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Desejo Sexual Uma investigação filosófica Roger Scruton Resumo

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Desejo Sexual: Uma investigação filosófica – Roger Scruton – Resumo
Prefácio: O desejo sexual foi, depois de alguns autores como Freud, cientificado demais. De tal
forma que perdemos o elemento humano na análise do mesmo. O sexo para o autor, tem uma 
decência, mas para entendê-la necessitamos entender a indecência.
Capítulo 1 – O Problema
Autores como Platão e posteriores como São Tomás de Aquino acreditavam que o desejo 
sexual era apenas um impulso, que fugia do amor racional e, para eles correto. Daí surge o 
amor platônico que é apenas a sensação erótica mas não instintiva. Para o autor isto não está 
certo, e ele irá argumentar que o desejo sexual é fruto da intelectualidade humana, e por isso 
deve ter uma ética. Sexo normalmente é visto como algo "bom por si só", as coisas ruins que o 
envolvem não estão diretamente ligados a ele, como a violência sexual que é negativa por ser 
violenta e não sexual. Porém, ao analisar questões sexuais como masturbação, fornicação etc, 
ele tende a ir contra indivíduos como Freud e dizer que estão erradas, por mais que não seja 
judicialmente errado. O que será feito aqui será uma investigação filosófica, e tendo em vista 
isso, precisamos entender alguns conceitos como transcendentais e empíricos. O primeiro dá 
conta de explicar a experiência humana e o segundo, o estudo da análise científica. Na análise 
científica por vezes não temos a dimensão que realmente nos afeta e que moldou determinada 
ação na sociedade ou no indivíduo. Como por exemplo as constelações, que são criações 
humanas devido às nossas contingências, mas que não tem padrão científico algum. Ou seja, 
ficar se atendo a questões científicas por vezes nos faz deixar de dar a real importância ao que 
nos afeta. Neste ponto, chamaremos essa nossa consciência do mundo externo (baseado em 
ideias como crença, percepção, imaginação) de "Lebenswelt". O autor então tenta descrever o 
desejo sexual nesse Lebenswelt e assim percebe que uma descrição científica do mesmo não 
explica o fenômeno humano que o caracteriza. Considere se relacionar com alguém apenas se 
preocupando com sua dimensão química e molecular, seria impossível ter sentimentos como 
raiva ou alegria em relação a algo assim. Coisa e ser humano estão divididos filosoficamente a 
tempos, e Kant foi um expoente nesse ponto de vista. Ao fim desse capítulo o autor expõe que 
irá tratar de vários assuntos envolvendo sexualidade por vezes a luz da religião, não como 
fonte de conhecimento própria mas sim dos efeitos na sociedade, esses efeitos fazendo parte 
do Lebenswelt irão ser importantes para entender a dimensão ética desse desejo.
Capítulo 2 – Excitação
O fenômeno para seres racionais têm camadas de significado totalmente diferentes dos outros 
animais. Não podemos entendê-lo apenas como um processo mecânico hormonal e 
reprodutivo. Podemos começar percebendo essas camadas no ato do beijo. Ele induz 
excitação mas não pelo seu processo físico, afinal de contas na boca não temos a mesma 
quantidade de promotores dessas sensações como em zonas erógenas. E, se o simples ato 
de beijar causasse esse tipo de professor, beijar um parente ou mesmo numa peça de teatro 
teriam os mesmos efeitos que o beijo de um casal apaixonado. O que transforma o prazer do 
beijo no prazer sexual é a excitação, ela muda o conteúdo intencional das ações. Para 
compreender melhor esses conceitos devemos entender e diferenciar prazeres intencionais 
dos não-intencionais. Um exemplo de não intencional é o prazer que se tem num banho 
quente, não há controle sobre esse prazer, a menos que uma racionalidade intencional, como 
descobrir que a água na verdade é ácido, mude o conteúdo da nossa sensação, por mais que a
ação do banho seja a mesma. O autor cita o exemplo de uma condessa que sentia prazer em 
sentir as bicadas de uns patos nas suas coxas, nesse ponto ele argumenta que não era 
exatamente a sensação física que a deixava excitada, e sim o fato dela estar "se rebaixando" à 
ação dos patos sobre ela. A bestialização é sempre algo horripilante, a menos que se veja os 
animais como caricaturas humanas, e se sentir associada com uma delas, ou seja, se 
rebaixando e cortando o elemento de responsabilidade humana da relação, é isso que dá o 
prazer. Aí temos o surgimento da fantasia, que são pensamentos ordenados para dar sentido à
ações mecânicas. A excitação verdadeira é uma tendência para o outro, ações como o carinho 
nos permitem entender melhor esse conceito. O carinho acaba por ser a "linguagem" que 
comunica que você está em função da outra pessoa e a outra pessoa em sua função 
(elementos de linguagens estão normalmente fora de fantasias, principalmente as bestiais). 
Claro, não podemos resumir todo o ato de desejo sexual como uma linguagem, algumas ações 
não podem ser "traduzidas". O desejo permite umas cadeias de pensamentos ad eternum, 
como Sartre dizia, a reciprocidade é uma delas (estou com desejo porque o outro está com 
desejo, que está com desejo porque eu estou com desejo etc.) e dentro desse contexto existe 
também a linguagem. Por exemplo, quando uma mulher demonstra traços de ninfomania, ela 
não está preocupada com a mensagem que um instrumento fálico a passa, pois, em geral, ele 
não pode corresponder a seu apetite. Da mesma forma que olhar por vários horas um desenho 
mal feito não vence o apetite de olhar belas obras de arte. A excitação sexual tem uma 
intencionalidade epistêmica, ou seja, ela depende do conhecimento e descoberta do outro, e 
isso não tem como ser substituído por "outra pessoa" além daquela que você deseja. Essa 
excitação, por consequência, necessita de privacidade, essa entrega não pode ser completa 
aos olhos do outro. Por isso numa obra citada pelo autor, a figura das duas pessoas se olhando
no espelho durante o ato toma tons cômicos. Para concluir o capítulo, o autor afirma que esses 
são elementos iniciais para a negação da teoria de Platão que desejo e excitação estão 
desvinculados.
Capítulo 3 – Pessoas
Para poder argumentar que o desejo sexual é algo presente apenas em pessoas, o autor 
precisa definir o que é pessoa. Para ele um animal não é uma pessoa e, por consequência, ele 
não tem desejo. Mas o animal é um ser paradigmático, onde pode nos servir de laboratório 
para a compreensão de conceito de pessoa. Por exemplo, os animais podem ser definidos 
como uma Unidade Real, onde o todo vale mais que a soma das suas partes. Uma pedra 
continua sendo uma pedra quando repartida, mas um animal não. Porém, diferente de um 
animal, uma pessoa tem consciência de si mesma, e só um ser consciente pode sentir desejo, 
projetar coisas no futuro, presumir responsabilidades, todos conceitos presentes apenas em 
pessoas. A linguagem é ponto importante nesse conceito, pois com ela nos diferenciamos de 
animais ao interpretar eventos externos. Quando um cavalo se fere ele não consegue construir 
uma argumentação para não passar naquele lugar ou naquela situação que o feriu. Mesmo se 
existissem seres inteligentes sem linguagens, nós, que a temos, teríamos que criar uma 
linguagem para eles, caso eles a tivessem (parecido com o que fazemos com bebês). Neste 
ponto, podemos argumentar que um animal se distingue de outros como indivíduo, mas a sua 
individualidade é igual a qualquer outro. Aqui temos então o que chamamos de “caso em 
primeira pessoa” onde o indivíduo toma suas responsabilidades e pode arguir sobre coisas que
o afetam, como dor por exemplo. Algo diferente de uma pessoa não teria como, mesmo um 
animal com dor não tem capacidade intelectual de se perceber como um indivíduo, por ter 
dores. Um bebê, por mais que seja um ser humano, ainda não tem capacidade intelectual para 
dizer que está com dor, e quando criança pode usar essa frase sem realmente estar, não como
uma mentira, mas por não estar a par das responsabilidades e intenções que este evento pode 
lhe causar. A ideia de intenção é bem ilustrativapara compreendermos o que é ser uma 
pessoa, pois quando uma pessoa não cumpre com uma intenção, não sendo por ter mudado 
de ideia ou por impossibilidade temporal, temos situações bem delicadas de insanidade ou 
irracionalidade. Agentes que têm desejos sexuais, tem em algum nível essas características. 
