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Moraes Educar pela Pesquisa

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EDUCAR PELA PESQUISA: 
Exercício de aprender a aprender 
 
Prof. Roque Moraes 
"Há um tempo em que o professor ensina o que sabe; 
Depois vem um tempo em que ensina o que não sabe." 
Rubem Alves 
 
A educação pela pesquisa é uma modalidade de educar voltada à formação de sujeitos 
críticos e autônomos, capazes de intervir na realidade com qualidade formal e política. 
No presente trabalho pretende-se explorar os significados desta perspectiva de 
educação, assim como modos de implementá-la. Inicia-se com a descrição de três 
vivências de sala de aula que poderiam ser caracterizadas como educação pela pesquisa. 
A partir disto examina-se alguns elementos do processo de condução deste tipo de 
trabalho em aula. Pretendendo-se mostrar que tudo isto não pode ser expresso como um 
caminho linear, o texto em continuação examina alguns princípios que fundamentam 
esta proposta de trabalho. Com base nisto examina-se alguns dos produtos que se espera 
atingir na educação pela pesquisa, concluindo-se o trabalho com uma discussão de 
algumas formas pelas quais a pesquisa em sala de aula pode ser implementada, o que 
traz o leitor de volta aos exemplos apresentados no início do texto. 
Contando estórias 
O que são formigas? 
Helena, uma professora de segunda série do ensino fundamental inicia sua aula 
propondo a questão: o que são formigas? Uma questão aparentemente tão trivial 
conduziu a um intercâmbio de idéias de extrema riqueza entre seus alunos. Mais do que 
afirmativas surgiram novos questionamentos para os quais o grupo não tinha respostas 
satisfatórias: quantas patas têm as formigas? Para que servem as antenas? O que fazem 
as formigas com elas? Como movimentam as patas quando caminham? Formigas 
podem ter asas? Quantas partes tem o corpo das formigas? Formigas são insetos? 
Esta exploração inicial dos conhecimentos dos alunos deu origem a uma série de 
atividades. Inicialmente os alunos decidiram, juntamente com a professora, a irem ao 
pátio e pegarem formigas. Prenderam-nas em pequenos potes de vidro para observação. 
Na sala de aula soltaram-nas e fizeram inúmeras observações no sentido de responder a 
algumas das questões que haviam emergido. Novos questionamentos surgiram: o que 
comem as formigas? Como é o ninho das formigas? Como carregam sua comida? Como 
se reproduzem? O grupo optou por investigar algumas delas. Parte destas pesquisas 
foram realizadas em aula em pequenos grupos, parte em casa pelos alunos 
individualmente. 
Este conjunto de atividades perdurou por duas semanas. A partir disto surgiram novos 
pátio e pegarem formigas. Prenderam-nas em pequenos potes de vidro para observação. 
Na sala de aula soltaram-nas e fizeram inúmeras observações no sentido de responder a 
algumas das questões que haviam emergido. Novos questionamentos surgiram: o que 
comem as formigas? Como é o ninho das formigas? Como carregam sua comida? Como 
se reproduzem? O grupo optou por investigar algumas delas. Parte destas pesquisas 
foram realizadas em aula em pequenos grupos, parte em casa pelos alunos 
individualmente. 
Este conjunto de atividades perdurou por duas semanas. A partir disto surgiram novos 
questionamentos, envolvendo outros animais e o ambiente em que vivem, sempre tendo 
como ponto de partida o interesse dos alunos em encontrarem respostas para perguntas 
que se originavam do meio em que vivem. 
A partir disto a classe resolveu escrever um "pequeno livrinho" em que os alunos 
expressaram de diversas formas, especialmente em palavras e desenhos, as suas 
descobertas e aprendizagens... 
Quanto de água consumimos em nossas casas? 
Fernando, um professor de quinta série do ensino fundamental ia começar a trabalhar o 
conteúdo água em sua turma matutina de Ciências. Começou propondo uma pergunta 
aparentemente trivial: quanto de água consumimos em nossas casas? Propiciou então 
um ambiente de discussão em que cada aluno podia apresentar seus argumentos e 
conhecimentos sobre o tema. Na verdade a discussão mostrou que os alunos pouco 
sabiam sobre o consumo de água em suas casas. 
