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a arte da sedução - melanie george

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Tiamat World 
Melanie George 
A Arte da Sedução 
 
 1 
 
 
 
A Parris Sutherland importam pouco as fofocas que giram a seu redor depois 
de que a deixaram plantada no altar. Está muito ocupada com um novo projeto: 
disfarçar-se de "lady Escrúpulos" para fazer justiça aos mulherengos que 
infestam a alta sociedade. Mas ao mesmo tempo trata de resistir ao desejo que 
desperta nela o homem que a protegeu em sua infância, Dominick Carlisle, que 
retornou de novo a casa depois de oito anos. 
Ao novo Duque do Wakefield não lhe interessam muito as aristocráticas 
obrigações que o hão endossado. Preferiria desmascarar a lady Escrúpulos, sobre 
tudo se isso o distrai dos sentimentos que lhe inspira Parris e que leva tanto 
tempo sufocando, e dos sonhos que o acossam de uma calorosa noite que passou 
com uma jovem misteriosa muito tempo atrás. Mas quando Dominick descobre 
que todas as mulheres que ocupam sua mente é apenas uma, Parris, jura lhe 
ensinar a essa descarada uma lição sobre sedução que a levará até o altar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prólogo. 
 
 
 
Tiamat World 
Melanie George 
A Arte da Sedução 
 
 2 
 
Caminha envolta na beleza como a noite 
De climas sem nuvens e céus estrelados. 
Lorde Byron 
 
Kent, 1842. 
 
A mulher foi a ele com o amparo da escuridão, só um raio de luz de lua 
guiava seu caminho. O ar era sufocante e quente, perfumado com a fragrância do 
jasmim que floresce durante a noite; os sons dos compassos quase imperceptíveis 
da orquestra chegavam com a brisa. 
A mulher permaneceu ali, olhando-o, com a expressão inescrutável, todo seu 
aspecto era um mistério sob a máscara que cobria boa parte de seu rosto, a 
peruca empoeirada que ocultava seu cabelo e o disfarce de cortesã, com seu 
atrevido decote que apenas lhe cobria os mamilos. 
Caminhou para ele, a sensualidade de seus movimentos fixou a atenção 
masculina em seus quadris. Ela não disse nada e a língua dele tampouco pôde 
articular som algum. 
Quando se deteve frente a ele, o pulso que pulsava na base de seu pescoço e 
o rápido agitar de seus seios lhe disse que não estava tão serena como queria lhe 
fazer acreditar. Bem. Tampouco ele estava, e ao dar-se conta sofreu um abalo. 
Quem era aquela mulher? 
Queria perguntar. Deveria ter perguntado, mas temia romper o feitiço. 
Tinha-a visto dentro? Assistira alguma vez ao baile anual de máscaras de sua 
mãe? 
Importava em realidade? Estava ali, ponto. 
Dominick abriu a boca para dizer algo, mas a mulher apoiou um dedo 
esbelto em seus lábios e o silenciou. Depois, esses mesmos dedos cruzaram sua 
mandíbula como um sussurro, deslizaram-se por seu cabelo, cobriram-lhe a nuca 
e atraiu sua boca para a dela. O contato foi explosivo. 
As grandes mãos masculinas se fecharam ao redor da diminuta cintura da 
jovem, atraindo-a para si, precisando rodeá-la contra seu corpo tanto quanto 
pudesse. As capas de roupa que se interpunham entre eles os confinavam e 
restringiam. Que absurda inconveniência. 
Dominick queria ir pouco a pouco, ser doce, mas a jovem trocou o jogo do 
amor, sua necessidade era urgente, incitava os sentidos masculinos, e o calor das 
peles, lá onde os corpos se tocavam, estendia-se e ascendia fora de seu controle. 
Depositou-a no chão e a apertou contra a erva fresca junto às apreciadas 
rosas de sua mãe. Suas mãos, em geral tão serenas, lutaram com a borda do 
vestido da jovem. 
Acariciou-lhe uma coxa envolta em seda enquanto com a outra mão lhe 
afastava o sutiã. A mulher afogou um grito quando liberou seus seios. Os pálidos 
 
Tiamat World 
Melanie George 
A Arte da Sedução 
 
 3 
raios da lua brilharam com luz trêmula sobre aquelas esferas pequenas e 
perfeitas. Os mamilos da jovem se incharam sob o escrutínio masculino, uma 
visão tão erótica quanto enlouquecedora. 
Elevou a vista para os olhos da mulher, cuja cor não podia distinguir 
enquanto baixava a cabeça para seus seios. Observou-a observando-o, viu-a 
aspirar uma baforada de ar quando seus lábios se fecharam ao redor de um 
mamilo e atraiu o tenso botão ao interior de sua boca; a mulher mordia o lábio 
inferior para conter o gemido que se elevava em seu peito. 
As costas femininas se arquearam, empurrando aquela ponta cálida e úmida 
que rodeava sua boca, enterrando os dedos no cabelo para retê-lo junto a ela. A 
mulher se retorceu debaixo dele e Dominick sentiu que perdia o controle. 
Nada, nem Deus, nem o diabo, nem a multidão que formava redemoinhos a 
menos de cento e cinquenta metros, no salão de baile - poderiam ter impedido o 
inevitável. 
Possivelmente se seu cérebro estivesse menos ofuscado pela luxúria 
desenfreada, Dominick tivesse reconhecido os sinais que davam fé da inocência 
daquela jovem, mas a paixão que lhe inspirava lhe arrebatava qualquer 
preocupação pelas consequências, mais irrefletido do que jamais foi. 
Enfeitiçava-lhe cada milímetro daquele corpo: a maturidade cheia de seus 
lábios, o ângulo sedoso de sua mandíbula, a linha larga e impecável do pescoço, a 
forma delicada dos ombros. 
Deslizou as mãos sob as coxas firmes, além das meias de seda, das ligas de 
botão de rosa, até que sua Palmas sussurraram sobre a pele quente. Cobriu as 
nádegas e a atraiu com mais força contra sua ereção. A jovem se elevou e o 
marcou a fogo com seu calor. 
Dominick gemeu e rodeou o mamilo com a língua, gozando com os gemidos 
entrecortados da jovem enquanto com a mão lhe roçava o quadril e se afundava 
depois entre suas sedosas coxas. Deslizou um dedo entre as dobras úmidas e 
acariciou o clitóris inchado da jovem. 
Depois lhe separou mais as pernas enquanto incrementava a tensão em seu 
interior, queria vê-la retezar-se quando a levasse ao clímax, perceber o rubor que 
banhava-lhe o seio enquanto ele aumentava o ritmo e via a cabeça da jovem 
agitar-se de um lado a outro; os sons dos gemidos e os que choramingava o 
deixava louco, filtravam-se em sua corrente sanguínea e o faziam sentir-se 
poderoso. Possessivo. Não queria pensar que aquele anjo pudesse pertencer a 
alguém que não fosse ele. 
E seria sua. Custe o que custasse. Fosse qual fosse o preço. 
Quando deslizou um dedo em seu interior... Cristo bendito, estava tão tensa, 
tão quente. O grunhido de Dominick foi primitivo, gutural, cheio de orgulho 
masculino e arrogante quando a jovem começou a estremecer-se. 
Precisava fazê-la sua. 
Já. 
 
Tiamat World 
Melanie George 
A Arte da Sedução 
 
 4 
Liberou sua ereção, colocou as coxas da garota sobre os quadris, e entrou 
nela com um só embate rápido. As unhas da jovem se afundaram em suas costas 
quando se esticou debaixo dele. 
—Deus bendito... 
Era virgem. 
O invadiu a sensação de culpa e de confusão. 
Tentou separar-se dela, as palavras de desculpa já se formavam em seus 
lábios, mas a jovem se aferrou a seus ombros e com um gesto vacilante, quase 
tímido, arqueou os quadris para ele e para enterrá-lo ainda mais em seu corpo. 
Dominick deixou cair a cabeça contra o ombro feminino, lutando por dizer 
que não, que as coisas já haviam chegado muito longe, mas o único som que 
conseguiu ouvir foi o tom áspero de sua própria respiração. 
A jovem lhe percorreu os braços com o toque ligeiro das pontas de seus 
dedos, os músculos do homem lutavam entre a força do desejo e a sua detenção. 
Aquela jovem o estava tranquilizando. 
E, Deus bendito, ele o permitiu, necessitava que fosse ela a que apaziguasse 
as recriminações que martelavam em sua cabeça. 
A jovem voltou a elevar os quadris, sua calidez aveludada o acariciou e duas 
únicas palavras, um sussurro, partiram de seus lábios. 
—Por favor. 
Por favor. Foi tudo o que disse e Dominick se dissolveu, esqueceu que era 
um mal nascido desconsiderado, ou o segundo filho de um duque, e que, ao fim e 
ao cabo, teria que pedir a mão daquela garota, e não o lamentou nem por um 
mísero instante. 
Como um homem obrigado a chegar ao limite e mais à frente, abandonou 
todo pensamento do que deveria fazer,por isso ansiava fazer, e foi introduzindo-
se nela como uma carícia, ao mesmo tempo em que sua boca se precipitava sobre 
a da jovem; seus embates foram se incrementando quando sentiu que ela 
começava a avivar-se. Os lábios da garota se separaram e cravou o olhar nos céus 
quando Dominick os levou aos dois à culminação do ato. 
A realidade fechou filas assim que o ardor da jovem começou a esfriar-se, 
embora seus sentidos permanecessem enfeitiçados por uma paixão tão 
substancial absorvente que o fez renunciar ao sentido comum. 
A jovem se levantou sem falar e recompôs as roupas enquanto ele lutava 
contra o impulso de atraí-la, jogá-la no chão a seu lado, lhe tirar a máscara e 
exigir respostas. 
Por Deus bendito, era virgem, e o havia seduzido, vá, ela o seduzira. Nada 
em suas muitas façanhas sexuais o preparara para aquilo. 
Ouviram o ruído ao mesmo tempo. Maldita fosse! Alguém se aproximava. 
Amaldiçoou com fluidez enquanto lutava por incorporar-se e a mulher que 
envolvera seu cérebro em confusão deslizava depois dos arbustos, uma ideia mais 
inteligente que ficar em terreno aberto, como um pato a ponto de ser derrubado a 
 