Então, o autor cita que tudo que se refere à pessoas está no espaço da interpessoalidade, e 
que:
1 - Não pode haver uso verdadeiro da linguagem sem os privilégios do “caso em primeira 
pessoa”;
2 - Com esses privilégios, ele se torna um ser racional;
3 - Então ele pode “dar e receber” razões de outros seres racionais.
Para concluir, o autor diz que as ideias Kantianas de Eu transcendental, que é aquele que se 
percebe acima da natureza e não sofre os efeitos dela, não existe, porque o único ambiente 
que este pode exercer sua individualidade é no mundo empírico. Conceitos como esse são 
apenas sombras da identidade atômica e real “eu”.
Capítulo 4 - Desejo
Como já argumentado, animais têm muitas diferenças em relação aos humanos no que 
acomete a individualidade. Uma pessoa, diferente de um animal, não está sujeita a erro quando
algo que lhe caracteriza como ser único (por exemplo a dor) lhe ocorre. Questões como a 
"perspectiva em primeira pessoa" são importantes aqui para entendermos o desejo. Um ponto 
nesse estudo, a dependência da visão do outro sobre mim. Não nos excitamos apenas pelo 
outro como indivíduo, mas pela visão que ele tem de mim. Levando em conta que ele como 
humano racional sabe que também tenho essas competências, temos a mistura que inicia o 
processo. Como no exemplo citado pelo autor onde dois homens que não podiam se tocar e se
comunicar conseguem ter seu momento de êxtase à distância apenas com mímica. Logo, o 
outro acaba se tornando parte de mim por ser em parte responsável pelo meu desejo 
involuntário. Este conceito de involuntariedade é importante na excitação, pois elementos como
sorriso e rubor, que são totalmente involuntários, induzem muitas reações sexuais. Quando 
vemos uma pessoa sorrir ou ficar ruborizada, sem dúvida temos a conclusão de que ela está 
devido a alguém ou algo. Por mais que esteja sozinha, em seus pensamentos existem coisas 
que a competem. Para compreender a diferença entre os desejos humanos em relação ao 
desejo sexual, a compreensão da encarnação é importante. Alguns autores acham que o corpo
é apenas um instrumento para a ação do eu, porém é mais válido, até mesmo por questões 
científicas, associar o corpo ao indivíduo, eu sou meu corpo. E é justamente por eu ser meu 
corpo, que ações involuntárias destes são tão importantes no âmbito sexual: sorriso, choro, 
rubor etc comunicam vontades, pensamentos e desejos que nos caracterizam. É absurdo 
imaginar alguém que se apaixona apenas por órgãos sexuais, por mais que sejam eles que 
para alguns autores, têm toda a função sexual. O comum é nos apaixonarmos pelo resto, que é
o ponto principal de toda demonstração involuntária. Existe o conceito de pessoas 
desencarnadas, estes podem ser instituições como empresas, o Estado, ou até mesmo o 
próprio deus. Por mais que tenham alguns sentimentos humanos em relação a esses 
"indivíduos", não é possível que tenhamos desejos sexuais pelos mesmos, de tal forma que 
percebemos aí um vínculo entre desejo e encarnação. Enquanto alguns estudiosos como 
Freud e aqueles do Relatório Kinsey dizem, o desejo sexual está apenas associado à 
modificações nas glândulas e o orgasmo é o objetivo final de todas essas alterações no corpo. 
Porém, se olharmos a situação no ponto de vista humano,, percebemos que na verdade o 
desejo está fora de si. Quando queremos nos relacionar com alguém, dizem que "queremos 
ela/ele". O desenvolvimento da linguagem nesse âmbito é muito revelador, porque 
normalmente nunca podemos substituir o "quero ela" por "quero fazer sexo com ela", não é o 
ato que se busca, e sim o indivíduo. Se fosse o ato, a substituição de ela por "outra" ela, ou 
simplesmente um animal ou objeto, seria o suficiente. O pensamento individualizante está tão 
presente no âmbito do desejo sexual que por vezes na literatura, como em Romeu e Julieta, é 
necessário que exista a desvinculação da pessoa com seu nome para que o desejo da 
mocinha da obra seja concretizado. Dessa forma, observamos o fenômeno de que, ao 
imaginarmos que estamos diante do objeto do nosso desejo sentimos prazer mesmo que este 
não o seja, e a repulsa vem quando isso se descobre. Novamente, podemos desmistificar a 
associação de desejo sexual e fome, em enquanto a fome não denota a necessidade de 
individualização (posso comer um prato de cenoura, independente de ser "este" prato ou 
"aquele") o ato de sentir desejo por uma pessoa não lhe imbui de sentir por todas as outras. A 
ética kantiana, tão usada em nossa sociedade, não é muito feliz ao tentar explicar o desejo 
sexual, pois ela erroneamente associa desejo com apetite, mas diferente da fome, que 
necessita de fontes animais e vegetais, o desejo sexual necessitaria de seres humanos. Esta 
visão do "imperativo categórico" não leva em conta a "intencionalidade individualizante" e seu 
"foco na encarnação". Levemos em conta também a importância da curiosidade no desejo 
sexual, enquanto seres racionais temos essa necessidade e prazer pelas respostas de nossas 
dúvidas, em geral isso é levado ao sexo, porém, para o autor, ele se dissolve na hora que o 
amante começa seus atos, sai a curiosidade e entra a preocupação pessoal. De tal forma que 
vem a pergunta: qual o objetivo do desejo? Ao fazermos uma analogia com o jogo de futebol, 
por vezes podemos nos confundir que nesse jogo o objetivo é o gol, o que não é o caso. 
Podemos perceber 4 tipos de objetivos para este: o imediato (pontuar), o longínquo (vencer), o 
motivo (diversão) e a satisfação (experiência significativa). A essa altura do livro ainda não 
temos todas essas respostas, mas temos a imediata que é a "união com o outro", o contato 
físico do tipo que é causa e objeto da excitação. De tal forma que quando alguém está sedento 
por sexo, ele não está com desejo por alguém, mas com desejo pelo desejo, este só se 
configura como desejo sexual quando a mulher (que no caso do exemplo do marinho a longos 
dias apenas vendo homens) é a primeira mulher que se apresenta. O prazer sexual mútuo 
também é um dos objetivos, quando um dos lados não se preocupada com o prazer de outrem,
surgem as chamadas perversões. Nos casos mais graves pode chegar a perversões de 
necrofilia ou ao usar a imagem de outrem sem a sua permissão, em casos de justiça. Este 
último caso curiosamente ocorre quando o outro é objeto de desejo e não o quer ser. O 
fenômeno de sê-lo é importante neste contexto, pois o mesmo ato sexual que causa desgosto 
em alguém, pode não causá-lo caso seja desinteressado (esbarrações num ônibus), estes 
mesmos atos quando imbuídos de desejo de um só dos lados são criminosos, como já citado. 
Para concluir, o autor diz que orgasmo não é objetivo do prazer pois ele pode ser objetivo 
mecanicamente e mesmo assim não satisfaz todos os nossos interesses sexuais e que existem
duas etapas importantes no caminho do desejo que irão ser comentadas, intimidade e a 
realização do desejo no amor erótico.
Capítulo 5 - O Objetivo Individual
Para definir a individualidade, o autor tem seis ideias:
 – O universal e o particular: para que você despreze alguém, é necessário que ele tenha 
algum elemento para isso, se outro indivíduo tiver o mesmo elemento, também será odiado.
 – O fundado em razões: algo que uma pessoa tem como qualidade pode ser motivo para ser 
amada, porém surge a discussão: você ama a pessoa se ela deixar de ter isso. Em geral, é um 
conjunto de razões que vai definir o “ele” que eu amo.
 – Atenção e desatenção: aqui o autor introduz o conceito kantiano de “interesse 
desinteressado” que surge de elementos que você não busca mas te encanta esteticamente.
 – O propósitoe o despropositado: nem sempre um relacionamento tem objetivos. Uma 
amizade, por exemplo, é um tipo de relação interpessoal sem um objetivo a ser seguido, mas é 
um fim em si só.
 – O transferível e o intransferível: aqui o conceito fica mais claro, quando estamos gostando de
alguém não podemos simplesmente transferir esse sentimento para outra pessoa. Ser tão bom 
quanto não vale, não é possível. 
 – Mediato e imediato: Posso gostar de alguém sem conhecer simplesmente por alguma 
característica que sei que a pessoa tem, esse é o caráter imediato da individualidade. 
Aqui já podemos fazer uma distinção de amor e desejo, pois o amor tem objetivos e razões. 
