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Antonella Pizzi Os condenados I ESCURA INOCENCIA

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Série: os Condenados
Antonella pizzi
LiVRo 1 - Escura Inocencia
Pesquisa e tradução: Leniria Santos
Revisão: Márcia de Oliveira
Revisão final e formatação: Cris Skau
No final do livro você encontrará informações sobre a série 
Toda a série será distribuída por nós.
Dedicatórias
	Quero dedicar esta história especialmente às meninas que me seguiram do princípio ao fim. Foi realmente muito amável por parte de vocês estarem lá em cada momento onde eu necessitava de outra opinião.
	A Faby: não tem nem idéia de quanto te quero e te agradeço por cada coisa que tem feito por mim!
	A Firiel: por tudo e muito mais. Por me dar sua opinião e por me fazer tão feliz com seus comentários.
	A Sokie que foi uma fonte de apoio incondicional em momentos de falta de inspiração.
	A Yoli por me dar sua opinião quanto mais a necessitava, também por escutar minhas idéias e ser paciente na espera de suas aparições.
	A Gathi, que também me seguiu e me fez feliz por tê-la como leitora. Cujos comentários me faziam rir um montão.
	A Citu que, junto comigo, somos as maiores anti-fãs do Simphony!
	A Marazel: quero que saiba que Blasius te quer da mesma forma que eu.
	A Lian por ler esta história fora do fórum e me dar sua opinião para diversas cenas. Por ser uma das leitoras que me seguem em qualquer história.
	E a Snow: foi minha salvação desde o momento em que decidiu guardar esta historia em seu PC e por isso me acredite que te devo um favor realmente grande. Tem minha maior gratidão contigo.
Sinopse
	
	Durante aproximadamente quinhentos anos Blasius Nortton vagou pelo mundo esperando encontrar a companheira predestinada a compartilhar o resto de sua escura existência.
	Em um campo afastado da cidade, a altas horas noturnas, uma menina lhe deu de presente uma rosa branca, símbolo da pureza. Mas ao olhá-la diretamente nos olhos se encontra cara a cara com seu destino. Sua companheira é a filha de seu único amigo humano, que sabe absolutamente tudo sobre seu estado.
	Francesca Eve Agnes… perdeu seus pais somente a uma semana de completar a maioridade. Por meio de uma carta no testamento terá que ficar até que seja maior com o melhor amigo do seu pai… Um homem estranho, bastante jovem e extremamente escuro… Algo muito perturbador para nossa querida Francesca.
“O universo não só é 
mais estranho do que imaginamos,
se não, mais estranho do que podemos imaginar”
Perfil de Blasius
	Nome: Blasius Nortton.
	Pseudônimo: Blas.
	Data de nascimento: 19 de Setembro de 1483 em minha vida como humano. E 23 de dezembro de 1509 para meu renascimento como imortal.
	Lugar de nascimento: Depende de que nascimento se refere…
	Altura: 1,93 cm.
	Aparência: Nada fora do normal, acredito eu.
	Canção Favorita: Painted On My Heart por The Cult
	Humor: A metade do tempo sou bastante razoável, a outra metade… Nem tanto…
	Lema: Melhor que não se meta comigo se não quer um olho roxo e um par de marcas no pescoço.
	Passatempo: Cuidar das minhas adoradas roseiras brancas.
	Espécime: Vampiro.
	História: Escura Inocência.
	Companheira: Francesca Eve Agnes.
	
	É todo um espécime nascido para a sedução. Com ágeis movimentos e um andar primordialmente animal. É atraente como o pecado, com uns surpreendentes olhos azuis que costumam observar de maneira letal a sua presa. Seus cabelos lisos são de um tom negro como a noite mais escura e tentadora que tenham visto. Seu corpo é a obra perfeita dos deuses…
	Desconhece-se a causa que o levou a converter-se em vampiro… E também quem foi seu criador.
	Blasius leva sua vida em solidão nesses quinhentos anos, esperando pela companheira que lhe foi predestinada…
Perfil de Francesca
Nome: Francesca Eve Agnes
Pseudônimo: Fran. Nunca me chamem de Frannie, isso está reservado para alguém especial.
Data de nascimento: 05 de janeiro.
Lugar de nascimento: Oxfordshire, Inglaterra.
Altura: 1,61 cm… Mais ou menos.
Aparência: Varia dependendo de meu ânimo…
Canção Favorita: Kiss From a Rose de Seal
Humor: Sem palavras.
Passatempo: Eu adoro sair de noite para ver as rosas sob a luz da lua.
Espécime: Sou humana!! O que acreditavam que era?
História: Escura Inocência.
	Francesca perdeu seus pais apenas a uma semana de cumprir seus ansiados dezoito anos. E como era menor de idade e não tinha nenhum familiar que pudesse ocupar-se dela, seus pais disseram claramente no testamento que deveria permanecer com o amigo da família, Blasius Nortton. Alguém a quem Francesca não conhecia, certamente…
Prólogo
Oxfordshire, Inglaterra
	-Perfeito, agora o que quer? Um golpe no estômago possivelmente?
	Blasius torceu seu lábio superior um pouco parecido com um sorriso e logo se deixou cair na cadeira frente à delicada mesa de chá, pertencente à esposa de seu melhor amigo Charles. 
	-Agora que sabe sobre meu pequeno segredo, espero que não saia correndo como uma galinha pensando que vou tomar seu sangue a qualquer momento.
	-Bem.
	Blasius piscou surpreso.
	-Bem? Eu te digo que sou um vampiro e que vivi durante quinhentos anos e você somente me diz isso?… Bem? Ah demônios.
	-Ouça, ouça; eu já te disse que somos amigos aconteça o que acontecer, não é para que te retorça enquanto lhe recordo isso. Cai-me bem Nortton, é somente isso.
	-Obrigado, você também me cai bem Charles, ou isso eu acredito.
	Charles se serviu de um bom copo de uísque e o tomou de um só gole.
	-Droga! Por que alguma vez não me ocorreu isso? Nunca comia conosco, não se deixava ver a luz do sol e sempre andava pálido – voltou a servir outro copo e esta vez começou a bebê-lo pouco a pouco – Espero que não tenha pensado em matar a mim ou a Sarah e logo sair pela porta.
	Blasius sorriu e negou com a cabeça. Não tinha a mínima intenção de fazer algo a alguém como Charles e sua esposa; voltava a repetir, era seu melhor amigo, além disso, o único conhecedor do seu segredo. Observou a janela descoberta que permitia a lenta entrada da luz da lua cheia e recostou sua cabeça ao observá-la.
	-Acredita que posso explorar seu jardim?
	-Claro, claro… Todo seu – disse servindo seu terceiro copo de uísque.
	-Deixa de beber, Sarah se zangará se te encontrar ébrio.
	Blasius se sentou na grama e observou diretamente a lua. Sentia-se como se estivesse esperando algo, quão mesmo esperava há quinhentos anos. Quando viria a ele? Não estava muito seguro, só que lentamente a solidão vinha consumindo-o nas sombras… Necessitava que “ela”, sua companheira, viesse por ele.
	Viesse a sacudi-lo e o salvar da miséria, de sua própria escuridão e dos demônios que o acossavam do passado mais longínquo que pudesse recordar.
	Havia um rio a seus pés, mas não se preocupou em agachar-se para olhar seu aspecto, já que sabia que não se refletiria nele. Os vampiros não tinham reflexo por não possuir uma alma a qual refletir. Mas então se não tinham alma por que seguia ele e os seus vagando das trevas? Não tinha certeza.
	Só sabia que Deus os tinha odiado e aos que odiava os castigava e para ele e sua gente tinha decidido o pior dos castigos… convertê-los em bestas sem alma e com sede de sangue, destinados a vagar pelas trevas durante uma eternidade.
	O som de uma risada inocente alcançou seus ouvidos, os pezinhos arrastando-se pela grama lhe fizeram levantar a vista. Que hora era? As pessoas ainda deixavam seus filhos fora das casas tão tarde?
	A risada em processo e a sombra de uma menina se plantaram a seus pés. A escuridão da noite, a lua tinha sido coberta pelas negras nuvens que refletiam a tormenta que se aproximava, não deixava vê-la, tão somente o voar de seu vestido de renda e seus cabelos soltos formando redemoinhos pelo forte vento.
	-Está triste por algo, senhor? –A voz era doce, infantile cheia de inocência primaveril, aquelas que somente as pessoas que não viram nada capaz de corrompê-los possuem; algo que ele não era.
	-Por que pergunta, pequena senhorita?
	Ela soltou uma risada.
	-Porque ao longe parecia como se fosse chorar.
	“Curioso.” Pensou Blasius.
	-Entendi… Obrigado por se incomodar em vir até aqui para saber como eu estava –Sorriu levemente –E perdoe por havê-la preocupado milady, mas esqueça. Eu sou bem capaz de suportar os golpes mais cruéis do destino.
	Ela hesitou em falar.
	-Gosta de flores, senhor?
	-Sim, certamente.
	A menina procurou em seu bolso e tirou um botão de rosa para entregar-lhe nas mãos. A lua saiu detrás da nuvem e com sua luz pôde dar-se conta que era branca… Pura e deliciosamente branca. Levantou o rosto.
	E foi como se lhe tivessem golpeado. Agora podia vê-la bem, a menina não teria mais de cinco anos, mas o desejo precoce o invadiu… Os olhos caramelo observavam curiosos e inquietos e os cabelos castanhos completamente encaracolados se enroscavam e brincavam com o vento. Por ser somente uma menina, era a criatura mais formosa que tinha visto…
	Não acreditava… Simplesmente não podia.
	-Não vai me agradecer?
	-Obri… Obrigado.
	E o sorriso que lhe deu foi suficiente para comprová-lo. Depois de quinhentos anos a tinha encontrado. Sua companheira estava diante de seus olhos. Mas ela saiu correndo antes que pudesse dizer algo mais e ele estava muito assombrado para segui-la.
	Entrou no escritório de Charles, ele estava completamente adormecido sobre sua cadeira. E ao lado dele algo no que jamais tinha reparado. Uma foto de sua família.
	Estava Sarah, Charles… E sua companheira nos braços de ambos; a filha de seu único amigo humano. Sabia que era um grave engano, mas o destino era o destino… E a inocência dela era sua única salvação.
Capítulo I
Nova Iorque, 01 de janeiro.
Treze anos mais tarde…
	-Está bem, carinho?
	Francesca Eve Agnes não se surpreendeu em ver sua melhor amiga colocar-se a seu lado. Olhava-a com compaixão, algo que ela detestava com força… Não suportava a quem a olhava dessa maneira. Com cuidado, levantou-se do pequeno banco perto da tumba de seus pais e lhe devolveu o olhar.
