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Ann Charlton NOVEMBRO EM CHAMAS

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Ann Charlton
Novembro em Chamas
Disponibilização em Esp: não tem no arquivo
 Tradução: YGMR
 Revisão: Nathalia
 Revisão Final e Formatação: Lívia
Projeto Revisoras Traduções
Emma Spencer havia tomado uma decisão e Matt Mackenzie não a faria mudar de ideia, mas lhe havia avisado que uma simples faísca podia causar um incêndio. Emma ia comprovar logo que aquele era um novembro especialmente quente... Em todos os sentidos.
Capítulo 01
Catástrofe, com sua rua principal cheia de lojas de aspecto Victoriano e seu parque central com flores maciças, era parecida com as cidades pelas as quais havia passado. Para a celebração do centenário, estava decorada com bandeirinhas de varias cores. A cor verde limão chamou a atenção de Emma, por ser pouco usada em uma zona como aquela, onde predominava as cores marrons e ocres, por causa da seca crônica que padecia. O calor parecia esmagar tudo, exceto um par de bandeirinhas que a escassa brisa que corria, fazia balançar de vez em quando. Enquanto observava a companhia deslocar-se de seus poeirentos carros ate o pub, Emma se perguntou se tinha chegado a uma cidade fantasma.
Do pub se ouvia vozes procedentes do restaurante ao lado, mas não tinha ninguém no balcão da recepção. Um ventilador movia o ar carregado, Emma deixou sua mala no chão e bateu na campainha que descobriu embaixo de umas cartas. Os demais seguiam entrando e acomodando as malas de viagem na entrada. Bernie puxou o ar e enrugou seu nariz de gourmet. 
-Salsichas – disse com espanto – E se não me engano, filé queimado servido com um monte de batatas fritas e salada de tomate de uns horríveis frascos de plástico. Por Deus, Emma, uma coisa é que tenhamos que dormir aqui, mas temos que comer? 
Emma maldisse sua voz potente de ator. Era sua imaginação ou a conversa tinha parado no restaurante? 
-Pequeno casebre! – disse Alison em um tom tão audível como de Bernie.
-Para mim parece muito agradável – Emma tentou animá-los no mesmo tempo que deslizava seu olhar por espantosas plantas de plástico. Levou um dedo aos lábios e assinalou rumo à porta aberta, mas os demais não se deram por vencidos. Alison lançou uma nuvem de fumaça à coleção de quadros que cobriam as paredes. Todos eles usavam uma etiqueta com o preço marcado e em cima tinha um cartaz anunciando que estava a venda.
-“Arte á venda de J.Clements”. Arte á venda? Clements merecia que lhe dessem um tiro por chamar isso de arte – alfinetou Alison.
Reg se uniu a Bernie e Alison em seus ácidos comentários. Estavam alterados depois de três semanas viajando por estradas secundarias, atuando em teatros semi-vazios e dormindo em motéis e pubs. A compania estava procurando qualquer desculpa para romper o contrato e a deixar a passeio. Emma selecionou uma carta para colocar em dia sua melhor amiga.
Querida Ami, começou mentalmente, calor, poeira e moscas. A semana passada uma roda furada e o pára-brisa quebrado. Ontem atropelei um canguru, hoje pode ser que fique sem atores, oxalá estivesse aqui.
Ao ver que ninguém vinha atender, passou ao bar. Sete homens se calaram em quanto a viram entrar. Sete pares de olhos a seguiram, Emma era mais alta que a média, mais sensual do que gostaria, usava o cabelo recolhido em uma longa trança loira que chamava atenção. Um crítico de teatro a tinha descrito em uma ocasião como: a sensual senhorita Spencer de olhos cinza... Estava acostumada que a olhassem, mas a intensidade com a que observavam nesse momento a fez perguntar se tinha algum botão da camisa desabotoado. Através da porta, chegou a voz de Bernie com perfeita nitidez.
-Mulher, não seja injusta, o que esperava encontrar em um povoadinho como este? Um Van Gogh?
 Emma agiu como se não tivesse ouvido e se dirigiu ao homem que estava atrás do balcão.
-Tem alguém que pode indicar quais são nossos quartos, temos feito uma reserva – 
O garçom fez a mesma cara que devia usar para afugentar as galinhas.
-Agora mesmo me ocupo de você menina – disse apesar de indicar que aquele lugar não era para uma mulher. Menina. Se não estivesse tão cansada, Emma teria sentado e pedido um copo de suco somente para contrariá-lo, mas decidiu deixar a luta por igualdade para outra ocasião e saiu. Passaram vários minutos antes que o homem aparecesse e se apresentasse como Col Mundy, suas más noticias tomaram o rosto espantoso de Emma.
-O que quer dizer com não tem uma reserva? – repetiu incrédula, pensando que Col pretendia se vingar pelos comentários de seus companheiros – Tem que ter uma reserva no nome da companhia de teatro Shoelace. Cinco quartos simples para dez dias. Sou Emma Spencer, a diretora. Talvez a reserva esteja em meu nome.
Col se moveu com uma lentidão exasperante.
-Não – disse finalmente 
-Mas temos vindo para a celebração do centenário da cidade. Vamos organizar a cerimônia de inauguração. 
Col mostrou certo interesse.
-Ah sim minha filha esta ensaiando com alguns pompons de cores faz muito tempo, não sei como ficará. 
Emma lhe assegurou que sempre saia bem.
-Mas essa semana vamos representar uma comédia no centro social e nos contrataram para a obra com a clausura o festival no anfiteatro, assim que...
-Tenho entrada para a comédia, adoro rir – Col olhou Emma como se a desafiasse a fazê-lo rir.
Os atores deixaram escapar risadas secas.
-Segundo o contrato, o presidente do conselho de administração do centenário ia se encarregar das reservas.
-Esse é o problema. Roy Jackson teve que ir repentinamente ver a sua filha em Perth, deve ter se esquecido de vocês. 
-Bom, tem quartos livres?
Emma esperou. O ventilador seguiu dando voltas e Col passou as folhas do livro de registro com lentidão que lhe caracterizava.
-Sinto muito, mas está tudo ocupado. O hotel também está cheio, será melhor que falem com o chefe, Roy lhe deixou todos seus assuntos.
-Quem é o chefe? – perguntou Emma inquieta. Chefe de que?
-Chefe Mackenzie – disse Col com uma voz surpresa, como se assumisse que um homem tão importante devia ser conhecido por todo o mundo. O chefe, disse Col, era um homem que sabia tomar sabias decisões. Tinha uma casa nos arredores e era presidente da associação dos agricultores, vereador e chefe da brigada voluntaria de bombeiros, pela a descrição de Col, o chefe era muito mil utilidades. 
-Então irei ver o senhor Mackenzie, como se chama?
-Basta que pergunte pelo o chefe – disse Col – Assim o chama todo mundo.
Emma estava certa de como era esse tal de Mackenzie, provavelmente um tipo queimado pelo som, rude, que acreditava que podia mandar na pessoa igual controlava o seu gado. Gostava de estar entre homens e considerava que o lugar de mulheres era na cozinha. Seria paterno e machista, a chamaria de menina, carinho ou pequena e a consolaria por ser solteira. 
-Mas não se preocupe – falava seu tio agricultor, acalmando-a como se fosse uma sardinha que estivesse pronta para atrair um tubarão – E atraente e qualquer dia chegara um homem que saiba apreciar.
Havia sorrido repreendendo a vontade de dizer que aos seus vinte e oito anos se encontrava na flor da idade e que não tinha a mínima vontade de deixarem a apreciar novamente. Uma viagem no tempo era o bastante para uma mulher sensata.
-De todas as formas hoje não poderá ver Mackenzie – disse Col como se engolisse – Esta apagando um incêndio na escola. Os últimos quinze dias tem tido vários.
-Quando acabará? – perguntou Emma perdendo a paciência.
Passou o dia todo ali, inclusive a noite olhou por cima dela rumo aos quadros que seguiam sendo a atração dos demais
 – Fico feliz de que se interessem pela a arte local – disse – Os fez uma pintora muito conhecida por aqui – fechou o livro de registro com um golpe seco.
Alison apertou os dentes e comprou um cartão postar para demonstrar que não guardava rancor. Uma hora mais tarde, estava fora de si. Dogabinete do vereador Mackenzie tinha mandando o vereador Jackson. As duas casas de hospedes e o motel estavam ocupados durante o festival, e o que era ainda pior, Emma teve a sensação de que as pessoas do povoado cada vez a tratavam pior. Em um gesto de desespero, telefonou no celular de Mackenzie. Um homem de voz lacônica respondeu depois de um tempo e Emma conseguiu transmitir sua mensagem.
-Espero sua resposta – disse com firmeza. 
Se até nesse momento havia tido a sensação de que a cidade se movia em câmera lenta, a partir desse instante pareceu parar toda a atividade. Um quarto de hora mais tarde, quando estava a ponto de morrer asfixiada na cabine telefônica, o homem voltou para dizer que o chefe estaria no gabinete às sete e meia. 
-Mas isso é tarde demais... – protestou Emma
-Sinto muito carinho, mas tem trabalho a fazer.
O homem desligou o telefone e Emma pendurou violentamente.
-Também tenho trabalho para fazer chefe – resmungou.
Com o passo firme até o pub, entrou no bar e abriu um mapa diante dos olhos escandalizados de Col.
-Quero ir ao colégio Col – disse piscando em flerte – E não quero pegar o desvio errado.
-Como vai sozinha carinho? – disse Col, como se Emma quisesse ir a um país distante – Um incêndio não e lugar para uma mulher e este novembro é o mais caloroso dos últimos sessenta anos. 
Emma pensou que um incêndio no novembro mais caloroso do século tampouco deveria ser um lugar agradável para os homens.
-Além disso, o chefe Mackenzie não gostaria que fossem mulheres nos incêndios.
-Suponho que é melhor preferir queimá-las – disse Emma secamente, dobrando o mapa e guardando-o na bolsa, sorrindo ao ver o olhar de surpresa de Col, explicou – Me refiro as queimadas das bruxas, uma antiga forma de machismo.
Emma viu a fumaça muito antes do fogo, tomou um caminho de terra e em pouco tempo se encontrou com um caminhão de bombeiros, uma motocicleta e vários veículos estacionados em uma área cheia de bosques, a certa distancia do fogo. Vários homens com casaco estavam de pé em uma zona, a vários metros, comunicando-se com walkie-talkies. Emma estacionou juntos da motocicleta e saiu do carro.