Porém o desejo é muito forte também, o que normalmente o faz ter atitudes que não consegue 
estimar. O conceito do eu toma conta do capítulo, onde ele define que se relacionar com 
alguém é se relacionar com o “eu” dele. Mas ele não é tão individual ao ponto de não termos 
uma concepção clara do que ele experimenta, apenas por ser um ser individual, suas 
experiências podem ser universais. Quando nos relacionamos com ele, levamos em conta o 
nosso eu, e de tal forma, ao eu único do próximo. O autor começa então a falar sobre o 
paradoxo de Sartre, que não explica a importância do “outro” na fenomenologia do prazer 
sexual. Para ele tem duas formas de consumar a união de duas pessoas, o desejo sexual 
normal e o sadomasoquismo. Para Sartre a primeira desaba na segunda, pois o objetivo é 
sempre se apropriar da encarnação do outro. Alguns autores como Hegel dizem que não é o 
desejo sexual que tem essas contradições, mas sim a luxúria, que é a bestialidade humana que
em linhas mais pesadas chega ao estupro. Para o autor, o desejo não tem contradições, pois 
ele leva ao trabalho mútuo, que é diferente das conclusões paradoxais de Sartre. Discorrendo 
sobre o objetivo do desejo, o autor conclui que este é entrar o outro em seu corpo. No qual nós 
acabamos por ter essa busca pelo corpo do outro, pois é lá que ele demonstra a sua 
individualidade, no sorriso que percebo que o estou afetando sem o seu controle. Por tanto, 
quando eu beijo, se não estou sendo perverso, estou beijando o sorriso e não a boca, o eu que 
se revela em ações involuntárias e não a ferramenta corpo. Então o autor propõe sobre o 
desejo as seguintes afirmações:
 – A intransferibilidade tem fundamento no objetivo do desejo
 – o objetivo do desejo é individualizante
 – Esses pensamentos individualizantes definem na individualidade ilusória (perspectiva de 
primeira pessoa) e da verdadeira (corpo humano).
 – O desejo tenta unir esses dois padrões.
Alguns elementos de contato estão em outros tipos de relação, por exemplo com crianças, mas
eles não denotam excitação, justamente porque a criança ainda não tem uma perspectiva em 
primeira pessoa formada para que tenhamos esses vínculos e buscas. Esta busca da 
perspectiva em primeira pessoa é extremamente importante no entendimento do desejo, 
devemos levar em conta que, por mais que busquemos este eu verdadeiro, nunca estaremos 
"na pele" da pessoa para vivenciá-lo. Esta vontade é tão forte, de ver o que o outro está vendo,
que alguns cometem o erro de fazer sexo se olhando no espelho. Claro, alguns autores 
moralistas cristãos como Agostinho demonizavam totalmente o sentimento sexual, dizendo que
ele era o reflexo da queda. Vale a pena destacar ao final do capítulo que por vezes os 
humanos empreendem para se amarem como animais, tirando o elemento individualizante da 
jogada, como, por exemplo, no poliamor. A experiência mostra que esse tipo de 
desenvolvimento só destrói o desejo. Apenas quando acreditamos fielmente (por mais que 
cientistas digam o contrário) que cada indivíduo é único para nós no que compete a desejo 
sexual, é que nos livramos de ansiedades, sentimentos falsos e luxúria. 
Capítulo 6 - Fenômenos Sexuais
Neste capítulo o autor refletirá sobre experiências sexuais fora da normalidade.
 – Obscenidade: Quando algo se torna obsceno sexualmente falando, isto ocorre quando 
vemos a relação sexual em terceira pessoa. Obras artísticas que observam o sexo em primeira 
pessoa normalmente não usam de elementos como órgãos sexuais para explicá-los. Diferente 
da pornografia que foca nisso. Neste âmbito, a curiosidade toma papel importante, pois por 
vezes ela supera o desejo, e quando ocorre o fim da relação sexual, esses elementos nos 
envergonham. Como diziam os romanos, “animal post coitum triste”. Dizendo que essa tristeza 
vem da nossa alma animal. De acordo com o autor isto é meio errado pois nosso desejo não 
surge disso. 
- Modéstia e vergonha: São sensações difíceis de lidar. A vergonha, por exemplo, é perigosa 
para o indivíduo que a sofre, pois normalmente é fruto de uma evidência que é impossível de 
ser contradita. O autor promove a ideia, baseado no estudo de Havelock Ellis, que a vergonha 
sexual é um tipo diferente deste fenômeno. E que possivelmente está associado com o lado 
escatológico dos órgãos sexuais. Podemos evidenciar isso até nas palavras utilizadas para se 
entender alguns conceitos sexuais (como puro e impuro). Levando em conta que seios também
são fruto da vergonha sexual, esse estudo não está completamente certo. Essas teorias não 
explicam, então, a vergonha sexual. Podemos observar outros elementos interessantes, como 
por exemplo a vergonha no pós-sexo. Este desprezo por si mesma surge pois (a mulher em 
específico) percebe que aquele que lhe fez mostrar sua nudez não o deseja mais. Percebemos 
então que essa "vergonha sexual" é fruto de uma questão maior, a vergonha do corpo, que em 
outras palavras têm medo de demonstrar a encarnação do eu no corpo para os outros.
 – Significado dos órgãos sexuais: O autor mostra que esses órgãos, como o corpo, indicam 
individualidades que não controlamos. Somos escravos desses órgãos, não os controlamos, 
como um sorriso ou choro. Os elementos escatológicos que esses órgãos permeiam 
demonstram a nossa dependência do corpo. Na arte, alguns homens demonstram ódio a seu 
pênis quando o mesmo não funciona, querendo que o mesmo pare de funcionar para aquilo 
que também serve, urinar.
 – Prostituição: Vencer o próprio corpo é endurecer a alma, pois é impossível desvincular sua 
individualidade do seu corpo. Tentar reduzir uma relação sexual a um custo monetário tende a 
minimizar a personalidade da pessoa, apoiando-se na perversão da transferibilidade sexual já 
discutida aqui. No fim, o homem que busca isso usa o corpo da mulher como uma ferramenta, 
transformando a mulher num meio. Numa sociedade de consumo como a nossa, a beleza da 
mulher acaba se “bonecalizando”, por isso que as prostitutas e modelos de passarela tem esse 
aspecto. E assim, a mulher prostituta por sua vez, busca seu prazer no dinheiro, mas isso não 
é possível, pois o dinheiro não tem nem um aspecto individual admirável. No máximo, ela teria 
prazer sobre o poder do homem, mas esse elemento não se mostra potencializado numa 
relação de prostituição.
 – Enamoramento: Aqui o autor mostra a distinção entre a pessoa que ama (esta vê todos os 
atos e gestos de quem ama e fica encantada por eles) e a apaixonada, que faz a assimilação 
inversa (os gestos de outrem despertam seu desejo, e após o surgimento desse desejo, busca 
outros elementos importantes). 
- Ciúme: Para o autor, o ciúme é uma tirania, uma dependência ontológica (ou seja que detêm 
a natureza da realidade e da existência). Em suas palavras: Quanto maior o amor, maior será a
inveja. O ciúme é uma catástrofe sofrida apenas por aqueles que entraram na condição de 
“dependência ontológica” que existe no amor erótico - a dependência de quem procurou, dentro
e através do desejo sexual, as consolações de uma intimidade perfeita." Ele associa o ciúme 
por completo ao desejo sexual mal estabelecido. Os elementos individualizante tomam papel 
principal aqui, pois é quando a individualidade de um é humilhada e renegada por outro.No 
sexo, em geral temos uma necessidade que além de nossa individualidade, a pessoa nos ame 
por sermos “o melhor membro do grupo”, só que dessa forma outros membros do grupo podem
tomar esse posto, daí surge o medo da traição. A teoria escatológica é um elemento a ser 
analisado em algumas obras clássicas, como em Espinosa, que ele cita que essa raiva do 
ciúme pode surgir de sua mulher em contato com partes que produzem escatologias de outra 
pessoa. Obviamente isso perdeu força com o passar dos anos, mas o elemento sexual, que 
para o autor é o mais importante no ciúme, se mantêm. 
- Donjuanismo: A busca desenfreada por sedução de pessoas. Não necessariamente com o 
ato sexual, mas que a pessoa seja sua. Nisto, o don-juan lhe dá toda a atenção possível, 
tratando cada uma com uma atenção máxima. Pode parecer que este está buscando o “eu” de 
cada uma, mas, na verdade, a transferibilidade desse fenômeno sexual mostra que o indivíduo 
não importa. Este é um dos fenômenos mais perigosos pois lhe demanda muito tempo e 
trabalho para desenvolvê-lo, pois a demanda de novas pessoas é infinita. 
