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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes Programa de Pós-Graduação em Psicologia CRITÉRIOS COMPORTAMENTAIS UTILIZADOS POR TÉCNICOS NA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO ESPORTIVO DE FUTEBOLISTAS DAS CATEGORIAS DE BASE Hugo César Reis Câmara Natal (RN) 2009 2 Hugo César Reis Câmara CRITÉRIOS COMPORTAMENTAIS UTILIZADOS POR TÉCNICOS NA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO ESPORTIVO DE FUTEBOLISTAS DAS CATEGORIAS DE BASE Dissertação elaborada sob orientação do Profº. Drº. João Carlos Alchieri e apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Psicologia. Natal (RN) 2009 3 Catalogação da Publicação na Fonte. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA). Câmara, Hugo César Reis. Critérios comportamentais utilizados por técnicos na avaliação do desempenho esportivo de futebolista das categorias de base / Hugo César Reis Câmara, 2009. 124 f . : il. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Psicologia, 2009. Orientador: Prof.º Dr.º João Carlos Alchieri. 1. Psicologia - Esporte. 2. Futebol - Avaliação comportamental. 3. Desempenho esportivo. I. Alchieri, João Carlos. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/BSE-CCHLA CDU 159.9:796.332 4 Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes Programa de Pós-Graduação em Psicologia A dissertação “Critérios Comportamentais Utilizados por Técnicos na Avaliação do Desempenho Esportivo de Futebolistas das Categorias de Base”, elaborada por Hugo César Reis Câmara foi considerada aprovada por todos os membros da Banca Examinadora e aceita pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Psicologia. Natal (RN), 19 Junho de 2009. BANCA EXAMINADORA _______________________________________________ Prof. Dr. João Carlos Alchieri (UFRN, Orientador) _______________________________________________ Prof. Dr. Benno Becker Junior (ULBRA/RS, Membro Externo) _______________________________________________ Prof. Dr. João Roberto Liparotti (UFRN, Membro Interno) 5 “Se quiserdes cultivar vossa inteligência, cultivai as forças que ela deve governar. Exercitai continuamente o vosso corpo, tornai-o robusto e são, para torná-lo sábio e inteligente. Fazei-o trabalhar, correr, viver sempre em movimento. Que em se fazendo um homem pelo vigor físico, ele será também pelo espírito”. (Jean Jacques Rousseau). 6 Dedico este sonho, primeiramente a DEUS por ter sempre me guiado pelos melhores caminhos, afastado-me dos sombrios e colocado pessoas maravilhosas em minha vida. Aos meus avós, JOSÉ FERNANDES CÂMARA (in memorian) e MARIA DE LOURDES REIS CÂMARA (in memorian) por toda educação que passaram, por todo carinho que tiveram, por todos os conselhos que deram e por toda a compreensão que sempre tiveram comigo. A minha linda filha, LUNA CLARA, por dar-me sempre alegria ao acordar e por dar um sentido maior a minha vida. À minha tia, MAGDA (in memorian) por ter sido minha mãe em potencial, sempre preocupada e disposta a fazer de tudo para que eu fosse feliz. Aos meus pais, CLÉIA MARIA E FRANCISCO LIMA por terem me dado a vida e a liberdade que eu precisei para tomar minhas decisões. Ao meu tio, CARLOS por sempre me acolher (não só em seu lar como em seu coração) e me incentivar nessa jornada. 7 AGRADECIMENTOS A DEUS, por ter me dado a vida, por ter permitido desde sempre e até hoje que eu assimilasse novos conhecimentos e conseguisse repassá-los adiante, e por ter ajudado-me em todas as horas, nas mais difíceis erguendo-me e nas mais alegres prendendo meus pés ao chão. Ao meu orientador, ALCHIERI (Tchê), por ter acreditado em meu potencial e valorizado- me, permitindo-me adentrar em uma área de conhecimento até então distante de mim, possibilitando meu ingresso no mestrado e incentivando meus estudos (sempre com bom humor). Ao mestre, “pai” e amigo, LIPAROTTI pela dedicação e compreensão que teve e pelos conhecimentos passados em toda minha trajetória acadêmica, por ter aparecido quando eu mais precisava, provocando-me com suas questões, por ter despertado o interesse pela pesquisa e pela Educação Física, por ter acreditado em meu potencial e em meu trabalho, e, sobretudo, por ter sido meu orientador nos estudos e na vida. Ao professor BENNO BECKER JUNIOR, por ter me honrado em aceitar fazer parte dessa banca, fato que deu e dará muito mais credibilidade a este trabalho. Ao professor DIETMAR MARTIN SAMULSKI, em ter aceitado ser leitor de meu trabalho no Seminário de Dissertação e pelas valiosas contribuições para que o mesmo fosse bem aceito perante a comunidade científica. Ao professor ALEXANDRE LUIZ GONÇALVES DE REZENDE, por ter dado importantes contribuições na elaboração do questionário. Aos professores ANDRÉ LUÍS SANTOS DE PINHO, DAMIÃO NÓBREGA DA SILVA E FLÁVIO HENRIQUE MIRANDA DE ARAÚJO FREIRE, pelo tempo disponibilizado para 8 responder às dúvidas e pelas importantes discussões metodológicas e estatísticas a respeito deste trabalho. A ELMA, por ter me auxiliado no agendamento das entrevistas, na coleta, na categorização e tabulação dos dados desse trabalho. A ANDREA, pelo tempo que passou comigo auxiliando-me nas traduções dos textos para a língua inglesa. A KATYUCE, por ter dedicado grande parte de seu tempo a mim, até mais do que a ela mesma, por ter estado sempre ao meu lado (apoiando-me e incentivado-me) quando tudo parecia estar perdido e por ter dado-me forças para continuar e vencer; por ter compreendido meus momentos de angústias e aflições. Sem ela não teria conseguido nem ingressar no Mestrado. Aos amigos de longa data, ALBERTO, FELIPE-TSÉ (Tsé), MARCELO RÉGIS, SUZANA e RECY e os de não tão longa, DANI, MANU, BIANCA e JOANA por terem, mesmo que à distância, estado presentes durante toda essa trajetória, dividindo angústias e alegrias, pelas brincadeiras, pelas horas de conversa e por terem sempre me apoiado quando mais precisei. Aos meus colegas de mestrado, em especial à dupla brilhante de mestrandos que ingressou orientada pelo o mesmo orientador que eu, ALYSON (uma das pessoas mais inteligentes que tive a oportunidade de conhecer) e a REMERSON (uma das pessoas mais esforçadas e disciplinadas que convivi) pelos momentos de descontração e pelos exemplos de pessoas que são. Além dos também colegas de mestrado, CARLA, DANI, FELIPE, ISABEL E SAMIA pelas colaborações no entendimento da Psicologia, pelo incentivo nos momentos de angústia e pelas correções, livros emprestados, sugestões e críticas nesse trabalho. 9 Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq pelabolsa concedida, a qual ajudou-me a concluir com êxito mais essa etapa em minha carreira acadêmica. Aos técnicos que colaboraram com a pesquisa, respondendo às perguntas, sem os quais este trabalho não seria possível. 10 CRITÉRIOS COMPORTAMENTAIS UTILIZADOS POR TÉCNICOS NA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO ESPORTIVO DE FUTEBOLISTAS DAS CATEGORIAS DE BASE RESUMO: Atualmente uma das maiores preocupações na área esportiva é identificar, selecionar, descobrir e revelar talentos no futebol. Como motivos principais verificam-se a busca por recursos diretos ou indiretos para jogadores, clubes, meios de comunicação, marcas esportivas e seus patrocinadores. Contudo, grandes salários são uma exceção e não uma regra, pois a maioria dos jogadores profissionais no Brasil recebe 1 salário mínimo por mês. Sabe-se também que nos clubes profissionais, diariamente, chegam vários jogadores para tentar ser um jogador de futebol profissional, entretanto, a maioria dos clubes – quase que a totalidade – não apresenta um aspecto metodológico, sistemático e analítico para selecionar os jogadores promissores. Os processos seletivos (“peneiras” ou “peneirões”) desenvolvidos pelos observadores técnicos (“olheiros”) resumem-se na observação do desempenho esportivo de um grande grupo de jogadores em um período de tempo de alguns minutos dado a cada jogador. Neste período o comportamento alvo é a habilidade com a bola. Caso sejam identificados jogadores promissores nessa seleção, estes são encaminhados ao clube para uma nova observação, a qual será conduzida pelo técnico responsável pela categoria de base em questão. Entende-se por categorias de base, as categorias amadoras (não profissionais), que deverão servir de “base” para a formação do plantel (elenco) dos clubes profissionais. E que são: sub-13 (abaixo de 13 anos), sub-15 (abaixo de 15 anos), sub- 17 (abaixo de 17 anos) e sub-20 (abaixo de 20 anos). A ausência de critérios comuns e indicadores de desempenho entre estes profissionais podem obstaculizar a avaliação de jogadores promissores, bem como ser uma atividade onerosa para o clube. Esse estudo propõe identificar, caracterizar e categorizar os critérios e os métodos de avaliação comportamentais, utilizados por técnicos das categorias de base do Rio Grande do Norte (RN) para avaliar o desempenho esportivo de jovens futebolistas, com a finalidade de comparar os critérios de avaliação do desempenho esportivo de jovens futebolistas, utilizados por técnicos com diferentes tempo de experiência na função. A proposta teve 2 estudos piloto, no primeiro (junho e julho de 2007) foram entrevistados 29 técnicos, sendo 17 da categoria sub-13 e 12 da categoria sub-17. Os dados foram tabulados e organizados em planilhas com vistas à descrição, sendo elaborado um conjunto de descritores do comportamento. E no segundo (maio e junho de 2008), com as reformulações realizadas com base nas observações, análises e descritores encontrados no primeiro, foram entrevistados 14 técnicos da categoria sub-15. Após os resultados encontrados nos pilotos, pôde- se delinear o estudo em questão, que contou com 46 técnicos de categorias de base do RN. E a partir dos resultados encontrados demonstram que a característica de maior importância, segundo os entrevistados foi o comportamento; a 2ª característica considerada mais importante foi a motivação; a 3ª foi a habilidade; a 4ª foi a condição física e a última foi a afiliação. E ao analisar os resultados em relação aos métodos de avaliação de desempenho esportivo utilizados pelos técnicos, notou-se claramente que a maioria utiliza apenas a observação para selecionar jovens futebolistas. Portanto, nota-se que precisa haver uma sistematização na seleção desses futebolistas, uma vez que há complexidade na verificação de aspectos e características envolvidas, para que se possa evitar avaliações e seleções equivocadas e resultados pouco significativos. Palavras-chave. Futebol, Avaliação Comportamental, Desempenho Esportivo. 