Uma zona ampla estava queimada e ainda ficavam alguns focos de chamas. Emma procurou por uma lamina de grama, mas somente se viam cinzas e pardos, e um preto intenso ali onde o fogo tinha arrasado. Vários homens com tanques de água e mangueiras iam apagando o resto das brasas. Outros apoiados na arvores, se comunicavam pelo walk-talkie e bebiam água nos cantis. O ar estava impregnado de fumaça e irritava os olhos. O fogo soava em uma faísca continua que surpreendia a todos com os sons. 
-É linda não é? – disse uma voz na sua costa. 
Emma se voltou, estava acostumada a ver homens atraentes, mas aquele que estava a seu lado, estranhamente elegante com o casaco. Tinha os olhos azuis escuros, cabelos liso e preto, a pele queimada a e uma boca de lábios cheios e dentes perfeitos.
Emma dissimulou a surpresa
-Desculpa?
-O fogo – explicou o homem
-Fiquei desconcentrada por que falou em feminino – disse – Desde quando o fogo e feminino?
 O homem sorriu
-Foi uma forma de falar – limou a mão no peito e a estendeu – Sou Steve Mackenzie.
Emma piscou, não devia ter mais que vinte e dois anos.
-E o chefe Mackenzie?
 -Resulta difícil de acreditar não? – disse com humor apesar de que sua boca adotou um gesto descontente – Procura ao outro Mackenzie – mostrou uma figura a pouca distancia – Meu irmão mais velho, não nos parecemos muito – comentou sem que Emma se dissesse com decepção ou alívio, o qual seria estranho posto inclusive a essa distancia era evidente que o Mackenzie mais velho não era tão atraente quanto o jovem. 
O cargo de chefe não era em vão. Estava de pé com ar autoritário e inclinava a cabeça para falar pelo rádio dando instruções precisas e seguras, não se parecia nem com o tipo machista que Emma esperava encontrar, nem seu irmão menos. Era mais alto e mais forte. Pensou aproveitar as circunstância e fazer uma propaganda da sua função.
-Enquanto espero, quero lembrar a todos que amanhã e no sábado à noite representaremos uma comédia no centro Cultural, se não comprou as entradas, todavia, podem fazê-lo no mesmo da apresentação. Depois pode ficar e conhecer os atores ao tempo que tomam uns refrescos para apoiar as ações beneficentes da cidade...
Satisfeita com ela mesma, desligou o radio, sabia que essa não era a melhor forma de iniciar suas negociações, mas Mackenzie não tinha deixado outra saída. Uma figura irritada desceu do trator e se dirigiu rumo a ela a toda velocidade, em uma cidade que parecia se mover em câmera lenta, aquele não podia ser um bom presságio. Com precisão devido a prática Emma desconectou o sistema e sacudiu as mãos na parte de trás dos jeans curtos, a medida que Mackenzie se aproximava, a sensação de triunfo ia mesclando-se com uma despreocupação. Usava o colarinho da camiseta levantado e as calças pedindo para serem tirados, com a parte debaixo metida nas botas altas. O radio que sujeitava na mão parecia tão perigoso como uma arma de caça. Tinha o rosto sujo pelo carbono e poeira, brilhante de suor, seus olhos estavam entrecerrados e baixo deles se formava bolhas de suor, o queixo aparecia coberto por uma barba mal feita, parecia mais o pai de Steve que seu irmão, e Emma esteve certa de que o capacete ocultava uma entrada calva.
-Mackenzie? – disse cordialmente como se não acabasse de gritar seu sobrenome aos quatro ventos – Sou Emma Spencer 
-Já ouvi.
Emma sorriu
-Bem, tive que aumentar o volume para que não fugisse
-Bem, pois aqui estou – disse ele.
-Encantada em conhecê-lo – disse ela com sarcasmo e estendeu a mão.
Mackenzie a observou, mas, pois as mãos no jeans, Emma manteve o braço estendido sabendo que, rejeitando-a, Mackenzie queria mostrar o desprezo mais absoluto.
-Espero que não guarde rancor – comentou sorrindo – Me disseram que sabe resolver muito bem as coisas.
Mas o Mackenzie compreensivo manteve as mãos na cintura, Emma retirou a sua com aparente indiferença. O calor que emanava da terra abrasada pareceu intensificar.
-Me disseram que precisava de uns minutos
-Assim é, suponho que recebeu minha mensagem e sabe que temos problemas de alojamento.
-E você recebeu o meu, que era para estar às sete e meia no meu gabinete.
-A sete e meia – disse Emma sem perder a calma – é tarde demais.
-Não posso fazer nada então, deve ter observado que estou tentando apagar um incêndio.
-Não estou pedindo que faça um favor – disse ela cortante – Quero que se responsabilize do erro que cometeu o administrador do festival. Mackenzie ergueu a cabeça para trás e a olhou com displicência. 
-Não sei do que esta falando – disse.
-Alguém cometeu um erro, a secretaria de Roy Jackson disse que você tem a informação.
-Mas não comigo – Mackenzie abriu os braços como indicando que podia processá-lo. Emma deu um passo para trás e sorriu com satisfação mesquinha.
-Ao menos podia sugerir alguma alternativa – disse Emma friamente – Sei que está ocupado, mas também estou. Estou a manha toda dirigindo, tenho que descarregar o cenário e montar, além de fazer um ensaio técnico, preciso resolver a questão do alojamento antes de fazer tudo isso, não depois.
Pela primeira vez, Mackenzie pareceu olhá-la com simpatia, mas voltou a mudar de atitude quando o chamaram pelo radio. Depois de dar algumas ordens, rumou para ela.
-Tenho que ir, venha no meu gabinete e verei o que posso fazer.
Sua insistência em que a fazia um favor irritou Emma.
-E por que não agora? Estou certa de que poderia chamar a alguém para resolvê-lo.
Mas esquecer e perdoar não parecia parte da filosofia de Mackenzie, a olhou com dureza, uma coisa que era que tivesse conseguido chamar sua atenção e outra que estivesse disposto a aceitar suas ordens.
-Senhorita Spencer, isto é um incêndio e não pode garantir sua segurança, assim será melhor que volte a cidade, organize o cenário,e tome um chá ou que seja o que tomam os atores. Estarei em meu gabinete esta tarde e farei o que puder para ajudá-la – e sem esperar uma resposta, se afastou de Emma deixando-a com a boca aberta.
 Sentia-se como se fosse dado um tapa paterno na cabeça e tivesse dito que fosse jogar enquanto se envolvia com os maiores. O que seja que tomam os atores. Era certo que pensava que os atores eram uns bêbados. Emma foi atrás dele. 
-O que tem de especial no gabinete? Por que aqui não pode me ajudar e lá vai mover céus e terra por mim?
Mackenzie se deteve
-Não disse isso – disse em tom calmo – Teria que conhecê-la mais.
Muito lindo um de seus homens riu, Mackenzie continuou andando e Emma o seguia. Ele se voltou para olhá-la com dureza.
-Já que vamos ter que trabalhar juntos durante os próximos dias, por que não me chama de Emma? – disse amigavelmente, para esconder sua raiva – Como posso chamá-lo? Não gosto de chefe – sorriu e tirou os óculos, ele a olhou revirando os olhos.
-Mackenzie basta.
-De acordo Mackenzie. 
Emma continuou andando com ele e o ouviu dar instruções de que se queimaram as partes que tinham se livrado das chamas. Quando Mackenzie deu conta de que seguia ao seu lado, deteve-se com um gesto de exasperação, seu olhar posou em seu rosto antes de descer até seu peito e Emma voltou a se perguntar se tinha a camiseta desabotoada, Mackenzie afastou os olhos e os esfregou.
-Disse que tinha entrado em contato com o gabinete de Roy? – disse olhando ao longe.
Emma aproveitou a única brecha de colaboração que se apresentava e explicou tudo o que tinha feito para resolver o problema.
-Se tivesse conseguido algo não estaria aqui – explicou – Ninguém sabia de nada ou ao menos, não pareciam dispostos a contar.
-Somos uma comunidade pequena e os rumores circulam com rapidez, você e sua companhia são muito audíveis – concluiu Mackenzie, dirigindo um olhar irônico rumo aos alto-falantes do carro.
 Tampouco sua voz estava mal, claro que não tinha uma preparação profissional, mas era profunda e insinuante.
-Os rumores circulam com rapidez.
-Quer dizer que o que dissemos no pub sobre salsichas e os quadros de Clements...?
Quando Mackenzie assentiu, Emma tirou o gorro e passou a mão no rosto, ao fazê-lo sua trança. Deslizou sobre seu peito, e Emma a trouxe para trás. Seu cabelo pareceu chamar a atenção de Mackenzie.
-Não pretendíamos ofender ninguém, Mackenzie. Sinto muito, o que podemos fazer para que nos perdoem?
Mackenzie sorriu com desdém.
-Se preocupa que o povoadinho não compre as entradas para o teatro?
-Claro que sim.
Mackenzie deixou escapar uma gargalhada.
-Ao menos é sincera
-Mas não usaria a palavra povoadinho.
-Isso não é o que tenho ouvido.
Mackenzie retomou o passo e Emma somente podia seguir.
-Tem microfones no hotel? – perguntou Emma dirigindo-se as suas costas – Olha – o ruído do caminhão ao colocar o motor em marcha a impediu de seguir – Escuta Mackenzie – começou de novo, mas tropeçou em uma rocha e perdeu o equilíbrio.
Ele a segurou por um braço e a colocou de pé, ficando de frente para ela. A essa distancia Emma pode apreciar que tinha o mesmo nariz que seu irmão. Contudo os lábios eram muito diferentes, se curvavam para baixo e eram finos. E suas sobrancelhas se mostravam em uma linha reta e tinha os olhos tão dilacerados que eram quase invisíveis. Talvez fossem tão azuis e cálidos como os de seu irmão, mas Emma duvidava. O suor que havia provocado à fumaça e as cinzas entraram nas rugas ao redor dos olhos, envelhecendo-o. Cheirava a suor e fumaça, e a segurava com tanta força que Emma foi logo consciente de sua fortaleza e de seu grande tamanho. O calor estava sendo insuportável e com um amplo movimento de mão Emma colocou o gorro. A aba da frente roçou em Mackenzie, fazendo abrir os olhos e jogar a cabeça de lado.
-Tem os olhos verdes – comentou Emma, surpreendida.
Mackenzie a olhou desconcertado.
-O que?
-Tem olhos verdes, não é freqüente.
Houve uma longa pausa 
-Você sim não é freqüente.
-Deduzo que não diz como um elogio.
