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história do hospital

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1 
 
SUMÁRIO 
1 O INÍCIO ............................................................................................................... 2 
2 OS PRIMEIROS HOSPITAIS ............................................................................... 5 
3 HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DOS HOSPITAIS ........................................................ 9 
4 HOSPITAIS DA AMÉRICA ................................................................................. 19 
5 EVOLUÇÃO HOSPITALAR NO BRASIL ............................................................ 20 
6 ESPAÇOS DE CURA E LUGARES DE MEMÓRIA DA SAÚDE ......................... 23 
7 GASTOS PÚBLICOS COM SAÚDE: BREVE HISTÓRICO, SITUAÇÃO ATUAL E 
PERSPECTIVAS FUTURAS ..................................................................................... 34 
7.1 Qual a situação atual da saúde pública no Brasil? ............................. 35 
7.2 O financiamento da saúde pública no Brasil ...................................... 38 
7.3 Outros pontos que vão além do subfinanciamento público da saúde 41 
7.4 Considerações ................................................................................... 45 
8 BREVE HISTÓRIA DOS HOSPITAIS PSIQUIÁTRICOS .................................... 49 
9 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 58 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
1 O INÍCIO 
 
Fonte: blog.saude.gov.br/images/homem.jpg 
Dificilmente encontraremos na história da antiguidade a denominação de um 
lugar específico, onde as pessoas doentes eram recebidas e permanecessem para 
receber algum tipo de tratamento. 
A palavra hospital origina-se do latim hospitalis, que significa “ser hospitaleiro”, 
acolhedor, adjetivo derivado de hospes, que se refere a hóspede, estrangeiro, 
conviva, viajante, aquele que dá agasalho, que hospeda. Assim, os termos “hospital” 
e “hospedale” surgiram do primitivo latim e se difundiram por diferentes países. No 
início da era cristã, a terminologia mais utilizada relacionava-se com o grego e o latim, 
sendo que hospital tem hoje a mesma concepção de nosocomium, lugar dos doentes, 
asilo dos enfermos e nosodochium, que significa recepção de doentes. 
Encontramos, na história, outros vocábulos que salientam os demais aspectos 
assistenciais: 
 
3 
 
Gynetrophyum: hospital para mulheres 
Ptochodochium, potochotrophium: asilo para pobres 
Poedotrophium: asilo para crianças 
Gerontokomium: asilo para velhos 
Xenodochium, xenotrophium: asilo para viajantes e estrangeiros 
Arginaria: asilo para os incuráveis 
Orphanotrophium: orfanato 
Hospitium: lugar onde hóspedes eram recebidos 
Asylum: abrigo ou algum tipo de assistência aos loucos 
 
Da palavra “hospitium”, derivou hospício, que designava os estabelecimentos 
que recebiam ou eram ocupados permanentemente por enfermos pobres, incuráveis 
ou insanos. As casas reservadas para tratamento temporário dos doentes eram 
denominadas “hospital” e, hotel, o lugar que recebia pessoas, “não doentes”. 
A tentativa de recuar no tempo, faz-nos observar que a amplitude do termo 
“hospital” seja analisada, concomitantemente, com as práticas médicas, aliadas aos 
cuidados com os enfermos e o lugar onde essas práticas eram exercidas. 
O exercício da prática médica na civilização assírio-babilônica1 é comprovada 
por alguns documentos e fatos: a biblioteca do palácio de Nínive, que continha peças 
de argila, apresentando em escrita cuneiforme 2 , textos (de e para) médicos 
documentando tal atividade, desde 3000 a.C. 
O Código de Hamurabi (2250 a.C) regulamentava a atuação, a remuneração e 
os castigos recebidos pela negligência médica. Porém, nada restou que permitisse 
saber onde e como essas atividades eram exercidas, pagas, fiscalizadas ou julgadas. 
Entretanto, Herótodo, referindo-se a épocas remotas, nos indica um mercado, 
onde os doentes eram conduzidos para serem questionados sobre o mal que os 
agoniasse: 
 
1 Os assírios eram povos semitas que viviam ao norte da Mesopotâmia na região dos rios Tigre 
e Eufrates. O império assírio foi formado após a queda do império acadiano. Ficaram conhecidos por 
integrarem uma sociedade guerreira, cruel e implacável. Disponível em: < 
www.todamateria.com.br/assirios/ > Acesso em: 19/19/2018 
2A escrita cuneiforme foi criada pelos sumérios, e sua definição pode ser dada como uma escrita 
que é produzida com o auxílio de objetos em formato de cunha. Disponível em: < 
https://www.infoescola.com/civilizacoes-antigas/escrita-cuneiforme/ > Acesso em: 19/19/2018 
 
4 
 
“Os doentes eram conduzidos ao mercado, porque não existiam 
médicos. Os que passavam pelo doente interpelavam-no com o intuito 
de verificar se eles próprios tinham sofrido o mesmo mal ou sabiam de 
outros que o tivessem tido. Podiam, assim, propor o tratamento que 
lhes fora eficaz ou eficaz na cura de pessoas de suas relações. E não 
era permitido passar pelo doente em silêncio. Todos deviam indagar a 
causa de sua moléstia”. 
 (Herótodo apud Campos, 1944:10) 
Escrito em papiros 3 , compêndios médicos, classificação de doenças, 
descrições de intervenções cirúrgicas e abundante farmacopeia, com a catalogação 
de mais de setecentas drogas, fascinam os estudiosos, sem falar das técnicas de 
preservação de cadáveres (mumificação). 
Os papiros mais importantes são de Ebers, uma enciclopédia médica que 
descreve a prática da medicina no século XVI a.C.; de Edwin Smith, verdadeiro 
compêndio de patologia externa e cirúrgica óssea, cujas origens podem ser retraçadas 
até 3000 anos a.C.; de Leide, que trata da medicina do ponto de vista religioso; e de 
Brugsch. 
É através do papiro de Leide, que se refere à união entre conhecimento 
científico e prática religiosa, a informação de que em cada templo existiam escolas de 
medicina, sendo as mais importantes as de Tebas, Menfins, Sais e Chem, havendo 
ambulatórios gratuitos, para a prática dos estudantes, futuros sacerdotes médicos. 
(Molina, 1937:5), (Paixão, 1960:12). 
Se não há menção à hospitais (e, também, a enfermeiros) aparecem leis civis 
e religiosas que recomendam dar hospitalidade e facilitar o auxílio a enfermos e 
desamparados, sendo que médicos, mantidos pelo Estado, tratavam gratuitamente os 
doentes durante as guerras e, mesmo, aqueles que realizavam longas viagens. 
 
3 Planta nativa da África tropical, da família das ciperáceas, cujas hastes são formadas de 
folhas sobrepostas, que os egípcios, depois de separar umas das outras, justapondo-as e colando-as 
em seguida, usavam para escrever. Disponível em: < www.dicio.com.br/papiro/ > Acesso em: 
19/09/2018 
 
5 
 
2 OS PRIMEIROS HOSPITAIS 
 
Fonte:iqaraislam.com 
Na Babilônia, a prática da medicina começou no mercado. Pode-se dizer que o 
mercado foi o hospital daquela época. Segundo Heródoto, o grande historiador de 
Halicarnassus (Livro I-197): “Os doentes eram conduzidos ao mercado, porque não 
existiam médicos. Os que passavam pelo doente interpelavam-no com o intuito de 
verificar se eles próprios tinham sofrido o mesmo mal ou sabiam de outros que 
tivessem tido. Podiam assim propor o tratamento que lhes fora eficaz ou eficaz na 
cura de pessoas de suas relações. E não era permitido passar pelo doente em 
silêncio. Todos deviam indagar a causa da sua moléstia. ” 
Não é verídica a primeira asserção de Heródoto negando a existência de 
médicos naqueles tempos primitivos, nem é exata a afirmativa que gozavam os 
sacerdotes das duas grandes ordens dos salmistas e mágicos e dos profetas ou 
adivinhadores. Mas no último período da história assírio-babilonesca começaram a 
tomar corpo os estudos médicos. Versaram principalmente sobre preparados vegetais 
e minerais sobre antídotos contravenenos de serpente e escorpiões e sobre 
tratamentos diversos em que o “encantamento” era tido em grandeconta. A profissão 
médica foi, destarte, estabelecida naquela região do globo. Segundo GARRISSON 
 
6 
 
(Código Hammurabi – 2.250 A.C.), a remuneração dos médicos estaria mesmo 
cuidadosamente regulamentada por lei, em certa época daquela civilização. A 
abertura de um abcesso no olho com lanceta de bronze, por exemplo, custava 10 
“shekels” de prata para os ricos, 2 a 5 para os pobres. Se o paciente falecia ou perdia 
o órgão visual era o operador severamente castigado: tinha sua mão cortada, no caso 
do cliente rico e, no caso de um escravo, era obrigado a dar-lhe substituto quando 
morria ou metade do valor da operação, ocorrendo a inutilização do olho. Os médicos 
assírio-babilonescos exerceram sua atividade até no Egito, onde eram chamados para 
consulta. Existiam especialistas e a remuneração era farta. Conhecem-se os nomes 
de alguns entre os que exerceram a profissão no primeiro milenário antes de Jesus 
Cristo. 
Arad Nanâ, médico de Asarhaddon (681-669 A.C.), deixou escrita a história do 
tratamento ocular de um pequeno princípe: 
 
“Arad Nanâ ao rei, meu senhor. Arad Nanâ é teu servidor; mil e mil votos 
pelo rei, meu senhor. Possam o deus Ninourta e a deusa Goula trazer 
felicidade e saúde ao rei, meu senhor. Mil votos para a criança cuja ôlho está 
doente. Eu coloquei um penso sobre o seu rosto. Ontem, à tarde, retirei o 
penso e também a compressa que estava em baixo. Havia sangue ou pus 
no penso apenas do tamanho da extremidade do dedo mínimo. Qualquer 
que seja o deus, entre os teus, responsável pela melhora, sua ordem foi bem 
executada. Mil votos. Que o coração do rei, meu senhor, esteja apaziguado. 
Em 7 ou 8 dias o doente ficará bom”. 
 