11 BEHAVIORAL CRITERIAS USED BY COACHES ON EVALUATION OF SPORTIVE PERFORMANCE OF SOCCER PLAYERS OF BASE CATEGORIES ABSTRACT: Currently one of the major concerns in sports is to identify, select, discover and reveal talents in soccer. As principal reasons is perceived the search direct or indirect for resources for players, clubs, media, sports brands and their sponsors. However, high salaries are an exception and not a rule, because the majority of professional players in Brazil receives 1 minimum salary per month. It is also known that on professional clubs, daily, arriving several players to try to be a professional soccer player, however, the majority of clubs - almost all - does not present methodological, systematic and analytical aspects to select promising players. The selective processes ("sieves" or "big sieves") developed by technical observers (“olheiros") summarized in the observation of the sportive performance of a big group of players in a period of few minutes given to each player. In this period the target behavior is the ability with the ball. If promising players are identified on that selection, they are referred to the club for a new observation, which will be conducted by the responsible coach of base category in question. It is understood by base categories, the amateur categories (not professional), to serve as a "base" for the formation of the cast of professional clubs. What are sub-13 (under 13 years), sub-15 (under 15 years), sub-17 (under 17 years) and sub-20 (under 20 years). The absence of common criterias and performance indicators of these professionals may hamper the evaluation of promising players, and be a costly activity for the club. This study proposes to identify, characterize and categorize the criterias and methods of behavioral evaluation, used by coaches of base categories of Rio Grande do Norte (RN) to evaluate the sportive performance of young soccer players, with the purpose of to compare the criterias of evaluation of sportive performance of young soccer players, used by coaches with different time of experience in function. The proposal had 2 pilot studies, the first (June and July, 2007) were interviewed 29 coaches, 17 of category sub-13 and 12 of category sub-17. The data were tabulated and organized into spreadsheets in order to describe, and developed a set of descriptors of behavior. And the second (May and June, 2008), with revisions made based on observations, analysis and descriptions found in the first, were interviewed 14 technical of category sub-15. After the results found in pilots, it was possible to outline the study in question, which had 46 coaches base categories of the RN. And from the results show that the characteristic of greatest importance, according to the interviewees was the behavior, the 2nd most important characteristic considered was the motivation, the 3rd was the ability and the 4th was the physical condition and the last was the affiliation. And by analyzing the results to the methods of evaluation of sportive performance used by coaches, it was noted clearly that most uses only the observation to select young soccer players. Therefore, needs a systematization to the selection of soccer players, since there is complexity in the verification of characteristics and aspects involved with purpose to avoid wrong evaluations and selections and the results negligible. Key-words. Soccer, Behavioral Evaluation, Sportive Performance. 12 Índice LISTA DE FIGURAS____________________________________________________ 14 LISTA DE GRÁFICOS__________________________________________________15 LISTA DE TABELAS___________________________________________________ 16 1 INTRODUÇÃO_______________________________________________________ 18 2 REVISÃO DE LITERATURA__________________________________________ 21 2.1 O futebol de campo___________________________________________________ 21 2.1.1 Categorias de base__________________________________________________ 22 2.1.2 Contexto histórico-geográfico-cultural__________________________________ 23 2.2 A psicologia no Esporte_______________________________________________ 26 2.2.1 Áreas de atuação da Psicologia no Esporte_______________________________ 31 2.2.1.1 Esporte de alto desempenho__________________________________________ 31 2.2.1.2 Esporte escolar ou educação__________________________________________ 31 2.2.1.3 Esporte recreativo__________________________________________________ 31 2.2.1.4 Prevenção, saúde e reabilitação_______________________________________ 32 2.2.2 Características psicológicas do jogador de alto desempenho_________________ 32 2.2.3 Treinadores de alto desempenho (“Experts Coaches”)_____________________ 33 2.2.4 Psicologia no Esporte, o futebol_______________________________________ 35 2.3 O talento esportivo___________________________________________________ 36 2.4 Seleção de talentos nos esportes________________________________________ 37 2.4.1 Seleção e orientação esportiva_________________________________________ 38 2.4.1.1 Aptidões hereditárias_______________________________________________ 39 2.4.1.2 Análise genotípica do indivíduo_______________________________________ 40 2.4.1.3 Critérios de seleção_________________________________________________ 41 2.4.1.3.1 Idade dos jogadores______________________________________________ 41 2.4.1.3.2 Capacidades avaliadas____________________________________________ 42 2.4.1.3.3 Objetivos da seleção______________________________________________ 42 2.4.1.3.4 Idade anatômica_________________________________________________ 43 2.4.2 Seleção de talentos nos esportes coletivos________________________________43 2.5 Observadores técnicos (“Olheiros”)____________________________________ 44 13 3 OBJETIVOS_________________________________________________________ 47 3.1 Objetivo geral_______________________________________________________ 47 3.2 Objetivos específicos__________________________________________________ 47 3.3 Justificativa_________________________________________________________ 47 4 MATERIAL E MÉTODO______________________________________________ 49 4.1 Tipo de pesquisa_____________________________________________________ 49 4.2 Critérios de inclusão__________________________________________________ 49 4.3 Estudos piloto_______________________________________________________ 49 4.4 População e amostra__________________________________________________ 50 4.5 Instrumentos de coleta de dados________________________________________ 50 4.6 Procedimentos de coleta de dados_______________________________________ 51 4.7 Instrumentos e procedimentos para análise de dados_______________________ 52 5 RESULTADOS_______________________________________________________ 53 5.1 Resultados dos estudos piloto__________________________________________ 53 5.2 Resultados do estudo_________________________________________________ 58 6 DISCUSSÃO_________________________________________________________ 90 7 CONCLUSÕES_______________________________________________________ 96 8 REFERÊNCIAS______________________________________________________ 98 9 APÊNDICES________________________________________________________ 103 9.1 Glossário__________________________________________________________ 103 ANEXOS_____________________________________________________________117 14 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Áreas da perícia no esporte ____________________________________________ 30 Figura 2: Características avaliadas na seleção de futebolistas, medidas e testes____________41 15 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Características observadas por técnicos da categoria sub-13________________ 53 Gráfico 2: Características observadas por técnicos da categoria sub-17________________ 54 Gráfico 3: Características observadas por técnicos da categoria sub-13 (ajustado)________ 55 Gráfico 4: Características observadas por técnicos da categoria sub-17 (ajustado)________ 55 Gráfico 5: Percentuais de técnicos por faixa