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INSTITUTO MACAPAENSE DE ENSINO SUPERIOR
ANA PAULA PINHEIRO PEREIRA DE BARROS
PSICOLOGIA NA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR
MACAPÁ-AP
2011
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ANA PAULA PINHEIRO PEREIRA DE BARROS
PSICOLOGIA NA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR
Relato de Experiência em Estágio na Ênfase B - Hospitalar da turma P10NA sob a orientação do professor Nazir Rachid Filho para a Conclusão do Curso de Psicologia.
MACAPÁ-AP
2011
SUMÁRIO
	1. RESUMO
	03
	2. CAPÍTULO I - DESCRIÇÃO DA INSTITUIÇÃO....................................................
	04
	3. CAPÍTULO II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................
	05
	II.4 - O ENVELHECER NO BRASIL E SUA RELAÇÃO COM O AVC..................
	06
	II.5 - PRINCIPAIS FATORES DE RISCO....................................................................
	07
	II.6 - TRATAMENTO E PREVENÇÃO........................................................................
	08
	II.8 - A REABILITAÇÃO DO PACIENTE...................................................................
	09
	II.9 - CONCEITO DE MULTIDISCIPLINARIDADE..................................................
	11
	II.11 - A INTEGRAÇÃO DE PESSOAS E SABERES................................................
	12
	II.12 - PROFISSIONAIS PARTICIPANTES NO PROCESSO DE REABILITAÇÃO E SUAS PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES..................................................................
	14
	II.17 - DIFICULDADES ENCONTRADAS PELA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR.
	18
	4. CAPÍTULO III - ANAMNESE ADULTO.................................................................
	20
	III.1 - DADOS GERAIS..................................................................................................
	20
	III.2 - EXAME MENTAL...............................................................................................
	22
	III.3 - IMPRESSÃO DIÁGNÓSTICA...........................................................................
	24
	III.7 – METODOLOGIA.................................................................................................
	25
	III.8 - HIPÓTESE DIAGNÓSTICA................................................................................
	25
	III.9 - PLANO DE INTERVENÇÃO..............................................................................
	25
	III.10 - AVALIAÇÃO PROGNÓSTICA........................................................................
	26
	III.11 - SEGUIMENTO CLÍNICO.................................................................................
	27
	III. 12 - O PAPEL DO PSICOTERAPEUTA SOB A ÓTICA DA GESTALT............
	27
	5. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................
	29
	6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................
	30
	
	
 
RESUMO: Optou-se por realizar um estudo de caso de uma cliente, vítima de dois episódios de Acidente Vascular Cerebral, que pôde contar com um serviço multidisciplinar durante o período em que recebeu atendimento no Centro de Reabilitação do Amapá – CREAP. Trabalhar segundo um enfoque multidisciplinar significou oferecer à cliente um suporte mais amplo que facilitasse seu processo rumo à tão almejada reabilitação. Constituiu-se também um desafio, visto que a prática multidisciplinar representou o trabalho de um conjunto de profissionais com suas variadas teorias e métodos técnicos, que não convergiram para uma mesma ótica, embora tenham elegido um objetivo em comum. Para uma melhor intervenção junto aos clientes do Centro, sugeriu-se a promoção de reuniões formais e informais entre os profissionais em si e destes para com e os clientes, com o objetivo de identificar e apresentar os problemas para definir, juntamente com os clientes e familiares, os objetivos a serem alcançados em curto e em longo prazo. O senso de multidisciplinaridade necessitou ser mais bem explorado e praticado, com o intuito de tornar mais eficiente suas contribuições e alcance mais breve de seus objetivos. Um possível agravante em relação às dificuldades em se trabalhar em conjunto com os demais profissionais pode ser a condição do estagiário em não assumir uma postura profissional e uma linguagem compatível com a dos demais profissionais. Em relação à dificuldade de adesão da cliente ao tratamento, lançou-se a hipótese que, por ser um serviço público, há certa facilidade em conseguir atendimento quando for conveniente. Outra hipótese pode ser a força que a figura do médico representa na consciência da comunidade de forma geral, sendo uma recomendação deste interpretada como uma ordem. Este relatório pode fornecer informações pertinentes em atuação multidisciplinar na Área da Saúde. Vem, por conseqüência, demonstrar a realidade que pode opor-se à teoria estudada na academia e, assim, ser uma fonte de informações para futuros estagiários, que buscam informações sobre o papel do Psicólogo Hospitalar e da atuação dos estagiários na referida área.
Palavras-chave: Psicologia Hospitalar, Acidente Vascular Cerebral – AVC, Equipe Multidisciplinar.
Acadêmica: Ana Paula Pinheiro Pereira de Barros Turma: P10NA Curso: Psicologia.
CAPÍTULO I - DESCRIÇÃO DA INSTITUIÇÃO
CENTRO DE REABILITAÇÃO DO AMAPÁ - CREAP
SERVIÇOS DESENVOLVIDOS:
SERVIÇO SOCIAL - desenvolve suas atividades auxiliando o paciente e/ou seus familiares no aspecto social. Fazendo visitas domiciliares quando necessário. Atende solicitações da população com fornecimento de material ortopédico (órtese e prótese).
PSICOLOGIA – sua atuação visa contribuir para a busca do equilíbrio emocional do paciente. A clientela para o atendimento são crianças, adolescentes, adultos, idosos e família.
FISIOTERAPIA – realiza serviços especializados, atendendo pacientes de todas as idades, nas áreas de traumatologia, neurologia, fisioterapia respiratória, fisioterapia aquática, contemplando ainda o programa órtese e prótese, que fornece materiais, equipamentos e treinamento para o uso dos aparelhos.
TERAPIA OCUPACIONAL – tem o objetivo de proporcionar independência física, funcional e social ao paciente de reabilitação. Especialidade desenvolvida nas áreas de neurologia, traumatologia, reumatologia e pediatria. Atuando na clínica essencial onde atende crianças de 0 a 3 anos, clínica infanto-juvenil, de 4 a 17anos e adultos.
FONOAUDIOLOGIA – atua na habilitação e reabilitação de pessoas de diversas idades, com problemas de comunicação trabalhando nas áreas de neurologia, deficiência auditiva, voz, fala, linguagem oral/escrita, distúrbios de deglutição, má formações craniofaciais e exames da audição.
I.2- CARACTERIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DO CREAP
I.2.1 – Caracterização Geral
A instituição onde foi realizado o estágio desenvolve uma série de atividades variadas em uma visão do ser humano como um ser integrado, adotando uma visão holística em relação ao sujeito. Dentre os vários serviços disponibilizados, cabe destacar seus principais expoentes:
I.2.2 – Caracterização do Serviço de Psicologia 
A inserção da psicologia nas instituições de saúde já ocupou vários debates desde há muitas décadas. Refere-se ao papel do psicólogo e da psicologia na atenção e assistência à saúde, à integração do conhecimento psicológico às ações dos profissionais da saúde - desde a compreensão do processo saúde-doença, passando pelo planejamento do sistema de atenção e pelas intervenções na instituição de saúde e junto aos vários âmbitos do sistema, até a prestação de assistência psicológica a indivíduos e grupos de usuários.
II- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
II.1 - ALGUNS PONTOS ADICIONAIS SOBRE A ANAMNESE
O entrevistador deve-se interessar tanto pelos sintomas objetivos, como pela vivência subjetiva do paciente em relação àqueles sintomas,assim como também da ênfase nas informações de familiares e parentes e as visões subjetivas de cada um, pois muitas vezes, as informações fornecidas por um “informante” podem revelar dados mais confiáveis, mais claros e significativos.
No caso da cliente, na ausência de um membro da família que fornecesse maiores informações, a própria foi responsável por conseguir dar o máximo de informações que estão contidas neste relatório.
