtermos sucesso 
na interação, e conseguirmos, realmente, manter a comunicação. 
Sintetizando: ensinar e aprender a língua implica a adoção de um ponto de 
vista teórico e metodológico que vai dirigir o enfoque em duas direções: ou para 
uma análise dos fenômenos linguísticos relacionados à organização interna da 
língua em seus vários níveis de abordagem (fonológica, morfológica, semântica 
e sintática), independentes do contexto de uso; ou para uma análise que reco-
nhece na superfície dos textos as pistas ou marcas deixadas pelos processos in-
teracionais de produção de sentidos. 
Sob o ponto de vista da língua como estrutura 
No tópico anterior, você percebeu que o foco era a língua relacionada ao con-
texto social de uso, aos textos e/ou discursos e aos interesses diversos dos inter-
locutores na produção textual-discursiva.Nesta seção vamos discutir a tese assumida por Saussure (1975) ao definir 
o objeto da linguística como sendo a língua (e não a linguagem) definida 
como um sistema, cujas unidades são, para o autor, de natureza relacional no 
encadeamento linear, ligadas por “relações sintagmáticas”. 
Nos meados do século XX, predominou a visão formal da língua, culminan-
do com o estruturalismo formal introduzido por Ferdinand de Saussure, linguista 
que é considerado o “pai” da linguística moderna. Essa abordagem da língua se 
fundamenta em princípios teóricos, entre os quais podemos citar:
a língua é uma totalidade organizada; �
a língua é um sistema autônomo de significação; �
a língua pode ser estudada em si e por si mesma. �
Esses postulados instituíram um novo modo de fazer linguística e fizeram 
eclodir diferentes vertentes dos estudos da linguagem que, mesmo sem negar 
que as línguas tenham seu lado social e histórico, não consideram esses aspec-
tos como seu objeto de estudo específico. 
22
O objeto dos estudos linguísticos
O estruturalismo saussuriano volta-se para a descrição das regularidades 
internas ao sistema, ao código da língua (a langue, e não a parole). Para os es-
tudiosos da língua nesse modelo teórico, a fala/parole não é “controlável” pelo 
analista, portanto não pode constituir objeto de estudo científico. Hoje, a visão 
de língua/linguagem evita a visão estruturalista e a descrição puramente formal, 
e caminha em direção a uma perspectiva do funcionamento do sistema em seus 
aspectos funcionais, situacionais e contextuais do uso. 
São imensas as contribuições da abordagem “estruturalista”, que polarizou 
o enfoque da linguagem em dicotomias que ainda são utilizadas nos estudos 
linguísticos, especialmente os de cunho formal ou estrutural. Veja algumas dico-
tomias saussurianas: 
língua X fala
sincronia X diacronia
significante X significado
sintagmático X paradigmático
social X individual
As dicotomias saussureanas representam um valioso repertório de possibili-
dades para os estudos linguísticos e constituem fundamentos que precisam ser 
bem compreendidos por quem se propõe a estudar o sistema da língua.
Texto complementar
Ensino de língua materna – gramática e texto: 
alguma diferença? 
(TRAVAGLIA, 2003)
[...]
Antes de tudo é preciso acreditar que o homem se comunica por meio 
de textos. Assim, comunicar-se significa de alguma forma (linguística ou 
não) produzir um efeito de sentido entre o(s) produtor(es) de um texto e o(s) 
receptor(es) desse mesmo texto. Se nos restringirmos aos textos linguísti-
O objeto dos estudos linguísticos
23
cos, podemos dizer que uma sequência linguística só se transforma em texto 
quando produz um efeito de sentido entre seu produtor e seu receptor, ou 
seja, quando faz/tem sentido para alguém. Caso contrário, o que temos é 
só um amontoado de elementos da língua, mas não um texto. Essa é a lição 
que aprendemos com a Linguística Textual ao tratar da coerência. Sabe-se 
também que o sentido que uma sequência linguística faz (e que a transfor-
ma em texto) depende de uma série de recursos, mecanismos, fatores e prin-
cípios internos e externos à língua. Todos esses elementos estão, de alguma 
forma, inscritos e regularizados na língua, constituindo sua gramática. Por 
isto é que se pode afirmar que a gramática de uma língua é o conjunto de 
condições linguísticas para a significação. Portanto, o conjunto desses recur-
sos, mecanismos, fatores e princípios que usamos para produzir efeitos de 
sentido é a gramática de uma língua. 
Todos os recursos da língua – em todos os seus planos (fonológico, mor-
fológico, sintático, semântico, pragmático) e níveis (lexical, frasal, textual-dis-
cursivo) – em termos de unidades e estruturas (sejam elas fonológicas, morfo-
lógicas, sintáticas, textuais), funcionam como pistas e instruções de sentidos 
que são coadjuvados nesta função por mecanismos, fatores e princípios. 
Dessa ação conjunta surgem os efeitos de sentido possíveis para uma dada 
sequência linguística usada como texto numa dada situação de interação. 
A seguir daremos, utilizando os recursos da língua que muitos chamam 
de artigo, um exemplo que pode evidenciar que não há uma separação sus-
tentável entre gramática e texto.
[...]
No final de um estudo sobre o chamado artigo nosso aluno pode saber:
dizer o que é um artigo;1. 
dizer qual a classificação dos artigos;2. 
listar os artigos;3. 
classificar os artigos;4. 
identificar artigos em sequências linguísticas;5. 
discutir se o artigo é uma classe de palavras à parte ou um tipo de 6. 
pronome, inclusive apresentando argumentos como, por exemplo, o 
fato de que, na sequência linguística, não se pode usar essa unidade 
24
O objeto dos estudos linguísticos
da língua junto com alguns tipos de pronomes (como os demonstra-
tivos e os indefinidos, naturalmente por razões diferentes) (exemplos 
1a, b), mas pode-se usá-la como outros tipos de pronomes como os 
possessivos (exemplos 1a, b), mas pode-se usá-la com outros tipos de 
pronomes como os possessivos (exemplo 1c). Pode-se discutir ainda 
se ele nem é uma classe de palavras, mas apenas um morfema.