	-Estou perfeitamente bem, um pouco emocionada, mas não o suficiente para me tirar dez anos de vida.
	Kirsten Shower assentiu levemente enquanto lhe dedicava um amplo sorriso carregado de tensão.
	Os pais de Francesca tinham morrido um dia depois do ano novo, justo na madrugada, quando ela dormia na casa de sua amiga. Como morreram? Francesca não estava segura, o que se sabia era que tinham sido assassinados. A cabeça lhe doía, mas mesmo assim conseguiu conter as lágrimas para quando por fim estivesse sozinha.
	-Vim te procurar, já que o advogado quer saber se quer ler o testamento agora ou mais tarde.
	Francesca afogou um gemido de frustração. Mordeu seu lábio inferior e assentiu. Quanto mais rápido acabassem, mais rápido iria para casa. Indo ao encontro do advogado passou diante da tumba de seus pais, mas desviou a vista… Como lhe doía somente olhar!
	-Senhorita Agnes?
	Levantou a vista para encontrar-se com um homem forte, de olhos verdes água amáveis e cabelos castanhos. Um homem muito atraente, mas mesmo assim não era seu tipo.
	-Sim, sou eu.
	-É um prazer, meu nome é Alexander Night; vim lhe dar minhas mais sinceras condolências e as do melhor amigo de seu pai, que devido a problemas de saúde, não pôde vir.
	Ah sim, o senhor Nortton. O melhor amigo de seu pai, o qual ela não conhecia e não tinha vontade de conhecer. Quem deveria ter estado na primeira fila no enterro. Aquele que supostamente tinha ido ao velório a madrugada anterior e que se esqueceu de dar as condolências a ela. Se era tão amigo de seu pai, Francesca não entendia porque não o conhecia e porque não se apresentou.
	“Problemas de saúde? Dane-se o filho da puta.”
	-Muito obrigado, senhor Night – Procurou com o olhar Kirsten, mas não conseguiu localizá-la – Se me desculpar tenho um assunto de suma importância para atender.
	-Oh certamente, senhorita. O senhor Nortton pediu-me que lhe dê uma mensagem. Diz que virá por você ao anoitecer.
	Surpreendida o observou e arqueou uma sobrancelha. Mas negou com a cabeça enquanto se encaminhava e se perdia entre a multidão. Em um passo apressado assentia quando as pessoas diziam o muito que lamentavam a perda. Hipócritas todos, isso era quão único eram… Diziam quanto lamentavam, mas antes que morressem falavam coisas terríveis nas costas de seu pai. Ela sabia. 
	“Que se danem todos vocês”. Fechou os olhos e não se sentiu tranqüila até que tomou o braço de Kirsten que a esperava tranqüilamente ao lado de um homem alto, vestido de negro e com uma maleta na mão.
	-Boa tarde, senhorita Agnes.
	-Senhor Thomas, que bom vê-lo.
	-Antes de tudo, quero que saiba o quanto sinto por seus pais – O estômago lhe revolveu de novo ao ouvir as palavras – E que tal se nos sentamos para falar sobre o testamento?
	Francesca consentiu e passou a sua língua pelo lábio inferior.
	-Seus pais morreram apenas a uma semana de seu aniversário de dezoito anos, pelo qual isso ainda faz de você uma menor de idade. Necessita de um tutor enquanto isso. Logo que tenha completado a maioridade, pode fazer o que quiser com o dinheiro que lhe deixaram seus pais – Ele parou um segundo de falar – O senhor e a senhora Agnes, era sua única família. Tanto seus avós maternos, como os paternos morreram faz já alguns anos. Devido a esta carência de parentes, seu pai pôs no testamento se caso ambos morressem antes que fosse adulta – O Sr. Thomas baixou as lentes e deixou o papel em seu colo – Seu tutor seria o melhor amigo de seu pai, Blasius Nortton.
	Tinham-lhe jogado um balde de água fria? Começou a suar as palmas das mãos.
	-Deve haver algum engano…
	-Não senhorita, essa é a vontade de seu pai.
	-Mas… Mas… - Respirou fundo e logo soltou de repente todo o ar – Mas é que eu não posso ficar com esse homem, você não entende… Não o conheço! Não veio sequer ao enterro de meus pais! Isso é ser um melhor amigo?
	Guardando seus papéis dentro da maleta, o senhor Thomas voltou a olhá-la.
	-O senhor Nortton sofre de uma enfermidade que lhe impede de sair durante o dia. E isso foi o que escreveu seu pai no testamento, eu não posso fazer nada mais, sinto-o – Se levantou, mas antes de ir lhe deu um último olhar – Ele virá procurá-la ao anoitecer.
	Então as palavras de Alexander Night surgiram em sua cabeça.
	“Diz que virá por você ao anoitecer”. Esse homem soube desde o princípio… 
	-O que aconteceu? O que te disse?
	Quando levantou a vista de seu colo, encontrou-se com o par de olhos azuis de Kirsten, que levavam um leve matiz preocupado.
	-Fran? Está bem?
	-Por que pergunta?
	Kirsten passou sua língua pelo lábio inferior e se sentou a seu lado.
	-Porque parece que a qualquer momento vai desmoronar e chorar.
	E em efeito, em poucos segundos sentiu as lágrimas descerem por suas bochechas.
	Ao entardecer Francesca tinha os olhos vermelhos, mas tinha conseguido diminuir a quantidade de lágrimas que rodavam até encontrar seu queixo. Soluçava levemente enquanto sentia o braço direito de Kirsten sobre seus ombros e com os dedos tentava apartar a água salgada de seus olhos.
	As pessoas já tinham abandonado o cemitério fazia um bom tempo, mas ela se negava a ir. Além do que tinha que esperar à chegada de seu tutor. O vento assobiava e começava a ouvir o leve som dos trovões expressando a chegada da tormenta.
	Kirsten se levantou e pegou a sua mão ajudando-lhe a ficar em pé também. As pernas lhe tremiam sob a comprida saia negra de seda que lhe tinha dado sua mãe no ano passado em seu aniversário. Ia de luto… Menos mal, tinha em seu armário suficiente roupas fúnebres para passar todo um ano chorando por seus pais. 	Caminhou lentamente deixando-se arrastar por Kirsten e se refugiaram na pequena cabanado cemitério justo quando começaram a cair às primeiras gotas de chuva.
	Ambas ficaram ali. Por sorte tinha aplacado as lágrimas enquanto tomava com força a mão de sua melhor amiga.
	Uma limusine negra parou diante da cabana e dali um jovem de não mais de vinte e sete anos saiu sustentando uma sombrinha. Francesca observou surpreendida e aturdida o par de olhos azuis que lhe devolviam o olhar… Como se a conhecessem de toda uma vida. Sustentou com mais força a mão de Kirsten e passou a língua por seu lábio inferior ao ver o homem aproximar-se de ambas.
	O relâmpago iluminou a estadia seguida por um ensurdecedor trovão que a fez estremecer-se e tremer a terra a seus pés. O homem se deteve diante de ambas e a observou atentamente.
	Era a pessoa mais intimidante que já tinha conhecido. Viria também lhe dar suas condolências? Analisou a limusine… Talvez fosse o filho de algum amigo de seu pai. Dificultava-lhe a respiração sob o par de olhos celeste.
	-Senhorita Francesca Agnes?
	Ela assentiu levemente e ele lhe estendeu sua mão direita; Francesca a aceitou hesitante.
	-É um prazer conhecê-la – disse com um pouco de mistério em sua voz – Meu nome é Blasius Nortton, seu tutor.
	Justo nesse momento um novo trovão ressonou em seus ouvidos, seguido por um relâmpago que ao iluminar o lugar, deu ao homem uma aparência malvada e demoníaca.
Capítulo II
-Deve estar de brincadeira – Disse ela soltando a mão com rapidez – Você não pode ser Nortton… Ele já deveria ser um homem mais velho, meu pai leva muitos anos conhecendo-o e ele já era um empresário famoso para aqueles anos. 
O jovem arqueou, divertido, uma sobrancelha o que a enervou profundamente.
-Necessita minha identificação para comprová-lo, senhorita Agnes? – Os relâmpagos lhe arrepiavam a pele e a voz sarcástica desse homem não o fazia melhor. 
Kirsten a seu lado tremia, e não podia culpá-la, porque ela mesma tinha vontade de sair correndo e afundar-se em algum lugar longe desta pessoa tão atemorizante, que, além disso, aparecia em uma noite de tormenta. Nortton a observava fixamente como esperando uma reação; ou como um predador a sua presa. Um frio percorreu sua coluna vertebral.
-Não… Acredito em você. 
-Bem – Ele fez gestos ao automóvel e ela assentiu.
-Poderíamos levar a minha amiga a sua casa? – Então se precaveu de que não os tinha apresentado – Seu nome é Kirsten Shower, é minha amiga de infância e companheira de brincadeiras.
-Um prazer, senhorita Shower. 
Kirsten não podia falar, mas mesmo assim assentiu com uma delicadeza e feminilidade muito própria dela. Apesar de tremer analisava altivamente Nortton.
-Por favor, vocês usem a sombrinha. 
Aceitou o objeto e viu o homem adiantar-se. Colocou a sombrinha em uma posição que fosse capaz de cobrir tanto a ela como Kirsten.
-Não tem que ir com ele. Pode ficar na minha casa – Disse Kirsten dissimuladamente enquanto caminhavam a passo lento.
-Meu pai o pôs no testamento… Assim deve saber por que o fez; tampouco deve ser tão mau como aparenta. 
-Mas ele é tão… tão... Tenebroso.
Ela assentiu voltando a observá-lo. Parecia-se com o Batman sem a máscara de morcego. De menina Batman sempre lhe tinha dado medo, com sua capa e sua voz tão misteriosa e escura. E o vilão com forma de palhaço, era quem mais medo lhe dava. Blasius Nortton vestia um traje completamente negro. Estava de luto, pelo menos cumpria com isso. Recordou sua falta no velório e no enterro e seu cenho se enrugou.
Ele as ajudou a entrar e logo se concentrou em introduzir-se na limusine. Francesca não pôde evitar observar o automóvel; luxuosamente os assentos eram de couro e era extremamente espaçoso… Tanto que até uma mini geladeira tinha. Ela nunca tinha tido tais luxos, apesar de que seus pais andavam muito bem economicamente. Mais que bem, eram milionários… Mas não queriam chamar a atenção com automóveis tão ostentosos e a Francesca importava muito pouco os carros para pensar nisso.