etária________________________________ 59 Gráfico 6: Percentuais de técnicos por nível de escolaridade________________________ 61 Gráfico 7: Percentuais de técnicos por tempo de experiência________________________ 62 Gráfico 8: Percentuais de técnicos por tempo no clube_____________________________ 63 Gráfico 9: Percentuais de técnicos por tempo de experiência como jogador_____________ 65 Gráfico 10: Percentuais de técnicos e os aspecto de condição física___________________ 67 Gráfico 11: Percentuais de técnicos e fundamentos técnicos_________________________ 71 Gráfico 12: Percentuais de técnicos e aspectos táticos defensivos_____________________ 73 Gráfico 13: Percentuais de técnicos e aspectos táticos ofensivos______________________ 74 Gráfico 14: Percentuais de técnicos por tempo de experiência e condição física__________ 76 Gráfico 15: Percentuais de técnicos por tempo de experiência e motivação______________78 Gráfico 16: Percentuais de técnicos por tempo de experiência e afiliação_______________ 79 Gráfico 17: Percentuais de técnicos por tempo de experiência e comportamento__________81 Gráfico 18: Percentuais de técnicos por tempo de experiência e fundamentos técnicos_____83 Gráfico 19: Percentuais de técnicos por tempo de experiência e visão de jogo____________84 Gráfico 20: Percentuais de técnicos por tempo de experiência e aspectos táticos defensivos_86 Gráfico 21: Percentuais de técnicos por tempo de experiência e aspectos táticos ofensivos__87 Gráfico 22: Percentuais de técnicos por tempo de experiência e métodos de avaliação_____ 89 16 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Número de técnicos da categoria sub-15 e nível de escolaridade_____________ 56 Tabela 2: Número de técnicos da categoria sub-15 e aspectos de condição física_________ 57 Tabela 3: Número de técnicos da categoria sub-15 e habilidade______________________ 58 Tabela 4: Número de técnicos da categoria sub-15 e métodos de avaliação_____________ 58 Tabela 5: Número de técnicos por faixa etária____________________________________ 59 Tabela 6: Número de técnicos por nível de escolaridade____________________________ 60 Tabela 7: Número de técnicos por tempo de experiência____________________________ 61 Tabela 8: Número de técnicos por tempo no clube_________________________________ 63 Tabela 9: Número de técnicos por tempo de experiência como jogador_________________ 64 Tabela 10: Número de técnicos e registro profissional (CONFEF/CREFs)______________ 66 Tabela 11: Número de técnicos e os aspectos de condição física______________________ 67 Tabela 12: Número de técnicos e aspetos do comportamento________________________ 69 Tabela 13: Número de técnicos e fundamentos técnicos____________________________ 70 Tabela 14: Número de técnicos e aspectos táticos defensivos________________________ 72 Tabela 15: Número de técnicos e aspectos táticos ofensivos_________________________ 73 Tabela 16: Número detécnicos e métodos de avaliação que utilizam__________________ 75 Tabela 17: Número de técnicos por tempo de experiência e condição física_____________ 76 Tabela 18: Número de técnicos por tempo de experiência e motivação_________________ 77 Tabela 19: Número de técnicos por tempo de experiência e afiliação___________________ 79 Tabela 20: Número de técnicos por tempo de experiência e comportamento_____________ 80 Tabela 21: Número de técnicos por tempo de experiência e fundamentos técnicos________ 82 Tabela 22: Número de técnicos por tempo de experiência e visão de jogo_______________ 84 17 Tabela 23: Número de técnicos por tempo de experiência e aspectos táticos defensivos____ 85 Tabela 24: Número de técnicos por tempo de experiência e aspectos táticos ofensivos ____ 87 Tabela 25: Número de técnicos por tempo de experiência e métodos de avaliação________ 88 18 1 INTRODUÇÃO Nos últimos dois séculos, sabe-se que, no Brasil e no mundo, uma das maiores preocupações na área futebolística é identificar, selecionar, descobrir e revelar talentos. Como motivos principais verificam-se a busca por recursos que direta ou indiretamente criam expectativas para jogadores (em 2008 - em lista publicada por uma das revistas mais conceituadas no mundo esportivo - a France Football, o jogador mais bem pago do mundo foi o inglês David Beckham que recebeu 32,4 milhões de Euros por ano, que igualando 1 Euro a 2,899 Reais, cerca de 93.927.600 Reais por ano ou 257.336 Reais por dia; o segundo lugar foi do jogador Lionel Messi com 28,6 milhões de Euros/ano; e o terceiro lugar foi para Ronaldinho com 19,6 milhões de Euros/ano. (France Football, 2009). Em 2009, já tiveram 2 das maiores negociações do futebol mundial (Cristiano Ronaldo vendido do Manchester United ao Rela Madrid por 94 milhões de Euros e tornando-se a transação mais cara de um jogador de futebol de todos os tempos e Kaká vendido do Milan ao mesmo Real Madrid por 65 milhoes de Euros e tornando-se a terceira maior transação de jogador da história do futebol, ficando atrás de Cristiano Roaldo e de Zinedine Zidane). (Agência EFE) . Assim como para clubes (na temporada 2003/2004: o Manchester United era o clube mais rico do mundo, com faturamento de 248.000.000 de Euros; em segundo estava o Real Madrid - 226.000.000 de Euros; e em terceiro estava o Milan - 213.400.000 de Euros. (Estadão, 2005). Os 20 clubes mais ricos do mundo são da Europa, meios de comunicação, marcas esportivas (a parceria entre a FIFA e a Adidas para a Copa de 2006, foi estimada em US$ 351.000.000) e seus patrocinadores (por exemplo, Sansung com o Chelsea foi acertada em cerca de R$ 243.000.000) (Último segundo esportes, 2005). Além 19 de gerar recursos para os profissionais que trabalham na área, como treinadores. E na lista dos mais bem pagos o primeiro, do ano de 2008, foi Luiz Felipe Scolari (Felipão) com 12,5 milhões de Euros/ano, seguido por José Mourinho com 11 milhões de Euros/ano. (France Football, 2009). Devido à divulgação maciça da mídia todos os dias chegam, nos clubes de futebol, vários jovens que tentam vislumbrar a possibilidade de ser um jogador de futebol profissional no futuro. Entretanto a maioria dos clubes não apresenta um aspecto metodológico, sistemático e analítico para selecionar os jogadores promissores, apesar de compreenderem que investir nas Categorias de Base é a forma mais adequada para se trabalhar. Os processos seletivos (“peneiras” ou “peneirões”) que ainda são utilizados para essa seleção (realizada pelos observadores técnicos - “olheiros”), resumem-se na observação do desempenho de um grande grupo de jogadores em um período de tempo de alguns minutos dado a cada jogador. Neste período o comportamento-alvo é a habilidade com a bola. Caso sejam identificados jogadores promissores nessa seleção, estes são encaminhados ao clube para uma nova observação, a qual será conduzida pelo técnico responsável pela categoria de base em questão. O problema que surge diante de tais fatos é: será que há indicadores e concordância entre os critérios comportamentais utilizados pelos técnicos, mais e menos experientes, das categorias de base? A resposta para esse questionamento é importante, pois caso não haja concordância entre esses critérios, muitos jovens promissores podem estar sendo perdidos no meio desse percurso. Sabe-se que os padrões de comportamento e a organização da estrutura psicológica de cada indivíduo pode influenciar na performance do mesmo. Segundo Corrêa et al (p. 448, 2002). “…em toda ação, presente em um jogo de futebol, existe um envolvimento psíquico, sendo esse consciente ou não” 20 Segundo Vallerand & Colavecchio (1988) in Corrêa et al (2002), a influência do momento psicológico (alteração positiva ou negativa nos aspectos cognitivos, emocionais, fisiológicos e comportamentais, causada por um acontecimento isolado ou uma série de acontecimentos) sobre o desempenho depende de variáveis situacionais e individuais, como o nível de ansiedade e de motivação, assim como da própria natureza da tarefa que está sendo executada. Dessa forma, o grau de facilidade e de dificuldade de uma ação esportiva também influencia o desempenho esportivo. Além disso, em um estudo realizado por Corrêa et al (2002) em que foram entrevistados experientes em futebol (ex-jogadores, preparadores físicos, treinadores, jogadores em atividade) foram citados fatores que dizem respeito à influência da confiança, da motivação e da preparação psicológica no desempenho esportivo. Então, esse estudo propõe identificar os perfis sócio-profissionais dos técnicos das categorias de base do RN e verificar que critérios comportamentais eles utilizam para avaliar o desempenho esportivo dos jovens futebolistas que participam de processos seletivos em seus clubes. Para tentar elucidar melhor a questão proposta é preciso identificar que características estes técnicos descrevem como mais importantes para um futebolista da categoria de base e que métodos eles utilizam para avaliar tais características. 