Tiamat World 
Melanie George 
A Arte da Sedução 
 
 5 
tiros, que era o que estava fazendo ele. 
Certamente seu pai tinha chamado aos dragões da rainha para que 
procurassem o delinquente de seu filho, que acabava de retornar de Cambridge 
há apenas três dias antes e já estava esfumando-se da festa. 
Dominick rodeou pelo outro lado da sebe com a intenção de levar a jovem a 
algum lugar mais afastado onde pudessem falar, mas a garota desaparecera. 
Girou, seu olhar rasgou a escuridão, mas não havia nada. Estava sozinho. A 
garota se desvanecera. 
Viu então algo branco no chão, oculto em parte sob uma pedra. Recolheu o 
lenço, o leve aroma de um perfume se elevou no ar. Seu perfume. Observou o 
monograma então, mas foi incapaz de distinguir as iniciais. 
Saiu à luz da lua e levantou o tênue tecido para olhá-la melhor. A.S. 
Apertou a mão e lhe encolheram as vísceras. Só uma mulher que ele 
conhecesse tinha essas iniciais. 
Annabelle Sutherland. 
Deus bendito, o que fizera? 
Parris atravessou correndo o jardim pintalgado pela lua, com a saia 
levantada acima dos tornozelos, os pés avançavam sem ruído pela erva espessa 
enquanto as lágrimas, alegres e agridoces de uma vez, corriam-lhe pelas faces. 
Fizera. 
Fizera o amor com Dominick. 
Quanto tempo fantasiara com a ideia de se tornar íntima com ele? 
Entretanto, se oferecesse a ele, ele a teria rechaçado como fizera dois anos 
antes, quando, como uma parva, lhe declarara seus juvenis sentimentos 
pensando que ele também a correspondia. 
Sua irmã era a proprietária do coração daquele homem. Que homem não a 
desejaria? Era formosa. Jamais fora um mulher-macho que subia nas árvores, 
escapava em calções por aí ou desenterrava minhocas para fazer isca para sua 
vara de pescar; e tampouco montava como uma criatura selvagem pelo imóvel 
dos Carlisle, com o cabelo ondeando a suas costas em um matagal. 
Dominick retornara da universidade, mas não foi vê-la. Parris sabia que seu 
amigo era incapaz de enfrentá-la. Desde que se declarou, as cartas que lhe 
escreveu foram cada vez mais escassas e mais espaçadas. 
Mas em lugar de deixá-lo ir, o desespero de Parris tinha crescido, era uma 
aflição que aumentava em seu interior, desejava conhecer Dominick como uma 
mulher conhece um homem; pensava que da próxima vez que ele se fosse, seria 
para não voltar, que se casaria e teria filhos, e então ela jamais conheceria seus 
beijos nem saberia o que era sentir suas mãos sobre sua pele. 
Sozinha, Parris se afundou junto ao antigo carvalho, a borda do lago do 
Arqueiro. 
Tremeu-lhe a mão quando a levou aos lábios e recordou a sensação da boca 
de Dominick colada com a sua, aqueles lábios que a haviam tocado em locais que 
 
Tiamat World 
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A Arte da Sedução 
 
 6 
nenhum homem a havia tocado jamais. 
Acreditara que com uma vez seria suficiente. Mas já sabia que nunca seria 
bastante. 
No dia seguinte lhe diria a verdade. 
E depois enfrentaria às consequências de suas ações. 
—Isso, céu. Ponha as pernas sobre meus ombros. Boa garota. 
O suor escorria na testa de Frederick Carlisle enquanto penetrava à mulher 
que tinha debaixo, tomando com avareza o que lhe oferecia, o que levava lhe 
oferecendo desde que lhe saíram os seios, essas esferas viçosas que nesse 
momento se balançavam sob seus rápidos embates, com os tensos mamilos lhe 
raspando o peito. Beliscou um dos montes, com força, e a jovem gritou. Frederick 
sorriu. 
Annabelle Sutherland era um salgadinho muito suculento, mas isso era tudo 
o que seria sempre. Seria capaz de abrir as pernas para a Sexta Frota se com isso 
conseguisse o que queria. E o que queria do Frederick era um anel. 
Sabia que aquela garota andava à caça de umas boas bodas e que já se via 
como a futura duquesa do Carlisle. Sabia que algum dia o pai do Frederick 
bateria as botas e que ele assumiria o manto do poder, coisa que, para o gosto do 
Frederick, já estava demorando. O velho era muito combativo, droga. Mas no 
geral, quem lançava os dardos venenosos era Dominick. 
Seu irmão sempre fora o rebelde da família. Jamais soubera guardar nada, 
droga, e tinha feito mais de um alarde sobre sua amizade com a menina mais 
jovem dos Sutherland, Parris. 
Frederick era consciente de que não caía bem a Parris, que a moça pensava 
que era um homem petulante e pretensioso. Mas um dia lamentaria não havê-lo 
tratado melhor. Quando fizesse que a jogassem a ela e a sua família das terras 
dos Carlisle. 
Então não se mostraria tão santa. 
Apenas pensar em Parris fez que Freddie se afundasse ainda mais em 
Annabelle para descarregar sua ira sobre ela, derivando certa satisfação do modo 
em que a jovem se retorcia sob suas selvagens investidas. 
A bela e ignorante Annabelle. O que pensaria quando lhe dissesse que se 
casaria... e que a noiva não seria ela? 
A garota acreditava que com sua beleza podia eclipsar sua falta de dote e ele 
a deixara albergar essa ilusão durante os meses que levava deitando-se com ela. 
Mas essa noite a jovem terminaria por entender o papel que ia desempenhar em 
sua vida. 
Amante. Não esposa. 
—Sim - gemeu Freddie aferrando-se às nádegas de sua amante e afundando-
se nela. A garota interpretava bem seu papel, ofegando e gemendo, e exclamando 
seu nome até que ele chegou ao clímax. 
Uma vez satisfeito, Frederick rodou de lado e a garota se aproximou com 
 
Tiamat World 
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 7 
sigilo, a amante dedicada que lhe percorria o peito com as pontas dos dedos, os 
seios colocados para lhes tirar todo o partido possível. 
Freddie brincou com um dos bicos e o apertou o bastante forte como para 
fazer que a garota se estremecesse. 
—É uma delícia, minha doce Annabelle. Não acredito ter tido jamais uma 
amante mais ardente. 
—Só quero te fazer feliz - ronronou ela como uma autêntica profissional, lhe 
acariciando o ventre com a mão e envolvendo o membro flácido de seu homem. 
Embora só fosse isso, a garota sabia como fazê-la dura. Não cabia dúvida de 
que seria um incentivo durante todas essas noites em que sua futura esposa 
ficasse sem se mover debaixo dele para cumprir com seu dever conjugal. 
Lady Jane não era uma mulher apaixonada e tampouco desfrutaria dos 
jogos bruscos. Annabelle, e outras como ela, encheriam sem problemas esse 
vazio. 
Frederick a sujeitou pelos quadris e a jovem montou sobre ele, deslizando-se 
pouco a pouco para envolver sua ereção. Seu amante brincou com seus mamilos 
enquanto ela fazia todo o trabalho. 
Uns minutos mais tarde, quando sua semente se verteu no interior da jovem 
pela terceira vez essa noite, Frederick soltou de repente. 
—Vou me casar. 
Não era o momento mais diplomático para fazer essa confissão, mas o sexo e 
a expressão do rosto da jovem valia a pena. 
Annabelle ficou rígida.—O que? 
—Vou me casar - repetiu ele tirando a de sua vantajosa posição e sentando-
se na cama antes de apoiar-se na cabeceira. - Vou anunciar meu compromisso 
em um dos bailes dos Carlisle dentro de duas semanas. 
A jovem ficou olhando-o como se seu amante tivesse começado a falar em 
outro idioma. 
—Só pode está de brincadeira, é obvio. 
Frederick acendeu um charuto e exalou um aro de fumaça que se expandiu 
no ar. 
—A estas alturas já devia me conhecer melhor, querida. Eu não brincaria 
com algo tão importante como meu futuro. 
—Mas... o que nós temos? 
—"Nós"? - riu ele engasgando-se com uma baforada de fumaça. - Não há 
nenhum "nós". Desfrutamos do corpo um do outro. Isso é tudo. 
—Eu... eu pensei que você... 
—Que te pediria que fosse minha esposa? Por favor, Annabelle. Esperava 
que fosse mais realista. É a filha de um simples barão, e ainda por cima bastante 
empobrecido. 
Só o absurdo carinho que sente meu irmão por sua irmã evitou que meu pai 
 
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Melanie George 
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 8 
os expulsasse de nossa terra. - Com exceção de que o Duque era um mal nascido 
licencioso, albergava certos sentimentos luxuriosos pela esposa do barão. 
Ao que parece todos os homens Carlisle sofriam pelas mulheres Sutherland. 
Frederick, entretanto, preferia utilizar esse "sofrimento" em proveito próprio. 
—Por muito que o velho queira quebrar a vontade de Dominick, tampouco 
quer afastá-lo de tudo. Embora o motivo que o impulsiona é um mistério para 
mim. Meu irmão não tem nenhuma só qualidade que o redima. 
Annabelle se levantou da cama, nua e tremendo de fúria. 
—Possui mais princípios dos que você terá jamais! 
—Certo, e aí se encontra a essência de seu problema. Tem a infeliz mania de 
comportar-se como um cavalheiro, por desesperada que seja a causa. É uma 
qualidade incômoda que prolifera tanto em sua irmã como nele. 
Menos mal que você e eu carecemos de consciência. Faríamos o que fosse 
para conseguir o que queremos, não? E o que eu quero, minha querida 
Annabelle, é uma esposa com uma bolsa cheia. Faz com que a ideia da felicidade 
conjugal seja mais aceitável. 
—Por que, maldito seja? - perguntou sua amante. - Por que não me disse 
nada? 
—Sempre estávamos tão ocupados que nunca parecia encontrar o momento 
adequado. - Frederick estirou uma mão e passou um dedo pelos cachos que se 
escapavam do vértice das coxas da moça. 
A jovem lhe afastou a mão com um gesto seco. 
—Não me toque. 
Seu amante se levantou e se apoiou em um cotovelo. 
—Venha, meu céu, que não é para tanto. O matrimônio não será obstáculo 
para nossa pequena aventura. Pensa em todo o prazer que ainda podemos nos 
dar. 
O rosto feminino se salpicou de raiva, seus olhos ardiam com força ao 
compreender que a única coisa que fizera aquele homem era utilizá-la. 
—Estou grávida, desgraçado! 
Frederick deu uma última tragada em seu charuto e depois o apagou na 
mesinha de noite, sabia que a garota mentia. Annabelle menstruara uma semana 
antes. 
Acaso acreditava que era estúpido? 
—Vá, isso sim que é um problema. O que vai fazer? 
A garota lançou um grito, equilibrou-se para o objeto mais próximo que 
encontrou e o jogou em sua cabeça. Frederick se agachou bem a tempo, deixando 
que o relógio de porcelana se estrelasse contra a parede que ficava atrás. 
Depois a agarrou pelo pulso quando a jovem girou de repente e voltou 
arrastá-la à cama, sujeitou-a sob seu corpo e a obrigou a aferrar-se aos barrotes 
de ferro da cabeceira da cama. 
Aproximou a boca contra o ouvido e lhe falou com voz sedosa. 
 