Mas apesar de todos seus esforços por afastar às pessoas interesseiras, não puderam evitar morrer. Abaixou os olhos ao sentir o tremor em seu estômago indicando que logo voltaria a chorar. 
-Desejam algo para tomar? Acredito que não tenham comido nem bebido nada.
A voz de Nortton a tirou de seus pensamentos e levantou a vista. Ele já estava ao lado da pequena geladeira e a mantinha aberta. Kirsten observou duvidosa e Francesca mordeu o lábio ao ouvir seu estômago trovejar de fome.
Ele sorriu levemente. Algo bastante surpreendente porque por suas feições parecia alguém que não sorria com muita freqüência. Logo procuro um par de latas de refresco que estavam no interior da geladeira. 
-É o único que tenho que possam ingerir menores de idade.
-Está bem, muito obrigada – Ela aceitou a lata e viu que Kirsten a imitava, justo quando paravam à frente da enorme casa de sua amiga. Surpreendida se sobressaltou. Havia dito em algum momento onde vivia ela? Não estava segura… mas podia jurar que não. 
Kirsten se voltou para abraçá-la com força um momento e se separou.
-Sabe meu número se quiser falar comigo. Irei visitar-te se for necessário, ou pode vir você aqui. Se não tiver nada que fazer pode vir e ficar uma noite... –voltou a abraçá-la e os olhos lhe encheram de lágrimas – Te quero Fran.
-Quer que eu desça com você ou lhe dou uma sombrinha? – perguntou Nortton
-Uma sombrinha irá bem – Disse ela e a aceitou. Desceu e se despediu fazendo gestos com a mão direita. Entrou e a limusine arrancou.
******
Francesca sempre tinha pensado que casas ostentosas iguais às limusines ou os automóveis não eram para ela. Ficou observando estupefata a enorme entrada com a letra “N” de Nortton gravada em letra gótica maiúscula e em ouro. Junto com as grades, em seus barrotes, se enroscavam botões de rosas brancas. 
Rosas brancas. Amava as rosas dessa cor; quando era menina e vivia em Oxford seus pais tinham um labirinto composto por roseiras brancas, ela ia todas as noites recolher rosas, como Deus manda.
Ao entrar se deleitou com o formoso jardim composto por flores e uma fonte com um bonito querubim. Também havia uma entrada a um labirinto muito bem cuidado. Apesar da chuva e a escuridão, o lugar se via muito bonito e agradavelmente convidativo para explorar. 
O automóvel estacionou justo à frente da casa e Nortton praticamente saltou sobre a porta; tirando outra sombrinha – já que tinha cedido uma a Kirsten, algo pelo que ela estava extremamente agradecida - ajudou-a a sair com cuidado da limusine. Suas bonitas botas negras de cano longo se encheram de lodo enquanto caminhavam. E para chegar à porta principal teve que subir aproximadamente vinte degraus.
Sem conseguir resistir dobrou o pescoço para cima e observou o final da enorme mansão. Inclusive maior que a de Kirsten.
As portas estavam corretamente pintadas de branco e se abriram magicamente para dar entrada a ele… E a luz do salão lhe deu totalmente na face deixando-a momentaneamente cega. Entrecerrou os olhos, esperando que se acostumassem à quantidade de luz. Esse era o problema de estar muito tempo às escuras.
Quando seus olhos se acostumaram esteve a ponto de ofegar.
Na escuridão Nortton era a pessoa mais tenebrosa que conhecia, mas na luz… Era uma espécie de anjo do submundo. 
Os olhos eram rasgados e de um azul excitantemente desbotado como um par de jeans. Tinha os cabelos negros, molhados por culpa da chuva que caíam deliciosamente sobre sua testa. Usava um smoking negro, isso já sabia… Mas não se dava conta de que se aderia a suas amplas costas e a sua estreita cintura. Apesar do tecido notava-se os músculos de seus braços e de suas potentes e compridas pernas.
A tez era suave, cremosa. Tinha vontade de roçar seus dedos contra seu pescoço molhado e descobrir se em realidade era igualmente suave como aparentava. Jamais se havia sentido tão erótica como nesse momento. Era virgem, por Deus! Nunca tinhapensado sequer nos homens e de um momento a outro, queria estar nua diante de um amigo de seu pai, sem contar que era seu tutor.
-Suas coisas foram transladadas e seu novo quarto.
Sobressaltou-se quando voltou a olhá-la. Tinha um sorriso zombador, como se soubesse o que ela estava pensando. Estremeceu.
-Obri… Obrigada.
Nortton se voltou para olhar a porta de entrada justo quando um homem de não mais de trinta anos entrava. Outra vez faltou fôlego. Era, além de Nortton e Alexander Night, o homem mais atraente que tinha visto. Tinha os olhos de um tom de verde-oliva e os cabelos negros azeviche, mais compridos que os de Blasius. Seu corpo era grande e forte, igual à Blasius, e os músculos se notavam através de sua camiseta negra e seu jeans descoloridos da mesma cor dos olhos de Blasius. Mas estranhamente não a fazia ter pensamentos sexuais. 
-Este é Gerad Walter, lhe peça o que queira; estará sempre a seus serviços. 
E Francesca quase gritou ao vê-lo fincar-se em um joelho. Estava ajoelhando-se diante dela! Oh, por Deus. O que era? Um escravo? 
-Juro-lhe minha lealdade, senhorita… Farei o que possa para servi-la.
-Mas o que está fazendo?! Levante-se agora mesmo!
Gerad a observou surpreso… mas pelo menos obedeceu e se levantou.
-Você não é um escravo nem nada pelo estilo –continuo –Não pode ir por ai se ajoelhando diante das pessoas; além de ser estranho… Deve ser muito humilhante.
Sentiu o olhar de Blasius e quando voltou a olhá-lo, seu par de olhos azuis a olhavam com admiração. Um sentimento de orgulho a invadiu.
-Você é igual ao seu pai, senhorita Agnes –Disse Nortton –Apesar de sua aparência inocente e feminina, possui uma personalidade muito forte e direta. Admiro isso.
Sentiu as bochechas tingirem-se de rosa, mas mesmo assim assentiu fracamente.
-Obrigada… Alegro-me de que alguém pense que me pareço com meu pai.
Normalmente lhe diziam que era igual a sua mãe. A Francesca não gostava; Sarah Agnes era um tipo de pessoa muito frágil e muito fácil de se ferir com palavras. Além de possuir uma saúde débil compensada por uma beleza incrível. Seu pai amava a sua mãe incondicionalmente e ela fazia o mesmo… E apesar dos anos, esse amor não pareceu diminuir.
De pequena Sarah dizia que tinha herdado a personalidade obstinada e selvagem de seu pai, mas ao mesmo tempo herdou uma inocência pura, difícil de apagar. Uma inocência. Branca. Pura, como as rosas brancas, mas que depois do vivido, lentamente se voltava escura. Respirou fundo e a palma das mãos começaram a suar ao sentir os olhos úmidos. Não queria que a vissem chorar e menos ainda uma pessoa que inclusive não parecia sentir a morte de seus pais. 
-Gerad, por favor, leve a senhorita Agnes a seu quarto.
Voltou a surpreender-se. Levantou o rosto para ver como Blasius Nortton ia pela porta contrária a que se dirigia Gerad. Mas antes se deteve e virou a cabeça levemente.
-Boa noite, pequena Francesca. Espero que possa dormir bem.
E saiu, deixando-a afligida e pensando na estranha sensação de que já não queria seguir chorando.
-Por aqui, senhorita – Seguiu Gerad pelo amplo corredor cujas paredes estavam completamente adornadas por quadros de paisagens e retratos. Chegaram a uma bonita porta branca, bordeada no que parecia ser ouro. De novo! Gerad abriu a porta para ela passar. O coração se encolheu. 
Nem sequer seus pais tinham um quarto tão agradável e formoso. Era grande. Enorme! Quase do tamanho da cozinha e a sala de sua antiga casa com uma cama extra grande forrada com roupa de cama cor de rosa pálido. O encosto era de carvalho. O quarto foi pintado de um tom cor-de-rosa muito similar a lingerie. Havia dois degraus depois da cama que levavam a dois lugares. Em um canto estava uma escrivaninha de madeira com uma cadeira e um abajur e no outro canto uma mesa com um computador extremamente novo e de cor rosada para rematar. E no meio dos dois cantos havia outra porta.
-Se necessitar de algo não duvide em chamar, eu virei ou algum outro servente da casa – Disse Gerad a suas costas e contornou a cama.
-Obrigada.
-Quer que lhe chame em um horário especifico, senhorita?
-Não, estarei bem. Mas muito obrigada de todos os modos.
Assentiu e se foi. O corpo lhe doía, já não sentia fome, somente um repentino sono abrasador. Observou o armário, o qual não tinha notado e o abriu. Era enorme também e dentro estavam todas suas coisas ordenadas corretamente. 
Abriu as gavetas, em uma estava sua roupa íntima, em outra suas camisetas, em outra seus shorts e na última seus pijamas. Tirou um shorts e sua camisa de listas com a qual dormia mais cômoda e se encaminhou para a cama.
Lançou-se sobre ela, se esquecendo inclusive de cobrir o corpo. E dormiu profundamente sob os trovões e as gotas que se escutavam.
Capítulo III 
Blasius se sentou no estreito móvel do salão especialmente feito para suas intimidades. Alexander estava sentado do outro lado e tomava um copo de vinho.
-Não entendo como suporta isso – Exclamou vendo-o sorver outro gole. Alex sorriu.
-Uma habilidade ganha com os anos… Recorda que tenho o dobro em idade – disse ele com uma risada. E tinha muita razão. Alex tinha aproximadamente mil anos desde que despertou como vampiro… Mas Blasius não entendia porque a companheira dele não tinha aparecido enquanto que a sua sim. Não é que Alexander quisesse uma companheira… Justamente o contrário, dizia que preferia a solidão e o exílio.
Um vampiro bastante estranho.
A porta do salão se abriu e Gerad entrou em passo apressado para deixar-se cair na poltrona ao lado de Alexander. Pela expressão de seu rosto, Blasius imaginava que não estava completamente feliz.
-Bom… foi dormir?
Gerad o fulminou com o olhar.
-Me escute atentamente Blas… Se não fosse porque te devo a vida não estaria me fazendo de babá e vigilante para sua companheira, a qual ainda não reclamou. E sobre todas as coisas não posso acreditar que me fez me ajoelhar diante dela como seu servente. Ela ficou histérica.
-Só será momentaneamente até que lhe encontre uma acompanhante.