 – Tristanismo: a pessoa se sente tão apaixonada por alguém, que só consegue se livrar desse 
sentimento esmagador com a morte. Neste ponto, o suicida na verdade está procurando ter o 
controle sobre sua amada, destruindo seu corpo, o único elemento que os une. Saber como a 
sociedade leva em cota os mortos (os mantendo vivos em sua memória) faz parte da atitude do
tristão, pois assim ele estará para sempre como um novo “ego” na cabeça da sua amada. 
- Sadomasoquismo: Este nem sempre é pervertido, pois atos de amor como mordidas levam a 
dor mas são completamente aceitos. Atos assim refletem a vontade de se “entrelaçar” com a 
pessoa que ama, de buscar infundir-se nele. Também temos o elemento involuntário no 
sadomasoquismo, onde a pessoa demonstra ações que obviamente estamos causando nela, 
superando a vergonha (já citada aqui). Porém tudo isso é diferente da tortura, onde o sadista 
machuca o outro e tem prazer na consciência que o outro tem de que está sofrendo. O vê 
como uma ferramenta, não como alguém a alcançar uma individualidade. Para Sartre, o 
torturador busca o momento em que a vítima se trai e se humilha, em suas palavras: “Na 
abjuração, a liberdade opta por ser inteiramente identificada com este corpo; este corpo 
distorcido e decadente é a imagem mesma de uma liberdade quebrada e escravizada”. 
Capítulo 7 - Ciência do Sexo
No decorrer dos capítulos anteriores, o autor não se preocupou no aprofundamento de 
ideias científicas associadas ao sexo. Neste, ele irá, analisando mais precisamente questões 
de Sociobiologia e psicologia freudiana.
Como seres humanos, temos nossas atitudes racionais, mas levamos alguns pontos em
comum com animais, como o instinto sexual. Para Montaigne, essa dicotomia entre o lado 
racional e bestial é uma questão sem resposta. No decorrer do desenvolvimento de nossa 
ciência, observamos comportamentos sexuais de alguns animais e fizemos as analogias com 
os nossos, colocando-os todos num mesmo caldeirão chamado sociobiologia, que tenta nos 
provar que todos estes comportamentos ocorreram por sua questão utilitarista ao 
desenvolvimento e evolução da espécie. Aqui encontramos o primeiro problema em reduzir 
tudo à ciência: o desejo sexual e seus fenômenos concomitantes, apesar de estarem 
importantemente enraizados em nossa condição biológica enquanto seres que se reproduzem 
sexualmente, não são irredutíveis a nenhum aspecto da conduta humana que seja 
compartilhado com animais. Reduzir tudo à ciência nos afasta da relação fenomenal que temos
com determinada ação interpessoal. No caso do sexo em específico, chegamos até a perder 
seu real efeito ao reduzi-lo a uma questão genética e química. Os cientistas, como os 
marxistas, não dão importância à questão fenomenal, reduzindo a "verdade real" biológica da 
condição humana, da mesma forma que os seguidores de Marx o fazem sobre a essência 
oculta social do materialismo. Aqui podemos fazer uma analogia com o pensamento 
matemático para entender porque a sociobiologia não está certa. Quando compreendemos que
2 mais 2 é quatro, sabemos isso não devido ao surgimento da matemática e sua necessidade 
para a construção da espécie humana, mas antes de construirmos a matemática como 
entendemos hoje, essa ideia de que 2 mais 2 é quatro já estava posta. De tal forma que se 
descobrirmos o porquê a matemática é útil para a espécie humana, isso não fará nenhuma 
diferença ao conhecimento matemático e suas teorias em si. Trocando matemática por 
comportamentos sexuais, a analogia está feita. Um dos seus grandes defensores, E. O. Wilson,
defende que o comportamento sexual humano, baseado na sociobiologia, é intrinsecamente 
poligâmico e não preocupado com a reprodução, apenas com a união entre indivíduos. Se 
assim o fosse, ele não seria poligâmico, pois a moralidade liberal não dá valor à fidelidade, 
modéstia e contenção, que são elementos importantes nas relações interpessoais. Alguns 
outros autores como Schopenhauer também analisaram o fenômeno do desejo sob a luz da 
sociobiologia, diferentemente de seus colegas cientificistas, Schopenhauer fez uma análise 
metafísica também, dizendo que este desejo surge não por um elemento genético, apenas, 
mas sim pelo fruto das duas individualidades que se encontram no ato, ou seja, outra 
individualidade que é o filho. Então, para ele, este desejo nos faz submeter à tirania do outro, e 
por consequência da criança. Tudo isso é fruto, claro, de instintos selvagens também. Porém 
aqui nossa situação biológica alimenta nossa compreensão intencional, que a coisa que nos 
supera em desejo funciona através do outro, mas não provém inteiramente dele. Isto vai de 
encontro a ideia de Aristófanes de que nós e nossos amados somos duas almas separadas. De
elementos como este, Hartmann deriva a conclusão de que essa busca desenfreada pela 
pessoa que nos deixa apaixonado é, novamente em termos genética, o projeto de construir um 
individuo que mais completamente represente a ideia de raça, ideia que surge do nosso 
subconsciente. Eventualmente estes elementos são sintetizados por Freud.
Freud trata a mente em termos hidráulicos, onde fortes sentimentos são presos por 
barreiras e forças, estes sentimentos então barrados acabam causando outras reações. Ações 
mentais automáticas do ego na infância acabam levando a construções complexas na vida 
adulta. Três elementos dinâmicos que fazem a análise das informações que devem ou não 
chegar ao consciente são o ego,que é o "eu" dentro de cada um, pois é o "observador interno" 
dos estados mentais. Este nos protege da "id" nosso lado animal. E o "superego" é mestre e 
criação desse ego ao qual ele atormenta. Estes elementos metafóricos são base para todas as 
explicações "científicas" de Freud, mas por si só não são propriedades que realmente são 
observáveis. Freud diria que eles são fruto de realidades neurológicas, que curiosamente até 
hoje não foram observadas. Aqui temos uma primeira incongruência, pois se o "ego" não for 
uma espécie de homenzinho que vai nos protegendo de pensamentos que ele mesmo não 
observa (pois este é o "eu dentro da nossa mente) e sim uma região do espaço mental, por que
então animais não tem ego e todas as suas consequências individualizantes? Agora 
analisemos apenas a questão sexual em Freud. Ele define como "libido" a força que nos leva a 
ter instinto sexual e a busca por objetos que nos satisfaçam sexualmente. Elementos que ele 
"catexisa" como os órgãos sexuais são chamado por ele de zona erógena, ao fim de seu 
desenvolvimento qualquer parte do corpo pode ser uma dessas zonas. Ele divide o 
desenvolvimento sexual em duas partes: a ocorrida na infância, onde ocorre a "repressão" 
(analogia hidráulica) e a segunda na adulta, onde "forças" mantêm determinados desejos 
escondidos. Freud tenta se manter científicoem sua análise, mas a transição da primeira fase 
para a segunda não é nem um pouco explicada em qualquer conceito científico que seja. 
Elementos como "ego", "id" e "superego" também não tem local nessa transição. Na crítica à 
libido freudiana, podemos observar elementos já discorridos no livro como suas analogias ao 
desejo sexual e fome. Ele diz, grosso modo, que os processos são os mesmos. No caso, 
podemos fazer a analogia freudiana com um amigo conversando à mesa conosco sendo o 
objeto de nosso desejo e a matar a fome o ato de se satisfazer sexualmente. Diferente do que 
Freud propõe na sua analogia alimentícia, não podemos inferir que estar sentado a mesa com 
o amigo vai matar nossa fome, e nem comer vai nos dar o prazer da amizade se o amigo está 
longe. Nestes termos, Freud também não leva em conta a transferibilidade de sentimentos. 