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—Isso foi um engano, minha menina. Agora terá que pagar por esse relógio 
com a única coisa que tem de valor. 
Parris despertou na manhã seguinte com lágrimas no travesseiro. 
Teve um sonho horrível. Dominick e ela se encontravam em meio de um 
campo ermo e queimado pelo sol e lhe confessava seus pecados. O grasnido 
arrepiante de um falcão ao longe era quão único despertava ecos no meio do 
silêncio letal que se produziu. 
Enquanto lhe rogava que a perdoasse, o corpo de Dominick se convertia em 
pedra e depois se desintegrava, transformado em pó. Um forte vento saía uivando 
do céu e o levava para fora de seu alcance. 
Fora de sua vida. 
Sentiu que o medo lhe assentava na boca do estômago quando tentou 
desterrar aquela imagem de sua cabeça assegurando-se que era um sonho, mas 
sua mente clamava que os sonhos podiam ser sinais do que estava por vir. 
De repente, começou a agoniar-se naquela habitação. Necessitava de ar. 
Necessitava de tempo para pensar. Aproximou-se das janelas com persianas. 
O sol que entrava em torrentes através dos pequenos cristais com forma de 
diamante se fragmentava em manchas de tons vibrantes que arrojavam prismas 
sobre o chão. 
Abriu as janelas de repente e se perguntou se Dominick iria vê-la esse dia. A 
reconheceria como a garota que estivera com ele no jardim? A veria como uma 
mulher, em lugar de como o mulher-macho que sempre se agarrava a cada uma 
de suas palavras? 
Parris observou um movimento no pequeno terraço sombreado que havia 
abaixo. Havia duas figuras separadas por só uns centímetros de distância, 
absortos em sua conversação e sem ser conscientes de sua presença. 
Dominick rodeava com uma mão a parte superior do braço da Annabelle 
enquanto esta apoiava a palma no peito do jovem. Embora Parris não ouvisse o 
que estavam dizendo, a intimidade do gesto supôs um golpe para ela. 
Por quê? Por que sempre era Annabelle a que conseguia o que Parris queria? 
Não lhe dera Deus já suficiente a sua irmã? Estava muito bem dotada, a natureza 
a abençoara com um viçoso arbusto de cabelo loiro e os olhos verdes como o 
musgo, como uma pradaria no verão, enquanto que Parris possuía os seios 
pequenos, sofria a maldição de um cabelo negro e liso, e uns olhos de cor azul 
pálido que seu pai desprezara por ser muito insinuante e antinaturais. 
Todo mundo admirava a Annabelle enquanto que Parris sempre fora a 
menina com a que ninguém sabia o que fazer. 
O que lhe passava? Por que ninguém podia amá-la? 
Mas a noite anterior, nos braços de Dominick, sentiu-se amada. A tratou 
como se fosse a mulher mais desejável do mundo. 
Sentiria o mesmo esse dia? 
Precisava averiguá-lo. Fossem quais fossem as consequências. Podia 
 
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suportar sabê-lo. O que a atormentava era não saber. 
Parris se vestiu a toda pressa, colocou um dos antigos vestidos de Annabelle 
que ela reformara para que se adaptasse a seu corpo menor. 
Parou de frente ao espelho e examinou sua nova figura, o modesto decote e a 
cintura recortada que adquirira depois de sofrer durante anos uma figura mais 
própria de um potro de longas patas. 
Beliscou as faces para ter um pouco mais de cor e colocou uma gota do 
carmim de lábios que roubara da habitação de Annabelle. A cor fazia que sua 
boca parecesse um morango amadurecido. 
Respirou fundo para tranquilizar-se e saiu com ar resolvido de sua 
habitação. Perguntou se deveria esperar até que Annabelle e Dominick entrassem 
do terraço ou se deveria atrever-se a sair. 
A decisão já a haviam tomado por ela porque se encontrou com Dominick e a 
sua irmã, junto com sua mãe e seu pai, de pé no vestíbulo, ao final das escadas. 
Parris se obrigou a esboçar um sorriso, embora havia algo naquela reunião 
que a inquietava. A tensão vibrava no ar. As pernas não deixavam de lhe tremer e 
lhe fez um nó no estômago. 
"Por favor, senhor - rogou em silêncio quão jovem nada arruíne este 
momento". 
Mas o Senhor não a estava escutando esse dia porque enquanto descia pelas 
escadas ouviu que Dominick falava com seu pai. 
—Desejo me casar com sua filha, senhor. Eu gostaria que Annabelle fosse 
minha mulher. 
Até o último dia de sua vida, Dominick recordaria a expressão que pusera 
Parris aquela manhã, duas semanas antes. 
Seu grito afogado levara seu olhar paraonde a jovem permanecia imóvel em 
meio das escadas, aqueles olhos pálidos, cativantes e enormes, em meio de um 
rosto igualmente pálido, com o olhar desesperado cravado nele. 
Dois anos foi o que se manteve afastado dela. Dois anos de sentir-se como 
um simples velhaco e o pior ser humano do mundo por haver-se apaixonado de 
uma menina que logo que acabava de sair das classes de sua infância. 
Dominick recordava cada detalhe daquele dia junto ao lago, quando 
professara o amor que sentia por ele. Só tinha dezesseis anos então, mas já era 
formosa, uma menina a ponto de converter-se em mulher. 
Não sabia o que dizia naquele momento. Havia falado com a emoção de uma 
menina que o adorava, não como uma mulher que entendesse todos os matizes 
do amor. Era muito jovem. Muito inexperiente. 
Muito de tudo. Parris sempre fora uma pessoa fora do comum. 
Mas Dominick compreendera o perigo, a facilidade com que aquela garota 
podia fazer que se esquecesse até de si mesmo e que sucumbisse ao crescente 
desejo que sentia por ela. Assim que se afastou dela. O que fora para pôr 
distância entre os dois. 
 
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 11 
Necessitava tempo para acostumar-se, para assumir essa emoção que ardia 
em seu peito sempre que pensava nela, embora não soubesse o que era. 
Quando foi enfrentar-se a Annabelle no dia depois do baile, rezara para que 
o incidente do jardim não fosse o que parecia, que o lenço se perdeu sem mais. 
Mas assim que vira Annabelle chorando no terraço, lágrimas sinceras que 
jamais lhe vira desde que a conhecia, fazia muitos anos, já não pôde seguir 
negando a verdade. 
Arrebatara-lhe a sua virgindade e fosse qual fosse o papel da jovem, ele teria 
que pagar o preço. 
Que irônico que tanto ele como seu irmão fossem anunciar seu compromisso 
essa mesma noite. Nenhum dos dois se casava por amor; claro que o amor nunca 
fora um requisito imprescindível para o Freddie. 
Ao contrário de Dominick, que havia jurado que quando ao fim tomasse 
esposa, seria uma mulher a que pudesse adorar durante o resto de sua vida. 
Vira casar-se por obrigação a muitos de seus iguais, que converteram suas 
vidas a partir de então em um contínuo de aventuras discretas. 
Não era o que queria para ele. 
E entretanto, ali estava, em plena celebração de seu compromisso com uma 
mulher pelo qual não sentia o menor afeto, porque um deplorável ato de luxúria o 
empurrara a cometer um engano irrevogável. 
Uma vez mais se encontrou sozinho no jardim, banhado por aquele mesmo 
céu iluminado pela lua, pensando em uma mulher que nem sequer estava seguro 
de que existisse salvo em sua mente. 
Custava-lhe imaginar a Annabelle, tão fria, bela e serena, como a mulher 
que se retorceu de paixão debaixo dele, que lhe rogara com um doce sussurro 
contra seus lábios que cessassem seus receios. 
Dominick tentou bloquear essa imagem e tomou outro gole de conhaque da 
garrafa a que se agarrara como a uma corda de salvamento. O licor criou um 
quente atalho por sua garganta, aturdindo-o um pouco mais. 
A orquestra começou a tocar. O jovem olhou para a casa, onde as janelas 
resplandeciam como joias em meio daquela noite muito quente, fazendo que o 
calor invadisse cada dobra de seu corpo, afligindo-o como outra carga mais que 
aporrinhasse a sua vida. 
Sua visão imprecisa se centrou em um movimento. Uma figura envolta em 
uma capa escura saía pelas portas da biblioteca. A pessoa olhou a seu redor com 
gesto furtivo antes de cruzar a toda pressa a grama para a cabana de verão. 
O brilho de umas saias lhe indicou que seu objetivo era uma mulher. 
O olhar de Dominick seguiu a mulher que abriu caminho até a cabana e se 
deslizou a toda pressa no interior. Um raio de luz se derramou pela porta aberta e 
revelou que outra pessoa esperava dentro. 
Acaso seu pai ia encontrar se com uma de suas queridas? Aquele sítio 
sempre fora o lugar favorito para suas ilícitas aventuras. Até essa noite, a 
 
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 12 
Dominick não importava que seu pai desonrasse a sua mulher justo diante de 
seus narizes. 
Dominick esperou com ar lúgubre e os olhos cravados na casinha, o licor 
atuava acelerando a sua crescente frustração e asco. 
Terminou o que restava do conhaque, atirou a garrafa contra uma árvore e 
sentiu uma satisfação selvagem ao ouvir o vidro que se fazia em pedaços 
enquanto ele se dirigia com passo colérico à cabana. 
Abriu a porta principal sem fazer ruído. O diminuto salão, com as vigas 
expostas do teto e seus móveis rústicos, mal estava iluminado por uma única vela 
que ardia no suporte da chaminé. Ouviu o som afogado de umas vozes e depois 
um gemido feminino. 
Deus, seria estupendo ver a expressão de sobressalto e humilhação na cara 
de seu pai quando o surpreendesse em pleno ato de adultério. 
Um forte sentimento de vingança levou ao Dominick à porta aberta do 
dormitório onde duas figuras grunhiam e gemiam entre os lençóis revoltos. 
Sua prometida de quatro. 
Seu irmão penetrando-a por trás. 
Frederick foi o primeiro em vê-lo, um sorriso de sátiro se crispou na 
comissura de seus lábios enquanto entrava e saía de Annabelle, que não era 
consciente da presença de Dominick; havia baixado a cabeça e o arbusto de 
cabelo loiro lhe velava o rosto, os mamilos cheios se apertavam contra os dedos 
impaciente de Frederick. 
Seu irmão deslizou as mãos pelo corpo feminino e a sujeitou pela cintura 
para guiar seus movimentos enquanto desfrutava de uns segundos mais 
torturando a Dominick antes de dignar-se ao fim a dizer algo. 
—Olhe quem veio a olhar, céu. Seu queridíssimo noivo. 
O corpo de Annabelle sofreu uma sacudida, como se a tivesse açoitado com 
um látego. Levantou a cabeça de repente e abriu muito os olhos. 
—Dominick! 
O jovem não lhe deu tempo a formular nenhuma desculpa. 
—Ou anula você nosso compromisso ou o farei eu. 
Depois, deu meia volta e se foi. 
 