-E ela não tem amiga? – Perguntou Gerad, arqueando uma sobrancelha.
-Sei que tem. Mas não acredito que possa ir e vir todos os dias – Respondeu enquanto dava um olhar à lua, que se via da janela - Além disso… Que vai fazer em sua casa completamente sozinho?
Gerad enrugou o cenho.
-Talvez dirigir minha companhia, como um empresário normal. A única coisa é que eu tenho uma canção de ninar. 
Ao Blasius veio um pensamento gracioso à cabeça. Os vampiros dominavam o mundo. Eles três levavam dirigindo empresas há anos, e quando chegava o tempo… O dono morria e o passava a seu herdeiro; um pouco estranho, porque se tratava deles mesmos… 
-Mas deveria convidar a amiga da senhorita Agnes para ficar aqui. Sei quem é; seus pais estiveram na última festa que assisti, insistindo em um encontro o tempo todo – Alex moveu a taça em círculos e logo tomou um gole – É uma boa garota, mas virtualmente ia desmaiar quando o mencionassem.
Gerad arqueou uma sobrancelha
 -Eu não sei quem é.
-Melhor assim… Ouça Alex, por certo, o que faz aqui? Não tem casa ou o que? Além de estar tomando meu vinho. 
-Primeiro você não toma vinho, porque tem sabor de terra, igual a todo o resto, e segundo é que não tinha nada melhor que fazer.
Blasius respirou fundo e soltou o ar em um suspiro.
-Vai a merda. 
******
Na manhã seguinte Francesca despertou quando a luz bateu totalmente no rosto. Moveu-se inquieta entre as cobertas e observou a janela ao lado de sua cama, que dava para uma varanda. O sol brilhava muito. 
A noite anterior tinha estado tão cansada que dormiu rapidamente e não despertou em toda a noite. Com cuidado desceu o pé da cama e se estirou. Sentia-se livre, mas a tristeza não tinha mitigado. Caminhou até o armário e decidiu colocar um suéter comprido que chegava às coxas de cor branca e umacalça negra. Observou a hora no relógio da parede. Eram dez da manhã.
Fez um rabo de cavalo no cabelo e abriu com cuidado a porta do fundo do quarto. Era um enorme banheiro… As paredes eram de mármore branco e a cerâmica extremamente fina de cor negra. Tragou saliva.
Aproximou-se do espelho sobre o lavabo e abriu o grifo molhando o rosto. Tinha os olhos vermelhos e um par de enormes sombras negras debaixo deles. Observou que dentro do banheiro havia outra porta.
Curiosa se aproximou com a intenção de abri-la, mas estava fechada com chave. Encolheu os ombros e saiu para seu quarto. Estava deslumbrada pelo lugar. Era como se fosse feito só para ela.
Suspirando saiu ao corredor para encontrando-se cara a cara com Gerad. Quase soltou um grito ante a surpresa e o susto.
-Bom dia, senhorita Francesca. Está pronta para tomar o café da manhã?
Francesca pensou que ele se via certamente zangado.
-Hum… Sim, muito obrigada Gerad.
Ele assentiu e se encaminhou pelo corredor. Francesca o seguiu de perto até que entraram em uma enorme sala de jantar. Essa casa não deixava de surpreendê-la. Incrível. Era uma mesa enorme, com quem sabe quantos lugares que não tinha vontades de contar. E estava repleta de comida.
-Não planeja que eu coma tudo isso.
Gerad sorriu.
-Nortton… Ah… Quer dizer, o senhor Nortton disse que lhe fizesse uma grande quantidade de comida já que ontem você não comeu nada, certo?
Atemorizada pelo montão de pratos diferentes, sentou-se em um extremo da mesa e observou fracamente com que começar. Seu estômago rugiu de fome quando o aroma de ovos mexidos e torradas recém feitas lhe chegou ao nariz. Assim por ali começou.
Incrivelmente comeu mais do que tinha planejado. A grande quantidade tinha diminuído pela metade. Terminou sua comida tomando um grande copo de água e observou Gerad que a olhava com expressão divertida. Deus! Devia ter parecido um terrível monstro faminto. Embaraçada levantou-se da cadeira.
-E o senhor Nortton? 
-Deve estar em seu quarto, senhorita.
Certo, ele não podia sair por culpa do sol. Cerca de quatro moças que usavam vestidos de empregadas domésticas começaram a recolher os pratos. Os vestidos eram extremamente lindos, negros com renda branca e um avental. Quase saídos de um filme ou alguma história de fantasia.
-Quer fazer algo? – perguntou Gerad. Francesca assentiu levemente.
-Poderia percorrer o lugar?... Não… Eu sozinha, por favor – Disse ao ver que o homem esteve a ponto de começar a guiá-la.
Saindo pela porta da sala de jantar teve que se voltar. 
-Ah… Gerad? … Ah... Por onde saio para ir ao jardim?
******
Blasius estava sentado em uma das cadeiras de seu quarto. As cortinas estavam completamente fechadas e a escuridão reinava. Para os vampiros não era necessário dormir, mas de vez em quando o fazia durante o dia. Ele não estava nos dias de tomar um descanso. Tinha ouvido o som dos delicados passos de Francesca junto com o delicioso aroma de pêssego que lhe seguia.
Ela seguia sendo, sem dúvida alguma, a criatura mais formosa que tinha visto em toda sua não-morta vida. Não possuía uma enorme beleza como a de sua mãe; justamente o contrário… Era uma garota muito normal; com simples cabelos castanhos avermelhados, encrespados até os ombros; um par de olhos caramelos e pele pálida. Não possuía muitas curvas, nem tinha um perfeito e belo rosto para admirar. Mas era bonita. 
O que fez dela uma criatura de grande beleza foi à maravilhosa aura de inocência cativante em torno dela enquanto caminhava. A mesma que teve a última vez que a viu há mais de dez anos. Na noite seguinte, por tê-la conhecido, conversou com Charles... E disse-lhe.
O homem esteve a ponto de ter uma parada cardíaca. Ao recordar seu amigo, a tristeza o afundou. Blasius era consciente de que tinha sido um assassinato… Sabia. Mas quem? Por quê? Tinha que averiguá-lo e vingar-se… Tinha certeza que aquela morte esteve programada desde o princípio. 
Levantou-se e abriu levemente a cortina. Coloco um dedo sob a pequena quantidade de luz solar que se filtrava e observou como começava a consumir-se soltando um pequeno pó brilhante.
-Deixa-o já.
Fechou a cortina e se voltou para observar Gerad. Em que momento tinha entrado no quarto? Não estava de todo seguro. Gerad se sentou e descansou sua cabeça na palma de sua mão esquerda.
-Isto é o que me passa ao tocar a luz…
-Ainda não entendo. Supõe-se que ao longo dos anos, os vampiros adquirem experiências e que as trocam por uma habilidade. Alexander já trocou por várias iguais a mim. Ele pode comer e beber, além de ir sob o sol igual a mim… além de que podemos ver nosso reflexo. Por que você ainda não mudou?
Blasius negou com a cabeça. 
-Não sei.
-Não deseja caminhar sob o sol com Francesca? Comer a seu lado? Refletir-se em um espelho com ela?
Uma pontada lhe perfurou o coração. Isso era o que lhe preocupava, não queria trocar sua experiência apesar de Francesca, porque ela ainda não o tinha aceitado. Tinha ouvido seus pensamentos, o muito que a aborrecia por não ter podido assistir ao enterro de Charles e Sarah. Por ter que viver com ele… 
Ler os pensamentos foi uma das habilidades que obteve com os anos.
Francesca inclusive não o aceitava. Tinha tido desejos sexuais, como as demais mulheres que o conhecia – excluindo possivelmente a falecida Sarah, quem vivia para Charles e nada mais – Mas não era suficiente. Francesca tinha que amá-lo; tinha que sentir que não podia viver sem sua presença… Assim que se sentisse dessa maneira a transformaria e a uniria a ele para sempre.
-Onde está ela? Deveria estar cuidando-a.
Gerad deu de ombros enquanto cruzava uma perna de maneira masculina e com seus braços abrangia quase todo o encosto da cadeira.
-Ela não queria companhia. Está muito ocupada explorando o lugar. É muito curiosa. E para que você saiba, apesar de dizer que não queria tanta comida… comeu mais da metade.
-Não tinha comido ontem.
-Sim me disse isso. Agora deve estar vendo as roseiras – Gerad se levantou sorrindo – É uma lástima, porque além de estar muito bonita com o que está vestindo, as rosas brancas devem ficar muito bem ao redor dela. Que pena que não possa vê-la.
E antes que pudesse lhe lançar um dos abajures, Gerad saiu do quarto.
Talvez fosse tempo de trocar experiência por uma nova habilidade… 
Capítulo IV 
Francesca assobiou ao aproximar-se das roseiras. Com um de seus dedos acaricio a suavidade das brancas pétalas, desfrutando da sensação. Arrancou a rosa e rompeu as pétalas uma a uma, lançando-as ao vento; observou-as dançar até que se perderam de vista.
Seguiu caminhando deixando as roseiras atrás e introduzindo-se ao interior do frondoso e cuidado labirinto. Gostava como estava composto, com os arbustos e as rosas enredadas nas grades.
Maravilhada observou de um lugar a outro. Até que uns chiados e uns choramingos chegaram a seus ouvidos. Francesca se dirigiu ao final de onde estava e se encontrou com um cachorrinho poodle negro. Precipitou-se para ele e se ajoelhou a seu lado.
-O que acontece, está perdido?
O cachorrinho se esfregou contra sua mão ao tempo que parava de chorar. Instintivamente ela procurou em seu pescoço sinais de identificação ou colar que significasse que tinha dono. Mas mesmo assim quão único encontrou foram marcas desastrosas de golpes e maus tratos. Esteve a ponto de tornar a chorar, por isso o levantou e o levou consigo.
Ao sair do labirinto saltou ao encontrar-se com Gerad. Tinha-a estado seguindo?
-Hei… Olá.
-O que é “Isso” senhorita Francesca?
Francesca observou o poodle que tinha em seus braços e logo ao rosto de Gerad. O poodle, Gerad. O poodle, Gerad.
-Ouça Gerad… Você está a minhas ordens, não? – Francesca entrecerrou os olhos ao ver a expressão horrorizada do homem.
-Pois… Sim… Sim, senhorita – Respondeu embora um pouco contrariado.
-E tem que obedecer tudo o que te diga não?
Gerad tragou saliva.
-Em efeito.
-Bem – Lhe entregou ocachorrinho e lhe sorriu – pode cuidar dele por mim e logo enviá-lo ao meu quarto? 
