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Cindy Gerard Os Barone de Boston VIII UM PERFEITO CAVALHEIRO

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��Os Barones de Boston 08 - Um Perfeito cavalheiro
Um Perfeito cavalheiro
Série multi- autoras – Os Barones de Boston 08
Cindy Gerard
Titulo Original: The Librarian’s Passionate Knight
Resumo:
Quando a bibliotecária Phoebe Richards viu o homem que a salvou de seu ex-noivo, não podia acreditar. Só nos livros e em seus sonhos tinha visto um homem tão sexy como Daniel Barone. Era tudo o que um herói devia ser: bonito, valente, milionário... E completamente fora do alcance de Phoebe. Daniel Barone acreditava ter visto tudo. Mas nada o tinha preparado para o inocente sorriso de Phoebe, e nada o surpreendia mais que o estranho desejo de ficar com ela. Pela primeira vez em sua vida, sentiu medo: sobreviveria a uma aventura com aquela bibliotecária ingênua que usava óculos?
Capítulo Um
Daniel Barone não estava muito seguro do porque daquela mulher ter chamado sua atenção. Em uma visão global das coisas não era mais que um grama de areia perdida entre as brilhantes cores do Faneuil Hall, no centro de Boston.
Era uma noite quente de agosto, e o mercado ao ar livre estava vivo e repleto de tonalidades, aromas e sons. Justamente o contrário daquela mulher. E, entretanto, tinha captado sua atenção enquanto esperava pelo carrinho de sorvetes que estava por trás dela.
Iguais ao resto das pessoas que havia na fila, ambos esperavam sua vez. Mas ao contrário dos outros, que avançavam calmamente em formação, ela se balançava com impaciência. Parecia estar dançando, como se encontrasse um prazer irresistível no simples fato de pensar que dentro em pouco teria em suas mãos um sorvete de casquinha.
Por alguma estranha razão, aquilo provocou em Daniel um sorriso. Aquela exuberância o encantava e não teve outro remédio senão voltar a olhá-la.
Tinha estatura mediana, embora de perto talvez parecesse menor. Seu cabelo não era loiro nem castanho e não era nem remotamente sexy o corte de cabelo que tinha. As calças curtas e a camiseta que usava cobriam o suficiente o que parecia ser um corpo bonito e miúdo, embora não pudesse ter certeza. À exceção do esmalte vermelho brilhante dos pés, não havia nada luminoso naquela mulher, até que se virou com seu cobiçado prêmio entre as mãos.
Detrás dos óculos antiquados e insípidos, os olhos de cor mel brilhavam com alegria, inteligência e um bom humor natural. E quando deu a primeira lambida no sorvete, longa e lentamente, um sorriso de puro prazer iluminou seu rosto comum transformando-a num rosto que tirava a respiração. O brilho daquele sorriso quase o deixou cego. 
- Valeu a pena à espera - sussurrou ela soltando um suspiro enquanto abandonava a fila.
- Eu que o diga - reconheceu ele lhe dedicando um sorriso enquanto observava a deliciosa cadência de seus quadris ao afastar-se.
Daniel se perguntou por que uma mulher dotada de uma beleza natural tão excitante teria decidido esconder-se detrás daqueles óculos de professora, um corte de cabelo sem imaginação e aquela roupa tão vulgar. Seguiu-a com o olhar enquanto se perdia entre a multidão. Prosseguia olhando-a quando o menino do carrinho de sorvetes o trouxe à realidade.
- Ouça amigo: quer um sorvete ou não?
- Sim, sinto muito - respondeu Daniel se virando lentamente para o carrinho.
Colocou a mão no bolso de seu paletó para tirar a carteira e, sem deixar de sorrir, indicou com o queixo a moça e disse:
- Tomarei o mesmo que ela. Mas com duas bolas.
O sorvete não era tão delicioso como os da Baronessa, é obvio, mas era um prazer simples, doce e delicioso.
Como o sorriso sincero de uma mulher bonita e satisfeita.
Daniel voltou a sorrir desta vez se criticando, porque não podia evitar a imagem que tomava conta de sua mente.
A cabeça daquela mulher recostada sobre seu travesseiro.
Seu corpo suave e quente e suplicante sob seu...
Seu incrível sorriso não só de satisfação, mas também de autêntica plenitude; Phoebe Richards perambulou pelo mercado entre a multidão de turistas e bostonianos que tinham saído à rua para desfrutar daquela noite de agosto. Tomou seu sorvete de baunilha e se negou a pensar nas calorias. 
Aquele era seu prêmio por ter perdido um quilograma depois de seis dias de abstinência de sorvetes. Deu uma olhada nas vitrines das lojas de marca, nas que não podia permitir o luxo de comprar e aplaudiu as apresentações dos artistas de ruas a cujas atuações grátis podia se permitir. Dedicou um pensamento, ou talvez dois, ao bonito desconhecido de incríveis olhos azuis e sorriso encantador.
Não estava acostumada a desfrutar de nenhuma das duas coisas em sua vida: nem de bonitos desconhecidos nem de suas risadas encantadoras. E não se importava. Mas era divertido imaginar que algo poderia ter acontecido entre os dois se ela tivesse dado chance. Mas, para isso precisaria de ter um espírito aventureiro, o que ela não teria nem que se passassem um milhão de anos. Além do que, esse tipo de coisas só acontecia nas novelas que ela assistia durante a semana. Sua vida amorosa estava muito longe do descrito naquelas novelas. De fato, ultimamente sua realidade se aproximava ao horror.
Decidida a não pensar na situação tão feia que vivera com seu ex-noivo, optou por se auto flagelar um pouco e reconhecer que era muito covarde para sequer avivar a chama de interesse que tinha visto dançar naqueles impressionantes olhos azuis.
- De qualquer maneira, não teria acontecido nada mesmo... - murmurou entre dentes.
Nesse momento, uma loira escultural vestida com roupa de griff e muito bem maquiada, esbarrou em seu ombro sem querer ao passar.
- Desculpe – disse Phoebe, embora tenha sido ela a atingida e não era culpada.
Sua reação tinha sido automática e não tinha nada a ver com a boa educação. Era um ato de humilhação, um antigo costume que teria que se livrar se quisesse defender seu terreno em muitos outros aspectos.
-Por que faz isso sempre? - tinha-lhe perguntado sua amiga Leslie a última vez que comeram juntas.
Naquela ocasião, Phoebe tinha pedido desculpas ao garçom porque a sopa estava gelada e a alface de sua salada dura como uma pedra.
-Não deve às pessoas uma desculpa pelas falhas que eles comentem. Você também tem direitos.
Sim, tinha direitos. Por exemplo, o direito a seguir sendo tímida. Não podia evitá-lo. Para ela era mais fácil esconder-se que ficar em pé. A vida a tinha ensinado essa lição sendo muito pequena.
Uma vez fez a Leslie uma revelação sobre sua infância.
-Olhe: quando se é um patinho feio de doze anos, tem quinze quilogramas a mais e uma mãe alcoólatra que não faz mais que te repetir que para ela é uma decepção, aprende a desaparecer pela porta traseira. Cheguei a fazê-lo tão bem que as pessoas apenas se davam conta de minha existência. A vida era mais fácil assim. 
E seguia sendo-o. Os velhos costumes eram muito difíceis de mudar. E à avançada idade de trinta e três anos não se daria ao trabalho de mudar.
-Além disso - tinha continuado explicando a Leslie-, os enfrentamentos me acelera o coração. Forma-me um nó no estômago e as mãos começam a suar. Não me vale à pena.
Phoebe foi consciente de que uma gota de suor lhe escorregava pela têmpora, e a retirou com um lenço de papel.
-Agosto - disse bem alto enquanto lhe dava a última dentada a seu sorvete-. Eu gosto.
Eram quase às onze da noite e a cidade seguia tão animada como uma selva. No dia seguinte tinha que madrugar para fazer outro turno na biblioteca, por isso decidiu que já era hora de voltar para sua casa e meter-se na cama. Sozinha. Como de costume.
-Isto foi outra excitante sexta-feira à noite para a Phoebe Richards - murmurou entre dentes, enquanto se afastava a um lado da calçada para deixar passar a um casal.
Pareciam tão encantados um com o outro, tão apaixonados, que não pôde evitar sorrir, embora com certa nostalgia. O desejo de encher o vazio que tinha em seu coração parecia haver-se feito mais profundo com o passar dos anos. O mundo girava, e a seu redor o amor parecia florescer paratodos menos para ela.
Phoebe cruzou a rua e andou durante três quadras a caminho de seu carro, tratando de animar-se. Um fracasso sentimental não a convertia em uma inútil para o amor. Embora talvez dois fracassos sim, pensou mordendo o lábio inferior. E não digamos já três ou quatro.
De acordo. Sua vida amorosa era um desastre, tal e como lhe repetia constantemente sua amiga Leslie sacudindo a cabeça.
-Garota, parece que os escolhe de propósito. Phoebe exalou um suspiro de resignação enquanto lhe vinha à mente Jason Collins. 
-Não sirvo para isto - reconheceu Phoebe em voz alta-. Mas não há quem ganhe encontrando vaga para estacionar. 
O lugar que tinha encontrado aquela noite estava só a três quadras do mercado. Mas, sentindo um leve calafrio, pensou que talvez tivesse sido melhor que estivesse em uma rua mais iluminada.
Phoebe abriu a bolsa e começou a procurar nela para encontrar as chaves. Não lhe dava medo sair sozinha à noite. Ao menos não muito, reconheceu. Levava toda a vida em Boston e simplesmente era precavida, pensou enquanto tirava as chaves. Em geral não lhe assustavam as sombras nem olhava debaixo da cama ao deitar-se se por acaso havia alguém, mas sua atitude tinha mudado desde que dois meses atrás rompeu com o Jason e ele começou a chamá-la em meio da noite e a acossá-la no trabalho.
Um calafrio lhe percorreu o espinho dorsal ao pensar de novo nele, mas repetiu a si mesmo que tinha que superá-lo. Jason tinha sido um engano, mas o tinha desculpado. Ou isso acreditava até que escutou sua voz.
-Dando uma volta para te divertir um pouco, né, camundongo?
Phoebe girou tão depressa que lhe caíram às chaves ao chão.
-Jason... - sussurrou morta de medo, enquanto o coração pulsava com tanta força que parecia que ia sair do peito.
-Jason... - imitou-a ele com tom zombador enquanto se agachava a recolher as chaves-. Isso é tudo o que tem que me dizer? Ao menos podia fingir que te alegra de ver-me. Depois de tudo, passei a noite te procurando.