Assim, "o fato de a minha libido estar "engarrafada" não tem mais relevância para a questão se 
é certo fazer amor com esta mulher diante de mim do que o fato da minha adrenalina estar 
"engarrafada" para a questão de saber se eu deveria estar zangado com ela". Na crítica à 
"zona erógena" temos o mais baixo da estrutura de pensamento de Freud. Para ele o prazer da
zona erógena tem a mesma estrutura superficial de se coçar, a mais da intencionalidade 
interpessoal. Nas palavras dele, os trejeitos de satisfação de um bebê após ser amamentado, 
indicam que o prazer sexual já está no bebê, e mais propriamente dizendo, nos lábios dele, 
onde agora esta parte do corpo também é uma zona erógena. Ele desconhece o fato (talvez 
por falta de tato) que determinados órgãos não são zonas de prazer, mas canais de 
comunicação do mesmo (levemos em conta aqui o rubor, já citado anteriormente). O atual 
"funcionamento" das teorias de Freud é, para o autor, fruto de sua boa retórica. Esta, aplicada 
na hora do tratamento de um paciente com determinados problemas de afirmação vem ao 
momento em que o psiquiatra induz ao seu paciente de que o problema está "realmente dentro 
dele", e assim, lhe dá respostas associadas a teoria freudiana que correspondem aos anseios 
de seu paciente como se estas respostas estivessem "na ponta da língua" do doente. Levando 
em conta que as teorias freudianas normalmente tiram do paciente a carga das 
responsabilidades (como por exemplo citando que seus sentimentos estão presos numa 
represa criada pela "sociedade ou pais opressores", assim, não sendo culpa dele quando 
esses sentimentos "vazam" e causam problemas) estas correspondem e são bem vistas pelos 
pacientes em seus tratamentos. A proibição do incesto é um bom exemplo para finalizarmos 
este capítulo: na visão da sociobiologia, esta ojeriza ocorre porque a manutenção de mesmos 
genes na prole pode causar sérios problemas físicos e mentais. Para Freud, em contraste, está
preocupada inteiramente com o conteúdo intencional da repulsa, mas onde está o pensamento 
que nos afasta desse ato e porque? No fim, percebemos que a teoria de Freud é na verdade 
um "revisionismo intencional", onde busca nas consequências os motivos de seus meios. Para 
o autor, o desejo sexual não é impedido pela moralidade, mas criado por ela. A vergonha só 
impede as expressões perversas do desejo. Sem vergonha, nossos desejos se reduzem a 
coceiras infantis.
Capítulo 8 - Amor
Para Platão e alguns autores clássicos, desejo e amor não são a mesma coisa. Para Platão, o 
amor de verdade era o amor cortês, onde este tinha algum objetivo nobre, e essa nobreza não 
dava espaço a um desejo "animalesco" como o sexual. Porém, temos que o amor pode ser 
manifestado em várias formas. O autor irá discorrer sobre algumas delas. Mas ele adianta que 
o movimento romântico fez muito mal à concepção de amor pois estes associariam o 
verdadeiro sentimento de gostar de alguém a seus sintomas mais extremos. Seria o mesmo 
que associar a alta temperatura que uma febre causa ao rubor causado por uma saúde em 
plenas condições. O autor critica Platão, dizendo que sua teoria sobre o amor não explica o 
desejo. Ele até mesmo compara a teoria de Platão com a de Hume, que simplesmente iguala o 
desejo erótico por alguém ao ato de querer se alimentar da pessoa. Diz que todo aquele objeto 
que alguém se debruça a entender lhe dá intenção de tê-lo para si. Podemos fazer vários 
contra exemplos escatológicos. Para o grego, o desejo na verdade surge da manifestação 
carnal da transcendência do "eu", a beleza. Reduzindo a dimensão, surgem algumas 
incongruências do tipo "só existe amor e desejo de verdade em relações homossexuais", pois 
essas estão livres do elemento fechatório reprodutivo. Buscando a moralidade sexual, o autor 
destrincha um dos seus ramos, como a amizade. Por sinal para Shakespeare, a mesma 
palavra que definia amizade servia para amor (philia). Aristóteles dizia que existiam três tipos 
de amizade, a útil, a prazerosa e a virtuosa. Para o autor a mais válida dessas seria a terceira, 
pois a diferença de vício e virtude é que na virtude o "eu" se mantém inteiro, não é dominado 
pela atitude do vício, a pessoa pode estar louca de raiva mas não de justiça, por exemplo. De 
tal forma que a amizade verdadeira surge nessa autoidentificação de "Eu’s", e não do gozo de 
uma diversão descontrolada. Sem dúvida a diversão é necessária e fruto de uma amizade, mas
isso só ocorre de forma saudável quando vemos o outro como um fim em si só (não esperando,
por exemplo, uma versão melhor desse mesmo ser). Ou seja, buscando a já discutida, 
individualidade insubstituível. Para introduzir o amor erótico, o autor usa a obra de Montaigne, 
que fala do seu grande amigo e cunhado Boatie. Eles tinha uma relação de respeito e estima 
tão próxima, individualizando um ao outro de forma tão imponente como no trecho "que 
nenhum homem compare qualquer das amizades comuns a esta", que esta poderia ser 
confundida com amor. O amor, que é uma continuação da amizade, não é um projeto 
extinguível, para ser cumprido e deixado de lado, este é parte do que já sou. De tal forma que a
morte exige pesar pois é a cessão de algo que não se esperava ter fim. Sobre o amor erótico, o
autor começa citando que pode surgir mesmo em relações arranjadas como casamentos 
medievais. Na verdade, situações como essa acontecem até hoje em esquadrões ou grupos de
trabalho, onde nos deparamos com pessoas apenas pela contingência e mesmo assim 
acabamos gostando delas. O amor erótico está mais associado a carne, como no caso do amor
de uma mãe pelo filho, onde ele a ama independente de seus vícios e virtudes, mesmo sem 
amar seu corpo, mas essa dimensão "bruta" acaba nos lembrando de que somos animais, e 
somos regidos por essas exigência não apenas metafísicas, mas da carne também, pela 
encarnação de um objeto. Por mais que o amor erótico nos conduza a uma situação onde 
permite que a pessoa que estamos juntos cometa mais falhas do que numa amizade, por 
exemplo, as falhas acabam tendo que se tornar uma espécie de virtudes, existe uma estima 
por essa situação. Se isso não ocorrer, este "amor totalmente invertido" haverá quebra 
(normalmente esses fenômenos ocorrem em amores baseados em desejo, criando uma 
espécie de "estima artificial"). O desejo não implica em amor, mas fornece um motivo para 
amar, e aí que compreendemos a intencionalidade do desejo. Quando estamos adjetivando 
qualidades de nosso amado, estamos fazendo nosso amor parecer uma decisão. Já o amor 
erótico, que incide sobre a encarnação do outro, não é uma resposta racional, não está 
baseado em estima. O amor nos leva a construir uma versão de nós mesmos baseado no que 
o outro espera de nós, de tal forma que este deixa de ser uma promessa de afeto, mas um voto
de lealdade, assegurando assim um futuro ao lado da pessoa. Tendo em vista então que este 
desejo vai passando com o tempo e o amor crescendo baseado em confiança, como evitar que
um terceiro elemento destrua a relação? Esta resposta será dada nospróximos capítulos do 
livro, mas está associada a moralidade sexual já discutida aqui. Assim, observamos que o amor
pode ser expresso pelas manifestações do desejo como beijos e abraços. Estes gestos não 
precisam estar carregados de amor, mas quando estão é que surge a ternura. Analogias com 
isso podem ser tidas de outros elementos que também carregam sentimentos, como músicas 
tristes por exemplo. Então, devemos levar em conta o estudo já feito sobre a beleza para 
perceber que a tradução desses gestos depende também do tato da outra pessoa para saber 
apreciá-los. Podemos notar alguns absurdos criados pelo cinema, por exemplo, na 
demonstração do amor. Em filmes como James Bond este sentimento é totalmente pervertido, 
sendo mostrado como fruto de uma situação cheia de perigos e ansiedades, onde gestos e 
vontades complexas como as presentes no amor não podem florescer. Para finalizar o capítulo,
o autor cita que é apenas entendendo o amor erótico que se torna claro o agente moral em 
você e o objeto de minha atenção para sua forma encarnada. É com ele que podemos 
compreender o terror de um assassinato ou estupro. Assim, o autor nega Kant (que pede para 
ver o eros fora da área do verdadeiro respeito) e Platão (que não vê o valor do indivíduo 
encarnado, apenas no tal "mundo das ideias").
Capítulo 9 - Sexo e Gênero
A reprodução faz parte do ser humano e da filosofia por trás do sexo. Tendo em vista 
que animais copulam e se reproduzem. Teria então alguma ligação dos nossos sentimentos 
com essa questão animal? Esta é a questão de Platão. Uma analogia é feita com o 
crescimento de árvores. Hoje levamos em conta que ela tirá sua força das raízes e do barro, 
mas só levamos em conta sua existência devido aos frutos e folhagem. O mesmo é para a 
sexualidade, pois só temos compreensão de nosso lado animal, justamente devido a nossa 
racionalidade. Sabemos da existência de nossas raízes, justamente por causa de nossos 
frutos. 