Francesca se deleitou ao ver a expressão horrorizada na cara de Gerad quando sustentou o cachorrinho. Tinha medo de cães? Observou bem a expressão dele. Parecia mais nojo.
-Senhorita… Não acredito que o senhor… - Gerad estremeceu quando o cachorrinho passou a língua pequena e rosada pela sua bochecha – Ao senhor, não acredito que… agrade-lhe a idéia de ter um cão.
-Bobagens. Logo vou falar com ele. Por agora se encarregue dele.
-Espere! Senhorita Francesca!
Mas Francesca já estava o suficientemente longe para prestar atenção às palavras dele.
******
Blasius caminhava pelo corredor. Por pouco todos os serventes começavam a gritar, a metade assustados e a outra, preocupados. Não era seu senhor? Ele não tinha uma enfermidade que lhe proibia sair à luz do sol?
Estava preocupado. Mas era somente uma habilidade a que tinha trocado. Não ia trocar sua experiência por mais nada, não até que Francesca fosse completamente dele. Que não pudesse viver sem ele; que o necessitasse em todo momento. Que a mera separação de ambos a fizesse voltar-se louca. 
Apesar de seus desejos mesquinhos, a Blasius não importava… 
Pela primeira vez em quinhentos anos, a luz do sol lhe deu totalmente na face. Observou de dentro através da janela as roseiras à luz do dia. A dor que tinha sentido em seu corpo quando tinha trocado sua experiência pela nova habilidade adquirida, havia valido a pena. Justo no momento em que se separava da janela, encontrou-se com Francesca que ao vê-lo soltou um grito. 
-Mas que susto! Vai-me desculpar Senhor Nortton… Mas você parece um fantasma ou um espectro.
 “Ou a própria morte”. Blasius sorriu ao ouvir o eco dos pensamentos de Francesca. 
-Bom dia para você também, pequena Francesca – sorriu e sentiu satisfação ao ver o repentino tom vermelho nas bochechas da garota. 
-Bom… bom dia – gagueira.
-Já tomou o café da manhã?
-Sim, faz um momento – A observou abrir os olhos surpreendida e como seu cenho começava a franzir-se. “Não tinha uma enfermidade que lhe impedia de sair à luz do sol? Filho da… Assim era mentira?! Como pude me compadecer por um instante se quer”
Os pensamentos de Francesca o açoitaram de novo. Mas esta vez sentiu tristeza em vez de graça. Ela possuía veneno no que se referia a ele. Já não podia ouvir os desejos internos de seu corpo; a excitação, a luxúria e o desejo tinham desaparecido sendo suplantados por um ódio enorme e difícil de ignorar.
“Tranqüila, Fran… Tranqüila; respira fundo, conta até dez… Não tem porque se importar; possivelmente estava ocupado ou possivelmente acaba de se curar milagrosamente. Deve ter uma boa razão para ter faltado ao enterro de seus pais” Esse pensamento lhe surpreendeu. Observo-a durante uma fração de segundo; ela tentava controlar o repentino enguiço em sua respiração; mordia seu lábio inferior e seus punhos estavam apertados a ambos os lados de seu corpo. 
“Oh Deus… Ainda tenho que lhe dizer do… Ai Senhor, como o faço?” Arqueou uma sobrancelha. Dizer-lhe o que...? 
-Quer dar um passeio comigo pelo jardim, pequena Francesca?
Levantou a vista e observou. Lúgubre… Mas formoso. Sem dúvida alguma o homem mais formoso que tivesse visto em sua vida. Apesar de ir vestido de luto. Assentiu levemente e se sobressaltou ao ver que lhe estendia seu braço direito. Mordendo seu lábio inferior, colocou delicadamente a mão em seu bíceps.
Fortes e duros. O rosto lhe ardia, devia estar mais vermelha que um tomate amadurecido. Mas a fúria se dispersou sendo substituída pela forte quebra de onda de desejo. E o estava tocando. Que não lhe caísse baba, pois isso seria muito vergonhoso. Pensa em outra coisa; pensa em outra coisa!
Sim, a “coisa” que tinha encontrado. Que nome lhe poria? Era mais negro que a noite… Brownie! Tudo bem, não é? Até que era imaginativo… Brownie como o delicioso chocolate do bolo; como a escura noite; como o liso e sensual cabelo negro de Blasius… Oh basta! Por que todos seus pensamentos não faziam sentido? Não entendia…
Observou de soslaio Blasius e por pouco não saltou ao ver que lhe devolvia o olhar.
-Quer me dizer algo, pequena Francesca?
E outra vez com o “Pequena, Francesca”. Não planejava lhe dizer que não a chamasse assim, mas em excesso poderia chegar a ser doentio. Ela percebeu o sorriso que aparecida no canto da boca. Estava sorrindo? Era como se lhe lesse a mente.
-O que lhe faz pensar isso, Senhor Nortton?
-Blasius – disse repentinamente. 
-Ah?
-Que pode me chamar por meu nome. Dou permissão para faze-lo – Blasius a guiava à roseira que tinha visitado mais cedo, antes de encontrar Brownie no labirinto.
-Bom… Então você pode me chamar Francesca – Ao ver o sorriso no rosto dele recordou a si mesma que ele já a tutelava virtualmente desde que a conheceu. Idiota – Oh… Oh também pode cortá-lo como fazem meus amigos; chamam-me Fran e isso…
-Me alegro que me considere dentro de seu grupo de amigos – Assegurou Blasius. Agora ela não só era idiota; se não for um idiota estúpida ao quadrado é igual a uma mentecapta. Toda uma equação de insultos.
-Eh, sim bom… Sabe Senhor Nort… Blasius – Virtualmente retrocedeu para afastar-se dele. Descaradamente, Blasius Nortton parecia estar prestes a saltar através de um prado… Como se tivesse ganhado na loteria; e tudo porque lhe chamou por seu nome – Esta… Esta manhã… encontrei “algo”…
-Ah sim? E o que poderia ser?
-Bom… Algo peludo e muito bonito.
-Ahá… 
-Negro e com um par de olhos, uma cauda extremamente pequena – disse ela com um sorriso amigável. Nos olhos de Nortton havia um brilho de irritação… Oh-Oh.
-O que é, Frannie? 
Frannie? Tinha-lhe chamado Frannie? Piscou surpreendida. Mas se sentiu feliz, ninguém a tinha chamado dessa maneira desde que completou oito anos. Nem sequer sua mãe. Sorriu-lhe feliz e agradecida. Mas ao recordar do que falava, seu sorriso se apagou.
-Um… Um cão… -Soltou o braço de Nortton ao sentir seus músculos esticar-se -Posso ficar, por favor? Juro que não o incomodará… Eu vou lhe comprar comida e alimentá-lo, banhá-lo e me encarregar dele. Não posso soltá-lo na rua, está ferido gravemente.
-Tudo bem...
-Mas por quê? Prometo cuidar… O que?
-Eu disse que tudo bem – Blasius sorriu e um tremor se propagou desde seu ventre alcançando cada centímetro de seu corpo. Outra vez sentiu a face lhe arder – Te darei tudo; cada uma das coisas que peçam essa sexy boquinha – Com o dedo polegar lhe acariciou o lábio inferior e o coração de Francesca pulsava a mil por hora. A respiração se fez irregular – Se me disser que me ajoelhe ante você, farei com gosto; se você me pedir um beijo vou perguntar aonde o quer; se quiser o diamante mais caro do mundo, comprarei para você; se deseja a lua irei eu mesmo até ela, darei tudo o que me peça… Tudo sem exceções.
Uma corrente de excitação a atravessou como uma lança. Como deveria interpretar as palavras dele? Desejava que a beijasse com tal paixão que suas pernas fraquejassem. 
Se lhe dizia que queria fazer amor com ele ali mesmo no jardim aceitaria? Observou o rosto de Blasius. Seus olhos estalavam de desejo, o mesmo desejo que ela sentia.
Sentia-se estranha, tão estranha que suas pernas se moveram sozinha e saiu correndo para a entrada da casa. Nunca em sua vida se havia sentido tão desejada e necessitada como nesse momento. Correção, nunca em sua vida havia se sentido desejada e necessitada… adorava essa sensação. Mas também a assustava mais que nada. 
Capítulo V
Respirou fundo assim que levantou o telefone. Kirsten se ouvia alterada do outro lado da linha… Não tinha saído de seu quarto durante o resto do dia, inclusive Gerad se encarregou de mandar uma criada para subir o almoço e o lanche e por certo ambas as comidas estiveram deliciosas.
-Por que não me atendeu antes? Estava preocupada – Francesca levantou o exemplar de “Um sonho de amante” da Sherrilyn Kenyon. Observou a capa e acaricioua primeira página. 
-Estava lendo e me esqueci de carregar a bateria do meu celular. Assim não se zangue.
-Lendo! Essa série de vampiros? Sabia que não devia ter dado de presente à série dos Dark Hunters completa!! Não a solta.
E em efeito, para ser sincera… A estava relendo. Francesca rodou pela cama uma e outra vez e suspirou. 
-Se acalme e vive sua vida… Que tal vai tudo?
-Isso eu tenho que perguntar a você.Como vai com o senhor lúgubre? – sobressaltou-se ao recordar o encontro da manhã e por pouco salta da cama. Tocou seus cabelos e franziu o cenho - Fran…? Está ali? 
-Sim, sim… Desculpe Kirsten… Tenho a mente em outra parte – Ou em outra pessoa. Suspirou e se levantou da cama. O poodle negro estava acomodado a um lado enquanto dormia. Apesar de suas queixas, Gerad fez um excelente trabalho ao curá-lo e havia lhe trazido uma tigela de comida para cães. Caminhou até o armário e abriu a segunda porta; tinha passado um bom momento ordenando todos os livros em uma prateleira que se encontrava ali, dedico-se a classificá-los por autores e nomes…
-Humm… Vai a escola amanhã? – Ouviu a voz de Kirsten no telefone e suspirou resignada. Para falar a verdade não tinha muita vontade de ir ao colégio e enfrentar o último ano do segundo grau. Não queria ver a cara de seus professores nem o rosto da diretora lhe dando suas condolências e lhe oferecendo sua ajuda para algo. Não queria ver Mike, Steven, Mariah nem Anne… Queria ficar na mansão de Blasius Nortton, para sempre.
-Sim… Irei.
-Bem… Que tal vai tudo?
-Muito bem – se ajoelhou e acariciou a cabeça do poodle negro – Encontrei um cachorrinho e o senhor Nortton deixou que ficasse.
-Sério? E eu que pensava que era um velho prematuro e sem coração.