Phoebe obrigou a si mesmo a olhá-lo aos olhos, injetados em sangue, e se odiou ao dar-se conta de que não podia lhe sustentar o olhar. E se odiou ainda mais ao precaver-se de que estava tremendo.
Jason tinha o cabelo comprido e desarrumado e levava a camisa suja. Além disso, estava bêbado. Muito bêbado. Destilava álcool quando começou a aproximar-se dela, deixando-a totalmente paralisada e obrigando-a a recordar momentos de sua infância e um muito recente: a primeira e única vez que lhe tinha batido. O hematoma da bochecha tinha demorado bastante em desaparecer, mas a lembrança não lhe apagaria nunca embora tivesse expulsado de sua vida ao Jason naquele mesmo instante.
Ele a olhou fixamente com um sorriso de desagrado.
Como pôde Phoebe pensar alguma vez que tinha um sorriso bonito?
E o que era mais importante, como ia sair daquela situação?
-Me dê as chaves, Jason - ordenou-lhe tratando de aparentar firmeza.
Mas, por desgraça, suas palavras soaram, mas, como uma súplica.
Jason sacudiu a cabeça com gesto compassivo e apartou as chaves de seu alcance.
-Sabe uma coisa? Seu problema é que nunca soubeste lhe mostrar a um homem o respeito que se merece. Deveria-me dizer obrigado em lugar de me dar ordens.
-Obrigado... Por me recolher as chaves - disse Phoebe com os olhos fechados, depois de tragar saliva -. Poderia... Poderia me devolver isso, por favor? - implorou andando para trás até chegar a dar com a porta do carro.
-Isso está melhor - respondeu ele sorrindo com ar triunfal - Mas ainda não é suficiente. Igual a mim tampouco fui alguma vez suficientemente bom para você, verdade? Verdade?
Phoebe se concentrou para não entrar em pânico enquanto Jason se aproximava de seu rosto. 
-Como é possível? - exclamou ele com raiva - Como é possível que um rato de biblioteca dissimulada pense que é melhor que eu?
Jason limpou a saliva da boca com o dorso da mão antes de continuar.
-Você acredita que é uma jóia, ou algo assim? -perguntou soltando uma amarga gargalhada-. Pois não o é, entende? Não é mais que um lixo. Um lixo! - assegurou lhe cravando os dedos no antebraço com tal força que Phoebe fechou os olhos de dor -. Pode-se saber o que acontece com você?
Igual a um animal pressente o perigo de um terremoto, Phoebe se deu conta de que ele ia golpeá-la. Fazendo um esforço sobre-humano, conseguiu escapar do Jason e apartar-se rápida-mente antes que seu punho aterrissasse e fosse dar contra a porta do carro com um golpe surdo. O sujo palavrão do Jason encheu o ar da noite e Phoebe saiu dali meio andando meio correndo, rezando para que ele se dedicasse a sanar sua ferida e se esquecesse dela.
Mas o som de passos fortes golpeando sobre a calçada a suas costas fez ver que não seria assim.
Phoebe sentiu que o coração se encolhia. Uma náusea abriu caminho através do estômago enquanto apertava o passo e, pela enésima vez na vida, desejou ter o sangue-frio e a habilidade suficientes para contra-atacar.
A multidão tinha dado passo a um punhado de pessoas quando Daniel divisou à dama do sorvete uma quadra mais acima. Aquele prazer inesperado e incontestável lhe fez esquecer-se do cansaço e o obrigou a dirigir-se para ela.
Estava apenas a uns quantos metros quando se deu conta de que não estava sozinha. Um homem de uns dois metros de altura e bastante grosso ia lhe pisando os calcanhares.
Daniel observou a cena com olho crítico. Não gostou do que viu. Pensou que se tratava de um gorila desalmado. Escutou fragmentos soltos de sua conversação quando se detiveram ao lado de um carro pequeno de cor cinza. Escutou o suficiente para dar-se conta de que aquele tipo era um indesejável, e algo mais: que lhe tinha medo.
Para Daniel se oprimiu o estômago quando o homem lhe apertou o braço com tanta força que ela fechou os olhos de dor. Aquilo era mais do que estava disposto a suportar.
Capítulo Dois
Daniel se pôs a andar, mas a perdeu de vista um instante à mulher porque de repente se viu envolto em meio de um grupo de buliçosas adolescentes. Quando conseguiu sair dali e voltou a ver a mulher, esta se estava afastando com passo firme. O homem lhe seguia os calcanhares. 
Daniel correu um pouco e ficou à altura dela.
-Ouça carinho - disse colocando-se a seu lado e cortando com seu corpo a presença do outro homem -. Anda um pouco mais devagar, quer? Estivemos a ponto de nos perder – assegurou lhe colocando sua mão pelos ombros dela como se fosse um homem reclamando a sua garota.
Ela se deteve com tanta brutalidade que Daniel teve que sujeitá-la para impedir que caísse. Quando elevou os olhos para olhá-lo, lhe viam muito abertos, duros e assustados depois das lentes dos óculos. Demorou uns segundos em reconhecê-lo como ao homem da fila dos sorvetes.
Daniel lhe sorriu e a tranqüilizou com o olhar, como se lhe dissesse: «Atua. Eu te tirarei desta»
-Que tal estava seu sorvete? - perguntou-lhe enquanto a obrigava a seguir caminhando. 
-Be... Bem - conseguiu responder ela finalmente compreendendo o jogo.
-Quem diabos é você? - perguntou uma voz furiosa a suas costas.
-Segue andando - sussurrou-lhe Daniel ao ouvido.
Pelo bem da mulher, não queria montar uma cena, e lhe parecia que a melhor maneira de evitá-la era seguir andando.
Mas uma mão repugnante a agarrou pelo ombro, obrigando-o a deter-se.
-Perguntei quem diabos você é .
-Sou o tipo que vai acompanhar esta dama a sua casa - respondeu Daniel girando-se com um sorriso condescendente na cara-. E agora, se nos desculpar...
-Me deixou por este? - exclamou Jason arrastando as palavras por causa do álcool-, Por este menino bonito? Eu sabia! Sabia que estava me enganando!
-Jason - começou a dizer ela ruborizando-se-. Terminamos. Terminamos faz dois meses. O que tenho que fazer para que entenda?
-Isso, Jason - repetiu Daniel com falsa cordialidade-. O que tem que fazer para que o entenda?
-Não te meta nisto - ordenou-lhe Jason centrando-se outra vez nela-. Não terminamos, camundongo. Terminaremosquando eu o disser. 
Manchas vermelhas lhe cruzavam o branco dos olhos semi-abertos. Tinha os punhos fechados colocados a ambos os lados do corpo. Queria golpear a alguém. Em Daniel se formou um nó na garganta ao dar-se conta de quem ele queria bater.
-Nem pense nisso - assegurou colocando-se diante da Phoebe, na linha de fogo-. E se faça um favor: Vá embora. Vá embora de uma vez por todas.
Jason, que pesava ao menos vinte kilos a mais do que ele, soltou uma gargalhada.
-Quer brigar comigo, menino bonito?
-Eu adoraria - respondeu Daniel com gesto depreciativo-. Mas não vale a pena perder o meu tempo com você. E agora dê a volta e deixa à dama em paz, ou se verá comigo e com o policial que vem para cá. Quer que te detenha por assalto sob os efeitos do álcool? Faz um só movimento e o conseguirá.
-Algum problema por aqui, meninos?
-Não sei - respondeu Daniel olhando fixamente ao Jason enquanto o policial se aproximava-. Há algum problema?
Jason duvidou um instante, mas, finalmente negou com a cabeça.
-Há algum problema? -repetiu Daniel girando-se para olhar aquele par de olhos de cervo para lhe fazer saber que não tinha mais que dizer uma palavra para que acabassem com aquele tipo.
-Não - respondeu ela depois de uns segundos.
-Parece que tudo está em ordem - disse girando-se para o policial com um sorriso-. Obrigado de toda maneira.
Daniel lançou a Jason um olhar de advertência e logo esperou até assegurar-se de que o outro homem partia. Quando o viu afastar-se voltou a passar o braço pelos ombros da moça.
-Vamos sair daqui.
Ela esboçou um pequeno sorriso, não sabia muito bem se de alívio ou de agradecimento. Tremia tanto que Daniel temeu que lhe escapasse do braço. Mas quando se puseram a andar, Phoebe exalou um suspiro de alívio que pareceu liberá-la de toda a tensão.
Daniel se sentia cômodo com o modo em que o corpo daquela mulher se ajustava ao dele, mas o que não gostava tanto era o instinto de amparo que despertava nele.
Não era a primeira vez que se sentia atraído por uma mulher, mas geralmente gostava de saber algo delas antes de acender as luzes. Para começar, pensou com uma careta, tentava ao menos saber como se chamavam.
Phoebe imaginou que estava em estado de choque. Não lhe ocorria nenhuma outra razão para permitir que um perfeito desconhecido colocasse o braço pelos seus ombros e a afastasse mais e mais a cada passo de seu carro. Certamente Jason a tinha deixado tão assustada que tinha perdido o sentido, mas tampouco lhe escapava o fato de que o homem com o qual caminhava com ela sobre a calçada era provavelmente o mais bonito que tinha visto em sua vida.
-Está bem? - escutou-lhe dizer.
Pelo tom que utilizou, Phoebe se deu conta de que não era a primeira vez que o perguntava. Sua voz, tão suave e profunda como a água, parecia cheia de preocupação.
Ao ver que ela era incapaz de lhe responder, Daniel se deteve, agarrou-a brandamente dos ombros e a olhou aos olhos.
Céu Santo era muito bonito. Não era especialmente alto, mediria menos de dois metros, mas mesmo assim ela tinha que levantar o queixo para poder olhá-lo. Tampouco era especialmente musculoso, como os culturistas, mas sim tinha uma constituição parecida com a dos corredores ou os nadadores. A camiseta negra e as calças curtas deixavam ver umas extremidades magras embora fortes, e ligeiramente bronzeadas.
Phoebe obrigou a si mesma a concentrar-se no momento, mas não pôde evitar em pensar que tampouco se tratava de um trabalhador. Havia algo em sua presença que denotava dinheiro. Aquilo era tão óbvio como o azul de seus olhos. Notava-se tanto no estilo do corte de seu cabelo castanho queimado pelo sol como na camiseta de esporte que levava.
Os olhos azuis que lhe esquadrinhavam o rosto tinham um ar sonhador e largas pestanas negras, e pareciam estar estrategicamente situados naquele rosto de pôster para provocar o máximo impacto.