Para conseguirmos entender a dimensão de desejo associada a reprodução, devemos 
entender a moralidade da homossexualidade e suas consequências, tal como a ideia de gênero
e sexo. Gênero, para o autor, são os comportamentos que, para o coletivo, define se a pessoa 
é homem ou mulher. Este é um problema para alguns gays e feministas pois em sua militância 
eles não acreditam que exista uma forma “definitiva” de ser homem ou mulher.
De todas as formas de feminismo, a mais sensata é o feminismo kantiano, que se 
baseia na ideia de que gênero é uma construção social devido ao fato de que o ser humano é 
livre para ser o que ele quer, que é um direito inerente do ser humano, e por mais que alguém 
julgue sua humanidade (como na escravidão) eles estão errados e você está certo. De tal 
forma que o conceito de homem e mulher é um tanto difuso. Para o autor essa forma de ver a 
realidade não está totalmente certa, os três erros inerentes a essa filosofia são: que ela atribui 
um papel implausível para o conceito de gênero, que não consegue considerar seriamente o 
fato da encarnação e que deixa de reconhecer que no sentido de que as distinções de gênero 
são artificiais, o mesmo ocorre com a pessoa humana. Temos distinções claras sobre o 
comportamento de homens e mulheres. Aos olhos da sociobiologia elas se resumem à procura 
ativa de fêmeas e do cuidado das proles por parte dos homens, e na forma modesta e distantes
das fêmeas na procura por um macho que possa dar segurança à ela e sua cria. Ao tentar 
explicar nosso lado animal, esses cientificistas reduziram nossos comportamentos sexuais a 
tradução evolutiva, veremos que está errado.
Comecemos explorando a encarnação. Esta que deixa claro o sexo de que fazemos 
parte por vezes é negada como representação do eu. Curiosamente, é quando tentamos 
esconder nosso sexo, com roupas, que mostramos o nosso gênero, com determinados 
comportamentos. Ou seja, percebemos que sem gênero, o sexo deixa de desempenhar um 
papel na encarnação humana, e o ato sexual, longe de ser libertado da mera animalidade" é no
final das contas, separado da sua interpretação moral mais natural. Observamos isso 
claramente no comportamento teatral de muitos homossexuais que tentam atrair pessoas do 
mesmo gênero aparentando o comportamento do gênero aos quais não tem atração 
(afeminados e masculinizadas). Na moda, dança e maquiagens, sempre expomos a nossa 
sexualidade, traduzida pelo nosso gênero. Curiosamente, quando estes efeitos estão se 
tornando andrógenos no mundo contemporâneo, buscamos formas mais bruscas de mostrar 
nossa sexualidade, com dietas e treinos para moldar o corpo. A construção do gênero é o que 
percebemos no Lebenswelt como sujeito que nos divide entre homens e mulheres, assim, se 
torna uma característica inventiva do nosso mundo, não menos real por ser de nossa própria 
criação. Se o feminismo kantiano estivesse certo, seria impossível pensar em mim como um 
homem, e não como uma pessoa. O feminismo kantiano se perde quando desconsidera a 
importância da encarnação na identificação sexual. Muitas de nossas qualidades morais 
dependem dessa dimensão, como o calor do coração e a vivacidade. Pensemos no gênero, 
então, como um tronco pelo qual a flor e a folhagem do desejo são alimentadas.
Para começar a responder a questão de Platão sobre a raiz do desejo, devemos 
começar entendendo que a forma de fazer sexo para um ser humano é diferente de um animal.
Quando um ser humano faz sexo, ele pensa em si como um homem, toda a sua fisiologia é 
transformada mediante a isso e isso lhe dá prazer. Diferentemente de um animal, que pode ter 
o prazer do sexo, mas não pela intencionalidade de fazer sexo. Da mesma forma que ele pode 
ter o prazer de pular e se mexer, mas nunca terá o prazer de estar dançando, pois isso foge de 
sua individualidade. Nas palavras do autor: Parece, portanto, que desde que o sexo seja visto 
como gênero, há uma adequação intrínseca que une o ato sexual à atitude interpessoal do 
desejo. Assim, tal como a intencionalidade do desejo se enraíze nos prazeres do congresso 
sexual, uma ideia de sexo entra no conteúdo intencional do desejo, determinando o tipo de 
coisa que é seu objetivo. O indivíduo sempre será procurado sob o signo de seu gênero, como 
uma instância de um tipo sexual". Por consequência dessa necessidade do gênero para o ato 
sexual, só conseguimos observar a beleza física de um ser humano quando pensamos em 
termos sexuais, um homem pode ser bonito como homem ou ter traços femininos, mas sempre 
está associado à questão de gênero. Uma criança pode ser dita como uma "bela criança" pois 
sua sexualidade ainda não foi desenvolvida. Então, podemos ampliar a análise pelo desejo 
homossexual como a falta da necessidade de transpor o poço gigantesco que existe entre o 
gênero masculino e feminino. Onde, num nível mais superficial de análise, se fixa na técnica do
ato.
Capítulo 10 - Perversão
Para Freud, todo ato sexual que não era voltado à reprodução era uma perversão. 
Curiosamente Freud dizia que era perverso aquilo que nos diferenciava dos animais, que 
apenas copulam por instinto. Assim sendo atos muito naturais como felação e beijos seriam 
perversos, mas sabemos que excluir esses atos do exercício normal do desejo somente por 
não ser reprodutivo é privar a ideia de normalidade e qualquer significado verdadeiramente 
humano. Se for para seguir totalmente o reino animal, por que não fazer o mesmo que os 
louva-deus, onde a fêmea canibaliza o macho durante a cópula? Seguindo a lógica freudiana, 
fazer sexo sem o intuito de engravidar é uma perversão, de certo tão perverso quanto 
bestialidade, pedofilia, ou mesmo atitudes estranhas não vistas no mundo animal como 
podolatria. Para o autor, perversidade na verdade é quando removemos o que há de mais 
profundo em nós mesmos - nossa vida - da nossa transação moral, e a afastamos para um 
reino que está livre da soberania de uma lei moral, umreino de prazer curioso, no qual o corpo 
é soberano e obsceno. O autor define algumas perversões e explica porque elas o são.
- Bestialidade: quando um ser humano sente desejo por um animal, ele está destruindo a 
intencionalidade interpessoal que define o desejo, pois aquele ser, por mais que tenha atitudes 
sexuais, não está ciente do que faz. É impossível amar um animal sexualmente falando, por 
mais que o amor como um ser vivo seja possível. Este desejo acaba por refletir uma deficiência
moral associada ao medo de confrontar a perspectiva do outro, de ser “sexualmente” 
conhecido.
- Necrofilia: para o autor, este é o modo mais ultrajante de perversão, pois deixa de lado 
qualquer possibilidade de intencionalidade interpessoal do desejo, afinal o corpo sem vida não 
tem nenhum comportamento humano. Novamente, busca a forma máxima de excluir o outro do
desejo. 
- Pedofilia: nesta perversão, aquele que o comete, diferentemente dos casos anteriores, busca 
a interpessoalidade com uma criança. Porém este ainda não tem sexualidade feita. Podemos 
perceber a questão de gênero presente aqui, pois a criança é justamente caracterizada por 
essa falta de definição do que é sexualmente. Sua reciprocidade no sexo é impossível. Ele 
busca no seu “despreparo sexual” o prazer. Para o autor essa dimensão está associada à 
procura de "cerimônias" que definem o que é uma criança ou adulto. Como se houvesse uma 
barreira que transformasse um no outro da mesma forma binária que existe a "virgem" e a 
"não-virgem". O pervertido então busca criar na criança as mesmas excitações curiosas que 
teve em sua infância. Neste ponto é interessante afirmar a visão do autor de que as crianças 
não são seres totalmente pré-morais: por vezes eles tomam atitudes certas e por vezes 
erradas, mas na nossa forma de tratá-los tentamos amoralizá-los para tirar não "misturarmos" 
essa concepção com a sua pureza, por mais que seria uma mistura de conceitos.