21 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 O Futebol de Campo A história do futebol é enigmática, pois os estudiosos não chegaram a um consenso, até o momento, sobre sua origem. No Japão e na China, há mais de 4000 anos, havia jogos em que se confrontavam grupos de homens em volta de uma bola de couro. Há, ainda, relatos que os Gregos e, em seguida, os Romanos praticavam jogos com bola que autorizavam tanto o uso dos pés como o das mãos, em partidas encarniçadas. Já outros estudos garantem que na idade Média a famosa “soule” causou muitos estragos, por ser um jogo muito explosivo, que deixava alguns jogadores quase mortos no fim do encontro. Outros achados relatam um jogo “pré-futebolístico” (tlachtli) - como escreveu em seu livro, Campos (2000) – no México pré-colombiano. Segundo o autor, o jogo da bola, nesse período e local, possuía significação cósmica, em que o campo simbolizava o céu noturno e a partida representava o antagonismo luz e treva. Cada equipe tinha 10 (dez) ou mais jogadores, a bola era uma bexiga inflada e a trave era um anel de pedra entalhado. O autor revela ainda que os jogadores podiam usar todas as partes do corpo, a exceção de mãos e antebraços, para manejar a bola. Os seja, partes do corpo como cotovelo e braço, que hoje não podem ser utilizadaspara tal manejo, na época eram permitidas. Porém, a grande maioria afirma que foi na Inglaterra, em suas escolas, que o futebol nasceu e desenvolveu-se. Além de ter o primeiro clube a ser criado, o Sheffield, no ano de 1862. E pouco depois, muito rapidamente, o futebol, estendeu-se por toda a Europa, tornando-se um esporte muito importante. (Deshors, 1998). 22 Mas, independente de onde tenha surgido, o futebol de campo é um esporte à parte no Brasil, pois envolve pessoas de todos os níveis sociais, raças e religiões. Além disso, o futebol é o esporte mais praticado no mundo, envolvendo mais de 200 milhões de pessoas, 191 (cento e noventa e um) países (A ONU, órgão internacional para a paz e os direitos humanos envolve apenas 185) e 4,1 milhões de clubes. (Liparotti et al, 2002). Diante da evolução esportiva em treinos aprimorados e estudos fisiológicos realizados e apesar de ser o esporte coletivo mais estudado no mundo, ainda existem pouquíssimos estudos em seu âmbito, especialmente, no que se refere à psicologia do esporte. Cozac (2004, p.144) faz um breve comentário sobre o futebol brasileiro: “O nosso futebol, por mais pentacampeão que possa ser dentro de campo, disputa a quinta divisão mundial diante do atraso em termos de concepção e treinamento. Um dia a terra seca. Os craques não são eternos. A paixão do brasileiro pela bola, talvez.” E é pra que esta terra não seque que aprofundaremos o conhecimento científico no futebol nos tópicos que seguem. 2.1.1 Categorias de Base Entende-se por categorias de base, as categorias amadoras (não profissionais), que servem de “base” para a formação do plantel (elenco) dos clubes profissionais. E que são sub-13 ou mirim (abaixo de 13 anos), sub-15 ou infantil (abaixo de 15 anos), sub-17 ou juvenil (abaixo de 17 anos) e sub-20 ou juniores (abaixo de 20 anos). Ou seja, o que delimita a categoria é a idade superior e não a inferior, assim meninos de 13 anos, por exemplo, podem participar da categoria sub-15 ou sub-17 dependendo do regulamento específico da competição. 23 2.1.2 Contexto histórico-geográfico-cultural É comum vermos pessoas, principalmente nascidas entre as décadas de 40 e 50 compararem o futebol jogado por volta da década de 70 com o futebol moderno (década de 90 em diante), elogiando o futebol do passado e enaltecendo a criatividade e a técnica apurada de seus futebolistas; e por outro lado, criticando o futebol moderno por sua truculência e pouca técnica o que estaria debilitando o “espetáculo das multidões”. Entretanto, sabe-se que tudo evolui e no quesito treinamento físico-fisiológico o futebol deu um salto grandioso. E atualmente, muitos estudiosos da área acreditam que a parte física é responsável por aproximadamente 70% para se ter um time competitivo e vencedor. A técnica perdeu espaço e está sendo possível verificar futebolistas com pouca técnica em grandes clubes, pois os mesmos ganham espaço, devido as suas fortes capacidades físicas. Diferenças, atualmente, ainda são perceptíveis quando observamos as diferentes nações em disputa e seus respectivos campeonatos. Podemos perceber, por exemplo, que em Países como Alemanha e Itália os futebolistas possuem características físicas surpreendentes com relação à estatura e massa muscular. Já no Brasil e em praticamente todos os países da América Latina, Portugal e Espanha, os futebolistas são tecnicamente melhores e fisicamente piores, basta observarmos os dados das competições internacionais que serão citados nesse momento. Das dezoito Copas do Mundo realizadas até o momento, seleções da América do Sul foram campeãs ou vice-campeãs em 13 (treze) oportunidades, enquanto as Européias foram campeãs ou vice-campeãs em 23 (vinte e três) oportunidades das 36 (trinta e seis) possíveis, sendo que Alemanha e Itália foram responsáveis por somar 13 (treze) participações em finais das 23 dos Europeus. Já Portugal e Espanha não estiveram presentes em nenhuma delas. Nos Jogos Olímpicos (Olimpíadas), das 25 (vinte e cinco) realizadas até o momento, as seleções da Europa sagraram-se 18 (dezoito) vezes campeãs e 18 (dezoito) vezes vice-campeãs e as Sul-americanas 24 conseguiram vencer a competição por 4 (quatro) vezes – o Brasil não conseguiu nenhuma – e foram vice-campeãs em 5 (cinco) oportunidades. (Fifa, 2009). A seleção Argentina é uma exceção latina, pois consegue unir futebolistas de extrema força física com futebolistas altamente técnicos. É só observar os resultados da Copa Libertadores da América, em que nas 49 (quarenta e nove) edições realizadas até o momento, os clubes argentinos venceram 21 (vinte e uma) e foram vice-campeões em outras 8 (oito) oportunidades, ou seja, chegaram à final em 59,2% das vezes que disputaram a competição. (Bola na área, 2009). Já no futebol brasileiro, nota-se que existem diferenças regionais, onde o futebol do sul e do sudeste possui jogadores fisicamente mais fortes embora tecnicamente mais fracos, enquanto que o futebol do centro-oeste, norte e nordeste possui futebolistas tecnicamente melhores e mais fracos fisicamente. E ao observar os campeonatos mundiais das categorias de base (mundial sub-17 e mundial sub-20) percebe-se que há bastante equilíbrio entre as seleções Européias e as Sul-americanas. É só verificar que dos 12 (doze) mundiais sub-20 realizados, 6 (seis) foram vencidos por seleções Européias e (seis) por seleções Sul-americanas, sendo que estas levam uma pequena vantagem sobre as Européias por terem 4 (quatro) vice-campeonatos contra 3(três). E observando os 12 (doze) mundiais sub-17, as seleções Européias têm 2 (dois) campeonatos e 5 vice e as Sul- americanas têm 3 (três) campeonatos e 2 (dois) vices (Fifa, 2009). As diferenças existentes no futebol brasileiro talvez possam ser explicadas pelas histórias dos Estados e seus respectivos imigrantes e dos primeiros habitantes pós-descobrimento. Nesse contexto, sabemos que a região nordeste teve uma ocupação maciça de portugueses e africanos, os quais posteriormente ocupariam as regiões norte e centro-oeste enquanto que a parte sul- sudeste foi ocupada por imigrantes vindos da Alemanha e Itália, principalmente. 25 Para uma melhor visualização do parágrafo acima, o estudo levará em conta os campeonatos brasileiros (Série A e B), a Copa do Brasil e o principal campeonato de categorias de base do País, a Copa São Paulo de Futebol Júnior. Dos 38 (trinta e oito) campeonatos brasileiros da série A, os clubes da região Sudeste foram campeões em 29 (vinte e nove) oportunidades, os da região Sul foram em 7 (sete) e os da região Nordeste em 2 (duas). E observando o campeonato brasileiro da série B, dos 30 (trinta) realizados, os clubes da região Sudeste foram campeões em 12 (doze) oportunidades, os da região Sul foram em 9 (nove) e os das regiões Centro-oeste, Nordeste e Norte em 3 (três). E quando se verificam os resultados da Copa do Brasil, das 20 (vinte) edições realizadas, os clubes da região Sudeste foram campeões em 12 (doze) oportunidades, os da região Sul foram em 7 (sete) e os da região Nordeste em 1 (uma), no ano passado com o Sport Recife-PE. No principal campeonato das categorias de base do País (Copa São Paulo de Futebol Junior), quando se observam os resultados, das 40 (quarenta) edições realizadas, mostram a ampla e indiscutível superioridade dos clubes da região Sudeste que foram campeões em 35 (trinta e cinco) oportunidades contra 5 (cinco) dos clubes da região Sul (Bola na área, 2009). Quando comparado aos demais esportes, o futebol se destaca não só por ter mais países envolvidos em sua maior entidade (Fédération Internationale de Football Association-FIFA)que a Organização das Nações Unidas (ONU), mas por ser o esporte que menos muda regras desde sua criação, por sempre ter tido resistência à abrir suas portas aos cientistas e estudiosos, por ter em muitos países supersticiosos e místicos envolvidos, entre outras (Liparotti et al, 2002). Se preparadores físicos que saíram da academia com o intuito de levar os conhecimentos adquiridos em no mínimo 4 (quatro) anos para dentro dos clubes de futebol já tiveram dificuldade em ser aceitos, imaginem como é a aceitação por parte de dirigentes e técnicos com relação a um Psicólogo do Esporte. Felizmente outros esportes, como vôlei, basquete, tênis e golfe abriram 26 suas portas aos Psicólogos do Esporte e com os resultados obtidos a tendência é que os clubes de futebol notem a importância desses profissionais. Para que se tenha um melhor entendimento da atuação de um Psicólogo do Esporte, será abordado um pouco sobre essa área de conhecimento que ainda tem sido pouco estudada no Brasil e no mundo. 