(1)
a. * Os estes/alguns meninos estão alegres.
b. * Uns estes/alguns meninos estão alegres.
c. * Os meus meninos estão alegres.
saber usar na construção e compreensão de textos os recursos da lín-7. 
gua chamados de “artigos”, com base no conhecimento das instruções 
de sentido com as quais estes recursos são capazes de contribuir para 
a produção de sentido em um texto, permitindo a comunicação numa 
situação de interação comunicativa. Neste caso, podemos trabalhar 
com os alunos as seguintes questões:
a. as instruções de sentido básicas desses recursos da língua nor-
malmente especificados na teoria linguística, inclusive nas cha-
madas gramáticas tradicionais, seriam os artigos definidos pois 
apresentam entidades como definidas, conhecidas dos interlo-
cutores e os indefinidos as apresentam como indefinidas, des-
conhecidas. Assim, só se pode usar o artigo definido para algo 
que apareceu no texto ou que está disponível de alguma forma 
em nossa cultura; 
b. alguns efeitos de sentido mais frequentes derivados desses va-
lores básicos.
[...]
A seguir são comentados, mesmo que sumariamente, esses efeitos 
de sentido.
(2)
a. O preço da entrada é X.
b. O preço de uma entrada é X.
c. O preço de entrada é X.
O objeto dos estudos linguísticos
25
O texto em (2a) poderia ser usado em qualquer situação em que se pre-
tende dizer quanto custa a entrada, o ingresso para alguém, por exemplo, 
para um show, inclusive poderia responder à pergunta: “Qual é o preço da 
entrada?”. Já (2b) só poderia ser usado, por exemplo, em uma situação em 
que se discute o valor da entrada para se comprar uma só ou muitas. Em (2c) 
não se refere ao ingresso, mas a outro tipo de entrada: é o começo de parti-
cipação em algo, como ser sócio de um clube, por exemplo: “– Quanto paga 
para ser sócio de seu clube?/ – O preço de entrada é R$1.000,00 depois você 
paga uma mensalidade de R$30,00.”
(3)
a. João levou seu sobrinho ao parque. O menino pulou no lago 
para nadar. 
b. João levou seu sobrinho ao parque. Um menino pulou no lago 
para nadar.
Nos textos de (3) a diferença entre a e b é de referência e é causada pelo 
uso de recursos diferentes (artigo definido ou indefinido) na segunda frase 
do texto: em a “sobrinho” e “menino” são a mesma pessoa, mas em b “sobri-
nho” e “menino” são duas pessoas diferentes. Inclusive, o sobrinho de João 
pode não ser um menino, pode ser um rapaz.
(4)
a. O grupo do Rio, composto pelos países latino-americanos, deci-
diu que...
b. O grupo do Rio, composto por países latino-americanos, decidiu 
que...
Em (4) a diferença entre a e b é consequência do uso ou não do artigo 
definido contraído com a preposição (pelos x por). O texto de a significa que 
o grupo do Rio é formado por todos os países latino-americanos, enquan-
to o de b significa que o grupo do Rio é formado apenas por alguns paíseslatino-americanos. Dessa forma, se confrontarmos com a realidade, apenas 
um texto é verdadeiro: o texto b. 
(5)
a. A menina de ontem trouxe este recado para você.
b. (?) Uma menina de ontem trouxe este recado para você. 
c. Uma menina trouxe este recado para você. 
26
O objeto dos estudos linguísticos
Em (5) observamos que (5a) só pode ser usado com o artigo definido por 
causa do identificador (de ontem) que se coloca para menina, o que marca 
que é uma menina conhecida dos interlocutores. É por isso que (5b) soa estra-
nho, se tivermos uma situação em que “ontem” só se conheceu uma menina. 
Para que (5b) seja visto como um texto bem construído, adequado, é preciso 
que “ontem” os interlocutores tenham tido contato ou conhecido várias me-
ninas. Neste caso (5b) é adequado e indica que uma das meninas de ontem 
trouxe o recado, mas se especifica com precisão qual delas. O texto (5c) só 
poderá ser usado em uma situação em que o falante teve contato anterior 
com a menina, o ouvinte não. Neste caso a menina é conhecida do falante, 
mas não foi referida anteriormente para o ouvinte; assim, usa-se o artigo in-
definido para apresentá-la no texto, como desconhecida ou de forma impre-
cisa (se considerarmos que os dois tiveram contato com várias meninas no 
dia anterior, mas não há como especificar qual delas). 
(6)
a. João dançou com uma menina.
b. Jô-ão-dan-çou-com-U-MA-me-ni-na.
c. Is-so-vai-dar-UM-bo-de.
d. O- Jô-ão-tem-UM-na-riz.
Nos textos de (6) temos uma oposição entre um texto que tanto pode 
ser escrito quanto oral (6a), com entonação normal de uma sequência de-
clarativa e textos que só podem ocorrer na língua oral (6b, c, d), em que 
se tem uma pronúncia/entonação silabada com ênfase entonacional no 
artigo (tom de voz mais alto), geralmente com um certo alongamento da 
vogal “u”. Assim, (6a) significa que João dançou com uma menina X, que 
o locutor não sabe quem é. Já em (6b), pela entonação silabada e ênfase, 
tem-se mais o sentido de que a menina é muito especial em algum aspecto 
(beleza etc.). É uma espécie de superlativo que aparece também em (6c) 
(o problema que vai ocorrer é muito grande) e (6d) (o nariz de João é um 
nariz muito grande, notável, muito feio). Para Nunes J. (2001), em casos 
semelhantes a (6c), em que se tem uma expressão idiomática, a entonação 
silabada é obrigatória. A entonação comum só aconteceria sem o artigo 
(Isso vai dar bode). O texto de (6d) também não pode ocorrer sem esta 
entonação a não ser que se vá qualificar explicitamente o nariz: (*João tem 
O objeto dos estudos linguísticos
27
um nariz) parece não ocorrer no português, mas “João tem um nariz feio/
bonito/chato/aquilino” ocorre normalmente.
(7)
a. O meu lar é o botequim.
b. O meu lar é um botequim.
Em (7a) o texto significa que o falante mora em dado botequim específico 
que ele e o ouvinte conhecem (7b), pode-se ter o sentido de que o falante 
mora em um botequim qualquer que o ouvinte não conhece, mas pode-se 
também ter o sentido de que o lar do falante, em sua casa, por alguma razão, 
parece com um botequim em alguma característica (é desarrumado? vive 
cheio de gente? o falante tem muita bebida em casa e vive bebendo só com 
amigos? seu lar é popular? etc.). Nesse segundo caso, temos uma compara-
ção e uma metáfora. 