-Esperava que o devolvesse?
-O que o faz pensar que o que disse foi um elogio? Pode ser que não goste dos olhos verdes. 
Mackenzie sorriu, mostrando os dentes perfeitos e brancos, quando a soltou, Emma retrocedeu aliviada de poder distanciar-se dele mesmo que sentisse que Mackenzie a olhava com interesse.
-Poderia procurar uns sacos de dormir – disse ele em tom indiferente – Ou dar-lhes permissão para que durmam no centro social.
-Dormir em sacos no chão? – perguntou ela sem dar credito aos seus ouvidos – Por que não me dá um machado para que construa um abrigo?
Mackenzie riu divertido, se voltou para fazer um sinal e o condutor acelerou o motor. Emma observou Mackenzie com cautela, temendo que houvesse dado a ordem para licença.
-Espero que me faça uma oferta melhor – disse. 
-Podiamos instalá-los em barracas.
-Em tendas? De verdade acredita que e essa é uma oferta melhor? – sacudiu a cabeça – Podemos falar serio? O administrador firmou um contrato com a compania e tenho um contrato com os atores, se nao encotro um alojamento, irão embora.
-Se vê que tem problema de autoridade – disse ele – A mim jamais abandonaria nenhum dos meus trabalhadores, sabem mostrar lealdade.
Era evidente que Mackenzie tentava provoca-la, mas Emma não se intimidou. Levava tempo demais esperando aquele projeto como para tirá-lo agora.
-Espero que algum dia me conte seu segredo – disse com sarcasmo – por agora bastaria com que me conseguisse quartos com banheiros. 
Mackenzie tirou o capacete e penteou os cabelos com os dedos, o tinha escuro e forte, nada parecido com a imagem que Emma havia feito.
-Emma – disse Mackenzie no mesmo tom que utilizara com uma menina de escola – Estamos numa seca, este é o novembro mais caloroso dos ultimos sessenta nos, as próximas semanas vão vir numerosos visitantes descuidados que podem jogar um cigarro aceso ou fazer uma fogueira sem preucação, minha responsabilidade é evitar incendios na comunidade, sinto muitissimo que quatro atores da capital tenham que passar uma noite incomoda – segurou o capacete contra o peito, fazendo uma cara de pena despertando a risada de seus homens, que responderam de imediato. Emma estava certa de que a lealdade incluia rir de todas as brincadeiras do chefe – Mas isso é mais importante e vai ter que esperar, ou vai dormir na barraca ou espera para me ver às sete e meia no gabinete.
Colocou o capacete e saiu. Emma lhe dirigiu um ohar matador, mas supor que já nao tinha o que fazer, quando subiu no seu furgão, um dos homens assobiou ao ver suas pernas, oferecendo entre risada uma cama com serviço de quarto incluído. Os demais fizeram eco em suas risadas, o comentário fez que Mackenzie se voltasse rumo ao homem e o repreende-se e Emma se perguntou se ao dizer que não podia garantir sua segurança era isso a que se referia. Fechou a porta do furgão com tanta força que a fez tremer.
A caminho da cidade uma motocicleta entrou em sua frente, o condutor indicou que se detivesse. Emma reconheceu Steve Mackenzie e parou no acostamento, Steve se aproximou com a viseira do capacete levantada e um amplo sorriso.
-Espero que tenha algo interessante para dizer por que agora mesmo os Mackenzie nao me descem muito bem – disse em tom arisco. Steve riu.
-Não posso evitar ser irmão do chefe – tirou um papel e uma caneta do bolso e escreveu algo – Este é o endereço de Sara Hardy, é a presidente do clube de teatro. Tinha alugado alguns quartos durante o fetsival, mas cancelaram as reservas. Está irritada por que o administrador por que os contratou para a cerimonia final no lugar dela, mas penso que os ajudará. 
Emma começava a se perguntar se tinha alguem no povoado que não tivesse algo contra eles. 
-Tem um incoveniente, escreveu uma obra de teatro – disse Steve – e pode ser que queira que a leia.
-Se esse é o preço que tenho que pagar... Por que está me ajudando? Seu irmão pode seaborrecer.
-Ajudá-la é um prazer Emma, e incomodar Matt ainda mais – disse Steve antes de voltar para a moto e arrancar sobre uma roda.
Matt, a rua parecia fundir-se na distância devido ao calor. Matt Mackenzei, um homem rude e grosseiro, mas com olhos da cor do fundo do mar e uma voz que arrepiava os pelos.
Sara Hardy superou seu aborrecimento e lhes ofereceu abrigo para uma noite em sua casa perfeitamente decorada.
-Mas tenho outro hóspede, assim somente podem ficar tres – disse inclusive depois de que Emma aceitara ler a sua obra.
Emma aceitou as condições para evitar um montim, ao sair com o texto debaixo dos braços, a casa começava a cheirar a comida caseira e a folhas limpas, e lembrou com tristeza depois de comer um hambuguer queimado, quando se dispos a passar a noite no furgão em frente ao gabinete de Mackenzie que, por outro lado, não tinha retornado as sete e meia.
Ligou a luz interior e escreveu uma carta para Ami.
O chefe de Catastofe é um tipo duro que tem um Adonis como irmão, não sei como me ocorreu sair em turne neste verão, este é o novembro mais quente dos ultimos sessenta anos! Tem que ver do que sou capaz de fazer para conseguir uma conversa com o ministro da cultura. Esta manhã atropelei um canguru, me senti como uma assassina. Oxalá estivesse comigo.
Pos o selo e ao penso no quanto desfrutaria Ami quando descrevesse Steve Mackenzie enquanto tomavam um cafe, sofreu um ataque de melancolia, a turna estava sendo um desastre desde todos os pontos de vista. Colcou a mão no bolso para apalpar seu amuleto, um isqueiro de ouro que tinha ganhado de Simon. Quando a deixou estava a ponto de tirá-lo junto com as lembranças de Simon, mas ao final havia decidio não fazer para que sempre se lembrasse que não devia deixar que ninguem controlasse sua vida. E até então havia cumprido seu papel, passou uma mão e acariciou a inscrição: Para Emma, que ilumina a minha vida, Simon. A mensagem ainda remexia em algo em Emma depois de quatro anos. Eram umas palavras aparentemente simples e sinceras. Emma o acendeu e ficou olhando a chama, mas Simon não tinha de simples.
Passaram as horas e Emma caiu em um sono incomodo, por sua mente passava uma e outra vez o que ocorreu com o canguru, voltava a sentir o golpe seco contra o furgão, o horrivel momento em que descobriu que tinha matado um ser vivo. Cada vez que fechava os olhos, vinha o episódio completo até que se produzia uma variação no lugar do canguru, vinha Mackenzie tombado e com manchas de sangue. Com um gemido mudou de lado, a pouca distancia ouviu o ruido de uma porta fechando. 
Umas pisadas se aproximaram do furgão, Emma esticou a mão para trancar a porta, tarde demais, a porta se abriu bruscamente e a luz interior se acendeu. Um homem se inclinou para olhar o interior. Era o chefe.
Emma ficou olhando.
-Acreditava que estava morto – disse.
Capítulo 02
-Isso era o que gostaria? – disse Mackenzie 
-Preferia você que o canguru.
Mackenzie a olhou fixamente antes de olhar pelo furgão
-Está sozinha ou seus companheiros estão vigiando a porta de trás?
Emma saiu de sua sonolência.
-Meus companheiros estão dormindo como reis depois de comer na casa de Sara Hardy, graças a Steve que teve a amabilidade de dar seu endereço.
-Não me contou que tinha feito uma boa ação – disse Mackenzie sarcastico – E você por que está dormindo na porta do meu gabinete, como ato de protesto?
-Estou ocupando o estacionamento, mas isso não quer dizer que estava dormindo. Custa-me dormir ainda nas melhores circunstâcias – Emma piscou para tentar afastar os olhos de Mackenzie – Sara somente admitia tres, não me importei de dormir no chão, mas a ela não gosta de que estraguem a perfeita decoração de sua casa – lembrando da suspeita dos habitantes de Catastrofe, Emma levantou uma mão – Que conste que não é uma queixa Mackenzie. Tambem não gosto que minha casa esteja desordenada. Está certo que ofereceu hospitalidade a minha gente e não quis fazê-la se sentir culpada, isso é tudo.
-Não entendo nada do que diz – disse ele 
-E você chegou tarde.
-Suponho que te deram o recado de que não voltaria às sete e meia.
-Como o mandou? – perguntou ela – Vi uma pomba, mas nao parou para falar comigo.
Mackenzie apertou os lábios.
-Pedi a um dos meus homens que lhe disesse que não chegaria a tempo e que fosse ao camping.
-Pois não veio. 
-Maldita seja!
Preocupava-lhe ter causado aquela situação incomoda ou de não ter sido obedecido?
-Será que tem um probelma de autoridade Mackenzie? – disse Emma com sarcasmo repetindo suas palavras apesar de que estava cansada demais para brigas. Também Mackenzie parecia esgotado. Estava sujo e tinha os olhos vermelhos – Tem o aspecto pior que antes – comentou ela sem malícia, consciente de que seu aspecto não era muito melhor depois de descarregar o furgão e montar o cenário. 
-Nao tenho dúvida – disse ele baixando a cabeça. Eram duas da manhã e seguia com o uniforme anti-incendios, o que Emma duvidou que estava trabalhando até agora.
-O que aconteceu? – perguntou Emma – O vento mudou?
-Justo antes da meia noite, acabamos pouco depois que você se foi, mas preferi ficar e esperar que o vento parasse – parecia surpreso de que Emma se mostrasse interessada.
-Sozinho? – perguntou Emma. Quando Mackenzie assentiu, acrescentou – Ser o chefe tem suas desvantagens, sua gente e a minha estão na cama e nós dois nem sequer tomamos banho.
Mackenzie lhe dedicou um sorriso cínico e Emma se arrependeu de ter feito um comentario tão íntimo.
-Por que não foi para casa Mackenzie? – comentou – Não acredito que está aqui para trabalhar.
Mackenzie parecia ter tomado uma decisão, e abriu a porta do furgão escandarando-a.
-Será melhor que entre no gabinete
-Para que? – perguntou Emma – Não sei taquigrafar – brincou.
Mackenzie não se intimidou, parecia não ter vestigio de humor.
-Minha casa está longe da cidade, asism que somente dormo aqui quando trabalho até tarde, pode tomar uma ducha.
Emma ficou de pé rapidamente.
-Uma ducha – repetiu em tom reverencial, saindo do furgão e buscando a bolsa de viagem.