- Sadomasoquismo: o autor faz uma analogia com a escravidão para explicar o prazer nesta 
forma de perversão. Mais especificamente, ele demonstra na escravidão hegeliana (aquela em 
que o senhor e o escravo tem uma relação dialética de poder) um análogo à perversão 
sadomasoquista. Diferentemente do sadomasoquismo "normal" onde o indivíduo quer 
demonstrar sua existência para o outro através da força, na forma pervertida ele simplesmente 
não se importa com o próximo, ou seja, a violência não transcende para uma relação de 
respeito e desejo mútuo. O senhor não vê a dor em quem bate, a partir de seus golpes quer 
impor alguma vida àquele corpo ao qual não tem nenhum respeito. O mesmo para o 
masoquista, que a partir de golpes desferidos por um senhor "acima da moral" tenta tomar 
penitência por alguma transgressão sexual interna. No análogo hegeliano percebemos o 
sadomasoquismo em atitudes cotidianas, como em brigas de casais onde o primeiro quer se 
sentir amado pelo próximo mas quer que isso seja intencional da parte do próximo, assim não o
diz, mas como o próximo sabe dessa necessidade, diz que ama, o primeiro então pode pensar 
que isto só ocorreu devido ao desejo inicial de se sentir amado, assim surgem brigas, pedidos 
de desculpa. De tal forma que percebemos o senhor sadista que auer se sentir amado sofrendo
devido a esse desejo, nos moldes de Freud, que dizia que sadismo é "um masoquismo voltado 
a si mesmo" e vice-versa. Assim, concluímos que, nas palavras do autor: " a forma normal de 
sadomasoquismo é uma estratégia destinada a corrigir um desequilíbrio perigoso, compreender
a ameaça da servidão e conquistá-la por meio da representação. A forma pervertida, no 
entanto, envolve o colapso da relação pessoal e a incorporação do ato sexual em um exercício 
de aniquilação mútua.
- Homossexualidade: o autor argumenta que o simples fato de se gostar de alguém do mesmo 
sexo não caracteriza uma perversão. O que pode acarretar numa sexualidade pervertida são 
alguns elementos que ele próprio tem dificuldade de afirmar com certeza. Claramente a 
homossexualidade é completamente diferente da heterossexualidade. E as homossexualidades
são distintas entre si, pois o desejo entre dois homens normalmente é mais promiscuo que 
entre duas mulheres, pois elas têm por natureza serem menos afoitas na exposição sexual. A 
justificativa científica para a histórica condenação do ato homossexual é porque ele não 
"promove os genes". Mas isso não explica o conteúdo intencional diferente do desejo 
homossexual do heterossexual. Devemos levar em conta que o relacionamento entre um 
homem e uma mulher os coloca numa situação de mistérios e responsabilidades que os 
relacionamentos homossexuais pouco podem emular. Também é fato que este tipo de desejo 
por vezes acaba sendo a manifestação narcísica de alguém que não tem interesse no que é 
diferente a ela. Desejar um gênero que diferente de você te leva ao complemento, e não ao 
simulacro de um desejo que você compreende em primeira pessoa como o homossexual. Em 
geral, os argumentos religiosos, por mais que tenham passado pelo ônus funcional da prova, 
não apresentam uma base filosófica muito grande, como o apresentado pelo autor, que é cheio
de metáforas e metafísica. Para concluir, o autor cita que a homossexualidade só é pervertida 
quando despersonalizada ou intrinsecamente obscena.
- Incesto: este é perverso, pois quebra a lógica interpessoal que ocorre dentro de uma família, 
onde a forma a se tratar irmãos e filhos já é posta antes mesmos de eles nascerem. 
Diferentemente do que propõe os sócio biólogos (que a repulsa natural a isso é de fundo 
genético) e dos freudianos (que afirma que o desejo sexual surge do desejo reprimido pelos 
pais na infância) um parênteses se abre na resposta quase acertada de Paley, que cita que a 
repulsa é uma resposta natural à preocupação necessária ao controle de um desejo 
avassalador. Podemos perceber o caos criado pelo desejo entre membros de uma família, por 
mais que não consanguíneos, como entre padrasto e enteada. Essa violação de um laço 
doméstico, ou seja, o incesto, é uma perversão apenas no sentido atenuado, ocasionado pela 
ameaça aos laços interpessoais, e não no ato em si.
- Fetichismo: este é o mais inofensivo das perversões, pois busca criar uma relação 
interpessoal com um objeto, mas normalmente está associado ao desejo por alguém, ou a 
alguma experiência com fundo sexual ocorrida no passado do indivíduo.
- Masturbação: o autor cita que existem dois modos desta, uma normal e a outra pervertida. A 
normal se caracteriza pela liberação da tensão sexual baseada numa experiência ou fantasia 
sexual. A segunda, pervertida, se caracteriza pela substituição do contato humano, por vezes 
deixando essa opção cada vez mais aterradora e substituindo assim os pontos bons e maus do
contato sexual. No segundo caso as fantasias não são pessoais, mas sim corpóreas, ou seja 
transportando para imagens tecnicalidades justamente para se evitar o lado humano da cópula 
e fixá-lo na sua dimensão carnal. Por mais que esta prática não seja obscena por si só, ela 
assim o torna quando feita em público, ou mesmo no privado, por vezes negligenciando a ação 
do outro no sexo.
- Castidade: por vezes demonizada, essa não é uma perversão porque justamente leva a um 
contato mais claro e pessoal a quem realmente se deseja estar perto insubstituivelmente. 
Devemos diferenciar essa castidade que nos faz controlar os desejos físicos por um objetivo 
maior da castidade de Klingsor, que nos coloca num mundo de solidão
Capítulo 11 - Moralidade Sexual
Definimos moralidade como uma condição sobre o raciocínio prático. É uma restrição 
aplicável a todos os seres pensantes, observada numa perspectiva em primeira-pessoa. Kant é
conhecido como o filósofo da moral mas para o autor do livro, Kant está errado por pensar na 
moral como algo que depende apenas da perspectiva em primeira-pessoa em contato com o 
imperativocategórico, ou seja, buscando um caminho "transcendental" em contato do nosso eu
não-transcendental. Para o autor só é possível. Obtermos uma moral numa perspectiva em 
terceira-pessoa aristotélica. Expliquemos.
Para os kantianos “eu é anterior aos fins que são afirmados por ele” dessa forma as 
circunstâncias individuais terão mais importância que sua consequência para o outro a longo 
prazo. Essa abstração acaba por abstrair também os desejos e interesses que causam as 
ações. Para Aristóteles não é assim que funciona. Ele desenvolve uma espécie de raciocínio 
em terceira pessoa que pode ser aplicado por cada agente a si mesmo, tornando-se prático e 
transformando os desejos do agente. Observamos essa ação na educação de crianças por 
exemplo. Buscamos que ele seja racional pois isso leva a felicidade a longo prazo, e para isso 
sacrifícios de felicidade momentânea tem que ser feitos. Afinal, para Aristóteles, felicidade é a 
única resposta a pergunta "por que fazer isso?". Kant a rejeitava por ser uma generalidade a 
sentimentos humanos. Mas Aristóteles a entendia como o objetivo, na alegoria do autor ele 
explica que a felicidade para um jardineiro é que as flores floresçam, a planta que não floresce 
tende a não existir. Florescer faz parte do ser da planta da mesma forma que ser feliz faz parte 
do ser humano, como uma lei natural. 
Porém seres humanos não são plantas, e esse florescimento para o ser humano só 
existe quando ele é movido pela razão e assim ter remorso dos seus erros e orgulho das suas 
conquistas e virtudes (eu máximo). Sem essa, ele não está apto a ser considerado como um 
indivíduo, pois suas escolhas estarão a mercê dos outros ou da contingência (eu mínimo). 
Buscamos aqui um ser ativo e não apenas observador, consciente de consequências do 
passado e do futuro. Para o aristotélico, a verdadeira questão da moralidade não é se eu, aqui 
e agora, posso ser convencido a mudar meu curso, mas se há razões para que outros, que 
podem ainda ser corrigidos, devem alterar o deles, dessa forma tirando a carga individual da 
filosofia kantiana. 
Voltemos então a moralidade sexual. O desejo sexual é uma atitude interpessoal com 
consequências de longo alcance para a maioria daqueles que são unidos por ela, ou seja, não 
pode ser moralmente neutro. Amor erótico é então um elemento de auto reforço mútuo, gera a 
sensação de valor insubstituível tanto do outro quanto de si mesmo, e das atividades que os 
ligam, se tornando consciente da realidade do ponto de vista dele e do outro. Observamos 
então que existem hábitos sexuais (as perversões discutidas no capítulo anterior) que tiram o 
elemento interpessoal e neutralizam a capacidade de amar, isto vai contra a moral aristotélica. 
Tal como o ciúme é um elemento presente em todas as culturas, mesmo as mais liberais, 
percebemos que por mais que algumas culturas sejam poligâmicas e aceitem bem sexo antes 
do casamento, nenhuma vê com bons olhos a promiscuidade e infidelidade.