2.2 Psicologia no Esporte Segundo o Colégio Oficial de Psicólogos (n.d), a Psicologia no Esporte tem como eixo básico e fundamental, a Psicologia Científica, da qual se constitui como uma área de aplicação. Por outro lado, esta disciplina apóia-se, embora em menor proporção, nos conhecimentos específicos provenientes das Ciências do Esporte, que perfilam o âmbito de aplicação e os conhecimentos complementares adequados para o desenvolvimento da área. Para Becker Junior. In Cozac (2004), a Psicologia do Esporte deve ter por finalidade investigar e intervir nas variáveis que estejam ligadas ao ser humano que pratica determinada modalidade esportiva e ao seu desempenho. Pode-se entender que este campo de aplicação da Psicologia tem um grande histórico de antecedentes, quando considerados o interesse da ciência e da filosofia pelo corporal e esportivo. Pode-se dizer que suas raízes estão na Psicologia Experimental de Wundt e nos trabalhos de laboratório, centrados no estudo dos tempos de reação e nas respostas motoras. Por outro lado, para encontrar as primeiras resenhas documentadas que explicitamente se referem à Psicologia aplicada ao esporte, deve-se referir ao começo do Século XX. Estas contribuições produziram-se, igualmente, em outras áreas de conhecimento e diversos países, tais como: a antiga URSS, Alemanha e Estados Unidos. Embora o conhecimento sobre as contribuições dos países do leste europeu ser limitados, pode-se mencionar os trabalhos realizados na década de 20 por Rudik ou Puni, que partindo de uma metodologia experimental de laboratório, centravam-se na realização 27 de avaliações psicológicas de jogadores em certas variáveis (tempo de reação, inteligência, personalidade, entre outras). Essa orientação modificar-se-ia com o tempo, centrando-se mais em esportes específicos e sua vertente aplicada, com uma crescente atenção na preparação psicológica do jogador para a competição. (Colégio Oficial de Psicólogos (n.d)). Em outro continente, encontramos as contribuições de psicólogos norte-americanos, como as do pioneiro Roberts-Griffith (o pai da Psicologia do Esporte), que fundou o primeiro laboratório de psicologia do esporte nos EUA. Griffith dedicou boa parte de seu trabalho a investigação experimental em laboratório (tempos de reação, habilidades motoras, aprendizagem, entre outras), complementando-o com contribuições mais aplicadas - inclusive foi contratado em 1925 por uma equipe esportiva da Universidade de Illinois, e em 1932 por uma equipe profissional de beisebol - mediante suas observações de campo e de suas entrevistas com treinadores e jogadores, com o objetivo de estudar os fatores psicológicos implicados no esporte. Na Europa ocidental antes do inicio da II Guerra Mundial na Alemanha, encontramos alguns estudos sistemáticos em Psicologia do Esporte, interessados no papel dos fatores psicológicos, especialmente os motivacionais e emocionais, sobre o desempenho e a competição esportiva. (Colégio Oficial de Psicólogos, n.d; Shaw, D. F.; Gorley, T.; Corban, R. M, 2005). Em conjunto podemos dizer que o momento crucial para a formalização desta disciplina foi a celebração do I Congresso Mundial de Psicologia do Esporte, realizado em Roma no ano de 1965. Neste, contribuíram de forma significativa alguns espanhóis como Cagigal, Ferrer- Hombravella ou Roig, considerados como os iniciadores da Psicologia do Esporte na Espanha; o primeiro ligado à criação, em Madrid, do Instituto Nacional de Educação Física (INEF) em 1967 e os demais, vinculados ao Centro de Investigação Médico-Esportiva criado em Barcelona no ano de 1964 e relacionado com o INEF. 28 A partir dos núcleos de trabalho nos INEFs de Madrid e Barcelona, e, posteriormente, por meio da criação de associações profissionais (locais onde se agrupavam pessoas da área, tanto em sua vertente acadêmica ou de investigação como na aplicada) e apoiando-se na celebração de congressos nacionais (Barcelona-1986 e Granada-1988), criou-se a Federação Espanhola de Associações de Psicologia do Esporte. Como pontos importantes, que facilitaram a conformação atual, são possíveis identificar a promoção de unidades de investigação e docência em distintas universidades e a constituição de algumas sessões nos colégios profissionais de psicólogos, eixos que em conjunto foram responsáveis pela existência de investigação, docência, difusão, promoção e intervenção profissional em Psicologia do Esporte. E nos últimos anos (final do Século XX e início do Século XXI) encontram-se cursos de especialização em Psicologia do Esporte, caminho esse iniciado na Universidade Autônoma de Barcelona (Colégio Oficial de Psicólogos, n.d). Segundo Barreto (2003), no Brasil, essa área de atuação tem crescido muito nos últimos anos, apesar da resistência por parte de dirigentes, treinadores e até jogadores desinformados, principalmente no futebol como veremos mais adiante. Em 1979, a Sociedade Brasileira de Psicologia do Esporte, da Atividade Física e da Recreação (SOBRAPE) foi fundada e teve como seu primeiro presidente o professor Benno Becker Junior, que em 1986 viria a ser fundador e presidente da Sociedade Sul-americana de Psicologia do Esporte, da Atividade Física e da Recreação (SOSUPE). Em 1983 foi criada, pelo professor João Alberto Barreto, a Sociedade de Psicologia do Esporte do Estado do Rio de Janeiro (SOPERJ), a qual foi a primeira entidade estadual a ser legalizada no Brasil, sendo filiada à SOBRAPE. Desde então a Psicologia do Esporte têm ganhado terreno e tendo pesquisadores e professores de renome internacional, como: Becker Junior, Dietmar Samulski, João Carvalhaes, Athayde Ribeiro da Silva, Dante de Rose, Regina Brandão, Katia Rubio, João Alberto Barreto, Antonio Roberto Santos e Suzy Fleury. 29 Recentemente (outubro de 2008) houve em Belo Horizonte-MG-Brasil um evento envolvendo o IX Congresso Sul-americano de Psicologia do Esporte (maior evento de Psicologia do Esporte da América do Sul) e o XIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Esporte, cujo tema central foi “talento e excelência esportiva”. Neste evento estiveram presentes alguns dos maiores nomes da Psicologia do Esporte no mundo, como: Dietmar Martin Samulski (presidente do evento), Benno Becker Junior (presidente de honra da Sociedade Sul-americana de Psicologia do Esporte, da Atividade Física e da Recreação-SOSUPE), Carlos Ferres (ex-presidente da SOSUPE), Enrique Aguayo (vice-presidente da SOSUPE-Chile), Marcelo Roffé (vice-presidente da SOSUPE-Argentina), Joaquin Dosil (presidente da Sociedad Iberoamericana de Psicología del Deporte-SIPD), Gershon Tenenbaum USA - Flórida), Michael Kellmann(University of Brisbane - Austrália). Sobre este evento especificamente pode-se verificar que dos 85 trabalhos apresentados, 47 (55%) eram do Sudeste e destes 40 (85%) eram de Minas Gerais. Do Nordeste apenas 3 (4%) trabalhos, tendo sido 2 (do autor) de Natal, RN. Se observarmos em que área da Psicologia os estudos encontravam-se, percebemos que dos 85 trabalhos apresentados, 19 (22%) tratavam de estudos de perfis de treinadores, jogadores e população em geral (inclusive os 2 trabalhos do autor). A segunda área que mais teve estudos foi a motivação, com 15 (18%) trabalhos apresentados; ao passo que 19 (22%) destes estudos referiam-se ao futebol de campo. Os outros estudos foram da área de validação, adaptação e tradução, da área de futsal e da área de natação cada uma com 8 (9%) trabalhos apresentados. Tendo em vista os relatos apresentados acima, pode-se perceber que a Psicologia do Esporte é ainda uma área de pouca investigação no Brasil e por isso há a necessidade de serem realizados mais estudos nesse âmbito (Anais, 2008) A Psicologia no Esporte representa uma das disciplinas das Ciências do Esporte e constitui um campo da Psicologia Aplicada. Segundo Nitsch (1989) in Samulski (2006), a 30 Psicologia no Esporte analisa as bases e efeitos psíquicos das ações esportivas, considerando por um lado análises de processos psíquicos básicos (cognição, motivação, emoções) e, por outro, a realização de tarefas práticas de diagnóstico e de intervenção. A função da Psicologia no Esporte consiste na descrição, explicação e no prognóstico das ações esportivas, com o fim de desenvolver e aplicar programas, cientificamente fundamentados, de intervenção levando em consideração os princípios éticos (Nitsch 1986, in Samulski, 2006). Sabe-se que as habilidades psicológicas, são consideradas essenciais para a obtenção de um alto desempenho na competição e no treinamento. Estas habilidades incluem: motivação, estabelecimento de metas, atitude positiva, imaginação e treinamento mental, não podendo deixar de incluir as habilidades interpessoais (Samulski, 2002). A figura 1 representa o papel que as habilidades psicológicas têm no alto desempenho esportivo, e sua inter-relação com as áreas do esporte. Figura 1 – Áreas da perícia no esporte Fonte: Janelle, C.M., Hillman, C.H., & Hatfield, B.D. (2000: 6, 21-29.) in Samulski, 2006. 