II.2 - A PRIMEIRA ENTREVISTA
A entrevista inicial é considerada um momento crucial no diagnóstico e tratamento em saúde mental. Esse primeiro contato, quando bem conduzido, deve produzir no paciente uma sensação de confiança e esperança no alívio do seu sofrimento. Do contrário, quando as entrevistas iniciais são desencontradas e desastrosas, na qual o profissional é, involuntariamente ou não, negligente ou hostil, são seguidas na maioria das vezes, no abortamento do tratamento. No momento inicial, o olhar, e com ele, toda a sua comunicação não verbal, já tem seu valor substancial, pois é nele que se inclui toda a carga emocional de ser visto, do gesto, da postura, das vestimentas, do modo de sorrir ou de expressar os seus sentimentos.
Esse primeiro contato e a primeira impressão que o paciente produz no entrevistador é na verdade, o produto de uma mescla de muitos fatores, como a experiência clínica, transferência e contratransferência e valores pessoais e preconceitos inevitáveis que o profissional, querendo ou não, carrega consigo.
II.3 - A ENTREVISTA COM O PACIENTE
O domínio da técnica de realizar entrevistas é o que qualifica o profissional habilidoso (Sullivan, 1983), sendo um atributo fundamental e insubstituível do profissional de saúde. A habilidade do entrevistador, de início, revela-se pelas perguntas que formula, por aquelas que evita formular e pela decisão de quando e como falar ou apenas se calar e ouvir.
O profissional que conduz a entrevista deve também estabelecer uma relação empática e ao mesmo tempo útil do ponto de vista humano, além de saber acolher e ouvir o sofrimento do indivíduo, escutando o doente em suas dificuldades e idiossincrasias (maneira própria de ver, sentir e reagir de cada um). Além de paciência, respeito e empatia, o profissional necessita de uma certa têmpera (moderação, equilíbrio) e habilidade para
estabelecer limites aos pacientes invasivos ou agressivos, e assim proteger-se e proteger o conteúdo da entrevista.
Às vezes uma entrevista bem conduzida é aquela onde o profissional fala pouco e ouve muito o paciente, outras vezes, a situação exige que o entrevistador seja mais ativo, falando mais e fazendo mais perguntas. Isso varia muito e função: Do paciente; sua personalidade, seu estado mental e emocional. Às vezes o entrevistador precisa ouvir muito, pois o paciente preciso muito falar, desabafar. Outras vezes, o entrevistador deve falar mais, para que o paciente não se sinta muito tímido ou retraído.
Neste caso em questão, a cliente comunicou-se de forma satisfatória, recebendo e transmitindo informações e não apresentando dificuldades para tal. No entanto recordar-se e expressar seus sentimentos constituíram-se como um déficit a ser melhorado.
II.4 - O ENVELHECER NO BRASIL E SUA RELAÇÃO COM O AVC
O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial. Os países em desenvolvimento como o Brasil, vêm apresentando a maior taxa de crescimento da população.
Estima-se que para o ano 2025 demonstram que o Brasil terá a sexta maior população idosa do mundo, com cerca de 32 milhões de pessoas com idade acima de 60 anos.
Este crescimento pode ser exemplificado pelo aumento da participação da população idosa nacional de 4%, e 1940, para 9%, em 2000. Este aumento da expectativa de vida tem como conseqüência a predominância de doenças causa de morbi-mortalidade em todo mundo.
Dentre as doenças cardiovasculares, tem papel de destaque as cérebro-vasculares com alta prevalência mundial. Estima-se que haja 500.000 casos novos ou recorrentes de Acidente Vascular Cerebral (AVC) por ano nos Estados Unidos da América (EUA), e destes 150.000 evoluem para o óbito. Há também, aproximadamente 3 milhões de indivíduos sobreviventes de episódios de AVC e com algum grau de incapacitação.
O idoso que sofreu AVC, após o período de internação hospitalar, pode retornar ao lar com seqüelas físicas e emocionais, que comprometem a capacidade funcional, a independência e autonomia e, também, podem ter efeitos sociais e econômicos que invadem todos os aspectos da vida.
Depois de instaladas, as doenças e incapacidades podem ser melhoradas por meio de ações de reabilitação que as equipes de profissionais na área da saúde podem realizar para permitir aos idosos manterem-se ativos em seu meio social e terem boa qualidade de vida física e psicológica.
A reabilitação deve ter uma ação integrada e multidimensional de uma equipe multidisciplinar. É um processo para o desenvolvimento da máxima capacidade funcional e tem como objetivo diminuir o comprometimento imposto pela disfunção, promovendo um modo de vida mais saudável.
Antes de explanar sobre a reabilitação, é importante destacar os principais fatores de risco para o A.V.C. para melhor compreender o estilo de vida que a cliente possuía antes dos episódios. Também se fazem importantes informações a cerca de tratamento, prevenção, bem como das principais queixas trazidas pela cliente.
II.5 - PRINCIPAIS FATORES DE RISCO
HIPERTENSÃO ARTERIAL: é o principal fator de risco para AVC. Na população, o valor médio é de “12 por 8”; porém, cada pessoa tem um valor de pressão, que deve ser determinado pelo seu médico. Para estabelecê-lo, são necessárias algumas medidas para que se determine o valor médio. Quando este valor estiver acima do normal daquela pessoa, tem-se a hipertensão arterial. Tanto a pressão elevada quanto a baixa são prejudiciais; a melhor solução é a prevenção. Geralmente, é preciso cuidar-se sempre, para que a pressão não suba inesperadamente. A hipertensão arterial acelera o processo de aterosclerose, além de poder levar a uma ruptura de um vaso sangüíneo ou a uma isquemia.
TABAGISMO: O hábito é prejudicial à saúde em todos os aspectos, principalmente naquelas pessoas que já têm outros fatores de risco. O fumo acelera o processo de aterosclerose, diminui a oxigenação do sangue e aumenta o risco de hipertensão arterial. 
CONSUMO EXCESSIVO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS: quando isso ocorre por muito tempo, os níveis de colesterol se elevam; além disso, a pessoa tem maior propensão à hipertensão arterial.
CONDIÇÕES DE VIDA: Uma pesquisa da Associação Americana Derrame, sugere que pessoas solteiras ou infelizes no casamento correm mais risco de sofrer AVC.
IDADE: quanto mais idosa uma pessoa, maior a sua probabilidade de ter um AVC. Isso não impede que uma pessoa jovem possa ter. O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma doença que pode ocasionar incapacidade funcional e levar ao óbito.
II.6 - TRATAMENTO E PREVENÇÃO
Geralmente existem três estágios de tratamento do acidente vascular cerebral: tratamento preventivo, tratamento do acidente vascular cerebral agudo e o tratamento de reabilitação pós-acidente vascular cerebral. 
O tratamento preventivo inclui a identificação e controle dos fatores de risco. A avaliação e o acompanhamento neurológicos regulares são componentes do tratamento preventivo bem como o controle da hipertensão, da diabete, a suspensão do tabagismo e o uso de determinadas drogas (anticoagulantes) que contribuem para a diminuição da incidência de acidentes vasculares cerebrais. Inicialmente deve-se diferenciar entre acidente vascular isquêmico ou hemorrágico. 
O tratamento agudo do acidente vascular cerebral isquêmico consiste no uso de terapias antitrombóticas (contra a coagulação do sangue) que tentam cessar o acidente vascular cerebral quando ele está ocorrendo, por meio da rápida dissolução do coágulo que está causando a isquemia. A chance de recuperação aumenta quanto mais rápida for a ação terapêutica nestes casos. Em alguns casosselecionados, pode ser usada a endarterectomia (cirurgia para retirada do coágulo de dentro da artéria) de carótida. O acidente vascular cerebral em evolução constitui uma emergência médica, devendo ser tratado rapidamente em ambiente hospitalar. 
A reabilitação pós-acidente vascular cerebral ajuda o indivíduo a superar as dificuldades resultantes dos danos causados pela lesão. 