A partir disto alguém sugeriu que cada aluno trouxesse para a sala de aula uma "conta 
de água" de sua casa. O exame dos recibos possibilitou responder inicialmente à questão 
proposta, mas ao mesmo tempo fez surgir um conjunto de novos questionamentos, tais 
como: como varia o consumo de água ao longo de uma semana? E ao longo do ano? 
Onde em nossas casas se consome mais água? Qual o volume de água que se necessita 
para tomar um banho? Como podemos utilizar de modo mais eficiente a água em nossas 
casas? Por que processos passa a água que chega às nossas casas? Como funciona o 
hidrômetro? Qual a qualidade da água que consumimos? 
Selecionou-se um conjunto de questões e foram organizados pequenos grupos de alunos 
para procurar as respostas. Isto não só exigiu organizar atividades para coletar dados, 
como também envolveu os alunos na procura de informações em livros e outras fontes. 
Na medida em que se construíam as respostas às questões, cada grupo informava à 
classe as iniciativas que estava tomando e os resultados parciais obtidos. O professor 
acompanhava e mediava todo o processo. 
Finalmente, os participantes chegaram o um acordo no sentido de que cada grupo 
apresentaria os resultados de suas pesquisas em forma de materiais audiovisuais a serem 
expostos nos corredores da escola, de modo que todos os alunos pudessem beneficiar-se 
com os estudos feitos. Na aula também se organizou apresentações dos resultados finais 
das pesquisas, propiciando um diálogo rico entre todos os participantes da vivência. 
Na avaliação final da unidade os alunos apontaram para o interesse e o significado que 
representara o trabalho. Todos manifestaram que desta forma aprendiam como muito 
maior prazer e envolvimento. 
Como se avalia na escola fundamental? 
Berenice, uma professora de um curso de formação de professores de Ciências, 
lecionava uma disciplina que se propunha a introduzir os futuros professores ao 
processo de pesquisa. Em vez de simplesmente falar sobre como se faz uma pesquisa, a 
professora decidiu envolver sua turma de alunos em uma pesquisa coletiva. 
Começou decidindo coletivamente o tema da pesquisa. Dentre as opções propostas, o 
grupo optou por avaliação. 
Com esta decisão a professora, juntamente com sua turma, fizeram um planejamento 
inicial, resultando um pequeno projeto do trabalho. A partir disto os alunos foram 
envolvidos na construção de uma fundamentação teórica. Iniciaram por uma visita à 
biblioteca localizando livros, periódicos e outros materiais. Fizeram leituras e 
fichamentos, sempre com a mediação da professora. A partir disto foram construídos 
textos sobre avaliação, constituindo isto os referenciais teóricos da pesquisa. 
Enquanto isto o grupo havia decidido que seriam coletados dados junto a alunos da 
escola fundamental sobre as formas em que eram avaliados. Assim um grupo de alunos 
de quinta a oitava séries foi solicitado a escrever cartas a seus professores, expressando 
seus sentimentos e reações sobre a avaliação que os professores faziam com eles. 
Os dados coletados desta forma foram então analisados. Foram extraídas as principais 
idéias contidas nas cartas dos alunos e a partir disto redigiu-se textos expressando as 
idéias dos alunos. Isto possibilitou descrever como era a avaliação nas escolas, sempre 
na perspectiva dos discentes. Estas descrições foram então interpretadas, tendo como 
base os fundamentos teóricos construídos anteriormente. 
Ao longo de todo este processo houve inúmeras oportunidades de discussão, diálogo e 
intercâmbio de idéias entre os alunos e a professora. A partir disto os participantes 
construíram uma compreensão mais clara sobre a realidade em que atuarão futuramente. 