Os aspectos apresentados nos itens 1 a 6, no início deste artigo, constitui-
riam uma parte da teoria linguística ou gramática que se preocupa basica-
mente com a identificação dos tipos de unidades e recursos de que a língua 
dispõe, sua classificação, identificação, estruturação. Já o que foi apresenta-
do em 7 e nos comentários dos exemplos constituiria uma parte da teoria 
linguística ou gramatical que se preocupa basicamente com o funcionamen-
to dessas unidades e recursos na constituição de textos para produção de 
determinados efeitos de sentido, pode-se dizer num plano mais semântico 
e pragmático e no nível textual-discursivo. Pode-se afirmar que a primeira 
parte é apenas um requisito para a segunda, ou melhor ainda, faz parte da 
segunda, e não precisa necessariamente ser conhecida pelos usuários de 
uma língua para que sejam usuários competentes dessa língua. 
Desta forma, acreditamos que se deixarmos de dividir essas duas partes 
em gramatical e textual como se fossem coisas distintas e estivermos con-
vencidos de que texto é apenas um resultado da aplicação da gramática 
da língua em funcionamento, para comunicar por meio da produção de 
efeitos de sentidos, deixaremos de ter no ensino de língua materna a ati-
tude, pode-se dizer, perniciosa, de achar que gramática e texto são coisas 
distintas e que têm de ser tratadas separadamente por terem pouca rela-
ção entre si. Tal atitude tem criado a síndrome da incompetência que leva 
tantos falantes de português a dizerem “não sei português”.
28
O objeto dos estudos linguísticos
Dicas de estudo
A Prática de Linguagem em Sala de Aula: praticando os PCNs � , organizado por 
Roxane Rojo (São Paulo, EDUC/Campinas (SP), Mercado de Letras, 2000). 
Este livro é especialmente dedicado aos professores em pré-serviço e em ser-
viço, identificados com as propostas presentes nos Parâmetros Curriculares Na-
cionais (PCN), que preconizam os gêneros de textos como objetos de ensino. 
Dicionário de Linguística e Gramática � , de Joaquim Mattoso Câmara Jr. (São 
Paulo, Editora Vozes, 2001). 
Neste dicionário, Mattoso Câmara Júnior, considerado o mais ilustre represen-
tante do estruturalismo linguístico no Brasil, oferece noções gramaticais como 
base para a compreensão estrutural, funcional e histórica da língua portuguesa, 
além de informar sobre fatos da língua, verbetes gramaticais, termos técnicos, 
entre outros temas. 
Ferdinand de Saussure: escritos de linguística geral � , de Simon Bouquet e Ru-
dolfo Emgler (São Paulo, Cultrix, 2004). 
Este livro trata das novas descobertas de textos inéditos de Saussure que 
estão provocando a (re)discussão sobre aquilo que se considerava a visão saus-
suriana de língua, na forma como foi interpretada pelos discípulos que publica-
ram o Curso de Linguística Geral. Os novos manuscritos de Saussure demonstram 
que ele não fechou as portas para o sentido, o uso, o texto ou a enunciação. 
Ao contrário, ele tinha uma visão ligada à análise da língua em uso que ia além 
daquela que seus discípulos deixaram entrever no curso. Nestes novos textos, 
Saussure lembra que a linguagem é discurso, ainda que para ele a unidade de 
análise vá até o item lexical ou o sintagma. 
Estudos linguísticos
1. Explique com suas palavras por que a língua enquanto prática social tem o 
enunciado concreto como realidade fundamental.
O objeto dos estudos linguísticos
29
2. A partir do que foi tratado, complete a tabela com alguns traços diferencia-
dores das concepções de língua que foram discutidas nesta aula e que con-
duzem a diferentes abordagens. 
Concepção da língua 
como estrutura formal 
Concepção da língua 
como interação 
Considerando que não se pode separar o conhecimento morfológico 
do sintático, pode-se abordar os termos da oração num método prático 
de análise que culmine com um quadro morfossintático desses termos. A 
natureza morfológica de um sintagma (constituinte imediato das orações) 
determina sua função sintática. Se aprendermos a reconhecer e a decom-
por os sintagmas, a tarefa de observar as funções sintáticas na oração fica 
mais fácil. A proposta de abordagem da morfossintaxe é a de analisar e 
descrever a estrutura da língua da maneira mais lógica e prática possível.
Os estudos gramaticais
Para o linguista inglês John Lyons (1981, p. 54) “a linguística é descritiva, 
não é prescritiva”. Dizendo isso ele afirma que ela é uma ciência descritiva, 
ou seja, não-normativa, por tentar descobrir e registrar as regras segundo 
as quais se comportam os membros de uma comunidade linguística.
Os linguistas atuais procuram distinguir regras descritivas e prescriti-
vas, enquanto que a gramática tradicional tinha um caráter predominan-
temente normativo.O gramático acreditava que sua tarefa era formular 
os padrões de correção e impor aos falantes da língua as normas para 
o “falar correto” de uma variante linguística, a do padrão culto da língua 
portuguesa.
Perini (2006, p. 21) também se refere ao fato de que a linguística se 
ocupa de muitos aspectos da linguagem e de seu uso, mas um aspecto do 
uso do qual ela não se ocupa é a distinção entre o “certo” e o “errado” na 
língua, pois não há a menor base linguística para tal distinção: o linguista 
se interessa pela língua como ela é, e não como deveria ser.
Nesse quadro, estamos nos referindo à oposição entre dois tipos de 
gramática: a gramática descritiva e a gramática prescritiva (ou normativa). A 
primeira procura descrever como é que as pessoas realmente falam e escre-
vem, e a segunda tenta estabelecer normas para os modos como as pessoas 
Morfossintaxe
32
Morfossintaxe
devem falar ou escrever. A oposição “certo” e “errado” “avalia” o uso da língua de 
acordo com as regras de um padrão de uso que a gramática normativa considera 
“correto” – geralmente, o uso de maior prestígio social.
Tomando por base os estudos de vários autores, podemos sintetizar a oposi-
ção entre a gramática descritiva e prescritiva, apresentando algumas caracterís-
ticas que as distinguem:
Gramática descritiva Gramática prescritiva
Descrição da estrutura da língua em �
uso.
Atende às regras de funcionamento �
da língua enquanto sistema.
Enumera e classifica a estrutura dos �
elementos constitutivos dos diferen-
tes níveis da língua: fonológico, mor-
fológico, sintático e semântico.