Francesca sorriu ironicamente. Recordou o par de olhos pertencentes a Blasius e o desejo expresso neles. Todas as partes de seu corpo tremeram e não pôde evitar suspirar. 
-É uma boa pessoa…
-OH sim… Não duvido que não o seja, pelo menos já não; somente que é tenebroso, lúgubre e escuro… Dá medo – Ouviu o falso estremecimento na voz de Kirsten.
Pois não lhe dava medo… Já não pelo menos; sentia de tudo menos medo. As palavras dele encheram-lhe a mente e mordeu o lábio ao rememorar seus dedos vagando e acariciando seu lábio inferior. Sentia-se estranhamente quente e úmida entre suas pernas.
-Ah… Bom… Logo falamos Kirs… - Desligou rapidamente porque se não ia acabar gemendo. 
******
-Aceitou um cão! Um cão!
Blasius suspirou de sua cadeira, apoiando a cabeça na mão esquerda e observando Gerad caminhar de um lado a outro. Alexander estava muito tranqüilo tomando sua xícara de chá. Será que não tinham algo melhor que fazer que irromper em sua casa? Não tinham trabalho? Uma amante? Algo?... 
-É minha casa e faço o que quero nela.
-Mas um cão! Os vampiros não gostam dos cães! Recorda? Faz mil anos o usavam para nos rastrear; caçavam vampiros… Desde então é um reflexo mental… Nós não gostamos de cães.
-A Francesca gosta do Brownie…
Alexander cuspiu o chá que estava tomando e começou a tossir.
-Brownie?
Blasius assentiu.
-Assim se chama. – Gerad bufou e saiu da habitação. Alexander se removeu em seu assento e sorriu - O que?
-Tem boa cara… aconteceu algo?
Blasius suspirou e desviou o olhar. Inconscientemente observou as pontas dos seus dedos recordando a suave textura dos lábios de Francesca e de seu quente fôlego golpeando sobre eles.
-Nada em especial… É somente que… - Sorriu e observou Alexander que voltava a ter a xícara de chá entre suas mãos – Não posso esperar mais tempo para tê-la.
Alex soltou uma gargalhada e tomou outro gole do chá.
-Está tão desesperado que até lhe dá de presente um cão?
-Não podia lhe dizer não; quando me olhou com esse par de grandes olhos caramelo quero lhe dar de presente até mesmo a lua – Blasius se levantou e se dirigiu à janela. 
Correu a cortina deixando que a luz da lua cheia entrasse e iluminasse a estadia.
A lua fortalecia o corpo dos vampiros, quando não tinham dormido no dia anterior. E mais que nunca Blasius necessitava da lua; tinha perdido quantidades indubitáveis de energia ao intercambiar parte de sua experiência pela habilidade de sair sob a luz do sol. A dor que havia sentido – como se lhe estivessem enterrando milhares de laminas no corpo - deixou um trauma em seu corpo. Mas havia valido a pena com certeza.
Ver Francesca rodeada pela luz solar e as roseiras brancas a seu redor foi uma visão maravilhosa. Desde que tinha descoberto que sua companheira era a filha de Charles, encarregou-se de que nenhum menino ou homem se aproximasse dela… Todos aqueles que pareciam ter algum interesse nela eram despachados.
Quando Francesca cumpriu os dez anos, Blasius confessou tudo a Charles e Sarah… Charles viu com bons olhos e Sarah inclusive pareceu feliz. Por quê? Até recordava as palavras exatas que Charles lhe havia dito: “É a pessoa mais adequada para cuidar dela… Reservo-me a cuidar zelosamente, escolherei seus amigos e manterei sua inocência até que a reclames… Mas até então, não a veja. Por favor”. E assim tinha feito.
Durante anos e anos, Blasius a observava crescer das sombras. Rodeada de inocência e sendo protegida por seus pais. Com amigas especialmente selecionadas e sem nenhum homem a seu redor. E quando cumpriu os quinze, teve seu primeiro amigo barão… O ciúmes o carcomia, mas ele também tinha sido eleito para lhe fazer companhia… E assim os amigos seguiram aumentando.
Enviava presentes todos os anos, brinquedos, flores e chocolates. Em datas especiais, como São Valentín, natal e o aniversário de Frannie; todos assinados como da parte do príncipe para a princesa.
E isso era o que ele era. Um príncipe da noite; um senhor da escuridão… Embora pudesse sair à luz do sol, sua existência ainda seguiria sendo escura e uma verdadeira ameaça para os humanos. Com seu dedo direito começou a golpear o vidro da janela.
-É incrível. Não quero me tornar um zumbi e começar a babar por uma mulher – Alexander o observou entreabrindo os olhos e suspirou com pesar – Rogo para que a suposta companheira a mim destinada não apareça jamais.
Blasius retornou ao acento confortável e deixou seu corpo cair pesadamente.
-Isso diz… Mas quando ela aparecer não poderá pensar em nada mais que não seja em possuí-la, fazê-la sua e conectá-la a você.
-É diferente – Alex deixou a xícara de chá que estava tomando sobre a mesa e apoio suas mãos nos joelhos – Você queria que sua companheira aparecesse, porém eu não quero… Possivelmente minha negatividade possa contra as forças da natureza.
-Segue sonhando, Ale… Segue sonhando…
*********
Francesca abriu a porta do seu quarto com estremo cuidado. Colocou a cabeça por uma pequena abertura que tinha feito e assentiu ao ver que o corredor estava completamente vazio. Voltou e pegou Brownie em seus braços; saiu às pressas descendo as escadas até chegar a enorme porta traseira que levava ao labirinto.
Ela não tinha se preocupado em colocar outra roupa e decidiu que algo ligeiro era a melhor opção para sair às escondidas para explorar mais. Levava seu bonito pijama comprido e camiseta de suspensórios, de cor azul céu com marrom. Por sorte Brownie não fazia nenhuma tentativa de escapar de seus braços nem de começar a chorar, mas bem lambia-lhe o braço e esfregava sua pequena e peluda cabeça negra contra seu pulso.
Quando conseguiram sair da casa, Francesca o abaixou e observou como o poodle ia até algum lugar não muito longe dela e levantava a pata para descarregar o líquido que tinha ingerido. Ela desviou a vista pois ninguém gostava de ver outros fazendo suas necessidades.
Era aproximadamente uma da manhã. Francesca não tinha jantado devido às náuseas que tinha sentido desde a hora do lanche. Não tinha saído de seu quarto em nenhum momento… Não tinha muita vontade de se encontrar cara a cara com Nortton e levar um choque; não queria suar diante dele nem sentir queimando seu rosto por causa de seus pensamentos.
Jamaisem sua vida se sentiu atraída por nenhum homem e de um momento para outro chega ele e a faz ter todo tipo de pensamentos amorosos e sexuais… Se ruborizou ao recordar sua atitude do dia anterior quando chegou à mansão.
Mas é que à luz, Blasius Nortton era formoso… Como um anjo. E sob a escuridão parecia um demônio. Brownie esfregou sua cabeça contra sua calça de dormir e Francesca ficou de cócoras para lhe arranhar a cabeça.
-É muito perigoso estar aqui fora.
De susto estava segura de que esteve a ponto de vomitar. Levantou-se de repente e deu a volta. Blasius Nortton lhe devolvia o olhar.
-Bu… boa noite, senhor Nortton.
-Blasius.
Francesca assentiu e levantou Brownie que se removia inquieto ante a presença dele. Inclusive começou a grunhir.
-Bom… Eu ia dormir de todas as formas – Observou o cão – Somente saí um instante, para que Brownie fizesse suas necessidades.
Blasius moveu a cabeça em sinal de que a escutava.
-E, pois… Então, até manhã.
Esteve a ponto de passar ao seu lado. A ponto de escapar, mas ele lhe agarrou o braço e lhe dedicou um sorriso.
-Espera – Francesca estremeceu ante a textura dos calosos dedos masculinos -Por que não me faz companhia durante um momento, Frannie?
Capítulo VI
Brownie se movia incomodo entre seus braços, mas mesmo assim Francesca não queria soltá-lo, era como um escudo entre ela e Blasius. Um pouco coibida se sentou no banco ao lado dele. Queria falar com ela sobre algo? Não tinha intenção de mencionar o ocorrido desta manhã…
Francesca observou todos os pontos do jardim… De noite iluminado pela lua era a coisa mais fantástica e maravilhosa que tivesse visto. Como tirado de um conto de fadas. As sebes e as folhas que se enredavam nos muros do labirinto, pareciam de prata… As rosas se viam mais coloridas e diferentes sob a lua cheia.
-Você gosta das rosas? – Perguntou Blasius. Francesca voltou-se sobressaltada, mas conseguiu assentir a tempo - Que cor?
Francesca voltou o olhar para as trepadeiras no jardim e sorriu.
-As brancas.
Blasius assentiu com cumplicidade.
-Sim… Eu gostava das vermelhas a princípio; mas o branco é sem dúvida alguma uma cor sensual e cativante.
Ela deixou escapar Brownie de seus braços e voltou para olhá-lo. O par de escuros e diferentes olhos de Blasius brilhavam sob a lua cheia ao contemplar as brancas pétalas das rosas inocentes. Francesca sentiu uma descarga elétrica em todo o corpo.
Blasius era sem dúvida alguma o deus dos mortos, a luxúria e a maldade. Era formoso, tentador; ao mesmo tempo aterrorizante e arrepiante… Um deus maligno, sem dúvida alguma. Devolveu-lhe o olhar com um sensual sorriso e se levantou dos bancos para dirigir-se às roseiras localizadas em um canto do labirinto.
Cortou com delicadeza uma rosa… Francesca se surpreendeu ao ver que não enterrou nenhum espinho; mas a sobressaltou vê-lo aproximar-se dela e lhe estender a rosa branca como uma espécie de príncipe… Um príncipe da noite.
Os olhos de Blasius a olhavam, a lua a suas costas o fazia obscurecer e que vagassem um montão de sombras a seu redor. Frannie levantou sua mão e aceitou com cuidado a rosa… Cativada pelo aroma que a envolvia e maravilhosamente aberta que estava… Era o mais formoso dos botões.
-Obrigada, Blasius.
Ele sorriu agradado e logo assinalou a porta da casa.
-É hora de entrar, deve estar cansada.
Francesca assentiu fracamente com a cabeça e logo se levantou com a ajuda dele. Brownie, ao ver que começaram a caminhar seguiu-a através do atalho do labirinto que levava diretamente à porta traseira da casa, ela tinha explorado o suficiente para sabê-lo.