Finalmente todo este trabalho foi expresso em um relatório construído coletivamente 
pelo grupo.Na avaliação do trabalho os alunos se manifestaram no sentido de que uma proposta 
desta natureza representava uma ruptura em seus modelos pedagógigos, exigindo deles 
uma postura em que precisavam se assumir mais diretamente como responsáveis por sua 
aprendizagem. Isto, especialmente no início do semestre, representara momentos de 
insegurança e quase resistência às atividades propostas. De um modo geral a ruptura 
necessária para compreender e poder implementar este tipo de educação parece exigir 
mais do que a vivência de um semestre letivo. 
Processo 
Se examinarmos estas vivências de educação pela pesquisa, concretizadas em diferentes 
níveis de escolaridade, poderíamos sintetizá-las na seguinte proposta: 
Partindo do questionamento de verdades e conhecimentos existentes, a educação pela 
pesquisa favorece a construção de novos conhecimentos e argumentos, que 
fundamentados teórica e empiricamente são submetidos à crítica de uma comunidade 
argumentativa para então serem comunicados, constituindo o processo em modo de 
interveção no discurso coletivo e na constituição de suas verdades. 
Rafaela
Realce
interveção no discurso coletivo e na constituição de suas verdades. 
O processo de educação pela pesquisa inicia-se com o questionamento de verdades e 
conhecimentos já estabelecidos sempre no sentido de sua reconstrução. Educar pela 
pesquisa começa por perguntas, produzidas no contexto da sala de aula, com 
envolvimento ativo de todos os participantes. Sendo produzidos pelos envolvidos, as 
perguntas têm necessariamente significado. Partem dos conhecimentos que alunos e 
professores já trazem de sua vivência anterior e da realidade em que vivem. Tem a 
finalidade de fazer avançar os conhecimentos que os sujeitos da sala de aula já trazem, 
tornando-os mais complexos e conscientes. 
A partir do questionamento dos conhecimentos já existentes inicia-se um processo de 
construção de novos argumentos capazes de substituirem os conhecimentos 
questionados, argumentos que necessitam ser fundamentados e defendidos com rigor e 
competência. 
Toda pergunta mostra limitações num conhecimento existente. Preencher as lacunas 
existentes implica em pensar adiante do que já é conhecido, criar novas hipóteses ou 
modos de explicar e compreender as coisas. Isto precisa representar uma construção dos 
envolvidos, com ativa participação de todos. É o que denominamos construção de novos 
argumentos. Representa construir respostas para os questionamentos levantados. 
O questionamento e a construção de argumentos, mesmo podendo iniciar-se com os 
conhecimentos cotidianos e implícitos dos participantes, necessita fundamentar-se em 
argumentos teóricos rigorosos, o que é feito por meio de interlocuções teóricas com uma 
diversidade de autores. 
Uma vez de posse de um conjunto de perguntas a serem respondidas e acordadas 
coletivamente, é preciso ir em busca das respostas. Inicialmente os alunos, seja 
individualmente ou em grupos, constróem argumentos ou hipóteses iniciais a partir de 
suas idéias. Mas estes argumentos necessitam ser fundamentados. Não podem apenas 
expressar idéias do senso comum dos envolvidos, ainda que se possa partir delas. É 
preciso construir sua qualidade formal e científica. Isto pode ser feito pelo que 
denominamos interlocuções teóricas. Significa ler livros, explorar teorias, consultar 
autores no sentido de encontrar elementos que ajudem a fundamentar e apoiar os 
argumentos em construção. 
É importante compreender que as respostas dos questionamentos não vêm dos teóricos e 
dos livros. Vêm dos participantes. Entretanto, é importanate que os argumentos 
construídos pelos envolvidos sejam fundamentados em idéias de autores que já 
trabalharam estas questões anteriormente. É o que denominamos de interlocuções 
teóricas. A professora Helena poderá incentivar a consulta de livros que tratem de 
formigas. A Berenice encaminhou leituras sobre avaliação, construindo textos a partir 
delas. 
Além das interlocuções teóricas que poderão fundamentar os argumentos construídos no 
processo da educação pela pesquisa, também interlocutores empíricos poderão ser 
elementos importantes na construção de argumentos fundamentados para as novas teses. 