A partir de dados, registra como se �
fala/escreve realmente.
Levanta hipóteses baseadas em fa- �
tos linguísticos que constituem da-
dos de análise.
As hipóteses fundamentadas nos fa- �
tos precisam ser justificadas nas ocor-
rências das formas linguísticas.
Retrata e sistematiza os fatos da língua �
em uso.
É encontrada nos manuais didáticos. �
Critério do “bom uso” consagrado por �
“bons escritores”.
Procura prescrever as normas, discri- �
minando padrões linguísticos.
Ignora as características próprias da �
língua oral.
Avalia e deprecia outras variedades �
da língua com base em fatores não- 
-linguísticos.
Seus parâmetros são os do purismo �
e da vernaculidade, classe social de 
prestígio etc.
Apoia-se na tradição linguística. �
É encontrada nos manuais didáticos. �
Como você pode observar, a abordagem descritiva apresenta características 
bem claras em oposição à abordagem normativa.
Uma distinção essencial que se deve fazer ao estudar a gramática de uma 
língua é a que se estabelece entre diacronia e sincronia. Na sincronia linguística 
vê-se a língua em um recorte temporal, sincronizada em um contexto socio-his-
tórico específico. Na diacronia, a língua é vista através do tempo, ou seja, na sua 
historicidade. Tanto a gramática normativa como a descritiva podem utilizar-se 
de estudos diacrônicos como sincrônicos. Dessa forma, podemos ter uma análi-
se linguística de cunho normativo-sincrônico, normativo-diacrônico, descritivo-
sincrônico ou descritivo-diacrônico.
Morfossintaxe
33
Estudos descritivos
Para Travaglia (1996, p. 27), a gramática descritiva faz uma descrição da estru-
tura e funcionamento da língua, de sua forma e função. Neste caso, saber gramá-
tica, segundo o autor, significa ser capaz de distinguir, nas expressões de uma 
língua, as categorias, as funções e as relações que entram em sua construção, 
descrevendo com elas sua estrutura interna e avaliando sua gramaticalidade.
Um linguista não deve fazer julgamentos de valor a respeito de seu objeto 
de estudo. Para Travaglia (1996, p. 27), qualquer variedade da língua deve ser 
objeto de estudo, desde que seja usada (ou tenha sido) por uma comunidade 
linguística.
A elaboração de descrições de uma língua é relevante em função de dois 
fatores:
a necessidade de subsidiar o desenvolvimento da teoria linguística com �
dados confiáveis e sistematizados;
a necessidade de fornecer gramáticas descritivas para usos pedagógicos. �
Como afirma Perini (1989), o primeiro fator se refere ao desenvolvimento de 
uma teoria linguística que pressupõe a existência de “gramáticas descritivamen-
te adequadas, ” capazes de dar uma visão de conjunto de estrutura da língua. O 
segundo fator de relevância do trabalho de descrição é a necessidade de ela-
borar gramáticas pedagógicas, que propiciem informação sobre a estrutura da 
língua em funcionamento.
São duas abordagens da língua que evidenciam dois tipos de gramática, pois 
em uma sala de aula do Ensino Fundamental ou Médio, por exemplo, diferentes 
graus de detalhamento e diferentes formas de abordagem se fazem necessários 
(os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa – PCN – recomen-
dam os gêneros de texto como objeto de ensino, consequentemente, a aborda-
gem dos mecanismos linguísticos e discursivos se faz de uma forma contextua-
lizada, ou seja, relacionada ao uso). Segundo Perini (1998), o grande perigo em 
reduzir a gramática a um ensino puramente normativo é transformá-la em uma 
doutrina absolutista, dirigida exclusivamente à “correção” de “erros” linguísticos.
A cada passo, o aluno que procura escrever encontra essa arma apontada contra sua cabeça: 
“não é assim que se escreve (ou se fala)”, “Isso não é português” e assim por diante. Daí só 
pode surgir aquele complexo de inferioridade linguística tão comum entre nós: ninguém 
sabe português – exceto, talvez, alguns poucos privilegiados, como os que se especializam em 
publicar livros com listas de centenas ou milhares de “erros de português”. (PERINI, 1989, p. 33) 
34
Morfossintaxe
Refletir sobre esse fato é importante para nós, professores em serviço ou em 
formação, uma vez que os PCN de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental, 
tanto os de primeiro e segundo ciclos como os de terceiro e quarto (BRASIL, 
1997, 1998), salientam que, sendo o objetivo principal do trabalho de análise 
e reflexão sobre a língua o de imprimir maior qualidade ao uso da linguagem, 
as situações didáticas devem centrar-se nas atividades epilinguísticas (GERAL-
DI, 2003) – que se referem à reflexão sobre a língua em situações de produção 
e interpretação, ou seja, a língua em funcionamento. A partir daí é que se dá 
a descrição linguística, para depois introduzir progressivamente os elementos 
para uma análise de caráter metalinguístico, ou seja, por meio da categorização 
e sistematização dos elementos linguísticos.
Podemos, assim, definir três passos para o estudo da gramática da língua:
a reflexão sobre os fatos linguísticos; �
a descrição desses fatos; �
a análise metalinguística, que inclui regras e definições. �
Ou seja, mesmo na perspectiva de uma gramática descritiva, a normatização, 
isto é, o uso de normas, acaba acontecendo, porém em um processo posterior à 
reflexão e à descrição da realidade da língua que se está abordando.
As unidades linguísticas e os níveis de análise
Estudar uma língua significa descrever fatos dessa língua em todos os níveis 
do sistema: o nível fonológico, morfológico, sintático e semântico. Nesta aula, 
vamos nos ater aos níveis morfológico e sintático, pois o nosso objetivo é o de 
integrar esses dois níveis com a finalidade de enfocar a Morfossintaxe.
As unidades linguísticas são organizadas segundo graus de posição que 
seguem princípios constitutivos de uma língua. Assim, convencionou-se 
chamar de hierarquia gramatical esses diferentes níveis de construção do sis-
tema da língua.
Para Flávia Carone (1986), o conjunto de relações que se estabelecem entre as 
partes de um todo constitui a sua estrutura. O todo, ou seja, o objeto (linguístico 
ou não) só se configura graças a essa estrutura. Os elementos que constituem 
uma estrutura são a substância dessa estrutura, mas apenas se eles se inter- 
Morfossintaxe
35
relacionarem adequadamente, de acordo com o padrão estrutural previsto para 
aquela espécie de conjunto.