O uso de terapia antitrombótica é importante para evitar recorrências. Além disso, devem-se controlar outras complicações, principalmente em clientes acamados (pneumonias, tromboembolismo, infecções, úlceras de pele) onde a instituição de fisioterapia previne e tem papel importante na recuperação funcional do cliente. 
As medidas iniciais para o acidente vascular hemorrágico são semelhantes, devendo-se obter leito em uma unidade de terapia intensiva (UTI) para o rigoroso controle da pressão. Em alguns casos, a cirurgia é necessária com o objetivo de se tentar a retirada do coágulo e fazer o controle da pressão intracraniana.
II.7 - PRINCIPAIS QUEIXAS FÍSICAS RELATADAS
PERDA SENSITIVA: 
A dormência ocorre mais comumente junto com a diminuição de força – fraqueza – , e da dor, confundindo o cliente, tornando os relatos de perda da sensibilidade meramente subjetivos.
LINGUAGEM E FALA: 
Comumente os pacientes apresentam alterações de linguagem expressiva (déficit na repetição, conversa espontânea e/ou dirigida, ecolalia, jargão...) e na linguagem compreensiva, fonoarticulação (apraxia de fala);. Assim alguns clientes apresentam fala curta e com esforço, acarretando muita frustração (consciência do esforço e dificuldade para falar). Alguns clientes apresentam uma outra alteração de linguagem, falando frases longas, fluentes, fazendo pouco sentido, com grande dificuldade para compreensão da linguagem. Familiares e amigos podem descrever ao médico este sintoma como um ataque de confusão ou estresse.
II.8 - A REABILITAÇÃO DO PACIENTE
A reabilitação é o conjunto de procedimentos que visam restabelecer, quando possível, uma função perdida pelo paciente temporária ou permanentemente, realizada por uma equipe multidisciplinar, coordenada preferencialmente pelo Médico Fisiatra ou Fisioterapeuta.
“a reabilitação implica na recuperação dos pacientes ao maior nível físico, psicológico, e de adaptação social possível. Isso inclui todas as medidas que pretendem reduzir o impacto de inabilidade e condições de desvantagem e permitir que as pessoas deficientes atinjam uma integração social ótima.” (OMS, 1980 in apud ABRISQUETA-GOMEZ e SANTOS, 2006).
Com relação ao paciente acometido pelo AVC, os objetivos de reabilitação são:
a - Prevenir complicações onde as mais comuns são as deformidades. Com a paralisação dos músculos e a instalação de uma rigidez (chamada de espasticidade) nas partes do corpo afetadas, ocorre a perda da mobilidade das articulações, que passam a adotar posições erradas, ficando deformadas e impedindo o paciente de realizar certos movimentos, como estender os joelhos e cotovelos, andar, flexionar os braços, etc.
Outras complicações comuns são as síndromes álgicas (dores difusas pelo corpo), o ombro doloroso, doenças pulmonares (broncopneumonia), a trombose venosa profunda, as escaras (feridas formadas pela pressão contínua em um determinado ponto), entre outras. Todas estas complicações podem ser evitadas através da movimentação com exercícios corretos, com uso de órteses (aparelhos para manter os ombros posicionados corretamente), procedimentos visando diminuir a espasticidade e uso de medicamentos para dor, prescritos pelo médico.
b - Recuperar ao máximo as funções cerebrais comprometidas pelo AVC, que podem ser temporárias ou permanentes. Isto pode ser feito através do atendimento precoce ao paciente, tanto do ponto de vista clínico quanto reabilitacional, através da realização de exercícios, treino de atividades e uso de equipamentos especiais que ajudem a preservar os movimentos e a saúde das articulações.
É conveniente destacar que clientes vítimas de A.V.C. recebem atendimento prioritário no Centro de Reabilitação do Amapá – CREAP.
c - Devolver o paciente ao convívio social, tanto na família quanto no trabalho, reintegrando-o com a melhor qualidade de vida possível.
De um modo geral, alguns princípios de reabilitação podem ser iniciados no primeiro ou segundo dia do AVC, como posicionamentos adequados e movimentos passivos, visando prevenir complicações secundárias, com o paciente ainda hospitalizado.
Ao sair do hospital, o paciente deve continuar seu tratamento de reabilitação, a nível ambulatorial, com o Fisiatra ou Fisioterapeuta, num centro especializado, se necessário, ou em casa, seguindo as orientações dadas pela equipe. E é neste momento que entra o papel fundamental da família, fornecendo a infra-estrutura necessária para o amplo restabelecimento do paciente, da seguinte forma:
a. Dando corretamente as medicações prescritas conforme os horários estabelecidos;
b. Promovendo o comparecimento às consultas e terapias;
c. Fornecendo um ambiente de tranqüilidade e compreensão, para que o paciente não se deixe levar pela depressão e/ou agressividade, fatos comum nestes casos;
d. Motivando o paciente das seguintes formas: 
- evitando que durma o dia todo; 
- colocando roupas confortáveis durante o dia; 
- tornando as roupas fáceis de serem colocadas e retiradas (uso de velcro, botões de pressão, elásticos, entre outros); 
- utilizando o pijama somente à noite; 
- colocando-o sentado na cama ou no sofá (de preferência), sempre que possível; 
- levando-o a passeios dentro e fora de casa com o auxílio de cadeira de rodas ou caminhando com a ajuda de aparelhos (órteses) ou bengalas; 
- dando pequenas tarefas possíveis de serem realizadas (sob a orientação do terapeuta ocupacional); 
- tentando estimular a retomada das atividades profissionais ou de alguma atividade que ele possa exercer; 
- adaptando o interior da casa, com corrimões, rampas e pouca mobília, para facilitar a locomoção do cliente (procurar não descaracterizar o ambiente onde ele vivia; alterar a disposição dos móveis pode confundir e desorientar os pacientes mais idosos); 
- a utilizar o banheiro para suas necessidades e tomar o banho 
e. Dando uma dieta adequada com pouco sal (para evitar o edema nas partes paralisadas); com pouca gordura; leve (para facilitar a digestão); rica em fibras e líquidos, para evitar uma complicação mais comum, o ressecamento intestinal (cabe ao médico indicar ou não o uso de laxantes).
f. Auxiliando a realização de atividades e exercícios orientados para casa (esses exercícios são inicialmente passivos, ou seja, o paciente não os realiza voluntariamente; depois passam a ser ativos, onde solicita-se para que ele realize determinados movimentos);
g. Posicionando corretamente os braços ou pernas afetados.
O dano causado no cérebro por um Acidente Vascular Cerebral (AVC) pode provocar perda de sua função, mas através de um fenômeno denominado “neuroplasticidade”, o cérebro pode se reajustar funcionalmente, havendo uma reorganização dos mapas corticais que contribui para a recuperação do AVC. 
A equipe multidisciplinar teve o cuidado de passar tais orientações aos familiares e à própria cliente durante todo o período em que esta recebeu atendimento. A maior parte destas informações foram passadas pelo serviço de fisioterapia. Orientações sobre a motivação foram dadas pela dupla de fonoaudióloga e estagiária de Psicologia.
Faz-se oportuno neste momento destacar as principais características de uma equipe multidisciplinar como atendimento real e interdisciplinar como atendimento ideal a ser adotado pelos profissionais.
II.9 - CONCEITO DE MULTIDISCIPLINARIDADE
Segundo Mesquita e Duarte (1996), Multidisciplinaridade refere-se a um conjunto de disciplinas dentro de um mesmo ramo do conhecimento. É a justaposição de conteúdos de disciplinas heterogêneas. É o trabalho conjunto onde cada profissional trata de temas comuns sob sua própriaótica, alcançando a integração de métodos, teorias ou conhecimentos.