As interlocuções empíricas correspondem à realização de atividades práticas para 
encontrar e fundamentar respostas aos questionamentos. É o ir para o pátio, pegar as 
formigas e examiná-las com cuidado. É o ir para a escola e coletar dados de avaliação 
junto aos alunos. É o exame das contas de água para comparar o consumo e sua 
variação. 
Deste modo, bons argumentos são ancorados em dados da realidade. Promover 
interlocuções empíricas consiste em lançar algumas âncoras que estabelecem ligações 
com a realidade. 
Todo este processo, questionamento, construção de respostas, interlocução teórica e 
empírica, necessita ser associado ao exercício de expressar os produtos de cada uma 
destas atividades. É preciso produzir documentos que sintetizem os resultados deste 
trabalho. É a comunicação. 
Rafaela
Realce
Rafaela
Realce
Rafaela
Realce
variação. 
Deste modo, bons argumentos são ancorados em dados da realidade. Promover 
interlocuções empíricas consiste em lançar algumas âncoras que estabelecem ligações 
com a realidade. 
Todo este processo, questionamento, construção de respostas, interlocução teórica e 
empírica, necessita ser associado ao exercício de expressar os produtos de cada uma 
destas atividades. É preciso produzir documentos que sintetizem os resultados deste 
trabalho. É a comunicação. 
Dentro da educação pela pesquisa as novas verdades construídas necessitam ser 
expressas e defendidas em comunidades de comunicação para que possam estabelecer-
se no discurso. 
Portanto, não basta apresentar os resultados da pesquisa por escrito ou oralmente. É 
preciso deixar que esta produção seja criticada. Só assim pode ser aperfeiçoada. Só 
assim passa a fazer parte do conhecimento coletivo. 
Reunir as aprendizagens sobre formigas e outros pequenos animais em um pequeno 
livrinho é uma forma de comunicação dos resultados promovida pela professora Helena. 
Um relatório formal pode ser outra forma, conforme proposto pela professora Berenice. 
Já o professor Fernando juntamente com seus alunos escolheram a produção de cartazes 
como seu modo de comunicação. Todas estas formas estarão à disposição de um grupo 
maior de sujeitos para crítica e aprendizagem. 
Finalmente é preciso que se discuta um pouco a avaliação de um trabalho desta 
natureza. A educação pela pesquisa requer uma forma de avaliação que supere a cópia 
da cópia da cópia. Isto significa um processo avaliativo baseado na mediação da 
aprendizagem e da pesquisa realizada pelos alunos. 
Mesmo que provas não estejam necessariamente excluídas, elas certamente não 
constituirão o modo principal de avaliação. Conforme coloca Demo(1997), a educação 
pela pesquisa é um processo produtivo acompanhado. Os alunos, periodicamente, 
demonstram os produtos de suas pesquisas, tanto para o professor como para os colegas. 
A crítica resultante ajuda a reencaminhar os trabalhos no sentido de melhoria de sua 
qualidade. Esta é a avaliação em sua essência. 
Deste modo acabamos de examinar o processo da educação pela pesquisa. A partir do 
questionamento de conhecimentos dos participantes, procura-se respostas. Estas são 
apresentadas em forma de novos conhecimentos, que uma vez fundamentados teórica e 
empíricamente, são comunicados e criticados no sentido de melhoria de sua qualidade. 
Nisto mesmo já está incluída a avaliação. 
Fundamentos e princípios 
Pelo que se acabou de apresentar, a educação pela pesquisa, mesmo que tenha um 
encaminhamento metódico e organizaado dos trabalhos, não pode ser expressa em 
forma de um conjunto de procedimentos linear. Cada vivência de pesquisa em sala de 
aula terá seu encaminhamento. Não há receitas. 
Há entretanto um conjunto deprincípios que orientam e fundamentam este tipo de 
educação. É o que se discutirá a seguir. 