Assim, e ainda de acordo com a autora, aquilo que dá ao conjunto(o objeto) 
um esqueleto, uma estrutura formada por um feixe de relações, constitui a sua 
forma. Uma construção não é apenas substância formal, ou seja, dotada de forma, 
ela se torna uma estrutura da língua.
Uma construção apresenta, portanto, uma estrutura formal constituída pelo 
feixe de relações entre seus elementos. Numa frase como:
O filme foi interessante.
A sequência “filme foi” não é uma construção, pois não há relação entre as 
duas palavras, há apenas uma “vizinhança contingente”. Mas “o filme” constitui 
uma construção, pois as duas palavras contraíram entre si uma função.
Sobre esse assunto, Perini (1998, p. 44) fala em “constituintes”: “certos grupos 
de unidades que fazem parte de sequências maiores, mas que mostram certo 
grau de coesão entre eles”.
Por exemplo, na frase:
A bola de João é preta e branca.
Sabemos, como falantes da língua portuguesa, que “a bola de João” forma 
uma unidade estrutural da língua, o que não acontece, por exemplo, com a 
sequência “João é preta”. Assim, podemos dizer que, nesse contexto, “a bola 
de João” é um constituinte e “João é preta”, não. Um constituinte pode também 
fazer parte de outro. No nosso exemplo, o constituinte “preta e branca” está contido 
em “é preta e branca”, que por sua vez faz parte de “a bola de João é preta e branca”.
Essa noção de estruturação por constituintes é de suma importância, pois, 
na perspectiva sintática da língua, os constituintes geralmente recebem 
uma “função”. Na frase analisada, para exemplificar, o constituinte “a bola 
de João” exerce a função de sujeito enquanto “é preta e branca” funciona 
como predicado.
Vejamos, agora, como a hierarquia gramatical opera na constituição do fe-
nômeno linguístico, começando pela menor unidade significativa da língua: 
o morfema:
36
Morfossintaxe
os morfemas se combinam entre si para formar a unidade imediatamente �
superior: o vocábulo (ou palavra);
os vocábulos combinam-se para formar o sintagma; �
os sintagmas constituem as unidades superiores – a frase (ou oração). �
a(s) frase(s) constitui(em) o texto, unidade significativa e comunicativa da �
língua, por meio do qual o falante age pela linguagem verbal.
A sequência a seguir pode demonstrar esses diferentes níveis de construção.
Morfema Vocabulário Sintagma Frase Texto
(-o) (menino) (O menino) (O menino 
chorou.)
(O menino 
chorou!)
Na perspectiva de Silva e Koch (1986), os morfemas podem ser lexicais ou 
gramaticais. Os morfemas lexicais constituem um inventário aberto, pois cons-
tantemente novas palavras surgem com a função de nomear a realidade per-
tencente ao mundo extralinguístico, nomeando os objetos (representados pelos 
substantivos), as qualidades (representadas pelos adjetivos) e as ações (repre-
sentadas pelos verbos).
Os morfemas gramaticais (também denominados gramemas) constituem 
um inventário fechado, porque remetem ao domínio da gramática. Quando os 
gramemas compõem a estrutura de um vocábulo, são chamados de gramemas 
dependentes, pois não têm autonomia vocabular. Quando os morfemas grama-
ticais (gramemas) têm autonomia vocabular e sozinhos constituem uma palavra, 
recebem o nome de gramemas independentes, é o caso dos artigos, pronomes, 
numerais, preposições, conjunções e dos advérbios pronominais.
Aqui se encontram as formas dependentes que, segundo Macambira (1982), 
são formas que não podem aparecer sozinhas no discurso, especialmente numa 
pergunta ou resposta. Veja, como exemplo, a impossibilidade de se recorrer à 
preposição “de” como resposta a uma pergunta:
– Você foi ao cinema de carro?
– De, respondeu João apressadamente.
Morfossintaxe
37
Mas, segundo Macambira (1982), os morfemas gramaticais também apare-
cem na língua sob a forma de formas presas, ou seja, como afixos (prefixos e 
sufixos), vogais temáticas e desinências (nominais: de gênero e número; verbais: 
de modo, tempo, número e pessoa). No campo da Morfologia, são formas presas 
os morfemas flexionais e derivacionais como, por exemplo:
Garotinhas: garot- (morfema lexical), -inh (morfema gramatical derivacio-
nal); -a (morfema gramatical flexional, pois indica o gênero), -s (morfema grama-
tical flexional, pois indica o número).
Assim, na frase abaixo:
As cartas estavam rasuradas.
Temos três formas livres (cartas, estavam, rasuradas) constituídas por mor- �
femas lexicais nomeando substantivo, verbo e adjetivo, respectivamente: 
cart- ; est-; rasur-;
Temos um gramema que é uma forma dependente (morfema gramatical: �
artigo “as”);
Temos oito gramemas que são formas presas (morfemas gramaticais �
flexionais):
Em relação ao vocábulo cartas: - � s (as); -s (cartas);
Em relação à forma verbal: � -a (vogal temática do verbo estar); -va (desi-
nência modo-temporal do verbo ); -m (desinência número-pessoal do 
verbo);
Em relação ao vocábulo “rasuradas”: - � ad (morfema gramatical deriva-
cional; -a (morfema gramatical flexional de gênero); -s (morfema gra-
matical flexional de número).
Essa classificação dos morfemas (lexicais e gramaticais) contribui para a 
classificação das palavras da língua por meio de duas categoriais iniciais: le-
xemas e gramemas. É uma classificação mais eficiente que aquela tradicional 
(palavras variáveis são os substantivos, adjetivos, verbos, artigos, pronomes 
e numerais) e “palavras invariáveis” (advérbios, preposições, conjunções e 
interjeições).
38
Morfossintaxe
Você quer ver por quê? Separe as palavras da frase, a seguir, em duas categorias:
As alunas colocaram os livros preferidos sobre a mesa.
Grupo 1: palavras carregadas semanticamente em relação ao mundo ex- �
tralinguístico.
Grupo 2: categorias autônomas, ou seja, palavras de funcionalidade gra- �
matical (gramemas independentes).
Grupo 1: lexemas alunas; colocaram; livros; preferidos; mesa
Grupo 2: gramemas as; os; sobre; a
Essas noções são importantes para que possamos compreender a noção de 
morfossintaxe que implica o reconhecimento das categorias de palavras em 
português que pertencem ao arquivo aberto (substantivos, adjetivos e verbos), e 
as demais que constituem um conjunto fechado, que não se altera ou cresce.