II.10 - CONCEITO DE INTERDISCIPLINARIDADE
Segundo Mesquita e Duarte, Interdisciplinaridade refere-se à interação de disciplinas de diferentes áreas. É uma relação de reciprocidade. Fundamenta-se num regime de interação em que é possível o diálogo, ou seja, as diversas disciplinas exercem interação, substituindo a concepção fragmentária pela unitária.
É possível que uma equipe, por exemplo, possa ser somente multidisciplinar. Pode haver uma equipe composta por vários profissionais, integrando diversas disciplinas, mas estes profissionais não dialogam, não interagem entre si. Podem trabalhar juntos, porém sem depender dos demais.
Quando um problema se situa no nível da multidisciplinaridade, a solução para este exige informações tomadas de empréstimo a duas ou mais especialidades sem que as disciplinas levadas a contribuir para aquelas que a utilizam sejam modificadas ou enriquecidas. Estuda-se um objeto de estudo sob vários ângulos, mas sem que tenha havido antes um acordo prévio sobre os métodos a seguir ou os conceitos a serem utilizados. No sistema multidisciplinar uma gama de disciplinas são propostas simultaneamente para estudar um objeto sem que apareçam as relações entre elas.
Ao contrário, a interdisciplinaridade possui uma relação de reciprocidade, de mutualidade, em regime de co-propriedade que possibilita um diálogo mais fecundo entre os vários campos do saber.
A exigência interdisciplinar impõe a cada disciplina que transceda sua especialidade formando consciência de seus próprios limites para acolher as contribuições de outras disciplinas.
Foi benéfica a atuação em conjunto, em especial com a profissional de Fonoaudiologia, que demonstrou receptividade, objetividade e clareza durante os atendimentos, oferecendo um suporte mais concreto, acolhedor e não ameaçador à cliente. Os atendimentos em conjunto com a Fisioterapia limitaram-se ao início da solicitação do serviço de Psicologia, sob forma de tranqüilizar e motivar a cliente a realizar os exercícios propostos, não oportunizando uma atuação plena de ambos os saberes.
Faz-se conveniente conceituar e pontuar os principais objetivos e benefícios do que se conhece como consulta-conjunta.
II.11 - A INTEGRAÇÃO DE PESSOAS E SABERES
A consulta-conjunta é uma ação de saúde que tem como característica unir o viés assistencial ao pedagógico, na medida em que integra pessoas e saberes na aprendizagem em serviço. Tem por objetivo aprimorar a tarefa assistencial no que diz respeito à qualificação profissional e surge da necessidade viva de dar respostas resolutivas durante a dinâmica ágil da assistência à saúde.
Este recurso de capacitação profissional em serviço tem objetivos comuns e específicos referentes aos diferentes atores envolvidos.
Entre os objetivos comuns, podemos citar:
- Levar o profissional a compreender e identificar os diferentes aspectos envolvidos no processo saúde-doença;
- Ampliar o repertório de recursos dos profissionais para lidar com os diferentes fatores que envolvem situações de adoecimento;
- Favorecer a percepção do sofrimento e a identificação dos recursos do cliente para lidar com a doença, estimulando-o a participar do tratamento;
- Romper com a fragmentação e com a concentração da informação sobre o cliente;
- Favorecer a integração teórica e prática, buscando transformar a conduta dos profissionais envolvidos;
- Possibilitar aos profissionais envolvidos entender a atuação clínica e terapêutica do seu colega, ampliando a consciência para seus limites e possibilidades;
- Capacitar para interagir com o outro e para o trabalho em equipe, incentivando práticas que aliem qualidade de atenção, resolutividade das ações e que proporcionem a educação permanente entre os profissionais;
- Promover uma prática integradora, visando a interdisciplinaridade, instituindo o cuidado com o eixo estruturante na prática em saúde;
- Possibilitar o suporte mútuo entre profissionais frente a uma prática complexa e repleta de dúvidas e ansiedade, para que possam exerce-la de forma resolutiva e eficaz.
Este é um recurso metodológico que se tem utilizado para quebrar barreiras das dificuldades do trabalho conjunto, para promover a compreensão integral do processo saúde-doença e facilitar a interlocução entre profissionais, visando a produzir novas configurações de saberes que favoreçam uma abordagem resolutiva das reais necessidades de saúde da população.
“É um procedimento que pode se tornar útil para qualquer profissional envolvido na relação doente-doença-meio-ambiente” (MELLO – FILHO, 2010).
A prática da consulta-conjunta potencializa o cuidado e os momentos dos profissionais ao propiciar que, solidariamente, partilhem problemas, reflitam sobre eles e busquem soluções, evitando a prática impessoal e a reprodução padronizada. Este tipo de atuação torna o cuidado mais extenso e mais intenso e possibilita a construção de movimentos conjuntos, viabilizando a mudança dos profissionais e das práticas de saúde.
II.12 - PROFISSIONAIS PARTICIPANTES NO PROCESSO DE REABILITAÇÃO E SUAS PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES
FISIOTERAPIA - O fisioterapeuta sugere e ministra informações sobre prevenção e intervenção nas complicações clínicas, recuperação motora funcional (por meio de posicionamentos, exercícios físicos terapêuticos facilitadores da execução voluntária das AVD´s e AVP´s ministrados e orientados); media processos de inclusão social; orienta; incentiva; e encaminha para prática esportiva, de lazer e profissional. O principal objetivo desta área é estimular funções neuromotoras, procurando integrar aspectos físicos com os psicológicos e sociais, aspectos estes inerentes e indissociáveis a todos os indivíduos. 
FONOAUDIOLOGIA - O fonoaudiólogo ministram e sugere informações sobre deglutição, comunicação, tratamento e técnicas alternativas.
PSICOLOGIA - O psicólogo sugere e ministra informações sobre funções neuropsicológicas e afetivo-emocionais, oportuniza a escuta terapêutica, atendimentos psicoterápicos individuais e/ou grupais, integração entre os profissionais, sugere e orienta novas dinâmicas familiares.
AÇÕES PERTINENTES AO PROFISSIONAL PSICÓLOGO
- Promover a compreensão da interação corpo-mente num contexto biopisicosocial;
- Favorecer uma abordagem psicoterápica ágil, focal e criativa, adequada ao tempo e ao setting, onde a consulta se desenrola;
-Levar o profissional psi a atuar na consulta-conjunta como facilitador da comunicação, por meio da compreensão da dinâmica da relação médico-cliente;
- Auxiliar no diagnóstico e na prescrição de condutas terapêuticas adequadas ao estilo de vida do cliente.
Esta atuação em conjunto possibilitou que se refletisse sobre os sintomas trazidos pela cliente, oportunizando pesquisas e debates em torno de suas principais dificuldades. Encontram-se listadas logo abaixo a auto-estima, a ansiedade e a depressão.
II.13 - A AUTO-ESTIMA
Segundo Doron e Parot (1998) auto-estima é o valor que um indivíduo atribui a si mesmo. Oliveira (1984) concorda afirmando que é uma atitude valorativa em relação a si próprio. Podendo ser uma atitude positiva ou negativa voltada para si (Oliveira, 1984).
Para Pole (2000) a auto-estima significa o quanto o indivíduo acredita em si mesmo, constituindo, assim, a medida de sua auto-aceitação, independente da capacidade, habilidade ou aparência física. BRANDEN (1996) acrescenta que é um sentimento muito profundo que possuímos em relação a nós e o mesmo não depende de habilidades e nem conhecimentos especiais. Independe também de fatores que não provêm de nossa própria vontade, como por exemplo, o sucesso proveniente do mundo externo, a aparência da pessoa e sua popularidade, mas depende da racionalidade, honestidade e integridade, fatores que provêm da vontade do indivíduo.
A auto-estima pode ser considerada a sensação, que o indivíduo possui, de ser competente ao lidar com os obstáculos da vida, ou seja, de considerar-se apto à vida e às suas exigências.E ainda de ser merecedor da felicidade, de ter o direito de ser feliz, isso diz respeito ao sentimento de que a felicidade é um direito do ser humano, DORON e PAROT (1998).