Entretanto, aquela beleza masculina de corte clássico tinha o suficiente de traços de dureza para salvar-se de ser perfeita. Uma pequena cicatriz lhe marcava a linha do lábio superior e uma no arco da sobrancelha. Mas apesar disso, seu rosto estava tão simetricamente esculpido que fazia mal olhá-lo tanto, ao mesmo tempo era também impossível olhar para outro lado.
Aquele homem era tudo, absolutamente tudo o que tinha que ser um herói: Valente, muito bonito e rico.
A Phoebe deu um tombo o coração e retornou à realidade. Ela não era uma heroína que valesse a pena.
-Está aí? - perguntou ele lhe passando a mão por diante da cara com certa ironia - Quantos dedos vê?
Phoebe piscou e o olhou fixamente.
-Quatro e o polegar - respondeu recuperando-se - Não chegou a me pegar.
-Mas queria fazê-lo - assegurou Daniel sorrindo com amabilidade -. E isso já é um delito.
Tinha uma boca muito sensual, e seus lábios carnudos pareciam estar sempre fazendo uma careta.
Phoebe se deu conta de que estava outra vez olhando-o fixamente, assim desviou o olhar para apartar dos olhos mais expressivos que certamente tinha visto em sua vida. Mas antes de fazê-lo viu a compaixão desenhada neles e se envergonhou. Embora se tratasse de um perfeito desconhecido, não queria que pensasse assim dela.
-OH, não, não... Não é o que está pensando. Não sou dessas pobres mulheres que se vêem envoltas em um círculo de maus tratos. Terminei a relação faz meses. O que ocorre... Bom, o que ocorre é que ele não quer assumir que terminou.
-E não parece que vá fazê-lo nunca a não ser que tenha uma boa razão para parar e considerar as conseqüências.
De fato, era ela e não Jason a que estava sofrendo as conseqüências de sua obsessão.
-Bom — respondeu Phoebe tratando de recuperar algo do pouco orgulho que ficava depois daquela situação -. É meu problema. Já resolverei isso.
-A solução poderia ser uma pistola. E lhe aponte entre as sobrancelhas - assegurou Daniel com voz sombria.
-Porque será que todos se guiam pela testosterona? - perguntou ela sem poder conter-se.
Phoebe fechou os olhos e levou as mãos às têmporas. Mau, mau e mau.
Não sabia como comportar-se com aquele homem. Ou ficava babando contemplando em silêncio seus atrativos ou lhe soltava as frases mais inapropriadas.
-Sinto muito. Me salvou de uma situação espantosa e te estou dando bronca por... 
Phoebe não terminou a frase. Limitou-se a levantar a mão ao ar em gesto de frustração.
-Por acrescentar mais violência a uma situação já por si só violenta? - sugeriu Daniel em tom de desculpa -. Por desgraça, às vezes é a única opção.
Pela primeira vez, Phoebe observou em sua boca algo distinto ao gesto de leve diversão que o caracterizava. Era um sorriso duro. Viu e escutou sua raiva, mas compreendeu que estava dirigida para o Jason.
Também compreendeu que ele não a tinha julgado com tanta dureza como ela mesma.
Nesse instante se deu conta de que aquele homem a olhava com uma intensidade absorvente que a fez esquecer-se de todas as preocupações, e exalou com força o ar.
-Bom - começou a dizer, sentindo a necessidade de tranqüilizá-lo -, estarei bem. Cedo ou tarde se cansará. De verdade que não sei como te dizer obrigado. A maioria das pessoas não teria parado e se colocado em meio de uma situação violenta entre duas pessoas.
-Eu não sou como a maioria das pessoas.
Phoebe já se deu conta disso. Não se parecia em nada a nenhuma das pessoas que conhecia. E tampouco se parecia em nada a ela, que era uma mais da multidão. E trocou ele... Bom, ele não.
-E agora o que?
-E agora o que? - repetiu ela soltando de novo outro suspiro-. Pois agora eu retornarei ao carro e irei para a minha casa.
Aquilo parecia simples, mas Phoebe se deu conta ao dizer de que não ia resultar tão fácil. Se tivesse tido forças teria soltado uma gargalhada.
-Bom, normalmente retornaria ao carro e iria para a minha casa.
-Normalmente?
-Levou as chaves de meu carro - respondeu ela mordendo o lábio inferior.
-Ah - respondeu o homem arqueando uma de suas bonitas sobrancelhas-.Isso sim que é um problema.
Phoebe se retorceu as pontas do cabelo que lhe caía pela nuca e tratou de não pensar na maneira em que ele a estava olhando, com aquela mescla de diversão e interesse masculino.
-Por isso parece, está com um problema.
Sim. Tinha um problema. Então, por que lhe devolvia o sorriso?
-Eu... Pararei um táxi - assegurou então aparentando firmeza -. Tenho outro jogo de chaves em casa. Posso voltar amanhã para buscar o carro.
-Outra opção - interveio Daniel balançando-as mãos nos bolsos de suas calças curtas -, é que eu te leve.
-OH, não - apressou-se a responder ela embora a idéia adorasse -. Não posso te pedir uma coisa assim. Já tem feito o suficiente. E nem sequer me conhece. Nem eu tampouco a você.
-Isso sim é um problema - respondeu Daniel lhe dedicando outro daqueles sorrisos capaz de derreter as pedras -. Poderia me dizer seu nome e eu te direi o meu. Assim já poderemos dizer que nos conhecemos. O que te parece?
A Phoebe parecia de pérolas. Ainda lhe parecia incrível que um homem com aquele aspecto se interessasse o mínimo por uma mulher como ela. Mas a idéia a agradava. De fato, estava-se dando conta de que gostava de tudo o que via nele.
Como aqueles lábios tão sensuais.
-Então, o que me diz? - insistiu Daniel - Começa você?
-Phoebe - murmurou ela apartando a vista de seus lábios-, Phoebe Richards.
-Phoebe - repetiu Daniel como se mastigasse as letras -. Eu gosto. Vai muito melhor que camundongo.
Ela piscou e voltou a ficar sem palavras.
-Eu sou Daniel - disse ele com um sorriso, estendendo a mão -, Daniel Barone.
Lentamente, Phoebe lhe devolveu o sorriso e tomou a mão que lhe oferecia. Era uma mão forte que envolvia à sua, miúda e frágil. Antes que pudesse evitá-lo, veio-lhe à mente a imagem daquela mão cálida percorrendo outros lugares de seu corpo muito mais íntimos.
Phoebe agradeceu mentalmente que a rua estivesse escura. Talvez assim ele não pudesse ver o rubor que se deu em suas bochechas. E com um pouco de sorte tampouco se daria conta do ligeiro tremor que a sacudiu quando por fim foi capaz de apartar sua mão da dele.
-Me deixe te levar a casa, Phoebe Richards – lhe pediu Daniel com amabilidade-. Espera um segundo antes de me dizer que não. Pensa no mal que me sentiria se depois de tudo que fiz lhe atacassem ou algo parecido. Eu teria arriscado minha vida para nada.
A confiança que mostrava em si mesmo lhe fez recordar a Phoebe a pouca que ela tinha. Pensou que Daniel Barone não podia evitar interpretar o papel de herói. E pelo contrário, ela nunca encaixaria no rol de heroína, por muito que no fundo desejasse formar parte daquela obra.
Então caiu a ficha.
Já sabia quem era ele.
Abriu os olhos desmesuradamente, como podia não havê-lo reconhecido?
Talvez estivesse equivocada, pensou paralisada pelo pânico enquanto percorria aquele rosto com o olhar. Talvez não tivesse feito o maior dos ridículos frente ao homem que tinha sido definido uns meses atrás por uma revista de Boston como «Sem dúvida nenhuma o milionário mais sexy e atrativo da cidade».
-Daniel Barone? - murmurou como o autêntico camundongo que era -. O verdadeiro Daniel Barone?
Quando ele cruzou os braços e a olhou sorrindo, Phoebe se deu uma palmada na frente. 
-O Daniel Barone das revistas? O Barone dos sorvetes Baronessa?
Havia que viver debaixo de uma rocha para não ter ouvido falar dos Barone de Boston. A família italiana da dinastia do sorvete era uma lenda não só neste Costa, mas também em todo mundo. A sorveteria original ainda funcionava no North End de Boston, e os deliciosos sorvetes da Baronessa tinham convertido a todos o que levavam o sobrenome Barone em multimilionários.
Daniel encolheu os ombros. Parecia sentir certo acanhamento, o que não fazia mais que acrescentar atrativo a seu aspecto.
-Tenho a impressão de que o considera como algo mau.
-OH, não! É só que...
-É só um sobrenome - interrompeu-a Daniel para deixar clara sua postura-. E eu sou só um tipo que quer assegurar-se de que chega a casa sã e salva, de acordo?
Apesar de tudo, Phoebe se sentiu incapaz de não lhe devolver o sorriso. Tinha optado por render-se ante ela. Igual a tinha optado por renunciar à sensatez e aceitar seu convite a levá-la.
Daniel estendeu a mão e ela duvidou uns instantes antes de tomá-la.
Só um sobrenome. E só uma mão. Recordou-se a si mesmo que simplesmente estava sendo educado. E, entretanto, se sentia como se estivesse caminhando em sonhos enquanto deixava que a guiasse até seu carro.
Acaso não tinha direito, embora só fosse uma vez, a que se cumprisse uma de suas fantasias, uma fantasia real que incluía um dos homens mais ricos e atrativos do mundo?
Daniel lhe abriu a porta do carro e Phoebe entrou. Afundou-se no couro do assento e fingiu que estava acostumada a ele. Deixou-se envolver pela música clássica que saía do aparelho de som e entrou em outro mundo. O mundo do Daniel.
Exalou um suspiro para tratar de recordar que realmente não pertencia a aquele mundo. Do mesmo modo que não tinha nada em comum com um homem assim.
E, entretanto, ali estava.
Dentro de seu carro, amparada pela escuridão, com o homem de seus sonhos. Dos seus e dos de qualquer mulher viva.
Daniel Barone era um cavalheiro de reluzente armadura que a havia literalmente salvado. O Porsche prateado podia considerar-se sem dúvidas como sua armadura.
Phoebe seguia em seus pensamentos quando ele girou para olhá-la. Seus olhos azuis a observavam com interesse através das sombras que em seu rosto provocavam a luz das luzes.
-Pronta? - perguntou ele sorrindo de novo daquele modo irresistível.
-Ao castelo - murmurou Phoebe inclinando-se para trás no assento.
Capítulo Três
A euforia da Phoebe não durou mais à frente do primeiro semáforo. A corrente de adrenalina que a tinha atravessado durante a desagradável situação vivida com o Jason desapareceu rapidamente. Além disso, ela era muito prática para deixar-se levar por aquela fantasia durante muito tempo. Em qualquer caso, quando Daniel rumou para sua rua ela já se abateu.