Na discussão dos fundamentos e princípios da educação pela pesquisa abordar-se-á a 
superação da aula copiada, a transformação dos alunos de objetos em sujeitos da relação 
pedagógica, a dialética entre iniciativas e trabalhos individuais e de grupos, a 
importância do envolvimento dos sujeitos em diálogo e discussão críticos, o 
envolvimento necessário dos participantes em produções de qualidade, conduzindo tudo 
isto ao aprender a aprender em que os sujeitos se assumem na construção de seu saber, 
ao invés de recebê-lo pronto de outros. Isto se expressa em forma de um argumento 
assim formulado: 
Rafaela
Realce
Rafaela
Realce
pedagógica, a dialética entre iniciativas e trabalhos individuais e de grupos, a 
importância do envolvimento dos sujeitos em diálogo e discussão críticos, o 
envolvimento necessário dos participantes em produções de qualidade, conduzindo tudo 
isto ao aprender a aprender em que os sujeitos se assumem na construção de seu saber, 
ao invés de recebê-lo pronto de outros. Isto se expressa em forma de um argumento 
assim formulado: 
A educação pela pesquisa, superando as limitações da aula tradicional, cópia da cópia, 
pretende a transformação dos alunos de objetos em sujeitos da relação pedagógica, 
envolvendo-os individualmente e em grupos em reconstruções e produções, atingindo 
uma nova compreensão do aprender tanto para os alunos como para os professores. 
A educação pela pesquisa possibilita superar a aula tradicional copiada, cópia da cópia, 
segundo terminologia de Demo(1997a), conduzindo a ambientes de aprendizagem em 
que os alunos assumem a reconstrução de seus conhecimentos, mediados pelo professor. 
Mesmo que a aula expositiva ainda possa ter espaço na educação, de acordo com o 
mesmo autor, só está autorizado a expor quem produz conhecimento. 
A superação da aula tradicional, fundamentada na pretensão de transferência de 
conhecimentos, tendo como base a autoridade do professor, implica em mover o foco da 
sala de aula do professor para o aluno. Neste sentido, na aula com pesquisa, os alunos 
passam de objetos a sujeitos da relação pedagógica. Na educação pela pesquisa o 
professor transforma seu modo de considerar os alunos, vendo neles sujeitos autônomos, 
capazes de questionamento, argumentação e produção. Assim, a utilização dos 
princípios da educação pela pesquisa possibilita transformar os alunos de objetos da 
relação pedagógica que são na pedagogia tradicional, em sujeitos do processo de sua 
aprendizagem. 
Isto significa que os alunos passam a ser considerados como sujeitos pensantes, capazes 
de tomar iniciativas. Há uma aproximação entre professor e aluno, passando o primeiro 
a assumir uma função orientadora e mediadora do processo construtivo do aluno. 
Considerando que isto se efetive verdadeiramente, todos os participantes do processo 
educativo passam a ter voz, passam a ter um envolvimento mais significativo em sua 
aprendizagem. Isto conduz naturalmente à valorização dos trabalhos de grupos, 
especialmente em termos de intercâmbios linguísticos e argumentativos. Entretanto, na 
dialética do trabalho grupal e individual, não pode ser esquecido o segundo elemento, o 
sujeito. Os sujeitos em sua individualidade necessitam tanta consideração quanto o 
coletivo. 
Assim, a aprendizagem na educação pela pesquisa ocorre tanto em grupos como na 
atuação individual, atingindo-se em cada tipo de envolvimento fins específicos. Há 
momentos em que o grupo concentra as atenções. Noutras oportunidades o foco é o 
sujeito em sua atuação individual. 
O grupo por excelência é um local para o desenvolvimento de capacidades 
argumentativas orais. Nele a linguagem é exercitada. Competências argumentativas se 
desenvolvem. O grupo também representa oportunidades de exercitar o aprender a viver 
com outros sujeitos. É o espaço para exercício da cooperação e desenvolvimento da 
solidariedade. 