 
Capítulo 1 
 
 
A metade dos enganos da vida surgem de nos deixar levar pelos sentimentos 
quando deveriam pensar, e de deixamos levar pela cabeça quando deveríamos 
sentir. 
John Collins 
 
 
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 13 
Londres, 1850 
 
—Justo aí, carinho. Um pouco mais forte. Isso... aí... OH, sim. 
Os dedos de Dominick apertaram a cintura da empregada de botequim que 
havia montado escarranchada sobre seu colo; suas mãos, hábeis e incrivelmente 
capazes, estavam fazendo milagres em sua carne acalorada. 
Deus bendito, que boa era. Jamais lhe deram uma massagem parecida, no 
meio de um botequim lotado de gente e com uma montanha de decote olhando-o 
ao rosto, só um farrapo de tecido cobria os enormes seios da garota. 
Enganchou com um dedo a parte superior da blusa cigana da garota e o 
acariciou com suavidade a pele coberta de suor enquanto contemplava os 
mamilos que inchavam e forçavam o fino algodão. 
A garota o olhou com os olhos ardentes, seu olhar transmitia sem vergonha 
que podia fazer o que quisesse, que não lhe importavam os espectadores que se 
haviam reunido a seu redor e virtualmente babavam ali mesmo. 
Possivelmente essa vez aceitasse sua oferta. 
—Meu senhor? 
—Shh - murmurou enquanto roçava com a ponta de um dedo um botão 
endurecido e ouvia a inspiração repentina da empregada antes de sorrir. A garota 
se retorceu contra ele, queria mais. E ele a agradou. 
Colocou-lhe uma mão pela blusa e cobriu um seio com gesto audaz 
enquanto mantinha o prêmio oculto aos olhos lascivos que ansiavam jogar uma 
olhada à esquiva abundância da Sally. 
—Por favor, senhor. 
Como podia negar-lhe quando o rogava de um modo tão doce? 
—De acordo, minha menina. Você ganha. 
Dominick se inclinou para diante e foi baixando o tecido com toda lentidão 
enquanto passava a língua pelos lábios, antecipando ao descobrimento daquela 
ponta rosada e escura. 
—Senhor? 
Franziu o cenho quando a voz que o chamava trocou e aquele tom suave e 
tãofeminino se converteu em um pouco mais áspero, incômodo e masculino. 
A imagem da empregada do botequim começou a fraquejar, como se a 
olhasse através de uma taça cheia de água. Depois, como uma esteira de vapor, 
desvaneceu-se. 
Maldita fosse. 
—Senhor? - coaxou essa mesma irritante voz, arruinando um sonho 
perfeitamente lúbrico. - Está acordado? 
Dominick grunhiu e ficou de costas antes de agarrar o travesseiro que estava 
debaixo da cabeça e arrojar-lhe a quem falava. 
—Cai fora, maldito seja! - ladrou quando o esmurrou a realidade, junto com 
uma palpitação no crânio que lhe indicou que a noite anterior bebera muito em 
 
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 14 
seu clube. 
—Encontra-se bem, senhor? 
Não, pois claro que não estava bem, demônios. Desde que retornara a casa 
uma semana antes, todo mundo parecia estar disposto a acossá-lo com taças 
como se fosse uma espécie de herói conquistador em lugar de um coronel retirado 
do exército que só retornara porque não lhe ficara mais remédio. 
Com muita má vontade, Dominick tirou o antebraço do rosto e 
imediatamente o assaltou um estalo brilhante de luz dourada. 
Fechou os olhos outra vez para defender-se de tão indesejada intrusão. 
—Jesus bendito - disse com voz áspera - o que é isso? 
—O sol, meu senhor - respondeu a já conhecida voz, rangente como uma 
grade sem usar e igualmente incômoda. Hastings, seu incômodo mordomo. Que 
logo seria seu ex-mordomo, por despertar. 
—Por Cristo... sempre brilha... tanto? 
—Desde que eu recordo, sim senhor. 
Dominick lançou um grunhido. 
—Que horas são? -Tinha a sensação de que alguém lhe jogara sal pela 
garganta. 
—Duas da tarde. 
—De que dia? 
—Sexta-feira, senhor. 
—Sexta-feira? - Dominick franziu o cenho. Recordava da segunda-feira 
bastante bem. A terça-feira estava um pouco brumoso. Na quarta-feira era uma 
espécie de tiro no vazio e a quinta-feira... boa, o que se podia dizer da quinta-
feira? 
Nada, ao que parece. 
Ao mesmo tempo em que emitia outro doloroso grunhido, ergueu-se um 
pouco e se apoiou nos cotovelos. Uma vez situado em sua nova postura cravou 
um olhar irritado em seu rígido, erguido e grisalho mordomo, que estava na 
família desde que Dominick vestia calções curtos e que se adotou o direito de 
açular ao Dominick como uma galinha sempre que passava da raia, coisa que 
ocorrera com bastante frequência durante sua primeira juventude e quase com a 
mesma frequência uma vez chegado a idade adulta. 
Não parecia importar muito ao Hastings que Dominick se convertera no 
nono duque do Wakefield, embora o tivesse colocado nessa posição, e de muito 
má vontade, o prematuro falecimento de seu irmão mais velho em um acidente de 
caça. 
Ainda lhe custava acreditá-lo, diabos: Freddie só tinha quarenta anos. Mas 
Dominick tampouco sentia muito a perda. Seu irmão e ele não se falavam desde a 
noite em que encontrara o Freddie na cama com Annabelle Sutherland. 
Mas não fora a perfídia de Annabelle a que provocara a fissura. 
Freddie e ele sempre foram mais rivais que irmãos e o modo em que aquele 
 
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 15 
mal nascido se lambia enquanto se atirava a Annabelle cerceara de um modo 
irrevogável qualquer laço familiar que pudesse ficar. 
Dominick supunha que merecia ter passado por idiota, por ser um crédulo 
que se deixou enganar pelo truque de Annabelle. Já fizera com um Carlisle, por 
que não o outro? 
Ser a mulher de um duque era certamente muito mais atraente que ser a 
mulher de um humilde segundo. Mas quando Frederick a rechaçara, a garota 
retornara arrastando-se junto a Dominick, lhe rogando que a perdoasse. 
Ao ver que as lágrimas não o comoviam, trocara de atitude e a contrição se 
convertera em indignação, a garota possuía umas aptidões para o teatro mais que 
louváveis. 
Mais tarde, diante dos convidados reunidos, a jovem inclusive derramara 
uma grande lágrima ao lhes dizer que não podia casar-se com ele, permitindo que 
sua torturada expressão insinuasse que era ele a parte desonrosa. 
Dominick esteve a ponto de aplaudir mas então observara o rosto triste de 
Parris entre a multidão, aqueles olhos que o marcavam a fogo com todas as 
recriminações desumanas que a censura silenciosa de Annabelle havia 
amontoado sobre ele. 
Um olhar traído e cheio de angústia que seguia acossando a Dominick. 
Fez mal a aquela jovem, teria destroçado algo especial e pouco comum. Em 
algum momento, entre o desastre no que se converteu sua vida, Dominick 
perdera quão único tinha significado algo de verdade para ele, Parris. 
Obrigou a tragar o pesar que lhe encolhia as vísceras sempre que pensava 
nela e concentrou seus esforços em olhar com fúria o seu mordomo. 
—Hastings, quer um conselho? 
—Sim, excelência? 
—Conviria-lhe ter presente que matei a homens por ofensas menores que a 
de despertar de meu sono. - Deixou que o fastidioso tolo digerisse o comentário. 
Dominick precisava impor o tom de seu reinado como reticente senhor da 
casa e até esse momento, ou ele não se explicou com clareza ou Hastings era 
curto de ideias. 
—Minhas mais sentidas desculpas, senhor - entoou Hastings, que não 
parecia muito preocupado. - Não o teria incomodado se não me tivessem feito 
acreditar que o assunto era de certa importância. 
—E que assunto é esse? 
—Lorde Stratford está aqui para o ver. Disse-lhe que o senhor estava na 
cama, mas disse que devia falar com você por uma questão de imperiosa 
necessidade. Parecia bastante nervoso. 
Por Cristo bendito. Stratford pensava que lhe dizer ao mundo que tinha um 
padrasto era uma questão de imperiosa necessidade. 
A razão de que Dominick continuasse sendo amigo de um tipo tão irritante 
durante todos esses anos era outro dos pequenos mistérios da vida. 
 
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Possivelmente só fora simples curiosidade mórbida por ver o que lhe ocorria a 
seguir ao bom homem. 
Os problemas sempre pareciam aguardar a volta da esquina no que ao Jason 
se referia. 
—Aguarda-lhe na biblioteca - acrescentou Hastings. 
—Maldito seja, droga. - A essas alturas, Jason já teria tomado a metade do 
melhor licor de Dominick e teria embolsado uns quantos dos seus custosos 
charutos. 
—Gostaria a sua excelência de desfrutar uma taça de chá para refrescar-se 
antes de levantar-se da cama? - inquiriu Hastings, que era óbvio que assumira 
que Dominick não ia dizer lhe que pusesse ao Stratford de quatro na rua. 
—Não - grunhiu Dominick enquanto chegava a uma conclusão: a única coisa 
mais irritante que a infernal presença do Hastings "além da infernal presença de 
Stratford" era que Hastings falasse na terceira pessoa. 
—Sua excelência não quer nenhuma aborrecida tacinha de chá. 
Dominick tirou as pernas da cama a contragosto. 
—Suponho que bem poderia me levantar, dado que a melhor parte do dia já 
se foi ao inferno. 
—Quer que chame o Smithson para que lhe ajude enquanto se veste, 
senhor? 
Dominick lançou um olhar de soslaio ao Hastings. 
—Levo toda a vida me vestindo sozinho, para que diabos necessito agora a 
alguém que me ajude? 
—Se me permitir a audácia de lhe recordar a classe que ostenta. Agora é 
você duque e já não serve no Exército Real de Sua Majestade. Há certas coisas 
que se esperam de você. 
Dominick apertou os dentes. Não necessitava que ninguém mais lhe 
recordasse suas responsabilidades. Ali estavam todos os dias, prontas para irritá-
lo, como um caldeirão de água fria na virilha. 
A gloriosa liberdade que antes desfrutava se havia convertido em um artigo 
bastante escasso. 
Durante oito anos fora um simples soldado, a vida havia sido dura e ele 
apostara forte, e todos aqueles malditos mímicos o estavam pondo dos nervos. 
—Não necessito o Smithson - cuspiu enquanto passava nu junto ao Hastings 
e abria seu roupeiro. - Sei me vestir sozinho, droga. Desfaça-se dele. 
—Dominick quase pôde sentir a rigidez que se filtrava nos membrosde seu 
mordomo ao ouvir seu último comentário. 
—Deixaria de cumprir minhas funções se fizesse tal coisa, excelência. 
Nenhuma pessoa de sua posição pode prescindir de um ajudante de câmara, é 
imprescindível para um cavalheiro. 
Dominick o teve na ponta da língua, esteve a ponto de informar ao Hastings 
que primeiro teria que aparecer o tal cavalheiro para que tal ajuda pudesse ser 
 
