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Graduação de Serviço Social Série: 3ª Disciplina: Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos Do Serviço Social I Grupo: Carla de Castro Xavier Braga RA 5396803152 Glayce Kelly Castro RA 04392118754 Luciane Freitas dos Santos Costa RA 5522832217 Marina Teixeira Pacheco RA 5526838027 Desafio Profissional A relação do Serviço Social com a Igreja, o Estado e a burguesia. Tutor: Suellen Cristina de Aquino Rio de Janeiro, 20 de abril de 2018. I. Introdução Discorrer sobre o objeto de trabalho do Assistente social é, primeiramente, deixar claro que a questão social e respectivas expressões é o que se pretende observar e refletir. Assim, vale observar que “a questão social, como matéria de trabalho, não esgota as reflexões” José Paulo Netto. Tomando uma perspectiva conservadora os processos de trabalho assistenciais eram em décadas distantes “executores terminais de políticas sociais”, emanadas do Estado ou das instituições privadas. E nessa trajetória ao iniciar um processo de ruptura com o conservadorismo, e dentro do campo das políticas sociais, o Serviço Social se encaminhou como meio de acesso aos direitos sociais e à defesa da democracia. Destarte, se faz mais que necessário perceber as contradições da sociedade capitalista e das questões sociais que, diariamente, desafiam os profissionais assistenciais, de modo a pensar as políticas sociais como respostas dignas de vida para uma população carente e, nesse caminho, compreender a mediação que as políticas sociais representam no processo de trabalho do profissional. A abrangência da atuação do assistente social, não se pode deixar de considerar, exige conhecimento teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo. Dessa forma, a atuação desse profissional se orienta para a inclusão social e atendimento das demandas sociais. O profissional deve conhecer a realidade em que atua e possuir compromisso ético e moral com a classe trabalhadora e com a qualidade dos serviços prestados. Para Maria Carmelita Yazbek, os pontos de partida do processo de incorporação teórica da profissão de Assistente Social são ideias e conteúdos doutrinários do pensamento social da igreja católica, em seu processo de institucionalização do Brasil e as principais matrizes teóricas metodológicas acerca do conhecimento do social na sociedade burguesa. É na origem da profissão do Assistente Social que se dá a relação com as questões de base do pensamento social da igreja. A “questão social” é recebida como uma questão moral e com isso intervenções são atribuídas priorizando a família e os indivíduos apresentando essa forma como a solução dos problemas sociais. Nesse contexto, o serviço social tem a responsabilidade em atuar sobre os valores e comportamentos dos indivíduos, tomando como diretriz a referência moral da igreja católica porque, nesse caminho, a atuação se dará de forma menos resistente e melhor recebida. É só a partir dos anos 60 que o questionamento a esse referencial começa a surgir diante das novas mudanças econômicas, políticas, sociais e culturais. Na contemporaneidade a discussão do Serviço Social com centralidade no apelo e identidade com valores religiosos começa a tomar força pelas classes representativas. Essa discussão tem como perspectiva revigorar e acentuar o posicionamento laico da profissão. Encarar a atuação de um serviço que vai na direção de sanar e cuidar de situações sociais graves e recorrentes torna-se uma questão de não permitir a exclusão de grupos sociais por conta dos vínculos religiosos. Não se perde de vista, pois, que a religião foi a base do surgimento da profissão, o que ainda mantém a noção do trabalho como caridade e filantropia. Como evidencia Simões: [...] é dos grupos religiosos que a profissão surge. Essa afirmação não estabelece, portanto, a perpetuação dessa base. A contemporaneidade traz à tona momentos conflitantes diante dos desafios da atuação profissional do agente social. As mudanças que surgem começam a romper com padrões sociais pré-estabelecidos. Neste contexto, a atuação profissional nos dias de hoje ainda é permeada pela influência religiosa, não se pode negar. A religião é um elemento da cultura, está latente em cada ato de muitas pessoas e grupos sociais e, portanto, apresentar a laicidade do serviço ainda não é algo, em termos de prática profissional, fácil e possível em algumas instituições. II. Desenvolvimento A vinculação entre religião e Serviço Social existe desde a origem da profissão, já foi dito anteriormente, mas o que se pretende aqui observar é que há uma trajetória atual que se