31 2.2.1 Áreas de Atuação da Psicologia do Esporte Segundo Samulski (2006), existem 4 (quatro) grandes áreas de atuação para o psicólogo no esporte, as quais serão citadas e detalhadas a seguir. 2.2.1.1 Esporte de alto desempenho Visa, sobretudo, analisar e modificar os fatores psíquicos determinantes do desempenho em esportes, com a finalidade de melhorar o desempenho e aperfeiçoar o processo de recuperação. Investiga os seguintes fatores: esportes e personalidade, agressão no esporte, interação entre treinador/jogador, estresse psicológico na competência, treinamento psicológico (treinamento mental, de concentração, motivação e controle do estresse), assessoria psicológica para jogadores e treinadores, diagnóstico psicológico do desempenho esportivo, coaching, excelência esportiva, planejamento da carreira esportiva, influência da família nas carreiras dos jogadores, doping psicológico. 2.2.1.2 Esporte Escolar ou Educação Parte do principio de que se analisa, por um lado, os processos ensino-aprendizagem, e por outro, processos de educação e socialização. Os principais temas de investigação neste campo são as análises da interação entre o professor de Educação Física e o aluno, possibilidades do professor, estresse na aula de Educação Física, comportamentos agressivos dos alunos, importância dos processos de socialização, e motivação para a aprendizagem e desempenho. 2.2.1.3 Esporte Recreativo Trata-se de análises do comportamento recreativo de grupos de diferentes faixas etárias, classes sócio-econômicas e atuações profissionais com relação a diferentes motivos, interesses e 32 atitudes. Nos últimos anos, tem sido investigado o fenômeno da animação nos esportes de tempo livre. 2.2.1.4 Prevenção, Saúde e Reabilitação São investigações sobre as possibilidades preventivas e terapêuticas do esporte, bem como o sentido de regulação psíquica por meio de condutas esportivas (terapia para o movimento, jogos e dança). Nesse contexto se desenvolvem e aplicam programas psicológicos de prevenção, terapia e reabilitação para pessoas portadoras de limitações físicas, mentais e sociais. 2.2.2 Características psicológicas do jogador de alto desempenho Segundo Samulski (2006), pode-se afirmar que as diferentes características psicológicas de um jogador de alto desempenho são: - continuidade e qualidade do treinamento (incluindo treinamento simulado); - estabelecimento de metas; - manipulação da concentração e da ansiedade; - diálogo interno; e - utilização da imaginação e da preparação mental. Resultados de alguns estudos realizados indicaram que jogadores de alto desempenho, quando comparados aos demais, utilizam mais as habilidades mentais, empregando estas durante o treinamento e competição (Wilson, 1999 in Samulski, 2006). Ainda segundo o citado autor, o jogador de alto desempenho é mais eficiente e efetivo em reconhecer e responder perante uma situação de jogo estruturada, demonstrando uma adequada capacidade para enfrentar e utilizar apropriadamente estratégias e táticas durante as diferentes situações de jogo. Como também, consegue perceber de uma forma mais eficiente e efetiva a informação proveniente do meio 33 ambiente (campo de jogo, companheiros de equipe, adversários e árbitros), por meio de estratégias de observação adequadas. Todos esses elementos levam o jogador a uma tomada de decisão mais acertada para solucionar um determinado problema da competição, demonstrando um alto grau de atenção e coordenação que dificilmente vai ser influenciado por seu estado emocional. 2.2.3 Treinadores de alto desempenho (“Expert Coaches”) Os resultados de diferentes estudos demonstram que treinadores que têm confiança em seus jogadores representam um impacto positivo nos desempenhos dos mesmos. As expectativas do treinador estão baseadas em suas próprias observações e confiança em determinadas características e habilidades que compõem o talento individual de seus comandados. Estas expectativas criadas auto-afirmam o êxito para futuros desempenhos (Samulski, 2006). Segundo Simões in Lobo (1973), numa pesquisa realizada em 1972 na Inglaterra pelos Psicólogos Robert Cooper e Roy Payne, com 17 (dezessete) equipes da primeira divisão Liga Inglesa de Futebol, observou-se que os treinadores de maior sucesso estavam preocupados exclusivamente com o momento. O estudo sugere que isso significa que a personalidade deles é fortemente voltada para a tarefa. Os psicólogos concluem dizendo que o treinador precisa saber comandar jogadores de personalidade forte os de personalidade “autodirigida”, além de manter-se sempre motivado mesmo diante de exercícios ou treinamentos monótonos, De acordo com Durand-Bush (2000) in Samulski (2006), os campeões olímpicos e mundiais manifestam um alto grau de autoconfiança no início de suas carreiras atléticas. Pode-se afirmar que isto é produto da confiança que pais e treinadores demonstraram neles, como jogadores e pessoas. Um aspecto crítico para os treinadores é criar as condições necessárias para 34 desenvolver um ambiente que evite as comparações sociais e uma alta motivação para o desenvolvimento de técnicas e habilidades (Chaumeton & Duda, 1998 in Samulski, 2006).Para Leonhardt in Rubio (2003), há uma exigência cada vez maior sobre o treinador (principalmente no caso do futebol). E é nesse aspecto que o Psicólogo do Esporte pode ser fundamental para que o treinador consiga ter em mãos jogadores campeões, que formem uma equipe vitoriosa para que tal treinador obtenha sucesso. Já o treinador da categoria de base não sofre as mesmas pressões do treinador da categoria profissional, entretanto as preocupações e os cuidados a serem tomados com jogadores entre 11 e 20 anos são outros. Nesse período (pré- adolescência e adolescência) os treinadores têm em suas mãos garotos que estão no período das maiores transformações (física e psicológica) de suas vidas, Nesse contexto, a ajuda de um Psicólogo no Esporte pode ser importante, auxiliando o treinador a tomar decisões, expressar-se e compreender esses jovens jogadores. Sabe-se que jogadores que participam, prematura ou tardiamente, no esporte tornam-se dependentes e focalizados em obter a vitória e melhorar o desempenho. As principais características dos treinadores de alto desempenho são: - acreditar nos seus jogadores; - desenvolver relações baseadas no respeito e na confiança; - estimular o pensamento crítico; - oferecer oportunidades para a diversão e para a criatividade; - manter canais de comunicação efetivos e permitir um ambiente adequado para a tomada de decisões e solução de problemas próprios da competição. Cada uma destas características determina e contribui para o desenvolvimento de jogadores experientes. Experiências positivas no esporte, criadas ou planejadas pelo treinador, aumenta a autoconfiança e motivação no jogador, contribuindo para o desenvolvimento (físico, 35 emocional e intelectual) adequado dos mesmos. Finalmente, é oportuno dizer que o treinador de alto desempenho não só prepara o jogador para a competição, como também, o prepara para a vida (Samulski, 2006). No próximo tópico começará a ser abordada a psicologia no esporte específica ao futebol, o que poderá clarear idéias a respeito do tema em um esporte de alta competitividade, complexidade, audiência e de difícil acesso. 2.2.4 Psicologia no Esporte, o futebol Falar em Psicologia no Esporte já é uma tarefa dificílima, pois se para muitos Psicólogos e Profissionais de Educação Física - que têm um bom entendimento sobre comportamento e aspectos físico-fisiológicos, respectivamente - tendem a não saber exatamente como deve atuar o Psicólogo do Esporte, os leigos então sabem muito menos. O futebol, como muitos sabem - ou por serem torcedores fanáticos, ou por conviverem com torcedores desse tipo, ou por meio da mídia - é o esporte que todo mundo (principalmente os brasileiros) diz-se um profundo “entendedor”. A mídia mesmo veicula que no Brasil há 180.000.000 (cento e oitenta milhões) de técnicos de futebol. Sabendo-se da dificuldade que a ciência e os cientistas têm em adentrar no mundo futebolístico surgem algumas questões sobre o psicólogo do esporte no futebol: por que um clube de futebol precisaria de um? Para que serviria? Quais seriam as suas atribuições? Onde faria seus atendimentos? Entre outras. E quando se é uma psicóloga do esporte no futebol? Será que essa profissional terá espaço para desempenhar suas funções no meio machista desse esporte? Esse parece ser mais um aspecto “complicador”. Outra questão que vários leigos que trabalham no meio do futebol questionam é a de o psicólogo ou qualquer outra pessoa que venha a trabalhar com futebol ter tido experiência como jogador. Ou seja, se foi jogador eles entendem que essa pessoa saberá trabalhar com eles, caso contrário, a mesma estará desqualificada para trabalhar na área. 36 Outro aspecto muito comum em alguns psicólogos despreparados é o de se utilizar da psicologia clínica para tentar auxiliar jogadores e técnicos, tentando levá-los à sala ou ao consultório. Isso acaba por desnortear a Psicologia do Esporte em Psicologia no Esporte. Essa área de conhecimento no Brasil teve como pioneiro o psicólogo João Carvalhaes, que de acordo com Waeny & Azevedo (2003), trabalhava com Psicotécnica e Psicologia Aplicada ao Esporte desde o inicio da década de 50. Isso provavelmente contribuiu para que ele fosse convocado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para que realizasse testes psicólogicos e desse a “fibra” necessária aos jogadores durante o período de preparação na Copa do Mundo de 1958, realizada na Suécia. Após a Copa do Mundo, João Carvalhaes foi citado, em vários jornais de circulação na época, como um dos responsáveis pelo título. Depois (1964) surgiram publicações sobre o tema, escritas por Emilio Mira y López e Athayde Ribeiro da Silva. Uma tentativa de se relacionar características psicológicas aos futebolistas foi de Melo (1997), que citou - mas só citou e tentou brevemente justificar - por posição de jogo, quais as “qualidades psicológicas” necessárias para esses futebolistas. E usou termos como coragem, liderança, calma, concentração, iniciativa, garra, combatividade, persistência, maturidade, decisão, sociabilidade e agressividade. A seguir serão apresentados aspectos relativos ao “talento” esportivo, sua respectiva seleção e outros aspectos relevantes a essa temática. 