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imprescindível. Entre as palpitações do crânio e as palpitações da perna, - 
cortesia de um disparo na coxa enquanto estava em manobras na Península - 
não estava disposto de que lhe fizessem buracos na nuca quando seu mordomo 
se dedicava a olhá-lo furioso, ressentido e calado. 
Sentindo um renovado desgosto ante a inesperada volta que dera sua vida, 
Dominick agarrou de um tapa as cuecas que lhe estendia Hastings e colocou as 
pernas por elas. 
Depois pegou um par de calças negras, colocou os braços pela camisa e 
brigou com os botões. 
Em seguida ficou olhando com uma careta a imagem que lhe devolvia o 
espelho e só captou um indefinido esboço da tatuagem que lhe marcava o lado 
esquerdo do peito: uma serpente que sibilava enroscando-se em forma de S, com 
a cauda encolhida ao redor do mamilo. 
Fez essa tatuagem pouco depois de alistar-se no exército. A serpente lhe 
pareceu o mais apropriado, considerando sua experiência com os jardins e a fruta 
proibida. Servia-lhe para lembrar-se de sua loucura. 
Com o dia já quebrado de tudo, Dominick subiu as mangas da camisa e 
passou roçando a Hastings, que permanecia em seu lugar como uma figura de 
cera, lhe estendendo o colete. Dominick o agarrou de maus modos e se dirigiu 
com ar resolvido para a porta. 
Hastings chegou antes dele. 
—Sua jaqueta, senhor. - Estendeu-lhe o objeto e Dominick enrugou a fronte 
para lhe advertir a aquele pequeno filisteu intrometido que não se excedesse. A 
advertência passou sem pena nem glória. - Venha, me permita ajudá-lo. 
Antes que Dominick se desse conta já haviam baixado as mangas, o tinham 
grampeado os punhos com umas abotoadoras de ouro que ostentavam o 
emblema ducal e lhe deslizavam a jaqueta pelos braços. 
Depois lhe rodearam o pescoço com a gravata, como se fosse a soga do 
enforcado a que se parecia, e a ataram como era devido, com o número 
estabelecido de nós que ditava o costume. 
—Assim. Isso está melhor. - Hastings alisou as lapelas da jaqueta. Dominick 
grunhiu, mas seu mordomo se limitou a olhar o lóbulo da orelha de Dominick e a 
estender a mão. - O pendente, por favor, excelência. 
Dominick se inclinou sobre o rosto de Hastings. 
—Por cima de seu cadáver - disse com os dentes apertados. 
Depois afastou o irritante espécime com um ligeiro empurrão e virtualmente 
saiu à carreira da habitação. 
Hastings conseguiu o pendente antes que Dominick chegasse ao patamar. 
Depois de amaldiçoar sem parar escada abaixo, Dominick entrou na 
biblioteca e se encontrou com que estava no certo. 
Stratford estava servindo uma nova taça de porto, com toda probabilidade a 
terceira ou a quarta, e tinha um dos melhores charutos de Dominick preso entre 
 
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os dentes. 
Jason era o décimo quinto conde de Stratford e o mais jovem a seus trinta e 
um anos. Também era um exemplo de vicioso como não houvera outro, a ponto já 
de converter-se no perfeito degenerado. 
Dominick conhecera o herdeiro forçoso da fortuna dos Stratford no 
internato. 
Ambos os pais afirmavam que seus filhos necessitavam disciplina ou 
terminariam convertendo-se em uns absolutos folgados, uma possibilidade que os 
dois cortejavam com um ardor quase religioso. 
Juntos se rebelaram e se voltaram contra os restritivos vínculos por 
pertencerem aristocracia, com todas as minúcias que isso supunha. 
A expulsão nunca deixou de abater-se no horizonte durante o tempo que 
durassem suas respectivas carreiras acadêmicas. 
Stratford, entretanto, plantou-se ao surgir a opção da vida militar, dizia que 
lhe davam calafrios cada vez que se expor a perspectiva de uma existência 
regulamentada, não estava disposto a chegar tão longe para escapar dos 
tentáculos de seu título. 
Algumas mulheres - cegas aos numerosos defeitos de Jason - possivelmente 
o achassem bonito com seu cabelo escuro, de um comprimento pouco 
convencional, seus rasgos morenos, seus olhos de cor azul cobalto e uma altura 
de quase dois metros. 
Seu corpo, como o de Dominick, curtiu-se no ringue de boxe, onde Jason 
desfrutava espancando a inocentes incautos que não conheciam suas 
habilidades. 
Stratford precisava manter-se em forma para evitar aos maridos iracundos 
que pretendiam terminar com sua vida da forma mais dolorosa possível, uma 
ideia que não deixava de ter seu mérito nesse momento, quando Dominick 
observou que o descarado estava embolsando sua antiga caixa de rapé de prata 
de lei. 
Stratford o viu então e esboçou um amplo sorriso, como o canalha 
impenitente que era, antes de levantar a taça a modo de saudação. 
—Ah, por fim chegou o filho pródigo! Aclamemos rodos este milagre. 
A resposta de Dominick foi um bufido. Ainda lhe palpitava a cabeça depois 
dos excessos da noite anterior e não se encontrava em um estado de ânimo 
especialmente benevolente. 
Tampouco era que Stratford se merecesse benevolência alguma; aquele 
homem era irritante no melhor dos casos e um autêntico chato no pior. Desafiava 
toda lógica o fato de que a Dominick caísse bem. 
Jason elevou uma sobrancelha. 
—Alguém está hoje de um humor péssimo. Esse cenho franzido é quase 
cegador. - Olhou de cima abaixo ao Dominick e depois comentou-: me Deixe 
adivinhar. Hastings? 
 
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Dominick enrugou a fronte e estirou a mão para recuperar sua caixa de 
rapé. 
Jason lançou um riso, era óbvio que lhe divertia o mau humor de Dominick, 
mas terminou por devolver o objeto furtado. 
—Sigo sem entender por que permite que esse frágil idoso te irrite tanto. 
Só está fazendo seu trabalho. Não pode reprovar-lhe. Deu uma olhada ao 
adorno de Dominick e acrescentou em um tom que proclamava que sua 
mandíbula estava pedindo a gritos um murro: 
—Além disso, acredito que hoje está francamente bonito. Todos outros 
duques vão se pôr verdes de inveja. 
—A menos que espere deixar esta casa com menos parte do corpo dos 
quantos entrou, aconselharia que te abstivesse de fazer mais comentários. 
Jason levantou as mãos com gesto de súplica, mas seu sorriso zombador só 
se alargou. Dominick passou com um empurrão junto ao idiota e se aproximou 
do aparador para servir uma taça. 
Normalmente esperava até o anoitecer para se permitir o capricho que nos 
últimos tempos estava se convertendo em um costume, dadas as companhias que 
estivera frequentando. 
—Mas algo lhe dizia que essa tarde ia necessitar as virtudes mais 
sossegadoras do álcool. 
Bebeu de um gole meia taça do licor Madeira, e esperou sentir que o licor o 
esquentasse as vísceras e começasse a estender-se, antes de voltar-se e 
questionar a seu amigo. 
—Bom, e no que está pensando? Se me perdoar o exagero. 
Jason se deixou cair em uma das poltronas espalhadas pela biblioteca e 
encarapitou uma bota a um dos braços. 
—Recebi uma carta. 
Uma revelação que fez erguer-se o Dominick imediatamente. 
—Dela? 
—Da mesma dama. Deus, terá que reconhecer que essa arpía tem muito 
valor. Atreveu-se a deixar sua nota de amor dentro de minha carruagem. Essa 
bruxa é como um fantasma. Ninguém pôde cheirá-la sequer. 
Assim que a infame lady Escrúpulos golpeara de novo, e dessa vez muito 
perto. É uma ameaça misteriosa e deixava em brasas toda a população masculina 
de Londres, que se perguntava quem seria sua próxima vítima. 
Apelidaram-na lady Escrúpulos pelas boas obras morais que realizava em 
nome das mulheres de todas as partes, e a intriga inquietava a Dominick; fazia 
muito tempo que nada o intrigavatanto. 
O alvoroço que esteve causando na cidade durante os últimos meses era a 
única coisa que podiam falar seus habitantes. Por toda parte havia homens 
nervosos. 
E embora Stratford tentasse ocultar sua preocupação depois de suas 
 