Daniel Barone. Ainda não podia acreditar. E se ele achava seu bairro modesto em comparação com a grandiosa residência do Beacon Hill em que tinha crescido, foi o suficientemente educado para não demonstrá-lo.
Era a imagem do perfeito cavalheiro, com a exceção de que conduzia muito depressa. Não lhe teria feito falta ler o artigo da revista sobre ele para saber que isso formava parte de seus gostos. A velocidade. As provocações. O afã de fazer o que a outros mortais dava medo. Suas façanhas eram legendárias. Phoebe supôs que teria que ser excitante atravessar a noite naquela bala chapeada. Mas ela carecia daquele instinto aventureiro. Era um caso perdido. E Daniel se equivocou a respeito de seu nome. Camundongo ia perfeitamente. Era uma covarde.
Phoebe suspirou com força. Não combinava nada com aquele Porsche prateado. Nem tampouco combinava com aquele homem, nem em sonhos nem na realidade por muito que ele tratasse de lhe facilitar as coisas. E, que Deus o benzera, Daniel o tinha tentado. Mas, para mortificação da Phoebe, na meia hora de trajeto até sua casa a conversação se limitou a seus repetidos agradecimentos por levá-la e às constantes brincadeiras de Daniel em referência a seus nódulos, brancos de ir tão agarrada ao banco.
Aquele homem estava fora de seu alcance. 
Deveria haver-se sentido aliviada quando ele estacionou por fim em frente a sua casa e desligou o motor. E, entretanto, invadiu-a uma estranha mescla de frustração e remorso.
Phoebe acariciou o couro do assento e exalou outro resignado suspiro de frustração enquanto procurava a maçaneta da porta.
A aventura tinha terminado.
-Espera - disse Daniel-. Eu o farei.
Phoebe não estava em realidade tão resignada como pensava, assim esperou enquanto ele descia do carro, rodeava-o e lhe abria a porta do passageiro com a galanteria de um cavalheiro medieval.
O castelo notou Daniel, resultou seruma construção modesta dos anos sessenta em tons brancos e negros. Estava situada no meio de uma quadra de um bairro limpo e bem conservado. No interior da casa havia uma luz acesa, e um gato gordo e grande os contemplou através da janela com ar de superioridade enquanto se aproximavam.
Daniel era um homem observador e se deu conta de que a grama estava aparada e que havia duas filas de flores margeando o atalho que levava para a casa. O alpendre era menor que normal, e nele havia cestos com petúnias que penduravam de umas colunas que tinham a pintura cortada.
Daniel não soube o que o comovia mais: se o fato de que Phoebe fosse uma mulher que cultivasse flores e provavelmente cortasse ela mesma a grama, ou a pintura em mal estado indicando que tinha pouco tempo ou pouco dinheiro.
Ao final não foi nenhuma daquelas coisas, a não ser a visão de uma rã de estuque horroroso do tamanho de um punho que estava no tapete de entrada. Não sabia por que, mas isso o comoveu.
-Bom - disse ela passando a mão nervosamente pelo cabelo e sem olhá-lo aos olhos - Obrigado outra vez. De verdade. Não precisava me acompanhar até a porta.
-Nem pense nisso... - Advertiu ele antes que Phoebe começasse de novo com a mesma história que tinha repetido durante todo o trajeto-. Fazemos um trato, recorda? Já não me pediria mais desculpas.
-Tem razão. O sinto... Quero dizer que não vou te pedir mais desculpas - corrigiu-se ela com sorriso angelical.
Phoebe se agachou para recolher a rã. Estava ruborizada e tinha um aspecto adorável.
Daniel ficou de pé em silêncio, absorvendo o delicioso aroma de sorvete de baunilha e de verão que a rodeava, estudando a forma que lhe separava o cabelo em duas metades, considerando a possibilidade de acariciar aquelas mechas de seda que pareciam o cabelo de um bebê. A tentação era tão forte que teve que meter as mãos nos bolsos para não afundar os dedos neles.
Daniel não compreendia. Não compreendia por que estava tão fascinado por ela. Não era o que pudesse dizer que fosse uma sereia, e, entretanto, sentia como o atraía. Deveria sentir-se aliviado por ter completo com seu dever. Tinha-a deixado sã e salva na porta de sua casa. Era livre para partir.
 Por isso não entendeu por que quando ela pôs de barriga para baixo aquela estúpida rã, tirou uma chave de um buraco que tinha no ventre e abriu a porta de sua casa, sentiu uma onda de ternura que fez saltar as serenes de alarme de seu cérebro.
Não deveria lhe importar tanto que aquela mulher sofresse a perseguição de um ex-noivo briguento. Nem deveria lhe importar tanto que guardasse a chave de sua casa dentro de uma rã e provavelmente o considerasse um lugar seguro.
Não deveria se importar tanto que, a primeira vista, tivesse encontrado uma mulher comum.
Mas lhe importava.
Porque ela estava tão longe da vulgaridade como um passeio pelos recursos marinhos do recife de coral das ilhas da Micronésia. Tão longe da vulgaridade como a orquídea que Daniel tinha tido o prazer de ver ao natural nas montanhas do Abisko, ao norte da Laponia.
Muito longe da vulgaridade.
E ao mesmo tempo, muito longe também da sofisticação. Não era glamurosa. Não sabia ir pelo mundo. De fato, provavelmente necessitaria de um guarda-costas.
E ele deveria partir dali antes de cometer alguma estupidez como oferecer-se de voluntário.
Mas em lugar de despedir-se depressa, Daniel sacudiu a cabeça e deixou escapar um profundo suspiro. Logo lhe tirou a chave das mãos duras, inseriu-a na fechadura e abriu a porta. 
Uma onda de ar quente saiu do interior da casa e saudou a brisa fresca do exterior.
Phoebe estava a ponto de voltar e dizer obrigado quando ele colocou uma mão na soleira da porta por cima de sua cabeça e cravou o olhar naquele rosto que lhe recordava ao de um bebê mocho tenro e pequeno que estava aprendendo a voar.
-Te deixo nervosa, Phoebe? - perguntou com uma careta nos lábios.
-Em uma escala de um a dez? - perguntou ela por sua vez, olhando-o um instante antes de desviar de novo o seu olhar-. Vinte e cinco mais ou menos.
-É por culpa desse Jason? - disse Daniel entornando os olhos ante aquele pensamento negativo -. Porque teme que eu possa ser como ele?
-Não, é obvio que não. Você nunca poderia ser como Jason Collins - tranqüilizou-o Phoebe - Não se trata disso absolutamente.
-Então, é porque não me conhece?
-Justo o contrário - respondeu ela com um som parecido a um grunhido -. Porque te conheço. Ao menos sei quem é.
Phoebe pela enésima vez levantou a mão para passar pelos cabelos, mas Daniel a segurou no ar. Ela tinha a mão frágil e ligeiramente tremente. Daniel voltou a sentir uma onda de ternura, e a soltou com muita mais relutância da que tivesse sido necessária.
- Agora já sei que não é muito sofisticado - se explicou Phoebe, ainda aturdida pelo contato -, mas não sei muito bem como atuar ao lado de um homem como você. Não sei o que dizer. Não sei o que fazer... Com os olhos, nem com as mãos.
Phoebe se deteve e levantou uma mão em gesto de impotência, olhando a todas as partes menos a ele.
Daniel pensou com certo cinismo que a maioria das mulheres sim sabiam como atuar. Ao menos as que se aproximavam dele. Talvez essa fosse a razão pela que encontrava a aquela mulher tão intrigante. Era uma mudança refrescante em comparação com as mulheres que geralmente tratava de evitar quando retornava a Boston. Por norma geral, as damas do Beacon Hill o buscavam porque tinha dinheiro, ou porque elas tinham dinheiro e procuravam um igual. Algumas queriam caçá-lo, outras domá-lo, outras, simplesmente, serem vistas a seu lado. E outras, por alguma estranha e doentia razão, queriam que ele as utilizasse. Era evidente que Daniel representava para elas a personificação da aventura.
-Vou te contar um segredo - sussurrou inclinando-se para ela como se temesse que alguém os escutasse-. Quando era pequeno deixava de noite a luz acesa.
Phoebe soltou uma leve gargalhada repleta de sons de seda, esquentando no interior do Daniel lugares aos que nunca tinha chegado o sol de Bora Bora. O sorriso da Phoebe era relaxado. E divertida. E maravilhoso igual ao brilho que desprendiam seus olhos. De repente, a palavra excitação adquiria um significado completamente novo.
-O que quero te dizer é que não somos tão diferentes. Exceto você é uma mulher e eu um homem, é obvio - esclareceu com uma careta-. E, por certo, agora você parece muito mais relaxada.
-Estou. Obrigado.
De acordo. Missão cumprida. Já podia partir. Isso seria o que faria um homem inteligente.
Mas evidentemente, ele não o era.
Tinha feito isso de verdade? Perguntou-se Daniel para si mesmo mais tarde. Havia-lhe dito de verdade: «O que você acha de me agradecer com algo para beber antes de eu ir embora 
Estava claro que o havia dito, porque o seguinte que soube foi que Phoebe havia tornado a ruborizar-se.
-Claro, é obvio. O sinto... Teria que haver lhe oferecido isso antes - corrigiu-se ela- Tenho chá e... Me deixe pensar... Chá - concluiu depois de duvidar um segundo.
- Chá gelado?
Ela assentiu com a cabeça.
- Aceito.
Phoebe o convidou a entrar com um gesto da mão. Combinava-lhe perfeitamente embora ainda não tivesse nem a mais mínima idéia de por que.
Aquilo não combinava com ele. Ela não era seu tipo. Daniel se aproximou da janela em que estava o gato enquanto Phoebe desaparecia no que provavelmente seria a cozinha. Tentou lhe fazer uma bajulação, mas o felino levantou a cauda em gesto defensivo.
Daniel optou por deixá-lo tranqüilo e dedicar-se a espiar o ninho de sua pequena ave.
Sua pequena ave?
Sacudiu a cabeça para arrancar-se aquela estúpida idéia e olhou a seu redor. O salão era pequeno, mas, primorosamente decorado em tons prateados e verdes. As paredes estavam pintadas em cor nata, e o chão era de madeira polida, coberto por um tapete de flores que combinava com o tom dos móveis e as cortinas.
O efeito era muito feminino e ao mesmo tempo muito cômodo. Um tanto brega para o gosto do Daniel, masquente e acolhedor. Para sua própria surpresa, gostava.
Tratava-se também de um ambiente muito romântico. Perguntou-se se ela também o seria. Esconderia Phoebe Richards uma romântica oculta sob sua roupa funcional e aquele corte de cabelo absurdo? Isso explicaria o ar sonhador que tinha vislumbrado em seu rosto sob as luzes da rua enquanto estavam no carro.