 
Em duas das mais antigas civilizações encontramos as raízes mais remotas 
das instituições hospitalares – as do Egito e da Índia. no Egito o hospital foi 
representado pelo templo de Saturno. Ao tempo da fundação de Alexandria, com sua 
universidade e biblioteca, seu intercâmbio com a Grécia, existiram os templos de 
Serapis e IsisSerapieia e Isieria, segundo o modelo das Asclepieia gregas. Herophilus 
e Erisitrastus foram os dois grandes anatomistas do Egito. Criaram os processos de 
dissecção e fizeram notáveis verificações como as das relações dos nervos com o 
cérebro e medula espinhal, a do 4.º ventrículo, do “calamus scriptoris”, da retina, etc. 
O médico era tido em alta conta no Egito. Na Odisséia (Livro IV-182) Homero assinala 
que eles excediam a todos os homens. 
Deve-se ao budismo a propagação das instituições hospitalares. Segundo Mac 
Eachern (apud Campos, 1944:13) Sidartha Gautama, o Iluminado (Buda), construiu 
 
7 
 
vários hospitais e nomeou, para cada dez cidades, um médico já “formado”, prática 
continuada por seu filho Upatise. 
A especialização era notável, no dizer de Heródoto: “a medicina no Egito está 
subdividida de modo que cada médico cura apenas uma enfermidade; o país está 
repleto de médicos dos quais uns são médicos dos olhos, outros da cabeça, outros 
dos dentes, outros do abdome e outros também (sic) para as moléstias invisíveis” 
Durante a guerra e as viagens no interior os doentes eram tratados 
gratuitamente por médicos mantidos pelo Estado. A concepção hepática 
assíriobabilonesca situando no fígado a sede da circulação, atribuindo-lhe a máxima 
importância vital, foi substituída, entre os egípcios, pela concepção pneumática em 
que a respiração ocupava o primeiro posto, bem que soubessem ser o coração o 
órgão circulatório central. 
Em ordem cronológica, alguns autores indicam a existência de hospitais: 
anexos aos mosteiros budistas, em 543 a.C. (Puech) existentes no Ceilão, entre os 
anos 437 e 137 a.C. (Garrison); vários hospitais mantidos em diferentes lugares, 
“providos de dieta conveniente e de medicamentos para os enfermos, preparados por 
médicos”, por Dutha Gamoni, em 161 a.C (Robinson); 18 hospitais, providos pelo Rei 
Gamari, no Ceilão, em 61 a.C. (Puech). Da mesma forma, aparecem as primeiras 
referências a enfermeiros (geralmente estudantes de medicina): eles deveriam ter 
asseio, habilidade, inteligência, conhecimento da arte culinária e de preparo de 
medicamentos. Moralmente deveriam ser puros, dedicados, cooperadores” (Paixão, 
1960:13). Na Índia existiam ainda hospitais reservados ao tratamento de animais. 
Dentre os médicos hindus sobressaem-se Chakara (primeiro século da era cristã), que 
se especializou no uso de drogas anestésicas e é autor de uma enciclopédia médica; 
e Susrata, cirurgiã, que realizava operações de hérnias, cataratas e cesáreas. 
Moises, o primeiro legislador e profeta do povo hebreu, não tratou somente de 
aspectos religiosos. Seus preceitos de higiene, aplicados não apenas ao indivíduo e 
à família, mas a toda coletividade, o destaca entre os grandes sanitaristas de todos 
os tempos. As prescrições mais conhecidas referem-se ao contato com cadáveres, às 
mulheres durante à menstruação, à gravidez e ao puerpério, às doenças de pele, às 
doenças contagiosas e aos leprosos. Quanto à existência de hospitais permanentes, 
nada sabemos a este respeito em Israel. 
 
8 
 
Entretanto, ao lado dos deveres sagrados de proteção aos órfãos e viúvas, e 
de hospitalidade aos estrangeiros, havia também o de amparo aos enfermos: em 
albergues gratuitos para viajantes pobres e em hospedaria existia um lugar especial 
reservado aos doentes. A importância da obra coletiva em favor dos doentes ganhava 
destaque em caso de calamidade pública, quando se instalavam hospitais para a 
população. Além disso, havia o costume de visitar os enfermos em suas casas. 
Em se tratando de persas, fenícios e sírios, apesar de a documentação histórica 
nos apresentar um quadro de povos altamente evoluídos na navegação, na 
engenharia, na arte bélica etc., praticamente nada se sabe da existência de hospitais, 
e pouco no que se refere aos cuidados da saúde e da doença. 
Apenas em relação à base das doutrinas médicas persas - Ormuzd, princípio 
do bem, e Ahriman, princípio do mal – encontramos menção no livro de Zoroastro: 
plantas medicinais (“criadas” por Ormuzd) e enumeração e 99.999 doenças. 
Entretanto, algumas fontes referem-se a “hospitais” para pobres, onde estes 
eram servidos por escravos, sem esclarecer sua “independência” ou não de aspectos 
“assistenciais”, ou seja, devotados aos pobres e necessitados, em geral, órfãos, 
viúvas e viajantes. 
A medicina chinesa, bem como sua concepção do universo e sua filosofia, 
apresentam diferenças quanto à maioria dos povos orientais: o princípio das 
manifestações populares opostas, os cinco elementos e o culto dos antepassados 
atravessam toda civilização e impregnam o conceito de saúde e doença. Sobre o 
perfeito equilíbrio entre o princípio positivo masculino Yang e o negativo feminino Ying, 
se fundamentam a saúde, o bem-estar e a tranquilidade. 
O que mais nos interessa é que nos ensinamentos do médico hindu Susruta 
chegam à China, no século III, assim como a influência do budismo, fazendo florescer 
toda uma “rede” de hospitais: instituições para tratamento de doentes em geral, 
cuidados por enfermeiros (e mantidos, principalmente, pelos sacerdotes de Buda); 
instituições similares, com parteiras; hospitais de isolamento para doenças 
contagiosas e casas de repouso para convalescentes. Mas, também, a proibição de 
dissecação de cadáveres se impôs, impedindo o desenvolvimento da cirurgia. Os 
documentos não nos esclarecem sobre a causa da decadência geral da organização 
hospitalar que, pouco a pouco, foi abandonada, voltando-se a medicina para aspectos 
mais astrológicos. 
 
9 
 
3 HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DOS HOSPITAIS 
 
Fonte:www.gazetadopovo.com.br 
Na Idade Média os hospitais, cuja etimologia está ligada ao ato de hospedar, 
eram abertos a todas as mazelas humanas, exceto aquelas como a lepra e a sífilis, 
cujas vítimas tinham prédios específicos para abrigá-los, ou as instalações com 
público-alvo previamente definido,como os hospitais de St. Jacques (Santiago), 
destinados aos peregrinos de Santiago de Compostela, às prostitutas e às crianças 
abandonadas. Tal ‘especialização’ era, contudo, incipiente, sendo a maioria 
franqueada a todos. Qualquer que seja a sua designação — Hôtel-Dieu, hospital, 
hospício, albergaria etc. —, os hospitais medievais representavam o lugar por 
excelência da caridade, mesmo que em alguns momentos de sua história tenham sido 
usados para fins de ordem pública. Desde suas origens na Idade Média, então, pode-
se caracterizar o hospital por seu caráter notadamente religioso e como centro social 
para atendimento à população carente — e será difícil extrair-lhe esta marca, até 
porque a pobreza e o cuidado aos pobres são questões centrais do cristianismo. No 
início as inquietações com a salvação e a compaixão com o enfermo motivaram 
grande parte das doações às instituições hospitalares. 
 
10 
 
Os períodos de epidemias marcavam um aumento das contribuições, que 
podiam ser feitas sob a forma de legados e doações ou pelo recolhimento de esmolas. 
Deve-se atentar que, naquela época, o pobre era revestido de um manto santificado, 
era o pobre de Deus, e ao ato de abrigá-lo era atribuído igualmente um caráter 
sagrado. Com o tempo as questões ligadas ao mundo terreno passaram a predominar 
nas relações entre a sociedade e esses estabelecimentos transformando-os aos 
poucos, e a partir do século XVI foi sobretudo um novo olhar sobre o pobre e a pobreza 
que alterou a feição dos hospitais a partir do século XVI. 
O manto santificado foi posto de lado, dando lugar à ideia de que uma 
aglomeração de pobres representava um perigo potencial. Para fins historiográficos, 
muitos autores tendem a ressaltar as especificidades locais das ações sanitárias e 
práticas caritativas, no que se refere tanto a regiões quanto a países, quando, ao 
contrário, muitas vezes a permanência e a similitude são as marcas mais fortes dessas 
ações. As singularidades locais enfatizadas por esses autores parecem mais 
perceptíveis a partir do século XVIII, quando a tensão entre os cuidados médicos e as 
práticas assistenciais se fazer sentir de forma mais evidente em todo o território 
europeu. As práticas caritativas, no mundo católico, passaram a serem pautadas, no 
final da Idade Média, em ações pias de leigos organizados em irmandades e ordens 
terceiras que espelhavam valores da Europa medieval. 
A região da Itália vê surgir as primeiras irmandades e ordens terceiras que 
misturavam a fé e o auxílio mútuo, com inspiração, sobretudo, nas pregações de São 
Francisco de Assis e São Domingos. As irmandades e ordens terceiras foram 
responsáveis pela abertura de diversas igrejas e monastérios em todo o mundo 
católico. Ao longo da Idade Média a manutenção dos hospitais — como já foi visto — 
passava pelos donativos e esmolas destinados às igrejas e aos mosteiros. Após o 
surgimento das instituições religiosas leigas, as doações passaram a ser destinadas 
a elas, que mantinham obras de caridade. Desse modo as instituições leigas se 
tornaram, em certa medida, ‘mediadoras’ e depositárias da filantropia católica, 
situando-se entre o filantropo e a obra de caridade. Sobre esta última, ocorreu também 
uma mudança que lhe caracterizaria e conferiria um caráter mutualista, pois os 
hospitais passam a não serem mais abertos a todos, mas sim apenas aos membros 
de determinada irmandade ou confraria. 
 
11 
 
Segundo Cavallo, o sistema hospitalar de Turim estava centralizado em duas 
instituições: o Hospital S. Giovanni (1440), formado a partir da junção de vários 
pequenos hospitais e mantido sob a influência do episcopado; e o Hospital de S. 
Maurizio e Lazzaro (1575), administrado pelos militares e sob a égide da aristocracia. 
Havia outros hospitais menores, mas esses dois tinham como característica principal 
o atendimento aos doentes e suas atribuições foram determinadas no momento da 
sua constituição, não se tornando, assim abrigo das mazelas da sociedade que 
caracterizou o funcionamento dos hospitais de um modo geral. 
A partir do século XVII percebe - se algumas modificações com relação à ideia 
de hospital e das suas funções: sob influência da experiência italiana, ele se 
transforma em um prédio singular, com arquitetura própria que responde melhor ao 
papel por ele desempenhado. É nesse período que a preocupação com o isolamento 
dos doentes contagiosos se faz sentir, e constroem-se hospitais fora dos limites das 
cidades, como o Hospital Saint Louis (1607) em Paris, ou mesmo o Hôpital des 
Incurables e a Maison de Convalescence, anexos ao Hôtel-Dieu da capital francesa 
erigidos para evitar a aglomeração de doentes. 
 