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despreocupadas maneiras, a Dominick não enganava. Seu amigo era uma pilha 
de nervos. 
—E com o que te ameaça? - As vinganças que lhe ocorriam à dama para pôr 
a seu objetivo masculino em seu lugar não só estavam cheias de criatividade a 
não ser que em ocasiões eram entretenidíssimas. 
Stratford franziu o cenho. 
—A fera me disse que se não deixasse de ver a filha do conde de Markham, 
me ocorreria algo muito desagradável. E para ser mais concreto, disse que me 
veria aflito por um incendiário ataque de consciência no lugar que mais aprecio. 
Dominick lançou uma estrepitosa gargalhada. 
—Não tem graça, miserável mal nascido. 
Dominick se imaginou que qualquer que fosse o castigo que tivesse em 
mente a dama para o Stratford, não decepcionaria a ninguém. Não pôde evitar 
sentir-se intrigado, embora fosse a contragosto, pela adivinhação que aquela 
mulher representava. 
Ao que parece, Dominick tinha cultivado uma fascinação insalubre pelas 
mulheres que se envolviam em mistério. 
Suspeitava que na vida real lady Escrúpulos era uma solteirona de rosto 
sério que estava descarregando toda sua infelicidade sobre a população 
masculina de Londres, a que culpava de não lhe dar atenção. 
—Pergunto-me se se terão deitado com ela alguma vez? - refletiu. 
Jason lhe lançou um olhar por cima da borda da taça. 
—Que importância pode ter isso? 
—Poderia ter uma grande importância. Ao contrário de você, a maior parte 
das pessoas, em geral, fazem as coisas por uma razão. Possivelmente poderia 
oferecer teus serviços? Ter o incômodo de te brindar como semental, por assim 
dizê-lo. 
Dou-me conta de que nestes momentos está abrangendo muito, com todas 
essas conquistas que chegam e se vão, mas considera-o um esforço humanitário. 
—Sei que minha capacidade é legendária, mas o ciúmes não lhe cai bem, 
velho amigo. E me permita assinalar que, como membro da população masculina, 
você tampouco é imune e poderia se converter em objeto desta vingança feminina. 
—Não estou de volta o tempo suficiente para ter corrompido a ninguém. E 
suspeito que me fariam falta umas doze vidas para chegar a sua altura. 
—Vou a bom ritmo, não? - refletiu Jason, irradiando malandragem. Depois 
suspirou e contemplou o brilho de suas botas Hessian. - Mas devemos ter em 
consideração a nossos inocentes companheiros de armas, que sofrem as torturas 
dessa arpía. 
—Inocentes? Conhecemos a maior parte desses homens e é certo tudo do 
qual os acusaram até agora. Inclusive seus crimes, Stratford. 
Nos últimos tempos estiveste convertendo em costume de dar fim a meninas 
que mal saíram das salas de aula de seus tutores. 
 
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—E? - disse Jason de mau humor. - Possivelmente me tenha aborrecido das 
mulheres casadas. Nestes tempos já não ficam peças dignas de atenção. 
É como não comer nada salvo assado durante seis meses e ver então a um 
suculento pato guisado, sabe que tem que comer isso ou te deixará louco. 
—Que analogia tão interessante - murmurou Dominick com tom seco 
enquanto fazia tudo o que podia por não tornar-se a rir. 
—Além disso - Jason encolheu os ombros. - Não é como se fosse eu que 
perseguisse essas mulheres. São elas as que vão atrás de mim, e com bastante 
ardor, de fato. E como bem sabe, sou um tipo complacente. 
Tem que saber que procurei proteger minha virtude durante todo o tempo 
que pude, mas sou um homem, não um santo, assim, por favor, não fique 
piedoso comigo. 
Não havia forma de discutir com o Stratford sobre esse tema concreto. 
Quando se tratava de mulheres, era tão curto de ideias que podia cair sobre um 
alfinete e ficar cego dos dois olhos. 
Dominick se apoiou no aparador. 
—Bom, parece que com sua recém adquirida afeição ao pato guisado ganhou 
uma rival formidável. 
Jason tirou uma bolinha de pó das calças. 
—Não me preocupa. 
Dominick elevou uma sobrancelha. 
—Não? Então o que faz aqui? Se não recordar mal, fez com que Hastings me 
despertasse de um profundo sono afirmando que devia falar comigo por uma 
questão de imperiosa necessidade. 
Stratford adotou uma expressão tão perfeita de dignidade ofendida que seus 
ancestrais se sentiriam orgulhosos. 
—Esse homem exagera. 
Dominick duvidava muito. Hastings se orgulhava de ser de uma precisão 
absoluta quando transmitia uma mensagem, até ao ponto que Dominick 
considerava com frequência que seu assassinato se consideraria homicídio 
justificado. 
—Se esse for o caso, então, do que queria falar comigo que não podia esperar 
até mais tarde? 
—Mais tarde vou assistir ao festejo dos Beecham, onde espero dar um 
convite para me encontrar com uma amiga muito especial em um botequim 
pequeno e escuro que há nos subúrbios de Spitalfields, amanhã de noite. 
—Já vejo, E essa amiga não será por acaso a rebelde lady Claire Markham, 
rainha da colheita de aspirantes deste ano, e que ao que parece não se dá conta 
de que está jogando com fogo? 
—E se for? - respondeu-lhe Jason ficando à defensiva. 
—Então suponho que me pica a curiosidade, eu gostaria de saber por que te 
pareceu necessário me informar de seus planos, como se pensasse que a mim 
 
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 22 
poderia importar. 
Jason evitou olhá-lo e, em seu lugar, concentrou-se na minguante 
quantidade de álcool que ficava em sua taça. 
—Pensei que possivelmente você gostaria de me acompanhar? - Seu intento 
de parecer displicente não chegou a cumprir seu objetivo. 
A tácita petição era que Dominick velasse por ele para assegurar-se de que 
Stratford não se desvanecia de repente da face da terra nem desenvolvia um caso 
grave e doloroso de testículo pendentes por haver-se atrevido a desafiar ao anjo 
vingador de todas as mulheres. 
—Não me interessam os trios, obrigado. 
Jason se levantou da poltrona e se aproximou com passo colérico ao 
aparador enquanto olhava furioso a Dominick. 
—Está te levando como um canalha, sabe. 
—Sei. 
—Pois veem esta noite? Quer vir? A estas alturas todo mundo deve saber já 
que retornou. O evento desta noite confirmará sua volta ao lar e lhe tirará do 
meio todas essas tediosas saudações e hipócritos parabéns. 
Isso era certo. Dominick esteve recebendo convites desde o momento em que 
chegara e as esteve esquivando todas sem parar. Todas as mães com filhas em 
idade de casar queriam as fazer desfilar diante dele dado que seu status se elevou 
o suficiente. 
E possivelmente essa noite poderia pôr fim de vez às especulações sobre sua 
apressada partida de oito anos atrás. Já era hora de que o círculo se fechasse. 
Mas isso não significava que não pudesse desfrutar de um momento mais 
fazendo suar a Stratford. 
—Olhe - disse Jason, e seu tom raiava o desespero. - Valerá a pena. Há uma 
nova fornada de belezas esperando a que alguém as recolha. 
Não pararão de te fazer bajulações, lhes cairá a baba ante a perspectiva de 
chamar sua atenção e converter-se na próxima duquesa, o que poderá acontecer 
a você com isso despedaçando todas suas esperanças com essa mal-humorada 
expressão. 
Dominick aguentou um momento mais e depois suspirou como um mártir. 
—Está bem, irei. - Que aquele homem acreditasse que lhe interessava 
inundar-se entre uma turma de senhoritas que não paravam de rir bobamente e 
que com toda probabilidade se cairiam redondas se lhe ocorresse falar do tempo 
que havia passado na Índia, das rebeliões, a pobreza, e do destino que caía sobre 
qualquer homem que encontrassem no interior do harém de um marajá. 
—Bem - o brilho retornou aos olhos de Jason enquanto terminava de um 
gole seu vinho e deixava a taça vazia no aparador. - Verei-te esta noite, voltou-separa ir-se. - Ah!, fez uma pausa e girou um pouco - e não faça planos para 
amanhã a noite. 
—Por quê? - Algo disse ao Dominick que não lhe ia gostar da intriga que 
 
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 23 
estava incubando Stratford. 
—Vamos à Tortura e a Ruína para nos divertir um pouco. 
Dominick ergueu uma sobrancelha. 
—Nós? 
—Você, eu... e lady Claire, se acaso triunfe em minha missão. E se quiser 
um incentivo, sempre pode dar um pega com uma das empregadas que servem. 
São um grupo do mais voluptuoso. O proprietário só contrata às que têm 
grandes... 
Dominick levantou uma mão. 
—Rogo que não te estenda mais... 
Jason lhe lançou um sorriso enviesado e metido e deu meia volta. 
—Vemo-nos esta noite - disse por cima do ombro. 
Dominick viu sair o seu amigo e se perguntou no que estava se metendo ao 
aceitar ir aos bairros baixos do East End com o Stratford. 
A Tortura e a Ruína. Que apropriado. Algo dizia a Dominick que a noite 
seguinte ia ser algo mais que outra simples gota de água no oceano de frivolidade 
sem sentido que era a vida do Stratford. 
E na sua própria, se não tomasse cuidado. 
 
 
Capítulo 2 
 
 
A virtude que infringe não é mais que um pouco manchado pelo Pecado; e o 
pecado que emenda não é mais que um pouco Manchado pela virtude. 
Shakespeare 
 
 
—Lady Gwendolyn Fairchild e a honorável senhorita Parris Sutherland! 
O bramido do lacaio sacudiu Parris por inteiro, que não estava preparada 
para que semelhante volume brotasse de lábios daquele homenzinho. 
Aguardou na borda do precipício do desconhecido e esperou que não 
parecesse que estava a ponto de sair disparada em qualquer momento, o que não 
deixava de ser uma possibilidade enquanto olhava o abarrotado salão de baile dos 
Beecham. 
—Relaxe - lhe sussurrou sua prima enquanto desciam pela imensa escada 
de mármore. - Respira fundo e não deixe de sorrir. Não deixe que pensem que há 
algo que a preocupa. 
Que fácil era falar, pensou Parris. 
Tinha a sensação de que as faces estalariam por culpa do brilhante sorriso 
que se obrigava a esboçar enquanto saudava com a cabeça a uma pessoa e logo a 
seguinte e fingia que não se dava conta de que as mulheres fofocavam depois dos 
 
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 24 
leques. 
—Senhor - murmurou Gwen com tom exasperado entre sorriso e sorriso. - 
Qualquer pessoa diria que somos vacas a ponto de ser leiloadas no mercado, olhe 
como nos olham todo mundo. 
E o caso era que os assistentes estavam as olhando, disso não cabia dúvida. 
Todos os olhos da sala estavam cravados nelas enquanto desenhavam um círculo 
ao redor do perímetro exterior da pista de baile, onde giravam casais alegremente 
vestidos. 
O champanha faiscava nas taças de cristal esculpido que coroavam bandejas 
de prata, levadas por serventes de librea que luziam as cores dos Beecham, o azul 
e o dourado. 
As luzes titilantes da magnífica aranha que pendia do teto fazia brilhar as 
joias que envolviam os pescoços das mulheres e penduravam dos lóbulos de suas 
orelhas, e a piscada dos candelabros repartidos pelo salão criava um ambiente de 
conto de fadas. 
Parris pensou que oxalá pudesse apreciá-lo mais, mas, dadas as 
circunstâncias, conformava-se em sobreviver a essa noite. 
Sabia que aquela multidão de mulheres elegantes e os petimetres1 que as 
acompanhavam não era a Gwen a quem olhavam com a boca aberta, embora sua 
prima estivesse encantadora com a criação de cor rosa pálido que madame 
Savina lhe entregara essa mesma manhã. 
Não, estavam olhando a Parris; escandalizados, supunha ela, de que ao final 
se atreveu a aparecer em público depois de quase quatro meses de reclusão 
forçada. 
Ninguém a vira depois do escândalo, como a sociedade chamara a sua 
devastadora humilhação depois do abandono de seu prometido no mesmo dia de 
suas bodas. 
Mal sabiam que lhe entristecera, mais que qualquer outra coisa, o dano que 
fizera a James com sua confissão, um dano que jamais desejara lhe causar. 
A primeira vez que vira o James fora na festa dos Duvall, fazia quase dois 
anos. Aquele homem lhe dava as costas mas sua largura e o modo como se 
erguia, com uma elegância transbordante, e seu cabelo negro tão lustroso como o 
cabelo de uma Marta cibelina, haviam capturado toda sua atenção. Tinham-lhe 
recordado a outra pessoa. Alguém a quem Parris não esquecera jamais. 
E então o cavalheiro deu a volta, a surpreendera olhando-o e lhe havia 
devolvido um sorriso cheio de calidez. Parris sorrira por sua vez, por instinto, 
embora seu coração vacilara ao dar-se conta de que não era o homem que ela 
esperava. 
Não dera a James nenhuma razão para acreditar que algum dia haveria algo 
 
1
 Do francês "petit-maître". É um adjetivo, e é o que se diz de um indivíduo vestido com apuro exagerado; janota 
ridículo; também pode ser garrido, elegante, peralta. 
 