-Estava a ponto de não vir – disse Mackenzie enquanto a observava, passou a mão pelo o rosto - E não tinha como saber que estava aqui oculta. 
Emma se indignou ao ouvir Mackenzie se referindo como se fosse uma fera disposta a lançar em cima dele.
-Não acredite que me fez bem ver Mackenzie, somente me alegrei quando mencionou a ducha.
O ouviu rir enquanto ia abrir o gabinete, para quando Emma encontrou a bolsa, Mackenzie já tinha entrado, deixando a porta aberta atrás dele, Emma leu o letreiro que era de vidor: Matthew B. Mackenzie, vereador. 
O gabinete tinha um aspecto mais acolhedor da noite, tinha dois escritórios, um com uma cadeira de rodas; sobre o outro tinha um computador, na lateral, tinha um divã que parecia pequeno para Mackenzie, somente estava acesa uma lampada da mesa. Mackenzie parecia ter desaparecido, mas se ouvia a água do chuveiro. Emma lançou um olhar para os livros e revistas de administração pública, agricultura e meterologia que estavam na estante. Em uma das paredes havia fotografias de Catastrofe, antigas e contemporaneas. Junto delas estava pregado um quadro que lhe pareceu familiar. Ao se aproximar viu que estava assinado por J.Clements. Seria o único pintor da região?
Atrás da mesa, estava apoiado um mapa da região, Emma o levantou e traçou com o dedo a rota que havia seguido a compania durante a turne até chegar a Catastrofe. Os povos pelos que tinham passado estavam marcados de vermelho, abriu a porta do banheiro e Mackenzie se colocou atrás de Emma.
-Estes pontos vermelhos representam a minha compania Mackenzie? Estava nos esperando para receber com uma almofada vermelha? – brincou Emma. Mackenzie tomou o mapa de sua mão e a olhou friamente, fazendo se sentir incomodada – Estava ali mesmo – para se desculpar.
Ao olhar Mackenzie se deu conta que estava praticamente desnudo. Usava uma toalhana cintura e tinha o cabelo úmido penteado para trás, seguia precisando se barbear e tinha a expressão cansada, mas sem a sujeira parecia mais jovem e sem chegar a ser tão lindo, ao menos resultava menos tosco. 
Mackenzie a olhou com desconfiança.
-Como segui sua compania? – perguntou aproximando o mapa da luz. 
Ao fazê-lo os músculos do braço se marcaram e umas gotas deslizaram pelo o torso de ferro, estava em ótima forma.
-Gosta do que vê? – disse secamente ao ver que Emma o observava distraída.
-Estava olhando? Perdão, mas estou tão cansada que não sei o que faço – disse com indiferença. Mackenzie a olhou com um brilho especial nos olhos.
-Por que pergunta se esses pontos vermelhos são vocês? – perguntou Mackenzie voltando sua atenção para o mapa.
-Por que temos parado em todos os povoados marcados, pessoalmente haveria os marcado com rosa, não com vermelho.
-Por quê?
Emma encolheu os ombros. Mackenzie a olhou com desconfiança
-Pelo calor, pela poeira e pelas moscas, aqui nos pegou um admirador insuportável – Emma assinalou um dos pontos – Nos seguiu desde então com ramos de flores e propostas de casamento. Não tem maneira de fazê-lo desistir.
-Fez propostas a você?
-Desgraçadamente sim.
-Deve ser terrível ser adorada – disse Mackenzie com sarcasmo.
Emma ficou vermelha e teve vontade de dizer que aquela sensação que sentia era melhor do que ser assediada por algumas rosas e cravos. 
-Terrivelmente chato – disse, fingindo um arrogancia que não sentia – Aqui se rompeu parte da equipe – assinalou outro povoado – Não vou lhe cansar com nossos fracassos de bilheteria, o certo e que não temos alcançado grandes triunfos.
Mackenzie a olhou com dureza antes de retirar o mapa e dar-lhe uma toalha.
-Pode tomar banho – disse com uma frieza que fez Emma suspeitar que somente tinha água gelada – Mas não demore, temos ecassez de água. 
A ducha foi um prazer. Emma se livrou da sujeira do dia, mudou de roupa e soltou o cabelo, saiu convertida em uma nova pessoa, relaxada e feliz. Mackenzie tinha colocado jeans e usava uma camisa desbotada. Estava sentado no sofá e parecia ter dormido. Quando abriu os olhos, Emma lhe dirigiu um amplo sorriso.
-Lhe agradeceria – disse – mas dadas as circusntancias, era o mínimo que podia fazer.
Mackenzie piscou e a olhou fixamente, Emma susteve o olhar.
-É de verdade? – perguntou ele finalmente.
-O que?
-O cabelo, me refiro a cor.
Emma teve a sensação de que havia produzido uma sutil mudança de atitude rumo a ela.
 -E o teu? – perguntou
Mackenzie riu como se fosse inconcebível que nele algo fosse artificial.
-Esqueça. Chá ou café? – a cadeira rangeu quando se levantou para ir atrás da outra mesa, onde havia uma cafeteira elétrica e vários copos.
-Chá, por favor.
Mackenzie tirou uma chaleira do armário, colocou um saquinho de chá e água fervendo. Levantou uma embalagem de leite e quando Emma assentiu, colocou um pouco em cada copo. Houve uma pequena pausa na qual Mackenzie olhou pela janela e fez girar a chaleira na mão para fazer uma infusão mais forte. Com cuidado, sujeitou a tampa com o dedo e seviu com chá com delicadeza.
-Assim eu gosto – comentou Emma quando entregou seu copo, oferecendo bolachas de uma lata – E muito mais agradável quando está cansado, ou talvez quando está sozinho não sente que tem que atuar como o grande chefe.
Mackenzie se sentou e colocou os pés sobre a mesa.
-Não atuo como o chefe, mas sou o chefe, e sempre sou agradável.
-Isso é o que todos os homens acreditam, mas quando está em grupo zomba das mulheres. 
-Isso é mentira.
-Faria esperar um homem mais de uma hora antes de dedicá-lo um minuto do seu tempo? Se seus homens não houvessem assobiado ou gritado, você não teria negado estender a mão – Mackenzie piscou, mas não disse nada – Por isso se houvesse podido fazer da minha maneira, haveira tentando vê-lo sozinha.
-Por quê?
-Não é evidente? Desde que estamos sozinhos, me ofereceu seu banheiro, uma toalha, chá e bolachas – disse Emma em tom de brincadeira.
Mackenzie estava em um silêncio incomodo, como se estivesse arrependendo-se de sua generosidade, Emma levou uma mão à nuca, jogou o cabelo sobre o ombro e o penteiou com seus dedos até que se deu conta de que Mackenzie parecia hipnotizado por seus movimentos. Emma teve o impulso de ir ao banheiro e fazer uma trança, como se fazendo podesse relaxar a tensão sexual que logo havia surgido entre eles, mas não se moveu.
-Não ocorreu pensar que queira estar sozinho com você?
Emma hesitou por uns instantes, não era boba, mas não podia defender-se de Mackenzie se esteve tivesse intenção de atacá-la. A adrenalina correu pelas veias. O que faria nesse caso? Fugir ou lutar?
-Não é mais que uma brincadeira, relaxa – disse ele – Ja apaguei muito fogo por um dia.
Essa era a arrogância de quem se permitia brincar sobre temores que ele mesmo nunca havia sentido, pensou Emma. Os homens jugavam a semear a desconfiança para logo fazer sentir estúpidas as mulheres por ter duvidado deles.
-Não estava preocupada – disse Emma esticando-se – Sinto as segundas intenções a vários quilometros de distância. Os homens que as tem tentam ser encantadores – sorriu para indicar a Mackenzie que nesse sentido estava fora de qualquer suspeita.
-Ja vejo – disse ele olhando-a com satisfação – mas firmar-se somente em sua intuição me parece um pouco arriscado.
-Não é somente a atitude que delata um homem, de todas as formas estou certa de poder adivinhar o que realmente o preocupa neste momento.
-Ah sim? – disse ele desafiando. Baixou a luz da lampada, seus olhos eram apenas dois traços brilhantes, fez girar a cadeira de um lado para o outro. 
-Se pergunta se devia ter ficado vigiando o incendio, tem medo de que se levante o ar as faicas que não foram apagadas, e pensa que deveria voltar – Mackenzei se deteve o movimento da cadeira bruscamente – Não faz nada mais que olhar o relógio e pela janela para ver se o vento move a arvore – Emma deu um gole no chá desfrutando o silêncio de Mackenzie, levantou o copo em um brinde mudo.
-Tambem lê os copos de chá?
Emma sorriu.
-Não, somente a mente das pessoas.
-Como livros abertos?
-Uns são mais diféceis que outros, por exemplo, com você não posso dizer se é pratico, leal ou amável.
Emma dirigiu o olhar rumo ao quadro de J.Clements. Mackenzie riu, mas não disse qual desses sentimentos haviam feito se fechar em seu espaço.
-Vai dormir na cadeira? – perguntou Emma, com a esperança de poder tomar no divã.
-Se tem que me perguntar e por que não consegue ler mentes.
-Isso o tranquiliza Mackenzie?
-Mais do que imagina.
Abriu os olhos e o brilho que Emma vislumbrou neles a inquetou, fazendo acelerar o pulso, mas ao ver que desaparecia repentinamente como havia aparecido, pensou não devia ter sido mais que uma ilusão.
-Pode dormir no divã – disse Mackenzie antes de apagar a lâmpada.
Através da persiana se filtrava a luz da lua, a cadeira chiou várias vezes e logo se fez um silêncio absoluto. Emma pensou que não dormiria, mas o fez. Quando acordou uma hora mais tarde teve a sensação de que algo tinha mudado. Depois de um instante de observação, se deu conta de que se tratava do movimento exterior. A árvore se movimentava com violência. Emma ficou reta e olhou Mackenzie, que estava sentado encostado com uma mão na cabeça e olhou fora da cadeira, somente era possível dormir naquela incomoda postura por esgotamento e Emma pensou que seria melhor não incomodá-lo. Durante uns minutos olhou a habitação sem saber o que fazer, mas quando viu que sucediam varias rajadas de vento, acendeu a luz e sacudiu Mackenzie pelo ombro.
-Mackenzie – Mackenzie pulou na cadeira a tomou nos braços e a olhou com expressão artudida – O vento se levantou, pensava que queria saber.
Mackenzei se afastou para o lado, abriu os olhos e olhou pela janela, amaldiçoando, se agachou para recolher o cinturão que estava entre a pilha de roupas que tinha deixado nochão.