DORON e PAROT (1998) defendem que a auto-estima possui dois componentes básicos: o primeiro deles é o sentimento de que você possui competência e o segundo é o sentimento de valor pessoal. Pode-se dizer que a auto-estima é a autoconfiança somada ao auto-respeito. 
De acordo com Salvador e cols. (2000) o consenso entre autoconceito e auto-estima, reside no fato de que, os dois conceitos são dimensões que vão sendo construídas ao longo da vida e o fazem a partir das relações interpessoais.
Segundo o mesmo autor, enquanto a auto-estima não se relaciona a padrões físicos e habilidades pessoais, o autoconceito relaciona-se com dimensões do tipo: aparência, habilidades físicas, habilidades nas relações interpessoais, habilidades cognitivas, criatividade, estabilidade emocional e honestidade. Podendo-se incluir também, a percepção da competência do indivíduo e sua auto-eficácia.
Foi verificada a questão da auto-estima prejudicada, sendo um dos fatores eleitos para serem estudados e trabalhados com a cliente. Este fator recebeu especial atenção por ser um indicador motivacional na reabilitação da cliente, onde poderia contribuir diretamente para seu processo de Reabilitação.
II.14 - A ANSIEDADE
A identificação da ansiedade deu-se em 1900, por Sigmund Freud que reconheceu que a ansiedade era um componente central das doenças mentais e utilizou o termo “neurose de ansiedade” para descrever vários tipos de ansiedade. Em 1980 com a publicação do DSM-III, os critérios de diagnósticos para o transtorno de ansiedade foram desenvolvidos e refinados.
Dalgalarrondo (2000) define ansiedade como sendo um estado de humor desconfortável, uma apreensão negativa em relação ao futuro, uma inquietação interna desagradável.
Os autores KARPLAN e SADOCK, (1997) diferenciam ansiedade normal da patológica, sendo que a primeira é difusa e se caracteriza por um mal-estar físico e psíquico, com apreensão, palpitação, sudorese e até diarréia intermitente, sendo ainda considerada normal, se for um mal suportável e passageiro; porém, muitas vezes, a ansiedade é perceptível ou não claramente manifesta. No entanto ansiedade patológica pode interferir no desenvolvimento normal, causando prejuízos da auto-estima, na socialização, na aquisição de conhecimentos e na memória, além de predispor a maior venerabilidade, como perda de defesas físicas e psíquicas. Caracteriza-se por uma resposta inadequada a uma percepção ou a um estimulo em razão de sua intensidade ou duração. Paralisa o individuo ou faz agir de forma caótica.
No caso da cliente, tais episódios levantam a possibilidade de ocorrerem em decorrência dos A.V.Cs. e/ou das medicações administradas. Contudo, tais hipóteses não puderam ser avaliadas. Não foi possível também fazer uso de um inventário de ansiedade para mensurar a ocorrência ou um grau de ansiedade. Provavelmente, caso fosse oportuno, o Inventário de Beck de Ansiedade seria utilizado.
II.15 - A DEPRESSÃO
Os principais sintomas são: o rebaixamento do humor e / ou a redução da energia (com diminuição da atividade motora). Ou seja, a depressão não necessita exatamente do sentimento de tristeza. A perda de interesse e prazer pelas atividades habituais (inclui-se aqui a sexualidade) já indicam uma diminuição (ou seja, “depressão”) do estado de ânimo. Pessoas muito “alegres”, quando passam a apresentar um humor igual ao da maioria das pessoas, também estão experimentando um rebaixamento do humor.
O paciente experimenta, ainda, diminuição da capacidade de concentração, e queixa-se de dificuldade de memorização.
Há diminuição da auto-estima, da confiança; podendo progredir para idéias de culpa.
Existem alterações do sono e do apetite (geralmente diminuição dos dois, mas pode haver aumento de um ou dos dois).
Há um grande número de queixas físicas, como dores (cefaléia – “dor de cabeça” -, dores lombares etc.), distúrbios gastrintestinais etc., o que muitas vezes leva estes pacientes primeiramente ao clínico, podendo passar despercebida, a estes, a depressão.
Existe uma forma mais grave de depressão, com presença de sintomas psicóticos (geralmente delírios de ruína ou de culpa).
A depressão pode manifestar-se em um episódio único, ou ser recorrente. Caso o paciente apresente também fases de elevação anormal de humor, passa a ser considerado portador do transtorno bipolar.
A depressão é ainda o transtorno afetivo mais freqüente após um acidente vascular cerebral, o qual tem sido associado a um pior prognóstico, segundo Rocha et al. (1993).
A depressão pós-AVC é considerada precoce quando ocorre nos primeiros três meses após um infarto ou hemorragia cerebral, e tardia quando acontece após esse período. Os sintomas emocionais incluem humor deprimido (tristeza aumentada), ansiedade, inquietação, preocupação, variação diurna do humor, desesperança, falta de energia, início do sono demorado, despertar matinal precoce, isolamento social, perda de peso e diminuição do apetite.
Os sintomas somáticos apontam para fadiga, constipação intestinal, alterações do apetite, do ritmo sono-vigília e diminuição da libido. As limitações cognitivas mais freqüentes são: dificuldade de concentração, ideação de desesperança, de culpa e de inutilidade. Alterações da percepção sensorial também podem ocorrer.
A presença de quadro depressivo acarreta graves conseqüências no processo de reabilitação do paciente. Ainda em Rocha et al. (1993), vários são os fatores de risco associados à ocorrência da depressão pós-AVC: prejuízo funcional, prejuízo cognitivo, história de depressão no passado, personalidade prévia, história familiar positiva para a depressão, idade, sexo, AVC prévio, hipercortisolemia, precária rede de suporte social e características neuroanatômicas do AVC.
Para Starkstein et al. (1996) foram identificados dois fatores que podem influenciar o curso natural da DPAVC. O tratamento com drogas antidepressivas é um deles, o outro é a localização da lesão. Quanto à localização da lesão, apontam para depressões maiores ou menores ocorrerem em 48% dos pacientes com lesão da artéria cerebral média e 37% dos pacientes com lesões cerebelares e do tronco cerebral. Starkstein observou que os pacientes com lesões na região cerebelar e no tronco cerebral tiveram um curso significativamente mais curto de depressão, sugerindo que o mecanismo de depressão, após lesões cerebelares e do tronco cerebral, difere do mecanismo de depressão após lesões da artéria cerebral média.
Os riscos para depressão pós-AVC podem ser detectados no prejuízo funcional, cognitivo, história de depressão no passado, AVC prévio, características neuroanatômicas do AVC, hipercortisolemia, bem como idade, sexo e precária rede de suporte social.
Complementa Starkstein et al. (1996) que se ocorre depressão, a recuperação física fica comprometida, tendendo a ser retardada. Os pacientes deprimidos apresentam reduções significativas de função durante o primeiro mês após o AVC.
Assim como para a Ansiedade, não foi possível fazer uso de um instrumento avaliativo para determinar a presença e/ou o escore para a Depressão. Contudo, em decorrência do observado durante os atendimentos, em parceria com outros profissionais, não se descartou a hipótese para Depressão.
II.16 - OUTRAS ALTERAÇÕES DO HUMOR DETECTADAS
IRRITABILIDADE: tendência à irritação, às vezes até à agressividade.
ANEDONIA: incapacidade de sentir prazer em atividades que antes lhe eram prazerosas, ou em situações que causam prazer à grande maioria das pessoas.
HUMOR LÁBIL: variação rápida e fácil do humor.
HUMOR INADEQUADO: humor o contrário do que se esperaria na situação (exemplos: alegria ao ser agredido, tristeza quando ganha um presente).