Já no foco do trabalho individualizado são enfatizadas competências de interlocução 
teórica e empírica, resultando em produções escritas personalizadas. Certamente a 
produção, de modo especial a escrita, é uma das formas de os sujeitos construírem sua 
competência de argumentar e de assumirem sua qualidade política de intervenção e 
transformação. 
A produção em um ambiente de aula com pesquisa é um exercício desafiador e 
permeado de contradições, exigindo saber lidar com algumas antinomias ao longo do 
processo. Este trabalho de produção, adequadamente mediado, possibilita atingir 
resultados muito positivos, tanto em termos de qualidade formal das produções, como 
teórica e empírica, resultando em produções escritas personalizadas. Certamente a 
produção, de modo especial a escrita, é uma das formas de os sujeitos construírem sua 
competência de argumentar e de assumirem sua qualidade política de intervenção e 
transformação. 
A produção em um ambiente de aula com pesquisa é um exercício desafiador e 
permeado de contradições, exigindo saber lidar com algumas antinomias ao longo do 
processo. Este trabalho de produção, adequadamente mediado, possibilita atingir 
resultados muito positivos, tanto em termos de qualidade formal das produções, como 
de qualidade política e de transformação dos envolvidos. 
Na evolução das produções em direção a uma qualidade cada vez mais aprimorada é 
imprescindível o desenvolvimento de uma capacidade crítica acurada e rigorosa. Isto 
necessita ocorrer tanto em nível de sujeitos como de grupo. Fazer críticas rigorosas mas 
respeitosas às produções de colegas é uma das formas de melhorar a qualidade das 
produções num ambiente de aula com pesquisa. 
O diálogo crítico pode constituir-se em elemento de integração e mediação na utilização 
da pesquisa em sala de aula. Também é elemento essencial de construção de qualidade 
da educação pela pesquisa, especialmente por possibilitar o desenvolvimento de 
competências argumentativas capazes de permitir aos participantes intervir com mais 
qualidade em suas realidades. 
Finalmente, este conjunto de princípios da educação pela pesquisa, mais do que 
possibilitar a aquisição de conhecimentos, possibilita a aprendizagem de modos de 
aprender por conta própria, viabilizando o aprender a aprender, de uma "inteligência 
geral", segundo terminologia de Morin(2000, p.39), base da competência e autonomia. 
Dentro disto a construção dos conhecimentos, dando-se com um envolvimento ativo dos 
sujeitos, em parceria com professor e colegas, possibilita aprendizagens significativas e 
duradouras. 
É por isto que voltamos a afirmar que a educação pela pesquisa, superando o ensino 
bancário de transmissão de conteúdos, transforma os alunos de objetos em sujeitos da 
relação pedagógica, envolvendo-os numa reconstrução permanente de seus 
conhecimentos, tanto individualmente como em grupos, atingindo-se desta forma uma 
nova compreensão do aprender tanto para os alunos como para os professores. 
Produtos 
A discussão anterior já vinha apontando diferentes formas de crescimento individual e 
coletivo dos participantes de um processo de educação pela pesquisa. Focalizaremos 
agora mais especificamente esta questão. Iniciamos adiantando um argumento em que 
afirmamos que: 
A educação pela pesquisa constitui-se em forma de socialização e construção de 
autonomia dos sujeitos envolvidos, garantindo-lhes um domínio qualitativo do 
instrumental da ciência, numa preparação para intervenções transformadoras nas 
realidades em que se inserem. 
Dentre os produtos da educação pela pesquisa mais destacados está o desenvolvimento 
da autonomia e socialização dos sujeitos envolvidos. 
Na medida em que os envolvidos neste tipo de trabalho participam das decisões sobre o 
encaminhamento dos trabalhos, necessitam fazer opções próprias sobre formas de 
encontrar respostas a questionamentos, se envolvem em produçõesindividuais e 
precisam saber defender seus pontos de vista, tornam-se mais autônomos. 
Por outro lado a convivência em um ambiente crítico, em que cada um respeita e 
valoriza os colegas e suas produções, mesmo que criticando-as com severidade, propicia 
a emergência de um ambiente de convivência e de socialização dos sujeitos envolvidos. 