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mais entre eles que uma simples amizade e, entretanto, só seis meses depois de 
conhecer-se, o jovem havia se declarado. 
Parris ficara emocionada, não esperava que alguém quisesse se casar com 
ela. Com vinte e seis anos, a maior parte das pessoas considerava que já havia 
ficado para vestir Santos2. 
—OH, olhe - comentou Gwen. - Ali está lady Claire. Vá, esta noite está 
resplandecente. Pergunto-me se é tão resistente aos intentos de sedução de lorde 
Stratford como seria de esperar. 
Parris olhou a lady Claire Markham, que atendia a seus aduladores do outro 
lado do salão de baile. 
Apresentava um aspecto radiante, embelezada com um vestido de seda de 
cor pêssego que deixava os ombros um pouco descobertos e uma saia com uma 
cintura da época do império que caía de um corpete apertado e debruado de 
encaixe de qualidade. 
Seu cabelo loiro era um halo que rodeava um rosto cheio de graça que a 
fazia parecer angélico e serena ao mesmo tempo. 
A Parris, lady Claire recordava a sua irmã Annabelle. Ambas as mulheres 
possuíam o poder de cativar a atenção dos homens e ambas utilizavam sua 
beleza em proveito próprio. 
Os homens sempre se congregaram ao redor de Annabelle como abelhas que 
iam a um pote de mel, até que ao final havia ficado com o que desejara. O homem 
que em outro tempo Parris amara com tanto desespero. 
Parris ainda sentia uma ardência de dor sempre que pensava na infantil 
declaração de amor que fizera a Dominick Carlisle e o modo com que ele pegara 
seu amor e o entregara a Annabelle. 
Annabelle e ela nunca tiveram a típica relação de irmãs, mas durante os 
anos transcorridos depois da deserção de Dominick, sua relação terminara de 
desintegrar-se por completo. 
Annabelle se tornara mais fria, mais vingativa e destruíra o pequeno vínculo 
que pudesse ter ficado entre elas. 
Parris queria compadecer-se dela. Annabelle ficara destroçada quando 
encontrara a Dominick com outra mulher a véspera de seu compromisso. 
Mas Parris só podia sentir desespero, mas por ela mesma, e uma estranha 
sensação de alívio ao saber que Dominick não ia se casar com sua irmã. Como 
poderia ter vivido com isso? 
—Senhor, isto está cheio de gente - disse Gwen arrancando Parris de umas 
imagens que ainda possuíam o poder de derrotá-la. - OH, olhe a sua mãe. Está 
radiante esta noite! 
 
no original o termo usado foi "one who dresses saints." significa uma mulher que nunca se casou e está em uma idade 
avançada, uma solteirona. No passado, quando uma mulher ficava solteira, ela muitas vezes dedicava seu tempo à 
igreja local e sua manutenção e por isso este termo passou a ser adotado. Algo como ficou para titia. 
 
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 26 
A Baronesa sorria a lorde Randolph enquanto este a guiava com elegância 
pela pista; o vestido de cor rosa intenso não fazia mais que acentuar a graciosafigura da dama, cujo rosto estava avermelhado de prazer e cujos olhos faiscavam 
de modo mais magnífico que a aranha de luzes que pendia sobre suas cabeças. 
Parris se alegrava de que sua mãe por fim tivesse encontrado certa medida 
de felicidade. Seu marido certamente não lhe proporcionara muita. 
Embora havia pregado sem descanso sobre o decoro ante sua mulher e a 
suas filhas, nunca havia aplicado o sermão a sua própria pessoa. 
Seu pai teve uma amante durante anos. Foram muitas as noites que Parris 
escutara os soluços de sua mãe, um som dilacerador em meio da escuridão. 
Parris jurara que nunca daria a um homem o poder de feri-la assim. 
Suspeitava que fora durante aquelas longas e dolorosas noites quando 
começara a tomar forma o personagem de lady Escrúpulos; a ira que despertava 
nela o modo como era tratada a maior parte das mulheres a empurrava a fazer 
algo. 
Essa, em parte, era a razão pelo qual aceitara assistir ao festejo dos 
Beecham: queria vigiar o Jason Fielding, conde de Stratford, seu atual objetivo. 
O Conde possuía certa tendência a seduzir a jovenzinhas que não estavam 
preparadas o suficiente para reconhecer a um professor da libertinagem em ação. 
Em seu lugar, se sentiam aduladas pelos cuidados dispensadas por um 
cavalheiro tão bonito. 
Lady Escrúpulos já lhe dera um aviso. Essa noite pensava descobrir se 
seriam necessárias medidas mais severas. 
Como se os pensamentos de Parris se conjurassem para fazer aparecer ao 
homem, ouviu dizer a Gwen: 
—Ali está o Conde. Meu deus, olhe como se abate sobre sua presa, como um 
abutre preparado para lançar-se sobre ela. 
Parris observou o Conde quando este rodeou o perímetro de homens que 
adulavam a lady Claire; parecia um arcanjo tão glorioso como sinistro, em busca 
de sua próxima alma. 
Seu físico agressivo estava envolvido por um traje negro de corte perfeito e 
sua gravata branca acentuava a pele bronzeada. 
O sorriso enviesado que luzia era totalmente sedutor quando abriu espaço 
entre a multidão para tomar posse com gesto audaz da mão de lady Claire antes 
de levar-lhe aos lábios e retê-la durante um segundo mais do que ditava o decoro. 
—Esse homem é um bárbaro - bufou Gwen, cujas faces se mancharam de 
rubor, coisa que Parris suspeitava que não se devia só à indignação em nome de 
lady Claire. 
Duas semanas antes, lorde Stratford passara junto a elas na rua e havia 
envolvido Gwen em um olhar que só se podia descrever como devorador. 
Gwen lhe lançou um olhar furioso e sufocante, mas o cavalheiro havia se 
limitado a esboçar um sorriso de mil demônios e a saudara com uma inclinação 
 
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 27 
de cabeça. Após, sua prima ardia de raiva. 
—Ali está a viúva - assinalou Gwen. Situada em um discreto segundo plano 
a direita de lady Claire. 
Parris viu a viúva, Honoria Prescott, esposa do falecido conde de Linton. A 
viúva fez um gesto com o leque, um sinal que indicava que gostaria de estar mais 
perto para escutar o intercâmbio entre o Conde e lady Claire. 
Quando a viúva se moveu, Parris observou a um homem que se encontrava 
entre as sombras, perto das portas abertas do balcão. 
Um homem cujos olhos se encontraram com os seus e fizeram que o peito 
encolhesse de forma muito dolorosa e que o coração lhe palpitasse com um ritmo 
errático. 
Parris piscou os olhos para clarear, certa de que estava tendo uma 
alucinação, mas a imagem não se dissipou. 
E quando o homem levantou a taça que levava na mão em um discreto 
brinde, Parris teve a certeza de que sua mente não estava pregando uma peça. 
Era real. Estava vivo. 
E estava ali. 
Que os céus a ajudassem... Dominick Carlisle voltara para casa. 
A mão de Dominick não estava totalmente firme quando levou a taça aos 
lábios. 
Seu olhar não se afastou um instante de Parris, que se encontrava justo do 
outro lado do salão de baile; a luz dos candelabros por trás fazia que o recolhido 
de seu cabelo da cor do ébano resplandecesse com nervuras douradas. 
Parris. Sua pequena e doce Parris. 
Não, já não era tão pequena. Era toda uma mulher. Uma mulher formosa 
que o deixara sem fôlego quando a vira descer pela majestosa escada depois de 
que o lacaio a anunciasse. 
Só o som de seu nome provocara um comichão pela coluna de Dominick, 
que se esquecera por completo da mulher que estava a seu lado. O que tampouco 
resultava tão difícil por se tratar dessa específica mulher: Annabelle. 
Deus, aquela bruxa era incrível. Assim que o vira, voara para ele como se 
fosse empurrada por alguma força magnética, demonstrando ante todos com seu 
alarde que para ela o passado, passado estava. 
Como pudera pensar alguma vez que aquela garota merecia o esforço? 
Dominick estudou a Parris. A jovem fizera realidade todo seu potencial. 
Impuseram-se os rasgos esculpidos que ele sempre soubera que estavam ali; 
ressaltavam as maçãs do rosto altos, uma mandíbula obstinada e um nariz 
delicado. 
Sua tez luzia um pouco de cor, indicação segura para o Dominick de que 
aquela jovem seguia girando o rosto para o sol. 
E sua boca, o que podia dizer ele daquela boca? Recordou a primeira vez que 
se fixou naqueles lábios viçosos. Seus pensamentos não foram precisamente os 
 