ALEXITIMIA: incapacidade de expressar seus sentimentos. Embora os tenha, parece não ter. Não consegue comunicá-los, e a expressão física é pobre.Houve temas que tiveram a capacidade de demonstrar a reatividade do humor da cliente. Ao se tocar em assuntos que se esperava, serem tristes ou alegres para a cliente, como mortes na família, data de aniversário, o fato de estar doente. Assim não apenas se detectou a instabilidade do humor, mas também a inadequação deste. A própria cliente reconheceu que tem estado muito emotiva, principalmente quando seus filhos e familiares não lhe dão atenção.
II.17 - DIFICULDADES ENCONTRADAS PELA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR
A profissional Fisioterapeuta relatou dificuldades em lidar com sintomas clínicos inerentes a algumas síndromes neurológicas específicas como, por exemplo, nas alterações de linguagem, psicológicas (descontrole emocional e ansiedade), e falta de colaboração por parte dos membros familiares, que raramente acompanharam a cliente durante o programa terapêutico.
A profissional Fonoaudióloga relatou dificuldades sobre como abordar a cliente com alteração psicológica, como orientar a família para colaborar com o programa proposto, uma vez que não se fizeram presentes.
A estagiária de Psicologia apresentou dificuldades quanto à intervenção no que tange o déficit de linguagem, memória, e a falta de colaboração da família no processo terapêutico.
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CAPÍTULO III - ANAMNESE ADULTO
	III.1 - DADOS GERAIS
	DATA: 03/10/2011 
	ENTREVISTADOR: Ana Paula P. P. de Barros (Estagiária do 10° semestre de Psicologia).
	SUPERVISOR: Nazir Rachid Filho
	INDICAÇÃO: Serviço de Fisioterapia do CREAP
	NOME: S. Mª. R.
	IDADE: 56 anos
	PROFISSÃO: Enfermeira
	ESTADO CIVIL: Viúva
	
O estudo de caráter descritivo interpretativo envolveu uma pessoa do gênero feminino, brasileira, 56 anos de idade, branca, viúva, enfermeira (afastada em decorrência do A.V.C.H).
Apresentou dois episódios de Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico ocorridos, em um espaço de tempo de aproximadamente seis meses. Teve como área lesionada o lado esquerdo do cérebro. Acredita-se que a ocorrência de tais eventos se deu pelos seguintes fatores de risco: Hipertensão Arterial – fator genético –; fumo e bebida alcoólica relevantemente freqüentes. A cliente em questão apresenta seqüelas na marcha no lado direito do corpo, dificuldades para falar e memorizar. Faz uso dos seguintes medicamentos visando reduzir assim, a possibilidade um novo acidente vascular cerebral e auxiliar em seu bem-estar:
- CAPTOPRIL de 500 mg.
Indicações: Hipertensão arterial. Insuficiência cardíaca congestiva. Infarto agudo do miocárdio. Nefropatia diabética.
Efeitos adversos: Tosse seca persistente. Insônia, cefaléia, tonturas e fadiga. Rash cutâneo, reações cutâneas de fotossensibilidade, prurido, alopécia. Dor abdominal, náusea, diarréia, constipação, anorexia, alterações do paladar. Parestesias. Mais raramente ocorrem hipotensão arterial.
- DIAZEPAM de 5 mg.
Indicações: Tratamento da ansiedade. Relaxante muscular. Alívio sintomático da abstinência alcoólica aguda. Anticonvulsivante e pré-anestésico, quando usado por via endovenosa. Sedativo em endoscopia, cardioversão e procedimentos cirúrgicos menores.
Efeitos adversos: Sonolência, alterações da memória, confusão, cefaléia, visão turva, fadiga e tonturas. Boca seca, constipação, diarréia, náusea, vômito, alterações do apetite. Tremores, cãibras. Efeitos paradoxais como agitação, insônia, ansiedade, depressão e agressividade podem ocorrer notadamente em idosos. Bradicardia, taquicardia, dor torácica, colapso cardiovascular. Depressão respiratória. Reações de hipersensibilidade. Redução da libido, visão turva.
Convém mencionar que não foi possível avaliar se alguns dos sintomas relatados pela cliente são decorrentes exclusivamente dos A.V.Cs., ou se, de alguma forma, estão sendo induzidos pelas medicações administradas, conforme se pode visualizar em “Reações Adversas”.
MOTIVO DO ENCAMINHAMENTO: A cliente foi encaminhada pelo serviço de Fisioterapia, por motivo de descontrole emocional, onde com freqüência, chorava e se mostrava desmotivada em colaborar com os exercícios propostos pela equipe de fisioterapeutas.
INÍCIO DOS SINTOMAS: Segundo a cliente, tais sintomas, que incluem aqui a instabilidade emocional e a ansiedade, estão vinculados aos dois episódios de A.V.C.H (Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico), que ocorreram em conseqüência da Hipertensão Arterial. Estima-se que tais episódios tenham ocorrido em um espaço de tempo de seis meses, sendo que o primeiro ocorreu há cerca de doze meses. A cliente se queixa também dos seguintes sintomas: Insônia, tonturas, alterações do paladar, alterações da memória, confusão, alterações do apetite. Tais sintomas, de ordem orgânica, se mostraram dúbios em sua origem, dando margem para avaliar se são em decorrência dos A.V.Cs diretamente, ou se induzidos por medicações, sob forma de reações adversas.
FATORES DESENCADEANTES: Possivelmente a cliente vem apresentando tais sintomas como conseqüências comuns pós A.V.C. que, conforme relatados pela equipe médica, os sintomas mais comuns são: dificuldade na sua capacidade de atenção; sensação térmica alterada; sensações de formigamento; instabilidade emocional; ansiedade e estados depressivos.
HISTÓRICO DAS RELAÇÕES AFETIVAS: A cliente relatou em sua entrevista inicial possuir uma boa relação com seus dois filhos adultos, bem como com os demais membros de sua família. Relatou ainda ter sido casada, porém é atualmente viúva. Possui contato e relaciona-se de modo satisfatório com vizinhos, que atualmente a ajudam, bem mais que seus próprios familiares, nas tarefas domésticas. A cliente se considera uma pessoa bastante amigável e prestativa: “Acho que sempre fui uma pessoa amigável e gosto de ajudar, não importa quem seja, seja meu parente seja amigo (SIC). Contudo, após os episódios de A.V.C. percebeu sua capacidade motora e mental diminuir a tal ponto que já não conseguia realizar a maioria das atividades domésticas sozinha, fosse por limitação física, fosse por receio em machucar-se. Notou que após esses acidentes, alguns amigos e familiares já não lhe procuravam para pedir-lhe ajuda. É evidente o descontentamento da cliente para com a questão da diminuição dos relacionamentos que outrora possuía.
HISTÓRIA LABORAL: A cliente conta que sempre gostou de trabalhar e de ajudar as pessoas. Em decorrência dessa vontade de ajudar da melhor forma possível, optou por fazer o curso de Enfermagem, vindo a se formar e a trabalhar nesta área por 32 anos. Em decorrência do seu primeiro A.V.C., teve que se afastar de seu ambiente de trabalho, embora sempre relatando sua ansiedade e vontade em retornar. A cliente comenta que sabe que será muito difícil voltar a desenvolver as tarefas que realizava profissionalmente, contudo, espera que o apoio que recebe da parte da equipe profissional desta presente Instituição a auxilie em seu processo de reabilitação.
III.2 - EXAME MENTAL
ATENÇÃO: S.M.R. mostrou-se ao longo dos atendimentos suficientemente concentrada, capaz de entender o curso do atendimento e dos assuntos que se fizeram presentes. A queixa inicial, em relação à dificuldade apresentada pela cliente em entender e obedecer comandos, se mostrou inválida ao longo dos atendimentos.