Neste sentido o envolvimento em pesquisa em sala de aula propicia o desenvolvimento 
Na medida em que os envolvidos neste tipo de trabalho participam das decisões sobre o 
encaminhamento dos trabalhos, necessitam fazer opções próprias sobre formas de 
encontrar respostas a questionamentos, se envolvem em produções individuais e 
precisam saber defender seus pontos de vista, tornam-se mais autônomos. 
Por outro lado a convivência em um ambiente crítico, em que cada um respeita e 
valoriza os colegas e suas produções, mesmo que criticando-as com severidade, propicia 
a emergência de um ambiente de convivência e de socialização dos sujeitos envolvidos. 
Neste sentido o envolvimento em pesquisa em sala de aula propicia o desenvolvimento 
de capacidades argumentativas e científicas, capazes de imprimir qualidade formal às 
produções originadas na educação pela pesquisa. 
Mas, o verdadeiro produto da educação pela pesquisa é a sua qualidade política 
transformadora. Na medida em que a educação pela pesquisa promove sujeitos 
autônomos e capazes de decisão própria, possibilita a transformação das realidades em 
que estão inseridos. 
Isto pode ocorrer de diversas formas. Numa primeira instância o próprio 
desenvolvimento de sujeitos mais autônomos e críticos já se constitui em transformação 
importante. 
Entretanto, na medida que este tipo de sujeito se envolver em grupos sociais mais 
amplos, intervindo na constituição do discurso e das verdades que o orientam, assumem 
um papel de intervenção política mais amplo. É o que denominamos de qualidade 
política. 
Esta qualidade política não se manifesta apenas para além da escola, mas ajuda a 
transformar o próprio ambiente escolar e seu discurso. 
Considerações finais 
A educação pela pesquisa pode ser concretizada de muitos modos diferentes. Não se 
constituindo em uma técnica linearizada, mas representando uma metodologia num 
sentido amplo, pode dar origem a diferentes modos de implemantação, sempre com base 
na capacidade criativa dos envolvidos. 
Entendemos que os melhores encaminhamentos são aqueles que combinam atividades 
individuais, de pequenos grupos e de um grande grupo. Entretanto, em cada experiência 
específica, um destes tipos de agrupamentos poderá ter maior ênfase. Assim, enquanto o 
Fernando trabalhou principalmente com base em pequenos grupos, a Berenice 
proporcionou uma forma de trabalho em que havia grande ênfase no grande grupo. 
Entretanto, é nosso entendimento de que, em qualquer das formas de organização da 
pesquisa em sala de aula, é importante que haja um momento de produção individual, 
em que cada participante assuma sua própria produção. Isto é essencial para que o 
processo atinja os objetivos que se propõe. 
As vivências de educar pela pesquisa de um grupo significativo de professores têm 
demonstrado que esta é uma proposta desafiadora. Não é um caminho sem dificuldades. 
Mas como coloca Maturana, quando se está frente a um problema verdadeiro, ninguém 
sabe a resposta, nem conhece o caminho até ela. Tudo necessita ser construído. Neste 
sentido concluímos esta nossa exploração pela educação pela pesquisa afirmando: 
 
A pesquisa em sala de aula constitui-se numa viagem sem mapa; é um navegar por 
mares nunca antes navegados; neste contexto o professor precisa saber assumir novos 
papéis; de algum modo é apenas um dos participantes da viagem que não tem 
inteiramente definidos nem o percurso nem o ponto de chegada; o caminho e o mapa 
precisam ser construídos durante a caminhada. 
mares nunca antes navegados; neste contexto o professor precisa saber assumir novos 
papéis; de algum modo é apenas um dos participantes da viagem que não tem 
inteiramente definidos nem o percurso nem o ponto de chegada; o caminho e o mapa 
precisam ser construídos durante a caminhada. 
E isto nos faz retomar o pensamento desafiador de Rubem Alves: 
"Há um tempo em que o professor ensina o que sabe; 
Depois vem um tempo em que ensina o que não sabe." 
Bibliografia 
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