-O que supõe que está fazendo? – perguntou ao ver que Emma trançava o cabelo.
-Vou com você, tem uma lanterna sobrando?
Mackenzie deu as costas e colocou o cinturão.
-Não vou consentir que venha.
-Entre nós dois podemos procurar restos do fogo mais depressa, além disso, não acredito que possa dormi não me importo de ver o bosque de noite.
-Se quer a excitação de uma excursão noturna, vá a um safari – disse ele grosseiramente – Fica aqui, o ultimo que preciso é uma mulher histérica do meu lado.
A porta se fechou atrás dele, Emma ficou paralizada. Ouviu o ruído do motor seguindo de um silêncio. Uns segundos mais tarde ouviu uma porta fechando-se e pisadas que se aproximavam, a porta do gabinete se abriu e Mackenzie apareceu no umbral, pela a expressão de seu rosto, Emma supôs de imediato que não voltou por que estivesse arrependido de seu comportamento.
-Meu carro não arranca – disse ele secamente – O mais simples seria ir com a sua, me dá as chaves?
Estendeu as mãos assumindo que Emma as entregaria sem protestar, mas Emma, lembrando logo de Simon, com sua atitude angelical, sempre conseguia o que queria, reagiu a tempo, e tirando as chaves do bolso a levou ao peito.
-Meu furgão está a sua disposição chefe – disse. Quando Mackenzie foi pegá-las acrescentou – E essa mulher histérica vai conduzí-la.
O furgão corria a toda velocidade pela a mesma estrada que havia percorrido fazia menos de doze horas. Emma sentiu o olhar de Mackenzie fixo no dela em várias ocasiões. Estava certa de que era a primeira vez que não era ele quem conduzia.
-Estranhei que não me arrancou as chaves Mackenzie.
-Estou cansado, mas não sou idiota – resmungou ele, como se a considerasse mais forte que ele. Desconcertada, Emma o olhou no preciso momento em que algo se cruzou diante do furgão. Girou o volante para esquivar do animal com tal brusquidão que estiveram a ponto de sair da estrada, mas Mackenzi sujeitou o volante a tempo. 
Emma freiou e parou o furgão em um lado da estrada, passando uma mão tremendo pelo o rosto, sentiu que a abandonavam as poucas forças que tinha ficado. 
-Sinto muito, ontem atropelei um canguru e o matei, é a primeira vez que mato um ser vivo não queria que voltasse a acontecer.
-Por Deus Emma, somente é um coelho.
-Eu sei, eu sei, estou certa de que você não hesitaria em atropelá-lo, mas para mim é espantoso – estava tremendo, se sentia tão afetada como quando havia matado o canguru.
Logo se deu conta de que estava se apoiando em Mackenzie, e que ele tinha o braço apoiado no assento e praticamente a abraçava. Emma se separou levemente, mas se manteve a distância suficiente para sentir o calor que emenava de seu corpo, Mackenzie não se moveu.
-Quando chegou essa noite estava sonhando com ele – comentou voltando o rosto rumo a Mackenzie.
-E comigo – disse ele, olhando-a com um brilho inquietante no olhar.
-Que?
-Devia estar sonhando comigo – sua voz soou grave e aveludada, Emma sentiu como uma carícia – Quando abri a porta do frugão me disse que acreditava que tinha morrido no lugar do canguru.
Emma o olhou perguntando-se se tinha idéia do efeito que uma voz como a sua tinha sobre ela.
-Isso não era um sonho – disse com altivez – sim uma fantasia Mackenzie, estava imaginando o prazer que produziria atropelá-lo.
Mackenzie riu satisfeito.
-Vejo que desperto impulsos violentos – disse Emma cortante 
-Se pudesse escolher, prefiro as carinhosas.
Emma franziu o cenho.
-O que quer dizer?
Mackenzie olhou mais para frente, seguindo a luz que projetava os faroies sobre a estrada.
-Estou... a ponto de me comprometer – disse 
Emma ficou desconcertada com aquela brusca mudança de assunto.
-Se comprometer? – por que a desiludia saber que Mackenzie não era livre? Era um tipo dominante e autoritário, criado no meio onde homens e mulheres ocupavam lugares diferentes. Nem sequer tinha uma beleza ou sofisticação que tinham feito Simon tão atraente no começo e ainda assim, Emma se sentiu desanimada – Parabens – disse finalmente – mas não entendo por que me disse e repente, de noite e no meio da estrada.
-Esta certa?
Emma levou a mão na cabeça perguntando-se se tinha levado uma pancada e estava com amnésia.
-Me esqueci de algo importante? – disse dando-se conta logo do significado do tom que Mackenzie havia empregado e a forma que a olhava. Não tinha dito que preferia as reações carinhosas que violentas?
-Está de passagem e não quero... nenhuma complicação – disse Mackenzie.
Emma ficou de boca aberta.
-Quer dizer que não esta disponivel? – perguntou Emma sem dar credito aos seus ouvidos.
 Mackenzie mostrou a língua.
-Sabe perfeitamente a que me refiro. 
Emma ficou vermelha de raiva, logo lembrou a forma que Mackenzie se havia referido a ela como se fosse um animal pronto a atacar, sua insinuação de que provavelmente gostava que Wayne Street a adorava, a maneira em que havia olhado ao dizer que era muito mais agradável estando sozinho, era evidente que Mackenzie a considerava uma vampira e pensava que ele era seu objetivo. Sua arrogância a deixou sem respiração.
-Não sou nenhum menino Emma, e você é uma mulher adulta. Sabe perfeitamente o que está acontecendo entre nós dois.
-Talvez você queira me explicar.
-Se chama atração fisica – disse ele sem rodeios – Química, eu é que sei!
Suas palavras estavam cheias de desconcerto e amargura, Emma sentiu que o coração se encolhia. Era um pequeno triunfo que um homem com a fortaleza e segurança de Mackenzie admitisse estar desconcertado, mas se tratava de uma vitória que apenas causava satisfação. Não se tratava mais que atração física e Mackenzie se havia referido a ela com quase repugnância. Mackenzie a olhou com expressão compassiva, como se quisesse suavizar a dureza de suas palavras.
-Mas se fosse livre... – deixou a frase no ar como se quisesse que Emma imaginasse as delícias de tê-lo ao seu alcance – Mas não estou – concluiu bruscamente fechando a porta do passageiro que somente havia deixado meio aberta.
-Como pode ser tão arrogante? – exclamou Emma indignada – Escuta que você seja livre ou não, não tem a menor importância por que não é o meu tipo – Mackenzie a escutava com um sorriso de superioridade e Emma se odiou por sentir-se levemente atraída por ele – É grosseiro, machista, egocêntrico, pomposo, arrogante e ganancioso.
-Ganancioso? – protestou ele
Emma pensou que era significativo que todos os insultos que havia indicado somente este o afetara.
-Me pede que me mantenha longe de você, mas ao mesmo tempo adoraria que admitisse que me atrai, assim consegue aumentar o seu ego em dobro, isso é o que chamo de ser ganancioso – disse Emma dando um chave no ombro dele.
-Não faça isso – disse ele apertando os dentes.
-E vamos esclarecer a idéia de que aconteceria se estivesse livre – continuou Emma – É evidente que por que sou atriz acredita que sou uma qualquer, capaz de chegar a uma cidade e ter um affair com o chefe, pois não sou assim, nem conheço ninguém que seja. Tem essa opiniao tão baixa de todas as mulheres ou somente de mim?
-Asseguro que não a considero uma qualquer – disse esfregando o ombro.
-Como se atreve a fazer brincadeiras? – disse ela com raiva.
Estava furiosa, mas não pensava agredi-lo. Contudo Mackenzie deve ter pensando ao contrário, pois a segurou pelos pulsos, somente se ouvia o ruído do motor e Emma sentia as batidas de seu coração, o peito dele subia e descia com cada respiração e Emma podia ver a camisa expandir-se e contrair com cada movimento.
Seu protesto resultava logo patético, a tensão que havia entre eles podia ser por causa da fúria que sentia, mas havia algo mais, como se a escuridão os rodeava, o calor da fumaça que emenava da terra e o calor que irradiava seus corpos se combinaram para dar lugar a. que?
Mackenzie a segurou pelo pulso de maneira que seus polegares roçavam na parte interna de seu braço, despertando em Emma a mesma sensação que havia produzido sua voz.Seus dedos capturados roçavam nos ombros poderosos de Mackenzie e não pode evitar se perguntar o que sentiria ao beijar a boca implacável. Mackenzie tirou levemente dela, Emma tentou se lembrar se Simon havia feito se sentir daquela maneira antes que tudo acabasse, mas sua imagem resultava intranscedente comparada com a solidez de Mackenzie, contudo pensar em Simon serviu para recuperar o dominio de si mesma. 
Mackenzie a sujeitou com firmeza, com a mão que tinha livre, Emma foi tocar seu amuleto, mas estava no seu bolso contrário.
-Como se chama? – perguntou com a voz quebrada.
Seguiu uma pausa.
-Libby – disse Mackenzie finalmente.
O nome atuou com um radioativo, a química pareceu se diluir. Libby. Abracadabra Mackenzie a soltou. 
-Libby. É um diminutivo de Elizabeth? – perguntou Emma com amabilidade premeditada
-De Elisa – disse sorrindo com zombaria.
Emma estava irritada consigo mesma pela pontada de desejo que havia sentido. Um homem no estilo de Mackenzie e que não conhecia...! Era uma sorte, que estivesse a ponto de se casar. Teve a sensação de sido resgatada da borda de um precipício. Graças a Libby.
-Quando pediu a Libby que se cassasse com você? – perguntou Emma repetindo o nome deliberadamente – Se colcou de joelhos?
Mackenzie sorriu
-Não houve esse momento, com o tempo nos temos dado conta de que nos levavamos bem...
-Que romantico! Quando celebrarem as bodas de prata, podem lembrar que com o tempo se deram conta que se davam bem.
Mackenzie pareceu fazer uma reflexão, olhou a lua atrás do vidro. 
-Tenho trinta e dois anos, é hora de formar uma família, esperei muito tempo a...
A que? Perguntou-se Emma... a algo mágico? A mulher adequada? E essa era Libby. Sentiu ciúmes da mulher que não conhecia e certa melancolia por encontrar algo que não acreditava, devia ser o efeito da insonia e da fumaça; e da lua cheia.
-Faz bem Mackenzie, uma família o tornará mais humano.
Ele riu e a olhou.