«Para o castelo. »
Aquelas palavras lhe tinham feito sorrir. Agora as entendia. E as entendeu melhor ainda quando cruzou a estadia para inspecionar o conteúdo de sua livraria, transbordante de exemplares. Tirou um livro de seu lugar e voltou a sorrir.
A julgar pela coberta, tratava-se sem dúvida de uma romance de amor, ao parecer pertencente a uma série que girava em torno de um poderoso cavalheiro e uma donzela. Daniel voltou a deixá-lo em seu lugar e descobriu outros títulos parecidos, além de uma grande coleção de novela romântica contemporânea e vários clássicos como Cúpulas borrascosas, Camelot e Romeo e Julieta.
Sentiu uma nova onda de ternura por aquela mulher que tomava um sorvete de baunilha só na sexta-feira de noite, uma noite tradicionalmente cultural em Boston. Ao menos assim estava acostumado a ser antes que Daniel colocasse um par de coisas na mochila e partisse a percorrer o mundo oito anos atrás.
Uma súbita onda de raiva lhe ferveu no sangue ao recordar de Jason Collins. Aquele homem era um predador. E também um lixo. Custava-lhe trabalho encontrar uma situação em que pegasse com a Phoebe Richards, e, entretanto tinham tido uma história.
Daniel transformou seu gesto de desagrado em um sorriso quando a viu aparecer na soleira com um copo alto de chá gelado em cada mão.
- Muito, obrigado - disse ele bebendo meio copo de um gole-. Só com gosto. É bonita sua casa - assegurou fazendo um gesto circular com a mão-. Muito bonita.
Phoebe tratou de dissimular o orgulho que lhe provocavam seus elogios sob um sorriso tímido.
-Só me faltam vinte e cinco anos de hipoteca mensal e será minha. Toda minha. Incluído os encanamentos ruins e a pintura descascada.
Daniel se deu conta então do que tinha aquela mulher que tanto o cativava, além do fato de que era bonita refrescante e tão tentadora como o sorvete de baunilha que tinha provocado que se conhecessem.
Phoebe Richards era uma pessoa real. Não podia ser outra coisa. Seus nervos anteriores e as risadas de agora eram tão autênticos como seu coração. Aquilo era uma novidade no mundo de Daniel, onde a maioria das mulheres lutava por fazer-se com uma posição ou queriam tirar algo dele. Phoebe nem sequer tinha querido que a levasse a casa.
Ela cruzou a estadia para a janela em que o gato esperava com olhos vigilantes. Phoebe o saudou lhe acariciando a cabeça e lhe passando a mão amorosamente pelo lombo. O animal se arqueou ante seu contato, e Daniel esteve a ponto de gemer ao imaginar-se que era ele mesmo quem recebia aquela carícia de seda que não só era encantada, mas, também inconscientemente sensual.
Aquilo sim que era uma novidade. Estava com ciúmes de um maldito gato. Ciumento de um gato. Decidiu não pensar nisso para não sentir-se à altura do betume.
-É um gato guardião? - Perguntou para afastar de si a imagem de sua mão acariciando ao felino. 
- O guardião do reino - respondeu Phoebe com um sorriso.
Estava começando a sorrir com mais facilidade, e Daniel temeu que, igual a ocorria com as batatas fritas, não ia conformar se com apenas uma.
-Também é o que leva a batuta. Arthur pôs as regras e eu as cumpri a rigorosamente desde o dia que o trousse para casa já faz três anos.
- Um gato com sorte - disse Daniel antes de levantar a vista e vê-la de novo acariciando ao animal.
Ele limpou a garganta sem apartar a vista da cena.
Phoebe retirou a mão imediatamente com as bochechas ruborizadas.
-Né... Por favor, sente-se - pediu-lhe, lhe assinalando uma das cadeiras -. Normalmente não estou acostumada a ser tão desconsiderada.
E normalmente ele não se distraía com tanta facilidade com uns olhos sonhadores e uma cara bonita que se fazia mais bonita a cada minuto que passava. Tinha chegado o momento de fazer uso do sentido comum.
-A verdade é que tenho que partir - assegurou sentindo-se como um abutre ao observar em seu rosto um gesto de desilusão.
«Phoebe, Phoebe», pensou Daniel para seus adentros lutando contra outra onda de ternura, «é muito clara, muito vulnerável». Não havia nenhuma dúvida de por que constituía o branco perfeito para um indesejável como Jason Collins.
-Me faça um favor, sim? - Pediu-lhe Daniel depois de beber-se de um só gole o que ficava de chá para dissimular sua confusão-. Procure outro lugar para guardar a chave de sua casa que não seja a rã. E ponha fechaduras decentes nas portas, de acordo? Necessita um alarme - assegurou dirigindo-se com decisão para a porta -. Melhor ainda: chama uma empresa para que lhe instalem aqui um sistema completo de segurança.
Phoebe deixou seu copo de chá, ainda intacto, sobre uma mesa auxiliar e ficou em pé, limpando-as palmas das mãos nas calças.
-Estou bem, de verdade. Mas obrigado por preocupar-se.
-Esse tipo é um problema, Phoebe – assegurou Daniel franzindo o cenho quando ela chegou à porta -. Não se dará por vencido. Conheço os de sua classe. Feriu seu orgulho, seu ego. Diga-me a verdade. Esta não é a primeira vez que ele te ataca verdade?
Daniel notou que ela fazia esforços para negá-lo, mas soube que era muito sincera para mentir.
-Chamou-me no meio da noite alguma que outra vez, e me incomodou no trabalho. Mas nunca se aproximou de mim como... Bom, como esta noite.
- O que demonstra que seguirá tentando-o - assegurou ele exalando um suspiro -. Suponho que alguma vez teve aula de defesa pessoal, verdade?
Phoebe pareceu encontrar aquela pergunta muito divertida.
- O que te faz tanta graça? - Perguntou Daniel inclinando a cabeça.
- Em meu mundo e em meu trabalho não sai nunca o tema da defesa pessoal. Sou bibliotecária. O nosso é classificar livros, não o caratê.
É obvio. A formosa, tímida e pequena Phoebe era bibliotecária. Não podia ser de outra maneira.
- Bibliotecária - repetiu ele com um sorriso.
Phoebe tratou de ler em sua expressão se ele ia zombar de sua profissão.
- Da biblioteca pública do Boston – acrescentou um tanto à defensiva-. Seção infantil - concluiu relaxando um pouco ao dar-se conta de que Daniel gostava da idéia.
- E como é que não havia bibliotecárias como você quando eu revisava os exemplares do National Geographic no oitavo ano? - Perguntou aproximando-se dela de maneira quase inconsciente - Nunca me ocorreu pensar que encontraria fotos de mulheres com os peitos nus entre os artigos. Imagine meu estupor ao vê-los em uma revista, e em outra, e em outra...
- Imagino - repetiu Phoebe com um sorriso tímido.
Daniel estava pondo-a nervosa outra vez. Mas não eram uns nervos incômodos. Eram uns nervos de emoção que lhe tingiam as bochechas de rosa. Gosto de sua reação. Talvez gostasse muito.
- Foram essas revistas as que lhe levaram a embarcar nas aventuras que tão famoso lhe têm feito? - Perguntou-lhe Phoebe.
Daniel lhe tinha posto as mãos sobre os ombros. Eram frágeis e miúdos. Não tinha sido uma decisão consciente lhe colocar as palmas ali. Como tampouco o tinha sido atraí-la para si. Mas era plenamente consciente de que os olhos da Phoebe se suavizaram em um tom caramelo e o olhavam com uma estranha mescla de rechaço e desejo.
- Totalmente. Eu ia procurando o conhecimento e...
O olhar do Daniel escorregou por sua boca e logo mais abaixo, para os suaves montículos de seus peitos que subiam e baixavam sob seu top de algodão. Seus pequenos mamilos em forma de botão lhe marcavam sob o tecido, a escassos centímetros do peito do Daniel.
-E que mais? - Sussurrou ela -, Inspiração?
- Inspiração. Sim, isso é — respondeu Daniel elevando a mão e lhe percorrendo a bochecha com os dedos-. E me deixe te dizer que nestes momentos estou totalmente inspirado.
- OH...
Sob as lentes dosóculos, as larguísimas pestanas de Phoebe se inclinaram sedutoramente. Em mudo convite.
Aquilo era um engano.
Mas a Daniel não pareceu tal enquanto inclinava a cabeça, embora à palavra ressonasse em um canto de sua mente. O que lhe parecia era que roçava o céu ao estar tão perto dela, a reclamar o beijo com o que tinha fantasiado desde que Phoebe se deu a volta com seu sorvete e o cegou com um sorriso.
Daniel lhe roçou primeiro as comissuras com os lábios em um lado, e logo no outro, lhe mostrando suas intenções, lhe dando a seu passarinho a oportunidade de sair voando.
Mas ela não saiu voando. Nem sequer levantou uma asa. E antes que mudasse de opinião, Daniel alinhou a boca com a sua e a beijou com toda sua vontade.
Voltou-lhe para a cabeça a palavra «sincera» enquanto se afundava na luxuriosa calidez do sabor da Phoebe. Sua resposta era completamente sincera. Tudo o que ela era deixou transparecer em seus beijos: Inocência, candura e bondade.
A boca tinha um sabor de baunilha, mais deliciosa que o mais doce dos sorvetes. Tinha os lábios tão suaves como às pétalas de uma rosa do verão. Daniel deslizou as mãos por seus braços e os sujeitou. Phoebe deixou escapar um fundo suspiro no que se mesclavam a indecisão e a inquietação. E quando lhe pediu que se abrisse para ele com uma suave dentada no lábio inferior, ela duvidou só um décimo de segundo antes de lhe permitir o acesso.
A ternura que sentia por Phoebe se transformou como o ar quente em um pouco mais intenso, mais exigente. Calor. Desejo. Um desejo muito mais forte do que jamais tinha experimentado lhe abriu passo no peito antes de descender rapidamente para sua virilha.
«Isto é muito», advertiu-lhe a parte racional de seu cérebro.
«Não é suficiente», contradisse-o a outra metade quando as delicadas mãos da Phoebe começaram a subir sensualmente por suas costas.
Céus. Daniel obrigou a si mesmo a levantar a cabeça e romper o contato, mas se viu obrigado a retomá-lo quando aqueles olhos sonhadores de âmbar e aqueles lábios inchados de desejo lhe pediram mais.
Problema.
Tinha um problema. E se estava afundando cada vez mais nele.