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 28 
de um bom vizinho. 
Sentira-se enojado consigo mesmo por albergar todas aquelas fantasias e 
pensar nas coisas escandalosas que aquela garota poderia fazer com uma boca 
tão doce. 
Era Parris, depois de tudo. Parris, que sempre o admirara, e que, durante 
um tempo, acreditara que o mundo se elevava e ficava aos pés de Dominick. O 
encantara aquele ardor e desfrutara de uma profunda sensação de satisfação ao 
saber-se necessitado. 
Aquele último verão que passaram juntos, antes que a vida ficasse ao 
reverso, a jovenzinha o deixara louco sem dar-se conta, atormentando-o pouco a 
pouco. 
Seu corpo perdera as linhas desajeitadas da infância e foi se enchendo em 
todos os lugares precisos. 
Recordava o dia que a havia descoberto junto aos estábulos luzindo um 
vestido feito para uma menina menor e muito escasso para sua nova figura. 
Mas aquele adorno de menina, em lugar de recordar a Dominick a jovem que 
ainda era sua amiga, limitou-se a realçar cada nova curva e cada vale. 
Possuía os seios pequenos mas se arredondaram o suficiente para encaixar à 
perfeição nas Palmas das mãos de um homem, e essa imagem mental fizera com 
que Dominick passasse o momento apertando os punhos para evitar tocá-la. 
Aquele verão, mudara algo em seu interior; aquela menina havia deixado de 
ser a mesma para ele. 
Tentara-o, mas já não podia vê-la como a pirralha manchada de terra que o 
seguia a todas as partes, e cujos inesquecíveis olhos azuis tinham resplandecido 
cheios de lágrimas não derramadas ante o desumano modo que a tratava seu pai. 
Dominick nunca demonstrara a crescente atração que sentia por ela, mas 
tampouco foi capaz de escapar dela. Inclusive nesse momento, depois de tantos 
anos, a jovem seguia despertando um desejo feroz nele. Deus, como havia sentido 
falta dela. 
Dominick não se deu conta de que se afastou do refúgio seguro que 
encontrara em uma esquina e começara a cruzar o salão para falar com Parris até 
que uma mão o sujeitou pelo braço e o deteve. 
Lançou um olhar furioso por cima do ombro e encontrou Stratford com uma 
sobrancelha elevada em um sinal de interrogação cheio de humor. 
—Deve luzir sempre essa expressão tão pouco cordial? - perguntou-lhe seu 
amigo. - Termina sendo fatigante. 
—O que quer? 
—Não ter que me casar, permanecer eternamente jovem e ser um ricaço 
impenitente. De momento, entretanto, com outra taça de champanha será 
suficiente. 
—Jason roubou a obrigatória taça de espumoso de uma bandeja que 
passava a seu lado e a inclinou para Dominick em um silencioso brinde antes de 
 
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 29 
beber de um gole o conteúdo. 
—Ousareiperguntar o que é que causou seu atual mau humor? - disse 
depois. - Esta noite foste o mais popular entre as damas e não acredito que esteja 
sozinho devido a seus bolsos que adquiriram nos últimos tempos um volume 
significativo. 
É possível que a uma ou duas destas damas inclusive gostem de verdade... 
bom, por ti mesmo. Algumas mulheres encontram irresistível a certo tipo de 
homem torturador e ameaçador. Está claro que sobre gostos não há nada escrito. 
Jason depositou a taça vazia na bandeja de um criado que passava e 
agarrou ao voo outra de uma fonte que chegava em direção contrária. 
—De acordo, velho amigo, cospe-o. Ou devo passar a noite adivinhando-o? 
Dominick imaginou até que ponto seria inteligente confiar-se a seu amigo. 
—Vi a uma amiga. 
—Uma amiga, diz? Bom, pois essa amiga deve ser uma pessoa extraordinária 
porque não acredito ter visto esse brilho em seus olhos desde que te levei ao 
bordel de madame Lacey quando tínhamos quinze anos, e aquela encantadora 
garota asiática te deu sua primeira massagem no cabelo, entre outros prazeres 
carnais. 
Dominick só pôde maravilhar-se das coisas que moldaram ao Stratford, da 
infância que inspirara o único ponto de vista que parecia dominar a seu amigo. 
—E onde está essa amiga? - perguntou-lhe Jason. 
—Se for capaz de te moderar e não ser muito descarado, então está ali. A 
segunda coluna da direita. Com um vestido de cor nata. 
Com um exagerado alarde de sangue-frio, Stratford deu a volta para olhar. 
Como Dominick já deveria ter previsto, o olhar preguiçoso de Jason 
desenhou pouco a pouco todo o corpo de Parris antes de voltar a subir. 
—É todo um salgadinho, não? 
—Tome cuidado com o que diz. 
Jason lhe deu um repasse divertido ao Dominick. 
—Com que marcando o território, né? 
—É uma amiga. E não permitirei que a calunie. 
—Quão único disse é que era bonita. Que classe de calúnia é essa? 
Dominick se amaldiçoou em silêncio ao se dar conta de que falara muito. 
Mas havia sentido algo mais que um pouco de irritação ao ver o Jason 
contemplar a Parris como se a jovem fosse outra conquista em potencial. 
—Não sentirá nenhum interesse por ti, assim já pode te esquecer. 
—Não acredito ter expressado nenhum interesse em persegui-la, embora 
agora não posso evitar me sentir intrigado. E como é que sabe que não vai 
gostar? Posso ser encantador quando se joga. 
Dominick teve que recordar-se que Stratford só pretendia aguilhoá-lo, para 
não perder o costume. 
—Digamos só que essa garota tem escrúpulos, coisa de que os dois sabemos 
 
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que você carece, e deixemo-lo assim. 
Jason fez uma careta. 
—Por favor, não utilize a palavra "escrúpulos" diante de mim. 
—Ah, sim. Isso. - Dominick esquecera a nota da misteriosa dama que fora o 
impulso que o levara a assistir a aquela função. - Algum problema até agora? 
—Não, graças a Deus. Mas devo admitir que tenho a sensação de que me 
estão vigiando. 
—Não está, possivelmente, com um pouco de pena de ti mesmo? 
—Não o descartaria. - Depois, Jason encolheu os ombros. - Mas para voltar 
para sua amiga. - Passou uma mão pelo queixo. - Por alguma razão me resulta 
conhecida. 
Franziu a fronte em um de seus escassos ataques de reflexão e Dominick 
sentiu uma pontada de preocupação ante o que poderia sair pela boca de seu 
amigo, algo no sentido de que em outro tempo tentara seduzir a Parris. 
Conhecendo Stratford, não cabia dúvida de que entrava dentro do possível. 
—Ah, sim. Já me lembro. - Dominick se preparou para o pior. - É a menina 
cujo prometido a abandonou no dia de suas bodas. 
Não lhe viu o cabelo desde então. Embora tampouco é de sentir saudades, 
dado que a flor e nata pode ser uma manada de barracudas quando se trata de 
fofoca tão suculentas. 
Dominick ficou em silêncio, pasmado. Céus, deve ter ficado destroçada. No 
passado teria ido a ele para lhe falar de sua dor, mas ele não esteve ali para 
escutá-la. 
—Quanto tempo faz que deveria ter acontecido essas bodas? 
—Uns quatro ou cinco meses, acredito. Durante um tempo não se falou de 
outra coisa. O certo é que o senti pela garota. Não pode ter sido fácil ter que 
suportar tantas especulações. 
—Que classe de especulações? 
Jason encolheu os ombros. 
—O habitual. Tinha o noivo uma amante? Tinha-o a noiva? Esse tipo de 
coisas. 
Teria Parris um amante? mais de um, possivelmente? Parris sempre fora um 
pouco selvagem de menina, teimosa e teimosa como uma mula quando colocava 
um plano na cabeça. O que sempre exasperava Dominick era o mesmo que o 
fazia admirá-la também. 
Sentiu uma necessidade desesperada para falar com ela, de ver se mudara 
em algo e averiguar o que sentia ao ver que retornara. Entretanto, também temia 
descobrir as respostas a todas essas perguntas. 
—Darei por certo que essa expressão de cordeiro degolado que adotou seu 
rosto está dirigida à senhorita Sutherland e não à garota que está a seu lado - 
comentou Stratford. 
—Dado que neste momento me inclino por certo estado de embriaguez e 
 
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tenho a visão imprecisa, não posso saber com certeza a quem você está comendo 
com os olhos. 
—O que está balbuciando? 
—A deusa que está ao lado da senhorita Sutherland. Tenho-lhe jogado o 
olho, velho amigo. Tem que saber que está avisado. 
O olhar de Dominick se depositou um momento na jovem que estava junto a 
Parris. Era bonita mas de um modo provinciano que não chegava a Parris nem à 
sola dos sapatos. 
Surpreendeu-lhe que Jason se interessasse pela moreninha. A garota 
parecia muito inocente, muito para seu amigo. Claro que Jason estava em sua 
fase do pato guisado e arruinando a reputação das mulheres a bom ritmo. 
Um cavalheiro mais velho e bem vestido se aproximou sem pressas às damas 
e o sorriu a moreninha antes de estender a Parris uma mão enluvada, era óbvio 
que em busca de uma companheira de baile. 
Com um breve olhar para o Dominick, Parris aceitou com um assentimento e 
o homem a levou a pista de baile... enquanto que Dominick sentia que seu rosto 
se convertia em granito. 
Depois de terminar outra taça de champanha, resolveu interpor-se entre o 
casal mas a música se deteve e o companheiro de Parris a devolveu ao lugar que 
a levara, inclinou-se com gesto galante e depositou um beijo no dorso de sua 
mão, excedendo-se no gesto uns segundos de mais. 
—Por Deus, homem - riu Jason. - Vá falar com ela. Está espantando a todas 
as mulheres com esse olhar de fera. 
Antes que Stratford tivesse terminado a frase, Dominick já estava cruzando 
com longos passos o salão, atalhando diretamente entre os casais que dançavam. 
Observou o olhar de alarme do rosto de Parris quando se dirigiu a ela e viu 
consternado que a jovem levantava as saias e saía virtualmente correndo do salão 
pelas portas que levavam ao jardim. 
 
 
Capítulo 3 
 
 
...o céu se obscurece ainda mais 
E se eleva o mar. 
G. K. Chesterton 
 
 
Parris nem sequer sabia aonde ia enquanto abria caminho entre a multidão. 
Só sabia que Dominick se dirigia para ela e não queria falar com ele. 
Vê-lo daquela forma, tão inesperada, pegou-a despreparada. 
Necessitava de tempo para preparar-se, para ocultar seu coração e cobrir os 
 
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restos daquela menina que em outro tempo o amou com desespero. 
Dominick se alistara no exército menos de uma semana depois de que 
Annabelle anulou seu compromisso e provocou um escândalo monumental. Seu 
pai, o Duque, havia-se posto furioso com ele, mas não porque Dominick não 
tivesse casado com a Annabelle. 
O Duque nunca desejara estar aparentado de nenhum modo com os 
Sutherland. Não, sua fúria vinha provocada pelo fato de que Dominick o 
envergonhara diante de seus iguais. 
Dominick abandonara a mansão Carlisle essa mesma noite; havia deixado a 
sua família, a seus amigos, a ela, e desaparecera em outro mundo em que ela

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