Por que morfossintaxe
Dependendo dos objetivos e dos métodos de abordagem dos fatos da língua, 
as classes gramaticais e as funções sintáticas podem ser estudadas separadamen-
te pela Morfologia e pela Sintaxe, respectivamente. Entretanto, uma abordagem 
morfossintática dos elementos da língua tem sido frequentemente adotada pela 
maioria dos professores, sobretudo, tendo em vista uma descrição e análise dos 
fatos da língua para fins didáticos. Assim, podemos definir a morfossintaxe como 
o estudo integrado das regras que regem a estrutura interna das palavras e as 
regras combinatórias das palavras e sintagmas nas orações.
Nesta aula, vamos considerar a morfossintaxe como o estudo simultâneo da 
Sintaxe e da Morfologia – sempre sem perder de vista seu contexto, ou seja, a 
situação de produção do texto em que se encontram; considerando-se, portan-
to, também aspectos semânticos e pragmáticos. Para isso, vamos levar em conta 
não só as funções sintáticas exercidas por expressões nessas frases, mas também 
as classes gramaticais e as orações que exercem essas funções. Vamos conside-
rar, também, que um vocábulo pertence a uma ou outra classe, dependendo das 
relações estabelecidas dentro da frase em que está sendo enunciado.
Morfossintaxe
39
Como vimos anteriormente, quando vistas de maneira independente, a Mor-
fologia estuda o léxico e suas formas e a Sintaxe estuda as combinações formais 
ou funções sintáticas. Segundo Bechara (2004), se fôssemos nos guiar por esses 
parâmetros, a gramática como um todo seria resumida à Sintaxe, uma vez que 
tudo na língua se refere à combinações de “formas” (mesmo que “forma zero”), 
mesmo dentro do âmbito da Morfologia.
Por exemplo, para formar a palavra “gatas” é preciso combinar/articular 
formas: morfema lexical -gat + morfema gramatical flexional de gênero -a + 
morfema gramatical flexional de numero -s.
Ou seja,não há Morfologia sem combinações formais, assim como não há 
uma Sintaxe independente das formas linguísticas.
Cereja e Magalhães (1999) tratam da articulação entre Morfologia e Sintaxe a 
partir da ideia de seleção e combinação. Tradicionalmente, a Morfologia estuda 
as classes de palavras – o campo da seleção – e a Sintaxe, o campo da combina-
ção. Entretanto, para esses autores, selecionar e combinar são procedimentos 
que ocorrem simultaneamente nas práticas de linguagem. Ao selecionar as uni-
dades linguísticas, nós, falantes da língua, levamos em conta:
a � forma dessas unidades (fonemas e morfemas que se articulam e for-
mam palavras);
a � forma dessas palavras: (artigo, substantivo, verbo etc.);
a � função: a articulação combinatória que as formas assumem na frase/
texto (sujeito, objeto direto, adjunto adnominal etc.)
o � sentido dessas unidades linguísticas.
Note que nesse processo de produção verbal a seleção e a combinação 
são aspectos indispensáveis e, Morfologia, Sintaxe e Semântica (níveis de aná-
lise linguística, normalmente, tomados separadamente) se solidarizam. Veja o 
exemplo:
Para completar estes versos famosos de Vinicius de Moraes,
“Tristeza não tem fim, _______ sim...”
Você seleciona qual palavra: ( ) feliz ( ) felicidade ( ) felizmente
40
Morfossintaxe
Provavelmente você selecionou “felicidade”, não porque você conhece os 
versos do poeta, mas porque você, simultaneamente, utilizou-se do processo 
verbal de seleção/combinação.
Veja que mesmo tendo o mesmo radical, essas palavras são de classes gra-
maticais diferentes, assim, foi preciso você combinar o sentido de cada “forma” 
ao contexto dos versos para selecionar a palavra mais adequada, aquela que, na 
articulação com os outros componentes linguísticos, produzisse sentido dentro 
da nossa realidade linguística. As palavras constituem grupos morfológicos, mas 
ao se combinarem em frases/textos para produzirem sentidos, adquirem uma 
função sintática.
De acordo com Cereja e Magalhães (1999), não se pode desvincular a Mor-
fologia e a Sintaxe, pois forma e função coexistem e seus papéis só se definem 
na superfície linguística (também chamado “cotexto”), produzindo um todo de 
sentido dentro de uma interação.
Os critérios formal e sintático 
para a classificação morfológica
Neste tópico veremos como os estudos morfossintáticos influenciam na clas-
sificação morfológica das palavras, a partir de um princípio básico:
“As palavras existentes da língua distribuem-se em várias classes confor-
me as formas que assumem, as funções que desempenham e o sentido que 
expressam.” (MACAMBIRA, 1982). (grifos nossos).
Para isso, vamos refletir, primeiramente, sobre os conceitos: forma, função 
e sentido. As formas são percebidas pelos nossos órgãos sensoriais – pelo 
ouvido, quando falamos, e pela visão, quando escrevemos. Por exemplo, a 
palavra “pato” é manifestada pela forma sonora /’patu/ ou pela forma escrita 
“pato” (PERINI, 2006), e classificada morfologicamente, na tradição gramatical, 
como “substantivo”. Por sua vez, função é o papel desempenhado por uma de-
terminada forma dentro de algum nível da estrutura da língua. Na frase “pato 
come milho”, a forma “pato”, em uma perspectiva sintática, assume a função 
de “sujeito” da oração.
Já os sentidos nos são revelados pela relação que estabelecemos com o 
mundo extralinguístico. Sabemos, pelo nosso conhecimento de mundo, que o 
Morfossintaxe
41
sentido de “pato” refere-se ao conceito de certo animal existente na nossa reali-
dade extralinguística, o qual associamos à forma “pato”. Vejamos um exemplo: 
Numa interação de um filho, no dia do seu aniversário, com seu pai que acaba 
de chegar, o filho diz:
“Você trouxe meu presente?”
Podemos dizer que o garoto, em sua ação de linguagem, acionou forma, 
função e sentido para selecionar as palavras que iria usar em seu texto, combiná-
las de maneira gramaticalmente aceitável, levando em consideração a funciona-
lidade delas dentro da frase e do contexto, a fim de produzir o sentido pretendi-
do com seu discurso. 