Fazia tempo que deveria ter partido. Com uma força de vontade até o momento desconhecida para ele, Daniel deixou de beijá-la. A segurou pelos ombros para manter ambos o equilíbrio, jogou a cabeça para trás e aspirou com força o ar. 
Passou um longo momento durante o qual esteve tentado a retornar ao normal, mas soube recuperar-se, e recuperar de passagem a voz.
-Bom... - Começou a dizer com voz rouca.
Surpreendeu-lhe a paixão que refletia seu tom de voz, mas decidiu passar por alto para terminar com aquilo antes de chegar mais longe.
Porque ir além de uns beijos estava fora de questão. Para o Daniel, é obvio, e para ela sem dúvida nenhuma. Phoebe Richards merecia dez vezes mais do que ele poderia lhe oferecer.
- Bom... - Repetiu esboçando um sorriso como a que lhe tivesse dedicado a uma tia solteirona -. Isto sim que é autêntica inspiração.
Phoebe não respondeu. Tinha os olhos fechados e parecia enjoada enquanto se balançava suavemente para tratar de manter o equilíbrio.
- Escuta, Phoebe, eu...
- Espera - interrompeu-o ela abrindo os olhos de repente-. Acredito que conheço o que segue. É muito tarde e tem que partir, verdade? E eu tenho que trabalhar amanhã, assim é o momento de despedir-se. Não me importa. De verdade.
Não havia dúvida de que Phoebe lhe estava facilitando as coisas. Então, por que se sentia ele tão mal?
Porque a boca dela era tão tentadora como o pecado original. Porque seus olhos eram um sussurro suave atrás do qual se adivinhavam centenas de emoções, entre elas o arrependimento.
- Estará bem, verdade?
Phoebe assentiu duas vezes com a cabeça.
- E vai a...
-... A trocar as fechaduras - interveio ela forçando um leve sorriso - Sim, já verei o que faço.
- Muito bem - disse Daniel apertando o trinco da porta com a mão -. Me encantou te conhecer.
- Sim - respondeu Phoebe assentindo de novo levemente-. A mim também. Quero dizer que também gostei de te conhecer.
Daniel olhou seu rosto durante um longo instante antes de abrir por completo a porta e sair. Ao final do atalho girou de novo, estudou aquele rosto tão incrível que não voltaria a ver jamais e tragou saliva para desfazer o nó que lhe tinha formado na boca do estômago.
- Adeus, Phoebe.
- Adeus - respondeu ela apertando a cara contra o marco da porta.
- Se cuide, tá?
- Farei. Obrigado de novo por sua ajuda.
E fechou a porta.
Enquanto caminhava para seu carro, Daniel pensou que aquilo era o final da história. Ficou sentado depois do volante durante um bom momento sem acender o motor. E quando por fim colocou a marcha atrás para sair da entrada de sua casa, experimentou a incômoda sensação de estar cometendo um tremendo engano partindo da vida da Phoebe.
-Um engano para quem, Barone? - Perguntou-se em voz alta enquanto esperava a que o semáforo ficasse verde.
Aquela era a questão. Daniel não tinha nenhuma dúvida de que aquilo era o correto para a Phoebe. À exceção do Collins, ela levava uma vida normal e tranqüila. Não o fazia falta que chegasse ele para enchê-la de buracos. Porque isso seria o que ocorreria. Quando Daniel partisse - porque sempre partia-, deixaria a pior de como a encontrou. Assim não queria começar algo que não poderia terminar sem lhe fazer dano.
Não era um presunçoso, mas tampouco estava cego. Havia sentido o modo em que Phoebe tinha reagido a seu contato. Teria-lhe resultado muito fácil levar-lhe à cama. Mas Phoebe era muito doce, muito verdadeira e muito boa para que a amassem e logo à manhã seguinte a deixassem.
Assim que aquilo era o melhor para ela.
Mas pela primeira vez em sua vida Daniel se perguntou se deixar a uma mulher, aquela mulher, era o melhor para ele.
Capítulo Quatro
-Seguro que não foi para tanto, querida.
Leslie Griffin, tão estilosa aos sessenta anos com seu cabelo castanho e sua esbelta figura, sorriu-lhe com simpatia à manhã seguinte quando viu a Phoebe golpear-se brandamente à cabeça contra sua mesa na biblioteca.
- Foi pior que isso - gemeu Phoebe exalando um suspiro enquanto apoiava a bochecha sobre o exemplar do Boston Globe que tinha aberto -. Se ao menos tivesse me engenhado isso para enlaçar três palavras juntas que não fossem «Sinto e Obrigado... »
Phoebe levantou a cabeça, tirou a capa dos óculos, as pôs e voltou a deixar cair sobre a cadeira.
-Tive a oportunidade de conhecer homem mais bonito de Boston. Ou melhor dizendo: Ao homem mais bonito do mundo. E vou e me comporto como uma estúpida. O que acontece comigo?
- Não te acontece nada. Pelo amor de Deus, esse encontro com o Jason deixaria a qualquer um nocauteado. Que canalha. Não posso acreditar que siga te perseguindo.
- Bom, não voltarei a vê-lo jamais – assegurou Phoebe colocando os cotovelos sobre a carteira e olhando fixamente o artigo da revista dedicado ao Daniel Barone-, assim suponho que não importa. E, de toda maneiras, daria igual. Não está a meu alcance.
- Já sabe que eu não gosto de nada que fale de si mesma te rebaixando.
- Não estou me rebaixando. Os fatos são os fatos. As mulheres como eu não se casam com príncipes nem com cavalheiros - assegurou a sua amiga com um suspiro-. As mulheres como eu, simples, aborrecidas, e temerosas de sua própria sombra, ficam com as sobras, não com as sobremesas. 
E isso é o que é Daniel Barone. Sim, dá-me igual a ponha essa cara - disse a Leslie sem azedume antes de continuar-. Mas é a verdade e você sabe. Ele é tudo o que diz este artigo e muito mais. É extraordinariamente atrativo. É carismático e encantador. E também é um multimilionário aventureiro que certamente tem um harém de amantes exóticas e sofisticadas.
Phoebe acariciou com o dedo polegar a foto do Daniel em que lhe via com o cabelo alvoroçado e sorriso triunfal no campo depois da sua segunda e bem-sucedida expedição ao Everest.
-Se puser tudo isso ao lado de uma bibliotecáriaque vive com um gato, que a julgar pelo que diz o artigo, é três anos maior que ele e que, além disso, tem um ex-noivo perseguidor lhe pisando os calcanhares, chegamos à conclusão de que seu mundo e o meu não colidiriam nem que houvesse uma explosão cósmica no universo.
- Mas te deu um beijo antes de ir-se, verdade? - Assinalou Leslie sem deixar-se impressionar, por seu longo discurso.
- OH, sim... - Reconheceu Phoebe fechando os olhos para recrear-se naquela lembrança.
- Pois isso quer dizer algo - assegurou sua amiga.
- Não acredito - respondeu Phoebe consultando seu relógio-. Será melhor que volte para o trabalho. Tenho uma dúzia de coisas que fazer esta manhã e, além disso, terá que preparar-se para a hora dos meninos. Você também tem que se trocar.
- Eu sei perfeitamente o que tenho que fazer porque hoje trabalho, mas o que não entendo é por que trabalha você em seu dia livre - assegurou Leslie deixando a pergunta pendurada no ar como uma acusação enquanto caminhava para a porta.
- Porque Allison me pediu que a substituísse - respondeu Phoebe elevando o queixo.
-Sempre acaba cobrindo-a em todos os turnos. É muito fácil, Phoebe. Deveria pensar um pouco em você para variar.
-Não me importa - assegurou ela encolhendo-se de ombros-. Além disso, vem-me bem o dinheiro. Daniel Barone diz que deveria trocar as fechaduras de minha casa.
- Seriamente? - Perguntou Leslie intrigada-. Porque será que esse homem se preocupa com você?
- Isso parece, mas não é de sentir saudades - apressou-se a esclarecer a sua amiga-. Se você me tivesse visto me comportar como ontem teria medo de que não fosse capaz sequer de escovar os dentes sem vigilância.
Phoebe sacudiu a cabeça em gesto de desgosto, aborrecida por sua incapacidade para haver-se comportado de outra maneira com ele.
- Mostrou para mim à mesma consideração que teria por qualquer pessoa que se encontrasse no caminho. 
Simplesmente, é um tipo amável. - Os tipos amáveis não beijam as flores nem lhes sobem a temperatura corporal só por consideração.
Phoebe ficou pensativa. Nunca tinha experimentado nada parecido aos beijos do Daniel Barone. E o certo era que não lhe pareceram beijos de lástima. Estiveram carregados de energia, calor e promessas de sedução. Nunca a tinham beijado assim. Como se fosse especial para ele, como se quisesse mais dela.
Mas ao parecer lhe tinha parecido suficiente, concluiu Phoebe fechando a revista e ficando em pé para ir procurar sua fantasia no armário. Porque o certo era que Daniel partiu.
Sim, partiu-se. E o que temia era que talvez lhe tivesse permitido levar-se com ele uma parte de seu coração. 
Sob a pressão suportável, mas, firme de sua fantasia de tartaruga, Phoebe baixou o tom de voz até imitar quase à perfeição a cadência da tartaruga Tommy. Perto de vinte meninos do pré-escolar estavam sentados no chão formando um círculo a seu redor absolutamente fascinados enquanto ela e Leslie, disfarçada de coelho Robert, interpretavam uma cena do conto.
- Mas esta é minha casa - exclamou Phoebe com a voz da tartaruga Tommy ante a absurda proposição do coelho Robert-Não posso te vender minha carapaça. Onde dormiria então? Com o que me vestiria?
A tartaruga Tommy era uma das razões pelas quais Allison tinha pedido a Phoebe que lhe fizesse o turno. Ao contrário da Allison, não se importava em vestir aquela ridícula fantasia e caminhar de quatro patas durante meia hora. Adorava aquela parte de seu trabalho. Os olhos brilhantes e emocionados dos meninos, sua risada fresca e suas exclamações de júbilo lhe levantavam sempre o ânimo.
-Não posso vender minha carapaça, verdade, meninos? -perguntou a seu público.
-Nãoooo! - Gritaram todos ao uníssono-. Não venda! Não venda!
Phoebe sorriu com doçura a uma menina morena de expressão tímida e grandes olhos marrons que permanecia de pé detrás de outros, tímida porque tinha chegado tarde.
-Olá - saudou-a Phoebe com a voz da tartaruga Tommy-. Como te chama pequena?
- Kayla - respondeu ela com vergonha.
- Olá, Kayla. Eu sou Tommy. Meninos, digam olá a Kayla.
