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SOCIOLOGIA ILHAS DE FELICIDADE

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ILHAS DE FELICIDADE
Como Teresa Caldeira define os enclaves fortificados? 
R: Teresa Caldeira mostra, tendo como caso representativo a cidade de São de Paulo, como a segregação social é reafirmada e reproduzida por meio da segregação espacial imposta às camadas mais baixas da população. A construção desses enclaves fortificados contraria o interesse da população em geral, já que produzem cidades fragmentadas que limitam os princípios básicos da  livre circulação e do acesso aos espaços públicos que, por sua vez, formam a base sobre a qual foram estruturadas as cidades modernas. Em síntese, seria um novo modo de conferir distinção social às camadas médias e altas em detrimento da democratização do espaço urbano.
 A habitação é uma forma de buscar e reafirmar a posição social, acentuando, dessa maneira, as diferenças de classes. O modo como são feitos os anúncios publicitários ratificam essa afirmativa. Tais anúncios põem em evidência um novo código de diferenciação social, além de enfatizar o isolamento como algo desejável. O principal apelo vincula-se ao aumento da violência urbana. A promessa subjacente é de que morar em um condomínio de luxo significa viver com segurança. Mas não é só isso, outros atrativos  são apresentados. O lazer, a proximidade com a natureza e a ordem também recebem ênfase.  Privilégios que, segundo Caldeira, servem mais para ostentação do que para o desfrute, visto que a utilização desses serviços pelos moradores  é escassa. 
Qual é a relação entre abertura política e crescimento do número de enclaves fortificados no Brasil?
R: Segundo analistas econômicos, o crescimento da dívida externa, mais a alta dos juros internacionais, associadas à alta dos preços do petróleo, somaram-se e desequilibraram o balanço de pagamentos brasileiro. Consequentemente houve o aumento da inflação e da dívida interna.
Com estes fatores, o crescimento econômico que era baseado no endividamento externo, começou a ficar cada vez mais caro para a Nação brasileira. 
Como consequência dessa situação, o número de pobres amplia-se. Entre 1977 e 1983, o número de pessoas vivendo com rendimentos inferiores a um dólar por dia aumentam de 17 milhões para 30 milhões. Se no passado a pobreza é registrada mais frequentemente no campo, dando origem a formas de banditismo rural como o cangaço, agora ela tem a cidade como principal espaço. Acompanhando o quadro de empobrecimento da população, a criminalidade urbana expande-se rapidamente, e a ela associa-se o tráfico de drogas. 
O Estado não cumpre com suas obrigações, e dessa forma, o setor privado acaba substituindo o Estado, conferindo conforto, segurança e qualidade de vida para aqueles que podem pagar. Essa lógica estendeu-se por vários outros setores, passando, por exemplo, da saúde ate os meios de transporte. 
Quais são os principais aspectos resultantes da comparação entre São Paulo e Los Angeles?
R: Comparada a São Paulo, Los Angeles tem uma estrutura mais fragmentada e dispersa 16. São Paulo ainda tem um centro e vários bairros construídos sob a forma de ruas-corredores que, apesar de todas as transformações, ainda são intensamente usadas por pedestres durante o dia. A Los Angeles contemporânea é polinucleada e descentralizada. O processo de fragmentação urbana de São Paulo pela construção de enclaves é mais recente que o de Los Angeles, mas já transformou as zonas periféricas e a distribuição espacial de renda e de funções econômicas de forma semelhante àquela verificada na região metropolitana de Los Angeles.
Enquanto São Paulo expressa o processo de transformação econômica e dispersão urbana de Los Angeles de forma menos evidente, é muito mais explícita e exagerada no que diz respeito à criação e imposição de separações e ao uso de procedimentos de segurança. Enquanto bairros de classe média-alta como o Morumbi exibem uma multiplicidade infindável de muros, grades de ferro e seguranças armados, o West Side de Los Angeles evita os muros e não vai além do uso de invisíveis alarmes eletrônicos e da alusão a serviços de segurança em pequenas placas anunciando "armed response" 18. Enquanto as elites paulistas se apropriam claramente de espaços públicos fechando ruas públicas com correntes e todo tipo de obstáculo físico, instalando guardas privados armados para controlar a circulação, as elites de Los Angeles ainda demonstram respeito pelas ruas públicas. No entanto, comunidades cercadas que se apropriam de ruas públicas já estão surgindo em Los Angeles, e pode-se argumentar que seu estilo de vigilância mais discreto está em parte associado ao fato de que os pobres estão longe do West Side, enquanto no Morumbi eles moram nas favelas vizinhas aos condomínios fechados. Outro motivo deve certamente ser o fato de a polícia de Los Angeles embora considerada uma das mais violentas dos Estados Unidos ainda é muito eficiente e pouco violenta se comparada à de São Paulo.
Apesar das muitas diferenças, é claro que tanto em Los Angeles como em São Paulo as convenções do planejamento urbano modernista e as tecnologias de segurança são usadas para criar novas formas de espaço urbano e segregação social. Nas duas cidades, as elites estão se recolhendo em ambientes privados cada vez mais controlados e abandonando os espaços públicos modernos para os pobres.
Você concordou com todos os argumentos expostos no texto? Discorra sobre os pontos que você concorda e sobre os que discorda (se houver), justificando os motivos.
R: As novas morfologias urbanas do medo dão novas formas à desigualdade, mantêm grupos separados e conformam uma nova sociabilidade que se opõe aos ideais do público moderno com suas liberdades democráticas. Quando se pratica a exclusão sistemática de algumas pessoas de certas áreas e quando não mais se supõe que diferentes grupos sociais devam interagir no espaço público, referências a princípios universais de igualdade e liberdade na vida social não são mais possíveis.
Uma das condições necessárias para a democracia é que as pessoas reconheçam os membros de grupos sociais diferentes dos seus como concidadãos, isto é, como pessoas que têm os mesmos direitos. Se isso é verdade, é claro que as cidades contemporâneas segregadas por enclaves fortificados não são ambientes que gerem condições que conduzam à democracia.

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