-E você? Não quer se casar?
Emma olhou para fora, as árvores se encaixavam contra o céu iluminado pela lua e pelas estrelas. A fumaça impregnava o ar, podia dizer que já havia estado casada e não pensava repetir.
-Gosto do meu trabalho, minha casa e meu sobrenome, e não conheço nenhum homem que não me pedisse para renunciar ao menos um dos três – disse de pronto.
-Não renunciarias por um homem?
-Por que iria fazer? – disse com aspereza pensando em Simon. 
-Que cigana!
-Essa palavra já passou da moda.
-Sou um homem da moda antiga
Emma se estremeceu.
-Sou uma mulher moderna. E Libby?
-Libby é perfeita para mim. 
-Pobre Libby – exclamou Emma imaginado se ela era submissa ao jogo de Mackenzie...
Ele riu como se estivesse convencido de que Libby era a mais afortunada das mulheres, e se ofereceu para conduzir dado que o campo estava cheio de coelhos e não queria arriscar sofrer um acidente por salvar um animal. Emma ignorou seu tom sarcástico e aceitou. A região arrasada pelo incêndio oferecia um aspecto desolador. O vento soprava nas folhas vivas e o fogo crepitava, os troncos das arvores seguia saindo funaça. Mackenzie com um tanque de água nas costas, demorou três quartos de hora para apagar o restante. Emma pegou uma lanterna e percorreu o perímetro, demonstrando a Mackenzie que não era uma mulher histérica, apesaã de que teve que reprimir para nao sair correndo ao encontrar-se sozinha com a paisagem luar, para quando Mackenzie voltou ao furgão, o vento tinha parado.
-Está tudo bem? – perguntou Emma.
Mackenzie deixou o tanque no furgão e tirou as luvas.
-Havia algumas faiscas, mas as apaguei – disse.
Fizeram o caminho de volta em silêncio, o esforço físico os havia deixado exaustos e somente podiam pensar em cair e dormir. Mais tarde, Emma somente lembraria um silêncio comodo, não supôs como entraram no gabiente, nem quando se deitou no divã, tampouco lembrava de ter tirado o sapato e nem desabotoado o sutian. Mas quando acordou de manhã, estava desacalça, com o torso meio descoberto e junto dela estava tombado um homem com a barba de um dia e sem calças.
 Emma se levantou rapidamente, tinha a camisa aberta e uma estava corberta pelo peso de Mackenzie, ao tentar somente soltá-la o ombro ficou descoberto, Mackenzie se moveu e ficou sobre um cotovelo, estavam tão proximos que rossou com seu queixo a pele desnuda de Emma.
-Que demônios...? Não lembro.... - olhou rumo à cadeira e voltou a olhar Emma. Parecia hipnotizado.
Emma tirou a camisa com força e Mackenzie se levantou levemente para soltá-la, sem dirigir o olhar Emma se cobriu, colocando o cabelo atrás do pescoço. Mackenzie esticou a mão e levantou a trança. Emma o olhou e os sinais sensoriais que tinha tratado de ignorar até esse momento saltaram como alarmes. Estava tão próxima que podia ver cada cabelo de sua cabeça, cada poro de sua pele, e as veias de seus olhos irritados pela fumaça. Seus olhos verdes. Mackenzie não se moveu, seguiu tombado, seminu, como uma estátua com a mão segurando a trança de Emma, seus dedos roçando na nuca e despertando nela sensações sensuais e lânguidas. Emma acreditava lembrar que havia umas palavras mágicas com as que romper a tensão química que crescia entre eles, mas olhando a boca de Mackenzie não pode lembrar.
Ouviu barulho de chaves e a porta se abriu rapidamente, uma mulher os olhou de boca aberta, fazendo que a chave caísse sobre seus dedos, na outra mão carregava uma cesta de que seria de comida. Não pretendeu olhar para outro lado, manteve o olhar fixo nele sem ocultar sua curiosidade.
-Va-lha! Quem está na cama com o chefe?
Emma abotou a camisa a toda pressa, resmungando algo entre os dentes. Mackenzie se levantou e dando as costas a mulher, recolheu suas calças do chão. Emma pode ver que usava uma cueca com estampado de sombrinhas. Ele franziu o cenho ao descobri-la observando-o apreciativamente, pegou os sapatos e avançou rumo ao banheiro precipitadamente, como se estivesse envergonhado. Sem olhar para trás, as apresentou.
-Emma Spencer, esta é J.Clements. 
Capítulo 03
Havia dias mágicos em que tudo parecia bem. Emma havia experimentado muito deles em seus quinze anos de experiência teatral. A mesma obra podia funcionar uma noite, ser um desastre na outra e magnífica na seguinte. Mas aquela noite não era uma dessas em que havia química entre os atores e o público. O teatro tinha meia capacidade, o qual não estava mal tendo em conta a crise econômica da região e os comentários críticos que os atores haviam dedicado ao povo. 
O público demorou em reagir, mas os atores concordaram que tinham conseguido conquistá-los. Ao menos a maioria. Emma havia visto Mackenzie e não parecia muito entusiasmado. Pela manhã havia saído do banheiro furioso e Joyce Clements o havia provocado com descaramento de alguém que o conhecia desde criança. Era prima de sua mãe e sua governanta, e apesar de que havia ido levar seu café-da-manhã por uma devoção maternal, parecia encantada de tê-lo descoberto fazendo algo indevido. Também Emma gostou de descobrir que nem todas as mulheres que rodeavam Mackenzie eram dóceis.
-Me sinto como chapeuzinho vermelho com essa cesta cheia de comida – disse Joyce – Mas não estou certa de quem é o Lobo Feroz – acrescentou com a risada seca. 
Aparentava uns sessenta anos e sua pela dourada pelo o sol, estava lisa. Quando sorriu, se marcavam as rugas ao redor dos olhos, dando um aspecto malicioso.
-Não quero que faça uma idéia errada – disse Emma temendo que corressem mais rumores no povoado sobre a descarada atriz que havia chegado ao povoado – Estava dormindo no furgão quando Mackenzie amavelmente me ofereceu – se interrompeu para observar a expressão furiosa de Mackenzie, enquanto marcava um numero de telefone – abrigo.
-Para te salvar de uma noite escura – brincou Joyce, usando o tom de narração infantil.
-Depois fomos inspecionar um incêndio e quando voltamos estávamos tão cansados que devemos... -Emma fez um amplo gesto com a mão, mostrando o divã.Em certas ocasiões, a verdade resultava mais improvável de que a mais incrível mentira.
Joyce lhe dirigiu um olhar penetrante.
-Foi com Mackenzie a ver um incêndio na metade da noite? Não é normal o chefe deixar que uma mulher o siga.
-Não o segui, o levei no meu furgão.
Mackenzie deixou escapar um suspiro.
-Estou vivo por milagre.
Emma começava a cansar-se do seu mau humor.
-Talvez não seja sempre que tenha a mesma sorte, Mackenzie.
Joyce a olhou com expressão peculiar, observando-a com atenção. Emma teve a sensação de receber sua aprovação.
-Quer compartilhar o café-da-manhã com Matt? Deve estar com fome depois de... Tanto exercício – disse Joyce começando a esvaziar a cesta.
 Apesar de ter falado baixo, Mackenzie a ouviu e resmungando algo sobre as governantas se metiam onde não eram chamadas, saiu do espaço. Joyce riu e tirou um pote de cereais e uma torradeira.
-É melhor saber – disse Emma sentindo apunhalada por sua generosidade – que meus atores estão zombando de seus quadros.
Joyce serviu o chá
-Já ouvi, são uns sem-vergonha, mas fala-me de você. E de Sydney?
Tranqüila com a reação de Joyce, Emma contou os detalhes de sua vida que não compartilhava, quando Mackenzie voltou com as mãos cheias de gordura e se negou a provar o café-da-manhã, Joyce colocou as coisas na cesta de má vontade e se foi. Emma também recolheu suas coisas, ansiosa para ir antes que chegasse outra visita. Mackenzie a seguiu ate lá fora.
-Sempre causa tanto problemas? – perguntou no momento que tirava as botas e a lanterna do furgão de Emma, a dele tinha o capo levantado e parecia abandonada.
-Suponho que seja uma pergunta retórica – disse Emma zangada.
-Antes que aparecesse meus únicos problemas eram a seca e os incêndios – Mackenzie fechou a porta do furgão – Mais mereço por sentir compaixão por você, lhe ofereço um banho e já viu o que acontece – fez um gesto eu incluía a Joyce, quem saia no jeep decrépito.
-Não tenho culpa que seu carro não funcione, Mackenzie. Se tivéssemos quartos reservados, tão como nos prometeram, não havia sido testemunha da chapeuzinho vermelho.
-Devia ter deixado você dormir no furgão.
-E não ter tirado as calças.
-Não me lembro de termos tirado – disse ele dirigindo um olhar furioso por cima do furgão. 
-Asseguro que também não – disse Emma indignada por desprezo com que Mackenzie a observava – De todas as formas, não entendo por que está tão aborrecido. Sou eu quem tem direito de recriminá-lo, um homem superar sem dificuldade um escândalo, inclusive a ponto de se casar, mas se tratando de uma mulher...
Mackenzie pareceu se tranqüilizar o modo grosseiro com que ele media o comportamento de homem e mulheres, e relaxou.
- Se encontrar alojamento para nós – acrescentou Emma – não teremos que nos ver mais que o necessário.
-Este povoado é pequeno – assinalou Mackenzie – Já que se importa tanto com sua reputação posso contar com sua discrição.
Emma se indignou que pensasse somente seu próprio interesse evitaria que fosse contar o que aconteceu.
-Não se preocupe não penso contar que o chefe usa cueca de sombrinhas e ronca.
-Não ronco – o disse categoricamente.
-E fala dormindo – acrescentou Emma. Mackenzie deixou passar o comentário apesar de com certo nervosismo, como se preocupasse o que poderia revelar em seus sonhos. Era evidente que a luz do dia o irritava ter expressado a atração que sentia por ela.
Por isso era compreensível animosidade que parecia emanar dele desde sua cadeira no teatro, alcançando Emma como um foco de luz na terceira luz. Depois de fazer várias averiguações, Mackenzie havia comprovado que a compania de teatro não tinha quartos reservados, apesar de que não tinha se desculpado, ao menos pediu a Col para reorganizar seus clientes habituais de maneira que ficassem quartos livres para as noites seguintes. A partir de então, Emma não tinha nem idéia onde dormiriam, mas supôs que Mackenzie o diria depois da peça.