 
Fonte: enfeps.blogspot.com 
O questionamento do hospital começou a ser feito ao longo do século XVIII, 
com as mudanças na concepção de assistência e com o desenvolvimento das 
discussões sobre higiene. Nesse século surgem também os hospitais especializados. 
Foucault (1995) destaca que a grande diferença desses hospitais para aqueles que 
 
12 
 
existiam até então refere-se à questão dos cuidados médicos: enquanto que a 
especialização dos hospitais medievais esteve pautada na exclusão, na segregação 
e na crença dos males que os loucos, os sifilíticos e os leprosos podiam transmitir às 
populações, os novos hospitais estavam baseados nos cuidados específicos às 
doenças. Outra característica do século das Luzes é a transformação do hospital em 
uma “máquina de curar”; no século seguinte ele se tornaria um “equipamento de 
saúde, lugar de prática, de ensino e de pesquisa”. 
 
 
Fonte: super.abril.com.br 
O historiador canadense Othmar Keel (2001) observa a distinção do modelo de 
medicalização dos hospitais franceses em relação aos demais países europeus, e 
afirma que isso foi possível graças ao que denomina “tecnologia clínica”, na qual 
insere tanto a abertura de novos espaços para a clínica médica, como o encontro 
desta com a prática cirúrgica, que tinha no hospital seu lócus de ação. E é justamente 
este ponto que singulariza a Escola de Paris: o estudo ‘anatomocirúrgico’ ou 
‘anátomolocalista’ da doença. 
No início do século XVIII constituiu-se, na França, uma organização sanitária 
pública visando o controle de epidemias e pestes, cuja atuação mais visível foi aquela 
calcada na mudança de percepção a respeito do lixo, da sujeira e das águas paradas, 
que passaram a ser considerados ambientes potenciais de doenças. A esta nova 
 
13 
 
situação outras seriam acrescentadas, como a preocupação com a circulação, com 
as cidades e com as condições de vida (alimentação, moradia etc.) e trabalho. O 
hospital não se manteve alheio a esse clima e tornou-se, com o passar do século, um 
dos focos principais de problemas. No entanto a partir do processo de reforma ou 
medicalização ele se converteu em uma peça essencial na política sanitária e 
demográfica posta em prática na Europa ao longo do século XIX: não só devido aos 
melhores equipamentos disponíveis, mas sobretudo em virtude da formação de seu 
corpo médico, inspirada na filosofia das Luzes. Era somente no hospital e na prática 
cotidiana que o conhecimento médico poderia ser adquirido, reafirmando seu papel 
de equipamento médico. Por outro lado, ocorreram transformações culturais 
profundas que possibilitaram alterar a imagem da medicina, bem como diversificar sua 
atuação e seus recursos. E em tal cenário o pequeno espaço ocupado no hospital 
pela doença, pelos serviços médicos e pela terapêutica passou a ser amplamente 
questionado. 
Em um tempo em que os preceitos de higiene ganhavam força, a intervenção 
das autoridades passou a ter papel decisivo, sobretudo nos locais conhecidos como 
focos privilegiados da doença: prisões, portos, barcos e hospitais gerais. Nesse novo 
quadro o hospital tradicional perdeu espaço. Foi preciso transformá-lo tanto física 
como conceitualmente, foi preciso que ele perdessesua feição assistencial em 
benefício da terapêutica. Apesar de todos os questionamentos, perdura um bom 
tempo sem solução o grande dilema do hospital: a presença dos ‘incuráveis’. Era 
prática corrente a manutenção de leitos para esses doentes, e muitas vezes eles eram 
reservados pelos benfeitores do hospital para seus beneficiários. Por mais que se 
exigisse a abertura de leitos para os ‘curáveis’, sabe-se que, na prática, os leitos eram 
ocupados durante longos anos pelos ‘incuráveis’. 
Somente a partir do século XIX, com a efetivação do processo de 
medicalização do hospital, a questão dos incuráveis começou a ser resolvida. A 
controvérsia sobre a permanência dos incuráveis no ambiente hospitalar não foi 
privilégio francês. Também na Inglaterra e nos Reinos Germânicos ocorreu uma 
tensão crescente entre a manutenção de leitos para os incuráveis, ou seja, entre esse 
tipo de ação filantrópica e um espaço maior para o ambiente de cura. 
O processo de medicalização do hospital pode ser entendido como a 
transformação parcial e desigual pela qual passaram algumas instituições de 
 
14 
 
assistência na Europa, a partir do século XVIII. Essa medicalização não esteve 
restrita, como já foi dito, aos hospitais. As obras de caridade vivenciaram o mesmo 
processo, no qual a medicina passou a ter papel importante: ao lado das sopas, do 
pão, do carvão, do vestuário e do abrigo, as visitas médicas e a distribuição de 
remédios passaram a fazer parte do cotidiano dessas instituições. Para os filantropos 
franceses oitocentistas, a distribuição de cuidados médicos gratuitos era mais uma 
forma de assegurar a ordem social. Nesse sentido, a medicalização era uma 
estratégia para o alcance do objetivo principal. Quando as doações diminuíam, as 
visitas médicas e os remédios eram os primeiros itens a serem reduzidos ou mesmo 
eliminados. 
O século XIX foi caracterizado por grandes mudanças, pode-se afirmar que 
este estava assente numa dicotomia entre a prática médica do ponto de vista teórico 
– Anatomia clínica, e a Medicina Laboratorial, correspondendo respectivamente à 
primeira e segunda metade do século XIX. A Medicina Laboratorial encontrava-se 
apoiada numa crescente interação entre ciências biológicas e não biológicas. 
No período correspondente à primeira metade do século XIX observou-se uma 
crescente evolução ao nível das descobertas no campo científico e biomédico, assim 
como na expansão de hospitais e na forma organizacional dos mesmos. No entanto, 
esta evolução estava a afetar preferencialmente os países mais evoluídos da Europa, 
(Inglaterra, França, Alemanha) e os Estados Unidos da América. 
Na Inglaterra, houve um aumento significativo do número de hospitais, graças 
a empresários que desafiaram padrões tradicionais e contribuíram para que houvesse 
suporte financeiro. Começaram então a existir diferentes instituições hospitalares, 
gerais e especializadas. 
Em 1860 estavam estabelecidos em Londres, pelo menos, 66 hospitais 
especializados. Alguns dos melhores hospitais especializados, ao nível de 
conhecimentos foram estabelecidos nos primeiros dois terços do século XIX, podemos 
então ter como referências o Royal Hospital (1814) especialista em doenças do peito; 
o St´s Mark Hospital (1835) em doenças cólon-retais; The Hospital for Sick Children 
(1852); The hospital for Diseases of Skin (1863); The National Hospital (1860) em 
doenças nervosas; o St Peter´s Hospital (1864) em doenças urológicas, entre outros. 
Estes hospitais eram encarados como opositores de hospitais de clínica geral por 
aceitarem casos que estes tinham negado. Para não serem ultrapassados, os 
 
15 
 
hospitais de clínica geral começaram então a criar departamentos especializados. O 
médico coordenava nesta altura, a admissão de pacientes, os trabalhadores, a 
marcação de consultas e a política hospitalar. 
 
 
Fonte: pt.wikipedia.org 
Apesar de existirem muitos hospitais especializados na Inglaterra a expansão 
deste tipo de hospitais também passou por Paris (1802), Berlim (1830), São 
Petersburgo (1834), Viena (1837) e nos Estados unidos da América (Massachusetts 
em 1824, Boston em 1832, Nova Iorque em 1836, na Filadélfia em 1855), tendo estes 
diferentes especializações. 
Em Londres as intuições eram sólidas, no entanto, nos Estados Unidos da 
América devido às grandes diferenças sociais existentes, houve necessidade de se 
estabelecer uma organização social diferente. Para que pudesse existir uma 
consolidação, alguns hospitais especializados dos Estados Unidos da América 
associaram-se a sociedades particulares alemãs, italianas e judias, criando-se fortes 
laços. 
Na Alemanha e Áustria as universidades e hospitais tinham uma íntima ligação 
e cooperação. Mais tarde a Inglaterra criou também esse tipo de ligação. 
O ensino trouxe os hospitais para a vanguarda da prática médica, 
consequentemente houve necessidade de evolução no âmbito da cirurgia. No início 
do século XIX algumas operações já eram realizadas nos hospitais. 
 
16 
 
Os hospitais de Paris tiveram uma grande ênfase ao nível cirúrgico, nos anos 
40 do século XIX, resultante da entrada da anestesia na medicina. 
A expansão não veio simplesmente atrás do desenvolvimento. De fato, a meio 
do século, tanto na Europa como na América assistia-se a uma enorme falta de 
confiança nos hospitais devido a infecções que pareciam ser endemicas e a um 
elevado número de mortes causadas por doenças provenientes das enfermarias 
cirúrgicas. Vários regimes foram surgindo para combater esta fase, passando pela 
limpeza e desinfecção das enfermarias, tal como a ventilação, tentado deste modo 
afastar a crença da infecção. 
Ignaz Semmelweis (1818-1865) e Florence Nightingale (1820-1910) 
contribuíram com teorias para estas reformas. Muitos planos diferentes para a 
redução da mortalidade na cirurgia foram propostos antes de Joseph Lister (1827-
1912). Ele apresentou o seu regime antisséptico baseado na teoria do germe de 
Pasteur, argumentando que devido à presença de um germe específico que causava 
putrefacção nas feridas. Lister foi muito importante para a transformação hospitalar e 
cirúrgica, onde a assepsia, antissépticos e anestesia tornaram-se amplamente 
praticados no hospital. Com estas novas práticas a cirurgia passou a ocorrer com mais 
frequência e permitiu a resolução de situações de maior complexidade. 
Os cirurgiões formados na Alemanha, foram líderes no desenvolvimento da 
cirurgia, os quais iniciaram operações mais delicadas, como a abertura do abdómen 
sob condições de assepsia. 
Theodor Billroth (1829-1894), cirurgião alemão que se tornou mais tarde 
professor de Viena, foi pioneiro na cirurgia abdominal, usando antissépticos, e 
posteriormente métodos assépticos. 
Richard Volkman (1850-1905), professor de cirurgia em Halle, Theodor Kocher 
(1841-1917), professor da clínica cirúrgica em Berna, Johann von Mickulicz-Radecki 
81830-1889), professor de cirurgia em Breslau, Johann von Nussbaum (1829-1890), 
cirurgião em Munique prestaram grandes contributos para a expansão cirúrgica. 
Todos eles trabalharam em associação com grandes hospitais, e desempenhavam o 
papel de professores em muitas cadeiras de cirurgia nas mais importantes escolas de 
medicina. 
 