Observe o esquema abaixo:
Você trouxe meu presente?
Nível morfológico
(formas)
Nível sintático
(funções)
Pronome 
pessoal
Verbo 
transitivo direto
Pronome 
possessivo
Substantivo 
concreto
Sujeito Predicado verbal
Objeto direto
Veja que em uma perspectiva morfossintática, as palavras são analisadas pela 
classe gramatical a que pertencem e, ao mesmo tempo, pela função que de-
sempenham na oração. Podemos dizer que forma, função sintática (combina-
ção entre formas), função semântica (combinação entre forma e significado) e 
função externa (combinação entre o sistema de formas e seu contexto) se unem 
para construção dos sentidos do texto (NEVES, 2004).
Os conceitos de forma, função e sentido fornecem elementos valiosos dentro 
de uma perspectiva morfossintática, determinando critérios distintos para a 
classificação das palavras. 
Vejamos, por exemplo, os critérios utilizados para essas três definições de 
“verbos”. Observe que o critério mórfico está relacionado ao conceito de forma, 
o critério sintático, à função sintática, e o critério semântico, ao sentido.
42
Morfossintaxe
Verbo:
É uma palavra que indica um processo situado no tempo, seja ação, 
estado ou fenômeno. (critério semântico)
É uma palavra pela qual se realizam atribuições feitas ao sujeito da frase. 
É um constituinte indispensável de qualquer ato de produção. (critério 
sintático)
Palavras que apresentam desinências típicas para marcar pessoa, número, 
tempo e modo. (critério mórfico)
Os três critérios são uma ferramenta para dissipar dúvidas relacionadas às 
diferentes classes de palavras que constituem o léxico de uma língua.
Texto complementar
O objeto da Sintaxe
(AZEREDO, 2001, p. 9-13)
As pessoas falam geralmente sua língua nativa, nas situações cotidianas, 
com a mesma naturalidade com que respiram, veem, andam; e assim como 
não estão interessadas em saber como seu corpo funciona naquelas tarefas, 
também não costumam se deter no exame dos movimentos que executam 
para produzir os sons das palavras, nem tampouco na observação do que 
acontece com as palavras quando elas se combinam nos enunciados. A lin-
guagem, porém, é muito mais do que articular sons e combinar palavras; 
além de ter uma estrutura extraordinariamente complexa que envolve sons, 
palavras e frases, seu uso nas múltiplas situações reflete condicionamentos 
psicológicos, sociais e culturais. Por outro lado, o ato de dizer/escrever se dá 
em um contexto que inclui ouvinte/leitor, assunto, tempo, espaço. Quem 
diz/escreve normalmente o faz buscando a comunicação e só excepcional 
ou maldosamente evitando-a. O ouvinte/leitor é, por conseguinte, tão de-
cisivo para o caráter do discurso quanto quem o produz. Nem tudo o que 
Morfossintaxe
43
o enunciado deixa ou faz entender se acha explícito nele; parte de seu sen-
tido já está no conhecimento do interlocutor (informação implícita/impli-
cada) ou constitui um dado prévio qualquer no conhecimento do locutor 
(informação pressuposta). 
[...]
A cada instante pode-se estar pronunciando uma frase nova. Afinal, nin-
guém pode garantir que a frase que inicia este parágrafo e a que estou escre-
vendo agora não são inéditas. Eu não as tinha memorizadas, muito menos o 
leitor, e, apesar disso, não houve qualquer dificuldade para produzi-las e en-
tendê-las. Nós não apreendemos o significado de cada uma das frases possí-
veis como se nada tivessem em comum uma com as outras. Todas elas, acei-
tas como estruturas da língua pelos usuários, se criam graças a um sistema 
de unidades – sons, palavras, afixos, acentos – e regras que as combinam.
A dupla articulação da linguagem
Quem pretendesse separar as unidades constitutivas de “nós chegáva-
mos tarde”, na realidade oral da língua, teria várias escolhas: palavras (nós – 
chegávamos – tarde), morfemas (nós-cheg-a-va-mos-tarde), sílabas ou fone-
mas. Dentre as unidades agora conhecidas – evidentemente sem maio rigor 
–as sílabas e os fonemas são vazios de significação, e as demais providas de 
significação.
Distinguir unidades significativas e unidades não-significativas implica 
reconhecer dois planos de estruturação linguística, que coexistem natu-
ralmente em todo enunciado. O linguista francês André Martinet chamou 
dupla articulação a esta propriedade da linguagem humana (MAERTNET, 
1964). Esses dois planos, o do conteúdo e o da expressão, são solidários e 
interdependentes no que diz respeito à sua finalidade no discurso, embora 
cada qual tenha uma organização interna própria. 
[...]
Martinet chamou de primeira articulação ao plano do conteúdo (léxico- 
-gramatical), que inclui proposições, palavras, raízes, afixos, e de segunda ar-
ticulação ao plano da expressão, cujas unidades – acentos, sílabas, fonemas 
– são desprovidas de sentido.
44
Morfossintaxe
As unidades do plano do conteúdo: gramática e léxico
A oposição tradicional entre gramática e léxico fundamenta-se na exis-
tência de duas espécies de unidades na primeira articulação – ou plano do 
conteúdo – que passamos a examinar.
A frase abaixo talvez cause estranheza a um usuário do português:
1 – Encarceravam-se os prisioneiros em bolachas.
A frase 2, no entanto, lhe parecerá normal:
2 – Encarceravam-se os prisioneiros em cavernas.
A sequência 3 abaixo, indiscutivelmente inaceitável, deve, porém, esta 
propriedade a fatores distintos dos que causam a estranheza de 1.
3 – Os encarceravam prisioneiros se cavernas em.
Parece, entretanto, não haver dúvida de que, tendo de decidir entre 1 e 3, 
qual das duas é mais aceitável, qualquer falante de português apontaria 1. 
Agora vejamos 4:
4 – Englaufavam-se os vancioneiros em chilgartas.
Esta frase é evidentemente esquisita. Mas será a razão de sua esquisitice a 
mesma de 1 ou de 3? Certamente que não. Em 1 o problema é a improprie-
dade lógica de bolachas; em 3, é a ordem das unidades. Em 4, o que será? 
Seja qual for a razão, pode-se garantir que 4 tem algo que a identifica com 1 
e 2, mas falta a 3. Se, considerando 3 e 4, tivéssemos que apontar a sequência 
dotada de um arranjo interno aceitável, não hesitaríamos em eleger 4.