Quando saíram para cumprimentar uma última vez, olhou em sua direção e viu com os braços cruzados, tal como havia passado toda a apresentação. O comitê do festival havia organizado uma recepção depois da peça para que o público conhecesse os atores. Emma se voltou e viu Mackenzie servindo-se de um pedaço de torta. Ia vestido com jeans cinza, camisa azul celeste e sapatos práticos, nada nele era chamativo, nem pretendia estar na moda. Era como uma rocha imune ao tempo, e Emma pensou que provavelmente teria a mesma aparência trinta anos depois.
Quando voltou o olhar rumo a ela, fez com o ar de quem sabia que estava sendo observado, Emma olhou ao redor perguntando-se se Libby era uma mulher de uns trinta anos atraente que ajudava a servir chá. Dirigiu-se rumo a Mackenzie com um copo na mão. Era a primeira vez que o via bem arrumado e o certo que tinha o aspecto muito elegante. 
-Me pareceu que era você – disse Emma ao chegar ao seu lado – mas temia que escapasse outra vez cordialmente depois da peça antes de me dizer onde íamos passar o resto da noite. 
Com saltos estava quase tão alta que ele. Usava umas calças de cor esmeralda e uma blusa soltinha que dissimulava suas sensuais curvas. Com vestidos entalhados e tecidos vaporosos resultava sensual demais, e Emma odiava dar essa imagem, mas Mackenzie dirigiu um olhar que fez pensar que não havia alcançado seu objetivo. Não respondeu até que acabou a torta e deu um gole no chá.
-Como pensava que era eu? – disse finalmente passando por alta a referência de Emma na cena com Joyce.
-Entre o público, me dei conta que tinha em frente um muro, e ao pensar em muros...
-Pensou em mim, não sabia que sobre o cenário tinha experiências extras sensoriais – disse ele secamente.
-O certo é que te vi – a admitiu – mas às vezes se tem a sensação quase extra sensorial, pode chegar a sentir a resistência que alguém oferece a deixar se seduzir pela obra, ou ao contrário.
-O que é ao contrário?
-Suponho que a sensação de compenetração – disse ela pensativa – E difícil de explicar, como se a comunicação se realizasse diretamente desde aqui – colocou a mão no peito – e alcançasse o público – o olhar intimidante de Mackenzie a fez pensar que estava dizendo trivialidades – É pura química – concluiu arrependendo-se de imediato de ter usado essa expressão.
-A respeito de seu alojamento – disse Mackenzie olhando o fundo de seu copo como se estivesse lendo. 
-Não são barracas de acampamento não e? – perguntou Emma desconfiada
-Vai ter tudo o que me pediu.
-Onde?
Mackenzie sorriu timidamente
-No sitio Falkner, tem quatro quartos e café-da-manhã incluído.
Emma franziu o cenho 
-Está fora da cidade? Onde vamos ensaiar?
-Há vários edifícios, um galpão...
Emma pôs os olhos em branco.
-Bom suponho que ensaiar em um galpão não é pior que nos podia passar. Se as coisas não seguem sendo igual, não estranharia que podíamos terminar com a seca – diante do olhar desconcertado de Mackenzie explicou – Seria típico que a primeira chuva chegou no dia de nossa apresentação no anfiteatro – com o olhar ausente, tirou o isqueiro e o acariciou. 
Mackenzie seguia todos os seus movimentos. 
-A chuva seria uma benção para nós.
Emma sorriu.
-Imagino, mas asseguro que a minha compania não gostaria de atuar debaixo da chuva.
-Não se preocupe não acredito que chova – disse Mackenzie – De todas as formas ninguém se molharia, é um espaço coberto. 
-Coberto? O anfiteatro? Não é um teatro natural com acentos cavados na rocha? Roy Jackson me disse pelo telefone – Emma olhou a Mackenzie com desconfiança – Há algo que deva saber sobre esse lugar?
Mackenzie a olhou por um instante, como se medisse a forma em que reagiria ao ouvir sua resposta.
-O chamamos de anfiteatro, mas na verdade se trata de uma caverna.
Emma o olhou desconcertada antes de voltar a esquerda e direita para se assegurar de que nenhum membro da compania podia ouvi-los.
 -Uma caverna? – repetiu aproximando-se de Mackenzie – Por que nãome disse no contrato?
-Deveria tê-lo comprovado
-Por que ia fazê-lo? – disse ela com a voz alterada – Em Sydney as cavernas a chamamos de cavernas e não anfiteatro – segurou seu braço – Prometa-me que não dirá nada a minha gente, será melhor que eu a veja antes de dizer, ou me deixarão plantada, e estarão em seu direito.
-Já vi que são muito temperamentais
-Suponho que se fossem seus homens, os controlariam com sua fabulosa capacidade de liderança – replicou Emma, sentindo-se uma vez mais dominada por uma humilhante sensação de fracasso.
Mackenzie olhou fixamente a mão de Emma, indicando que o soltasse. Evidentemente, o incomodava que as pessoas vissem que uma mulher o segurava com firmeza, e ainda mais quando passou a noite com ela, apesar de que não aconteceu nada entre eles.
 Nesse exato instante, levantou o olhar e dirigiu, Emma se voltou para e voltou para ver quem alcançava com seus olhos verdes se suavizara. Um cabeleira emoldurando um rosto delicado. Vestia luxuosamente e usava jóias de ouro. O traje deixava as pernas longas e esbeltas descobertas que chamavam a atenção. Ao chegar junto a Mackenzie, este a rodeou pela cintura e ela apoiou o queixo em seu ombro.
-Matt, nós vamos logo? – perguntou – Papai tem que ir ver os cavalos na primeira hora amanhã e vou voltar para Broken Hill para fazer compras.
-Já vamos, gatinha. Diga a John que tenho que me ocupar de uns detalhes – Mackenzie sorriu com ternura e depois olhou para Emma – Libby esta é Emma Spencer, diretora da compania de teatro Shoelace.
Libby a olhou com o mesmo desinteresse que Emma imaginou olhando os cavalos de seu pai.
-Ah sim tem um papel pequeno na peça não e? Sobre o cenário parecia muito mais jovem, ser a diretora quer dizer que dirige a peça?
-Às vezes sim, mas neste caso significa que sou dona do teatro. Bom, eu, o banco e alguns investidores – disse Emma um tanto desconcertada com aquela jovenzinha. Quantos anos teria vinte, vinte e um? E Mackenzie tinha trinta e dois. Gatinha. Emma o olhou e logo mudou o olhar, não era da sua conta que Mackenzie tivesse gostos infantis – Trabalhei nisto desde os doze anos e quando herdei um pouco de dinheiro de minha avó decidi investir no teatro.
-Mas suponho que alguém se ocupe em dirigi-lo – comentou Libby com ar inocente.
-Eu mesma dirijo é um pessoal muito eficiente, neste momento me substitui uma ótima amiga.
-Uma atriz?
-Poderia dizer que sim – disse Emma secamente, sem saber por que Libby a irritava tanto – Ami é atriz e bailarina, mas seu campo é a maquiagem para efeitos especiais.
-Vejo que você é muito versátil – disse Libby, fazendo soar como um grande insulto.
-Quase todos os atores o são, o índice de concorrência é muito alto e tem que aprender a fazer distintas coisas – disse Emma – E me diga o que faz seu pai com os cavalos?
A menina pareceu surpresa de que nem todo mundo não sabia o que fazia seu pai.
-Cria cavalos de raça pura – explicou sucintamente – Se quiser pode vir a vê-los enquanto está na casa de Matt, nossas terras são juntos com as suas.
-Vamos nos instalar na casa chamada Falkner não na casa de Matt, está muito longe?
Libby deixou escapar uma gargalhada e apertou o braço de Mackenzie.
-Falkner é a casa de Matt, não sabia?
-Como? – Emma olhou para Mackenzie
-Todo mundo sabe – disse Libby e se voltou divertida rumo a outro convidado para contar o erro de Emma.
Emma mordeu o lábio inferior, não podia suportar a idéia de ter que seguir vendo Mackenzie. Por que não havia dito nada? Libby se afastou deles e com ela se foi o último vestígio de amabilidade de Mackenzie. Olhou para Emma com a expressão severa. Seus olhos penetrantes e seus lábios apertados em uma linha oprimiram o coração.
-Não acredito que a idéia soe mais desagradável que a mim – disse Emma- Suponho que é a única solução.
-Você acredita? – disse ele.
Emma sorriu, estava certa de que Mackenzie havia feito o possível para achar outro alojamento.
-Nesse caso não me resta remédio ao não ser agradecer pela hospitalidade, Mackenzie. O único problema e que tenho que estar no povoado na primeira hora para ensaiar com os meninos a cerimônia de abertura, não pode perder duas horas viajando de um lado para outro. 
-Também tenho que vir ao povoado – disse ele secamente – Voaremos.
-Voar? – repetiu ela.
-Seria conveniente que lembrasse a seus empregados que tem perigo de incêndio e que tem que tomar cuidado com cigarros e... – olhou o isqueiro que Emma seguia acariciando compulsivamente – com qualquer chama, por pequena que seja. Temos água escassa e tem que racioná-la, além disso, tem certas áreas de minha propriedade que o acesso é restrito, se quiserem visitá-las terão que pedir permissão, está claro? 
Emma lhe dirigiu um olhar raivoso.
-Acredito que explicou perfeitamente.
Mackenzie a olhou por um instante antes de se despedir com uma inclinação de cabeça e foi ao encontro de Libby e seu pai. Fogo, água e Mackenzie, todos eles deviam ser evitados ou consumidos em pequenas doses.
Capítulo 04
Desde o ar dos edifícios antigos de Falkner tinha um aspecto muito diferente dos modernos, eram mais sólidos e estavam cobertos por telhados pontiagudos, fortificados frente ao espaço aberto que os rodeava. A sombra do helicóptero se projetava sobre as fachadas e chaminés. 
-Parece um grupo de náufragos, abraçados para proteger-se da tempestade – disse Emma – Suponho que os primeiros colonizadores estavam acostumados à paisagem inglesa, este deveria ser o mais inóspito e ameaçador. Olhou para Mackenzie, mas como usava óculos de espelho o único que viu foi um reflexo distorcido de seu próprio rosto.