17 
 
Desde 1860, que os laboratórios de química se associaram a grandes 
investigações, já nos anos 80 e 90 do século XIX investigações bacteriológicas 
ligaram-se a laboratórios hospitalares. 
Claud Bernard, um fisiologista de renome, foi considerado um dos fundadores 
da medicina experimental ou laboratorial, que veio assim destronar a medicina 
anátomo-clínica. Descobriu em 1851 o glicogénio e a sua produção pelo fígado e em 
1865 publicou Introdução ao estudo da medicina experimental. 
Louis Pasteur, teve muita importância pois criou a bacteriologia patológica com 
o seu Memoire sur la fermentation lactique (1857), em 1864 descobriu a existência de 
micro -organismos, que provocavam doenças, criando as bases de uma nova teoria 
- teoria do germe; descobriu ainda em 1880 o estreptococo, em 1881 desenvolveu a 
vacina contra o carbúnculo, em 1885, alcançou o sucesso mais notável ao vacinar um 
jovem pastor, mordido por um cão raivoso, injetando-lhe extratos da medula espinhal 
de um cão portador da doença. 
O alemão Koch ficou conhecido pela identificação do bacilo da tuberculose, 
isolou também o vibrião do cólera e definiu metodologias fundamentais para a 
investigação bacteriológica e epidemiológica. 
Koch juntamente com o inglês R. Ross (1857 – 1932), um dos grandes 
impulsionadores da medicina e higiene tropicais. 
Graças a Koch e ao seu trabalho, os laboratórios de bacteriologia tornaram-se 
parte integrante dos hospitais, sendo também mais tarde integrados laboratórios 
patológicos. 
Até então o papel do médico era observar e examinar extensamente o doente, 
tendo de interrogá-lo, apalpá-lo e auscultá-lo, ponderando várias hipóteses para 
chegar a um diagnóstico. Vindo em certos casos a anatomia tanatológica apoiar este 
tipo de investigações. No entanto, este procedimento estava a mudar e começava a 
ser introduzido o laboratório, usando aparelhos que doseiam e numeram as alterações 
físico-químicas. Um elevado número de elementos da classe médica passou não só 
a examinar apenas, mas também a enviar amostras para esses, o que foi 
determinante para a evolução da medicina. 
A descoberta do raio X, por Wihelm Roentgen em 1895 foi bastante importante, 
pois rapidamente começou a ser utilizado pelos médicos uma vez que permitia um 
diagnóstico mais preciso. 
 
18 
 
Neste século, também foram efetuadas inúmeras descobertas ao nível da 
genética, mas só vieram a ter relevância no século XXI. 
Com tanta inovação, não eram apenas os pacientes atraídos para o hospital 
como também pessoas que queriam participar como agentes ativos nestas novas 
técnicas de investigação. Os hospitais foram então perdendo o seu estigma de 
caridade e tornaram-se mais atrativos para os pacientes. O papel do hospital era agora 
mais do que uma simples visita ao doutor ou farmacêutico. 
A posição da enfermagem foi muito debatida, pois a imagem dos enfermeiros 
sofreu uma grande transformação. A antiga falta de instrução era agora substituída 
por um ensino e informação mais cuidada. Estas alterações levaram a classe média 
a procurar hospitais. Graças à afluência da classe média aos hospitais, estes criaram 
serviços especiais e quartos privados. Na Inglaterra alguns profissionais 
empreendedores aproveitaram o aumento da procura dos cuidados hospitalares para 
estabelecerem as suas próprias instituições. 
No final do século XIX os hospitais tornavam-se um local de afirmação do poder 
médico, graças à sua aliança com a ciência, como também devido à expulsão 
daqueles que exerciam indevidamente a profissão. As práticas bárbaras da 
terapêutica médica, citando como exemplo a purga e a sangria, foram remetidas para 
o campo tradicional. A sociedade ocidental encontrava-se em euforia, com o início da 
aplicação do princípio da vacinação preventiva e da soroterapia curativa relativamente 
às doenças microbianas. Verificou-se então o aumento da generosidade por parte da 
sociedade para com os investigadores, ficando estes com um melhor estatuto graças 
ao prestígio da ciência. 
 
 
19 
 
4 HOSPITAIS DA AMÉRICA 
 
Philadelphia General Hospital - Fonte:philadelphiabuildings.org 
O México tem o privilégio de prioridade em dois setores da civilização: na 
educação universitária e na edificação hospitalar. 
A primeira universidade a ser construída na América foi a “Real e Pontifíca 
Universidade do México”, em 1953. O primeiro núcleo universitário a se formar nos 
Estados Unidos foi o “Havard College”, cuja origem é contada a partir de 1636. Do 
mesmo modo foi no México que se erigiu o primeiro hospital em terras americanas. 
Cortez, levantou-o em 1524. 
Conta, pois, cerca de duas décadas mais do que a primeira instituição análoga 
do Brasil – a Santa Casa de Misericórdia de Santos, criada por Braz Cubas, em 1543. 
O Canadá, em 1637, viu iniciar-se a sua primeira casa de assistência, terminada dois 
anos mais tarde. 
Foi o “Hôtel Dieu du Precieux Sang” estabelecido pela Duqueza de Aguilon, em 
Quebec (MAC EACHERN). Por iniciativa de Jane Mance construiu-se, ainda, em 
Quebec, outro Hôtel-Dieu, onde se originou a ordem das Irmãs de S. José, o primeiro 
grupo organizado de enfermagem (Mac Eachern). Montreal logo edificou o seu Hôtel-
Dieu. 
Segundo Mac Eachern, os Estados Unidos instalaram o seu primeiro hospital 
para socorrer soldados enfermos. Teve sua sede em uma das ilhas de Manhattan. 
 
20 
 
Existiu em 1663. Outro em Nova Amsterdam foi dirigido por uma senhora holandesa, 
mas fechou suas portas em 1674. 
Na ausência de hospitais, muitas cidades possuíam apenas asilos 
“almshouses” ou simplesmente casa de residência onde os doentes eram tratados 
pelas mulheres da vizinhança. 
O primeiro asilo estabelecido na colônia foi obra de William Penn, em 1713. Era 
exclusivo dos quakers. A necessidade de uma instituição pública onde todos 
pudessem ser aceitos determinou a criação de outro asilo em 1732 – a “Filadelfia 
Almshouse”. Este parece ter sido o ponto de partida do Philadelphia General Hospital. 
Baseando-se nestas circunstâncias, este hospital julga-se o mais antigo dos Estados 
Unidos. 
 
5 EVOLUÇÃO HOSPITALAR NO BRASIL 
 
Fonte:hbrbr.uol.com.br 
As transformações da realidade econômica, política e cultural que o país 
enfrenta, têm feito com que cada vez mais novas tarefas sejam atribuídas para o 
educador e a população a quem atende. As práticas educativas não se restringem 
 
21 
 
mais somente aos muros escolares. Em função das necessidades atuais de 
democratização do ensino e movimentos inclusivos, diferentes instituições de caráter 
governamental e não governamental vem procurando atender os direitos das crianças 
e adolescentes nas mais diversas circunstâncias. A “Declaração Universal dos 
Direitos da Criança” promulgada pelas Nações Unidas em 1959 foi um marco inicial 
para discussão da concepção de crianças e adolescentes como sujeitos de direitos e 
agentes do processo social e histórico no qual estão inseridos. 
A ciência médica brasileira sempre acompanhou, passo a passo, os progressos 
dos outros povos através das publicações ou abeberando-se nas fontes mesmas, 
buscando, pessoalmente, as lições junto dos mestres e nos centros universitários dos 
mais notáveis do mundo. 
Temos uma medicina nacional com valores inconfundíveis, alguns 
consagrados no conceito médico universal, e sua contribuição particularmente no 
tocante às doenças ditas dos Trópicos e no domínio da originalidade, da observação 
clínica, e da profilaxia, e da terapêutica, constituem motivo de um sadio justo 
contentamento e, para que não dizê-lo, de orgulho patriótico para todos nós, sendo 
igualmente, também incentivo e dever para continuação e para melhoria, e para novas 
realizações – presentes e futuras. 
Força é confessar, entretanto, que a esse aprimoramento médico e científico, 
que vem desde os tempos coloniais, e no Império e na República, não 
corresponderam, entre nós, ainda hoje os progressos do aparelhamento hospitalar, 
no sentido geral, sempre lento e difícil no construir, não bastando nunca, nem na 
Capital, nem nos Estados, para satisfazer às exigências da assistência necessária e 
às finalidades outras, no Ensino por exemplo. Os nossos hospitais, uns mal 
aparelhados, outros bem equipados, que importa, se não lhes assiste uma 
sistematização conveniente de organização e de administração; se não dispõem 
esses estabelecimentos de auxiliares técnico-administrativos indispensáveis para 
cada setor, que facilitem, melhorem e completem o trabalho do médico e os cuidados 
da enfermagem a serviço da Medicina; se não satisfazem a seus fins de Assistência.Vale referir que desde a origem histórica da assistência hospitalar se verificou essa 
disparidade entre o progresso da medicina e o lento evoluir do hospital, como 
instituição médico-social de orientação científica, ainda mesma nos países em que a 
assistência e sistematização hospitalares constituem, hoje em dia, uma organização 
 