Acreditava que ele a acompanharia até a entrada, mas em troca a seguiu até seu quarto. Dando a volta ligeiramente antes de abrir a porta, sorriu-lhe levemente em forma de agradecimento.
-Até manhã, senhor Blasius.
Mas antes que pudesse abrir a porta; antes que sequer desse indício de mover-se… Blasius se inclinou levemente para ela e roçou seus lábios meigamente sobre sua testa. Logo depois de um par de segundos, separou-se e se despediu com a mão… Deixando-a surpreendida, aturdida e morta de calor.
******
-É… Realmente interessante senhor Huperson.
-Oh, verdade que sim, verdade que sim? –O senhor Huperson, um homem gordo, jovem e filho e herdeiro de uma enorme companhia… Estava virtualmente sobre ela, respirando sobre seus seios e com olhar lascivo.
Kirsten Shower procurou com o olhar um ponto de saída e divisou do outro lado o lugar dos seus pais. Com um sorriso – completamente falso – de desculpas, fez-se a um lado e assinalou à outro canto.
-Ah… Eu tenho a impressão que meus pais me buscam.
-Foi um prazer falar com você, senhorita Shower… Espero que me permita ter novamente sua companhia. 
“Em seus mais desagradáveis sonhos, Huperson. Irei te buscar disfarçada de morte”. Kirsten começou a se inclinar para trás com um sorriso falso.
-Será um prazer – Disse em um sussurro, que esperava não fosse ouvido pelo pervertido que tinha à frente.
-Que tal se a busco em um momento?
“Nem Louca!”
-Certamente…
”Muito bem, Kirsten. Agora corre.”
Bem, conseguiu monopolizar alguma conversação com seus pais durante exatamente uns dois minutos. Logo se encontrou com um par de jovens que também decidiram não ser apanhadas; por sorte umas das garotas da corte desse ano vira sua cara de martírio e decidiram que seria boa idéia tirá-la dali usando como desculpa uma pequena visita ao banheiro.
A qual durou meia hora.
Kirsten não desejava voltar a sair e encontrar-se com a cara dos cavalheiros lascivos; nem dos que exigiam sua conversação, pensando em um agradável matrimônio arrumado, onde pudessem herdar a companhia de seus pais.
Sua vida era simplesmente uma temível miséria. E ninguém a entendia? Bom… Por sorte alguém o fazia. Pensou em Francesca e em seu atual estado e suspirou. Por sorte, Kirsten tinha conseguido convencer seus pais de que a deixassem levar luto pela recente morte dos familiares mais próximos de sua amiga.
Compungida, observou sua figura no espelho. Os cabelos castanhos, ordenados perfeitamente em uma cauda alta e alguns cachos rebeldes caíam sobre sua testa e orelhas; o par de olhos azuis lhe devolvia o olhar. Levava um vestido de noite negro, o qual se aderia a suas curvas e dos quadris até a metade da coxa, caía em pequenas ondas. Levava uma pulseira de cristal em sua mão direita e um par de brincos combinando.
Tinha optado por deixar de lado a maquiagem, levando um simples brilho em seus lábios. Kirsten sabia que não era muito atraente, e que somente chamava a atenção de caça fortunas e homens desesperados… Por isso seus pais decidiram que a melhor opção para o matrimônio seria por um marido escolhido por eles; Kirsten também sabia que as opções que lhe davam não eram precisamente o suficientemente eletivas.
Sempre eram ou muito velhos ou muito jovens; muito baixos ou muito altos; muito gordos ou com muito pouca massa corporal… Todos os ricos eram terríveis…
Mas Kirsten se fixou em alguém, sempre o observava do canto mais escuro do salão; jamais o tinha conhecido em pessoa, mas era o tipo de homem com toneladas de mulheres formosas a seu redor. Alexander Night. Sua fantasia erótica, em todos os sentidos. Desde que tinha dado a primeira olhada, não deixou de pensar nele nem de sonhar com ele.
Só pensar em Alexander fazia que seu corpo tremesse com sensações estranhas e indescritíveis. Mas, Alexander jamais se fixaria em alguém como ela… Isso era mais que certo.
Desejava poder ser mais atraente, com mais seios… Ou saber o que gostava ao Alexander nas mulheres… Normalmente, eram muito ostentosas, extravagantes, com vestidos que deixavam voar a mente de mais de um homem em todo o salão. Arrumou as sandálias de saltos médios e deu uma última olhada no reflexo do espelho. Agradada com sua aparência, Kirsten saiu pelo corredor.
Se ocultou depois de um vaso de flores e se deu conta – terrivelmente – de que o jovem grotesco com o qual tinhafalado faz um momento, estava procurando-a com o olhar. Com um suspiro de resignação, procurou a seu redor alguma porta ou algo… Se fixou em uma de madeira de carvalho e correu para ela, o mais rápido que lhe permitiram os saltos.
Muito bem… Ouviu passos ao fechar a porta; a habitação estava virtualmente vazia… Não havia nada com o se que ocultar. Observou a janela a um lado e a árvore que havia justo a frente.
Excelente.
Abriu a janela o mais lentamente possível e suspirou… Precisava sair dali urgentemente. Quando a abriu por completo e com cuidado subiu na borda. Seu salto de altura média escorregava pelo qual colocou uma mão de apoio na borda da janela.
“Muito bem, Kirs… Espero que não morra aqui”. Pensou e então saltou.
******
Alexander Night desceu com cuidado do automóvel que o levava discretamente à festa que se celebrava na casa de um desses empresários. Tomou a jaqueta em seu braço esquerdo e explicou ao chofer que estacionasse o carro na parte traseira se por acaso lhe tocava sair voando dali ante as propostas dos pais oportunistas, para um encontro matrimonial.
Encaminhou-se pelo atalho quando ouviu o som das folhas e alguns ramos caíram a seus pés.
Levantou a vista e observou como uma das senhoritas da corte – ou isso acreditava- pendurava de um dos ramos. Piscou ante a vista da roupa íntima de seda, debaixo de seu folgado vestido negro.
-Hey! Senhorita! Acredito que necessita ajuda? – Gritou. Não era muito boa idéia deixá-la ali pendurada, apesar de que tivesse sido seu primeiro instinto, o cavalheirismo pôde mais.
-Não! Vá embora e me deixe em paz!
Alexander hesitou.
-Venha, solte-se, prometo lhe apanhar.
-Te disse que não. Vá. - Disse a voz juvenil. Por seu tom não devia ter mais que dezoito anos.
-Não acredito que seja boa idéia.
A senhorita da árvore começou a bater as pernas em busca de uma ajuda para subir por completo. Vendo que era completamente inútil, desistiu.
-Ei… Promete me agarrar?
-Com certeza…
E ela se soltou do ramo e correndo Alexander conseguiu tomá-la em seus braços. Um choque elétrico percorreu sua pele e observá-la foi suficiente para compreendeu o porque. Um par bonito de olhos azuis lhe devolvia o olhar surpreendido e um pouco aturdido devido à queda.
Tinha aparecido.
Sem saber o que fazer a soltou e ela caiu de traseiro contra o chão soltando um chiado.
-Hey, não é essa a maneira de tratar uma jovem.
Mas não a escutou… Fugiu como se ela fosse o diabo… E não era assim? Tratava-se de sua companheira…
Capítulo VII
Blasius arqueou uma sobrancelha ao ver Alexander sentado do outro lado da sala com uma mão sustentando sua cabeça e a outra batendo na mesa com os dedos. Não estava tomando uma xícara de chá nem lendo uma revista como normalmente fazia os dias que o visitava.
-Passa algo? –Perguntou baixando os arquivos que sustentava.
Alexander soltou um sonoro suspiro e deixou de mover os dedos. Seu olhar estava perdido no nada, como se sua mente estivesse em algum lugar muito longe.
-Não entendo… Eu não queria que acontecesse, mas ocorreu…
-Que, Alex? – Blasius observou como Alexander se removia incomodo no assento. 
-Ela apareceu…
Ela? Blasius soltou uma gargalhada…
-Com ela refere-se a sua companheira?
Alex grunhiu e assentiu levemente. 
-Não sei quem é. Caiu de uma árvore, apanhei-a e logo a lancei ao chão – Blasius soltou outra gargalhada mais sonora - Quem não o faria? Encontrei-me cara a cara com o diabo.
Blasius aguçou a vista e parou de rir. Sua habilidade de ler mentes permitia-lhe o acesso absoluto à memória de Alex.
-Diz isso, mas está lutando contra seu instinto de ir por ela.
Alex desviou o olhar para a janela.
-Não irei arrastar-me a seus pés. O instinto é algo contra o que se pode lutar – Alex apoiou as mãos nos joelhos e se levantou agilmente da cadeira frente a mesa – Por favor, espero que respeite a intimidade da minha mente de agora em diante.
-Em relação a mente, não se preocupe. Mas… Alex… -Blasius sorriu cansativamente – Realmente acredita que pode ir contra seu instinto? 
******
Francesca se levantou a meia noite suando e soluçando. Tinha sonhado com a morte de seus pais; O quarto cheio de sangue e os corpos esquartejados e despedaçados. A respiração lhe trancou. Deus meu! Onde tinha deixado sua bombinha?
Levantou-se com brutalidade atirando as mantas ao chão e deixando cair algumas almofadas de sua luxuosa cama. Tossiu um par de vezes ao sentir seu peito trancado. Francesca tinha vivido sempre com ataques de asma, mas já levava algum tempo sem que se apoderassem dela, assim optou por livrar-se da bombinha.
Mexeu entre todas suas coisas e inclusive atirou as gavetas tentando encontrá-la. Não podia respirar!
Saiu correndo do quarto. O corredor estava vazio já que os empregados não trabalhavam até tão tarde da noite… Mas Francesca não sabia o que fazer… Não tinha nem idéia de como reagir à falta de respiração que lhe tinha invadido. Sempre quando o peito lhe trancava era acompanhado por uma nuvem que cobria sua mente e a cabeça que parecia que iria explodir de um momento a outro.
Colocou uma mão na testa como se assim conseguisse acalmar a dor e outra no peito começando a respirar com profundidade e calma enquanto caminhava pelo corredor. As lágrimas surgiram em seus olhos e começou a rezar, pedindo ajuda mentalmente.
Como por arte de magia, Blasius Nortton saiu de trás da porta de carvalho que estava ao final do corredor, vestido somente com um roupão de dormir e correu para ela apressado.
-Francesca? Francesca? O que acontece? Me diga, por favor…
Ela tossiu, completamente assustada e pôs a mão em seu braço.
-Não posso… Não posso respirar… - As lágrimas por fim desfilaram uma a uma por suas bochechas alcançando o ponto em seu queixo e gotejando até tocar o chão – Deixei a bombinha… Não posso respirar.