desenha na busca por uma profissão laica. Ainda há, na prática e exercício desse profissional, o sentido religioso, há muitas instituições que promovem situações a partir do apelo ou do motivo religioso. Percebemos também que esse apelo traz para o indivíduo que participa uma absolvição ou santidade quando se envolve em causas humanitárias religiosas. E dos assistidos ouve-se muito “Graças a Deus”, Deus enviou você para me ajudar, rezei muito por esse momento.....” Essas falas e atribuições, principalmente ao catolicismo, expressam esse sentido religioso. Há instituições religiosas (católicas, espíritas, evangélicas...) que encaram o profissional do Serviço Social como um mensageiro espiritual, aquele que tem poderes extraterrenos na execução do serviço em questão. Em algumas instituições, portanto, há uma forte tendência em alinhar o exercício profissional às convicções religiosas. Notamos que de alguma forma a religião continua se fazendo presente na prática profissional, de forma que, conscientes ou não, os profissionais têm instrumentalizado suas atividades de trabalho com seus valores religiosos, e quanto mais isso acontecer mais será impresso na imagem, e posteriormente nas práticas, do profissional a conotação religiosa. Há que se considerar, portanto, que o Estado Laico é parte das conquistas históricas no campo dos direitos. Nenhuma condição – religião, cor, raça, credo, opção sexual – pode ser fator de inclusão ou exclusão na cessão dos direitos. Junto com essa conquista constitucional, que é pouco marcada na sociedade, ainda se percebe que não há legitimidade da cidadania laica. O Estado deve garantir os direitos de todos os cidadãos independente da religião que professam, no entanto, na prática não é o que ocorre. Caminhando na ideia da sociabilidade do capital, o Estado incorpora dentro de suas estruturas papel estratégico na condução dos interesses dominantes, ou seja, Estado burguês. Estado que valoriza e garante direitos e condições aos que tem mais condições e deixa, por muitas vezes, à deriva, as classes pobres e necessitadas. E é aqui, nesse momento, que as instituições sociais entram. Entram para dar conta das necessidades dos que precisam, promovem ações de ajuda e de assistência numa perspectiva religiosa uma vez que são essas instituições que conseguem, através do apelo religioso, dar conta dessa demanda. Em tempos de crises econômicas, de disputa de poder e agravamento das questões sociais os Assistentes Sociais são desafiados a todo instante a criar e recriar possibilidades e estratégias de trabalho e, assim, obter meios de sobrevivência para uma população que vive à beira dos direitos e da dignidade humana. Observa-se que a partir da década de 70 inicia-se um período no qual o Serviço Social busca uma redefinição teórica da profissão e, nesse contexto, é que a área Assistencial começa a vislumbrar a postura laica como algo de relevância e condição essencial no exercício da profissão. A área começa a estabelecerdiálogo com as Ciências Sociais – condição essencial para que a postura laica se estabeleça. Ainda assim, na prática, observamos que o discurso se mantém dissociado da teoria e os valores pessoais de cada profissional ainda são evidenciados nos atendimentos das demandas do Serviço Social. O “o que eu penso e acredito” de cada profissional encabeça a conduta na assistência. Há que se perceber, portanto, a importância para a reflexão crítica acerca da influência que os valores religiosos acabam exercendo sobre a prática dos profissionais e terminam por enterrar as perspectivas teóricas que orientam a prática profissional. Essa é uma reflexão primordial na prática, há que se direcionar para uma concepção laica para o exercício da profissão. Prosseguindo no processo de contextualização histórica, os anos 80 foram marcados expressivamente por conquistas sociais. Foi um período que se inaugura, na profissão, o debate acerca da Ética no Serviço Social. Nessa trajetória fica marcado, também, que não se pretende construir uma recriminação ou aversão à religiosidade dos profissionais em Serviço Social. Nesse momento se entende que é importante compreender que o profissional do Serviço Social, assim como qualquer outro profissional, é formado por elementos culturais e sociais, e por isso mesmo, submetido pela sua subjetividade, não se pretendendo que seu modo de ser seja totalmente desclassificado. Os valores religiosos dos profissionais com a profissão não se constituem essencialmente em um problema, mas sim, saber lidar com esses valores na prática sem torná-la uma convenção religiosa (Simões). No exercício da profissão é