22 
 
excelente. Registre-se, como exemplo típico desse contraste, o caso dos Estados 
Unidos, onde foi também bastante tardia a aparição da instituição hospitalar, que, em 
compensação, se desenvolveu depois ali mais do que em qualquer outro país. 
O primeiro hospital deste Continente, de que há notícia, foi fundado por Cortez 
em 1524, na cidade do México, e o mais antigo hospital no Brasil é a Santa Casa de 
Santos, fundada por Braz Cubas, em 1543. Pois bem, só em 1637 construiu o Canadá 
o seu primeiro hospital, e somente em 1663, mais de um século depois do México e 
do Brasil, apareceu a primeira instituição hospitalar norte-americana, situada na Ilha 
de Manhattan, em Nova York. O ciclo de desenvolvimento deste setor do domínio 
médico e social, embora considerado como tendo corrido parelha com o progresso da 
Medicina e com a própria marcha da civilização, encerra fases áureas e períodos 
negros; evolução e paradas, e até involuções repetidas, em vários países e em todos 
os tempos. Motivos políticos e de religiões, e preconceitos antigos, tiveram decisiva 
influência nesses avanços e recuos na vida do hospital, como instituição, mesmo nos 
tempos mais modernos. 
Quem conhece, na sua intimidade, por exemplo, a história da assistência 
hospitalar brasileira, e muitos dos contemporâneos assistimos à sua acidentada 
existência nestes últimos anos, de uma atuação, aliás, cheio de esforços, de 
tentativas, mas de esparsas e isoladas vitórias dignas de menção e, muita vez, mal 
compreendidas ou mal apreciadas; testemunha ou participante, podemos aquilatar 
qual tenha sido a carreira semelhante no seio de outros povos, o valor das realizações 
alhures, do seu adiantamento, e o que custou a inovação e a criação dos padrões 
modelares da organização hospitalar moderna. 
Aceitemos o progresso alheio com irrestrita admiração, e sem prejuízo de um 
falso nacionalismo; sirvam os seus modelos e normas para uma consciente e razoável 
imitação, em adaptações convenientes. 
Preciosa, é, entre todas, neste particular, a realização norte-americana, e esta 
contribuição excelente nos é oferecida com uma acolhida sem restrição, e a mais 
cordial, como fruto da generosidade ianque e da cooperação humana e, mais do que 
isto, da Ciência, que não tem pátria. 
 
23 
 
6 ESPAÇOS DE CURA E LUGARES DE MEMÓRIA DA SAÚDE 
 
Hospital Gaffrée e Guinle - Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com 
 
Falemos, agora, de nós mesmos, para ver o que fizemos, o que estamos 
fazendo e o que poderemos fazer no Brasil. 
Dentre os hospitais construídos na década de 1920 e ligados à política de 
saúde pública proposta por Carlos Chagas, destaca-se o Hospital Gaffrée e Guinle, 
cujas ações estão vinculadas às propostas da Inspetoria de Profilaxia da Lepra e das 
Doenças Venéreas, e inseridas nas discussões de construção da nação, dominantes 
no período. Destinado ao controle e tratamento da sífilis e das doenças venéreas em 
geral, o hospital propunha-se a concorrer para a geração de uma nação sadia, sem a 
presença da sífilis. Ao mesmo tempo, a opção do arquiteto pelo estilo arquitetônico do 
neocolonial, reporta aos debates acerca da construção da nacionalidade e de uma 
arte nacional, o que, em arquitetura, durante certa fase, significou a adoção do estilo 
neocolonial, até o advento do modernismo, na década seguinte. 
A virada do século XIX para o século XX traz mudanças na percepção da 
nosologia da sífilis. O período presencia, na Europa, nova conscientização a respeito 
de três doenças há muito conhecidas, que passam a ser compreendidas como 
 
24 
 
calamidades sociais: a tuberculose, a sífilis e o câncer. Esses males marcaram as 
preocupações cotidianas, chegando mesmo a encobrir parcialmente o sucesso da 
descoberta dos soros antidiftérico e antirrábico. Faure (1994, p. 204) afirma: "[...] a 
tuberculose se torna perigosa quando se prova sua transmissibilidade, a sífilis quando 
triunfam as teorias sobre seu caráter hereditário". Já o câncer veio a despertar enorme 
inquietação quando estatísticas de óbitos alertaram sobre a sua incidência. Como 
ressalta Olivier Faure (Ibidem), as descobertas pasteurianas permitiram que os 
médicos diagnosticassem casos de câncer onde até então a doença passava 
despercebida, fazendo com que as suas estatísticas dobrassem em toda a Europa. 
Em comum, esses três novos flagelos apresentavam o espaço de atuação: a 
cidade. Controlar, portanto, tais doenças era permitir o surgimento de uma cidade e 
de uma civilização salubres. 
Contudo, a transformação da sífilis em calamidade social, nesse período, 
transcendia o ideário médico, pois trazia subjacentes as noções de pecado – das 
relações sexuais – e de degeneração da raça. E foi em tal cenário que, ao longo da 
primeira metade do século passado, desenvolveram-se todas as ações de controle e 
profilaxia dessas doenças. 
No Brasil, as políticas públicas de terapia e profilaxia, tanto as relacionadas à 
sífilis quanto aquelas referentes à tuberculose, só foram desenvolvidas a partir da 
Reforma Sanitária de 1920. Sérgio Carrara (1996), ao estudar a luta contra a sífilis no 
Brasil entre o final do século XIX e a década de 1940, lembra que, desde os anos de 
1880, já se havia implantado o ensino de dermatologia e sifilografia na Faculdade de 
Medicina do Rio de Janeiro, a cargo do professor João Pizarro Gabizzo; no mesmo 
período, inaugurou-se a Policlínica Geral do Rio de Janeiro, que contava, entre suas 
especialidades, com o Serviço de Doenças da Pele e de Sífilis, e com um curso livre 
de sifilografia, a cargo do médico Antônio José Pereira da Silva Araújo – à época, o 
grande nome da pesquisa e do combate à sífilis. O Serviço dirigido por Silva Araújo 
na Policlínica foi grande formador de quadros – por ali passaram médicos como 
Oswaldo Cruz e Salles Guerra. 
Em 1904, na Policlínica de Botafogo, foi criado o Serviço de Moléstias da Pele, 
a cargo de Juliano Moreira – este último substituído, três ou quatro anos depois, por 
Eduardo Rabello, discípulo de Silva Araújo (Idem, p. 89, nota 14). 
 
25 
 
Entre os médicos que, no início do século XX, mais se destacaram no combate 
à sífilis, encontram-se Werneck Machado e Eduardo Rabello. O primeiro sucedeu a 
Silva Araújo na chefia do Serviço de Doenças da Pele da Policlínica Geral do Rio de 
Janeiro e esteve à frente de diversos movimentos em prol do combate à sífilis, além 
de figurar como membro da Academia Nacional de Medicina. O segundo iniciou sua 
carreira vinculado à Policlínica de Botafogo, transferindo-se em seguida para a 
Faculdade de Medicina, onde sucedeu a Fernando Terra na cátedra de Dermatologia 
e Sifilografia e na enfermaria da Misericórdia, já nos anos de 1920; incluiu-se, também, 
entre os membros da Academia Nacional de Medicina. 
Na segunda década do século XX, a luta antivenérea ganha maior organização, 
com a criação, em 1912, da Sociedade Brasileira de Dermatologia e Sifilografia, na 
qual se congregavam os três grupos que militavam contra a sífilis no Rio de Janeiro. 
Eram eles: o grupo da Faculdade de Medicina, que reunia Fernando Terra, Eduardo 
Rabello e Oscar da Silva Araújo; o grupo de Manguinhos, formado por Adolpho Lutz, 
Gaspar Vianna, Arêa Leão e Heráclides de Souza Araújo; e o grupo da Policlínica, 
integrado por Werneck Machado e seus auxiliares. De São Paulo, faziam parte da 
Sociedade: Antonio Carini e Adolpho Lindenberg, ambos ligados ao Instituto 
Bacteriológico. A Sociedade editou os Anais Brasileiros de Dermatologia e Sifilografia, 
periódico que iniciou sua publicação em 1925, tendo por diretorescientíficos Fernando 
Terra, Adolpho Lutz e Werneck Machado (todos do Rio de Janeiro); A. Leitão (da 
Bahia); A. Lindeberg (de São Paulo); A. Aleixo (de Belo Horizonte); U. Nonahy (de 
Porto Alegre). A edição estava a cargo de Eduardo Rabello, Oscar da Silva Araújo e 
Gilberto de Moura Costa. 
Outra ação importante no período foi a realização, em 1918, na cidade do Rio 
de Janeiro, do I Congresso Sul-Americano de Dermatologia e Sifilografia, que veio a 
difundir enormemente a ideia do processo de sifilização em que se encontrava o povo 
brasileiro – ideia esta subjacente às ações postas em prática pelos sifilógrafos do país 
na década seguinte (CARRARA, 1997, p. 401). 
O início da década de 1920 pode ser considerado o divisor de águas no que 
tange à profilaxia da sífilis. A criação do DNSP e da Inspetoria de Profilaxia da Lepra 
e das Doenças Venéreas, esta última a cargo do sifilógrafo Eduardo Rabello, marcou 
o início de um processo de centralização da política de saúde e de ações mais 
dirigidas ao tratamento e profilaxia da sífilis – ou seja, o início de nova postura política 
 