Blasius resmungou algo e a levantou nos braços levando-a para o quarto dele e depositando-a na cama. Francesca respirou calma e profundamente tentando não soluçar porque sabia perfeitamente que se o fizesse a situação seria pior.
Blasius gritou o nome de Gerad e de alguns outros empregados. Escutariam? Sua resposta chegou quando Gerad, de pijama, entrou pela porta em poucos segundos, no mesmo momento em que duas empregadas também entraram.
-O que aconteceu? –Perguntou Gerad completamente alarmado.
-Busca o inalador e as soluções dentro do armário do quarto de convidados. Rápido! Vocês vão à cozinha e preparem um chá quente com as ervas que há na dispensa.
De um em um todos desapareceram. Francesca tossiu e sustentou com força a mão de Blasius.
-Está tudo bem, Frannie – Acariciou-lhe os cabelos e lhe falava em um tom carinhoso para lhe dar um pouco de força. Ela se deu conta de que estava funcionando – Tudo sairá bem. Somente respira pausadamente e de maneira profunda… Não se alarme se doer enquanto o faz.
Em efeito sentiu uma horrorosa pressão na parte do coração, como se o estivessem apertando com força para despedaçá-lo. Mas mesmo assim seguiu as instruções de Blasius com calma e paz. Um par de minutos depois entrou Gerad com um aparelho conectado a um tubo e uma máscara de oxigênio, junto com uns frascos em sua mão livre.
Blasius pôs o aparelho ao lado da cama e abriu uma espécie de mangueira conectada à máscara. Abriu os frascos e começou a colocar várias gotas de diferentes líquidos. Logo lhe pôs a máscara ajustada sobre o nariz e a boca e ligou o aparelho depois de Gerad o conectar na tomada ao lado da cabeceira.
-Respira profundamente de acordo? – Francesca assentiu ante as palavras de Blasius e sem soltar sua mão, seguiu a recomendação ao pé da letra.
******
-Está melhor, senhorita?
Francesca levantou a vista e assentiu à garota que lhe estendia uma xícara de chá quente. Tomou a xícara e logo a levou a boca para poder tomar um gole. Blasius Nortton esteve com ela até que acabou a inalação e ela pôde respirar tranqüilamente. 
Nãotinha soltado sua mão em nenhum momento e agora Francesca estava descansando na cama dele em companhia de várias das empregadas. Que vergonha. Agora que podia pensar com claridade se dava conta de que tinha feito algo estúpido. Que tipo de asmático não leva sempre em seu bolso uma bombinha? 
Era ridículo… Simplesmente ridículo.
E ainda por cima saiu correndo de seu quarto como uma idiota. Algo que obviamente não deveria ter feito… As corridas só pioraram sua dificuldade respiratória.
Suspirou pesadamente. Blasius tinha ido levar o aparelho de novo a seu lugar e Gerad foi com ele. Não era como se desejasse companhia, porque nesse momento precisava estar sozinha ao recordar como sua mãe e seu pai tinham estado com ela nesses momentos. Sua mãe acariciava suas costas e seu pai sustentava sua mão.
Era dolorosamente cruel que já não pudesse viver esse tipo de momentos e que uma mínima ação o recordasse.
As empregadas saíram do quarto e Francesca cobriu a face com o cobertor ao deixar a xícara de chá sobre o criado.
-Está se sentindo melhor?
Sobressaltou-se ao ouvir a profunda e masculina voz pertencente a Blasius e de um golpe tirou o cobertor. Sentou-se na cama e o olhou. Estava encostado no marco da porta enquanto a observava fixamente.
-Sim, obrigada por tudo e espero que desculpe o incomodo que estive causando Senhor Nortton. 
-Blasius.
Francesca suspirou.
-Blasius – Disse assentindo fracamente e sorrindo um pouco coibida sob seu olhar de cor azul eletrizante. Qualquer um diria que esse tipo de cor nos olhos era para gente boa e amável; mas havia algo estranho nos olhos dele que o faziam parecer assustador.
-Não havia-me dito seus pais que fosse asmática.
Francesca deu de ombros.
-Não era algo do que se preocupar. Faz anos que não me dão ataques respiratórios; por isso pensei que podia viver sem a bombinha sobre mim. Mas agora olhe o que aconteceu com meu absurdo pensamento – Francesca sorriu ironicamente enquanto apertava o cobertor sobre seu colo – Jamais pensei que esta enfermidade me causasse tantos inconvenientes. Somente terá que me suportar durante uma semana sendo meu tutor; prometo-lhe que irei assim que se cumpra o prazo.
Blasius sorriu.
-Não tem que preocupar-se por isso, Frannie – Ele se sentou em uma cadeira ao lado da cama e apoio seus cotovelos sobre as coxas – Quero que saiba que esta é sua casa agora; sinta-se livre para viver aqui o quanto queira. Pode ficar até que acabe a escola, se gostar… Evidentemente, se não me suporta posso te conseguir um apartamento onde possa viver…
-Não! – Francesca se alarmou – Não quero que você pense que lhe tenho medo… Justamente o contrário. Você é muito amável, Senhor Nortton…
-Blasius.
-Blasius… O que acontece é que não quero ser uma carga para ninguém e para falar a verdade me alegro… - Frannie mordeu o lábio inferior – Me alegro que você seja precisamente a pessoa que meu pai decidiu que fosse meu tutor.
A fileira dos dentes brancos dele apareceu entre seus lábios. Francesca não queria… Era sério que não queria… Mas era impossível para ela não sentir-se atraída por ele. Dava-lhe medo e calafrios ao pensar que podia se apaixonar por uma pessoa como Blasius Nortton.
-Eu também me alegro pequena Francesca. Não tem nem idéia de quanto.
Possivelmente era um pecado… Não havia moral em uma relação assim. Depois de tudo, além de ser seu tutor… Era o melhor amigo de seus pais.
Capítulo VIII
Francesca se moveu incomoda na cama. Levava mais de uma hora falando de todo tipo de coisas com Blasius. Do tipo de coisas que gostava de fazer até seus momentos mais graciosos ao lado de seus pais. Estranhamente, tocar nesse tema com ele, não lhe causava dor nem vontade de chorar.
-Suponho… Que já está na hora que me vá – Francesca se dispôs a levantar-se da cama, mas a mão de Blasius sobre seu braço direito a impediu.
-Pode ficar aqui – Disse – De todas as formas, não tenho sono e vou fazer umas coisas em meu computador. Além disso, tem que ficar onde possa te vigiar se por acaso te dá algum outro ataque de asma.
Francesca assentiu. Era algo muito razoável e ele disse que ia trabalhar em seu computador; com certeza algum desses trabalhos que fazem os empresários. Ela não pretendia retê-lo por mais que seus pensamentos fossem o contrário e desejasse falar com ele até o amanhecer. Assim que se acomodou entre os travesseiros Blasius subiu o cobertor até seus ombros.
-Blasius?
Ele estava a ponto de virar-se, mas se deteve e a observou.
-Sim, Frannie?
Hesitou durante um instante. Mas quando o viu a ponto de ir-se, apesar de que o computador estava do outro lado do quarto, uma sensação de perda e vazio a invadiu.
-Pode ficar comigo… até que durma?
Blasius lhe sorriu. Sentou-se na cadeira ao lado da cama e agarrou sua mão acariciando-a com o dedo polegar. Uma paz interior e uma vontade de chorar devido à nostalgia que essa pequena carícia lhe proporcionava, invadiram-na. Fechou os olhos e um par de lágrimas rodou até tocar seu queixo. Sentiu um dos grandes dedos dele as secar levemente.
Apertou sua mão com força na dele.
-Blasius? – Perguntou de novo. Ele fez um som que supôs era para que prosseguisse – Obrigada.
E sustentando a mão dele… adormeceu profundamente.
Ele beijou os nódulos de Francesca e colocou a mão a um lado de seu corpo. Levantou-se da cadeira tentando não fazer nenhum ruído e a observou um momento. Parecia a Bela Adormecida descansando profundamente sobre a cama. Seus cachos castanhos pulverizados por toda parte e inclusive caíam para fora da cama; sua respiração serena que elevava uma e outra vez seu peito.
Suspirou. Desejava-a com todas suas forças; tanto que acreditou que não agüentaria o suficiente sem lhe saltar em cima e devorá-la por completo. Encaminho-se lentamente ao outro lado do quarto e ligou o computador.
Não tinha muita vontade de trabalhar assim pensou um momento. Respirou fundo e concentrou sua mente, preparando-a para dominar a habilidade de ler pensamentos. No piso de baixo havia uma das garotas que tinha subido para cuidar de Francesca, pensando em que podia comer. O mordomo estava pensando nesse momento se havia algum licor na despensa. 
A Blasius não importavam esse tipo de coisas. Pedia aos empregados que se comportasse como se fossem da família. Os que trabalhavam nessa casa eram apenas umas quinze pessoas, de suma confiança e quão únicos sabiam seu segredo. Encarregavam-se de colaborar com seu empregador e eram o que mais perto tinha de uma família. 
De repente outro pensamento chegou a sua cabeça.
Saltou da cadeira e virtualmente correu até a porta corrediça. Abriu-a de repente justo quando uma sombra negra aterrissava num salto frente a ele. Um menino com um par de olhos verdes frios como o gelo e os cabelos loiros, cujos fios se viam prateados à luz da lua, um corpo forte e altura média. Os bíceps se marcavam ao suéter que levava e as pernas largas se notavam musculosas através do jeans. Outra sombra chegou e aterrissou.
Outro homem com olhos negros e penetrantes e cabelos negros equivalentes à escuridão da noite de lua nova, que se pulverizavam sobre sua testa e eram mais compridos que o devido. Ia vestido com uma simples camisa de tom branco, deixando ao descoberto seu pescoço e sua clavícula, além da pele de seus braços treinados com pesos de um tom dourado bastante agradável. Era mais alto que o outro, mas não mais de uns cinco a oito centímetros.
-Ethan – Disse observando os de cabelos loiros. Logo se virou a observar o homem de olhos negros – Connor.
Ethan Rumsfeld lhe devolvia o olhar e um sorriso penetrou por seus lábios, mas mesmo assim não chegou a seus olhos. Em troca Connor Brown sorria amplamente, bem humorado como sempre estava em cada momento.
-Quanto tempo, Blasius! – Exclamou Connor lhe dando um tapa nas costas que por pouco não o faz cair. Não pôde evitar sorrir, sem dúvida alguma não tinha mudado nada.
-Como estão vocês? Pensava que estavam

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