2.3 O Talento Esportivo Considera-se talento esportivo o indivíduo que por meio de suas condições herdadas e adquiridas, possui uma aptidão especial para o desempenho esportivo, acima da população em geral (Böhme, 1999 in Silva, 2003). Os traços psicológicos - definidos geneticamente na pessoa denominada talentosa - também devem fazer parte da análise, já que atuam como co-formadores das capacidades motoras, conferindo-lhes a estabilidade psicossomática requerida para a prática 37 do esporte competitivo (Prudêncio, 2006). Vale lembrar que alguns destes traços psicológicos atuam de maneira positiva para a formação e consolidação da personalidade do indivíduo, que futuramente irão contribuir para obtenção de altos desempenhos esportivos; incluindo-se entre esses traços: o “espírito agonístico”, entendido como a combatividade, o controle emocional, a alta concentração e a capacidade para mantê-la por um período de tempo prolongado, assim como determinação para superação de limites (Prudêncio, 2006). 2.4 Seleção de Talentos nos Esportes A seleção de talentos nos esportes é recomendada por muitos autores (Bompa, 2002; Filin & Volkov, 1998; Gomes, 2002; Moskotova, 1997; Torreles & Alcaraz, 2003; Gomes & Erichsen, 2004) e treinadores. Pois se sabe que quando tal seleção existe, de forma criteriosa, em um clube esportivo ou escola esportiva, as chances de se encontrarem jogadores excepcionais aumentam inúmeras vezes quando comparada a observação pura e simples. Uma característica particular do atual período de desenvolvimento dos esportes é a busca universal, cientificamente fundamentada, de jovens talentosos, os quais muitas vezes são capazes de receber grandes cargas de treinamento e elevados ritmos de aperfeiçoamento esportivo (Filin & Volkov, 1998). Com a seleção moderna das crianças e dos adolescentes nas escolas esportivas, o processo pedagógico é de grande importância, e sua etapa inicial predetermina todo o processo posterior do aperfeiçoamento esportivo. (Filin & Fomin, 1980 in Gomes, 2002). Porém, a avaliação objetiva das capacidades individuais ocorre na base das observações das crianças e dos adolescentes, assim como não existe nenhum outro critério de aptidão esportiva” (Gomes, 2002; Gomes & Erichsen, 2004). Ou seja, tal avaliação é realizada de maneira subjetiva, já que os critérios para tal avaliação são escassos. 38 A prática evidenciaque elevadas realizações esportivas mostram indivíduos que possuem uma combinação ótima em determinadas características, que pode ser entendida de forma quase utópica como uma perfeição indiscutível de capacidades especiais, a qual dá ao jogador uma significativa vantagem em relação a outros colegas, mas sem nenhuma característica especial em destaque. (Nikolic & Paranosic, 1984 in Moskotova, 1997). E são indivíduos com estas capacidades especiais que os profissionais responsáveis pela captação de jogadores buscam. 2.4.1 Seleção e Orientação Esportiva Para entender o processo de seleção de talentos esportivos é importante compreender a diferença existente entre o sistema de seleção esportiva e o sistema de orientação esportiva. O sistema de seleção esportiva pode ser definido também como sendo um sistema de medidas organizacionais e metodológicas que incluem métodos pedagógicos, psicológicos, sociológicos e médico-biológicos de investigação. E com base nestes, detectam-se as capacidades dos jovens, para especializarem-se em uma determinada modalidade esportiva, ou em grupo de modalidades. (Filin & Volkov, 1998). O objetivo principal é o estudo total e a revelação das capacidades, que devem corresponder, em grande escala, às exigências de um ou outro tipo de esporte. Alguns especialistas utilizam o termo revelação das aptidões esportivas. Por isso, entende-se o sistema de determinação dos meios e métodos, como também a avaliação das aptidões e capacidades do indivíduo, o que é de grande significado para o sucesso da especialidade esportiva em questão (Gomes, 2002). Destas capacidades, verificou-se que os jogadores que se destacavam em competições de nível internacional possuíam níveis altos de desenvolvimento das qualidades morais e psicológicas, além de domínio da técnica e da tática. Ou seja, teoricamente, essas são as capacidades ou características importantes a serem avaliadas em um processo seletivo de jovens futebolistas. (Gomes & Erichsen, 2004). 39 E o sistema de orientação esportiva é um sistema de medidas organizacionais e metodológicas que permite indicar a especificidade do jovem jogador em uma determinada modalidade esportiva (Filin & Volkov, 1998). A orientação e seleção esportiva pressupõem a solução de um conjunto de tarefas diagnósticas e prognósticas, as quais respeitam as formas individuais de manifestação das particularidades funcionais do aparelho locomotor e do sistema nervoso central, os quais desempenham um papel de destaque na especialização esportiva e no desenvolvimento das capacidades motoras, individualmente consideradas (Moskotova, 1997). É lógico que na orientação e seleção esportiva é necessário selecionar os "tipos genéticos" que possuem o desenvolvimento dos aspectos relacionados às capacidades psicomotoras e físicas adiantados. (Moskotova, 1997). Sabendo-se da dificuldade de compreensão do tema abordado, e visando um maior entendimento do que já foi escrito anteriormente, a seguir este estudo aprofundará as discussões sobre as aptidões hereditárias, importantes para questionar e discutir sobre seleção de talentos. 2.4.1.1 Aptidões hereditárias As capacidades esportivas dependem muito das aptidões hereditárias, que se mostram diferentes na estabilidade e na conservação, por isso durante o prognóstico destas capacidades, convém atentar primeiramente para os sinais instáveis que condicionam os êxitos na atividade esportiva futura. Atualmente, sabe-se que o papel da hereditariedade é condicionado por sinais reveladores máximos devido à presença de altas exigências no organismo do praticante (Matveev, 1983 in Gomes, 2002). Sabe-se que as manifestações individuais das capacidades motoras são bastante variáveis em função da constituição genética, da idade, do sexo, da maturação das funções psicomotoras, 40 das diferenças sociais, culturais e étnicas dos grupos e das populações demográficas. (Moskotova, 1997). Para prognosticar as direções do desenvolvimento individual das capacidades motoras e a sua mutabilidade sob ação das condições de vida, educação e treinamento especial, é indispensável considerar as diferenças genotípicas e fenotípicas individuais, conforme sexo e idade. (Moskotova, 1997). “As diferenças genotípicas individuais são determinadas pelas particularidades hereditárias do organismo” (Moskotova, 1997, p. 18), as quais dependem dos genes herdados dos pais. Já “as diferenças fenotípicas individuais são determinadas pela variabilidade de adaptação das características morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas do organismo, como resultado das influências do meio exterior (sócio-econômico, climático, geográfico, etc.), no qual se desenvolve um ser humano ou uma população concreta. (Moskotova, 1997, p. 18). É importante ressaltar que “cada organismo, de acordo com as leis da herança genética e sob a influência do meio exterior, desenvolve-se individualmente”. (Filin & Volkov, 1998, p. 15). 2.4.1.2 Análise Genotípica do Indivíduo O prognóstico dos valores definitivos das características motoras tem que considerar os níveis de suas interdependências e a possibilidade de se modificarem em função dos fatores ambientais. A biometria - ramo da ciência que estuda e analisa os dados estatísticos referentes à hereditariedade, à evolução e aos fenômenos do metabolismo e nutrição dos seres vivos - facilita a análise genotípica das características finais entre os menores, sendo útil na seleção esportiva e no diagnóstico. (Moskotova, 1997). 