26 
 
com relação à doença. Vale ressaltar que a marca por excelência dessa reforma 
sanitária foram o combate às endemias rurais e o projeto de inserção do sertanejo na 
nação, ambos defendidos pelos intelectuais reunidos em torno da Liga Pró-
Saneamento. Apesar de tal característica primordial, as ditas endemias urbanas 
também receberam atenção especial das autoridades, sobretudo em suas ações 
circunscritas à capital federal, orientadas para o combate à tuberculose, à lepra e às 
doenças venéreas. 
O grupo formador da Inspetoria de Profilaxia da Lepra e das Doenças Venéreas 
tinha por líder Eduardo Rabello, circundado por seus discípulos mais próximos, Oscar 
da Silva Araújo e Joaquim Mota, sendo estreitamente vinculado tanto à Faculdade de 
Medicina quanto ao diretor do DNSP, Carlos Chagas. 
A política de combate à sífilis – baseada principalmente na educação e 
propaganda higiênicas e no tratamento de doentes em dispensários e/ou hospitais 
especializados – não tardaria a dar resultados. Já no relatório apresentado em junho 
de 1920 por Alfredo Pinto Viera de Mello, ministro da Justiça e Negócios Interiores, 
era anunciada a participação dos irmãos Guinle na construção de um hospital 
destinado à profilaxia da sífilis no Rio de Janeiro (BRASIL, 1920, p. xxvi). Na 
mensagem enviada ao Congresso em maio do ano seguinte, ao expor o balanço das 
ações realizadas em prol da profilaxia da sífilis, fundamentalmente centrada na 
construção de dispensários, o presidente Epitácio Pessoa afirmava: "Outros se 
organizarão ainda, entre eles um hospital para 200 doentes, dádiva generosa feita ao 
Departamento Nacional da Saúde" (BRASIL, 1956, p. 276). Todas as mensagens 
presidenciais de Artur Bernardes pronunciadas entre 1923 e 1926 mencionavam o 
hospital para tratamento da sífilis, "obra de benemerência de dois capitalistas, 
Candido Gaffrée e Eduardo Palassin Guinle" (BRASIL, 1923, p. 39). 
De modo geral, o texto das mensagens procurava reforçar a grandiosidade do 
projeto – o que não deixa de ser verdade se o compararmos à malha hospitalar 
existente no país e, em particular, na capital republicana –, além de aludir ao 
desenvolvimento do projeto do hospital para venéreos. A Fundação Gaffrée e Guinle, 
mantenedora do hospital, foi constituída em agosto de 1923, mas desde 1920, ou seja, 
três anos antes de sua criação, o projeto já era anunciado, a demonstrar que os 
acordos entre o governo federal e Guilherme Guinle já vinham então em andamento; 
a entrada da Fundação Gaffrée e Guinle nas negociações representava mera 
 
27 
 
formalidade jurídica. Reforça tal hipótese a afirmação de Carlos Chagas, no relatório 
do DNSP de 1922; segundo o médico, dentro de poucos meses o Serviço da Sífilis 
alcançaria maior desenvolvimento, com o início do funcionamento dos modernos 
dispensários construídos graças à benemerência dos herdeiros de Candido Gaffrée e 
Eduardo P. Guinle (BRASIL, 1923, p. 201). 
Se, de um lado, os anos 1920 observam a mudança na postura do governo 
federal em relação às doenças venéreas – em particular a sífilis –, de outro, o 
imaginário social a respeito desta doença continuava inalterado. Representações da 
moléstia como degeneradora da raça estão presentes nos discursos da população em 
geral e dos médicos, sobretudo daqueles ligados direta ou indiretamente ao 
movimento eugenista, uma das marcas desse período da história do Brasil. 
O movimento eugênico organizado no Brasil surgiu em 1918, com a fundação, 
em São Paulo, da primeira Sociedade Eugênica no país. Dela fizeram parte, entre 
outros, o senador Alfredo Ellis, os médicos Arnaldo Vieira de Carvalho, Vital Brazil, 
Artur Neiva, Luiz Pereira Barreto e Antonio Austregésilo (STEPAN, 2004, p. 339-345). 
Com o tempo, outros médicos foram se reunindo em torno da Sociedade, como Carlos 
Chagas, Belisário Penna, Juliano Moreira e Miguel Couto. A maioria dos médicos 
membros da organização estava envolvida com o sanitarismo no Brasil e tinha em 
Belisário Penna, conforme mencionado anteriormente, o principal divulgador de suas 
idéias. A esse respeito afirma Nancy Stepan (Idem, p. 348): 
Estrutural e cientificamente a eugenia brasileira era congruente, em termos 
gerais, com as ciências do saneamento, e alguns simplesmente a interpretavam como 
um novo ‘ramo’ da higiene. Daí a insistência em que "sanear é eugenizar". 
Não é difícil entender as ações desses médicos e sua opção pelo combate à 
sífilis, justamente quando se organizam em torno da Sociedade Eugênica. Stepan 
(Idem, p. 349 et seq.) chama a atenção ainda para a afinidade dos eugenistas 
brasileiros com as teorias biológicas francesas – ou teorias neolamarkianas, para me 
valer do conceito adequado –, que possibilitavam interpretação de cunho moral e 
científico para a questão da raça. A sífilis, em especial, permitia dupla interpretação – 
pelos vieses das condições sociais e da moralidade. Sérgio Carrara (1997, p. 405) vai 
mais longe, ao afirmar: 
Conjugadas à crença em sua [da sífilis] extrema difusão no Brasil, devido ao 
excesso sexual que singularizava os nacionais, suas supostas características 
 
28 
 
hereditárias contribuíram significativamente para que a luta contra a degeneração no 
país se realizasse principalmente através de intervenções sanitárias. Assim, ao invés 
de se eliminar ou esterilizar os biologicamente "inaptos", como aconteceu em várias 
partes do mundo ocidental, buscou-se curar os males que os afligiam. 
Nesse ambiente favorável – tanto no âmbito governamental, com a criação do 
DNSP e do novo Regulamento Sanitário, quanto no âmbito social, com a criação da 
Sociedade Brasileira de Dermatologia e Sifilografia; a realização do Congresso Sul-
Americano de Dermatologia e Sifilografia; e a organização do movimento eugênico no 
país –, foi criada a Fundação Gaffrée e Guinle, sem dúvida uma resposta às 
demandas e reivindicações dos movimentos eugênico e sanitarista, cujos 
representantes no governo eram Carlos Chagas, diretor do DNSP, e Eduardo Rabello, 
chefe da Inspetoria de Profilaxia da Lepra e das Doenças Venéreas. 
O "grande entusiasmo científico" manifestado à época em torno da sífilis é 
apontado por alguns como fator preponderante na decisão de Guilherme Guinle a 
favor da construção de um hospital destinado ao tratamento deste mal (SANATÓRIOS 
E HOSPITAIS, 1939, p. 7), sobretudo se considerarmos o ideário da sífilis, segundo o 
qual a doença, por seu caráter hereditário, poderia degenerar as futuras gerações do 
país. Para um nacionalista como Guilherme Guinle, a oportunidade de colaborar para 
o futuro da nação justificaria seu investimento no projeto de Carlos Chagas e Eduardo 
Rabello, sem contar o respeito profissional e a amizade que unia o industrial a Chagas 
e, de certa forma, a todo o grupo envolvido nos projetos da Inspetoria de Profilaxiada 
Lepra e das Doenças Venéreas. 
Segundo a escritura da Fundação Gaffrée e Guinle, datada de 1923, caberia à 
família Guinle a aquisição de terrenos e a construção de um hospital para sífilis e 
doenças venéreas, bem como a criação de ambulatórios para diagnóstico e profilaxia 
da sífilis. Todo esse patrimônio deveria ser posteriormente repassado para a 
instituição. O aparelhamento e a manutenção do hospital, assim como a instalação 
dos ambulatórios correriam a expensas do governo federal. 
O hospital recebeu a designação de Hospital Gaffrée e Guinle, que, a partir de 
então, deveria ser obrigatoriamente mantida. Ficou acordado em 12 o número de 
ambulatórios a serem construídos pela Fundação, 4 dos quais ficariam subordinados 
às seguintes instituições de saúde: Santa Casa da Misericórdia; Instituto de Proteção 
à Infância; Maternidade de Laranjeiras; e Hospital Nossa Senhora das Dores. Um 
 
29 
 
quinto ambulatório foi instalado nas dependências da Casa da Moeda. No entanto, a 
Fundação Gaffrée e Guinle extrapolaria o número de ambulatórios estabelecido no 
acordo. Em 1928, o arquiteto Porto d’Ave (1928a, p. 8) anunciava o registro de 15 
ambulatórios em funcionamento, todos mantidos pela instituição; no ano seguinte, 
com a inauguração do Hospital Gaffrée e Guinle, ali começaria a operar o 16º. 
Quanto à manutenção da Fundação e de suas instalações, ficou definido que o 
custeio do hospital e dos ambulatórios seria assegurado por verba do governo federal, 
repassada pelo DNSP, além de doações, legados e taxas cobradas por serviços (a 
gratuidade destes seria assegurada somente aos pobres). Com relação à sua 
administração, a Fundação teria um Conselho Administrativo formado pelo diretor do 
DNSP (Carlos Chagas, à época), por um especialista da Faculdade de Medicina 
(Eduardo Rabello), e por um representante da família Guinle (Guilherme Guinle). 
Haveria também um Conselho Consultivo formado por 17 membros, escolhidos entre 
pessoas de destaque na sociedade, entre estas Ataulpho Napolis de Paiva, 
Clementino Fraga, Felix Pacheco, Fernando Terra, Fernandes Figueira, Gabriel 
Ozório de Almeida, José Xavier Carvalho de Mendonça, Linneo de Paula Machado, 
Miguel Couto, Paulo de Frontin, e Werneck Machado. 
À época de sua regulamentação, a composição do Conselho Administrativo da 
Fundação Gaffrée e Guinle reafirmava a proximidade da instituição com a direção da 
Saúde Pública e com a Inspetoria, que deveria dirigir seus trabalhos. Eduardo Rabello 
está presente como representante da Faculdade de Medicina, além de atuar 
paralelamente como responsável pela legislação antivenérea, implantada naquele 
momento, e como chefe da Inspetoria de Profilaxia da Lepra e das Doenças Venéreas. 
Dois dos discípulos de Rabello também estavam diretamente ligados a esse projeto: 
Oscar da Silva Araújo e Joaquim Mota – este último alcançou o cargo de diretor do 
Hospital Gaffrée e Guinle, na década de 1940. 
O capital inicial da Fundação foi formado com a verba destinada a tal fim por 
Cândido Gaffrée; com os recursos acrescentados pela família Guinle, representada 
por Guilherme Guinle; e com a doação de José Xavier de Mendonça, amigo da família, 
assessor jurídico das empresas Guinle e diretor da Companhia Docas de Santos. 
Sabe-se que Guilherme contou com a colaboração de todos os seus irmãos – Arnaldo, 
Eduardo, Guilherme, Otávio, Carlos, Heloísa e Celina –, sempre sob a sua liderança. 
 