PERCEPÇÃO E SENSOPERCEPÇÃO: S.M.R. nos dois primeiros atendimentos teve dificuldades em relatar o que sentia e como se percebia. Contudo, a partir do terceiro encontro, a cliente falou a respeito da dormência que sentia de todo o lado direito do corpo, do formigamento constante também do lado direito do corpo e da diminuição do tato em sua mão direita – características comuns pós-A.V.C.
CONSCIÊNCIA: S.M.R. mostrou-se ao longo dos atendimentos suficientemente consciente, não apresentando quaisquer sintomas que indicassem algum distúrbio em relação à Consciência.
ORIENTAÇÃO: S.M.R. mostrou-se ao longo dos atendimentos suficientemente situada em relação à si e ao ambiente, não apresentando quaisquer sintomas que indicassem algum distúrbio em relação à Orientação.
MEMÓRIA:S.M.R. demonstrou recordar-se com dificuldade, de fatos importantes, como por exemplo, das datas específicas em que sofreu os episódios de A.V.C.; eventos recentes, tais como relatar o que fez durante o dia; dificuldades de planejamento e dificuldades em repetir atividades passadas pela equipe de profissionais. Relatou ainda que reconhece a dificuldade que vem apresentando e preocupa-se com a possibilidade de não poder voltar a trabalhar.
PENSAMENTO: S.M.R. mostrou-se ao longo dos atendimentos inapta a iniciar, desenvolver e concluir um pensamento. Por vários momentos era necessário indaga-la e dirigir o discurso, de modo a compreender fatos considerados importantes, como por exemplo, os próprios episódios de A.V.C.; sobre os dias que seguiram como internações; pessoas que a ajudaram enquanto se adaptava à nova realidade. Fez-se comum, ao decorrer dos atendimentos, a ocorrência de vários pensamentos, por vezes desconexos, com nítida dificuldade em estabelecer um discurso corrido, ininterrupto.
LINGUAGEM: S.M.R. demonstrou nos atendimentos nítida dificuldade na fala, onde esta se manifestou “arrastada”, com nítido atraso na dicção. Contudo, o som das palavras mostrou-se compreensivo, não havendo indícios de maiores comprometimentos no entendimento. O recebimento e o envio da informação se mostraram satisfatórios.
COORDENAÇÃO MOTORA: S.M.R. demonstrou ao longo dos atendimentos dificuldades em manipular objetos com sua mão direita, pois como relatou, a sensibilidade com a referida mão diminuiu, vindo a sentir dor e formigamento. Apresentou ainda certa instabilidade ao levantar-se, vindo a ter um leve desequilibro. Tal fato teve melhora em vista do acompanhamento do serviço de fisioterapia.
AFETIVIDADE: S.M.R. relatou a necessidade em demonstrar e receber afeto, seja com seus familiares, seja com seus amigos, uma vez que, após os acidentes, tais pessoas se afastaram. Seus relatos com freqüência transmitiram a dificuldade em conversar com pessoas importantes à ela e expressar o que pensa, sente, quer. Reconhece que seu estado de humor tem se manifestado inconstantemente e que isso se tornou uma preocupação, bem como uma limitação. 
ATITUDES EM RELAÇÃO AO SEXO: S.M.R. Relatou que após a morte de seu esposo, chegou a ter um namorado. Porém, após o primeiro A.V.C. este interrompeu o contato e não mais a procurou. Disse sentir saudades e espera que este volte a lhe procurar quando estiver melhor.
III.3 - IMPRESSÃO DIÁGNÓSTICA: Tendo em consideração as queixas apresentadas ao longo dos atendimentos pela cliente, a mesma apresentou sinais significativos para baixa auto-estima, ansiedade e episódios depressivos. Dificuldades na marcha e na fala se mostraram bem visíveis, onde a cliente veio a ser acompanhada por uma fisioterapeuta e uma fonoaudióloga.
III.4 - INDICAÇÃO TERAPÊUTICA: Foi sugerido à cliente que a mesma realizasse acompanhamento com uma equipe interdisciplinar composta por uma fisioterapeuta, uma fonoaudióloga, uma terapeuta ocupacional e uma estagiária de psicologia. Na indicação de psicoterapia e escuta terapêutica, optou-se pela psicoterapia individual, bem como pelo acompanhamento da estagiária junto aos demais profissionais, sempre que se fizesse necessário. Convém relatar que, embora se tenha dado atenção à importância da equipe multi e interdisciplinar, não se pôde contar com a contribuição da Terapeuta Ocupacional, uma vez que a cliente interrompeu, por conta própria os atendimentos.
III.5 - INSTRUMENTOS: Foram utilizados os seguintes instrumentos: Anamnese adulta, entrevistas dirigidas, escutas terapêuticas, observações, acompanhamentos nos setores de Fisioterapia e Fonoaudiologia, testes lúdicos e de raciocício lógico, estes, juntamente à profissional de Fonoaudiologia.
III.6 - INFORMAÇÕES E OBSERVAÇÕES FAMILIARES DO CLIENTE: Houve um evento aonde, uma irmã da cliente veio ao Centro de Reabilitação para pedir informações a respeito do quadro clínico da mesma. Tais informações foram selecionadas, de acordo com a competência da estagiária de psicologia, e repassadas, visando maior compreensão e enfrentamento da problemática por parte dos familiares. Tal evento assumiu caráter informativo apenas, não vindo a se fazer uso de qualquer instrumento que não fosse a comunicação verbal.
III.7 - METODOLOGIA: Este presente Relatório constitui-se inicialmente, como um estudo de caso sobre uma pessoa vítima de dois episódios de A.V.C.H, onde as contribuições de uma equipe multidisciplinar se fizeram presentes e necessárias.
Foram realizados no período de Outubro a Novembro de 2011, seis atendimentos semanais. Foram seis atendimentos individuais por parte somente da Psicologia e quatro atendimentos em conjunto com a profissional fonoaudióloga.
O diagnóstico contou com a contribuição de uma equipe com profissionais de Fonoaudiologia e Fisioterapia. A profissional de Terapia Ocupacional também foi requerida, haja vista sua importância no planejamento da adaptação da cliente à sua nova condição, vindo a facilitar a realização das AVDs e dar suporte para que esta readquirisse sua independência.
Os atendimentos foram suspensos, por ordens médicas, no final de Novembro, o que limitou as possibilidades de recuperação da cliente.
III.8 - HIPÓTESE DIAGNÓSTICA: De acordo com os atendimentos oferecidos pelo setor de Psicologia, alguns sintomas foram evidenciados, tais como baixa auto-estima; ansiedade; episódios depressivos; dificuldades de planejamento; de percepção. Assuntos referentes a estas hipóteses diagnósticas encontram-se melhor explanados no capítulo III, em Fundamentação Teórica.
III.9 - PLANO DE INTERVENÇÃO: A partir das hipóteses de baixa auto-estima, ansiedade, mudanças do humor, episódios depressivos, dificuldades de planejamento e de percepção, planejou-se: encaminhar a cliente para os demais setores disponíveis no Centro, tais como fonoaudiologia e terapia ocupacional. Atuar em conjunto com os profissionais das referidas áreas para potencializar suas intervenções e discutir a respeito do caso. Orientar e informar a família da cliente para: efetivar seu tratamento continuado em casa; proporcionar o diálogo entre os profissionais, a família e a cliente; facilitar a reabilitação da cliente e a readaptação das tarefas da lida cotidiana a princípio. Favorecer discussões a cerca de melhores estratégias de enfrentamento entre a equipe, a família e a cliente, para que, quando possível, a cliente volte ao seu ambiente de trabalho, mesmo que desempenhando outras tarefas inicialmente. 
 
III.10 - AVALIAÇÃO PROGNÓSTICA: O AVC pode ser definido como o início abrupto ou em forma de crise de sintomas neurológicos focais ou globais causados por isquemia ou hemorragia no cérebro ou à sua volta (RADANOVIC, 2005) e podem levar a distúrbios incapacitantes, como alterações do campo espacial e visual, fala, sensibilidade, marcha, dificuldades de execução das atividades de vida diária (AVD), alterações do humor entre outras.