Levemos em conta o importante fato: a pureza sexual não proíbe o desejo, apenas 
indica que este deve ser interpessoal, senão estará fadado a se desgastar e se tornar vicioso 
(filosofia que vai de encontro com dados da neurologia). Como em Freud, o autor consegue 
fazer análogos na literatura com a obra de Wagner chamada Parsifal, onde Amfortas só pode 
sair da poluição de um mundo estético ao agir como uma pessoa casta. Nas palavras de 
Shakespeare (soneto 129) o autor também destrincha a luxúria, que é percebida por todas as 
pessoas, mas sem agir com razão sobre ela, esses atos sexuais acabam se tornando hábitos 
com efeitos catastróficos. Levemos em conta, dentro do contexto da luxúria, a fantasia, que nos
ajuda a fugir de um momento difícil que não controlamos, nos faz perder a interpessoalidade 
devido a masturbação, e mesmo quando essa luxúria envolve outra pessoa, ela acaba por se 
tornar uma ferramenta de nossa imaginação, longe da realidade e refém de nossos 
pensamentos e perversões, que podem crescer e se tornar um problema para nós e para os 
próximos.
Capítulo 12 - Política sexual
Neste capítulo o autor faz uma defesa da filosofia conservadora aplicada à vida sexual. 
Por mais que se discuta que questões como inocência e amor erótico estão apenas no âmbito 
da vida do indivíduo ou do casal, percebemos que eles dependem sim da sociedade, grosso 
modo se não dependessem, estaríamos no mesmo patamar sexual de animais, com nossos 
desejos ditados pela contingência. Explicações do desejo sexual e de relacionamentos são 
dados pela ciência, mas na prática, o vinculamos muito mais ao nosso Lebenswelt. Dessa 
forma, o associando à questões que denotamos como sagradas. Diferentemente disso sobraria
apenas o Kinseyismo aqui já discutido, o dispositivo pelo qual o ato sexual é devolvido à 
natureza e destituído do seu significado. Assim, podemos fazer um vínculo com nossas 
atitudes sexuais e a polis Aristotélica, que é onde estão as nossas instituições e suas 
consequências práticas no cotidiano. Nas palavras do autor, o ser humano necessita da 
estrutura social que vai sustentar tanto o desejo quanto o amor que se desenvolve a partir dele.
Em cima disso é que podemos vencer o nosso eu mínimo, baseando nossas atitudes em 
questões como sacralidade, fidelidade, inocência desenvolvidas por milênios nas instituições 
que hoje regem a nossa vida. Este eu máximo que procuramos nunca existiu no estado de 
natureza, o "bom selvagem" rousseauniano, mas sim na sociedade e é sustentado por 
costumes, hábitos e crenças que são facilmente destruídas e que destruímos 
imprudentemente. Percebemos essa destruição em ideologias revolucionárias. Essas 
ideologias tem como prática destruir a religião e aí percebemos um dado importante: quando 
um indivíduo se destitui de sua fé, naturalmente surge um vácuo do transcendental em sua 
vida, e como a natureza (o caminho de nossas leis naturais) abomina o vácuo, este indivíduo 
facilmente aceita ideologias que compensam essa transcendentalidade, buscando então 
utopias, liberação total, psicanálise etc. Estas se mostram tão antiquadas como as religiões 
sem fundo científico mas com amplo fundo filosófico, onde suas atitudes só foram 
comprovadas no ônus do tempo. A busca pelo sagrado é um dos objetivos dessas instituições 
pois a perda da inocência, por mais que não seja um problema de indivíduos, é um problema 
de instituições e costumes e esses danos se mostram cada vez mais efetivos na destruição do 
tecido social (observemos, por exemplo, a relação de rebaixamento econômico ocorrente em 
famílias compostas apenas por mãe e filhos). Enquanto isso, políticas de liberação sexual e 
esterilização são aplaudidas. Assim, a sociedade está ameaçada, e não meramente na sua 
continuidade, mas em sua própria existência, pela alienação sexual de seus membros e sendo 
esse um reflexo de declínio institucional, devemos buscar políticas de instituições sexuais. Não 
obteremos isso sem o auxílio das instituições clássicas mediadas pelo Estado. Estas passaram
pelo ônus da prova, são frutos de tradição e tem a intenção (e efetivamente conseguem) unir 
grandes e pequenos grupos em torno de valores que realmente são engrandecedores. Por 
mais que algumas instituições pareçam atentar contra a individualidade humana, por vezes os 
nossos valores precisam de barreiras naturais para serem promovidos e florescidos, como a 
fidelidade no casamento, por exemplo. 
O casamento se mostrou uma dessas instituições que passaram pelo ônus da prova do 
tempo. Com ele floresce o potencial de amor humano e dedicação. Sua experiência pode ser 
repassada para outras famílias na forma de tradição. Por mais que o desejo sexual pareça 
diminuir durante o casamento, onde seus membros por vezes buscam a infidelidade, esta 
forma “abrupta” de desejo só existe justamente por causa da instituição que promove a 
fidelidade. Seus votos, mesmo hoje, tem carátertranscendental, e a vida de alguém que não os
segue leva a caminhos dificultosos. Como se toda a sua alma devesse se voltar apenas à 
resolução de eventuais problemas que surgiram por causa dessa quebra de voto. 
Por vezes, para algumas teorias revolucionárias, pode parecer que estas instituições 
(como o casamento) só existem em caráter transitório. Porém, observa-se que a natureza 
humana que nos ordena a amar também ordena a construção de instituições civis, legais e 
religiosas, e não existe prova alguma de que elas não prestam, até a chegada de intelectuais 
que colocam o ônus da prova de que essas instituições milenares não existem naqueles que as
usufruem. Percebe-se na prática que quanto mais se seguem essas ideias destruidoras, mais 
morre o desejo e a estrutura social.
Epilogo
Diferente do que propõe Foucault, que diz que a problematização de questões como o sexo 
são referentes apenas a um tipo específico de sociedade, a burguesa, o autor propõe neste 
livro que ela é pertinente a todas as sociedades em diferentes épocas, e mostra isso com 
exemplos. Por sinal, ignorando a teoria marxista (preferida de Foucault) pouco argumento 
sobra para associar o que foi dito à “burguesia” e mesmo mantendo essa ligação, não há 
motivos para ela negativar o que foi dito, pois essa sociedade foi o ápice de muitas outras.
Apêndice 1 - A Primeira Pessoa
O caso da primeira pessoa, com seu acesso privilegiado e a perspectiva que surge dele, é um 
fenômeno publicamente identificável. Ele não cria, nem testemunha, um reino “interior” distinto. 
Não existe um "sujeito transcendental", nem um "ego cartesiano", nem uma "essência interior", 
que possa fornecer o objeto de uma investigação puramente fenomenológica. Quaisquer que 
sejam as peculiaridades do caso da primeira-pessoa, elas não podem sustentar a ilusão de que
eu sei algo sobre mim que me torna, em princípio, inacessível a você.
As consequências ontológicas são enormes. Não só temos de abandonar a visão 
cartesiana da mente, como também somos, inevitavelmente levados em direção a visão de que
a mente, como qualquer objeto de referência, é publicamente identificável. É, portanto, uma 
parte da natureza, e se quisermos expressar esse pensamento na (enganosa) linguagem 
moderna, diremos que a mente é uma coisa física. Para nós, no entanto, o interesse pelo 
argumento não é tanto ontológico como metodológico. Pois isso implica que não pode haver 
uma "fenomenologia pura". A tentativa de apreender a essência de um estado mental, 
concentrando-se em sua manifestação em primeira pessoa está fadada ao fracasso. Além 
disso, a ilusão da primeira pessoa - a ilusão de que o que eu sou para mim, eu não sou, e 
nunca poderei ser, para você. - não tem fundamento. É uma ilusão de que sou inevitavelmente 
presa. Mas também não é mais que uma "ideia da razão", que me representa como algo que 
eu não posso ser, seja para o outro, seja para mim mesmo.
Apêndice 2 - Intencionalidade
Existem elementos que não precisam de uma descrição física para ser o que são. Este é o 
Lebenswelt - o mundo apresentado ao agente. Este é um mundo que não é analisado apenas 
pelo agente. Isto seria desnecessário. O Lebenswelt é tanto um objeto público, e tão suscetível 
a descrição de terceira-pessoa, como é um mundo da ciência. Podemos esboçar isso ao 
analisar um rapaz que é apaixonado por uma gêmea, e as duas são tão iguais que mesmo se 
entrássemos na cabeça dele, não conseguiríamos distingui-las. A distinção só seria possível 
numa visão em terceira-pessoa.

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