-Certamente – comentou lacônico 
Os edifícios construídos pelas gerações seguintes estavam mais espaçosos e se conectavam uns nos outros por meio de trilhas cobertas por trelisses. Uma rede de caminhos comunicava os estábulos e os celeiros. Uma fileira sinuosa de árvores e uma relva sinalavam um córrego, a única marca verde em um terreno plano. Emma não havia imaginado o tamanho da propriedade que Mackenzie cuidava e não podia evitar ficar impressionada pela variedade de funções que desempenhava: agricultor, homem de negócios, piloto, o trabalho com a fazenda, tal e como tinha descoberto pelas revistas que Mackenzie tinha sobre inseminação artificial e alimentação era um trabalho de tecnologia de ponta. 
Voltou-se para observar o reflexo prateado das árvores que tinha deixado para trás e entrecerrou os olhos para ler o nome escrito sobre o telhado do portão: Falkner.
-Algum dos donos se chama Falkner? – perguntou Emma.
Mackenzie a olhou usava uma camisa maltratada e em geral tinha mais o aspecto de que alguém fosse trabalhar em um andaime e não em um gabinete, mas Emma não quis perguntar quase eram seus planos. Iam a caminho do povoado e preferia se limitar a assuntos de conversas impessoais e seguras. O nome da fazenda podia ser de um deles.
-Os Falkner foram uns dos primeiros povoadores desta região. Construíram a fazenda em 1840 – disse Mackenzie – Gertrude Falkner foi o ultimo membro da família. Seus irmãos morreram na guerra e ela, que nunca se casou, dedicou sua vida a fazenda, ao morrer, deixou como herança ao filho de seu primo com a condição que mantivesse o nome. Ele a colocou nas mãos de um capataz e mudou o nome, colocando o seu: Winston.
-Que desconsideração!
Mackenzie sorriu ao mesmo tempo em que assentia.
-Sua mulher e ele somente vinham de Sydney com seus amigos para celebrar festas até que se aborrecessem ao mesmo tempo o preço da lã caiu e deixaram a propriedade se deteriorando. Começaram a desfazer-se dela por partes, originalmente era o terreno maior de toda esta comarca, mas agora é uma das menores, comprei deles. 
E fez o que não tinha feito o insensível herdeiro: devolver o nome original. Emma o observou com um interesse renovado, era a primeira vez que conhecia um homem que não estava obcecado com que seu nome aparecesse na propriedade.
Além de algumas cercase os postes elétricos, não se via nenhum sinal de vida. O helicóptero avançava sobre um terreno árido de rochas e arbustos. As terras que sucediam em tons de marrom meio avermelhado e pardo, perdendo-se na distância ao pé de uma montanha azulada. Em alguma parte deviam de estar às vacas e os cordeiros que constituíam o sustento da região, mas Emma apenas viu uma dezena de animais soltos. 
Mackenzie se desviou do percurso ao ver uma coluna de fumaça, se tratava de um fazendeiro queimando mato.
-Qual é a causa principal dos incêndios? – perguntou Emma, era outro assunto seguro e se felicitou por ter pensado nisso.
-Fazendeiros queimando mato, como esse - olhou Emma de solasio, como se quisesse comprovar se realmente estava interessada na resposta – Os trens. Os tratores e a máquina que solta faísca...
-Os trens?
-Pelo o cabo de eletricidade. As árvores estão cortadas em ambos os lados, por isso não tem sombra. Os raios se aproximam e elevam a temperatura do ar, fazendo que desça a umidade. Ao passo que os trens removem o ar e a turbulência fazem que saltem faíscas, criando as condições perfeitas para que se inicie um incêndio. Além disso, têm vagões cheio de fumantes, alguns são descuidados o suficiente para atirar cigarros acesos. Os fumantes são a causa de cinco por cento dos incêndios – voltou a olhar Emma com o rosto indestrutível que lhe proporcionava os óculos – Tem que ter cuidado.
-Não fumo, deixei faz anos.
-Mas leva um isqueiro.
-É um amuleto – Emma o tirou do bolso e passou de uma mão para outra – Se produzem muitos incêndios provocados?
-Os incendiários causam sete por cento deles. 
-Por que fazem? Proporcionam-lhe uma sensação de poder ou é que o fogo lhes atrai mesmo? 
Mackenzie a olhou mais uma vez e Emma teve a sensação de que o assunto de conversa não era tão seguro como acreditava, apesar de que não estava certa do por que.
-Provavelmente pelas as duas coisas, mas dizem que muitos incendiários ficam para ver o fogo, assim que contemplá-los deve produzir prazer.
Logo, Emma lembrou que Steve tinha se referido ao fogo como feminino.
-Por que fez essa pergunta? – disse Mackenzie
-Por nada especial, da à sensação de que conhece todos os lados da perfeição.
-Estou te aborrecendo?
Emma sorriu por cortesia
-E os raios e outros fenômenos naturais? – perguntou.
-O mais estranho que ouvi é um fogo causado por uma águia – disse Mackenzie – Chocou-se contra um cabo de alta tensão e caiu sobre relva cheia de chamas.
Emma fez uma careta.
-Que coisa espantosa.
-Sim, custaram dois dias para apagar.
-Sim, isso deve ter sido espantoso, mas me referia a águia morrendo dessa maneira.
Mackenzie voltou rumo a ela mais uma vez, mas pela primeira vez seu rosto se iluminou com um sorriso. Emma não pode evitar se perguntar como não havia se dado conta desde o principio o quanto era atraente, tinha uma beleza pouco convencional, muita mais impactante precisamente por não responder aos padrões estabelecidos. Emma o observou um instante com inquietação, não queria que Mackenzie gostasse em nenhuma de suas facetas. O helicóptero aterrissou em um pasto com cavalos e um grupo de meninos ensaiando a coreografia da festa de inauguração. Mackenzie, pois as mãos na cintura e contemplou com sarcasmo a confusão reinante.
-Está certa de que vai poder colocar em ordem esse caos somente em quatro dias?
-Para isso sou paga – replicou Emma divertida
-Não é um trabalho estranho para uma atriz e diretora de um teatro?
-Não é fácil ganhar a vida, Mackenzie. Faz um tempo organizei a coreografia de um espetáculo para um amigo meu e começaram a surgir mais tarefas. Diverte-me e me permite ganhar algum dinheiro, apesar de que os puristas neguem, considero como uma forma de teatro – mostrou as crianças – Todos esses pompons de várias cores formam distintas figuras à medida que os meninos mudam de posição. É lindo.
Mackenzie não parecia muito convencido.
-Se você diz... Virei a pegá-la às quatro e meia.
Uma hora mais tarde. Emma ouviu o helicóptero. Voltarei para pegá-la. Emma sentiu um calafrio pelas costas e para afastá-lo pensou em vários assuntos superficiais sobre o que falar com ele no caminho de volta. 
O dia seguinte transcorreu de maneira similar, falaram da tecnologia aplicada na fazenda e a administração do teatro. Enquanto Emma estava fora, a compania ensaiava a obra de Shakespeare que interpretariam na cerimônia de encerramento. A haviam escolhido por que era a mesma que um grupo de atores americanos e ingleses haviam interpretado fazia cem anos, durante um giro pelo país. Emma confiava em que seus atores se mostravam tão intrépidos como os que pretendiam atuar, e que não a abandonaram quando comunicaram que atuariam em uma caverna. A segunda noite jantaram todos juntos um dos aborrecidos pratos de Joyce. Emma chegou a pensar que a verdura e a carne cozida eram a vingança da governanta por ter criticado um dos seus quadros. Bernie afastou várias garrafas de um excelente vinho de sua adega particular e se atreveu a dar conselhos culinários a Joyce até que Emma o fez calar dando um chute por debaixo da mesa. Estava tão cansada do trabalho com os meninos, a tensão de evitar qualquer enfrentamento com Mackenzie e de se interpor entre Joyce e Bernie que estava certa de que dormiria profundamente, mas enquanto se colocava na cama, a insônia a invadiu. A uma da madrugada, decidiu se levantar e, colocando-se os jeans e uma camiseta, saiu para dar uma volta, iluminando com uma lanterna.
A qualidade do silêncio somente era igual pelo o esplendor do céu noturno. Os cachorros corriam rumo a ela latindo, mas quando a reconheceram voltaram a dormir, o ar era quente, suave e as estrelas brilhavam com força que a lanterna não era necessária. Emma caminhou até o antigo estábulo, um edifício de tijolo imitação da arquitetura georgiana inglesa. O cheiro do cavalo e o do feno a enjoaram. Ao entrar, um cavalo relinchou, sobressaltando-a. Tratou de atravessar a escuridão com o olhar e quando foi acender a lanterna ela caiu.
-Maldita seja – resmungou, agachando-se para tentar achá-la. Lembrou que tinha o isqueiro e o acendeu, mantendo-se com o braço esticado para ampliar a luz. Sentiu algo que se movia nas suas costas e por um momento pensou que era um dos cavalos tinha escapado, mas era outro tipo de besta que se apoiava contra um poste e se dirigia a luz com sua lanterna.
-Tem insônia Emma?
-Mackenzie – exclamou ela, levando a mão no peito – Assustou-me, estou com o coração galopando.
-Sempre tão apropriada – disse ele secamente, iluminando o estábulo com a lanterna.
Emma ficou tensa, sentia a adrenalina fluindo por seu corpo. Lutar ou fugir? Era difícil dizer o que fazer ao encontrar Mackenzie em meio de uma noite escura e silenciosa. Seguia com o braço estendido e o isqueiro acendido.
-Caiu à lanterna – disse de modo explicativo, voltando-se rumo aonde calculava que estava, mas sem deixar de vê-la – A deixei rolar, a procurarei amanha.
Mackenzie tirou o isqueiro da mão e o observou atentamente, ao sentir a inscrição no objeto, a iluminou para lê-la.
-Se importa e não ser intrometido? – disse Emma, tentando pegar o isqueiro.
Mackenzie se esquivou e a mão de Emma caiu sobre o torso de granito.
-Para Emma que ilumina a minha vida, Simon – leu em voz alta com expressão reflexiva – E Simon ilumina a de Emma? – perguntou.
Emma reprimiu o impulso de golpeá-lo depois de ter comprovado a dureza de seus músculos.
-Durante um tempo, sim – disse, no entanto.
Mackenzie sentiu o peso do isqueiro sobre a palma da mão.
-Deve ter um poder de iluminação muito poderoso, é um isqueiro muito caro.
Emma sorriu com armagura.
-Verdade que sim? Os presentes de Simon sempre eram espetaculares.
-Não parece que fizeram muita ilusão. Qual era o problema?
-Que havia deixado de fumar alguns meses.
Mackenzie fez uma careta.
-Não era um homem muito observador?
-Estava ocupado demais, era muito ambicioso – disse

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