Como em 2, podemos desmembrar 4 em sujeito (os vancioneiros), núcleo 
do predicado (englaufavam) e Adjunto Adverbial (em chilgartas). Englaufa-
vam é seguramente um verbo (englaufar), possivelmente derivado de um 
nome (glaufo, glaufa ou glaufe) pelo processo de parassíntese. Vancionei-
ros, que se acha no plural, possivelmente deriva de um substantivo (vanção), 
cujo radical se modifica de um modo regular em português (canção/cancio-
neiro, nação/nacional, exibição/exibicionista). Podemos, ainda, admitir uma 
variante, como em 5:
5 – Os vancioneiros eram englaufados em chigartas.
Exatamente como em 6:
Morfossintaxe
45
6 – os prisioneiros eram encarcerados em cavernas.
Se, de outro modo, as formas novas fossem as que 2 e 4 têm em comum 
(em-avam-se-os-eiros-em-s), vejamos qual poderia ser o resultado:
7 – Ascaceritar-ne chus prisionaumel ra cavernaf.
O resultado foi caótico. Não há um arranjo, uma estrutura reconhecível 
que permita relacionar os elementos da sequência entre si ou com outras 
unidades capazes de ocupar as mesmas posições.
Todos esses fatos mostram que uma língua como o português reúne duas 
espécies de unidades mínimas no plano do conteúdo: unidades renováveis, 
inventáveis a qualquer momento, cuja substituição não interfere no arranjo 
interno da frase; e unidades que garantem a existência daquele arranjo. As 
primeiras unidades, ditas semantemas ou morfemas lexicais, pertencem a um 
conjunto aberto (léxico) e constituem a base dos substantivos, verbos e adjeti-
vos; as últimas, ditas morfemas gramaticais, pertencem a um sistema fechado 
(gramática) e exprimem certas relações entre as unidades lexicais no interior 
da frase (como o em 6), acionam a criação de unidades lexicais a partir de 
outras (como o –eiro de prisioneiro em face de prisão) expressam distinções 
obrigatórias que caracterizam os membros de certas classes (como o “m” de 
encarceravam, opõe graficamente esta forma ao singular encarcerava) etc.
Os papéis desempenhados pelos morfemas gramaticais variam de língua 
para língua. A diferença entre eles e os lexicais não depende a rigor do conteúdo 
que exprimem, mas das condições estruturais em que se encontram. A noção 
“humano”, salvo em oposições pronominais do tipo que/quem, algo/alguém, 
faz parte do conteúdo lexical dos nomes em português, uma vez que, em 
vocábulos como homem, mulher, menino, príncipe, alfaiate, nenhum índice 
formal regular os enquadra na categoria “humano”, ao contrário da categoria 
“singular”, reconhecida pela ausência regular de “s”, indicador formal da noção 
“plural” (homem/homens, menino/meninos, alfaiate/alfaiates).
Léxico e gramática: uma revisão
Este modo de opor léxico e gramática tem, contudo, o inconveniente de 
não reconhecer o caráter lexical dos artigos, preposições, pronomes, con-
junções, que, segundo a tradição, são desprovidos de morfema lexical. Essas 
unidades, porém, pertencem ao léxico tanto como os verbos, substantivos 
46
Morfossintaxe
e adjetivos. Todas vêm listadas no dicionário, todas têm um significado que 
compete ao dicionário informar, cada uma precisa ser aprendida como uma 
unidade lexical independente. Não há regra para a aprendizagem do signifi-
cado de esse, assim, o, quando, desde, até, como não há regra para a apren-
dizagem do que significam fosfeno, adrede, hialino, prelibar. No entanto, 
sabido que desde é uma preposição, pode-se prever sua posição na frase; 
sabido que o é um artigo, pode-se prever sua variação para concordar em 
gênero e número com o substantivo; sabido que prelibar é verbo, pode-se 
garantir que, dado o contexto apropriado, teremos prelibamos, prelibem, 
prelibasse etc.
Por outro lado, embora a mesma distinção gramatical oponha chego a 
cheguei e vou a fui, o conhecimento de chego conduz regularmente – na 
primeira e na segunda articulação – à forma cheguei, mas o conhecimento 
de vou não conduz regulamente ao de fui, motivo por que estas duas formas 
fonológicas têm de ser apreendidas independentemente uma da outra.
Temos neste último fato uma questão teórica delicada. Chego e cheguei 
são realizações concretas de uma diferença gramatical; lexicalmente, estamos 
diante de uma mesma unidade, o verbo chegar. No caso das formas vou/fui 
temos, por outro lado, uma profunda diferença fonológica que, à primeira 
vista, desautoriza associá-las a uma mesma unidade lexical; porém é evidente 
que os falantes do português estão aptos a elaborar a proporção segundo a 
qual vou está para fui, assim como chego está para cheguei, isto é, valho-me 
de fui para atribuir a um sujeito eu o ato de ir situado no passado, exatamente 
como me valho de cheguei para atribuir a um sujeito eu o ato de chegar situa- 
do no passado. Fui e vou diferem, portanto, fonológica e gramaticalmente, 
mas não quanto ao léxico, onde representam o mesmo lexema /ir/.
Dicas de estudo
PERINI, Mário. � Princípios de Linguística Descritiva. Introdução ao pensa-
mento gramatical. São Paulo: Parábola, 2006.
O livro se concentra nos aspectos sintático-semânticos da linguagem, fazen-
do um recorte dos fundamentos necessários para que o leitor possa fazer uma 
ideia do que seja “fazer linguística”.
Morfossintaxe
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TRAVAGLIA, Luiz Carlos. � Gramática e Interação: uma proposta para o en-
sino de gramática no 1.o e 2.o graus. São Paulo: Cortez, 1996.
O livro trata da gramática para fins didáticos considerando a concepção de 
linguagem como interação nas práticas sociais. Apresenta uma proposta de 
ensino de gramática a partir de diferentes gramáticas: “gramática de uso”, “gra-
mática reflexiva”, “gramática teórica” e “gramática normativa”.
Estudos linguísticos
1. Analise as proposições a seguir como abordagens pertencentes à gramática 
normativa ou descritiva, e descreva o motivo da sua análise.
a) A frase: “Me dá dois suco e três pastel” contraria uma regra morfossintá-

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