41 2.4.1.3 Critérios de Seleção Os critérios utilizados na seleção de jogadores devem estar relacionados com três aspectos: a idade dos jogadores, as capacidades avaliadas e os objetivos da seleção. Tais critérios são importantes por determinarem a qualidade de uma seleção esportiva. (Torrelles & Alcaraz, 2003). Nesse sentido, Gomes & Erichsen (2004) propõem as seguintes capacidades ou características a serem avaliadas, em seu sistema de seleção de talentos para o futebol, como também os testes que utilizam para realizar tais avaliações, descritos na figura 2. Figura 2 – Características avaliadas na seleção de futebolistas, medidas e testes Testes antropométricos Testes de habilidade Peso e Estatura Teste da parede Dimensões de segmentos Passe rasteiro - 10, 15 e 20m (precisão) Dobras cutâneas e porcentuais de gordura Precisão no chute a gol, com deslocamento Estágios de Crescimento e desenvolvimento Técnico-tático Raio X Cabeceio Escala de Taner Chute Testes físicos Condução Resistência Geral - 1000m Cruzamento Velocidade cíclica e acíclica- 20m Domínio Força de membros superiores - arremesso medicine ball Drible Força de membros inferiores - salto rão (6 saltos) Inteligência de jogo Testes Psicológicos Passe Manifestações psicossomáticas - CI (Cornel Index) Ansiedade traço-estado – IDATE Estados de Humor – POMS Fonte: Gomes & Erichsen, adaptado por Câmara, 2009. 2.4.1.3.1 Idade dos jogadores O processo de crescimento do jogador faz aparecer uma série de capacidades (físicas e psicológicas) e diversos níveis de manifestação das mesmas, que caracterizam cada uma das 42 diferentes etapas que compõem este processo. Portanto, de acordo com a idade do jogador, as diferentes capacidades a serem observadas, testadas e valorizadas terão maior ou menor importância. (Torrelles & Alcaraz, 2003). 2.4.1.3.2 Capacidades Avaliadas O termo capacidades avaliativas refere-se aos aspectos técnicos, táticos e psicológicos que se manifestam durante o desenvolvimento da atividade esportiva de um jogador de futebol. Para tanto, tal aspectodeve observar seu nível de manifestação em relação à idade (ver sub-item anterior) e aos objetivos que regem a seleção. (Torrelles & Alcaraz, 2003). 2.4.1.3.3 Objetivos da Seleção A seleção de talentos esportivos deverá ser definida, segundo Torreles & Alcaraz (2003), sempre pelos seguintes objetivos: - captação de jogadores, com idade entre 9 e 16 anos, com aptidão para seguir um processo de formação – a longo prazo – como jogador de alto desempenho; - captação de jogadores em etapa profissional, que pela idade, já finalizaram seu período de formação, que apresentem um alto desempenho imediato e que suportem ser exigidos ao máximo, para corresponderem a objetivos a curto prazo; - captação de jogadores com aptidão para seguir um processo de formação, e que além disso, apresentem um alto nível de desempenho em relação à sua idade; e - jogadores entre 16 e 19 anos que cumprem a passagem de sua etapa de formação para a de alto desempenho. Com esse intuito é possível incluir jogadores de menor idade que cumpram ambos os requisitos, mesmo sendo pouco comum a existência de jogadores que, além de manifestar um alto 43 nível de desempenho, disponham de altos níveis nas capacidades que lhes permitam seguir num processo de formação. (Torrelles & Alcaraz, 2003). Em um processo de seleção de talentos no futebol de base, o objetivo deveria ser captar jogadores correspondentes ao terceiro item. Porém, caso não se encontre jogadores suficientes com essas características, a seleção deve ser complementada com jogadores do primeiro item, que, por meio de um trabalho adequado, tenham possibilidade de manifestar – futuramente - um alto nível de desempenho. (Torrelles & Alcaraz, 2003). 2.4.1.3.4 Idade Anatômica A idade anatômica refere-se aos vários estágios de crescimento anatômico que podem ser reconhecidos ao identificarmos determinadas características e não deixa dúvida quanto às complexidades do crescimento e do desenvolvimento. Também auxilia na explicação sobre os motivos de algumas crianças aprimorarem o desenvolvimento motor e as habilidades com maior rapidez do que outras. (Bompa, 2002). A criança com melhor desenvolvimento anatômico adquirirá mais habilidades com maior rapidez do que a criança menos desenvolvida. Embora muitas crianças sigam padrões de crescimento similares, há variações. O clima, a latitude, o relevo (montanhoso versus plano) e o ambiente (urbano versus rural) podem influenciar bastante o índice de desenvolvimento do jovem. Por exemplo, crianças de países de clima quente apresentam amadurecimento sexual, emocional e físico muito mais rápido. Em consequência, o desempenho esportivo pode ser mais veloz entre os 14 e 18 anos de idade nesses países do que em países de clima mais frio. Da mesma forma, crianças que vivem em grandes altitudes tendem a ser mais eficazes em esportes de resistência do que as outras, que vivem em baixas altitudes. (Bompa, 2002, p. 14). 2.4.2 Seleção de Talentos nos Esportes Coletivos Nos esportes coletivos, as perspectivas dos jogadores devem ser determinadas baseando- se na análise das qualidades específicas, garantindo com êxito a solução dos objetivos técnico- 44 táticos no processo da atividade esportiva. O prognóstico incontestável das capacidades das crianças nos jogos esportivos realiza-se na base do estudo do complexo das propriedades individuais da personalidade: características morfofuncionais do jogador, estado dos órgãos e sistemas analisadores do organismo; nível do desenvolvimento das qualidades físicas (de preferência, a de velocidade e força); capacidades de coordenação, de controle dos esforços neuromusculares, de solução operativa dos objetivos motores e pensamento tático; escolha e realização das recepções e meios de condução da competição esportiva; e direção dos seus estados emocionais em situações extremas. (Gomes, 2002). É preciso que haja uma intervenção profissional na seleção de talentos, principalmente no futebol, que tem como principais responsáveis por esta seleção, os observadores técnicos ("olheiros"), como será descrito a seguir. 2.5 Observadores Técnicos ("olheiros") Segundo estudo realizado por Silva (2005, p. 64), "a linha de produção e montagem dos Programas de Revelação das Aptidões e Capacidades Esportivas sobrevive da matéria-prima, jogadores de alto nível. Estes são revelados pelos "olheiros" e treinados sem critérios e normas". Segundo Silva (2005) os "olheiros" têm dois perfis: - os que percebem pela sensação (os cinco sentidos); ou - os que percebem pela intuição, que é uma forma indireta e utiliza o inconsciente, associando às percepções do mundo exterior. Os olheiros, segundo o mesmo autor podem julgar, também, de duas maneiras: - pelo pensamento, em sua forma analítica e racional; ou - pela forma mais humana, o sentimento. As quatro possibilidades citadas acima (duas a duas) mesclam-se e, dependendo das combinações, o "olheiro" pode ser mais ou menos produtivo; relata ainda que por não existir uma 45 bateria de testes padronizada, o resultado da seleção de talentos depende do avaliador. Se ele for mais sensorial, menor será sua capacidade preditiva; quanto menos sensorial, maior intuição terá. O "garimpo", no futebol brasileiro, tem nichos com formas históricas e culturais de revelar "talento". O modelo é semelhante em todo o Brasil, onde em minutos, "olheiros" batem o martelo e afirmam: aquele jogador é craque. Fazem uma avaliação "simplista", a qual potencializa carências, privações e lacunas nestes jogadores. (Silva. 2005). Em 2006, Câmara estudou testes de habilidade para seleção de talentos no futebol e conseguiu obter a reprodutibilidade de 2 dos 5 propostos por ele, que foram: o teste de habilidade com bola e cones (agilidade, drible, condução e velocidade) e o teste de controle de bola (pés, coxas e cabeça). Os testes que o autor não obteve êxito foram: o teste de tiro livre de 11m, o teste de tiro livre de 22m e o teste de condução e chute. Os testes propostos neste estudo foram baseados nas observações e na vivência que o autor tinha em processos seletivos do qual participava e percebia a dificuldade em se selecionar jovens com critérios bem definidos. Por isso considerou um dos princípios mais importantes do treinamento esportivo para elaboração desses testes, o qual é denominado especificidade. Também em 2006, Figueiredo, Silva e Malina sugeriram algumas avaliações a serem realizadas em jovens, como: estado de crescimento e desempenho esportivo-motor (avaliação antropométrica, avaliação força, avaliação aeróbia, avaliação anaeróbia e agilidade). Além de habilidades motoras específicas do futebol: teste de domínio e controle da bola com o pé, teste de condução e velocidade, teste de precisão do remate (chute) e teste de destreza no passe. Figueiredo (2002) in Figueiredo; Silva; Mailna (2006) realizou um estudo com descritores de diferenças entre jogadores de 13 e 14 anos apontados por 12 (doze) treinadores sub-14. E obteve que 7 treinadores apontaram a estatura, 6 a força, 5 a massa corporal, 4 a velocidade, 3 a resistência, 3 outras capacidades físicas, 1 a capacidade tática e 1 a coordenação. 46 É notório que ainda é preciso ter critérios e testes específicos também por posições de jogo, já que as características que jogadores de cada posição devem possuir são diferentes. No atual paradigma, é difícil comprovar o grau de eficiência dos 'olheiros', onde se constata que 'pseudotalentos', na idade adulta não "explodem", e jogadores medianos, na idade madura, se tornam 'craques'". (Silva, 2005, p. 65). O autor conclui dizendo que "...'olheiros' não possuem conhecimentos
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