30 
 
As realizações da Fundação não demoraram a aparecer. No primeiro relatório 
apresentado ao Conselho Consultivo, em 1925, 6 dos 12 ambulatórios já constavam 
como prontos e em funcionamento: Engenho de Dentro, Paulo de Frontin, Andaraí, 
Pró-Matre, Hospício e Gávea. E as obras do hospital não tardariam a começar. 
A Fundação Gaffrée e Guinle estava baseada em dois princípios: a ação 
filantrópica e a pesquisa científica. Para dar corpo ao primeiro, construiu-se um 
hospital, inaugurado em 1929; e, em atenção ao segundo, foi criado um Instituto de 
Pesquisa, cujas obras foram concluídas em 1927, permitindo, assim, o início dos seus 
trabalhos. Para divulgar ambas as vertentes de atuação, foi lançado o periódico 
Archivos da Fundação Gaffrée e Guinle. 
Os Archivos foram publicados ininterruptamente até 1931. Nos quatro anos 
seguintes, apenas dois números foram editados: o primeiro, relativo aos anos de 1932 
e 1933; e o segundo, ao período de 1934 e 1935. A partir de então o periódico deixou 
de circular. A Comissão Técnica responsável por sua publicação era formada por 
Carlos Chagas, Eduardo Rabello e Gilberto de Moura Costa. Vale lembrar que 
Eduardo Rabello e Gilberto de Moura Costa eram também os editores dos Anais 
Brasileiros de Dermatologia e Sifilografia, que começaram a circular três anos antes, 
em 1925. Os Archivos publicaram trabalhos médicos como os do próprio Gilberto de 
Moura Costa e de Hélion Póvoa; a partir dos anos 1930, Álvaro Ozório de Almeida 
começou a publicar no periódico seus primeiros trabalhos sobre o emprego da cama 
hiperbárica no tratamento do câncer e da lepra. 
O Hospital, cujo projeto era assinado pelo escritório Porto d’Ave & Haering, sob 
fiscalização e orientação dos médicos Eduardo Rabello e Gilberto de Moura Costa, foi 
inaugurado em 1º de novembro de 1929, sem que todas as enfermarias estivessem 
equipadas, visto que faltaram recursos governamentais. Seu primeiro diretor foi 
Gilberto de Moura Costa, que assumiu o posto em 1924. 
O projeto do hospital, elaborado para internar 320 pessoas, contava com um 
prédio principal de 4 pavimentos – o quarto andar era destinado ao solarium –, onde 
se localizavam os diversos serviços e um ambulatório. Nele funcionavam: os Serviços 
de Pronto-Socorro; de Vias Urinárias; de Ginecologia; de Obstetrícia; os Serviços 
Auxiliares ao Ambulatório do Hospital (laboratório, fisioterapia e raios X); os Serviços 
de Sífilis Visceral; de Otorrinolaringologia e Oftalmologia; as salas de cirurgia; e o 
Serviço de Mulheres Contagiantes. No mesmo prédio, estavam instaladas as 
 
31 
 
Superintendências dos Serviços Administrativos, dos Serviços de Estatística e de 
Enfermagem, da Renda da instituição e dos Serviços Sanitários, bem como o 
anfiteatro, a rouparia, o salão de honra, a biblioteca e o museu. No campus foram 
projetados pavilhões especiais para abrigar o Instituto de Pesquisa, o Biotério, a 
capela consagrada a Nossa Senhora da Conceição do Brasil, a residência do diretor, 
as oficinas de conservação, o dormitório dos empregados e a lavanderia 
O Instituto de Pesquisa foi planejado com elementos em homenagem à 
moderna bacteriologia, como, por exemplo, os vitrais da escadaria principal, que 
representam os dois maiores nomes da área, Louis Pasteur e Robert Koch, ladeando 
Oswaldo Cruz – o que também ilustra o cuidado com que o projeto foi pensado e 
desenvolvido. Vale ressaltar que coube a José Gomes de Faria, pesquisador do IOC, 
a orientação técnica do projeto do Instituto. Outra aproximação com a ciência 
desenvolvida em Manguinhos pela escola de Oswaldo Cruz pode ser percebida nos 
detalhes a que se ateve Gomes de Faria: laboratórios individuais, salas de anatomia 
patológica, além de biblioteca própria, desvinculada da existente no Hospital. 
 
 
Vitral na escada de acesso ao 1º pavimento do Bioterio . Acervo do Departamento de Arquivo e 
Documentação – FIOCRUZ, Rio de Janeiro - Fonte: escolademedicinaecirurgia.weebly.com 
Porto d’Ave conferia grande valor ao Instituto de Pesquisa; a seu ver, os 
trabalhos ali desenvolvidos dariam projeção às atividades da Fundação Gaffrée e 
 
32 
 
Guinle. Em conclusão ao seu artigo sobre o Hospital Gaffrée e Guinle, na revista A 
Bandeira, o arquiteto afirmava: "A grande obra que orgulha a todos os brasileiros e 
que está prestes a beneficiar, inicialmente o Brasil, e depois atravessando as suas 
fronteiras, toda a humanidade, pelos ensinamentos e descobertas que seguramente 
terãoorigem no seu Instituto de Pesquisas" (PORTO D’AVE, 1927, p. 14). 
No mesmo terreno do Hospital, embora funcionando de forma independente, 
situava-se o laboratório de Álvaro Ozório de Almeida, custeado unicamente por 
subvenção particular de Guilherme Guinle. Nesse local, Álvaro Ozório desenvolvia 
suas pesquisas de fisiologia sobre o câncer e a lepra, em contato constante com o 
Instituto de Manguinhos e o Instituto da Indústria e Pesquisa Animal. 
O complexo para o combate à sífilis – o Hospital, o Instituto de Pesquisa e os 
Ambulatórios – foi de modo geral bem recebido, não só na imprensa médica, mas 
também na imprensa cotidiana. Werneck Machado, na sessão da Academia Nacional 
de Medicina de 27 de setembro de 1923, discursou sobre a importância da criação da 
Fundação Gaffrée e Guinle. Referiu-se à própria experiência na Sociedade Brasileira 
de Profilaxia Moral, bem como à já mencionada proposta de Pizarro Gabizzo, e 
solicitou um voto de louvor a Guilherme Guinle pelo patrocínio do empreendimento – 
este discurso de Werneck Machado ensejou a resposta de Eduardo Rabello, citada 
anteriormente. Na mesma sessão, Nascimento Gurgel, então presidente da 
Academia, afirmava que a criação da Fundação constituía "notícia altamente 
significativa". 
Os periódicos médicos Arquivos Brasileiros de Medicina e Brazil Médico, assim 
como os jornais Correio da Manhã, O Jornal e Jornal do Commercio, também 
publicaram, em setembro de 1923, a íntegra dos termos constitutivos da Fundação 
Gaffrée e Guinle. A grande divulgação desses termos pela imprensa especializada e 
geral atesta, de um lado, o valor atribuído à ação de Guilherme Guinle, e, de outro, a 
importância concedida pela sociedade ao controle da sífilis. Pode-se mesmo comparar 
a relevância que a imprensa cotidiana da época conferiu à Fundação Gaffrée e Guinle 
à que recebeu a Liga Brasileira contra a Tuberculose, outra presença constante nos 
jornais. 
Também os Annaes Brasileiros de Dermatologia e Syphilografia publicaram, 
em seu primeiro número, em janeiro de 1925, um artigo sobre a Fundação Gaffrée e 
Guinle. Para seus editores, aquele exemplar não poderia deixar de fazer referência à 
 
33 
 
instituição. O texto alude aos ambulatórios da Fundação e ao projeto que tornaria o 
empreendimento uma vasta e perfeita organização de profilaxia venérea [...], [o] 
grande hospital, já em construção, que obedece ao tipo dos mais adiantados das 
grandes organizações hospitalares americanas, será dotado de todos os requisitos 
modernos que lhe permitirão, não só prestar aos doentes uma assistência eficaz, 
como servir aos interesses da ciência médica (ABDS, 1925, p. 90). 
Vale mencionar que os editores dos Annaes estavam envolvidos nesse projeto: 
Eduardo Rabello pertencia ao Conselho Administrativo da Fundação, Gilberto de 
Moura Costa era o diretor do Hospital Gaffrée e Guinle, e Oscar da Silva Araújo era 
da mesma forma ligado ao empreendimento. 
A imprensa médica de grande circulação também publicava anualmente a 
movimentação dos ambulatórios da Fundação, uma forma de divulgar entre a 
comunidade médica os bons resultados colhidos pela instituição e a sua boa aceitação 
por parte da sociedade. 
Um depoimento importante é o de Oscar Silva Araújo, que substituiu Eduardo 
Rabello à frente da Inspetoria da Lepra e das Doenças Venéreas. Ao assumir o posto, 
em 1927, Araújo publicou nos “Arquivos de Hygiene” um balanço das ações da 
Inspetoria em relação à profilaxia das doenças que constituíam objeto de trabalho 
daquele órgão. No texto, a Fundação Gaffrée e Guinle era reconhecida como uma 
instituição que cooperava com os trabalhos da Inspetoria. Ainda segundo Araújo, após 
a conclusão das obras, a Fundação se tornaria "Uma vasta e perfeita organização de 
prophylaxia venérea" (ARAÚJO, 1927, p. 216). 
No relatório da Inspetoria da Lepra e das Doenças Venéreas de 1927, Oscar 
da Silva Araújo expunha um balanço do trabalho da repartição nas doenças que lhe 
cabia assistir. Com relação à sífilis, o médico mencionava a construção e manutenção 
dos dispensários, frisando que aqueles destinados à população civil lograram maior 
êxito do que os dedicados aos militares. Araújo consagrava destacada atenção ao 
Serviço Especial para Prostitutas, o qual, a seu ver, alcançara ótimos resultados, 
"muito superiores aos obtidos em certas cidades onde a prostituição é regulamentada" 
(Idem, p. 210), em virtude sobretudo da propaganda – conferências para o público 
leigo e especializado, além de exposições de educação sanitária (Ibidem). 
Os bons resultados colhidos pelas campanhas de profilaxia da sífilis, bem como 
o sucesso no controle da doença (ARAÚJO, 1927, p. 218-219), permitiram que, com 
 
34 
 
o tempo, o Hospital Gaffrée e Guinle diversificasse seus serviços. Em 1946, um acordo 
entre o DNSP e a Fundação Gaffrée e Guinle permitiu que parte do Hospital fosse 
arrendada ao Serviço Nacional do Câncer; o acordo vigorou por cerca de 10 anos 
(BODSTEIN, 1987, p. 46-47). 
Após a morte de Guilherme Guinle, em 1960, não perdurariam as relações 
entre Hospital Gaffrée e Guinle e a família que o fundou e o manteve. Em meados dos 
anos 1960, um acordo entre o governo federal e a Fundação Gaffrée e Guinle, tendo 
à frente Carlos Guinle, transferiu para a alçada federal o Hospital, que passou a 
constituir o Hospital Universitário da Faculdade de Medicina e Cirurgia do Rio de 
Janeiro – hoje Universidade do Rio de Janeiro (Unirio) –, e teve seu nome alterado 
para Hospital Universitário Gaffrée e Guinle. 
 