- Olá, Kayla - repetiu o coro de meninos e meninas ressonando por toda a sala.
- Já a mim não me dizem olá?
Phoebe ficou paralisada. Aquela voz profunda e algo zombadora só podia pertencer a um homem. Ela fechou os olhos e deixou escapar um profundo suspiro que estivesse cheio de orgulho ao muito mesmo Darth Vader.
Levantou a cabeça muito devagar. Se não tivesse estado já de joelhos, ao olhá-lo tinha caído ao chão.
Estava vestido com uma camiseta negra ajustada ao corpo e calças jeans desbotadas. Tinha um ombro apoiado com ar indolente contra a dobradiça da porta e os braços morenos cruzados sobre o peito. Um sorriso maior que o estado do Texas percorria seu lindo rosto de orelha a orelha.
O que estava fazendo ali? E por que tinha que parecer o herói da capa de uma romance de amor enquanto ela tinha o aspecto de um animal que comia moscas mortas e acabava de sair de uma caixa de sapatos?
A vida não era justa.
- Digam olá ao senhor Barone, meninos – disse Phoebe obrigando-se a olhá-lo aos olhos enquanto os meninos o saudavam em coro.
Apesar dos tímidos sorrisos da Leslie e a careta zombadora do Daniel, Phoebe interpretou o resto do conto. Assim que os meninos se dispersaram pelos cantos da estadia para procurar seus livros favoritos, pensou em sair correndo. Uma coisa era que se perguntasse o que estava fazendo Daniel ali e outra muito distinta que tratasse de averiguá-lo.
Mas ao parecer ele tinha outros planos.
Daniel lhe pôs a mão diante, lhe oferecendo sua ajuda para ficar em pé, mas Phoebe se limitou a ficar de cócoras sem aceitá-la.
- Sabe da história do caracol que foi atacado por duas tartarugas? - Perguntou-lhe ele sem mais preâmbulo, provocando na Phoebe a sensação de que só o havia dito para vê-la ruborizar-se.
- Não - respondeu ela com um suspiro, decidida a lhe seguir a brincadeira -. O que lhe passou ao caracol que foi atacado por duas tartarugas?
- Porque quando a polícia pediu ao caracol que descrevesse seus assaltantes, respondeu: Não posso. Tudo ocorreu muito depressa.
- Que mau - disse Phoebe com uma careta, depois de demorar uns segundos em entender a piada.
- Sei, mas não pude me conter - confessou ele-. Além disso, você achou graça.
O certo era que sim, mas não estava disposta a admiti-lo. Não queria prolongar mais aquele encontro. Mas era evidente que Daniel sim.
- Fica muito bem neste traje - assegurou ele com voz zombadora -. E a cor é muito bonita.
- Bom, sim, o verde mofado e o marrom barro são os tons básicos de meu guarda-roupa - respondeu Phoebe suspirando com resignação ao dar-se conta de que ele não tinha intenção de partir.
Então se arriscou a olhá-lo aos olhos e começou a derreter-se ante a mescla de calor e humor que viu neles.
- Referia a este rosa - assegurou Daniel lhe acariciando levemente a bochecha com o dorso de um dedo-. É muito favorecedor.
Céu Santo.
Sentia-se indefesa ante seu sorriso e desorientado por sua proximidade, assim Phoebe retrocedeu para sua única linha de defesa. Estirou os ombros e, encolhendo o queixo, meteu-se dentro da carapaça da tartaruga Tommy.
- Isso sim que é meter-se no personagem - escutou-o dizer-. Eu gosto das tartarugas com, caráter. Olá? Há alguém aí? - Perguntou golpeando brandamente a carapaça ao ver que ela não respondia.
Por que não se limitava a partir e a deixava sofrer sua vergonha em martirizado silêncio? Embora, visto de outra maneira, por que não se armava ela de valor e se enfrentava à situação?
- Tem a virtude de me pilhar sempre em meus melhores momentos - assegurou com uma careta de decisão, enquanto tirava a cabeça da carapaça -, Vamos arrematar... Tenho previsto me pôr uma máscara de barro as sete em ponto. É bem-vindo.
- Em realidade estava pensando, mas em um jantar - respondeu Daniel lhe estendendo as mãos para ajudá-la a ficar de pé.
- Um jantar?
Estava-a convidando para jantar?
- As tartarugas tambémcomem, não? A que hora sai do trabalho?
- Às cinco. Sai as cinco - respondeu Leslie, que tinha estado observando a cena em silêncio -. Sou Leslie Griffin - apresentou-se tirando as orelhas de coelho e estendendo o braço.
- Daniel Barone - respondeu ele com um sorriso, lhe estreitando a mão antes de girar-se de novo para a Phoebe-. Está bom às sete e meia? A menos, claro, que tenha outros planos...
- Só a máscara de barro - murmurou Phoebe ao notar o olhar de advertência da Leslie cravada em sua nuca.
- Estupendo. Passarei para te buscar.
- Como deve vestir-se? - Perguntou Leslie ao ver que Phoebe ficava quieta, muito confusa para pensar.
 - Algo informal - respondeu Daniel dando a volta ao chegar à porta-. Faz muito calor para vestir-se para jantar.
E, depois de lhe dedicar outro sorriso capaz de derreter as pedras e aumentar a temperatura da sala até os cinqüenta graus, partiu.
- Sim, faz bastante calor - murmurou Leslie utilizando as orelhas de coelho para abanar-se teatralmente-. Meu Deus, Phoebe. É incrível.
- Não estou preparada para falar contigo disto neste momento - assegurou sua amiga com gesto de preocupação.
- Posso esperar - respondeu Leslie com uma careta de perita conhecedora do tema -. Mas na segunda-feira quero todos os detalhes.
A risada sonora de Leslie acompanhou a Phoebe no caminho para seu escritório. Ao chegar, fechou sonoramente a porta atrás dela.
Uma vez ali, saiu do disfarce de tartaruga e se deixou cair contra a parede. Apartou o cabelo da cara com dedos rígidos, olhou fixamente ao teto e se perguntou se o coração lhe teria pulsado alguma vez mais depressa e com tanta força como naquele instante.
Phoebe levou a mão ao peito e respirou fundo. Daniel Barone a tinha convidado para sair. E num sábado, dia no qual provavelmente teria centenas de coisas melhores que fazer. Centenas de mulheres com as que poderia ficar. Mas tinha ido ver a ela. Tinha paquerado com ela e lhe tinha sorrido. A ela. E queria levá-la para jantar. A ela.
Quando Daniel tirou o carro do estacionamento da biblioteca para dirigir-se a casa de seus pais pensou no modo em que tinha fracassado seu plano de manter-se afastado da Phoebe.
Não deveria ter dormido tão tarde na noite anterior. E ao despertar pela manhã teria que haver-se dado conta de que em realidade não estava conduzindo sem direção quando se encontrou na larga avenida que passava na frente da biblioteca pública de Boston.
Teria que haver-se limitado a comprovar que Phoebe estava bem. Depois de tudo, aquela tinha sido sua desculpa em um princípio para parar na biblioteca. Só queria assegurar-se de que se encontrava bem, mas tinha terminado por convidá-la para jantar. Não o tinha planejado. 
Simplesmente tinha ocorrido, e não teria que ter ocorrido. Do mesmo modo que não teria que havê-la beijado a noite anterior. Nem pensar nisso tanto como tinha pensado.
O primeiro que teria que ter feito, pensou com remorso ao ver o rosto de sua mãe iluminando-se ao abrir a porta, era passar por ali.
- Daniel, carinho, é maravilhoso te ter em casa!
- É maravilhoso estar de volta, mamãe - respondeu ele abraçando-a e fechando a porta atrás de si.
- Está muito bonito.
Sandra Barone era uma jovem de cinqüenta e nove anos. Era alta e esbelta, levava o cabelo loiro cortado com estilo e seus olhos cinza eram vivos e intuitivos.
- Tão adulador como sempre - disse sua mãe fazendo um gesto com a mão para lhe subtrair importância ao comentário-. Seu pai vai sentir um desgosto por não te ver. Teve que ir ao escritório.
- Não importa. Logo irei buscá-lo – prometeu Daniel.
- Me conte, quando chegou? E o que é mais importante: quanto tempo pensa em ficar?
Durante oito anos aquelas tinham sido sempre as palavras de recebimento.
- Cheguei ontem à noite e ficarei um tempo.
- OH, Daniel! - Exclamou sua mãe tomando-o do braço e guiando-o para o salão -, já sei que está farto de ouvir nos dizer isso, mas a seu pai e nós gostaríamos tanto que sentasse a cabeça, retornasse a Boston e terminasse a carreira de direito... Sorveteria Baronessa poderia aproveitar seu cérebro privilegiado em sua equipe de advogados. Além disso, estou preocupada contigo. Ambos o estamos.
Sua mãe se deteve bruscamente e sacudiu a cabeça com recriminação.
- Já estou outra vez te perturbando. Prometi a mim mesma que ia deixar de fazê-lo, mas é que lhe vemos tão pouco...
- Sei. Não se preocupe - tranqüilizou-a Daniel como sempre fazia-. Conte-me, o que aconteceu desde que estive em casa o mês passado? Casou-se alguém ou nasceu algum bebê?
Era uma pergunta lógica. A maioria de seus primos e inclusive sua irmã pequena, Emily, agora prometida, arrojaram-se à piscina do amor eterno a um ritmo alarmante nos últimos meses.
- OH, carinho, que curioso que o pergunte! Será melhor que se sente para escutar isto. Tenho uma notícia que te vai deixar sem fala.
Efetivamente, a notícia o tinha deixado mudo. Isso foi o que pensou Daniel mais tarde quando foi em busca de sua irmã Claudia ao hotel Ritz-Carlton, onde sua mãe lhe disse que estaria coletando recursos para alguma de suas causas.
Serviu-se de uma soda enquanto tratava de assimilar o que sua mãe lhe tinha contado e observou a Claudia no balcão do bar enquanto ela deslumbrava a um par de executivos para lhes tirar uma substanciosa contribuição para construir um centro de apoio. Viu-a tão animada como sempre, com seus olhos azuis brilhantes enquanto se apartava o cabelo loiro dos ombros e retornava ao seu lugar. Daniel pensou com orgulho que ninguém era capaz de cruzar uma habitação como o fazia Claudia.
Não se aproximou dela até que os homens não se partiram com as carteiras bastante leves de peso. Ela estava fazendo números e olhando uns papéis que tinha tirado de sua maleta quando o viu.
- Daniel! - Exclamou movendo os braços - De onde saiu? Quanto tempo está aqui? Meu Deus! Que alegria te ver. Sente-se. Sente-se e me conte.