impossível que as influências das nossas concepções morais e subjetivas não apareçam, mas isso não quer dizer que essas concepções determinarão nossas ações. Na prática profissional, possibilitando um certo distanciamento desses valores morais pessoais existe a ética, que, em qualquer condição humana, se incube de refletir os valores e a moral e que deve estar presente em qualquer tomada de decisão. A conjuntura histórica da profissão, nesse cenário, deve ser objeto de reflexão assim como as consequências profissionais que são provocadas pelo conteúdo subjetivo no qual o agir ético se sobressai. A ponderação no cotidiano deve se tornar prática recorrente como avaliação pessoal e profissional para que o Assistente Social avalie o modo como percebe os sujeitos e as políticas públicas. A dinâmica da realidade na qual se insere deve ser compreendida como uma visão que possui impactos dos valores, sejam esses valores morais ou religiosos. III. Conclusão Verifica-se, então, que as concepções de ajuda, benevolência e caridade estiveram presentes no cenário da Assistência Social e isso, atualmente, contribui para dificultar a compreensão da profissão como política pública e direito do cidadão que dela necessitar. Não desconsiderando os valores morais e sociais presentes nos indivíduos é preciso saber lidar com esses valores na prática sem torná-los parte da estrutura na qual se opera. A contemporaneidade se apresenta conflitante na manutenção das relações sociais pautadas pela naturalização de alguns costumes. As mudanças começam a romper com padrões sociais pré-estabelecidos, modificando a formação da família tradicional, as relações afetivas, a posse do corpo, mudanças de pensamento, na forma de conduzir a vida. Nessa direção, começamos a perceber que seguir uma nova ideologia tem sido o objetivo de muitas pessoas. Retomando aqui que o Serviço Social surge no seio da Igreja Católica parte- se do princípio que a profissão hoje toma um novo rumo quanto àforma de pensar a sociedade e intervir diante das diversas expressões da questão social. A relação teórica e prática aliada à perspectiva crítica do materialismo histórico são colocados como pontos centrais para entendermos todo o processo de renovação crítica do Serviço Social e o rompimento com o conservadorismo profissional. Assim, a atuação profissional nos dias de hoje ainda é campo de contradição entre a orientação teórica e metodológica e o fazer profissional do Serviço Social. Percebe-se que a influência religiosa ainda permeia o dia-a-dia de muitas instituições onde o Serviço Social está locado. A religião está mais próxima do que se pretende. A atuação laica vai se estabelecendo paulatinamente, ainda não é hegemônica em termos de prática profissional. O conservadorismo tão reclamado ainda é presente em várias ocasiões e espaços. Pensar a atuação da profissão implica em detectar como ela está inserida na sociedade sendo importante identificar as naturezas teóricas que a norteiam. Se, por um lado, a herança cultural e intelectual da Assistência Social carrega as bases do pensamento conservador dos componentes doutrinários da gênese da profissão, por outro lado a atuação dos profissionais na contemporaneidade começa a requisitar a distinção dos papéis entre profissional e assistido, a religião pode se manter sem ser esta a razão da ação social. Finalmente, considerando que a religião tem função e importância na sociedade afirma-se que a mesma não deve estar presente na atuação profissional de qualquer área. O direito público está além das caridades realizadas pelas práticas religiosas. A assistência social deve se firmar como direito garantido e não uma benesse de iniciativa pessoal e religiosa. A atuação do Assistente Social deve estar pautada pelos marcos regulatórios legais pela garantia do direito do cidadão. Referências bibliográficas: FALEIROS, Vicente de Paula. Saber profissional e poder institucional. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2001. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011. IAMAMOTO, Marilda Villela. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 14. ed. São Paulo: Cortez, 2008. MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço Social: identidade e alienação. 14. ed. São Paulo: Cortez, 2010. MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço Social: identidade e alienação. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2005. PIANA, Maria Cristina. A construção do perfil do assistente social no cenário educacional. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 233 p.
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