7 GASTOS PÚBLICOS COM SAÚDE: BREVE HISTÓRICO, SITUAÇÃO ATUAL E 
PERSPECTIVAS FUTURAS 
 
Fonte:celos.com.br 
 
35 
 
Paulo Hilário Nascimento SaldivaI e Mariana Veras, publicaram artigo sobre o 
tema, onde afirmam que apesar dos marcantes avanços de nosso sistema de saúde 
pública, hoje sintetizado em apenas três letras - SUS -, há ainda um grande caminho 
a percorrer para prover as condições de preservar a saúde da população do nosso 
Brasil. Neste texto foi abordado de maneira despretensiosa conquistas e programas 
exitosos do SUS, mazelas do financiamento e má gestão, os desafios futuros e 
princípios que devem nortear as ações para alcançarmos um patamar mais eficiente 
de atenção à Saúde. 
7.1 Qual a situação atual da saúde pública no Brasil? 
Saldival e Veras partiram da premissa que o Brasil necessita de um sistema 
público unificado de saúde e que o princípio liberal de privatizar serviços não é a 
melhor alternativa para a maior parte da população de nosso país. É evidente que há 
instituições privadas de saúde que apresentam níveis de excelência excepcionais, 
mas o acesso ainda se restringe a uma minoria da população. Primeiramente, a saúde 
é universo muito maior do que excelentes hospitais terciários. Mesmo esses possuem 
em seus quadros profissionais formados nos hospitais públicos, o que implica a 
necessidade de manutenção da excelência nos dois sistemas. Não podemos deixar 
de salientar que a maior parte dos programas de residência médica pertence a 
instituições públicas (Scheffer, 2015). 
Outro aspecto que justifica a opção pelo foco deste texto na proposição de 
melhorias e consolidação do SUS é o elenco de soluções inovadoras e efetivas 
conquistadas pela saúde brasileira e que somente foram possíveis pela existência do 
sistema público de saúde. São conquistas do SUS e exemplos para o mundo, o nosso 
sistema nacional de transplantes, o sistema de hemocentros, o resgate de 
emergências e atendimento pré-hospitalar em situações de acidentes, o tratamento 
da Sida (Síndrome da Imunodeficiencia Adquirida - Aids), a distribuição de 
medicamentos para o controle de doenças crônicas não transmissíveis (como 
hipertensão e diabetes), os sistemas de vacinação capazes de imunizar milhões de 
brasileiros em apenas um final de semana, a produção nacional de vacinas para as 
doenças negligenciadas ou emergentes, bem como a expansão do programasaúde 
da família. E como consequência dessas ações do SUS, os indicadores de saúde 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142018000100047#B15
 
36 
 
melhoram expressiva e substancialmente em comparação a outras áreas, tais como 
economia, educação, habitação e segurança pública. Entre os indicadores de saúde 
destacamos o aumento contínuo da expectativa de vida ao nascer, a redução das 
taxas de mortalidade infantil e da mortalidade materna (Victora et al., 2011; IBGE, 
2018). 
Vejamos, por exemplo, a variação de expectativa de vida ao nascer dos 
brasileiros nas últimas décadas, como apresentada na Figura abaixo: 
 
 
Variação da expectativa de vida ao nascer dos brasileiros, a partir da década e 1940 e sua projeção 
para 2020 – Fonte: IBGE 2018 
Como se pode depreender da Figura acima, o Brasil teve um notável aumento 
da expectativa de vida ao nascer nos últimos 50 anos, fruto da melhoria das condições 
de saneamento, do progresso da tecnologia médica e da existência de um sistema 
unificado de saúde - o SUS - que permitiu a expansão da imunização, melhor controle 
das doenças crônicas não transmissíveis e notável redução dos coeficientes de 
mortalidade infantil, frutos da expansão da assistência pré-natal e cuidados perinatais. 
 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142018000100047#B18
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142018000100047#B9
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142018000100047#B9
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142018000100047#f1
 
37 
 
 
Variação no tempo do coeficiente de mortalidade infantil no Brasil - mortes até um ano de vida por 
100 mil nascidos vivos. – Fonte: IBGE 2018 
O Brasil está colocado entre os países do mundo que mais aumentaram a 
expectativa de vida ao nascer e reduziram a mortalidade infantil e, seguramente, o 
SUS contribuiu muito para tais conquistas. Foi, portanto, a existência de um sistema 
unificado, gratuito e organizado que propiciou que mais brasileiros tivessem 
oportunidades de sobreviver ao primeiro ano de vida e viver por maior tempo. 
Antes da existência do SUS, a situação era bastante diversa, pois o acesso à 
saúde era possível por três vias: o pagamento pelo serviço particular/Inamps, os 
sistemas de assistência à saúde desenvolvidos por trabalhadores sindicalizados ou 
pelos sistemas que podemos designar como misericordiosos (Santas Casas, 
Hospitais-Escola ou entidades de caridade). Os dois primeiros acessos - a assistência 
privada ou sindicalizada - proviam serviços para uma pequena parcela da população, 
enquanto a maior parte dos brasileiros (estimada em cerca de 80% ou mais) dependia 
da misericórdia ou do seu próprio destino. O SUS, fruto da Constituição de 1988, 
nasceu com a finalidade de reduzir as desigualdades de acesso à saúde e promover 
a melhoria das condições de vida de nossa população. Foi uma pena, no entanto, que 
um princípio moral plenamente válido - a igualdade de acesso à saúde - não tivesse 
sido acompanhado de sistemas para garantir o seu financiamento, como veremos a 
seguir. 
 
38 
 
7.2 O financiamento da saúde pública no Brasil 
As mazelas do financiamento do sistema de saúde no Brasil são explicadas por 
diferentes fatores. Primeiramente, é preciso ressaltar que os recursos destinados à 
saúde no Brasil, embora não ideais, não diferem de países que lograram obter melhor 
assistência à população do que aquela que hoje, em média, é fornecida aos brasileiros 
(Piola et al., 2013). Presentemente, o financiamento à saúde no Brasil vem oscilando 
nos últimos anos ao redor de 8% do PIB. À guisa de comparação, países que 
oferecem acesso universal à saúde de boa qualidade despendem recursos pouco 
superiores aos do Brasil, como o Canadá (10,4% do PIB) e o Reino Unido (9,9% do 
PIB) (Piola et al., 2013b; Giovanella; Stegmüller, 2014). Uma leitura simples pode 
indicar que haja ineficiência dos gastos e não um problema de subfinanciamento em 
nosso caso. 
No entanto, uma análise mais detalhada indica que o cenário é um pouco mais 
complexo. Por exemplo, gastar maiores frações do PIB com financiamento do sistema 
de saúde não significa melhores condições de saúde para a população. Os cinco 
países que mais gastam proporcionalmente com saúde são (dados de 2015, OMS2), 
por ordem decrescente, Libéria (15,2% do PIB), Serra Leoa (18,3% do PIB), Estados 
Unidos da América (16,8% do PIB), Tuvalu (15% do PIB) e Ilhas Marshall (22,1% do 
PIB). Mesmo com as expressivas proporções de dispêndio em saúde em relação ao 
total de riquezas produzidas pelos países acima mencionados, não seria temerário 
afirmar que nenhum deles possui equidade de acesso à saúde comparável às do 
Canadá e do Reino Unido, que gastam muito menos para o mesmo fim. Os países 
mais pobres da relação acima apresentam problemas de saúde tão graves que fazem 
que os recursos alocados sejam insuficientes, ao passo que os Estados Unidos, por 
optarem por um sistema predominantemente mercantilista, excluam dos recursos 
alocados aqueles menos favorecidos. 
O conjunto de informações acima indica que a solução para o adequado 
funcionamento do sistema de saúde de um país depende de dois fatores: 
financiamento suficiente e gestão adequada dos recursos obtidos. O Brasil precisa 
melhorar nesses dois quesitos. 
A Figura abaixo mostra a evolução temporal da contribuição relativa dos entes 
federativos - união, estados e municípios - para o custeio da saúde no Brasil, deixando 
claro que, embora a maior parte dos governos federais indique o financiamento da 
 
39 
 
saúde como tema prioritário em seus mandatos (especialmente no período eleitoral), 
o que se observa é que efetivamente há um repasse dos custos progressivo para os 
estados e municípios, estes últimos o elo fraco da divisão tributária vigente (Scheffer; 
Bahia, 2014). 
 
 
Representação gráfica da contribuição relativa da contribuição dos orçamentos federal, estadual e 
municipal para o custeio da saúde no Brasil, sendo esses expressos em termos de porcentagem do 
PIB. – Fonte: IBGE 2018 
Outro aspecto importante a ressalvar é que o Brasil investe a maior parte de 
seus recursos em saúde no sistema de saúde privado, como demonstrado na Figura 
abaixo: 
 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142018000100047#B16
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142018000100047#B16
 
40 
 
 
 Variação temporal da contribuição relativa ao PIB dos sistemas público e privado para o custeio de 
saúde do Brasil. Fonte IBGE 2018 
Como se vê na Figura acima, o Brasil mantém, ao longo do tempo, o 
financiamento de saúde centrado predominantemente no sistema privado de saúde, 
ao qual têm acesso cerca de 23% da população. A situação acima exposta é ainda 
mais preocupante, pois a cobertura à qual têm acesso os 23% da população que 
pagam por isso é bastante desigual. Nos últimos anos, há um incentivo federal para a 
criação de planos de saúde mais populares, com menor cobertura para doenças mais 
graves. Em outras palavras, os planos de saúde, incentivados pelo governo, cobrem 
as doenças de menor custo. Uma vez que ocorra uma intercorrência mais grave, como 
uma neoplasia ou a necessidade de um transplante, a cobertura dos planos provados 
mais simples não acontece, onerando o SUS, o qual, por sua vez, não é ressarcido. 
Esse sistema visa favorecer o capital privado em detrimento do sistema público. 
Resumindo, vários atores obtêm vantagens e somente um perde, perde a maior parte 
da população brasileira, aquela situada nos estratos inferiores de renda familiar (Ocké-
Reis, 2007; Bahia, 2008, 2017). 
A fração da contribuição do sistema público para o custeio da saúde - 
atualmente em pouco menos de 50% do PIB - contrasta com aquela presente nos 
países que têm sistemas eficientes de saúde com acesso universal,

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