O acidente vascular cerebral pode afetar o organismo como um todo. Uma seqüela comum é a paralisia completa de um lado do corpo (hemiplegia) ou a fraqueza de um lado do corpo (hemiparesia). O acidente vascular cerebral pode causar problemas de pensamento, cognição, aprendizado, atenção, julgamento e memória. O acidente vascular cerebral pode produzir problemas emocionais com o paciente apresentando dificuldades de controlar suas emoções ou expressá-las de forma inapropriada. Não é incomum o surgimento de traços de humor depressivo, podendo evoluir para a depressão, caso a pessoa não receba o acompanhamento de um profissional competente.
A repetição do acidente vascular cerebral é freqüente. Em torno de 25 por cento dos pacientes que se recuperam do seu primeiro acidente vascular cerebral terão outro dentro de cinco anos.
Recomenda-se altamente que se modifiquem hábitos considerados nocivos à saúde e que sejam adotados os considerados saudáveis tais como alimentação equilibrada e rica em frutas e verduras, exercíciofísico leve, como caminhada e suporte psicológico visando auxiliar no lidar com as adversidades.
A cliente está passando justamente por este processo, onde optou por realizar mudanças radicais no seu estilo de vida, a fim de alcançar uma melhor qualidade de vida.
Seus hábitos alimentares mudaram de tal modo que sua alimentação é rica em frutas e verduras, evita comidas gordurosas, realiza de 4 a 5 refeições diárias, onde, com a ajuda da reeducação alimentar, submeteu-se a uma dieta para controlar o peso. A cliente recebeu acompanhamento de um nutricionista, conforme relatou. No entanto esse serviço não foi oferecido pelo Centro, uma vez que não se possui este profissional na equipe.
A cliente destacou também que adotou o hábito de caminhar pelas ruas próximas à sua casa, com o objetivo de exercitar-se, conforme sugestão da equipe. A cliente comenta que esta é uma maneira de ver conhecidos, conversar e distrair-se, sendo uma atividade que adquiriu caráter recreativo também.
Em relação ao suporte psicológico, a cliente contou com o serviço de escuta, disponibilizado pelo serviço de Psicologia, que interagiu consigo para tornar-lhe clara algumas orientações dos demais profissionais, tranqüiliza-la e permitir seu desabafo por intermédio da fala e da expressão de suas emoções.
Desse modo, prevê-se uma melhora significativa e uma estabilidade nos sintomas da cliente, uma vez que seja acolhida por uma equipe de profissionais.
III.11 - SEGUIMENTO CLÍNICO: Inicialmente o serviço de Psicologia foi requerido para atuar de modo coadjuvante durante as sessões de Fisioterapia, a fim de tranqüilizar a cliente quando esta apresentasse alguma inconstância emocional. Contudo percebeu-se a necessidade de oportunizar um espaço onde a cliente pudesse falar sobre suas preocupações livremente, ser ouvida e ajudada a lidar com uma nova configuração de vida. 
O vínculo estabelecido durante as seis sessões permitiu tanto à cliente quanto à estagiária um espaço para a troca de informações pertinentes ao cotidiano e ao quadro clínico da mesma.
A cliente chegava com antecedência às dependências do Centro e aguardava seu horário. Também recebeu acompanhamento da estagiária junto às sessões dos demais profissionais, com o objetivo de tornar eficaz o recebimento das informações passadas, onde intervinha-se junto a estes sempre que necessário.
Infelizmente, os atendimentos foram suspendidos sem aviso prévio, por parte da cliente, que relatou posteriormente seu afastamento em virtude de recomendações médicas, para que evitasse maiores desgastes físicos. Desse modo S.M.R. não está recebendo acompanhamento dos profissionais do Centro desde o final de Novembro.
III. 12 - O PAPEL DO PSICOTERAPEUTA SOB A ÓTICA DA GESTALT
A Gestalt Terapia não trabalha contra a doença, mas a favor do que o sujeito tem de criatividade, afetividade, capacidade de realização. Em síntese, a GT age em favor da vida, buscando uma configuração mais satisfatória, procurando restaurar o contato consigo mesmo e com o mundo. 
O principal objetivo da GT é o de ajudar o cliente a alcançar awareness e desenvolver nele, uma atitude permanente para alcançá-la. O gestalt-terapeuta tenta desenvolver no cliente uma atitude de congruência entre o pensar, o sentir e o agir.
Em termos práticos, o cliente deve aprender a discriminar sensações e sentimentos, identificar quais necessidades estão relacionados a esses e se responsabilizar pela satisfação dessas necessidades.
As maiores dificuldades para alcançar a awareness residem na resistência da pessoa em entrar em contato com sentimentos e sensações que possam colocar em risco a “barganha” que o sujeito fez com o mundo e colocá-lo diante do risco de abandono.
Deste modo, mesmo pelo fato da estagiária ser da abordagem Gestalt, procurou-se agir conforme os princípios de tal teoria, tanto para materializar a teoria aprendida quanto para experienciar o atuar sob o viés da Gestalt Terapia.
Mesmo não se tendo a oportunidade de aplicar as principais técnicas e métodos em Gestalt Terapia, procurou-se eleger esta abordagem como um norteador.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O AVC pode causar uma variedade de déficits neurológicos que acarretam a presença de seqüelas, comprometendo o desempenho para o auto-cuidado e a manutenção da vida.
Além das conseqüências físicas, as funções psicológicas e sociais também se alteram, comprometendo a estrutura, o desenvolvimento e o funcionamento familiar.
As doenças cérebro-vasculares constituem quadros de instalação aguda, são freqüentemente incapacitantes, mas evoluem, habitualmente para a melhora progressiva dos sintomas. A atenção em reabilitação deve significar assim, o exercício da independência e da liberdade de escolha de seu estilo de vida. A reabilitação intensiva e continuada, disponibilizada por uma equipe que trabalhe de forma integrada com o cliente e sua família, provavelmente alcançará bons resultados.
Para uma melhor intervenção junto aos clientes do Centro, sugere-se a promoção de reuniões formais e informais entre os profissionais em si e destes para com e os clientes, com o objetivo de identificar e apresentar os problemas para definir, juntamente com os clientes e familiares, os objetivos a serem alcançados a curto e a longo prazo.
Em relação as dificuldades encontradas, destaca-se a falta de cooperação dos profissionais em realizarem atendimentos em conjunto, bem como trocar informações que visem um melhor entendimento e enfrentamento diante das limitações dos clientes. O senso de multidisciplinaridade necessita ser mais bem explorado e praticado, com o intuito de tornar mais eficiente suas contribuições e alcance mais breve de seus objetivos.
Um ponto positivo a ser mencionado no quesito relacionamento entre os profissionais, é o de o clima organizacional ser favorável ao discurso informal, podendo vir a ser um facilitador, caso se invista em métodos de atuação multidisciplinar.
Um possível agravante em relação às dificuldades em se trabalhar em conjunto com os demais profissionais pode ser a condição de estagiário em não se assumir uma postura profissional e uma linguagem compatível com a dos demais profissionais.
Em relação à adesão da cliente ao tratamento, pode-se lançar a hipótese que, por ser um serviço público, há certa facilidade em conseguir atendimento quando for conveniente. Outra hipótese pode ser a força que a figura do médico representa na consciência da comunidade de forma geral, sendo uma recomendação deste interpretada como uma ordem.
Sobre a reabilitação e sua importância, acredita-se que, todo indivíduo poderá se sentir saudável mesmo que sendo portador de doença ou deficiência, desde que possa manter-se ativo em seu meio, desempenhar suas funções e ter seu papel social reconhecido.
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Acessado em: 19/11/ 2011.

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