- Bem - começou a dizer ele depois de que se puseram ao dia-. Agora que já sei no que está trabalhando, importa-se me contar quem é o branco de seu próximo projeto pessoal?
- Não sei do que está falando - assegurou Claudia olhando-o com ar de suficiência.
Muito bem. Assim não queria lhe contar com quem saía nem se estava saindo com alguém, por isso Daniel deduziu que tinha dado no prego. Sua irmã tinha ultimamente tendência a sair com homens problemáticos. Ao Daniel preocupava que ainda arrastasse as seqüelas de sua ruptura com o Jonathan Norman dois anos atrás e preferisse ocupar-se dos problemas de outros antes que dos seus.
- Foi ver papai e mamãe? - Perguntou-lhe Claudia, deixando claro que sua vida amorosa não era tema de conversa.
O Daniel pareceu bem e decidiu lançar-se de cheio a falar da bomba que sua mãe acabava de lhe lançar.
- Quero estar seguro de haver entendido bem - começou a dizer-. É verdade que acaba de aparecer uma prima que não conhecíamos?
- Karen Rawlins - confirmou-lhe - Claudia assentindo com a cabeça-. Esse é ao menos seu nome oficial. Mas o certo é que seu pai, que vivia sob o nome do Timothy Rawlins, era em realidade o irmão gêmeo de papai.
- E nosso tio Luke - sussurrou Daniel, ainda aturdido pela notícia-. Faz tanto tempo que desapareceu que nunca penso nele.
Ao irmão gêmeo de seu pai o tinham raptado do hospital ao pouco tempo de nascer. Após não haviam tornado a vê-lo e nem sabiam noticias dele. Até este momento.
- Como nunca o conhecemos, parecia, mas um personagem de livro que papai mencionava quando ficava triste.
- Mas é de verdade - apontou Claudia -. As pessoas que o raptaram o criaram com o nome do Timothy Rawlins. Logo se casou e teve a Karen. Mas quando os pais da Karen morreram o ano passado em um acidente de tráfego, ela começou a questionar a verdade em relação à identidade de seu pai.
- Mamãe me contou que Karen encontrou o jornal de sua avó e por isso surgiram as dúvidas - disse Daniel inclinando-se para diante na cadeira.
- Isso foi o que a impulsionou- respondeu sua irmã ao tempo que se apartava o cabelo da cara -, mas como os avós da Karen também tinham morrido não tinha a quem lhe perguntar sobre seu passado. Deixou-o passar durante um tempo, mas então viu no periódico uma fotografia da partida de voleibol que jogamos na última reunião familiar, lembra-te? Ganhamos nós as garotas - recordou-lhe Claudia com uma careta-. Bom, pois Karen ficou sem fala quando viu papai, porque ao parecer é o retrato vivo de seu pai.
- Me tinha esquecido que papai e o tio Luke eram gêmeos idênticos - sussurrou Daniel pensando em seu próprio irmão gêmeo, Derrick, que era tão oposto a ele como o dia e a noite.
- Karen começou a fazer averiguações. Entre o jornal e as resenhas de periódicos antigos sobre o seqüestro do tio Luke, reuniu todas as peças e deduziu que tinha relação com o clã dos Barone.
- Que loucura.
- Me parece fantástico. Quando a conhecer te dará conta de que é uma Barone. Tem nossos genes. Além disso, é encantadora, embora agora mesmo me pareça que anda um pouco perdida. Está procurando algo ao que agarrar-se. Papai está muito emocionado com todo o assunto.
- Isso me falou mamãe. Que está triste porque agora sabe que Luke morreu, mas ao mesmo tempo é feliz por ter recuperado uma parte de seu gêmeo.
- Te falou mamãe da grande festa de bem-vinda que está preparando para a Karen?
- É obvio. Deixou-me muito claro que não posso faltar. Não se preocupe. Ali estarei.
A festa seria realizada em duas semanas. Daniel não tinha previsto inicialmente ficar tanto tempo. Por muitas razões. Mas não tinha contado com uma absurda tartaruga de bochechas rosadas.
-E falando de gêmeos, viu já ao Derrick?
Não. Daniel não tinha visto ainda a seu irmão, e por isso, depois de despedir-se da Claudia, foi diretamente à fábrica da Baronessa no Brooklin. Quando voltava para casa sempre fazia a mesma ronda, e dado que Derrick e sua outra irmã, Emily, trabalhavam na direção de qualidade um como vice-presidente e a outra como sua secretária, mataria dois pássaros de um tiro.
- Não posso acreditar que Derrick te tenha feito trabalhar num sábado - exclamou Daniel com uma careta quando Emily levantou a cabeça da mesa e o olhou -. O que opina seu bombeiro disto?
- O Shane está ocupado esta vez com turno de fim de semana - respondeu sua irmã levantando-se para abraçá-lo-. Assim está melhor.
- E como é a vida com um bombeiro? - Perguntou Daniel olhando-a aos olhos-. Está bem também?
- Melhor que bem - assegurou sua irmã ruborizando-se-. Dentro de cinco meses serei a senhora Shane Cummings, e isso será ainda melhor.
- Ali estarei - disse Daniel lhe beliscando brandamente à bochecha, encantado de vê-la tão apaixonada-, Não perderia isso por nada do mundo. Está Derrick por aqui? - Perguntou olhando a seu redor.
- Derrick sempre está por aqui - grunhiu a voz de seu irmão gêmeo a suas costas-. Não como você. 
Daniel se deu a volta. Seu irmão estava de pé na soleira da porta de seu escritório, vestido com seu habitual traje de jaqueta e a expressão dura.
Ao Daniel resultava difícil em ocasiões acreditar não só que fossem gêmeos, mas também compartilhassem inclusive os mesmos genes. Às vezes lhe dava a impressão de que quão único tinham em comum era o sobrenome Barone e a cor de cabelo. Derrick tinha os olhos marrons, enquanto que os do Daniel eram azuis, e era de caráter áspero e difícil em comparação com o aberto que era seu irmão.
- Bom - respondeu Daniel com um sorriso amigável-, alguém tem que ser o vago da família.
- Quem disse foi você, não eu — contra-atacou seu irmão lhe devolvendo um sorriso duro.
- Eu também me alegro muito de voltar a te ver, Derrick - assegurou Daniel girando a vista para a Emily -. Vai melhorando, não acredita?
- Já está bem, meninos - interveio ela olhando a um e a outro alternativamente -. Se neste momento entrasse alguém que não lhes conhecesse pensaria que se odeiam.
Mais tarde, quando Daniel tirou o carro do estacionamen to e recordou sua conversa com Derrick, pensou que assim era efetivamente. Qualquer um pensaria que se odiavam, embora tivessem feito um esforço por conter-se e comportar-se de maneira civilizada diante da Emily.
As coisas sempre tinham sido assim entre eles: Tensas e hostis. Ultimamente a situação tinha piorado. Derrick sempre estava à defensiva e respondia com amargura. Sua má relação era um dos motivos pelos quais Daniel nunca ficava muito tempo quando voltava para casa. Ocorreu-lhe pensar então que talvez seu irmão tivesse sido uma das razões pelas quais partiu a primeira vez. E a frustração que sentia ao comprovar que a coisas com ele não pareciam mudar nunca era também uma das razões pelas quais estava desejando que chegasse o momento de sair para jantar com certa bibliotecária.
A pura verdade era que tinha sido incapaz de deixar de pensar nela embora seguisse sem ter muito clara a razão. Enquanto conduzia pela cidade, Daniel pensou que talvez tivesse algo que ver com o fato de que Phoebe conseguia lhe arrancar um sorriso pelo mero feito de existir.
Capítulo Cinco
Quando Daniel terminou a visita a seu pai e a um par de amigos casados, já estava muito tarde. Começava inclusive a anoitecer. Fez uma parada técnica em seu apartamento para tomar banho, barbear-se e vestir uma camiseta limpa e uma calça Sport. Logo colocou os pés em uns cômodos mocasins, agarrou as chaves e se dirigiu a casa da Phoebe sem deixar de pensar em por que se preocupava tanto por ela.
E pelo caminho teve uma revelação.
- Bingo - disse em voz alta, ao tempo que golpeava brandamente o volante com a mão.
Durante os últimos anos tinha conhecido, convidado para jantar e dormido com algumas das mulheres mais glamurosas e desejadas do mundo. Entre elas, uma modelo sueca, uma atriz americana e uma princesa austríaca. Todas eram sofisticadas e seguras de si mesmas. Tinham constituído uma provocação e lhe tinham devotado noites de louca paixão. Mas não tinham sido confortáveis.
Isso era o que Phoebe lhe dava. Conforto. Daniel pensou que era como comida caseira para sua alma. Não pôde evitar uma careta ao pensar naquela metáfora, mas basicamente consistia nisso.
Teria passado em total uma hora, hora e meia com ela durante seus dois breves encontros. Apenas a conhecia, e, entretanto o fazia sentir uma espécie de paz, uma plenitude, uma comodidade que não tinha experimentado até então nem sequer com sua própria família.
- Comida caseira - murmurou em voz alta quando estacionou diante de sua casa.
Daniel seguia refletindo sobre aquela idéia quando Phoebe lhe abriu a porta. Ele a olhou e então qualquer tento de associá-la com a sopa de frango e o bolo de maçã se esfumou como por arte de magia. Igual a sua capacidade de falar.
Estava preciosa.
- Olá - saudou-o ela ao ver que Daniel ficava ali quieto, cativado por aquela visão.
Inconsciente do sorriso que lhe desenhava nos cantos dos lábios, Daniel escorregou o olhar por seu vestido do verão amarelo limão. Era suave e feminino, e de um tecido tão vaporoso como a incerteza que refletiam seus olhos.
Phoebe não era consciente nem por indício de quão sensual estava. Não tinha nem idéia de que embora aquele vestido sem mangas tivesse o corte por debaixo do peito e não marcava a cintura, havia algo indubitavelmente sedutor nele, um pouco essencialmente romântico.
Uma fila de delicados botões em forma de concha ia dos joelhos até aquele vale quente e misterioso que havia entre seus seios. Apesar de sua aparência ingênua, a possibilidade daqueles botões despertou no Daniel uma imagem muito erótica. Um só movimento do dedo e aqueles peitos luxuriosos que Phoebe tinha guardado cuidadosamente sob uma camiseta ampla e uma carapaça de tartaruga se esparramaria quentes e pesados sobre suas mãos.
Mas as surpresas não acabavam ali. Daniel se deu conta de que teve muitos desconfortos por ele, e além de prazer experimentou certa sensação de culpa.
Frisou o cabelo. Umas mechas suaves e sedosas caíam a cada lado do rosto

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